Acessibilidade / Reportar erro

SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes

Resumo

Os padrões evolutivos para a prevenção do tromboembolismo venoso perioperatório e a introdução de medicações antitrombóticas cada vez mais potentes resultaram em preocupações com o aumento do risco de sangramento neuroaxial. Após o consenso da Sociedade Brasileira de Anestesiologia em 2014, novos medicamentos anticoagulantes orais foram aprovados pelas instituições reguladoras internacionais, assim como pela ANVISA. As sociedades que buscam abordar o manejo perioperatório desses fármacos apresentam recomendações conflitantes. Em resposta a essas questões e à necessidade de uma abordagem mais racional, as condutas foram atualizadas nesta revisão narrativa e feitas declarações de consenso. Elas foram projetadas para encorajar a assistência ao paciente de forma segura e de qualidade, mas não podem garantir um resultado específico. Tal como acontece com qualquer recomendação de orientação clínica, estas estão sujeitas a revisão com o conhecimento de avanços específicos de complicações. O objetivo foi avaliar aspectos da segurança em anestesia e analgesia regional em pacientes em uso de medicações antitrombóticas, tais como: possíveis complicações decorrentes da técnica; fatores de risco associados ao hematoma espinhal, estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento; intervalo seguro para suspensão e reinício da medicação após o bloqueio regional.

PALAVRAS-CHAVE
Anestesia regional; Anestesia, condução; Anestesia de condução; Antitrombóticos; Tromboembolismo

Abstract

The development of protocols to prevent perioperative Venous Thromboembolism (VTE) and the introduction of increasingly potent antithrombotic drugs have resulted in concerns of increased risk of neuraxial bleeding. Since the Brazilian Society of Anesthesiology 2014 guideline, new oral anticoagulant drugs were approved by international regulating agencies, and by ANVISA. Societies and organizations that try to approach concerns through guidelines have presented conflicting perioperative management recommendations. As a response to these issues and to the need for a more rational approach, managements were updated in the present narrative review, and guideline statements made. They were projected to encourage safe and quality patient care, but cannot assure specific results. Like any clinical guide recommendation, they are subject to review as knowledge grows, on specific complications, for example. The objective was to assess safety aspects of regional analgesia and anesthesia in patients using antithrombotic drugs, such as: possible technique-associated complications; spinal hematoma-associated risk factors, prevention strategies, diagnosis and treatment; safe interval for discontinuing and reinitiating medication after regional blockade.

KEYWORDS
Regional anesthesia; Anesthesia, conduction; Conduction anesthesia; Antithrombotic; Thromboembolism

Objetivo

Avaliar aspectos da segurança em anestesia e analgesia regional em pacientes em uso de medicações antitrombóticas, tais como: possíveis complicações decorrentes da técnica; fatores de risco associados ao hematoma espinhal, estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento; intervalo seguro para suspensão e reinício da medicação após o bloqueio regional.

Os nomes comerciais aqui apresentados são apenas exemplos ilustrativos, de forma que os autores não apresentam conflitos de interesses.

Atualização da diretriz segurança na anestesia regional e uso de anticoagulantes

Padrões evolutivos para a prevenção do Tromboembolismo Venoso Perioperatório (TEV) e a introdução de medicações antitrombóticas cada vez mais potentes resultaram em preocupações com o aumento do risco de sangramento neuroaxial. Desde o último documento de consenso da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA),11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15. novos medicamentos anticoagulantes orais foram aprovados pelas instituições reguladoras internacionais, assim como pela ANVISA. Além disso, as sociedades e organizações que buscam abordar essas preocupações por meio de diretrizes no manejo perioperatório apresentam recomendações conflitantes. Em resposta a essas questões de segurança do paciente e à necessidade de uma abordagem mais racional à gestão, a SBA convocou a atualização deste consenso. As informações foram atualizadas para incorporar os dados disponíveis desde o momento da sua publicação.

As declarações de consenso revistas são projetadas para encorajar a assistência ao paciente de forma segura e de qualidade, mas não podem garantir um resultado específico. Tal como acontece com qualquer recomendação de orientação clínica, estas estão sujeitas a revisão com o conhecimento de avanços específicos de complicações.

Esta seção também aborda extensivamente o risco de sangramento em pacientes submetidos a bloqueio de plexo ou bloqueio regional periférico. Essas recomendações destinam-se ao uso por anestesiologistas e outros médicos e prestadores de serviços de saúde que realizam bloqueio anestésico/analgésico regional neuroaxial e periférico. No entanto, podem servir como um recurso para outros profissionais de saúde envolvidos no manejo de pacientes submetidos a procedimentos semelhantes (p. ex., mielografia e punção lombar).

Método

Foi realizada revisão narrativa para atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Consideraram-se os artigos publicados entre 1° de Janeiro de 2012 e 31 de Agosto de 2019, além dos já qualificados na revisão anterior.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15. Foi aplicado protocolo de revisão para a identificação, recuperação e avaliação das evidências buscadas nos bancos de dados da MEDLINE, Cochrane, Library e LILACS. A busca foi limitada para seres humanos e nas línguas portuguesa, espanhola, inglesa, francesa ou alemã.

Foram selecionados estudos que abordam condutas para a realização dos diferentes tipos de anestesia regional em indivíduos em uso de medicamentos que modificam o estado da coagulação sanguínea, enfocando fatores de risco, etiologia, prevenção, diagnóstico e tratamento. Também se incluíram relatórios publicados sobre farmacocinética e farmacodinâmica de medicações antitrombóticas, séries de pacientes que receberam esses medicamentos durante o bloqueio neuroaxial e periférico e relatos de casos de sangramento neuroaxial e perineural (associados à anestesia regional e/ou espontânea).

As estratégias de pesquisa utilizadas foram as mesmas do artigo original:

  1. “regional anesthesia” OR “anesthesia, conduction” OR “anesthesia” AND “conduction” OR “conduction anesthesia” OR “regional” AND “anesthesia” OR “regional anesthesia” AND “antithrombotic”;

  2. “regional anesthesia” OR “anesthesia, conduction” [MeSH Terms] AND “infection” [MeSH Terms] AND “thromboembolism” [MeSH Terms] OR “thromboembolism” [All Fields];

  3. “thromboembolism” [MeSH Terms] OR “thromboembolism” [All Fields] AND “regional anaesthesia” [All Fields] OR “anesthesia, conduction” [MeSH Terms] OR “anesthesia” [All Fields] AND “conduction” [All Fields]) OR “conduction anesthesia” [All Fields] OR “regional” [All Fields] AND “anesthesia” [All Fields] OR “regional anesthesia” [All Fields].

Os participantes desta força-tarefa representaram membros da SBA e especialistas em anestesia regional, dor aguda e dor intervencionista.

Força e grau de recomendações

As recomendações adotadas utilizaram o sistema de classificação com base no nível de evidência e força de recomendação conforme a descrição GRADE (Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluation).

O nível de classificação de evidências GRADE combina uma descrição objetiva dos tipos de estudos/consenso de especialistas que apoiam a recomendação. O hematoma espinal é uma complicação rara e a impossibilidade de fazer ensaios clínicos randomizados, assim como meta-análises, não permite disponibilizar nível mais alto (A) de evidência. Numerosas séries observacionais e epidemiológicas (tipicamente, nível de evidência B) documentaram as condições para desempenho seguro de anestesia no neuroeixo e analgesia no paciente anticoagulado. Entretanto, evidências de alta qualidade podem vir de grandes séries observacionais/epidemiológicas, resultando em redução de risco muito grande. Assim, dependendo da redução de risco, as recomendações dessas fontes podem ser categorizadas como nível de evidência A ou B. Frequentemente, recomendações envolvendo o manuseio anestésico de novos agentes antitrombóticos, para os quais os dados que envolvem segurança e/ou risco são esparsos, baseiam-se na farmacologia dos fármacos alteradores da hemostasia, risco de sangramento cirúrgico e opinião de especialistas (nível C de evidência).

O grau de recomendação indica a força da diretriz e o grau de consenso. O Grau 1 representa concordância geral na eficácia, o Grau 2 emite evidências conflitantes ou opinião sobre a utilidade e o Grau 3 sugere que o procedimento pode não ser útil (e é possivelmente prejudicial). Esta diretriz não contém recomendações de Grau 3. A palavra “recomendamos” é usada para recomendações fortes (notas 1 A, 1 B e 1 C), e “sugerimos” para recomendações mais fracas (notas 2 A, 2 B e 2 C). Nos casos em que a evidência é escassa (como com os novos anticoagulantes orais), os autores valorizaram muito a segurança do paciente e propuseram tempos conservadores (ou seja, mais longos) para a interrupção da terapia antes do bloqueio neural. Estes provavelmente serão revistos à medida que forem apresentadas informações adicionais sobre os níveis sanguíneos e efeito anticoagulante, bem como a introdução de agentes de reversão.

Finalmente, embora existam várias seções novas representando os medicamentos antiplaquetários e anticoagulantes recentemente introduzidos, bem como recomendações revisadas de agentes previamente incluídos, em alguns casos, o manejo permaneceu inalterado. Para facilitar a revisão, o status das recomendações atuais é anotado em cada seção.

Incidência, fatores de risco e evolução neurológica do hematoma espinhal

Hematoma Espinhal/Peridural (HEP), definido como sangramento sintomático no interior do canal vertebral, é uma complicação rara e potencialmente catastrófica da anestesia no neuroeixo.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. O HEP ocorre mais espontaneamente do que como resultado de anestesia do neuroeixo. A maioria dos hematomas espontâneos é idiopática, mas casos relacionados a terapia anticoagulante e malformações vasculares representam a segunda e terceira causas mais comuns, respectivamente.

Quando associado a anestesia no neuroeixo, o uso concomitante de anticoagulantes representa o principal fator de risco associado ao HEP.33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31. A hemorragia no canal medular ocorre mais comumente no espaço peridural, provavelmente devido ao plexo venoso peridural proeminente, embora variáveis anestésicas, como o tamanho da agulha e a colocação do cateter, também possam afetar o local do sangramento clinicamente significativo.44 Horlocker TT, Wedel DJ, Schroeder DR, et al. Preoperative antiplatelet therapy does not increase the risk of spinal hematoma associated with regional anesthesia. Anesth Analg. 1995;80:303-9.,55 Stafford-Smith M. Impaired haemostasis and regional anaesthesia. Can J Anaesth. 1996;43:R129-41.

A incidência real de disfunção neurológica resultante de complicações hemorrágicas associadas ao bloqueio neural central é desconhecida. As primeiras revisões de literatura estimaram a ocorrência de 1 caso em 150.000 punções peridurais e 1 caso em 220.000 punções subaracnóideas.66 Horlocker TT, Wedel DJ. Anticoagulation and neuraxial block: historical perspective, anesthetic implications, and risk management. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:129-34. Entretanto, as séries envolvidas nesses cálculos envolveram pacientes que não estavam recebendo tromboprofilaxia. Outras séries de casos e levantamentos epidemiológicos realizados sugerem risco maior.77 Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological complications after central neuraxial blockades in Sweden 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950-9.,88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.

Além disso, como não existe um sistema obrigatório de notificação e/ou registro centralizado, é provável que muitos HEP não sejam relatados e a frequência seja maior do que a calculada. Apesar de a incidência do HEP ser pequena, a gravidade clínica de suas consequências, juntamente com os custos de litígio subsequente ao evento adverso, torna crucial o desenvolvimento de estratégias sólidas para o manejo de pacientes anticoagulados durante anestesia no neuroeixo.99 Green L, Machin SJ. Managing anticoagulated patients during neuraxial anaesthesia. Br J Haematol. 2010;149:195-208.

Com a introdução, na América do Norte, de 30 mg de enoxaparina administradas duas vezes ao dia para tromboprofilaxia, um número alarmante de casos de hematoma peridural, alguns com paraplegia permanente, foram reportados. A incidência de HEP calculada em duas doses diárias de enoxaparina foi de 1:40.800 após anestesia subaracnóidea, 1:6.600 após punção peridural simples e 1:3.100 após punção peridural com inserção de cateter peridural.1010 Tryba M. Epidural regional anesthesia and low molecular heparin: Pro. Anasthesiol Intensivmed Notfallmed Schmerzther. 1993;28:179-81. Na Europa, o uso de dose única de 40 mg de enoxaprina, mostrou incidência menor de HEP. Em estudo retrospectivo realizado na Suécia,77 Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological complications after central neuraxial blockades in Sweden 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950-9. foi encontrado risco de 1:156.000 após anestesia subaracnóidea e 1:18.000 em anestesia peridural, sendo raro o sangramento na população obstétrica (1:200.000) se comparado a mulheres submetidas a artroplastia de joelho (1:3.600). Estudos subsequentes mostraram incidências tão altas quanto 1:2.700 a 1:19.505.1111 Cameron CM, Scott DA, McDonald WM, et al. A review of neuraxial epidural morbidity: experience of more than 8,000 cases at a single teaching hospital. Anesthesiology. 2007;106:997-1002. Entretanto, Cook e col. Apresentaram, no Third National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists, resultados atualizados nos quais apenas oito casos de HEP foram observados em 707.405 bloqueios do neuroeixo, sendo que destes, somente cinco preenchiam os critérios de inclusão, com incidência calculada de 1:88.000 a 1:140.000.1212 Cook TM, Counsell D, Wildsmith JA. Major complications of central neuraxial block: report on the Third National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists. Br J Anaesth. 2009;102:179-90.

Em virtude da raridade do evento, as recomendações de anestesia regional e uso concomitante de tromboprofilaxia ou terapia antitrombótica têm como base relatos de casos e recomendações de especialistas.1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.

14 Horlocker Tt, Wedel Dj, Rowlingson Jc, et al. Regional anesthesia in the patient receiving antithrombotic or thrombolytic therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Third Edition). Reg Anesth Pain Med. 2010;35:64-101.
-1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62. Devido à gravidade da ocorrência de HEP, estudos prospectivos randomizados são eticamente proibitivos. Vandermeulen e cols. mostraram uma estreita relação de casos de hematomas espinhais associados ao bloqueio subaracnóideo ou peridural em pacientes com evidência de anormalidade hemostática, como coagulopatia ou trombocitopenia, ou tratados com medicamentos antiagregantes plaquetários (aspirina, indometacina, ticlopidina), anticoagulantes orais (fondaparinux) ou trombolíticos (uroquinase).88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.

