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Administração de clonidina intravenosa e sua capacidade de reduzir a pressão da artéria pulmonar em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca

Resumos

Objetivo:

Avaliar a capacidade da clonidina de reduzir a pressão arterial pulmonar de pacientes com hipertensão pulmonar, submetidos a cirurgia cardíaca, seja pela diminuição dos valores pressóricos a partir da aferição direta da pressão de artéria pulmonar, seja pela redução ouabolição da necessidade de dobutamina e nitroprussiato de sódio no intraoperatório.

Método:

Trata-se de estudo controlado, comparativo, randomizado e duplamente encoberto feito com 30 pacientes portadores de hipertensão arterial pulmonar tipo 2, submetidos a cirurgia cardíaca. Avaliaram-se a pressão média de artéria pulmonar e a posologia de dobutaminae nitroprussiato de sódio em quatro momentos: (M0) antes da administração de 2 µg/kg declonidina intravenosa ou placebo; (M1) decorridos 30 minutos do tratamento testado e antes da circulação extracorpórea; (M2) imediatamente após a circulação extracorpórea; e (M3)10 minutos após a injeção de protamina.

Resultados:

Não houve diferenças significativas em relação à pressão média de artéria pulmonarem nenhum dos momentos estudados. Entre os grupos não houve também diferença significativa entre as demais variáveis estudadas, como pressão arterial sistêmica média, frequência cardíaca, dosagem total de dobutamina, dosagem total de nitroprussiato de sódio e necessidade do hipnoanalgésico fentanil.

Conclusão:

A análise dos dados obtidos dos pacientes incluídos neste estudo permite concluir que a clonidina, na dose de 2 µg/kg administrada via intravenosa, não foi capaz de reduzir a pressão média de artéria pulmonar de pacientes com hipertensão pulmonar do grupo 2 (hipertensão venosa pulmonar), submetidos a cirurgia cardíaca, e nem reduzir ou abolir a necessidade da administração de dobutamina e nitroprussiato de sódio no intraoperatório.

Clonidina; Hipertensão pulmonar; Cirurgia cardíaca


Objective:

Evaluate the ability of clonidine to reduce pulmonary arterial pressure in patients with pulmonary hypertension undergoing heart surgery, either by reducing the pressure values from the direct measurement of pulmonary arterial pressure or by reducing or eliminating the need for intraoperative dobutamine and nitroprusside.

Method:

Randomized, double-blind, placebo-controlled, comparative study conducted in 30 patients with pulmonary arterial hypertension type 2 undergoing cardiac surgery. Mean pulmonary arterial pressure and dosage of dobutamine and sodium nitroprusside were assessed four times: before intravenous administration of clonidine (2 µg/kg) or placebo (T0), 30 min after tested treatment and before cardiopulmonary bypass (T1), immediately after CPB (T2), 10 min after protamine injection (T3).

Results:

There were no significant differences regarding mean pulmonary arterial pressure at any time of evaluation. There was no significant difference between groups regarding other variables, such as mean systemic arterial pressure, heart rate, total dose of dobutamine, total dose of sodium nitroprusside, and need for fentanyl.

Conclusion:

Data analysis from patients included in this study allows us to conclude that intra-venous clonidine (2 µg/kg) was not able to reduce the mean pulmonary arterial pressure inpatients with pulmonary hypertension in group 2 (pulmonary venous hypertension), undergoing heart surgery, or reduce or eliminate the need for intraoperative administration of dobutamineand sodium nitroprusside.

Clonidine; Pulmonary hypertension; Heart surgery


Objetivo:

Evaluar la capacidad de la clonidina de reducir la presión arterial pulmonar de pacientes con hipertensión pulmonar sometidos a cirugía cardíaca, sea por la disminución de los valores tensionales a partir de la comprobación directa de la presión de la arteria pulmonar, o por la reducción o supresión de la necesidad de dobutamina y nitroprusiato de sodio en el intraoperatorio.

Método:

Se trata de un estudio controlado, comparativo, aleatorizado y doble ciego hecho con 30 pacientes con hipertensión arterial pulmonar tipo 2, sometidos a cirugía cardíaca. Fueron evaluados la presión promedio de la arteria pulmonar y la posología de dobutamina y nitroprusiato de sodio en 4 momentos: (M0) antes de la administración de 2 µg/kg de clonidina intravenosa o placebo; (M1) transcurridos 30 min del tratamiento testado y antes de la circulación extracorpórea; (M2) inmediatamente después de la circulación extracorpórea; y (M3) 10 min después de la inyección de protamina.

Resultados:

No fueron verificadas diferencias significativas con relación a la presión promedio de la arteria pulmonar en ninguno de los momentos estudiados. Entre los grupos tampoco hubo diferencia significativa entre las demás variables estudiadas, como presión arterial sistémica promedio, frecuencia cardíaca, dosificación total de dobutamina, dosificación total de nitroprusiato de sodio y la necesidad del hipnoanalgésico fentanilo.

Conclusiones:

El análisis de los datos obtenidos de los pacientes incluidos en este estudio permite concluir que la clonidina en una dosis de 2 µg/kg administrada por vía intravenosa no fue capaz de reducir la presión promedio de la arteria pulmonar de pacientes con hipertensión pulmonar del grupo 2 (hipertensión venosa pulmonar), sometidos a cirugía cardíaca, ni tampoco reducir o suprimir la necesidad de la administración de dobutamina y nitroprusiato de sodio en el intraoperatorio.

