CARTAS AO EDITOR
Comparação das alterações histológicas da medula espinal e neurológicas de cobaias após anestesia subaracnóidea com grandes volumes de bupivacaína racêmica, de mistura com excesso enantiomérico de 50% de bupivacaína (S75-R25) e de levobupivacaína
(Rev Bras Anestesiol, 2008;58:234-245)
Q. S. P. (quantum satis para...).
Senhora Editora,
A mistura enantiomérica da bupivacaína (S75:R25) entra para sua primeira década de nascimento. Isso se deveu à sua fórmula na qual o princípio farmacotécnico do quantum satis para (Q.S.P) assegurou sua sobrevida devido ao binômio eficácia/segurança.
Em 30 de outubro de 1998, data-limite (deadline) para o envio de papers ao Annual Meeting da ASRA, 1999, Filadélfia, EUA, esse novo anestésico local teve assegurado sua certidão de nascimento 1; depois veio o batismo 2; e recentemente acaba de receber a benção da confirmação (crisma) com esse trabalho de pesquisa básica 3.
Nessa trajetória pode-se constatar que o composto foi bem-nascido, tendo recebido todos os sacramentos antes de atingir a sua adolescência. É a vitória da pesquisa básica que nos fez criar uma combinação racional com base em evidências estereoisoméricas.
Vasconcelos Filho e col. 3 circunscrevem seu estudo na finalidade precípua pela qual os anestésicos locais existem: o bloqueio do nervo, mais precisamente a estrutura maior, a medula. A parceria entre departamentos veio enriquecer a pesquisa básica brasileira pela colaboração das Professoras Capelozzi que nos permitiram que nossa capacidade investigatória fosse conhecida lá fora através do respeitável Anesthesia & Analgesia, anos atrás 3. E poucos de nós tivemos essa honra.
Nas três apresentações isoméricas ensaiadas da bupivacaína da família pipecolilxilidida (a racêmica, a homoquiral e a mistura enantiomérica) foi possível constatar as diferenças toxicológicas em função da disposição espacial dos seus isômeros, qualitativa e quantitativamente, (S(-) versus R(+) bupivacaína).
A estereoisomeria nos dá o roteiro: isômeros são marcadamente diferentes... Resta balanceá-los na juste mesure, isto é quantum satis para não lesar os tecidos, como soeu acontecer através do manuseio não-equimolar da bupivacaína racêmica na formulação S75:R25 que não diferiu estatisticamente do composto homoquiral (levobupivacaína) 1,2,3.
À guisa de colaboração a esse projeto estruturado sob um método tão fidedigno, sugiro a comparação com outro ramo dessa família, o composto (p) ropivacaína, inerente e intrinsicamente vasoconstritor, mas passível de injeção intratecal acidental quando da realização da técnica epidural.
Aguardemos, pois, o impacto da vasoconstrição da ropivacaína sobre as estruturas medulares, talvez a razão pela qual a torna proibitiva na técnica subaracnoidéa.
Maria P.B. Simonetti, TSA
E-mail: simonet@usp.br
- 01. Simonetti MPBS, Ferreira FM — Does the D-isomer of bupivacaine contribute to improvement of efficacy in neural block. Reg Anesth, 1999;24(Supp ASRA):43.
- 02. Trachez MM, Zapata-Sudo G, Moreira OR et al. — Motor nerve blockade potency and toxicity of non-racemic bupivacaine in rats. Acta Anaesthesiol Scand, 2005;49:66-71.
- 03. Vasconcelos Filho PO, Posso IP, Capelozzi M et al. — Comparação das alterações histológicas da medula espinal e neurológicas de cobaias após anestesia subaracnóidea com grandes volumes de bupivacaína racêmica, de mistura com excesso enantiomérico de 50% de bupivacaína (S75-R25) e de levobupivacaína. Rev Bras Anestesiol, 2008;58:234-245.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Fev 2009 -
Data do Fascículo
Fev 2009