CARTAS AO EDITOR
Manobra de recrutamento alveolar em anestesia: como, quando e por que utilizá-la
Sra. Editora,
Foi com grande interesse que li o artigo referenciado. Gostaria de parabenizar os autores pela invejável iniciativa. Preocupado em esclarecer alguns aspectos, me ocorreu fazer algumas observações:
Gostaria de cumprimentar os autores pelo belíssimo estudo que nos alertou para a possibilidade de otimização de nossa técnica anestésica com a finalidade de beneficiar o paciente.
Atenciosamente,
Fabiano Timbó Barbosa, TSA
REFERÊNCIAS
01. Hedenstierna G Atelectasis and gas exchange during anaesthesia. Electromedica, 2003;71:70-73.
02. Smith RA, Bratzke EC, Miguel RV Constant positive airway pressure reduces hypoventilation induced by inhalation anesthesia. J Clin Anesth, 2005;17:44-50.
03. Rusca M, Proietti S, Schnyder P et al Prevention of atelectasis formation during induction of general anesthesia. Anesth Analg, 2003;97:1835-1839.
04. Yoshino J, Akata T, Takahashi S Intraoperative changes in arterial oxygenation during volume-controlled mechanical ventilation in modestly obese patients undergoing laparotomies with general anesthesia. Acta Anaesthesiol Scand, 2003;47: 742-750.
05. Wetterslev J, Hansen EG, Roikjaer O et al Optimizing preoperative compliance with PEEP during upper abdominal surgery: effects on perioperative oxygenation and complications in patients without preoperative cardiopulmonary dysfunction. Eur J Anaesth, 2001;18:358-365.
06. Coussa M, Proietti S, Schnyder P et al Prevention of atelectasis formation during the induction of general anesthesia in morbidly obese patients. Anesth Analg, 2004;98:1491-1495.
Réplica
Sra. Editora,
É com satisfação que recebi a carta do Dr. Fabiano. Agradeço os elogios feitos e gostaria de acrescentar alguns comentários:
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Realmente os altos volumes correntes são causadores de hiperdistensão e colapso alveolares de forma cíclica como foi citado no nosso artigo. Ele tem razão ao afirmar que em pacientes anestesiados não existem evidências de prejuízo com a utilização de altos volumes, caso esses pacientes não tenham nenhuma doença pulmonar, porém é sabido que esses altos volumes quando utilizados por tempo prolongado são causadores de volutrauma, devendo assim ser evitados em qualquer situação.
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O CPAP realmente só é possível se utilizar em pacientes com ventilação espontânea, logo só poderia ser utilizado nos pacientes anestesiados quando estes já tivessem em processo de desmame da prótese ventilatória, próximos da extubação. É provável que em pacientes sem doença pulmonar, os níveis de pressão para obter recrutamento sejam menores que 30 a 40 cmH
2O, como citado pelo Dr. Fabiano no trabalho de Smith e col. Esses níveis de pressão de 30 a 40 cmH
2O citados por nós foram utilizados em pacientes com SDRA, ou seja, pacientes com complacência pulmonar reduzida
1,2.
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Defendemos a avaliação da PaO
2 ou da relação PaO
2/FiO
2 como modo de verificar a eficácia do recrutamento alveolar por ser o método mais simples e de baixo custo comparativamente com o outro método descrito na literatura, que é a tomografia de tórax. A conclusão feita por Yoshino e col. observando que pacientes obesos e com sobrepeso, ventilados sem realização de manobra de recrutamento ou uso de PEEP, evoluíram com diminuição da relação PaO
2/FiO
2 vai de encontro aos resultados da literatura. Quando existem fatores que alteram a mecânica ventilatória ou doenças pulmonares, maior é a probabilidade de formação de atelectasias e maior a importância da ventilação adequada.
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O Dr. Fabiano está correto com relação ao fato de que "mais estudos são necessários para definir o momento ideal para a aplicação da manobra de recrutamento alveolar e seu real papel na evolução dos pacientes", indo de encontro às nossas conclusões de que o uso rotineiro da manobra de recrutamento em anestesia não pode ser recomendado por não ter embasamento em estudos com alto nível de evidência.
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O uso da PEEP e baixa FiO
2 são, sem dúvida, métodos eficazes na profilaxia do colapso alveolar.
Tentamos com essa revisão da literatura trazer para o conhecimento do anestesiologista práticas de terapia intensiva que podem ajudar a solucionar algumas complicações anestésicas. Agradecemos muito ao Dr. Fabiano pela oportunidade de discutirmos novamente este tema.
Domingos Dias Cicarelli, TSA
REFERÊNCIAS
01. Carvalho CRR Ventilação Mecânica I. Clínicas Brasileiras de Medicina Intensiva, 1ª Ed, São Paulo, Atheneu, 2000.
02. Carvalho CRR Ventilação Mecânica II. Clínicas Brasileiras de Medicina Intensiva, 1ª Ed, São Paulo, Atheneu, 2000.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
29 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Jun 2006