Clonidina; Hipertensión pulmonar; Cirugía cardíaca


Introdução

A hipertensão pulmonar (HP) é doença crônica, definida por elevação da pressão média do tronco pulmonar acima de 25 mmHg em repouso ou 30 mmHg durante exercício. De etiologia variada, a HP é associada a três fenômenos deletérios principais: remodelamento vascular, vasoconstrição hipóxica e trombose in situ. Essa doença de difícil controle evolui com hipoxemia, aumento da resistência à ejeção do sangue pelo ventrículo direito (VD), falência do VD e morte.11. Simonneau G, Galiè N, Rubin LJ, et al. - Clinical classification of pulmonary hypertension. J Am Coll Cardiol. 2004;43:5-12.

A HP é classificada em cinco grupos: I - hipertensão arterial pulmonar (inclui a forma idiopática); II - hipertensão pulmonar associada com doenças do coração esquerdo; III - hipertensão pulmonar associada com doenças respiratórias e/ou hipoxemia; IV - hipertensão pulmonar por causa de doença trombótica e/ou embólica crônica; e V - grupo de miscelânea.11. Simonneau G, Galiè N, Rubin LJ, et al. - Clinical classification of pulmonary hypertension. J Am Coll Cardiol. 2004;43:5-12.

Os pacientes do grupo II são encontrados com maior frequência. Nesses, a HP decorre de falência do ventrículo esquerdo (VE) associada à progressão de doenças cardíacas comuns, como valvulopatias e coronariopatias.22. Voelkel NF, Quaife RA, Leinwand LA, et al. - Right ventricular function and failure: report of a National Heart, Lung, and Blood Institute working group on cellular and molecular mechanisms of right heart failure. Circulation. 2006;24:1883-91. A falência do miocárdio torna o VE incapaz de ejetar na circulação sistêmica o sangue que chega ao coração esquerdo pelas veias pulmonares. A elevação na pressão do leito venoso pulmonar transmite-se retrogradamente ao sistema arterial. Não por outro motivo, a HP do grupo II é referida como hipertensão venosa pulmonar - Hvp.33. Rubenfire M, Bayram M, Hector-Word Z. - Pulmonary hypertension in the critical care setting: classification, pathophysiology, diagnosis, and management. Crit Care Clin. 2007;23:801-34.

A anestesia desses pacientes representa enorme desafio: controlar simultaneamente a doença ventricular e a hipertensão pulmonar. Para enfrentá-lo são usadas várias combinações de fármacos; entre as mais frequentes, a associação do inotrópico dobutamina (DBT) e do vasodilatador nitroprussiato de sódio (NTP). Entretanto, para que sejam efetivos, faz-se muitas vezes necessário empregar doses elevadas desses agentes. Surgem então efeitos indesejáveis, como taquicardia, no caso da dobutamina, ou aumento da pressão intracraniana, roubo de fluxo coronariano, shunt intrapulmonar e acidose metabólica, com o nitroprussiato de sódio.44. Levy JH. - Management of systemic and pulmonary hypertension. Tex Heart Inst J. 2005;32:467-71. As opções farmacológicas disponíveis não são, portanto, isentas de efeitos colaterais, o que justifica o interesse em novas opções terapêuticas.

O agonista α2-adrenérgico imidazólico, clonidina, foi introduzido na prática clínica no início de 1960. Esse fármaco foi proposto primeiramente como descongestionante nasal, mas logo foram conhecidos seus efeitos sistêmicos, como hipotensão arterial, bradicardia e sedação.55. Simonetti MPB, Valinetti EA, Ferreira FMC. - Clonidine: from nasal descongestive to potent analgesic. Historical and pharmacological considerations. Rev Bras Anestesiol. 1997;47:37-47.

Demonstrado o efeito hipotensor da clonidina, que diminui a exocitose de noradrenalina na fenda sináptica, tanto no sistema nervoso central como no periférico,66. Alves TCA, Braz JRC, Vianna PTG. - α2 agonistas em anestesiologia: aspectos clínicos e farmacológicos. Rev Bras Anestesiol. 2000;50:396-404. ela passou a ser prescrita para controle da hipertensão arterial. Nas últimas décadas esse agente foi estudado como coadjuvante da anestesia. As vantagens da clonidina, nesse contexto, foram reconhecidas e seu uso difundiu-se também no campo da anestesia em cirurgia cardíaca. Entre outros benefícios, à clonidina atribui-se redução da necessidade de opioides nos períodos intra e pós-operatório, o que permite desintubação traqueal precoce e encurta a duração da ventilação mecânica; estabilidade hemodinâmica, face a níveis mais baixos de catecolaminas em circulação; aumento da diurese, decorrente de inibição da liberação de hormônio antidiurético (ADH); e liberação de fator natriurético atrial.66. Alves TCA, Braz JRC, Vianna PTG. - α2 agonistas em anestesiologia: aspectos clínicos e farmacológicos. Rev Bras Anestesiol. 2000;50:396-404.

A presença de receptores alfa 2 adrenérgicos nos tecidos pulmonares77. Starke K, Gothert M, Kilbinger H. - Modulation of neurotransmitter release by presynaptic autoreceptors. Physiol Rev. 1989;69:864-989.