Os fatores de risco para o HEP foram descritos por vários autores11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,77 Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological complications after central neuraxial blockades in Sweden 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950-9.,88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.,1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.,1414 Horlocker Tt, Wedel Dj, Rowlingson Jc, et al. Regional anesthesia in the patient receiving antithrombotic or thrombolytic therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Third Edition). Reg Anesth Pain Med. 2010;35:64-101. e são apresentados na tabela 1. O uso de anticoagulantes e anestesia no neuroeixo é o fator de maior risco para o desenvolvimento de HEP.33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31. A incidência do HEP varia de acordo com tipo de cirurgia, idade e gênero dos pacientes. Por exemplo, a incidência em pacientes gestantes submetidas à anestesia de neuroeixo é estimada em 1:200.000, enquanto em artroplastia de joelho de mulheres na faixa geriátrica, é estimada em 1:3.600.77 Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological complications after central neuraxial blockades in Sweden 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950-9. Provavelmente, pode ser justificado pela maior incidência, nesta idade, de anormalidades espinhais associadas a osteoporose, uso de terapia dupla antiplaquetária/anticoagulante e acúmulo de anticoagulante devido à redução não detectada da excreção renal.

Entre os tipos de bloqueio de neuroeixo, o risco de HEP é maior com o uso de cateteres peridurais, seguido de punção peridural simples e menos frequentemente após punção subaracnóidea única, esta última provavelmente devido ao uso de agulhas mais finas para a realização da técnica.1616 Lawton MT, Porter RW, Heiserman JE, et al. Surgical management of spinal epidural hematoma: relationship between surgical timing and neurological outcome. J Neurosurg. 1995;83:1-7.

17 Tryba M, Wedel DJ. Central neuraxial block and low molecular weight heparin (enoxaparine): lessons learned from different dosage regimes in two continents. Acta Anaesthesiol Scand Suppl. 1997;111:100-4.
-1818 Wulf H. Epidural anaesthesia and spinal haematoma. Can J Anaesth. 1996;43:1260-71. Há indícios de que o hematoma peridural seja mais comum na punção lombar, quando comparada a punção torácica.1919 Popping DM, Zahn PK, Van Aken HK, et al. Effectiveness and safety of postoperative pain management: a survey of 18 925 consecutive patients between 1998 and 2006 (2nd revision): a database analysis of prospectively raised data. Br J Anaesth. 2008;101:832-40. A remoção do cateter peridural é tão crítica quanto sua inserção, de forma que a lesão vascular pode ocorrer na mesma incidência, ou seja, metade dos casos de HEP ocorre durante a remoção do cateter peridural.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.

Atualmente, considera-se impossível determinar, de forma conclusiva, os fatores de risco para o desenvolvimento de HEP em pacientes submetidos a bloqueio do neuroeixo exclusivamente por meio de revisão da série de casos, que representam pacientes com complicações e não considera os submetidos à analgesia pelo neuroeixo que não tiveram intercorrências. No entanto, pesquisas que avaliam as frequências de complicações (incluindo HEP), bem como as que identificaram subgrupos de pacientes com maior ou menor risco, aumentam a estratificação de risco.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

A manifestação clínica do HEP é caracterizada por regressão lenta ou ausente do bloqueio motor ou sensitivo, dor nas costas, retenção urinária ou o retorno de déficit motor ou sensitivo após regressão completa prévia do bloqueio, separados ou em combinação, sugerindo o desenvolvimento do HEP.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.

Caso haja suspeita de HEP, uma estratégia agressiva diagnóstica e terapêutica é mandatória. Isso inclui Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de emergência ou, na ausência desta, Tomografia Computadorizada (TC). O HEP é uma emergência neurocirúrgica, e protocolos devem estar estabelecidos para evitar qualquer atraso no diagnóstico. Confirmado o diagnóstico, laminectomia de descompressão deve ser realizada em até 6-12 horas após o aparecimento dos primeiros sintomas, possibilitando melhores chances da recuperação neurológica completa.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.,2020 Meikle J, Bird S, Nightingale JJ, et al. Detection and management of epidural haematomas related to anaesthesia in the UK: a national survey of current practice. Br J Anaesth. 2008;101:400-4.

Dessa forma, os pacientes devem ser cuidadosamente avaliados investigando possíveis sinais que indiquem HEP tanto após bloqueio do neuroeixo como da remoção de cateter peridural. Recomenda-se a monitorização em intervalos regulares até o bloqueio sensitivo regredir ao menos dois dermátomos ou até o retorno completo da função motora, observada por ao menos 24 horas após retirada do cateter peridural.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.,1616 Lawton MT, Porter RW, Heiserman JE, et al. Surgical management of spinal epidural hematoma: relationship between surgical timing and neurological outcome. J Neurosurg. 1995;83:1-7.,2020 Meikle J, Bird S, Nightingale JJ, et al. Detection and management of epidural haematomas related to anaesthesia in the UK: a national survey of current practice. Br J Anaesth. 2008;101:400-4.

Diretrizes têm sido publicadas pelas sociedades de anestesia com o objetivo de aumentar a segurança na realização do bloqueio do neuroeixo em pacientes anticoagulados.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.,2121 Breivik H, Bang U, Jalonen J, et al. Nordic guidelines for neuraxial blocks in disturbed haemostasis from the Scandinavian Society of Anaesthesiology and Intensive Care Medicine. Acta Anaesthesiol Scand. 2010;54:16-41.

22 D’alton ME, Friedman AM, Smiley RM, et al. National partnership for maternal safety: consensus bundle on venous thromboembolism. Obstet Gynecol. 2016;45:706-17.

23 Leffert L, Butwick A, Carvalho B, et al. The society for obstetric anesthesia and perinatology consensus statement on the anesthetic management of pregnant and postpartum women receiving thromboprophylaxis or higher dose anticoagulants. Anesth Analg. 2018;126:928-44.
-2424 Waurick K, Riess H, Van Aken H, et al. S1-Leitlinie Rückenmarksnahe regionalanästhesien und thrombembolieprophylaxe/antithrombotische medikation. Anästh Intensivmed. 2014;55:464-92. Essas recomendações incluem: (I) tempo de intervalo a ser respeitado entre a última dose do anticoagulante e a inserção neuroaxial de agulha/cateter ou a remoção do cateter; (II) intervalo a ser respeitado entre inserção neuroaxial da agulha/cateter ou a remoção do cateter e a próxima dose do anticoagulante; e (III) valores mínimos de tempo de coagulação necessários para a realização da técnica neuroaxial (se disponível para a droga em uso).

Em virtude do desenvolvimento constante de medicações anticoagulantes pela indústria farmacêutica e sua crescente utilização na prática clínica, faltam experimentos clínicos conducentes, o que torna difícil fazer qualquer afirmação quanto ao uso da anestesia no neuroeixo em pacientes usando novos anticoagulantes.

Rosencher e col. propuseram que, no manejo dos pacientes em uso dos novos anticoagulantes, quando houver necessidade da inserção da agulha/cateter no neuroeixo e a retirada subsequente do cateter, elas devem ser feitas com tempo superior a duas meias-vidas de eliminação da droga após a última dose utilizada. Esse dado tem como base o fato de 30% a 40% da função dos fatores de coagulação serem necessários para a hemostasia, de forma que após duas meias-vidas a concentração do fármaco na corrente sanguínea esteja próxima de 25% da inicial.2525 Rosencher N, Bonnet MP, Sessler DI. Selected new antithrombotic agents and neuraxial anaesthesia for major orthopaedic surgery: management strategies. Anaesthesia. 2007;62:1154-60. Essa conduta foi posteriormente modificada ao se observar que o intervalo de duas meias-vidas da descontinuação assegura que cerca de 75% da medicação seja eliminada, porém, o efeito residual da droga ainda poderia ser catastrófico em algumas situações, especialmente pacientes idosos com estenose do canal espinhal. A partir deste estudo, recomenda-se que o intervalo seja de cinco meias-vidas.2626 Singelyn FJ, Verheyen CC, Piovella F, et al. The safety and efficacy of extended thromboprophylaxis with fondaparinux after major orthopedic surgery of the lower limb with or without a neuraxial or deep peripheral nerve catheter: the EXPERT Study. Anesth Analg. 2007;105:1540-7.

Anestesia no neuroeixo e o uso de agentes antiplaquetários

O processo fisiológico da coagulação é complexo e compartilhado com diversos componentes teciduais e plasmáticos. É fundamental conhecer o sistema de formação do coágulo de fibrina no sítio de lesão endotelial e os mecanismos envolvidos nesse processo para entender o mecanismo de ação dos agentes antiplaquetários.

Os componentes do sistema hemostático incluem as plaquetas, os vasos, as proteínas da coagulação do sangue, os anticoagulantes naturais e o sistema de fibrinólise. O equilíbrio funcional da hemostasia é garantido por uma variedade de mecanismos, que envolvem interações entre proteínas, respostas celulares complexas e regulação de fluxo sanguíneo.

O entendimento da hemostasia permite um melhor entendimento da ação dos anticoagulantes utilizados. A hemostasia consiste na inter-relação de processos bioquímicos, físicos e celulares quando o endotélio vascular é lesionado, com exposição da matriz subendotelial subjacente rica em colágeno. As plaquetas se aderem ao colágeno via Glicoproteínas (GP) Ia/IIa e GP-VI presentes em sua membrana. A adesão também é feita em situações de alto fluxo, como no leito arterial, via fator de Von Willebrand (FvW), que se adere à plaqueta via GP-Ib e a fixa ao colágeno. A adesão da plaqueta por meio dessas glicoproteínas de membrana leva a uma sinalização intracelular via fosfolipase C, com subsequente aumento do cálcio intracelular e início da ativação plaquetária.2727 Carabini LM, Ramsey GE. Hemostasis and transfusion medicine. In: In: Clinical Anesthesia. eighth edition Wolters Kluwer Health; 2017. p. 1088-91.

Uma vez ativada, a plaqueta libera grânulos densos (ADP, serotonina e cálcio) e grânulos alfa (fibrinogênio, fator V). O aumento do cálcio intracelular também ativa a enzima fosfolipase A-2 (PLA-2), que degrada os fosfolipídios de membrana em Ácido Araquidônico (AA); este é transformado em Tromboxano-A2 (TxA2) pela enzima Ciclooxigenase tipo-1 (COX-1). O TxA2 formado, o ADP e a serotonina liberados dos grânulos densos, a adrenalina e vasopressina circulantes e a trombina gerada ativam, via receptores ligados à proteína G, quantidades maiores de plaquetas. A plaqueta ativada, além de mudar sua conformação de esferoide para discoide, altera a conformação glicoproteínas IIb/IIIa e aumenta o número dessas GP na membrana plaquetária. A GP IIb/IIIa intermedeia a ligação a outras plaquetas por meio de moléculas de fibrinogênio e FvW em um processo chamado de agregação plaquetária. O processo de sinalização celular pode ser interrompido pelo aumento de AMPc intracelular gerado pela Prostaciclina (PGI-2) ou pela Inibição da Enzima Fosfodiesterase (PDE), que degrada o AMPc2727 Carabini LM, Ramsey GE. Hemostasis and transfusion medicine. In: In: Clinical Anesthesia. eighth edition Wolters Kluwer Health; 2017. p. 1088-91. (fig. 1).

Figura 1
Mecanismos envolvidos na ativação e na adesão plaquetária à camada subendotelial. Fator de Von Willebrand (FvW), colágeno e proteínas se ligam aos receptores de glicoproteínas (GP) de membrana, que garante estabilidade com a matriz subendotelial pela interação com o colágeno. A ativação e agregação plaquetária são desencadeadas por trombina, mediadores endógenos liberados de grânulos de armazenamento, fator de ativação de plaquetas (PAF) e tromboxano A2 (TxA2). Aar, Receptor α2 Adrenérgico; ADP, Difosfato de Adenosina; 5-HT2A, Serotonina (5-Hidroxitriptamina)-2A; PAR-1, Receptor Ativado por Protease do tipo 1; PAR-4, Receptor Ativado por Protease do tipo 4; P2Y12, Receptor p2y Purinérgicos; TPα, Receptor α Tromboxano.Fonte: Adaptado de Anfossi e cols. Nascimento JCR, Reis NMGT. Coagulação do sangue e coagulopatias. Em: James Manica. Anestesiologia, 4 ª ed. Porto Alegre (RGS): Artmed Editora, 2018;547.

Os fármacos antiplaquetários, assim, são representados por Anti-Inflamatórios Não-Esteroides (AINEs), tienopiridínicos ou inibidores indiretos da ADP (P2Y12) (ticlodipina, clopidogrel, prasugrel), inibidores diretos ADP (P2Y12) (ticagrelor, cangrelor), inibidores da fosfodiesterase (PDE) (dipiridamol, cilostazol) e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa (abciximab, eptifibatide e tirofiban).

Anestesia do neuroeixo e o uso de agentes antiplaquetários

Ácido acetilsalicílico (AAS) e AINEs

Os AINEs inibem a produção de prostaglandina H2 necessária para a síntese do tromboxano A2 (TXA2), um potente ativador plaquetário, por meio da inibição da enzima Ciclo-Oxigenase (COX). Essa enzima existe em duas formas, sendo que a Ciclo-Oxigenase tipo 1 (COX-1) é responsável pela regulação de mecanismos constitutivos, enquanto a Ciclo-Oxigenase tipo 2 (COX-2) é induzível e faz parte do processo inflamatório.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. Existem várias classes de AINES, como os salicilatos (ácido acetilsalicílico), os derivados do ácido acético (diclofenaco, cetorolaco), os derivados do ácido enólico (piroxicam, tenoxicam), ácido propiônico (cetoprofeno, ibuprofeno) e os inibidores seletivos da COX-2 (parecoxibe, celecoxibe).

O AAS inibe de forma irreversível a COX-1, bloqueando a produção de TXA2 por toda a vida média da plaqueta (7 a 10 dias); dessa forma, inibe todo o processo de ativação e agregação plaquetária.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62. Os outros AINEs também inibem a COX-1, mas de forma reversível e proporcional à meia-vida do agente usado.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15. Na maioria dos AINEs, esse processo se normaliza entre 12 a 24 horas após sua suspensão.2828 Cronberg S, Wallmark E, Soderberg I. Effect on platelet aggregation of oral administration of 10 non-steroidal analgesics to humans. Scand J Haematol. 1984;33:155-9. Já os inibidores seletivos da COX-2 são drogas anti-inflamatórias que não causam disfunção plaquetária, uma vez que a COX-2 não é expressa nas plaquetas.2929 Leese PT, Hubbard RC, Karim A, et al. Effects of celecoxib, a novel cyclooxygenase-2 inhibitor, on platelet function in healthy adults: a randomized, controlled trial. J Clin Pharmacol. 2000;40:124-32.

