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Falha no funcionamento do ressuscitador manual autoinflável devido à presença de secreções pulmonares ressecadas

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os ressuscitadores manuais autoinfláveis (RMA) são dispositivos utilizados para ofertar ventilações para pacientes com necessidade ventilatória. Esses dispositivos são compostos por um conjunto de válvulas que trabalham de forma sequencial e alterações em seu funcionamento podem ser prejudicais ao paciente. RELATO DO CASO: Durante a utilização de RMA, observou-se que a válvula permaneceu fixa devido à presença de secreção pulmonar ressecada, o que impossibilitou a ventilação do paciente, mas não a manipulação da unidade compressível. CONCLUSÕES: Essa situação reafirma que o reanimador é um dispositivo que deve ser usado por profissionais treinados, pois, apesar de as alterações de funcionamento serem raras, podem ser potencialmente fatais.

COMPLICAÇÕES; EQUIPAMENTOS; REANIMAÇÃO


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Self-inflating manual resuscitators (SIMR) are devices used to ventilate patients with ventilatory needs. These devices consist of a set of valves that work sequentially, and changes in their function may be harmful to patients. CASE REPORT: During the use of SIMR, it was observed that the valve remained fixed due to the presence of dried pulmonary secretion, which made it impossible to ventilate the patient, but not manipulate the compressible unit. CONCLUSIONS: This situation reaffirms that the resuscitator is a device that should be used by trained professionals because, although changes in functioning are rare, they can be potentially fatal.

Respiration, Artificial; Cardiopulmonary Resuscitation; Equipment Failure Analysis; Pulmonary Edema


JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: Los resucitadores manuales autoinflables (RMA), son dispositivos utilizados para dar ventilaciones a pacientes con necesidad ventilatoria. Esos dispositivos están compuestos por un conjunto de válvulas que trabajan de forma secuencial y las alteraciones en su funcionamiento pueden ser dañinas para el paciente. RELATO DEL CASO: Durante la utilización de RMA, observamos que la válvula permaneció fija debido a la presencia de secreción pulmonar resecada, lo que imposibilitó la ventilación del paciente, pero no la manipulación de la unidad comprensible. CONCLUSIONES: Esa situación muestra que el reanimador es un dispositivo que debe ser usado por profesionales entrenados, porque a pesar de que las alteraciones de funcionamiento sean algo raro, si ocurren pueden ser potencialmente fatales.

COMPLICACIONES; EQUIPOS; REANIMACIÓN


INFORMAÇÕES CLÍNICAS

Falha no funcionamento do ressuscitador manual autoinflável devido à presença de secreções pulmonares ressecadas

Armando Carlos Franco de Godoy

Professor Doutor; Fisioterapeuta responsável pelas enfermarias de Emergência Clínica e Cirurgia do Trauma da Unicamp

Correspondência para Correspondência para: Dr. Armando Carlos Franco de Godoy Rua Hercules Florence, 100/23 Botafogo 13020170 - Campinas, SP, Brasil E-mail: armandogodoy@ig.com.br

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os ressuscitadores manuais autoinfláveis (RMA) são dispositivos utilizados para ofertar ventilações para pacientes com necessidade ventilatória. Esses dispositivos são compostos por um conjunto de válvulas que trabalham de forma sequencial e alterações em seu funcionamento podem ser prejudicais ao paciente.

RELATO DO CASO: Durante a utilização de RMA, observou-se que a válvula permaneceu fixa devido à presença de secreção pulmonar ressecada, o que impossibilitou a ventilação do paciente, mas não a manipulação da unidade compressível.

CONCLUSÕES: Essa situação reafirma que o reanimador é um dispositivo que deve ser usado por profissionais treinados, pois, apesar de as alterações de funcionamento serem raras, podem ser potencialmente fatais.

Unitermos: COMPLICAÇÕES: Edema pulmonar agudo, Parada cardiorespiratória; EQUIPAMENTOS: ressuscitador manual autoinflável; REANIMAÇÃO

INTRODUÇÃO

Os reanimadores manuais autoinfláveis (RMA) são dispositivos utilizados com a finalidade de ofertar ventilações com pressão positiva, em pacientes com necessidade de suporte ventilatório. Entre as situações clínicas em que os RMAs são utilizados é possível citar: ressuscitação cardiopulmonar e transporte extra e intra-hospitalar 1,2.

Os RMAs não podem ser considerados simples dispositivos, mas sim um mecanismo complexo que consiste de um conjunto de válvulas que trabalham de forma sequencial, com o objetivo de permitir a exalação e a entrada de ar no sistema respiratório do paciente 3.