8. Barnes PJ, Liu SF. - Regulation of pulmonary vascular tone. Pharmacol Rev. 1995;47:87-131.
-99. Blaise G, Langleben D, Hubert B. - Pulmonary arterial hypertension: pathophysiology and anesthetic approach. Anesthesiology. 2003;99:1415-32. e sua ação como hipotensivo central evocam a hipótese de que a clonidina também possa ser útil no tratamento de pacientes com HP submetidos à cirurgia cardíaca.

Métodos

Após aprovação dos Comitês de Ética dos Hospitais São Paulo (Unifesp) e Beneficência Portuguesa (São Paulo-SP) e obtenção do consentimento informado de todos os participantes, foram incluídos no estudo 30 pacientes, entre janeiro de 2009 e dezembro de 2010. Classificados como ASA II ou III (American Society of Anesthesiologists), de ambos os gêneros, entre 18 e 80 anos e com hipertensão pulmonar secundária a enfermidades do coração esquerdo. Em decorrência do vencimento da validade do lote dos fármacos, um paciente foi excluído do estudo.

Os pacientes foram submetidos a cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea para correção das valvopatias ou revascularização do miocárdio.

O diagnóstico de hipertensão pulmonar foi confirmado previamente por meio de cateterismo cardíaco direito e definido por pressão média de artéria pulmonar maior do que 25 mmHg com o paciente em repouso.

Após jejum de oito horas, os pacientes foram levados ao centro cirúrgico sem a administração de medicamentos pré-anestésicos. Em sala de operação, foram monitorados com eletrocardioscópio nas derivações DII e V5, oxímetro de pulso e pressão arterial não invasiva. Em todos os pacientes procedeu-se à venóclise e administração intravenosa de 3 mg de midazolan. Após essa etapa, canulou-se a artéria radial direita ou esquerda com cateter calibre 20 G para medida direta da pressão arterial e coleta de amostras sanguíneas para análises laboratoriais.

A anestesia consistiu de pré-oxigenação durante três minutos, seguida da administração de fentanil 10 μg/kg, etomidato 0,4 mg/kg, pancurônio 0,1 mg/kg e lidocaína 1 mg/kg; ventilação sob máscara com oxigênio a 100% por cinco a sete minutos, seguida de intubação orotraqueal e manutenção com isoflurano a 1% em oxigênio e ar comprimido (1:1). Após a intubação orotraqueal, a monitoração foi complementada pela análise de gases anestésicos, capnometria e capnografia.

No intraoperatório buscou-se manter a pressão arterial média entre 50 e 80 mmHg com doses adicionais de fentanil (5 μg/kg) e, se necessário, nitroprussiato de sódio. Os casos de hipotensão arterial foram tratados conforme a etiologia, seja com administração de volume, seja com inotrópicos, cronotrópicos ou vasopressores.

Após a esternotomia e a colocação do afastador, um cateter de teflon de calibre 18 G foi locado sob visão direta na artéria pulmonar, para permitir medida direta da pressão da artéria pulmonar.

Durante a circulação extracorpórea, a fim de manter o paciente sob hipnose e imobilidade, foram novamente administrados midazolan 0,3 mg/kg e pancurônio 0,1 mg/kg. No fim dessa fase, todos os pacientes foram tratados com dobutamina, entre 5 e 10 μg/kg/min, com objetivo de garantir estabilidade hemodinâmica (compensando a contratilidade miocárdica comprometida pela isquemia-reperfusão e manipulações do coração durante a circulação extracorpórea).

Foram avaliadas as variáveis de caracterização, como idade, peso, gênero e diagnóstico. A pressão arterial média sistêmica (PAM), frequência cardíaca (FC), pressão média de artéria pulmonar (PMAP) e as doses de nitroprussiato de sódio, dobutamina e fentanil foram registradas nos seguintes tempos:

  • - Após a abertura do esterno e colocação do afastador, antes da clonidina (M0);

  • - Trinta minutos após a administração de clonidina (M1);

  • - Ao término da circulação extracorpórea (M2);

  • - Dez minutos após a protamina (M3).

Imediatamente após as primeiras medidas (M0), administrou-se a cada paciente, em injeção lenta intravenosa, solução codificada (clonidina 2 μg/kg ou placebo). A decodificação da solução testada se fez apenas antes da análise dos dados, conforme explicação em anexo.

O cálculo amostral foi obtido considerando a hipótese do decréscimo da pressão pulmonar em 15% com desvio-padrão de 5,5. Para obtenção de teste com nível de significância de 5% e poder de 80%, necessitamos de 14 casos a serem estudados no grupo tratamento e 14 casos no grupo placebo. Os cálculos foram feitos com o software BioEstat 3.0.

Em princípio, todas as variáveis foram analisadas descritivamente. Para as variáveis quantitativas essa análise foi feita por meio da observação dos valores mínimos e máximos, do cálculo de médias, desvios-padrão e medianas. Para as variáveis qualitativas calcularam-se frequências absolutas e relativas.

Para a comparação de médias dos dois grupos foi usado o teste t de Student. Quando a suposição de normalidade foi rejeitada, usou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney.1010. Rosner B. - Fundamentals of biostatistics. 2ª ed. Boston: PWS Publishers; 1986. p. 584.

Para testar a homogeneidade entre as proporções foi usado o teste qui-quadrado ou o teste exato de Fisher (quando ocorreram frequências esperadas menores do que 5).1010. Rosner B. - Fundamentals of biostatistics. 2ª ed. Boston: PWS Publishers; 1986. p. 584.