Um estudo de Vandemeulen et al. identificou somente um caso de HEP associado ao uso isolado de AAS como fator de risco.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77. Entretanto, nesse caso, além da alta dose de AAS (650 mg 12/12 horas iniciado 4 horas após a cirurgia), houve múltiplas tentativas da técnica peridural, com perfuração acidental da dura-máter e colocação de cateter subaracnóideo.3030 Greensite FS, Katz J. Spinal subdural hematoma associated with attempted epidural anesthesia and subsequent continuous spinal anesthesia. Anesth Analg. 1980;59:72-3. Contrariamente a esse relato isolado, em estudo prospectivo multicêntrico com 4603 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico para fratura de quadril recebendo 160 mg.dia-1 de AAS ou placebo não foi observado nenhum caso de HEP após anestesia no neuroeixo.3131 Prevention of pulmonary embolism and deep vein thrombosis with low dose aspirin: Pulmonary Embolism Prevention (PEP) trial. Lancet. 2000;355:1295-302.

Dois grandes estudos prospectivos realizados na população obstétrica mostraram segurança da anestesia no neuroeixo com uso de baixas doses de AAS. Um estudo avaliou o efeito do AAS na prevenção da pré-eclâmpsia, no qual 9634 gestantes foram randomizadas para receber 60 mg de AAS ou placebo. Das 1422 pacientes do grupo do AAS e que receberam anestesia peridural, não houve relato de HEP.3232 CLASP: a randomised trial of low-dose aspirin for the prevention and treatment of pre-eclampsia among 9364 pregnant women. CLASP (Collaborative Low-dose Aspirin Study in Pregnancy) Collaborative Group. Lancet. 1994;343:619-29. No outro estudo, foram avaliadas 3531 gestantes; 451 pacientes receberam AAS e foram submetidas a anestesia peridural, e também não houve caso de HEP.3333 Sibai BM, Caritis SN, Thom E, Shaw K, McNellis D. Low-dose aspirin in nulliparous women: safety of continuous epidural block and correlation between bleeding time and maternal-neonatal bleeding complications. National Institute of Child Health and Human Developmental Maternal-Fetal Medicine Network. Am J Obstet Gynecol. 1995;172:1553-7. Os resultados corroboram com as evidências de que o uso do AAS na população obstétrica e ortopédica é seguro.3131 Prevention of pulmonary embolism and deep vein thrombosis with low dose aspirin: Pulmonary Embolism Prevention (PEP) trial. Lancet. 2000;355:1295-302.

32 CLASP: a randomised trial of low-dose aspirin for the prevention and treatment of pre-eclampsia among 9364 pregnant women. CLASP (Collaborative Low-dose Aspirin Study in Pregnancy) Collaborative Group. Lancet. 1994;343:619-29.
-3333 Sibai BM, Caritis SN, Thom E, Shaw K, McNellis D. Low-dose aspirin in nulliparous women: safety of continuous epidural block and correlation between bleeding time and maternal-neonatal bleeding complications. National Institute of Child Health and Human Developmental Maternal-Fetal Medicine Network. Am J Obstet Gynecol. 1995;172:1553-7.

Em relação ao uso dos outros AINEs, dos 1035 pacientes submetidos à injeção peridural de corticosteroides para tratamento de dor crônica, 249 receberam injeção peridural na vigência de tratamento com esses fármacos e não foi observado HEP,3434 Horlocker TT, Bajwa ZH, Ashraf Z, et al. Risk assessment of hemorrhagic complications associated with nonsteroidal antiinflammatory medications in ambulatory pain clinic patients undergoing epidural steroid injection. Anesth Analg. 2002;95:1691-7. sugerindo segurança da anestesia no neuroeixo em pacientes recebendo AINEs.

Dessa forma, o uso isolado do AAS e outros AINEs não aumenta de forma significativa o risco de HEP. Entretanto, a combinação desses fármacos com outros que interferem na coagulação normal, como heparina não fracionada, heparina de baixo peso molecular, anticoagulantes orais e outros antiplaquetários, demonstram aumento do risco de HEP.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.,3535 Benzon HT, Wong HY, Siddiqui T, et al. Caution in performing epidural injections in patients on several antiplatelet drugs. Anesthesiology. 1999;91:1558-9.,3636 Horlocker TT, Wedel DJ. Neuraxial block and low-molecular-weight heparin: balancing perioperative analgesia and thromboprophylaxis. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:164-77.

Recomendações

  1. O uso isolado do AAS parece não representar risco adicional para o desenvolvimento de HEP em pacientes submetidos a anestesia peridural ou subaracnóidea. Nos pacientes em uso desse fármaco, não há preocupação específica quanto ao intervalo entre punção espinhal/peridural ou inserção de cateter e a última dose administrada do fármaco. Da mesma forma, não há necessidade de aguardar intervalo de suspensão do fármaco para a retirada do cateter ou para a administração pós-operatória do fármaco após retirada do cateter (1 B).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,3131 Prevention of pulmonary embolism and deep vein thrombosis with low dose aspirin: Pulmonary Embolism Prevention (PEP) trial. Lancet. 2000;355:1295-302.

    32 CLASP: a randomised trial of low-dose aspirin for the prevention and treatment of pre-eclampsia among 9364 pregnant women. CLASP (Collaborative Low-dose Aspirin Study in Pregnancy) Collaborative Group. Lancet. 1994;343:619-29.
    -3333 Sibai BM, Caritis SN, Thom E, Shaw K, McNellis D. Low-dose aspirin in nulliparous women: safety of continuous epidural block and correlation between bleeding time and maternal-neonatal bleeding complications. National Institute of Child Health and Human Developmental Maternal-Fetal Medicine Network. Am J Obstet Gynecol. 1995;172:1553-7.

  2. No uso isolado dos outros AINEs, parece não haver risco adicional de HEP em pacientes submetidos à anestesia subaracnóidea ou peridural.1111 Cameron CM, Scott DA, McDonald WM, et al. A review of neuraxial epidural morbidity: experience of more than 8,000 cases at a single teaching hospital. Anesthesiology. 2007;106:997-1002. Nos pacientes em uso desses fármacos não há preocupação específica quanto ao intervalo entre punção espinhal/peridural ou inserção de cateter e a última dose administrada do fármaco. Da mesma forma, não há necessidade de aguardar intervalo de suspensão do fármaco para a retirada do cateter ou para a administração pós-operatória do fármaco após a retirada do cateter (1 B).3434 Horlocker TT, Bajwa ZH, Ashraf Z, et al. Risk assessment of hemorrhagic complications associated with nonsteroidal antiinflammatory medications in ambulatory pain clinic patients undergoing epidural steroid injection. Anesth Analg. 2002;95:1691-7.

  3. Em pacientes que recebem AAS ou outros AINES, sugerimos cautela na realização de técnicas de bloqueio no neuroeixo, caso haja uso simultâneo de outros medicamentos que afetam os mecanismos de coagulação - como anticoagulantes orais, HNF e HBPM - devido ao aumento do risco de complicações hemorrágicas (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Devido à ausência de efeito na função plaquetária com inibidores seletivos da COX-2 e risco menor de sangramento perioperatório, esses medicamentos não precisam ser interrompidos (1 B).2929 Leese PT, Hubbard RC, Karim A, et al. Effects of celecoxib, a novel cyclooxygenase-2 inhibitor, on platelet function in healthy adults: a randomized, controlled trial. J Clin Pharmacol. 2000;40:124-32.,3737 Hegi TR, Bombeli T, Seifert B, et al. Effect of rofecoxib on platelet aggregation and blood loss in gynaecological and breast surgery compared with diclofenac. Br J Anaesth. 2004;92:523-31. Além disso, por terem mínimo efeito na função plaquetária, os inibidores de COX-2 devem ser preferidos em pacientes que necessitam de terapia anti-inflamatória na presença de anticoagulação (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  5. O uso de analgésicos, como dipirona e paracetamol, parece não contraindicar a anestesia no neuroeixo, pois não há, até o momento, casos de HEP relacionado ao uso dessas medicações (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.

Tienopiridínicos

Ticlopidina (Ticlid®), Clopidogrel (Plavix®) e Prasugrel (Efient®) são inibidores plaquetários pertencentes à classe dos tienopiridínicos. São pró-drogas clivadas in vivo no fígado pelo CYP450 em metabólitos ativos que antagonizam o receptor plaquetário de adenosina dinucleotídeo fosfato (ADP - receptor P2Y12) e interferem na ativação e na agregação plaquetárias; esse efeito não pode ser antagonizado e é irreversível.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

A ticlopidina tem sido cada vez menos usada devido ao seu efeito antiplaquetário lento e duradouro (a função plaquetária se normaliza após 10-14 dias de suspensão). Além disso, pode gerar hipercolesterolemia, trombocitopenia, anemia aplásica e púrpura trombocitopênica trombótica.1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

O Clopidogrel também é uma pró-droga que passa por biotransformação hepática em duas etapas e é a mais comumente utilizada.3838 Capodanno D, Ferreiro JL, Angiolillo DJ. Antiplatelet therapy: new pharmacological agents and changing paradigms. J Thromb Haemost. 2013;11:316-29. Entretanto, tem algumas limitações, que incluem falha de resposta em 4%-30% dos usuários, susceptibilidade a interações com vários fármacos, uma vez que sua ação depende da conversão hepática pelo CYP 3A4 (isoforma que participa de 40%-80% da metabolização de todos os fármacos no organismo), e alterações enzimáticas por polimorfismos genéticos. Seu pico de ação é lento, em torno de 24 horas, entretanto, após uma dose de ataque de 300-600 mg, esse pico de ação cai para 4-6 horas. O efeito máximo de inibição plaquetária atingido pelo Clopidogrel é de 50%-60%, que desaparece após 7 dias de suspensão.1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

O Prasugrel causa inibição irreversível do receptor P2Y12. Entretanto, diferentemente do Clopidogrel, requer somente uma etapa para ser bitransformado em seu composto ativo.3838 Capodanno D, Ferreiro JL, Angiolillo DJ. Antiplatelet therapy: new pharmacological agents and changing paradigms. J Thromb Haemost. 2013;11:316-29. Apresenta efeito de 90% de inibição da função plaquetária, comparado com 60% do Clopidogrel, e rápido início de ação (pico de efeito em 30 minutos). A função plaquetária retorna ao normal após 7 a 10 dias.1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62. Apresenta maior risco de sangramento e ocasionalmente é fatal.

Um estudo avaliou 306 pacientes em uso de clopidogrel submetidos a procedimentos de cirurgia vascular, nos quais foi realizada a anestesia peridural com cateter mantida por 3 dias, não ocorrendo qualquer caso de HEP.3939 Osta WA, Akbary H, Fuleihan SF. Epidural analgesia in vascular surgery patients actively taking clopidogrel. Br J Anaesth. 2010;104:429-32. Entretanto, três casos na literatura descrevem HEP após técnicas neuroaxiais em pacientes usando ticlopidina ou clopidogrel.3535 Benzon HT, Wong HY, Siddiqui T, et al. Caution in performing epidural injections in patients on several antiplatelet drugs. Anesthesiology. 1999;91:1558-9.,4040 Kawaguchi S, Tokutomi S. A case of epidural hematoma associated with epidural catheterization which occurred on 12th days after the last medication of ticlopidine hydrochloride. Masui. 2002;51:526-8.,4141 Mayumi T, Dohi S. Spinal subarachnoid hematoma after lumbar puncture in a patient receiving antiplatelet therapy. Anesth Analg. 1983;62:777-9. Não há casos com o prasugrel. Faltam estudos prospectivos que avaliem a segurança da realização de bloqueios do neuroeixo na presença de tratamento com fármacos tienopiridínicos.

A recomendação da indústria produtora de tienopiridínicos é pela interrupção do uso da ticlopidina 10 dias antes do procedimento cirúrgico, 5 dias para o clopidogrel e 7 dias para o prasugrel. Estudos com testes de função plaquetária mostraram segurança para realizar bloqueios no neuroeixo após 5 dias de interrupção do uso de clopidogrel, uma vez que acima de 70% de função plaquetária estará restabelecida.4242 Benzon HT, McCarthy RJ, Benzon HTA, et al. Determination of residual antiplatelet activity of clopidogrel before neuraxial injections. Br J Anaesth. 2011;107:966-71. Já com o prasugrel, estudos mostram que a função plaquetária se normaliza somente após 7 dias de suspensão do fármaco.4343 Asai F, Jakubowski JA, Naganuma H, et al. Platelet inhibitory activity and pharmacokinetics of prasugrel (CS-747) a novel thienopyridine P2Y12 inhibitor: a single ascending dose study in healthy humans. Platelets. 2006;17:209-17.

Recomendações

  1. Deve-se fazer o bloqueio do neuroeixo ou a retirada do cateter após 10 dias de suspensão da ticlopidina (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. O bloqueio do neuroeixo ou a retirada de cateter peridural em pacientes em uso de clopidogrel poderá ser feito após 5 a 7 dias de suspensão da medicação (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,4242 Benzon HT, McCarthy RJ, Benzon HTA, et al. Determination of residual antiplatelet activity of clopidogrel before neuraxial injections. Br J Anaesth. 2011;107:966-71. Apesar de estudo mostrando segurança para procedimentos no neuroeixo em uso desse fármaco,3939 Osta WA, Akbary H, Fuleihan SF. Epidural analgesia in vascular surgery patients actively taking clopidogrel. Br J Anaesth. 2010;104:429-32. não recomendamos esta prática.

  3. Não há estudo disponível que avalie a combinação do prasugrel com a anestesia do neuroeixo. Entretanto, parece razoável, por estudos farmacológicos, que o tratamento com prasugrel seja interrompido pelo menos 7 dias4343 Asai F, Jakubowski JA, Naganuma H, et al. Platelet inhibitory activity and pharmacokinetics of prasugrel (CS-747) a novel thienopyridine P2Y12 inhibitor: a single ascending dose study in healthy humans. Platelets. 2006;17:209-17. antes do bloqueio do neuroeixo ou da retirada de cateter peridural (1 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  4. Segundo recomendações do American College of Chest Physicians, a terapia farmacológica com os tienopiridínicos deve ser reiniciada após 24 horas de período pós-operatório (2 C).4444 Douketis JD, Spyropoulos AC, Spencer FA, et al. Perioperative management of antithrombotic therapy: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e326S-e50S.

Inibidores diretos do receptor de ADP

Os inibidores diretos do receptor de ADP são fármacos não-tienopiridínicos que antagonizam de forma não competitiva e reversível o receptor P2Y12, não necessitando de biotransformação hepática. O ticagrelor é a mais importante e vem se tornando a droga de escolha dessa classe de medicações devido ao seu maior perfil de segurança. O cangrelor é um fármaco aprovado recentemente pelas agências reguladoras, destinado ao uso intravenoso e com início e término rápidos de ação.

