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Duplicidade de publicação

EDITORIAL

Duplicidade de publicação

A Reunião de Editores de Revistas de Anestesiologia realizada durante Congresso Mundial da especialidade em 2000 discutiu um problema que os preocupava: autores que enviavam para duas ou mais revistas o mesmo trabalho. À época a comunicação era restrita e muitas vezes era difícil detectar essa prática antiética.

Quais seriam as estratégias para coibi-los?

Ao final acordou-se sobre a conveniência de que os Editores dos principais periódicos de Anestesiologia mantivessem comunicação entre si para quando recebessem trabalhos de autores já conhecidos por essa prática, trocassem correspondência na tentativa de impedir que o mesmo trabalho fosse publicado em mais de uma revista.

Nesse momento a Revista Brasileira de Anestesiologia pleiteava sua indexação na National Library e por esse motivo foi convidada para a Reunião. Compareci a ela representando o Editor-chefe, na qualidade de coeditor.

Logo em seguida a indexação foi negada e a Revista Brasileira de Anestesiologia não foi mais convidada para as reuniões realizadas nos Congressos Mundiais subsequentes.

Passados 11 anos, já com a indexação regularizada, a Revista Brasileira de Anestesiologia enfrenta esse problema, agora como vítima dessa prática.

As pressões para publicar atingem todos os grupos de pesquisa pelo mundo. No ano passado, durante o Congresso Europeu de Anestesiologia, em evento ao qual compareceram muitos Editores de Revistas e membros de Corpos Editoriais, discutiu-se a baixa qualidade de trabalhos científicos influenciada pela necessidade de se atingir metas de publicação, difíceis mesmo em centros de grande tradição em pesquisa.

O Ministério da Educação, através do CAPES ao classificar a maioria dos periódicos brasileiros da área de Saúde em categorias inferiores, certamente não colaborou com o desenvolvimento, titulação e manutenção de títulos de Docentes Orientadores dos Programas de Pós-graduação. Além disso, ameaçou a sobrevivência das Revistas nacionais que são preteridas, involuntariamente, por alguns pesquisadores brasileiros muito produtivos, pois a endogenia é considerada uma falha e há estímulo para que se enviem os melhores trabalhos para as revistas melhor classificadas pelo CAPES, que não são nacionais. Cria-se, assim, círculo vicioso à procura de maior impacto.

O problema denunciado pelo Editor-chefe da Revista Brasileira de Anestesiologia infelizmente não é inédito e golpeia a seriedade da pesquisa no Brasil. Como sempre a atitude de poucos atinge a todos e o trabalho sério de muitos pode ser abalado.

É em defesa da pesquisa séria, contínua, ética e cada vez mais exuberante no Brasil que escrevo esse Editorial. Não é burlando que se consegue respeito. Não é mentindo que se constroem evidências. Não é dessa forma que se ensinam os que agora se iniciam na Ciência. A nossa responsabilidade de educar com exemplos nunca se esgota e o repúdio a essa prática deve ser verbalizado, escrito e divulgado de todas as formas possíveis, para que não sejam os pesquisadores brasileiros globalizados no seu lado perverso, integrando a lista mundial de adeptos da publicação simultânea.

Deixo aqui meu apoio ao Editor-chefe, que ao perceber o fato tomou todas as atitudes cabíveis para isentar todos os outros grupos que publicam na Revista Brasileira de Anestesiologia de verem seus esforços contaminados. Estou certa de que a comunidade científica brasileira não será complacente com essa prática que pode desestabilizar a credibilidade de todos.

Judymara Lauzi Gozzani

Editora Associada

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Abr 2011
  • Data do Fascículo
    Abr 2011
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