Para averiguar o comportamento dos grupos considerando as condições estudadas, fez-se uso da técnica análise de variância com medidas repetidas,1111. Timm NH. -Multivariate analysis with applications in educations and psychology. Monterrey: Brooks/Cole. 1975:p687. a qual consiste no ajuste de um modelo linear multivariado a partir do qual as seguintes hipóteses foram testadas:

H01: os perfis médios de resposta correspondentes aos grupos são paralelos, ou seja, não existe interação entre o fator grupo e o fator condição de avaliação (M0, M1, M2 e M3).

H02: os perfis médios de resposta são coincidentes, ou seja, não existe efeito do fator grupo.

H03: os perfis médios de resposta são paralelos ao eixo das abscissas, ou seja, não há efeito do fator condição de avaliação.

Quando a suposição da normalidade dos dados foi rejeitada, aplicaram-se os testes não paramétricos de Mann-Whitney (comparação dos dois grupos em cada momento) e de Friedman (comparação dos momentos em cada um dos grupos).1010. Rosner B. - Fundamentals of biostatistics. 2ª ed. Boston: PWS Publishers; 1986. p. 584.

O nível de significância usado para os testes foi de 5%.

Resultados

Foram avaliados 29 pacientes entre 27 e 75 anos (média de 55,10 anos com desvio-padrão de 10,54 anos e mediana de 56 anos) - 17 (58,6%) eram do sexo masculino e 12 (41,4%) do feminino. Esses pacientes foram divididos em dois grupos: placebo (n = 14) e clonidina (n = 15).

Na tabela 1 apresenta-se a comparação dos grupos em relação às variáveis de caracterização e foi observado que os grupos não apresentaram diferença significativa em relação a idade, peso, sexo e diagnóstico.

Tabela 1
Variáveis de caracterização

Na tabela 2 apresenta-se a comparação dos grupos em relação às variáveis cirúrgicas.

Tabela 2
Variáveis cirúrgicas, segundo o grupo de estudo

Na tabela 3 apresenta-se a comparação dos grupos em relação às medidas de pressão iniciais e foi observado que os grupos não apresentaram diferença significativa em relação às pressões iniciais.

Tabela 3
Pressões iniciais, segundo o grupo de estudo

Na tabela 4 apresenta-se a evolução das variáveis estudadas ao longo dos momentos. Por meio do teste t de Student foi observado que os grupos não apresentaram diferença significativa no momento M0 em relação à PAM (p = 0,779).

Tabela 4
Evolução da PAM, segundo o grupo de estudo

Por meio da análise de variância com medidas repetidas observou-se que os grupos não apresentaram diferença significativa de comportamento (p = 0,703) e não apresentaram diferença significativa em relação às médias em cada momento de avaliação (p = 0,051). Houve alteração significativa da PAM nos momentos avaliados nos dois grupos (p < 0,001). O momento M0 diferiu de maneira significativa do momento M1 (p = 0,001) e não diferiu dos momentos M2 (p = 0,085) e M3 (p = 0,168). O momento M1 diferiu significativamente dos momentos M2 (p < 0,001) e M3 (p = 0,022). O momento M2 diferiu significativamente do momento M3 (p = 0,001) (fig. 1).

Figura 1
Evolução da PAM.

Por meio do teste t de Student observou-se que os grupos não apresentaram diferença significativa no momento M0 em relação à FC (p = 0,865) (tabela 5).

Tabela 5
Evolução da frequência cardíaca, segundo o grupo de estudo

Por meio da análise de variância com medidas repetidas observou-se que os grupos não apresentaram diferença significativa de comportamento (p = 0,321) e não apresentaram diferença significativa em relação às médias em cada momento de avaliação (p = 0,979). Houve alteração significativa da FC nos momentos avaliados nos dois grupos (p = 0,036). O momento M0 não diferiu significativamente dos momentos M1 (p = 0,059), M2 (p = 0,149) e M3 (p = 0,273). O momento M1 diferiu significativamente dos momentos M2 (p = 0,015) e M3 (p = 0,035). O momento M2 não diferiu significativamente do momento M3 (p = 0,188) (fig. 2).

Figura 2
Evolução da FC.

Por meio do teste t de Student observou-se que os grupos não apresentaram diferença significativa no momento M0 em relação a PAMP (p = 0,068) (tabela 6).

Tabela 6
Evolução da PMAP, segundo o grupo de estudo

Pela análise de variância com medidas repetidas foi observado que os grupos não apresentaram diferença significativa de comportamento (p = 0,334) e não apresentaram diferença significativa em relação às médias em cada momento de avaliação (p = 0,223). Houve alteração significativa da PMAP nos momentos avaliados nos dois grupos (p < 0,001). O momento M0 diferiu significativamente dos momentos M1 (p < 0,001), M2 (p < 0,001) e M3 (p < 0,001). O momento M1 não diferiu significativamente dos momentos M2 (p = 0,807) e M3 (p = 0,106). O momento M2 diferiu significativamente do momento M3 (p < 0,001) (fig. 3).

Figura 3
Evolução da PMAP.

Nas análises a seguir apresentou-se o estudo dos fármacos usados.

Na tabela 7 é apresentada a comparação dos grupos em relação à evolução do nitroprussiato de sódio.