O ticagrelor é antagonista não competitivo direto e reversível do receptor P2Y12, não necessitando metabolização hepática para sua ativação. Apresenta início de ação rápido, com pico de inibição plaquetária após 2 a 4 horas de sua administração. Apresenta efeito de 90% de inibição da atividade plaquetária.4545 Oprea AD, Popescu WM. Perioperative management of antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2013;111:13-7. Após sua suspensão, a função plaquetária recupera-se em 5 dias.4646 Gurbel PA, Bliden KP, Butler K, et al. Randomized double-blind assessment of the ONSET and OFFSET of the antiplatelet effects of ticagrelor versus clopidogrel in patients with stable coronary artery disease: the ONSET/OFFSET study. Circulation. 2009;120:2577-85. Ao contrário das pró-drogas, seu efeito não depende de polimorfismos genéticos enzimáticos, o que o torna menos propenso a variabilidade individual e com melhor perfil de segurança comparado aos tienopiridínicos. Essas duas considerações, incluindo sua eficácia, tem tornado essa medicação a preferida entre os antagonistas dos receptores de ADP em pacientes com síndrome coronariana aguda.

O cangrelor é o primeiro inibidor direto intravenoso do receptor de ADP (P2Y12), além de ser não competitivo e reversível. É administrado em dose inicial em bolus seguido por infusão contínua, tendo início de ação de 2 minutos e meia-vida plasmática de 3,6 minutos. Apresenta efeito de inibição da agregação plaquetária de 95% a 100%.4747 Sible AM, Nawarskas JJ. Cangrelor: A New Route for P2Y12 Inhibition. Cardiol Rev. 2017;25:133-9. Após sua suspensão, o retorno da atividade plaquetária é rápido, ocorrendo dentro de 90 minutos em 90% dos pacientes.4848 Akers WS, Oh JJ, Oestreich JH, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of a bolus and infusion of cangrelor: a direct, parenteral P2Y12 receptor antagonist. J Clin Pharmacol. 2010;50:27-35. Essas características farmacodinâmicas tornam esse fármaco atrativo em cenários que necessitam de antiagregação plaquetária imediata, para pacientes incapazes de ingerir comprimidos via oral e como terapia ponte para procedimentos cirúrgicos quando a suspensão do tratamento antiplaquetário oral pode gerar risco aumentado de trombose.3838 Capodanno D, Ferreiro JL, Angiolillo DJ. Antiplatelet therapy: new pharmacological agents and changing paradigms. J Thromb Haemost. 2013;11:316-29.

Até o momento não há estudos prospectivos envolvendo anestesia no neuroeixo e o uso dessa classe de fármacos. Além disso, não há casos na literatura que envolvam hematoma espinal e o uso desses fármacos. De acordo com o fabricante do ticagrelor, quando possível, o mesmo deve ser suspenso ao menos 5 dias antes de qualquer procedimento cirúrgico, o que corrobora com os achados de Gurbel et al., que mostraram recuperação completa da função plaquetária após 5 dias de suspensão do fármaco.4646 Gurbel PA, Bliden KP, Butler K, et al. Randomized double-blind assessment of the ONSET and OFFSET of the antiplatelet effects of ticagrelor versus clopidogrel in patients with stable coronary artery disease: the ONSET/OFFSET study. Circulation. 2009;120:2577-85. Apesar da curta meia-vida plasmática de 3-6 minutos do cangrelor,4848 Akers WS, Oh JJ, Oestreich JH, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of a bolus and infusion of cangrelor: a direct, parenteral P2Y12 receptor antagonist. J Clin Pharmacol. 2010;50:27-35. a recomendação é que ele seja suspenso 3 horas antes dos procedimentos cirúrgicos, com base em um ensaio clínico randomizado que mostrou complicações hemorrágicas semelhantes ao placebo com mediana de 3 horas de suspensão.4949 Angiolillo DJ, Firstenberg MS, Price MJ, et al. Bridging antiplatelet therapy with cangrelor in patients undergoing cardiac surgery: a randomized controlled trial. JAMA. 2012;307:265-74.

Recomendações

  1. Não há estudo disponível que avalie a combinação do ticagrelor com a anestesia do neuroeixo, entretanto, parece razoável, de acordo com estudos farmacológicos,2424 Waurick K, Riess H, Van Aken H, et al. S1-Leitlinie Rückenmarksnahe regionalanästhesien und thrombembolieprophylaxe/antithrombotische medikation. Anästh Intensivmed. 2014;55:464-92. que o tratamento com ticagrelor seja interrompido ao menos 5 dias antes do bloqueio do neuroeixo ou da retirada de cateter peridural (1 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  2. De acordo com recomendações do American College of Chest Physicians, a terapia farmacológica com o ticagrelor deve ser reinstituída após 24 horas de período pós-operatório (2 C).4444 Douketis JD, Spyropoulos AC, Spencer FA, et al. Perioperative management of antithrombotic therapy: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e326S-e50S.

  3. Não é recomendada a manutenção de cateter peridural na vigência de tratamento com ticagrelor devido ao seu rápido início de ação (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Em relação ao cangrelor, apesar de sua curta meia-vida, a recomendação é que seja suspenso pelo menos 3 horas antes da punção de neuroeixo (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.,4949 Angiolillo DJ, Firstenberg MS, Price MJ, et al. Bridging antiplatelet therapy with cangrelor in patients undergoing cardiac surgery: a randomized controlled trial. JAMA. 2012;307:265-74.

  5. Com base no tempo para a formação do coágulo estável de 8 horas e o imediato início de ação do cangrelor, deve-se aguardar no mínimo 8 horas após a punção de neuroeixo para iniciar a medicação (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa

Os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa incluem abciximab, eptifibatide e tirofiban. São, atualmente, os fármacos disponíveis mais efetivos para a inibição da agregação plaquetária, e normalmente utilizados no cenário das intervenções coronarianas percutâneas.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15. Bloqueiam a glicoproteína IIb/IIIa plaquetária, local de ligação do fibrinogênio entre as plaquetas e, portanto, a via final comum da agregação plaquetária. Disponíveis exclusivamente para uso intravenoso.

O Abciximab (Reopro®) inibe de forma não competitiva e irreversível a GP IIb/IIIa. Apresenta um rápido início de ação, com inibição completa da agregação plaquetária em 2 horas. Apresenta meia-vida curta (10-30 minutos) e a recuperação da função plaquetária é lenta, ocorrendo 24-48 horas após sua suspensão. O Eptifabatide (Integrilin ®) e o Tirofiban (Aggrastat®) possuem rápido início de ação e recuperação da função plaquetária em um tempo mais curto, sendo de 4 horas para o Epifabatide e 4-8 horas para o Tirofiban.1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.,5050 De Luca G. Glycoprotein IIb-IIIa inhibitors. Cardiovasc Ther. 2012;30:e242-54. Os efeitos colaterais mais comuns são trombocitopenia e sangramento.5050 De Luca G. Glycoprotein IIb-IIIa inhibitors. Cardiovasc Ther. 2012;30:e242-54.

Não há, até o momento, estudos avaliando a segurança da anestesia regional em pacientes usando essa classe de medicações; assim, os intervalos para suspensão dessas medicações devem obedecer às características farmacocinéticas.

Recomendações

  1. De acordo com as propriedades farmacológicas, deve-se aguardar a completa recuperação da agregação plaquetária para a realização de anestesia em neuroeixo ou retirada de cateter. Ou seja, descontinuação de 8 horas para Tirofiban/Eptifibatide e 48 horas para o Abciximab, e excluída qualquer trombocitopenia por contagem plaquetária recente (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  2. Os inibidores da GP IIb/IIIa são usados na síndrome coronariana aguda, em combinação com anticoagulantes e AAS. Nesse cenário, nos procedimentos de emergência que geralmente envolvem cirurgia cardíaca com anticoagulação continuada, qualquer bloqueio neuroaxial é contraindicado (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.

  3. Os inibidores da GP IIb/IIIa têm rápido início de ação, portanto, caso seja necessário administrar esses fármacos no pós-operatório, deve-se aguardar o intervalo necessário para formação de coágulo estável; assim, um intervalo de 8-12 horas é provavelmente adequado (2 C).1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62. Entretanto, esses fármacos são contraindicados dentro de 4-6 semanas após procedimentos cirúrgicos (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Inibidores da fosfodiesterase (PDE)

Inibidores da fosfodiesterase também são utilizados como fármacos antiplaquetários. As plaquetas expressam três isoformas dessa enzima: PDE-2, PDE-3 e PDE-5. Os fármacos representantes dessa classe incluem o dipiridamol (Persantin®) e o cilostazol (Vasogard®, Pletal®, Cebralat®). Os inibidores da PDE levam a aumento do AMP-c e GMP-c intracelular o que prejudica a formação de segundos mensageiros no interior das plaquetas fundamentais na atividade plaquetária. Os inibidores da PDE-3 (Cilostazol) levam ao aumento do AMP-c, enquanto os inibidores da PDE-5 levam o aumento do GMP-c.1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62. Esses fármacos também são responsáveis por dilatação arterial pelo mesmo mecanismo.

O dipiridamol age bloqueando tanto a PDE-3 quanto a PDE-5, e normalmente é utilizado em associação com o AAS para prevenção primária ou secundária de doença vascular cerebral. Possui meia-vida de eliminação de 10 horas.33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31. Já o cilostazol inibe somente a PDE-3 e é indicado para o uso em doença arterial periférica e claudicação intermitente naqueles que não respondem a terapia com exercícios, com baixa possibilidade de intervenção cirúrgica.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15. O pico de concentração plasmática do cilostazol após administração oral é de 2 horas, sua meia-vida de eliminação é de aproximadamente 10 horas e, após 50 horas (aproximadamente 5 meias-vidas), menos de 5% do fármaco é encontrado no plasma, sendo observada recuperação da agregação plaquetária.1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.,5151 Schror K. The pharmacology of cilostazol. Diabetes Obes Metab. 2002;4:S14-9.

Há somente um caso descrito de HEP em paciente utilizando Cilostazol; este era idoso e, além do uso de cilostazol, possuía contagem plaquetária inferior a 100.000 mm3 e foi submetido a múltiplas punções peridurais com implante de cateter e a punção subaracnoidea.5252 Kaneda T, Urimoto G, Suzuki T. Spinal epidural hematoma following epidural catheter removal during antiplatelet therapy with cilostazol. J Anesth. 2008;22:290-3. Não há casos de HEP após anestesia regional em pacientes usuários de dipiridamol, entretanto, a combinação deste fármaco com o AAS aumenta o risco de sangramento.5353 Sacco RL, Diener HC, Yusuf S, et al. Aspirin and extended-release dipyridamole versus clopidogrel for recurrent stroke. N Engl J Med. 2008;359:1238-51.

Recomendações

  1. Parece razoável, de acordo com dados de estudos farmacológicos, que o tratamento com cilostazol deva ser interrompido 2 dias antes do bloqueio do neuroeixo ou da retirada de cateter peridural (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.,5151 Schror K. The pharmacology of cilostazol. Diabetes Obes Metab. 2002;4:S14-9.,5353 Sacco RL, Diener HC, Yusuf S, et al. Aspirin and extended-release dipyridamole versus clopidogrel for recurrent stroke. N Engl J Med. 2008;359:1238-51.

  2. Devido ao seu pico plasmático precoce (2 horas), recomenda-se que a primeira dose pós-operatória do cilostazol seja feita 6 horas após a punção do neuroeixo ou retirada do cateter peridural (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Em virtude do risco aumentado de sangramento em pacientes utilizando combinação de AAS e dipiridamol, recomenda-se a suspensão prévia do dipiridamol por 48 horas (aproximadamente 5 meias-vidas), quando combinado com o AAS. O uso isolado do dipiridamol não parece aumentar o risco de HEP (2 C).1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

Conduta no período perioperatório em paciente com terapia dupla de antiagregação plaquetária (TDAP)

A TDAP, prescrita após intervenções coronarianas percutâneas, é essencial durante o período de re-endotelização devido à lesão endotelial pelo balonamento ou revestimento do stent, diminuindo o risco de eventos isquêmicos e aterotrombóticos futuros. Consiste na associação de antiplaquetários, normalmente o AAS, e um inibidor do receptor de ADP (P2Y12).

O uso da TDAP no período perioperatório em cirurgias não cardíacas levanta preocupações clínicas importantes. De um lado, a suspensão desses fármacos antiplaquetários está associada a maior risco de infarto do miocárdio, trombose de stent e morte, atribuídos pelo aumento da adesão plaquetária causada pelo estresse inflamatório do procedimento cirúrgico.5454 Koenig-Oberhuber V, Filipovic M. New antiplatelet drugs and new oral anticoagulants. Br J Anaesth. 2016;117:ii74-84. Por outro lado, a continuação desses fármacos está associada ao aumento no risco de sangramento e transfusão de hemocomponentes.5454 Koenig-Oberhuber V, Filipovic M. New antiplatelet drugs and new oral anticoagulants. Br J Anaesth. 2016;117:ii74-84.

Dessa forma, devem ser balanceados, no período pré-operatório, o risco de eventos tromboembólicos e o risco de sangramento do procedimento cirúrgico. O retorno pós-operatório da terapia antiplaquetária depende do perfil de risco cardiovascular de cada paciente, dos riscos de sangramento associados ao procedimento cirúrgico específico e da farmacocinética de cada fármaco. O objetivo deve ser restabelecer o regime antiplaquetário o mais cedo possível.5454 Koenig-Oberhuber V, Filipovic M. New antiplatelet drugs and new oral anticoagulants. Br J Anaesth. 2016;117:ii74-84.

O risco trombótico do paciente submetido a procedimento coronariano por via percutânea foi classificado recentemente por Rossini et al.5555 Rossini R, Musumeci G, Visconti LO, et al. Perioperative management of antiplatelet therapy in patients with coronary stents undergoing cardiac and non-cardiac surgery: a consensus document from Italian cardiological, surgical and anaesthesiological societies. EuroIntervention. 2014;10:38-46. de acordo com o tempo e tipo de intervenção (tabela 2). No mesmo consenso, os autores classificam os procedimentos de acordo com o risco de sangramento como baixo, intermediário e moderado risco (tabela 3).

Tabela 2
Risco trombótico em relação ao tempo e tipo de intervenção5555 Rossini R, Musumeci G, Visconti LO, et al. Perioperative management of antiplatelet therapy in patients with coronary stents undergoing cardiac and non-cardiac surgery: a consensus document from Italian cardiological, surgical and anaesthesiological societies. EuroIntervention. 2014;10:38-46.
Tabela 3
Classificação dos procedimentos cirúrgicos quanto ao potencial de sangramento

A tomada de decisão sobre o uso de fármacos da TDAP deve ser feita em conjunto com o cardiologista assistente do paciente. Nos pacientes com alto risco de trombose escalados para cirurgias eletivas, o procedimento deve ser adiado por um tempo acima de: 2 semanas após angioplastia percutânea com balão; 30 dias após implante de stent metálico; de 3-6 meses após implante de stent farmacológico (novos stents revestidos de zotarolimus ou everolimus), sendo considerado aceitável um período de 3 meses, apesar de 6 meses ser considerado o ideal; e 12 meses após implante de stent farmacológico (stents de primeira geração revestidos de sirolimus ou paclitaxel.4545 Oprea AD, Popescu WM. Perioperative management of antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2013;111:13-7.,4747 Sible AM, Nawarskas JJ. Cangrelor: A New Route for P2Y12 Inhibition. Cardiol Rev. 2017;25:133-9.

