Acessibilidade / Reportar erro

Bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I Mobitz após aplicação de penicilina benzatina: relato de caso

Bloqueo atrioventricular de 2º grado tipo Mobitz I después de la aplicación de penicilina benzatina: relato de caso

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz é observado como alteração transitória na presença de infarto de parede inferior ou de intoxicação medicamentosa. O objetivo desse relato foi apresentar caso de bloqueio atrioventricular de 2° grau tipo I de Mobitz após aplicação de penicilina benzatina. RELATO DO CASO: Paciente apresentou síncope e sudorese após aplicação de penicilina benzatina. Ao exame físico apresentava-se sudoreico, bradicárdico e com ritmo irregular. Foi realizado eletrocardiograma (ECG) que mostrava bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz. Administrou-se atropina 0,5 mg por via venosa. Após uma hora foi repetido o ECG que apresentava traçado normal. Paciente permaneceu seis horas assintomático e então recebeu alta. CONCLUSÕES: O bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz surgiu após aplicação de penicilina benzatina.

COMPLICAÇÕES, Cardíaca; COMPLICAÇÕES, Cardíaca; DROGAS


JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: El bloqueo atrioventricular de 2° grado del tipo I de Mobitz es observado como una alteración transitoria en la presencia de infarto de la pared inferior o de intoxicación medicamentosa. El objetivo de este relato fue presentar un caso de bloqueo atrioventricular de 2° grado tipo I de Mobitz después de la aplicación de penicilina benzatina. RELATO DEL CASO: Paciente que presentó síncope y sudoración después de la aplicación de penicilina benzatina. En el examen físico sudaba, estaba bradicárdico y con ritmo irregular. Fue realizado el electrocardiograma (ECG) que mostraba un bloqueo atrioventricular de 2° del tipo I de Mobitz. Se le administró atropina 0,5 mg por vía venosa. Después de una hora, fue repetido el ECG que presentaba un trazado normal. El paciente permaneció seis horas asintomático y entonces recibió el alta. CONCLUSIONES: El bloqueo atrioventricular de 2° grado del tipo I de Mobitz surgió después de la aplicación de la penicilina benzatina.


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Second degree atrioventricular block Mobitz type I is seen as a transitory change in the presence of inferior wall myocardial infarction or drug intoxication. The objective of this report was to present a case of second degree atrioventricular block Mobitz type I after administration of benzathine penicillin. CASE REPORT: The patient had a syncopal episode and sudoresis after administration of benzathine penicillin. On physical exam, he presented diaphoresis, bradycardia, and irregular heart rate. The electrocardiogram (ECG) showed second degree atrioventricular block Mobitz type I. Intravenous atropine, 0.5 mg, was administered. An ECG done one hour later was normal. The patient remained asymptomatic and, and after six hours he was discharged. CONCLUSIONS: The patient developed second degree atrioventricular block Mobitz type I after the administration of benzathine penicillin.

COMPLICATIONS, Cardiac; COMPLICATIONS, Cardiac; DRUGS


INFORMAÇÃO CLÍNICA

Bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I Mobitz após aplicação de penicilina benzatina. Relato de caso* * Recebido do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, Fortaleza, CE

Bloqueo atrioventricular de 2º grado tipo Mobitz I después de la aplicación de penicilina benzatina. Relato de caso

Lúcia de Sousa BelémI; Cristiano Aparecido Cavalcante InácioII

IMédica - Residência em Cardiologia

IIAcadêmico de Medicina da Universidade Estadual do Ceará

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dra. Lúcia de Sousa Belém Tr José Onofre, 23 - Pq Santo Antônio 60763-790 Fortaleza, CE E-mail: cristiano_aci@yahoo.com.br

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz é observado como alteração transitória na presença de infarto de parede inferior ou de intoxicação medicamentosa. O objetivo desse relato foi apresentar caso de bloqueio atrioventricular de 2° grau tipo I de Mobitz após aplicação de penicilina benzatina.

RELATO DO CASO: Paciente apresentou síncope e sudorese após aplicação de penicilina benzatina. Ao exame físico apresentava-se sudoreico, bradicárdico e com ritmo irregular. Foi realizado eletrocardiograma (ECG) que mostrava bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz. Administrou-se atropina 0,5 mg por via venosa. Após uma hora foi repetido o ECG que apresentava traçado normal. Paciente permaneceu seis horas assintomático e então recebeu alta.

CONCLUSÕES: O bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz surgiu após aplicação de penicilina benzatina.

Unitermos: COMPLICAÇÕES, Cardíaca: disritmia, bloqueio atrioventricular; DROGAS: penicilina benzatina.

RESUMEN

JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: El bloqueo atrioventricular de 2° grado del tipo I de Mobitz es observado como una alteración transitoria en la presencia de infarto de la pared inferior o de intoxicación medicamentosa. El objetivo de este relato fue presentar un caso de bloqueo atrioventricular de 2° grado tipo I de Mobitz después de la aplicación de penicilina benzatina.

RELATO DEL CASO: Paciente que presentó síncope y sudoración después de la aplicación de penicilina benzatina. En el examen físico sudaba, estaba bradicárdico y con ritmo irregular. Fue realizado el electrocardiograma (ECG) que mostraba un bloqueo atrioventricular de 2° del tipo I de Mobitz. Se le administró atropina 0,5 mg por vía venosa. Después de una hora, fue repetido el ECG que presentaba un trazado normal. El paciente permaneció seis horas asintomático y entonces recibió el alta.

CONCLUSIONES: El bloqueo atrioventricular de 2° grado del tipo I de Mobitz surgió después de la aplicación de la penicilina benzatina.