Tabela 7
Evolução do nitroprussiato de sódio, segundo o grupo de estudo

Por meio do teste não paramétrico de Friedman foi observado que houve alteração significativa da dosagem de nitroprussiato nos grupos clonidina (p < 0,001) e no grupo placebo (p < 0,001). Nos grupos clonidina e placebo o momento M2 diferiu significativamente dos momentos M0 (p < 0,05) e M1 (p < 0,05) e apresentou valor significativamente maior; as demais comparações não apresentaram diferença significativa.

Por meio do teste não paramétrico de Mann-Whitney observou-se que os grupos não diferiram em relação ao nitroprussiato nos momentos M0 (p = 0,901), M2 (p = 0,138) e M3 (p = 0,147). Os grupos diferiram em relação ao momento M1 (p = 0,022), quando o grupo clonidina apresentou valor significativamente menor quando comparado ao placebo.

Na tabela 8 apresenta-se a comparação dos grupos em relação à evolução da dobutamina.

Tabela 8
Evolução da dobutamina, segundo o grupo de estudo

Por meio do teste não paramétrico de Friedman foi observado que houve alteração significativa da dosagem de dobutamina nos grupos clonidina (p < 0,001) e no grupo placebo (p < 0,001). Nos grupos clonidina e placebo os momentos M0 e M1 diferiram significativamente dos momentos M2 (p < 0,05) e M3 (p < 0,05) e apresentaram valores significativamente menores. As demais comparações não apresentaram diferença significativa.

Pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney observou-se que os grupos não diferiram em relação à dobutamina nos momentos M0 (p = 0,370), M2 (p = 1,000) e M3 (p = 0,180). Os grupos diferiram em relação ao momento M1 (p = 0,045), no qual o grupo clonidina apresentou valor significativamente maior quando comparado ao placebo.

Na tabela 9 apresenta-se a comparação dos grupos em relação ao fentanil total e foi observado que os grupos não apresentaram diferença significativa em relação à dosagem de fentanil total.

Tabela 9
Dose de fentanil total, segundo o grupo de estudo

Discussão

A hipertensão pulmonar associada a doenças do coração esquerdo compartilha com as demais formas da doença os mesmos processos fisiopatológicos. Logo no início da evolução da HP, a vasoconstrição hipóxica que, a priori, é um mecanismo fisiológico e reversível, torna-se constante e de difícil reversão.1212. Schannwell CM, Steiner S, Strauer BE. - Diagnostics in pulmonary hypertension. J Physiol Pharmacol. 2007;58:591-602.

Diferentemente do que acontece em condições fisiológicas, vasodilatadores endógenos, como óxido nítrico e prostaciclina, não conseguem equilibrar os efeitos dos mediadores responsáveis por vasoconstrição, como tromboxano A2, endotelina e serotonina. O remodelamento vascular envolve os três revestimentos das artérias no leito pulmonar e consiste em hiperplasia da camada íntima, hipertrofia da camada média e proliferação da adventícia.1313. McLaughlin VV, Archer SL, Badesch DB, et al. - ACCF/AHA 2009 expert consensus document on pulmonary hypertension. A report of the American College of Cardiology Foundation task force on expert consensus documents and the American Heart Association developed in collaboration with the American College of Chest Physicians. AmericanThoracic Society, Inc., and the Pulmonary Hypertension Association. Circulation. 2009;119:2250-94.

A trombose in situ decorre da mudança no padrão de fluxo, que se torna mais lento, de alterações do endotélio1414. Diagnóstico, avaliaçcão e terapêutica da hipertensão pulmonar - Características estruturais, desenvolvimento normal e remodelamento patológico da circulacão pulmonar. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2005:1-20. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2005/039.asp.
http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2...
e do aumento da atividade plaquetária por crescimento da atividade do tromboxano A2.1313. McLaughlin VV, Archer SL, Badesch DB, et al. - ACCF/AHA 2009 expert consensus document on pulmonary hypertension. A report of the American College of Cardiology Foundation task force on expert consensus documents and the American Heart Association developed in collaboration with the American College of Chest Physicians. AmericanThoracic Society, Inc., and the Pulmonary Hypertension Association. Circulation. 2009;119:2250-94.

Os pacientes com hipertensão venosa pulmonar do grupo II apresentam, à esquerda, apresentam disfunções ventriculares, à esquerda, secundárias a valvulopatias e miocardiopatia isquêmica, à direita, por sobrecarga de pressão.22. Voelkel NF, Quaife RA, Leinwand LA, et al. - Right ventricular function and failure: report of a National Heart, Lung, and Blood Institute working group on cellular and molecular mechanisms of right heart failure. Circulation. 2006;24:1883-91. A hipotensão arterial faz parte desse quadro complexo. A resistência pulmonar constitui obstáculo à passagem do sangue e limita o enchimento do ventrículo esquerdo. Em consequência, reduzem-se o volume sistólico, o débito cardíaco e a pressão arterial.

A HP produz hipoxemia e hipercapnia, que, em um círculo vicioso, agravam a vasoconstrição pulmonar. A acidose metabólica e a estimulação nociceptiva, eventualidades comuns durante anestesia, também podem acentuar a HP.

Pelos motivos supracitados, a intervenção farmacológica faz-se, nesses doentes, obrigatória no peroperatório.