Os RMAs podem apresentar três partes: reservatório de O2 (1), unidade compressível (2) e conector do paciente (3). O reservatório de O2 constitui-se de um saco com a finalidade de receber o fluxo de O2 e é encaixado na parte posterior da unidade compressível; a unidade compressível é a parte manipulada pelo operador do RMA para ofertar volume de ar ao paciente; enquanto o conector do paciente é a peça em que se acopla a máscara de ressuscitação ou a porção proximal do tubo endotraqueal (Figura 1).


Para fazer funcionar o RMA, o operador comprime a unidade compressível produzindo pressão supra-atmosférica no interior desta e fazendo com que a válvula tipo disco (4) obstrua a saída do conector do paciente, direcionando ar para o sistema respiratório deste; concomitantemente, a válvula posterior (5) fecha a saída de ar pela parte posterior da unidade compressível. Quando o operador descomprime a unidade compressível, ocorre uma pressão subatmosférica em seu interior, o que faz com que a válvula posterior se abra e aspire o ar ambiente ou oxigênio do reservatório de O2. Em sincronia, a válvula tipo disco retrocede até esbarrar no anteparo do conector do paciente (6), permitindo a exalação do ar injetado no sistema respiratório. Alguns RMAs têm no conector do paciente uma válvula de pressão (7) que se abre quando o sistema atinge uma pressão superior a 40 cmH2O, garantindo limite pressórico no sistema (Figura 1).

RELATO DO CASO

Durante a utilização do RMA em um paciente de 65 anos, sexo masculino, com edema pulmonar cardiogênico dependente de ventilação mecânica invasiva, para a realização de troca de ventiladores, observou-se que não ocorria expansão do tórax do paciente durante as manipulações da unidade compressível. Em uma inspeção do equipamento, notou-se que a válvula tipo disco estava colada no anteparo do conector do paciente por uma camada de secreção pulmonar ressecada (8) (Figura 1).

DISCUSSÃO

A situação apresentada vai ao encontro das opiniões de diversos autores, os quais relatam que o RMA é um dispositivo que deve ser usado por uma equipe de profissionais devidamente treinados e familiarizados com os componentes e o mecanismo de funcionamento de suas válvulas, pois, apesar de as alterações das válvulas do RMA serem raras, são reais e podem ser fatais em determinadas situações clínicas 3,4.

Na literatura, é possível encontrar relatos de casos de mau funcionamento da válvula do paciente, devido ao fato de os RMAs estarem recebendo altos fluxos de O25 e/ou com montagem errônea de suas peças 3. Nessas situações, os autores relatam que houve dificuldade ou impossibilidade de manipular a unidade compressível do RMA 3-11. Essa situação ocasionou nos pacientes complicações como: pneumotórax 6, dilatação e ruptura gástrica com aspiração do conteúdo gástrico 7, pneumoperitônio 8, ruptura de esôfago 9 e pneumoencéfalo 10.

No presente caso, como a válvula do paciente permanecia fixa por secreções pulmonares ressecadas e o RMA utilizado apresentava válvula de pressão, o ar a ser direcionado para o sistema respiratório foi direcionado para o ambiente, enquanto a unidade compressível continuava sendo manipulada normalmente, sem ocorrer ventilação do paciente.

O que levou à percepção de que ocorria falha no funcionamento do RMA foi a imobilidade do tórax do paciente. Se ocorresse a utilização desse RMA em tais circunstâncias por tempo indeterminado, em situações como transporte extra ou intra-hospitalar, parada cardiorrespiratória ou troca do tubo endotraqueal, o paciente poderia apresentar hipoxemia, com eventual prejuízo de sua condição clínica, o que poderia leválo até a morte.

Embora, na unidade, os RMAs colocados à beira do leito sejam trocados a cada 48 horas, não é possível precisar há quanto tempo esse RMA permaneceu ao lado do paciente sem ser utilizado.

O RMA é um dispositivo que deve ser usado por uma equipe de profissionais devidamente treinados e familiarizados com os componentes e o mecanismo de funcionamento de suas válvulas, pois, em alguns tipos, a unidade compressível pode ser manipulada pelo operador sem ocorrer a ventilação do paciente.

Submetido em 26 de agosto de 2010.

Aprovado para publicação em 7 de dezembro de 2010.

Recebido do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil.

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  • Correspondência para:

    Dr. Armando Carlos Franco de Godoy
    Rua Hercules Florence, 100/23 Botafogo
    13020170 - Campinas, SP, Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Aceito
      07 Dez 2010
    • Recebido
      26 Ago 2010
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