Nos casos de urgência, em pacientes de alto risco de eventos trombóticos que não podem ser adiados pelo período recomendado acima, no caso de o risco de sangramento do procedimento cirúrgico ser baixo, o TDAP pode ser mantida.5555 Rossini R, Musumeci G, Visconti LO, et al. Perioperative management of antiplatelet therapy in patients with coronary stents undergoing cardiac and non-cardiac surgery: a consensus document from Italian cardiological, surgical and anaesthesiological societies. EuroIntervention. 2014;10:38-46.,5858 Banerjee S, Angiolillo DJ, Boden WE, et al. Use of Antiplatelet Therapy/DAPT for Post-PCI Patients Undergoing Noncardiac Surgery. J Am Coll Cardiol. 2017;69:1861-70. Já nos casos de moderado a alto risco de sangramento, em pacientes com alto risco trombótico, o AAS deve ser mantido, os inibidores do receptor de ADP devem ser suspensos pelo período necessário de cada fármaco e é necessário considerar a terapia ponte com inibidores de GP IIb/IIIa.3232 CLASP: a randomised trial of low-dose aspirin for the prevention and treatment of pre-eclampsia among 9364 pregnant women. CLASP (Collaborative Low-dose Aspirin Study in Pregnancy) Collaborative Group. Lancet. 1994;343:619-29.,3333 Sibai BM, Caritis SN, Thom E, Shaw K, McNellis D. Low-dose aspirin in nulliparous women: safety of continuous epidural block and correlation between bleeding time and maternal-neonatal bleeding complications. National Institute of Child Health and Human Developmental Maternal-Fetal Medicine Network. Am J Obstet Gynecol. 1995;172:1553-7.,3636 Horlocker TT, Wedel DJ. Neuraxial block and low-molecular-weight heparin: balancing perioperative analgesia and thromboprophylaxis. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:164-77. Em casos de emergência em pacientes com alto risco de trombose, a cirurgia deve proceder na presença da TDAP, e concentrados de plaquetas devem ser administrados na presença de sangramento que ponha o paciente em risco de morte.4545 Oprea AD, Popescu WM. Perioperative management of antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2013;111:13-7.

Nos pacientes de risco moderado para trombose, o ideal é que se postergue a cirurgia até que esse se torne de baixo risco. Nos casos em que não se pode aguardar esse período, a recomendação é que se continue o AAS e sejam suspensos os fármacos inibidores do ADP pelo período necessário de cada um, reiniciando os mesmo após 24-72 horas com dose de ataque.5555 Rossini R, Musumeci G, Visconti LO, et al. Perioperative management of antiplatelet therapy in patients with coronary stents undergoing cardiac and non-cardiac surgery: a consensus document from Italian cardiological, surgical and anaesthesiological societies. EuroIntervention. 2014;10:38-46.

56 Feres F, Costa RA, Abizaid A, et al. Three vs twelve months of dual antiplatelet therapy after zotarolimus-eluting stents: the OPTIMIZE randomized trial. JAMA. 2013;310:2510-22.

57 Levine MS, Carucci LR, DiSantis DJ, et al. Consensus Statement of Society of Abdominal Radiology Disease-Focused Panel on Barium Esophagography in Gastroesophageal Reflux Disease. AJR Am J Roentgenol. 2016;207:1009-15.
-5858 Banerjee S, Angiolillo DJ, Boden WE, et al. Use of Antiplatelet Therapy/DAPT for Post-PCI Patients Undergoing Noncardiac Surgery. J Am Coll Cardiol. 2017;69:1861-70.

Nos casos de baixo risco de trombose e em uso de TDAP (p. ex., paciente submetido a colocação de stent farmacológico há menos de 12 meses) e submetidos a cirurgias de baixo a moderado risco de sangramento, o AAS pode ser mantido, enquanto o inibidor de ADP deve ser suspenso. Nessa mesma população de baixo risco, quando submetidos a cirurgia com alto risco de sangramento, devem ter suspensos o AAS e o inibidor do receptor de ADP.4545 Oprea AD, Popescu WM. Perioperative management of antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2013;111:13-7.,5555 Rossini R, Musumeci G, Visconti LO, et al. Perioperative management of antiplatelet therapy in patients with coronary stents undergoing cardiac and non-cardiac surgery: a consensus document from Italian cardiological, surgical and anaesthesiological societies. EuroIntervention. 2014;10:38-46.,5858 Banerjee S, Angiolillo DJ, Boden WE, et al. Use of Antiplatelet Therapy/DAPT for Post-PCI Patients Undergoing Noncardiac Surgery. J Am Coll Cardiol. 2017;69:1861-70.

A suspensão da aspirina em pacientes com stents no período perioperatório está associada a aumento significativo de eventos cardíacos adversos maiores.3737 Hegi TR, Bombeli T, Seifert B, et al. Effect of rofecoxib on platelet aggregation and blood loss in gynaecological and breast surgery compared with diclofenac. Br J Anaesth. 2004;92:523-31. Em estudo descritivo destacando os resultados catastróficos de pacientes submetidos a cirurgia não cardíaca após implante de stent e interrupção da aspirina, o tempo entre o implante de stent e a cirurgia também foi um dos principais determinantes do desfecho.5959 Kaluza GL, Joseph J, Lee JR, et al. Catastrophic outcomes of noncardiac surgery soon after coronary stenting. J Am Coll Cardiol. 2000;35:1288-94. As evidências do estudo POISE-2 (Aspirin in Patients Undergoing Noncardiac Surgery) demonstrando a falta de benefício do uso de aspirina antes da cirurgia e durante o período pós-operatório precoce são menos relevantes para essa discussão no cenário da TDAP, tendo em vista que do total de pacientes do estudo, menos de 5% tinham história de intervenção coronariana percutânea prévia.6060 Devereaux PJ, Mrkobrada M, Sessler DI, et al. Aspirin in patients undergoing noncardiac surgery. N Engl J Med. 2014;370:1494-503.

Anestesia do neuroeixo e o uso de agentes anticoagulantes

A etapa final do processo de coagulação culmina com a produção de fibrina após as fases de iniciação, amplificação e propagação, de acordo com o novo modelo celular da coagulação. Sendo assim, existe o constante equilíbrio entre fenômenos antitrombóticos e pró-trombóticos. Dependendo da intensidade da intervenção ocorrida, seja lesão vascular, trauma extenso ou uso de agentes anticoagulantes, pode haver predominância de um processo sobre o outro. Os agentes anticoagulantes são drogas de ação indireta (antagonistas da vitamina K) ou drogas de ação direta.

Dentro desse escopo, vêm surgindo novos fármacos orais que interferem no processo de coagulação atuando de maneira mais segura e previsível se comparados, por exemplo com a clássica warfarina. A presente seção tem o objetivo de abordar os aspectos consolidados e atualizados das clássicas terapias instituídas, bem como o fluxograma de recomendações desses novos fármacos (tabela 4).

Tabela 4
Recomendação para manejo clínico em pacientes usando anticoagulantes em relação ao bloqueio no neuroeixo

Heparina

Heparina não fracionada (HNF)

O principal efeito anticoagulante da heparina não fracionada é devido ao pentassacarídeo presente em um terço das moléculas de heparina, que liga à Antitrombina III (ATIII).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. Após essa ligação, a HNF catalisa a inativação dos fatores IIa (trombina), Xa e IXa e, em menor extensão, os fatores XIa e XIIa.99 Green L, Machin SJ. Managing anticoagulated patients during neuraxial anaesthesia. Br J Haematol. 2010;149:195-208. Na ausência da heparina, a antitrombina III tem baixa afinidade pela trombina; entretanto, quando a HNF se liga à ATIII, a taxa de ligação à trombina é acelerada de 100 a 1000 vezes, semelhante aos outros fatores de coagulação por ela inibidos. A HNF também se liga fortemente a várias proteínas plasmáticas e a células endoteliais, macrófagos e ao Fator Plaquetário 4 (FP4), o que resulta em baixa biodisponibilidade, farmacocinética imprecisa e trombocitopenia Induzida por Heparina (TIH).6161 Hirsh J, Bauer KA, Donati MB, et al. Parenteral anticoagulants: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:141S-59S.

A atividade anticoagulante da HNF depende tanto do número de moléculas de heparina com a cadeia de pentassacarídeo em sua composição como do tamanho das moléculas contendo o pentassacarídeo. As moléculas de heparina com alto peso molecular irão catalisar a inibição dos fatores IIa e Xa. Já as moléculas de heparina com baixo peso molecular inibirão apenas o fator Xa. Além disso, o tempo ótimo de ação anticoagulante da heparina depende da sua administração, sendo que na administração subcutânea do fármaco o efeito anticoagulante só é observado após cerca de 40-60 minutos, sendo eliminado dentro de 4-6 horas.6161 Hirsh J, Bauer KA, Donati MB, et al. Parenteral anticoagulants: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:141S-59S.,6262 Hirsh J, Raschke R, Warkentin TE, et al. Heparin: mechanism of action, pharmacokinetics, dosing considerations, monitoring, efficacy, and safety. Chest. 1995;108:258S-75S.

A administração intravenosa de HNF resulta em anticoagulação imediata, enquanto a administração subcutânea, em início de ação de 1 a 2 horas. O efeito anticoagulante é dependente do peso molecular e da dose administrada de forma não linear, aumentando desproporcionalmente com a elevação da dose.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. A meia-vida biológica da heparina aumenta com a dose administrada,6262 Hirsh J, Raschke R, Warkentin TE, et al. Heparin: mechanism of action, pharmacokinetics, dosing considerations, monitoring, efficacy, and safety. Chest. 1995;108:258S-75S. sendo de 30 minutos com 25 UI.kg-1 IV, de 60 minutos com 100 UI.kg-1 e de 150 minutos com 400 UI.kg-1.

Quando administrada em doses terapêuticas, a anticoagulação da HNF é monitorizada com o TTPa (Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado). Durante a circulação extracorpórea, a inibição da coagulação por altas doses de heparina é monitorizada pelo TCA (tempo de coagulação ativado). A administração de pequenas doses subcutâneas (5000 UI) para profilaxia de Trombose Venosa Profunda (TVP) geralmente não altera o TTPa. Uma das vantagens da anticoagulação pela heparina é a reversão pela protamina. Cada miligrama de protamina pode neutralizar 100 UI de heparina.6161 Hirsh J, Bauer KA, Donati MB, et al. Parenteral anticoagulants: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:141S-59S.

A anticoagulação terapêutica é definitivamente associada a risco aumentado de HEP99 Green L, Machin SJ. Managing anticoagulated patients during neuraxial anaesthesia. Br J Haematol. 2010;149:195-208.. Estudo comparando a incidência de HEP em pacientes usando ou não HNF em doses terapêuticas e submetidos a punção lombar apresentou incidência de 2% no grupo em uso de HNF terapêutica. Os fatores de risco associados foram: (i) Intervalo inferior a 1 hora entre o início da heparinização e a punção lombar; (ii) uso concomitante de AAS no momento da punção lombar; e (iii) procedimento traumático.6363 Ruff RL, Dougherty JH. Complications of lumbar puncture followed by anticoagulation. Stroke. 1981;12:879-81. Dois casos de hematoma peridural foram descritos em associação a HNF terapêutica e bloqueio neuroaxial.6464 Davignon KR, Maslow A, Chaudrey A, et al. CASE 5 ‒ 2008: Epidural Hematoma: when is it safe to heparinize after the removal of an epidural catheter?. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2008;22:774-8.,6565 Rosen Da, Hawkinberry Dw, Rosen Kr, et al. An epidural hematoma in an adolescent patient after cardiac surgery. Anesth Analg. 2004;98:966-9.

A heparinização intraoperatória envolve o uso de 5 a 10.000 UI de heparina intravenosa durante o procedimento cirúrgico, particularmente em cirurgias vasculares, a fim de prevenir trombose durante o clampeamento de vasos arteriais.6262 Hirsh J, Raschke R, Warkentin TE, et al. Heparin: mechanism of action, pharmacokinetics, dosing considerations, monitoring, efficacy, and safety. Chest. 1995;108:258S-75S. A maioria das séries de casos publicadas usa as mesmas diretrizes para o manejo da anestesia no neuroeixo desses pacientes, com base na exclusão de pacientes de alto risco (coagulopatia preexistente) e realização do procedimento neuroaxial pelo menos 1 hora antes da administração da heparina.6666 Liu SS, Mulroy MF. Neuraxial anesthesia and analgesia in the presence of standard heparin. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:157-63. Stafford-Smith mostrou aumento na incidência de sangramento nos pacientes em uso de AAS associado com heparina intravenosa intraoperatória. O risco de hematoma espinha/peridural aumentou para 1:8.500 após punção peridural e para 1:12.000 após anestesia subaracnóidea, mesmo quando a heparinização ocorreu após intervalo de 1 hora da punção do neuroeixo.55 Stafford-Smith M. Impaired haemostasis and regional anaesthesia. Can J Anaesth. 1996;43:R129-41.

Em cirurgias cardíacas, os benefícios da anestesia peridural na função pulmonar e analgesia são evidentes, com menor intensidade no controle das arritmias e sem efeitos no tempo de internação, UTI e mortalidade.6666 Liu SS, Mulroy MF. Neuraxial anesthesia and analgesia in the presence of standard heparin. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:157-63.,6767 Roediger L, Larbuisson R, Lamy M. New approaches and old controversies to postoperative pain control following cardiac surgery. Eur J Anaesthesiol. 2006;23:539-50. Entretanto, os benefícios devem ser avaliados em relação ao alto risco de HEP. A probabilidade de HEP em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com heparinização completa é de 1:1.528 com técnicas peridurais e 1:3.610 para subaracnoideas.6868 Ho AM, Chung DC, Joynt GM. Neuraxial blockade and hematoma in cardiac surgery: estimating the risk of a rare adverse event that has not (yet) occurred. Chest. 2000;117:551-5. Recomenda-se que o bloqueio do neuroeixo seja feito no dia anterior à cirurgia devido a heparinização cirúrgica completa.1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.,6969 Chaney MA. Cardiac surgery and intrathecal/epidural techniques: at the crossroads?. Can J Anaesth. 2005;52:783-8.,7070 Tryba M. European practice guidelines: thromboembolism prophylaxis and regional anesthesia. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:178-82. Pelo fato de o bloqueio neuroaxial em cirurgia cardíaca mostrar riscos significantes sem melhora da morbidade e mortalidade, é discutido se anestesias subaracnóidea ou peridural são justificadas, provavelmente recomendando o abandono das técnicas nesse grupo.6969 Chaney MA. Cardiac surgery and intrathecal/epidural techniques: at the crossroads?. Can J Anaesth. 2005;52:783-8.