A clonidina, pela sua ação no locus ceruleus, promove sedação e, na medula espinhal, analgesia. Daí o interesse dos anestesiologistas em usá-la no perioperatório. A ação cardiovascular da clonidina é bem conhecida. Sua atividade vasodilatadora se deve a mecanismos periférico e central. Perifericamente, a ativação dos receptores α2 adrenérgicos pré-sinápticos nas terminações nervosas inibe a exocitose de noradrenalina, o que explica parcialmente o efeito hipotensor. Em nível central, age nos receptores α2 do centro vasomotor no núcleo do trato solitário, diminui o efluxo simpático, com potencialização da atividade nervosa parassimpática, e conduz à redução da pressão arterial.66. Alves TCA, Braz JRC, Vianna PTG. - α2 agonistas em anestesiologia: aspectos clínicos e farmacológicos. Rev Bras Anestesiol. 2000;50:396-404.,1515. Kubo T, Misu Y.- Pharmacological characterisation of the alpha adrenoceptors responsible for a decrease of blood pressure in the nucleus tractus solitarii of the rat. Naunyn-Schmiedeberg's Archives of Pharmacology. 1981;317:120-5.,1616. Ruffolo Jr RR. - Distribution and function of peripheral alpha-adrenoceptors in the cardiovascular system. Pharmacol Biochem Behav. 1985;22:827-33.

Não obstante a presença de receptores α2 adrenérgicos nas terminações nervosas e demais estruturas pulmonares77. Starke K, Gothert M, Kilbinger H. - Modulation of neurotransmitter release by presynaptic autoreceptors. Physiol Rev. 1989;69:864-989.

8. Barnes PJ, Liu SF. - Regulation of pulmonary vascular tone. Pharmacol Rev. 1995;47:87-131.
-99. Blaise G, Langleben D, Hubert B. - Pulmonary arterial hypertension: pathophysiology and anesthetic approach. Anesthesiology. 2003;99:1415-32. e o reconhecido efeito vasodilatador central da clonidina, não existem relatos na literatura do uso desse fármaco para atenuar a hipertensão pulmonar em pacientes adultos com diagnóstico de HP submetidos a cirurgia cardíaca.

A clonidina poderia ser uma opção viável para controle da HP, pois, além de seus benefícios já citados, é reconhecidamente segura. Seus efeitos, que por vezes possam interferir no débito cardíaco, como bradicardia ou hipotensão arterial, são facilmente revertidos com atropina ou vasopressor, como a efedrina. O custo do seu uso também deve ser levado em conta, pois se trata de medicação de baixo preço, disponível na maioria dos hospitais em todo o mundo.

A possibilidade de redução da pressão de artéria pulmonar com a clonidina talvez permitisse ainda a diminuição ou até a abolição de fármacos que são rotineiramente usados na HP e que, muito embora sejam eficazes para o controle da doença, não são desprovidos de relevantes efeitos colaterais indesejáveis.

Esse é o caso da dobutamina, usada nesta pesquisa para melhorar o desempenho cardíaco e reduzir a resistência vascular pulmonar nos pacientes com HP. A dobutamina é catecolamina sintética, derivada do isoproterenol, adotada em nosso serviço e amplamente usada no mundo todo no tratamento de pacientes com hipertensão pulmonar submetidos a cirurgia cardíaca.99. Blaise G, Langleben D, Hubert B. - Pulmonary arterial hypertension: pathophysiology and anesthetic approach. Anesthesiology. 2003;99:1415-32. Ela pode ser administrada isoladamente ou em associação com outros fármacos. A dobutamina é um agente β adrenérgico, com ação predominante em receptores β1, que aumenta a concentração de adenosina monofosfato cíclico e conduz a aumento do cronotropismo e inotropismo cardíaco e redução da resistência vascular sistêmica e pulmonar. Entre 5 e 10 μg/kg/min, a dobutamina melhora a contratilidade cardíaca.

Por causa da sua atividade em receptores β2 adrenérgicos e por aumento da liberação de adenosina endógena, ela tem efeito (com endotélio vascular normofuncionante) vasodilatador coronariano.1717. Bogaz FA, Saroute AN, Tsutsui JM, et al. - Coronary spasm induced by dobutamine-atropine stress echocardiography. Arq Bras Cardiol. 2006;87:250-3. Entretanto, doses maiores do que 10 μg/kg/min, como muitas vezes se faz necessário para obter efeito vasodilatador em artéria pulmonar e aumento da contratilidade do VD em pacientes com hipertensão pulmonar, aumentam o trabalho cardíaco e o consumo de oxigênio pelo miocárdio. Ocorre, assim, desequilíbrio entre oferta e consumo de O2, o que se acompanha de isquemia miocárdica. O seu efeito vasodilatador pode agravar ainda mais a hipotensão sistêmica encontrada em doentes com HP.33. Rubenfire M, Bayram M, Hector-Word Z. - Pulmonary hypertension in the critical care setting: classification, pathophysiology, diagnosis, and management. Crit Care Clin. 2007;23:801-34.

Outro medicamento usado rotineiramente em cirurgia cardiovascular e também nesta pesquisa é o nitroprussiato de sódio.55. Simonetti MPB, Valinetti EA, Ferreira FMC. - Clonidine: from nasal descongestive to potent analgesic. Historical and pharmacological considerations. Rev Bras Anestesiol. 1997;47:37-47.,1818. Fattouch K, Sbraga F, Bianco G, et al. - Inhaled prostacyclin, nitric oxide, and nitroprusside in pulmonary hypertension after mitral valve replacement. Journal of Cardiac Surgery. 2005;20:171-6. Esse fármaco reduz a pós-carga do ventrículo direito ao diminuir a resistência vascular pulmonar. Reconhecido como potente vasodilatador, o NTP pode, mesmo em doses recomendadas como terapêuticas, causar efeitos colaterais muito indesejáveis. Inconvenientes como roubo coronariano, aumento da pressão intracraniana, necessidade compensatória de volume, toxicidade pelos seus metabólitos, acidose metabólica e shunt intrapulmonar são particularmente encontrados em pacientes cardiopatas submetidos a cirurgia cardíaca.

