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Nossa experiência em anestesia durante terapia eletroconvulsiva em pacientes grávidas

A administração de anestesia, analgesia e sedação a pacientes grávidas em local remoto aumentou nos últimos anos. Os distúrbios psiquiátricos que surgem ou ressurgem durante a gravidez podem causar problemas sérios tanto para a mulher quanto para o feto. Os psicotrópicos usados no tratamento de distúrbios psiquiátricos que ocorrem durante a gravidez têm efeitos secundários sobre as mães e os fetos. As diretrizes da Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association [APA]) para práticas sugerem a eletroconvulsoterapia (ECT) como tratamento primário para depressão maior e transtorno bipolar durante a gravidez. ECT foi relatada como um tratamento de elevada eficácia e baixo risco para o controle desses distúrbios durante os três trimestres de gravidez, bem como no pós-parto.11 Rabheru K. The use of electroconvulsive therapy in special patient populations. Can J Psychiatry. 2001;46:710-9.

Estes estudos de casos relatam nossa experiência na administração de anestesia a quatro mulheres grávidas com distúrbios psiquiátricos, agendadas para tratamento com ECT durante a gravidez.

As mulheres submetidas ao tratamento com ECT foram diagnosticadas com transtorno bipolar (n = 2), psicose atípica e depressão. Todos os casos foram avaliados por um obstetra/ginecologista ou por um anestesiologista no dia anterior ao tratamento. As pacientes foram monitoradas na sala de cirurgia com o uso de eletrocardiograma (ECG), monitor de pressão arterial não invasiva e saturação periférica de oxigênio (SpO2). Todas as pacientes receberam oxigênio via máscara a 4-6 L/min. Para evitar aspiração, as pacientes receberam antagonista de receptores-H2 15-20 min antes do procedimento e continuamente durante toda a operação. Durante o processo, os batimentos cardíacos fetais foram constantemente controlados por meio de dispositivo de ultrassom ou Doppler por um assistente sênior de obstetrícia/ginecologia. Os níveis de colinesterase plasmática e outros valores sanguíneos de rotina das pacientes foram medidos antes do procedimento. Propofol e lystenon foram usados para indução e manutenção da anestesia em todos os casos por meio de ventilação com oxigênio via máscara. A média de idade das pacientes foi de 28 anos (24-31), a média de idade gestacional foi de 23 semanas (12-28) e a média do número de aplicações de ECT foi de 10 (8-13). Não houve ocorrência de complicações maternas ou fetais no período perioperatório. Todas as grávidas deram à luz a termo e a média do escore de Apgar dos recém-nascidos ficou entre 8 e 10. Complicações não foram observadas nos recém-nascidos durante o período de acompanhamento de um mês.

A escolha de um agente anestésico sem efeitos tóxicos maternais ou fetais é importante na administração de anestesia a mulheres grávidas em local remoto. Quanto ao risco teratogênico, o uso de ECT durante a gravidez é considerado relativamente seguro. Propofol e metoexital são anestésicos comumente usados em ECT. Os efeitos teratogênicos relacionados a esses medicamentos não foram especificados.22 İyilikçi L, İkiz C, Adıyaman E, et al. Remote location anaesthesia: our experience in pregnant patients (10 cases). Turk J Anaesth Reanim. 2013;41:65-7. Propofol parece estar associado a algumas vantagens na prática de ECT, incluindo aumentos menores da pressão arterial e da frequência cardíaca e recuperação pós-ictal mais rápida em algumas medidas.33 Rasmussen KG. Propofol for ECT anesthesia: a review of the literature. J ECT. 2014;30:210-5. Succinilcolina é usada com frequência para bloqueio neuromuscular durante a ECT.22 İyilikçi L, İkiz C, Adıyaman E, et al. Remote location anaesthesia: our experience in pregnant patients (10 cases). Turk J Anaesth Reanim. 2013;41:65-7. Até certo ponto, succinilcolina não é transferida através da placenta e tem pouco efeito sobre o feto. A quantidade de succinilcolina que atravessa a barreira placentária depende do gradiente de concentração entre a circulação maternal e fetal; portanto, doses elevadas repetidas ou presença de pseudocolinesterase atípica podem levar à apneia e ao relaxamento muscular no recém-nascido.44 Maternal & fetal physiology & anesthesia.Morgan GE, Mikhail SM, Murray JM, editors. Clinical anaesthesiology. 5th ed. New York: McGraw-Hill Companies; 2013. p. 825-43. Em nossos casos, propofol foi usado como agente hipnótico e succinilcolina como bloqueador neuromuscular.

Todas as pacientes chegaram ao término da gravidez sem problemas e o tratamento não causou qualquer efeito adverso sobre os bebês ou as mães.

References

  • 1
    Rabheru K. The use of electroconvulsive therapy in special patient populations. Can J Psychiatry. 2001;46:710-9.
  • 2
    İyilikçi L, İkiz C, Adıyaman E, et al. Remote location anaesthesia: our experience in pregnant patients (10 cases). Turk J Anaesth Reanim. 2013;41:65-7.
  • 3
    Rasmussen KG. Propofol for ECT anesthesia: a review of the literature. J ECT. 2014;30:210-5.
  • 4
    Maternal & fetal physiology & anesthesia.Morgan GE, Mikhail SM, Murray JM, editors. Clinical anaesthesiology. 5th ed. New York: McGraw-Hill Companies; 2013. p. 825-43.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2016
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