A baixa dose de HNF Subcutânea (SC) é comumente usada para profilaxia contra o desenvolvimento de TEV em cirurgia geral e urológica. A administração de 5000 UI de heparina por via subcutânea duas vezes ao dia (BID) ou três vezes ao dia (TID) tem sido usada extensivamente e eficazmente para profilaxia contra trombose venosa profunda. Frequentemente, não há alterações detectáveis ??nos parâmetros de coagulação, medidos pelo nível de aPTT, antifator Xa ou heparina. O amplo uso da heparina sc e a escassez de complicações sugerem que há pouco risco de HEP associado a essa terapia.

Existem nove séries publicadas, totalizando mais de 9000 pacientes submetidos a bloqueio no neuroeixo na presença de doses profiláticas para TVP com heparina sem complicações com HEP.6666 Liu SS, Mulroy MF. Neuraxial anesthesia and analgesia in the presence of standard heparin. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:157-63. Entretanto, casos isolados foram descritos posteriormente a este estudo.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.,1111 Cameron CM, Scott DA, McDonald WM, et al. A review of neuraxial epidural morbidity: experience of more than 8,000 cases at a single teaching hospital. Anesthesiology. 2007;106:997-1002.,7171 Sandhu H, Morley-Forster P, Spadafora S. Epidural hematoma following epidural analgesia in a patient receiving unfractionated heparin for thromboprophylaxis. Reg Anesth Pain Med. 2000;25:72-5. Em pacientes recebendo o esquema de duas doses diárias de HNF sc de 5000 U não há contraindicação para o uso de técnicas neuroaxiais.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. No entanto, não há dados suficientes demonstrando segurança para realizar técnicas neuroaxiais no esquema TID, apesar de ser a mais eficiente na prevenção de TVP.7272 King CS, Holley AB, Jackson JL, et al. Twice vs three times daily heparin dosing for thromboembolism prophylaxis in the general medical population: A metaanalysis. Chest. 2007;131:507-16.

A segurança da HNF subcutânea em alta dose (doses acima de 5000 UI ou dose diária total maior que 15.000 UI) permanece controversa devido à variabilidade acentuada na resposta do paciente a esses esquemas de dosagem. Especificamente, como o efeito anticoagulante da heparina não é linear e aumenta desproporcionalmente com o aumento de doses, a administração de mais de 5.000 UI aumentará a intensidade e a duração do efeito anticoagulante.6262 Hirsh J, Raschke R, Warkentin TE, et al. Heparin: mechanism of action, pharmacokinetics, dosing considerations, monitoring, efficacy, and safety. Chest. 1995;108:258S-75S.

As diretrizes da ESA, bem como as diretrizes britânicas e alemãs,1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.,2424 Waurick K, Riess H, Van Aken H, et al. S1-Leitlinie Rückenmarksnahe regionalanästhesien und thrombembolieprophylaxe/antithrombotische medikation. Anästh Intensivmed. 2014;55:464-92.,7373 Working P. Association of Anaesthetists of Great B, Ireland, Obstetric Anaesthetists A, Regional Anaesthesia UK. Regional anaesthesia and patients with abnormalities of coagulation: the Association of Anaesthetists of Great Britain & Ireland The Obstetric Anaesthetists’ Association Regional Anaesthesia UK. Anaesthesia. 2013;68:966-72. permitem 5000 UI 3 × /dia, mas também sugerem que o momento da colocação da agulha e remoção do cateter - independentemente da dose de 2 × /dia ou 3 × /dia - coincide com os níveis mais baixos de atividade anticoagulante. Essas recomendações são baseadas na farmacologia da dose de HNF SC 5000 UI, que mostra efeito anticoagulante 1 hora após a administração e que persiste por 4-6 horas. Dessa forma, justifica-se o atraso de 4-6 horas após a administração da última dose para colocação da agulha. Já para uma dose individual de heparina de 7.500 a 10.000 UI duas vezes ao dia ou uma dose diária menor que 20.000 UI, sugere-se bloqueio neuroaxial 12 horas após a administração de heparina SC e avaliação do status da coagulação. Da mesma forma, para HNF terapêutica (p. ex., dose individual > 10.000 UI SC por dose ou > 20.000 UI dose diária total), sugere-se que o bloqueio neuroaxial ocorra 24 horas após a administração de heparina SC e avaliação do status da coagulação.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Recomendações

  1. Avaliar diariamente as medicações em uso pelo paciente e que concorrem para interferência na atividade de coagulação, tais como: agentes antiplaquetários, heparina de baixo peso molecular (1 B).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Recomenda-se a contagem diária de plaquetas nos pacientes em regime de terapia com heparina por mais de 4 dias devido ao risco de trombocitopenia induzida pela heparina (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Recomenda-se suspender a infusão de heparina entre 4-6 horas para procedimentos a serem realizados no neuroeixo, incluindo remoção de cateteres peridurais (1 A).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Recomenda-se evitar técnicas invasivas em neuroeixo nos pacientes que apresentem outros distúrbios de coagulação (1 A).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  5. Recomenda-se um atraso de 1 hora na dose de heparina após procedimentos no neuroeixo, bem como após a remoção de cateter inserido no espaço peridural (1 A).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  6. Nos pacientes em regime de HNF sc em doses profiláticas (5.000 UI 2 ou 3 vezes ao dia), sugerem-se procedimentos no neuroeixo 4?6 horas após a última administração do fármaco, de preferência após a avaliação do status de coagulação (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  7. 7, Nos pacientes utilizando HNF sc em altas doses (7.500?10.000 UI 2 vezes ao dia ou abaixo de 20.000 UI por dia em dose única), sugere-se procedimentos no neuroeixo 12 horas após a administração do fármaco ou depois da avaliação do status de coagulação (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  8. Nos pacientes em regime de doses maiores de 10.000 UI por dose ou doses diárias maiores que 20.000 UI sugerem-se procedimentos no neuroeixo 24 horas após a administração do fármaco (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Heparina de baixo peso molecular (HBPM)

A HBPM vem se tornando o tratamento de escolha tanto para a prevenção como para o tratamento de TVP devido a sua maior biodisponibilidade (quase 100%) após administração subcutânea, resultando em efeito anticoagulante superior sem aumentar a tendência ao sangramento, e ao uso facilitado, sem necessidade de monitorização da coagulação sanguínea.33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31.

A farmacologia da HBPM difere da HNF. As principais diferenças consistem na maior atividade inibitória contra fator Xa comparado com a trombina (IIa), dificuldade de monitorização do efeito anticoagulante (níveis do fator Xa), meia-vida de eliminação prolongada e ausência de reversibilidade completa com protamina.6161 Hirsh J, Bauer KA, Donati MB, et al. Parenteral anticoagulants: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:141S-59S. Com administração subcutânea, os níveis plasmáticos máximos são atingidos em aproximadamente 3?4 horas, e a meia-vida de eliminação, com função renal normal, é de 4?6 horas.7474 Sanderink GJ, Guimart CG, Ozoux ML, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of the prophylactic dose of enoxaparin once daily over 4 days in patients with renal impairment. Thromb Res. 2002;105:225-31.,7575 Weitz JI, Eikelboom JW, Samama MM. New antithrombotic drugs: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e120S-e51S. Entretanto, mantém atividade antifator Xa considerável (50%) após 10?12 horas da administração. Se o clearance de creatinina cair abaixo de 30 mL.min-1, a meia-vida de eliminação dobra.7474 Sanderink GJ, Guimart CG, Ozoux ML, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of the prophylactic dose of enoxaparin once daily over 4 days in patients with renal impairment. Thromb Res. 2002;105:225-31. Comparada com a HNF, há risco 10 vezes menor da ocorrência de Trombocitopenia (TIH); entretanto, são contraindicadas na TIH pelo alto risco, de aproximadamente 90%, de reação cruzada.7676 Warkentin TE, Levine MN, Hirsh J, et al. Heparin-induced thrombocytopenia in patients treated with low-molecular-weight heparin or unfractionated heparin. N Engl J Med. 1995;332:1330-5.

Se a tromboprofilaxia com HBPM for prescrita em duas doses diárias (30 mg duas vezes ao dia), quando comparada ao regime de dose única diária, o risco de HEP pode ser aumentado, pois os níveis mínimos de atividade anti-Xa são maiores.7777 Douketis JD, Kinnon K, Crowther MA. Anticoagulant effect at the time of epidural catheter removal in patients receiving twice-daily or once-daily low-molecular-weight heparin and continuous epidural analgesia after orthopedic surgery. Thromb Haemost. 2002;88:37-40.

O uso da HBPM em pacientes submetidos a bloqueio de neuroeixo foi adotado na Europa em 1987. Utilizava-se 20 a 40 mg em dose única 12 horas antes do procedimento cirúrgico. Para evitar a ocorrência de HEP, recomendações orientavam a inserção/remoção do cateter peridural com intervalo mínimo de 10?12 horas após a última dose de HBPM. A dose subsequente era reiniciada após 8?12 horas.88 Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.,1010 Tryba M. Epidural regional anesthesia and low molecular heparin: Pro. Anasthesiol Intensivmed Notfallmed Schmerzther. 1993;28:179-81. Dessa forma, revisões envolvendo dados de milhões de pacientes mostraram que o bloqueio neuroaxial em uso de HBPM sob o regime Europeu era seguro, com apenas um caso de HEP descrito.7878 Bergqvist D, Lindblad B, Matzsch T. Risk of combining low molecular weight heparin for thromboprophylaxis and epidural or spinal anesthesia. Semin Thromb Hemost. 1993;19:147-51.

Por outro lado, na América do Norte, a enoxaparina, introduzida em 1993, não teve recomendação em relação ao tempo entre sua administração e a realização do bloqueio neuroaxial ou remoção de cateter. A enoxaparina era rotineiramente administrada imediatamente no pós-operatório, na dose de 30 mg duas vezes ao dia. Após 5 anos de uso, o FDA (Food and Drug Administration) acumulava relatos de 43 pacientes submetidos a bloqueios neuroaxiais que desenvolveram HEP.7979 Wysowski DK, Talarico L, Bacsanyi J, et al. Spinal and epidural hematoma and low-molecular-weight heparin. N Engl J Med. 1998;338:1774-5. Em 1998, 13 casos de HEP associados a HBPM tinham sido descritos na Europa, enquanto na América do Norte atingia 60 casos.8080 Horlocker TT, Wedel DJ, Benzon H, et al. Regional anesthesia in the anticoagulated patient: defining the risks (the second ASRA Consensus Conference on Neuraxial Anesthesia and Anticoagulation). Reg Anesth Pain Med. 2003;28:172-97. As razões para as elevadas taxas foram atribuídas a: (i) prescrição de maior dose diária de HBPM; (ii) doses mais frequentes, possivelmente levando a níveis mínimo sanguíneos mais elevados durante a inserção/remoção do cateter; (iii) falta de diretrizes práticas no bloqueio do neuroeixo.1717 Tryba M, Wedel DJ. Central neuraxial block and low molecular weight heparin (enoxaparine): lessons learned from different dosage regimes in two continents. Acta Anaesthesiol Scand Suppl. 1997;111:100-4.,8080 Horlocker TT, Wedel DJ, Benzon H, et al. Regional anesthesia in the anticoagulated patient: defining the risks (the second ASRA Consensus Conference on Neuraxial Anesthesia and Anticoagulation). Reg Anesth Pain Med. 2003;28:172-97.

Após a resolução de 2003 do segundo consenso da American Society of Regional Anesthesia (ASRA), 10 casos foram relatados na literatura de língua inglesa relacionados à combinação de HEP e HBPM. Cinco casos adicionais foram reportados pelo consenso do Royal College of Anaesthetists no Reino Unido, em 97.925 bloqueios peridurais; porém, sem comprovada evidência com associação medicação anticoagulante.1212 Cook TM, Counsell D, Wildsmith JA. Major complications of central neuraxial block: report on the Third National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists. Br J Anaesth. 2009;102:179-90.

Com base no exame dos casos publicados e na experiência clínica do uso de HBPM na Europa e na América do Norte, fatores de risco específicos associados à HEP foram propostos, como idade acima de 65 anos, sexo feminino, administração 2 vezes por dia e o efeito aditivo, se não sinérgico, de múltiplos medicamentos que alteram a hemostasia77 Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological complications after central neuraxial blockades in Sweden 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950-9.,8080 Horlocker TT, Wedel DJ, Benzon H, et al. Regional anesthesia in the anticoagulated patient: defining the risks (the second ASRA Consensus Conference on Neuraxial Anesthesia and Anticoagulation). Reg Anesth Pain Med. 2003;28:172-97. (tabela 1).