O potencial efeito da clonidina ao diminuir a pressão na vasculatura pulmonar poderia resultar benéfico ao permitir redução das doses ou até abolição desses medicamentos.

Os pacientes deste estudo foram submetidos a cirurgia cardíaca para tratar suas doenças de base, causadoras da hipertensão pulmonar, como valvulopatias e insuficiência coronariana, com circulação extracorpórea e sob anestesia geral balanceada. Com relação ao método de diagnóstico para selecioná-los, optou-se pelo cateterismo de coração direito, porque é o exame considerado como “padrão-ouro” para diagnóstico de HP.1212. Schannwell CM, Steiner S, Strauer BE. - Diagnostics in pulmonary hypertension. J Physiol Pharmacol. 2007;58:591-602.

Todos os pacientes foram ventilados com uma mistura de oxigênio e ar comprimido (1:1) para evitar frações inspiradas de oxigênio mais baixas que pudessem agravar, como se sabe, a hipertensão pulmonar. A ventilação foi ajustada para manter a capnometria entre 30 e 35 mmHg, a fim de se evitar a hipercapnia, fator agravante para a hipertensão pulmonar. Foi considerado na ventilação o gradiente em torno de 5 mmHg para menos,1919. Amaral JLG, Ferreira ACP, Ferez D, et al. - Monitorizacão da respiraçcão: oximetria e capnografia. Rev Bras Anest. 1992;42:51-8. que é registrado pelo aparelho de capnometria, em decorrência do gás que não participa das trocas gasosas - espaço morto alveolar.

Procurou-se manter o mesmo regime de reposição hídrica e sanguínea nos dois grupos durante a cirurgia, até durante a CEC (mesmo volume em mililitros por quilo de peso no perfusato e o controle da hemoconcentração na vigência da perfusão). Com isso não tivemos diferença significativa no tocante aos balanços hídrico e sanguíneo ou diurese entre os dois grupos no peroperatório. Diferenças na volemia poderiam resultar em alterações significativas nas pressões arteriais sistêmica e pulmonar e anular a confiabilidade da pesquisa.

Ainda sobre o método usado, após as primeiras variáveis serem registradas (M0) e a administração lenta de clonidina ou placebo, optou-se por aguardar 30 minutos para a aferição das variáveis da medida subsequente (M1), pois esse é o tempo aproximado da latência desse fármaco. Optou-se por fazer as últimas medidas (M3) 10 minutos após a protamina. Esse medicamento por ser alcalino, pode liberar histamina quando injetado rapidamente2020. Levy JH, Faraj BA, Zaidan JR, et al. - Effects of protamineon histamine release from human lung. Agents Actions. 1989;28:70-2.,2121. Sauder RA, Hirshman CA. - Protamine-induced histamine release in human skin mast cells. Anesthesiology. 1990;73:165-7. e, associado a sua capacidade de ativar o sistema complemento quando circula pela vasculatura pulmonar (num complexo formado com a heparina),2222. Rent R, Ertel N, Eisenstein R, et al. - Complement activation by interaction of polyanions and polycations. I. Heparinprotamine induced consumption of complement. J Immunol. 1975;114:120-4. poderia agravar a HP e alterar, assim, as medidas de pressões arterial e pulmonar.

No presente estudo, exceto em M1, a administração de clonidina não se associou à redução da pressão de artéria pulmonar, nem à diminuição da necessidade de infusão de medicamentos usados para esse fim. Em M1, no grupo clonidina, administraram-se doses significantemente menores de nitroprussiato de sódio e significantemente maiores de dobutamina. Essas diferenças não se repetiram nos outros momentos e talvez possam ser explicadas pela estimulação cirúrgica menos intensa nessa fase da intervenção. Nesse momento, a equipe cirúrgica aguardava, sem manipulação nos doentes, o tempo de latência da clonidina antes de entrar em CEC.

Reduzir a pressão da artéria pulmonar em pacientes com HP, de qualquer um dos grupos de classificação da doença, é tarefa difícil. Com essa finalidade específica têm sido usados, na clínica, os antagonistas da endotelina (bosentan), os análogos da prostaciclina (iloprost) ou o sildenafil; no intraoperatório, os inibidores da fosfodiesterase como a milrinone ou o óxido nítrico inalado. Essas opções nem sempre conseguem reverter a deterioração do ventrículo direito por exacerbação da HP ou melhorar as trocas gasosas.2323. Pritts CD, Pearl RG. - Anesthesia for patients with pulmonary hypertension. Curr Opin Anaesthesiol. 2010;23:411-6.

Portanto, não haver diferença estatisticamente significante entre o grupo clonidina e o grupo placebo em relação às medidas de pressão de artéria pulmonar não surpreende, embora seja conhecida a capacidade desse fármaco de diminuir o tônus vascular. Mas causa surpresa que entre os dois grupos não tenha ocorrido diferença em relação à pressão arterial sistêmica, à frequência cardíaca e ao consumo de fentanil. Afinal, entre outros efeitos, a capacidade de esse medicamento reduzir a pressão arterial e a frequência cardíaca está bem estabelecida.