INTRODUÇÃO

O bloqueio atrioventricular de 2° grau (BAV 2°) está presente quando alguns impulsos atriais deixam de ser conduzidos aos ventrículos. O BAV 2° do tipo I Mobitz está presente quando há um aumento progressivo do intervalo PR antes do bloqueio do impulso atrial, sendo, normalmente, o mais longo PR aquele que antecede a onda P bloqueada e o mais curto aquele que ocorre após o batimento bloqueado 1.

Frequentemente esse tipo de bloqueio é observado como alteração transitória na presença de infarto da parede inferior ou de intoxicação medicamentosa, particularmente digital, betabloqueadores e, às vezes, antagonistas dos canais de cálcio. Esse tipo de bloqueio também pode ser observado em indivíduos normais com tônus vagal exacerbado. Embora o BAV 2° do tipo I de Mobitz possa evoluir para bloqueio atrioventricular total, isso é incomum, exceto no contexto do infarto agudo do miocárdio da parede inferior. Entretanto, mesmo quando isso acontece, o bloqueio atrioventricular é geralmente bem tolerado porque o marca-passo de escape surge, com frequência, no feixe de His proximal, propiciando ritmo estável 2.

RELATO DO CASO

Paciente do sexo masculino, 34 anos, solteiro e presidiário, foi transferido ao hospital em virtude de episódio de síncope e sudorese fria após a aplicação de duas injeções de penicilina benzatina no hospital presidiário em que estava internado para tratamento de tuberculose.

Relatava ter feito uso de injeções de penicilina benzatina outras vezes sem apresentar sintomas semelhantes aos atuais. Há quatro meses em tratamento de tuberculose com rifampicina e isoniazida. Negava qualquer tipo de atopia na infância. Relatava ser usuário de drogas, porém declarava que há um ano não as utilizava, período que esteve detido no presídio.

Ao exame físico apresentava estado geral regular, sudoreico, corado, hidratado, pulso irregular na frequência de 40 batimentos por minuto e frequência respiratória de 20 inspirações por minuto. À ausculta cardíaca bulhas hipofonéticas, dois tempos, ritmo irregular, sem sopro. Restante do exame físico sem alterações.

Após a admissão foi realizado um eletrocardiograma de 12 derivações (Figura 1) com ampliação da derivação DII (Figura 2) que mostrava bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz.



Foi aplicada atropina na dose de 0,5 mg por via venosa.

Após uma hora o paciente apresentava-se assintomático e o eletrocardiograma foi repetido (Figura 3) exibindo traçado normal.


Após seis horas sem sintomas, o paciente recebeu alta hospitalar.

DISCUSSÃO

As causas do BAV 2° do tipo I de Mobitz incluem intoxicação digitálica, infecção aguda (febre reumática), distúrbio eletrolítico, fase aguda do infarto do miocárdio em parede inferior (na maioria das vezes transitória), pós-operatório de procedimento cirúrgico cardíaco (manipulações em corações normais, substituições de valvas aórticas calcificadas) em corações normais, pode aparecer durante o sono (notoriamente em idosos e atletas) 3,4.

Não foi encontrado na literatura consultada relato de bloqueio de 2° grau do tipo I com administração de penicilina.

A progressão para bloqueio AV completo é pouco comum e o escape de um ritmo subsidiário estável pode ser antecipado. O tratamento, portanto, costuma ser conservador e orientado pela resposta ventricular. Em pacientes com doença cardíaca orgânica, no entanto, a evolução clínica pode ser menos favorável, embora isso provavelmente reflita mais a extensão e gravidade da doença associada que a presença de bloqueio nodal AV 5.

Quando o paciente é assintomático o tratamento é expectante. Na fase aguda do infarto do miocárdio de parede inferior, quando necessário (bradicardia com hipotensão arterial e agravamento do quadro hemodinâmico), o uso de atropina por via venosa (0,5 a 1mg) pode dar bons resultados e a condução AV ser restabelecida. Raramente, pacientes com BAV 2° do tipo I necessitam de marcapasso definitivo 6.

Nesse caso, o bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I Mobitz sintomático parece ter sido causado pela aplicação de penicilina benzatina.

O paciente foi diagnosticado corretamente com bloqueio atrioventricular de 2° grau do tipo I de Mobitz após administração de penicilina benzatina e tratado conforme rotina para o caso. Após um período de seis horas assintomático recebeu alta.

Apresentado em 26 de julho de 2008

Aceito para publicação em 19 de dezembro de 2008

  • 01. Carneiro EF - O Eletrocardiograma 10 Anos depois. Rio de Janeiro, Livraria Enéas Ferreira, 1997;375.
  • 02. Braunwald E, Kasper DL, Fauci AS et al. - Harrison Medicina Interna, 16Ş ed. Rio de Janeiro, McGraw-Hill, 2006;1403.
  • 03. Timerman A, Sousa JEMR, Piegas LS - Urgências Cardiovasculares, 2Ş ed. São Paulo, Savier, 1996;87-88.
  • 04. Braunwald E - Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine, 7Ş ed. Philadelphia, W.B. Saunder, 2005;690.
  • 05. Hurst JW - O Coração: Artérias e Veias, 6Ş Ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1990;355.
  • 06. Cheitlin MD, Sokolow M, McIlroy MB - Clinical Cardiology, 6Ş ed. London, Prentice-Hall, 1993;143.
  • Endereço para correspondência:
    Dra. Lúcia de Sousa Belém
    Tr José Onofre, 23 - Pq Santo Antônio
    60763-790 Fortaleza, CE
    E-mail:
  • *
    Recebido do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, Fortaleza, CE
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Abr 2009
    • Data do Fascículo
      Abr 2009

    Histórico

    • Aceito
      19 Dez 2008
    • Recebido
      26 Jul 2008
    Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: bjan@sbahq.org