Tabela 1
Fatores de risco associados ao HEP

Recomendações

  1. Drogas antiplaquetárias e anticoagulantes orais administradas concomitantemente a HBPM aumentam o risco de HEP, sendo proscrito o bloqueio, nessas condições, ou a interrupção dessas drogas coadjuvantes caso haja programação de procedimentos em neuroeixo (1 A).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. A ocorrência de sangramento durante a introdução de agulha ou cateter não justifica o cancelamento da cirurgia. Sugere-se que o início da terapia com HBPM, nessa circunstância, ocorra 24 horas após o fim da cirurgia (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Em pacientes em tromboprofilaxia pré-operatória com HBPM, é recomendado bloqueio neuroaxial após 12 horas da última dose de HBPM (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  4. Pacientes com doses terapêuticas de HBPM - como enoxaparina 1 mg.kg-1 a cada 12 horas, enoxaparina 1.5 mg.kg-1 por dia, dalteparina 120 UI.kg-1 a cada 12 horas, dalteparina 200 UI.kg-1 por dia ou tinzaparina 175 UI.kg-1 por dia, é sugerido intervalo maior que 24 horas entre a última dose e o bloqueio neuroaxial para assegurar hemostasia normal (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  5. Para uso pós-operatório de HBPM, a primeira dose de HBPM deve ser administrada 12 horas após a cirurgia. A segunda dose de HBPM não deve ser administrada antes de 24 horas da primeira dose para que o cateter peridural possa ser mantido com segurança. Entretanto, a retirada do cateter peridural deve ser feita somente 12 horas após a última dose. A dose subsequente de HBPM, após a retirada do cateter, deve ser após 4 horas. Nenhuma droga que altere a hemostasia deve ser administrada devido ao risco de efeitos aditivos (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  6. No esquema de posologia com duas doses diárias há maior risco de HEP, recomendando vigilância contínua. A primeira dose de HBPM deve ser administrada após 24 horas do fim da cirurgia, se não houver risco de sangramento. Havendo risco de sangramento, a primeira dose deve ser postergada para 48?72 horas após o fim da cirurgia (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

Antagonistas da vitamina K (Cumarínicos)

Incluem acenocumarol, femprocumona e warfarinas. Essas drogas inibem a síntese e gama-carboxilação dos fatores dependentes da vitamina K: II, VII, IX, X, proteína C e S, o que os torna incapazes de se ligarem a membranas fosfolipídicas plaquetárias durante a coagulação. O Tempo de Protrombina (TP) ou RNI (Razão Normalizada Internacional) são os testes mais usados para monitorar essas drogas, e refletem a atividade plasmática de três dos quatro fatores de coagulação (II, VII e X). Experiências clínicas sugerem que o nível de atividade de 40% de cada fator é adequado para hemostasia normal ou próxima ao normal.8181 Xi M, Beguin S, Hemker HC. The relative importance of the factors II, VII, IX and X for the prothrombinase activity in plasma of orally anticoagulated patients. Thromb Haemost. 1989;62:788-91. RNI de 1,5 está associado à atividade do fator VII de 40%. Como o fator VII tem meia-vida mais curta (aproximadamente 6 horas), o aumento inicial do RNI, quando os cumarínicos são usados, reflete a perda da atividade do fator VII.

Entretanto, o efeito terapêutico dessas drogas é mais dependente da redução dos fatores II ou X, que tem meias-vidas relativamente mais longas; 60?72 horas e 24?36 horas, respectivamente. Após a interrupção do uso da warfarina, o fator II é o último a normalizar8282 Ansell J, Hirsh J, Hylek E, et al. Pharmacology and management of the vitamin K antagonists: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:160S-98S. e o RNI pode retornar a valores próximos aos normais devido à restauração da atividade do fator VII; entretanto, os fatores II e X podem não ter sido restaurados a níveis hemostáticos normais.8383 Enneking FK, Benzon H. Oral anticoagulants and regional anesthesia: a perspective. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:140-5. Seu efeito anticoagulante pode ser efetivamente revertido com a administração de vitamina K, plasma fresco congelado ou complexo protrombínico total (fatores II, VII, IX e X).33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31.

Embora a ASRA tenha recomendado remoção do cateter peridural com RNI menor que 1,5; esse valor tem sido considerado conservador. Relatos mostram remoção de cateteres peridurais com RNI mais alto e sem intercorrências.8484 Buvanendran A, Lubenow T, Majewski M, et al. The INR values at removal of epidural catheter in 4013 patients receiving warfarin. Anesthesiology. 2008;109:A427.

85 Parvizi J, Viscusi ER, Frank HG, et al. Can epidural anesthesia and warfarin be coadministered?. Clin Orthop Relat Res. 2007;456:133-7.
-8686 Liu SS, Buvanendran A, Viscusi ER, et al. Uncomplicated removal of epidural catheters in 4365 patients with international normalized ratio greater than 1.4 during initiation of warfarin therapy. Reg Anesth Pain Med. 2011;36:231-5. Se ocorrer nas primeiras 48 horas do uso da medicação, é provável que haja níveis adequados de atividade de fatores de coagulação, particularmente dos fatores II e X. Além desse período, todos os fatores dependentes da vitamina K serão afetados. Não há relato de caso de HEP em 11.235 pacientes recebendo analgesia peridural após artroplastia total de joelho, tratados com warfarina (5?10 mg) iniciada na noite anterior ao procedimento. Os cateteres peridurais eram retirados até 48 horas de pós-operatório. A média de RNI no momento da retirada foi de 1,5 (0,9?4,3). O RNI foi menor que 1,5 em aproximadamente 40% dos casos. Essas séries sugerem que não apenas o valor do RNI, mas também a duração da terapia com warfarina deve ser considerada no manejo do cateter peridural, e que o prolongamento por mais de 48 horas pode representar significativo aumento do risco de hematoma.8585 Parvizi J, Viscusi ER, Frank HG, et al. Can epidural anesthesia and warfarin be coadministered?. Clin Orthop Relat Res. 2007;456:133-7.

O controle dos pacientes em uso de warfarina no perioperatório continua controverso. As recomendações são baseadas na farmacologia da droga, na relevância clínica dos níveis e na deficiência dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K, e em séries de casos e relatos de HEP.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. Diretrizes com base em evidências para o tratamento perioperatório da terapia antitrombótica foram estabelecidas pelo ACCP (American College of Chest Physicians). Instrui que no pré-operatório, a warfarina deve ser interrompida ao menos 5 dias antes do procedimento eletivo, avaliando o RNI 1 a 2 dias antes da cirurgia, e se > 1,5; administrar 1 a 2 mg de vitamina K por via oral. Caso a reversão para cirurgia/procedimento seja urgente, considere 2,5?5 mg por via oral ou IV de vitamina K; e para reversão imediata, administrar plasma congelado fresco. Os pacientes com alto risco de tromboembolismo deverão fazer ponte com HBPM SC terapêutica (preferencial) ou HNF intravenosa.4444 Douketis JD, Spyropoulos AC, Spencer FA, et al. Perioperative management of antithrombotic therapy: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e326S-e50S.

Recomendações

  1. Recomenda-se a realização de procedimentos no neuroeixo 5 dias após a suspensão dos cumarinícos e normalização do RNI (1 B).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Recomenda-se a suspensão de drogas que modifiquem a atividade normal da coagulação, tais como anti-inflamatórias, tienopiridínicos, HNF, HBPM (1 A).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Sugere-se que pacientes que tenham recebido uma dose de warfarina mais de 24 horas antes da cirurgia ou tenham recebido uma segunda dose tenham o RNI checado (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Se o paciente estiver usando baixas doses de warfarina durante analgesia peridural, monitorizar RNI diariamente (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  5. Sugere-se que pacientes recebendo analgesia peridural sejam avaliados neurologicamente como rotina, sendo recomendada para isso a utilização de soluções anestésicas tituladas para não prejudicar a avaliação (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  6. Sugere-se que após o início da tromboprofilaxia com warfarina, os cateteres epidurais sejam retirados quando o RNI for menor que 1,5. A retirada de cateter peridural após 12?24 horas da dose de warfarina parece não aumentar o risco de sangramento (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,8585 Parvizi J, Viscusi ER, Frank HG, et al. Can epidural anesthesia and warfarin be coadministered?. Clin Orthop Relat Res. 2007;456:133-7.,8686 Liu SS, Buvanendran A, Viscusi ER, et al. Uncomplicated removal of epidural catheters in 4365 patients with international normalized ratio greater than 1.4 during initiation of warfarin therapy. Reg Anesth Pain Med. 2011;36:231-5.

  7. Sugere-se que pacientes que apresentem RNI maior que 1,5 e menor que 3,0 sejam cuidadosamente monitorados com relação ao cateter. Nessa situação, o cateter deve ser mantido com base no RNI e na duração da terapia com warfarina (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  8. Pacientes com RNI maior que 3,0 devem ter a dose da medicação mantida ou diminuída (1 A). Não há recomendação para a condução dos pacientes que possuem cateteres epidurais com esse nível de anticoagulação (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  9. Sugere-se a avaliação neurológica a cada 2 horas durante 24 horas após a retirada do cateter (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Inibidores do fator Xa

Fondaparinux (Arixtra®)

O Fondaparinux é um pentassacarídeo sintético que inibe indiretamente o fator Xa de forma seletiva por meio da antitrombina III. Ao contrário das HBPM, não tem efeito sobre o fator IIa (trombina) e, portanto, a agregação plaquetária não é afetada.1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015. Esse composto tem biodisponibilidade de aproximadamente 100% após administração subcutânea e meia-vida de eliminação de 18 a 21 horas, sendo eliminado principalmente pelos rins. A meia-vida de eliminação é prolongada para 36 a 42 horas quando o clearance de creatinina é menor que 50 mL.min-1, sendo contraindicado nos pacientes com clearance menor que 30 mL.min-1. A dose profilática é de 2,5 mg por via subcutânea uma vez ao dia.33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31.

Habitualmente, é administrado de 6 a 12 horas após a cirurgia, uma vez que, quando usado no pré-operatório, pode aumentar o risco do sangramento cirúrgico sem melhorar a eficácia antitrombótica.8787 Kwong LM, Muntz JE. Thromboprophylaxis dosing: the relationship between timing of first administration, efficacy, and safety. Am J Orthop (Belle Mead NJ). 2002;31:16-20. Em virtude do uso pós-operatório, não há problemas com anestesia no neuroeixo de punção única; entretanto, se o cateter for inserido, deve ser removido apenas na ausência de níveis plasmáticos do agente. As recomendações para o manejo do cateter peridural em pacientes em uso de fondaparinux obedecem às condições usadas no estudo de Singelyn e cols.2626 Singelyn FJ, Verheyen CC, Piovella F, et al. The safety and efficacy of extended thromboprophylaxis with fondaparinux after major orthopedic surgery of the lower limb with or without a neuraxial or deep peripheral nerve catheter: the EXPERT Study. Anesth Analg. 2007;105:1540-7. Esse estudo avaliou 5387 pacientes, sendo 1428 submetidos a procedimentos anestésicos regionais nos quais a dose única do fondaparinux era omitida na noite anterior à retirada do cateter. Dessa forma, foi assegurado intervalo de 36 horas entre a última dose da droga e a remoção do cateter, e 12 horas entre o tempo de remoção do cateter e a próxima dose do fondaparinux. Nenhum caso de HEP foi descrito.2626 Singelyn FJ, Verheyen CC, Piovella F, et al. The safety and efficacy of extended thromboprophylaxis with fondaparinux after major orthopedic surgery of the lower limb with or without a neuraxial or deep peripheral nerve catheter: the EXPERT Study. Anesth Analg. 2007;105:1540-7.

Pelo American College of Chest Physicians (ACCP), mesmo com 2 casos descritos de TIH com uso do fondaparinux, sugere-se HBPM ou HNF como droga alternativa nos pacientes com história de TIH.8888 Linkins LA, Dans AL, Moores LK, et al. Treatment and prevention of heparin-induced thrombocytopenia: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e495S-530S.

Recomendações

  1. Com posologia profilática (2,5 mg) no pós-operatório, a anestesia no neuroeixo pode ser utilizada se atraumática. Se isso não for possível, deve-se escolher outra estratégia farmacológica (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Sugere-se que cateteres peridurais sejam removidos no mínimo 6 horas antes da primeira dose pós-operatória (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Caso seja usado, o cateter peridural deve ser retirado apenas 36 horas após a última dose profilática do fondaparinux, e a dose subsequente deve ser administrada somente após 12 horas da retirada (2 C).1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.,2626 Singelyn FJ, Verheyen CC, Piovella F, et al. The safety and efficacy of extended thromboprophylaxis with fondaparinux after major orthopedic surgery of the lower limb with or without a neuraxial or deep peripheral nerve catheter: the EXPERT Study. Anesth Analg. 2007;105:1540-7.

Rivaroxabana (Xarelto®)

Rivaroxabana é um inibidor seletivo e direto do fator Xa. Administrado por via oral é utilizado na prevenção de TVP após cirurgia de prótese total de joelho, assim como na prevenção primária de TEV após cirurgia eletiva, prevenção de acidente vascular cerebral e embolia sistêmica em pacientes adultos com fibrilação atrial não valvar, e prevenção e tratamento de TEV (recorrente) e embolia pulmonar.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. O tratamento é iniciado 6?8 horas após a cirurgia e com dose única de 10 mg, e os níveis plasmáticos máximos são atingidos em 2?4 horas.8989 Eriksson BI, Quinlan DJ, Weitz JI. Comparative pharmacodynamics and pharmacokinetics of oral direct thrombin and factor xa inhibitors in development. Clin Pharmacokinet. 2009;48:1-22. Estudos mostram melhor eficácia em relação à enoxaparina para a tromboprofilaxia,9090 Eriksson BI, Borris LC, Friedman RJ, et al. Rivaroxaban versus enoxaparin for thromboprophylaxis after hip arthroplasty. N Engl J Med. 2008;358:2765-75. e da mesma forma, quando comparada com as heparinas e os antagonistas da vitamina K no tratamento da TVP.9191 Buller HR, Lensing AW, Prins MH, et al. A dose-ranging study evaluating once-daily oral administration of the factor Xa inhibitor rivaroxaban in the treatment of patients with acute symptomatic deep vein thrombosis: the Einstein-DVT Dose-Ranging Study. Blood. 2008;112:2242-7.

A rivaroxabana tem meia-vida de eliminação de 5 a 9 horas, pouco influenciada pela função renal (33% da eliminação ocorre por via renal), uma vez que também tem eliminação hepática. Em idosos, entretanto, a meia-vida pode ser prolongada para 11 a 13 horas.1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.,8989 Eriksson BI, Quinlan DJ, Weitz JI. Comparative pharmacodynamics and pharmacokinetics of oral direct thrombin and factor xa inhibitors in development. Clin Pharmacokinet. 2009;48:1-22. Em indivíduos com insuficiência renal leve, moderada e grave, a exposição à rivaroxabana aumenta 1,4, 1,5 e 1,6 vezes, respectivamente.9292 Dias C, Moore KT, Murphy J, et al. Pharmacokinetics, Pharmacodynamics, and Safety of Single-Dose Rivaroxaban in Chronic Hemodialysis. Am J Nephrol. 2016;43:229-36.

