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Dr. Valdir Cavalcanti Medrado

NECROLÓGIO

Dr. Valdir Cavalcanti Medrado

* 11 de dezembro de 1927

† 15 de agosto de 2008

"Ausência é uma falta que fica ali presente"

Há certas missões na vida que consideramos quase impossíveis, mas circunstâncias especiais obrigam-nos torná-las um desafio. A perda de um amigo, eu diria mesmo um irmão, abre uma lacuna dentro de nós, as idéias perambulam desordenadamente, nos deixam meio à deriva e os pensamentos ecoam na caixa de ressonância do coração.

Solicitado pelo Conselho do CREMEB para escrever algo sobre o saudoso colega Valdir Medrado, não pude fugir da honrosa incumbência, sendo quase um dever.

Foi um notável cientista e ser humano, sendo esta afirmação alicerçada pelo testemunho de uma convivência que ultrapassa seis décadas, desde quando transpusemos os umbrais da querida Faculdade de Medicina da Bahia, nos idos de 1951 até seus últimos dias de vida.

Sua trajetória profissional foi caracterizada pela dedicação ao trabalho, no dia-a-dia da labuta hospitalar e, especialmente, ela atividade que sempre o encantou: o ensino. A busca contínua pelo conhecimento médico foi o estímulo que o conduziu ao aprimoramento científico, levando-o a procurar meios mais avançados, começando pelo Curso de Fisiologia Clássica com Instrumentação Avançada, na Baylor Medical School em Houston Texas, USA. A seguir, foi indiciado e aceito como residente em Anestesiologia no Duke Hospital, da Duke University, na Carolina do Norte, USA, período de 1957-1958, tornando-se chefe dos residentes por sua destacada liderança.

Voltando ao Brasil, movido por sua vocação didática, desenvolveu intensas atividades médicas, sendo mandatório citá-las - ainda que resumidamente - para informar àqueles que não tiveram o privilégio de conhecê-lo

Na UFBA foi médico anestesiologista do Departamento de Cirurgia, professor honorário de Fisiologia, chefe do Serviço de Anestesiologia, criando a Residência Médica da especialidade, diretor clínico do Hospital Universitário Professor Edgar Santos. Na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública foi professor assistente de Fisiologia e também professor assistente de Farmacologia da Universidade Católica de Salvador. No serviço público estadual, por trinta e cinco anos exerceu o cargo de anestesiologista na Maternidade Tsyla Balbino onde, apesar da precariedade de suas instalações, desenvolveu trabalho científico relativo à sua especialidade, No âmbito classista foi vice-presidente da Associação Bahiana de Medicina, presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e, por duas vezes, presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado da Bahia. Na Revista Brasileira de Anestesiologia publicou diversos artigos e, por longo período, fez parte do seu corpo de Conselheiros.

Sua notoriedade dentro da especialidade que abraçou, mereceu o reconhecimento das Regionais da SBA do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que lhe outorgaram o honroso título de Membro Honorário. Inúmeros trabalhos publicados e participação como co-autor em livros, foram omitidos para não incorrermos no pecado da prolixidade e ferir sua proverbial modéstia, mesmo post-mortem. Mas Valdir Medrado não foi somente um cientista de mérito consagrado, mesmo porque, como qualquer ser humano, viveu intensamente o outro lado da vida. Era dotado de qualidades que lhe emolduraram a existência. Sua simplicidade, - característica clássica de todo ser humano de valor - cativava os que dele se acercavam, sendo realmente curioso como um cientista, dotado de tantos méritos, conduziu-se na vida como um simples homem comum, nunca subiu em qualquer pedestal, cultuando a filosofia do bem viver.

No Serviço de Anestesia e Terapia Intensiva do Hospital São Rafael, por ele criado, onde atuou nos seus últimos 23 anos, tendo eu o privilégio do seu convívio, quase diário, não foi propriamente um "chefe", mas sim um coordenador de notáveis profissionais amigos, que o veneravam. Considero esta faze como sua apoteose profissional.

Viveu intensamente sua existência, preenchendo seus dias como melhor lhe agradasse. Em mensagem de sua primogênita "só fazia o que gostava, mas a ética e a simplicidade pautavam sua existência".

E a maior demonstração desta verdade é que, cumprindo-se o último desejo de sua história, foi repousara para sempre no Cemitério de Iaçu, nos arredores da sua querida fazenda, onde viveu os melhores momentos de sua vida.

Renato Valadares de Carvalho

Membro Ativo (Remido) SBA/SAEB

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2008
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