Igualmente é conhecido o potencial da clonidina de reduzir a necessidade de anestésicos em cirurgia cardíaca.2424. Flacke JW, Bloor BC, Flacke WE, et al. - Reduced narcotic requirements by clonidine with improved hemodynamic and adrenergic stability in patient undergoing coronary surgery. Anesthesiology. 1987;67:11-9. Talvez a atividade cronotrópica positiva da dobutamina tenha suprimido o efeito bradicardizante da clonidina e não permitido diferença entre os dois grupos no tocante à frequência cardíaca. Além disso, os níveis de catecolaminas elevam-se durante a circulação extracorpórea, assim permanecem mesmo após o despinçamento da aorta2525. Hirvonen J, Huttunen P, Nuutinen L, et al. - Catecholamines and free fatty acids in plasma of patients undergoing cardiac operations with hypothermia and bypass. J Clin Pathol. 1978;31:949-55.

26. Wallach R, Karp RB, Reves JG, et al. - Pathogenesis of paroxysmal hypertension developing during and after coronary bypass surgery: a study of hemodynamic and humoral factors. Am J Cardiol. 1980;46:559-65.
-2727. Souza MHL, Elias DO. - Fundamentos da circulacão extracorpórea. V. 1. Rio de Janeiro: Centro Editorial Alfa Rio. 1995:373-91. e podem sobrepor-se à ação da clonidina sobre frequência cardíaca e pressão arterial.

Dessa forma, fez-se necessário manter a posologia de opioides. A clonidina tem longa meia-vida de eliminação (cerca de 12 horas). Assim, ainda que não se tenha registrado redução da HP no intraoperatório, não se pode descartar que a ação vasodilatadora pulmonar da clonidina se expresse no pós-operatório tardio, quando se reduz a atividade adrenérgica endógena.

A dose de clonidina usada nesta pesquisa também pode ser motivo de questionamento. Por via intravenosa (IV), 2 μg/kg é a dosagem prescrita por vários autores2828. Kulka PJ, Tryba M, Zenz M. - Dose-response effects of intravenous clonidine on stress response during induction of anesthesia in coronary artery bypass graft patients. Anesth Analg. 1995;80:263-8.

29. Stocche RM, Garcia LV, Klamt JG, et al. - Comparison between sublingual nifedipine and intravenous clonidine to control perio-perative arterial hypertension in cataract procedures. Rev Bras Anestesiol. 2002;52:426-33.
-3030. Simoni RF, Cangiani LM, Pereira AM, et al. - Efficacy of intraoperative methadone and clonidine in pain control in the immediate postoperative period after the use of remifentanil. Rev Bras Anestesiol. 2009;59:421-30. e por nossa prática cotidiana. No entanto, Kulka et al., ao examinarem o efeito dose-resposta para clonidina em cirurgia cardíaca, com 2, 4 ou 6 μg/kg IV2828. Kulka PJ, Tryba M, Zenz M. - Dose-response effects of intravenous clonidine on stress response during induction of anesthesia in coronary artery bypass graft patients. Anesth Analg. 1995;80:263-8. na resposta simpático-adrenal, só encontraram eficácia no bloqueio das respostas hemodinâmicas e catecolamínicas com 4 ou 6 μg/kg.

De fato, doses mais elevadas poderiam associar-se a efeito vasodilatador mais relevante na artéria pulmonar e reduzir a necessidade de dobutamina e nitroprussiato de sódio. No entanto, altas doses poderiam, também de forma contraproducente, causar hipertensão arterial e agravar a HP por agir em receptores α2 adrenérgicos pós-sinápticos nas paredes das artérias pulmonares.3131. Ebert TJ, Hall JE, Barney JA, et al. - The effects of increasing plasma concentrations of dexmedetomidine in humans. Anesthesiology. 2000;93:382-94.

Efeitos desejáveis comprovados por vários autores,3232. Mizobe T, Maze M. - Alpha 2-adrenoceptor agonists and anesthesia. Int Anesthesiol Clin. 1995;33:81-102.

33. Delaunay L, Bonnet F, Duvaldestin P. - Clonidine decreases postoperative oxygen consumption in patients recovering from general anaesthesia. Br J Anaesth. 1991;67:397-401.
-3434. Kamibayashi T, Maze M. - Clinical uses of alpha2 -adrenergic agonists. Anesthesiology. 2000;93:1345-9. como o diurético, a redução de tremores com diminuição do consumo de oxigênio pelo miocárdio e a estabilidade hemodinâmica no perioperatório, entre outros, que não eram objetivos da nossa pesquisa, continuarão a fazer da clonidina um coadjuvante útil a ser considerado para as cirurgias do coração.

Conclusões

A análise dos dados obtidos neste estudo permite concluir que em pacientes com hipertensão pulmonar do grupo 2, submetidos a cirurgia cardíaca, a clonidina, na dose de 2 μg/kg, administrada via intravenosa após a esternotomia, não foi capaz de reduzir a pressão de artéria pulmonar nem reduzir ou abolir a necessidade de dobutamina ou nitroprussiato de sódio no intraoperatório.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2014

Histórico

  • Recebido
    21 Out 2012
  • Aceito
    20 Mar 2013
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