A rivaroxabana promove prolongamento do TTPa e do Heptest, porém esses testes não são recomendados para avaliar o efeito anticoagulante dessa droga. O Tempo de Protrombina (TP) é influenciado pela rivaroxabana em dose dependente, com estreita correlação em relação às concentrações plasmáticas, e deve ser medido em segundos, e não pelo IRN.9393 Kubitza D, Becka M, Wensing G, et al. Safety, pharmacodynamics, and pharmacokinetics of BAY 59-7939--an oral, direct Factor Xa inhibitor ‒ after multiple dosing in healthy male subjects. Eur J Clin Pharmacol. 2005;61:873-80. Entretanto, a monitorização rotineira não é considerada necessária. Recentemente, foi lançado no mercado um reversor para os inibidores diretos do fator Xa com resultados promissores chamado Andexanet alfa.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Os estudos clínicos com uso da anestesia neuraxial em pacientes tratados com rivaroxabana são escassos. A literatura descreve sete hematomas neuroaxiais associados à rivaroxabana.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. Três casos foram submetidos a bloqueio neuraxial, no entanto, em 2 casos, um agente alternativo de tromboprofilaxia foi utilizado imediatamente no pós-operatório e os hematomas ocorreram após a alta hospitalar.9494 Ozel O, Demircay E, Kircelli A, et al. Atypical Presentation of an Epidural Hematoma in a Patient Receiving Rivaroxaban After Total Hip Arthroplasty. Orthopedics. 2016;39:e558-60.,9595 Radcliff KE, Ong A, Parvizi J, et al. Rivaroxaban-induced epidural hematoma and cauda equina syndrome after total knee arthroplasty: a case report. Orthop Surg. 2014;6:69-71. No caso restante, o cateter peridural foi removido 18 horas após a primeira dose de rivaroxabana, ou seja, em intervalo de tempo inferior às 26 horas recomendadas pelo fabricante.9696 Madhisetti KR, Mathew M, George M, et al. Spinal epidural haematoma following rivaroxaban administration after total knee replacement. Indian J Anaesth. 2015;59:519-21.

Recomendações

  1. Sugere-se a descontinuação de rivaroxabana cerca de 72 horas antes do procedimento no neuroeixo. Se não for possível aguardar esse período, considerar a dosagem laboratorial de rivaroxabana ou do nível de fator anti-Xa (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Sugere-se a remoção do cateter 6 horas antes da primeira dose pós-operatória (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Se na presença do cateter peridural houver administração de uma dose imprevista de rivaroxabana, deve-se aguardar a dosagem de rivaroxabana ou fator anti-Xa por no mínimo 22?26 horas após a dose (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Apixaban (Eliquis®)

Inibidor direto seletivo do fator Xa e administrado por via oral. Tem biodisponibilidade de 60% e não requer biotransformação para sua ativação.9797 Eikelboom JW, Weitz JI. New anticoagulants. Circulation. 2010;121(13):1523-32. Em contraste com os antagonistas da vitamina K, o apixaban não tem interação com alimentos. Níveis plasmáticos máximos são obtidos em 3 horas, com meia-vida aproximada de 12 horas (10 a 15 horas), sendo necessário posologia em 2 doses diárias.9797 Eikelboom JW, Weitz JI. New anticoagulants. Circulation. 2010;121(13):1523-32.,9898 Garcia D, Libby E, Crowther MA. The new oral anticoagulants. Blood. 2010;115:15-20. Não requer monitorização rotineira da coagulação. Apenas 25% é eliminada via renal e 75% por metabolismo hepático e biliar, sendo excretado por via intestinal.

Tanto o PT quanto o aPTT não são adequados para avaliar qualitativa e quantitativamente os efeitos do apixaban. Esses testes não são confiáveis ??devido à baixa sensibilidade e a uma grande variabilidade entre ensaios, dependendo dos reagentes utilizados.9999 Douxfils J, Chatelain C, Chatelain B, et al. Impact of apixaban on routine and specific coagulation assays: a practical laboratory guide. Thromb Haemost. 2013;110:283-94.

Estudos randomizados têm mostrado a eficácia e segurança do apixaban após cirurgias de prótese de joelho e quadril.100100 Lassen MR, Raskob GE, Gallus A, et al. Apixaban versus enoxaparin for thromboprophylaxis after knee replacement (ADVANCE-2): a randomised double-blind trial. Lancet. 2010;375:807-15.,101101 Lassen MR, Raskob GE, Gallus A, et al. Apixaban or enoxaparin for thromboprophylaxis after knee replacement. N Engl J Med. 2009;361:594-604. A avaliação de 18.201 indivíduos com fibrilação atrial, comparando o apixaban com a warfarina, mostrou que o apixaban foi superior na tromboprofilaxia, com baixo risco de sangramento e menor índice de mortalidade.102102 Granger CB, Alexander JH, McMurray JJ, et al. Apixaban versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2011;365:981-92. Com base nesses estudos, o apixaban conseguiu aprovação para anticoagulação na fibrilação atrial não valvular e tem sido indicado para tromboprofilaxia nas cirurgias de quadril e joelho. Nesse último cenário, uma dose de 2,5 mg duas vezes por dia é usada e iniciada 12?24 horas após a cirurgia.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Recomendações

  1. Sugere-se a suspensão do apixaban cerca de 72 horas antes de procedimentos no neuroeixo. Considerar a checagem dos níveis de apixaban ou fator anti-Xa caso a suspensão seja em menos que 72 horas (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Sugere-se a retirada de cateter peridural 6 horas antes da primeira dose pós-operatória (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Se, na presença de cateter peridural, houver a administração de uma dose imprevista de apixaban, deve-se aguardar a dosagem de apixaban ou fator anti-Xa por no mínimo 26?30 horas após a dose (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Edoxaban (Lixiana®)

Um dos grandes expoentes da nova geração de anticoagulantes orais é o edoxaban, que impactou essa nova classe de fármacos principalmente após o ENGAGE AF-TIMI 48.103103 Ruff CT, Giugliano RP, Antman EM, et al. Evaluation of the novel factor Xa inhibitor edoxaban compared with warfarin in patients with atrial fibrillation: design and rationale for the Effective aNticoaGulation with factor Xa next GEneration in Atrial Fibrillation-Thrombolysis In Myocardial Infarction study 48 (ENGAGE AF-TIMI 48). Am Heart J. 2010;160:635-41. Sua notoriedade advém não da superioridade apresentada em relação à warfarina, o que já era esperado, mas pelo fato de permitir um ajuste posológico efetivo. Isso se deve ao perfil farmacológico do edoxaban, com níveis plasmáticos alcançados dentro de 1 a 2 horas, apresentando biodisponibilidade de 62% e ligação em proteínas plasmáticas de 55%.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

A excreção renal é responsável por cerca de 50% da eliminação da droga, sendo o restante metabolizado e excretado pelo fígado e intestino. Dessa maneira, é prudente realizar o ajuste terapêutica do edoxaban em casos de insuficiência renal, visto que a meia-vida de eliminação pode variar, nesses casos, de 8,75 a 14 horas.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62. O TP e o TTPa não são efetivos na avaliação da atividade do edoxaban, sendo que para isso é necessária a utilização de ensaios cromatogênicos.

Recomendações

  1. Sugere-se a suspensão do edoxaban 72 horas antes da realização de procedimentos no neuroeixo. Níveis residuais aceitáveis de edoxaban ainda não foram determinados (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Sugere-se que cateteres de neuroeixo sejam retirados 6 horas antes da primeira dose pós-operatória (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Em casos de administração do fármaco antes da retirada do cateter, recomenda-se realizar a dosagem seriada de edoxaban durante as 20 a 28 horas seguintes ou fator anti-Xa para proceder a retirada do cateter (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Betrixaban (Bevyxxa®)

Esse é o mais recente dos fármacos conhecidos com NOACs (novos anticoagulantes orais), e seu papel vem sendo ressaltado após a fase III do estudo APEX,104104 Cohen AT, Harrington R, Goldhaber SZ, et al. The design and rationale for the Acute Medically Ill Venous Thromboembolism Prevention with Extended Duration Betrixaban (APEX) study. Am Heart J. 2014;167:335-41. com superioridade na prevenção de tromboembolismo venoso em comparação com a enoxaparina, o que não foi conseguido de maneira contundente pelo apixaban e a rivaroxabana. É também um inibidor seletivo e reversível do fator Xa, que apresenta pico plasmático em 3?4 horas, biodisponibilidade de 34% e ligação a proteínas plasmáticas de 60%.105105 Chan NC, Bhagirath V, Eikelboom JW. Profile of betrixaban and its potential in the prevention and treatment of venous thromboembolism. Vasc Health Risk Manag. 2015;11:343-51.

O betrixaban exibe um perfil farmacocinético menos dependente da função renal, sendo que essa corresponde a somente 5% a 11% da excreção da droga, sendo que a imensa maioria é eliminada de forma primária, ou seja, sem metabólitos ativos pelo sistema hepatobiliar. Possui uma meia-vida de eliminação de 37 horas, enquanto os efeitos farmacodinâmicos apresentam-se evidentes em 19 a 27 horas.105105 Chan NC, Bhagirath V, Eikelboom JW. Profile of betrixaban and its potential in the prevention and treatment of venous thromboembolism. Vasc Health Risk Manag. 2015;11:343-51.,106106 Chan NC, Hirsh J, Ginsberg JS, et al. Betrixaban (PRT054021): pharmacology, dose selection and clinical studies. Future Cardiol. 2014;10:43-52. O betrixaban é indicado para pacientes hospitalizados submetidos a protocolos de profilaxia para TEV, com a ressalva da necessidade de verificação do perfil hepático e renal desses pacientes para posterior ajuste da dose.

Recomendações

  1. Sugere-se a suspensão de betrixaban 72 horas antes de procedimentos no neuroeixo. Se houver necessidade de procedimentos no neuroeixo antes desse período, deve-se checar os níveis de betrixaban ou fator anti-Xa (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Sugere-se a suspensão de bloqueios de neuroeixo em pacientes com ClCr menor que 30 mL.min-1 (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Sugere-se que cateteres no neuroeixo sejam removidos 5 horas antes da próxima dose de betrixaban (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Após doses imprevistas de betrixaban, sugerem-se dosagens seriadas do fármaco durante as 72 horas seguintes, antes da retirada do cateter (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Inibidores da trombina

Dabigatrana (Pradaxa®)

Dabigatrana é um pró-fármaco que, após conversão no princípio ativo, torna-se um inibidor reversível da trombina, administrado por via oral e aprovado para profilaxia de TVP em pacientes submetidos a cirurgia de prótese de quadril ou joelho.7575 Weitz JI, Eikelboom JW, Samama MM. New antithrombotic drugs: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e120S-e51S. Lançado no Brasil em 2011 após os resultados obtidos no estudo RE-LY,107107 Connolly SJ, Ezekowitz MD, Yusuf S, et al. Dabigatran versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2009;361:1139-51. este composto tem meia-vida de 12 a 17 horas e é eliminado principalmente, majoritariamente, por via renal. Após sua administração, os níveis plasmáticos máximos são atingidos em 2 a 4 horas.108108 Horlocker Tt. Regional anaesthesia in the patient receiving antithrombotic and antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2011;107:i96-106.,109109 Stangier J, Clemens A. Pharmacology, pharmacokinetics, and pharmacodynamics of dabigatran etexilate, an oral direct thrombin inhibitor. Clin Appl Thromb Hemost. 2009;15:9S-16S.

O tratamento é iniciado 1 a 4 horas após a cirurgia, com doses que variam de 75 mg (clearance de creatinina entre 30 a 50 mL.min-1) a 110 mg (função renal normal). A dose é aumentada para 150 mg a 220 mg nos dias subsequentes. O dabigatran prolonga o TTPa, sem efeito linear. O Tempo de Trombina (TT) é particularmente sensível, sendo referência para controle da anticoagulação, com linearidade entre dose-resposta nas concentrações terapêuticas.108108 Horlocker Tt. Regional anaesthesia in the patient receiving antithrombotic and antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2011;107:i96-106.,109109 Stangier J, Clemens A. Pharmacology, pharmacokinetics, and pharmacodynamics of dabigatran etexilate, an oral direct thrombin inhibitor. Clin Appl Thromb Hemost. 2009;15:9S-16S.

A eficácia da dabigatrana (220 mg) na prevenção da TVP é comparável com a enoxaparina (40 mg.dia-1) e sem aumento do sangramento.110110 Eriksson BI, Dahl OE, Rosencher N, et al. Oral dabigatran etexilate vs. subcutaneous enoxaparin for the prevention of venous thromboembolism after total knee replacement: the RE-MODEL randomized trial. J Thromb Haemost. 2007;5:2178-85. Estudos preliminares com a dabigatrana e bloqueio no neuroexeixo foram realizados respeitando a remoção do cateter peridural com 4 a 6 horas antes da primeira dose. Não há estudo com pacientes em uso de dabigatrana e utilização de cateter peridural, pois os estudos são limitados e nenhum com uso contínuo de cateter peridural, pois em todos os casos foram retirados com até 2 horas após término da cirurgia, e de 4 a 6 horas antes da primeira dose de dabigatrana.110110 Eriksson BI, Dahl OE, Rosencher N, et al. Oral dabigatran etexilate vs. subcutaneous enoxaparin for the prevention of venous thromboembolism after total knee replacement: the RE-MODEL randomized trial. J Thromb Haemost. 2007;5:2178-85.,111111 Fuji T, Fuijita S, Ujihira T, et al. Dabigatran etexilate prevents venous thromboembolism after total knee arthroplasty in Japanese patients with a safety profile comparable to placebo. J Arthroplasty. 2010;25:1267-74. A dabigatrana não foi utilizada se um cateter peridural permaneceu no local para alívio da dor no pós-operatório.110110 Eriksson BI, Dahl OE, Rosencher N, et al. Oral dabigatran etexilate vs. subcutaneous enoxaparin for the prevention of venous thromboembolism after total knee replacement: the RE-MODEL randomized trial. J Thromb Haemost. 2007;5:2178-85.,112112 Rosencher N, Noack H, Feuring M, et al. Type of anaesthesia and the safety and efficacy of thromboprophylaxis with enoxaparin or dabigatran etexilate in major orthopaedic surgery: pooled analysis of three randomized controlled trials. Thromb J. 2012;10:9.

O efeito da dabigatran pode ser revertido pelo idarucizumabe, um fragmento de anticorpo monoclonal que se liga à dabigatrana e reverte seus efeitos anticoagulantes. Um ensaio clínico em pacientes com sangramento ou necessitando de cirurgia urgente demonstrou que o idarucizumabe reverteu completamente o efeito anticoagulante da dabigatrana em poucos minutos.113113 Pollack CV, Reilly PA, Eikelboom J, et al. Idarucizumab for Dabigatran Reversal. N Engl J Med. 2015;373:511-20.,114114 Pollack CV, Reilly PA, Weitz JI. Dabigatran Reversal with Idarucizumab. N Engl J Med. 2017;377:1691-2.

Recomendações

  1. Sugere-se a suspensão de dabigatrana 120 horas antes de um bloqueio no neuroeixo. Entretanto, se existe uma função renal confiável e não há fatores de risco para sangramento (idade maior que 65 anos, hipertensão e medicações antiplaquetárias concomitantes), esse período deve ser reavaliado (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Sugere-se a suspensão de dabigatrana cerca de 72 horas antes para pacientes que possuem CrCl maior ou igual a 80 mL.min-1 (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Sugere-se a suspensão de dabigatrana cerca de 96 horas antes para pacientes que possuem CrCl entre 50?79 mL.min-1 (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Sugere-se a suspensão de dabigatrana cerca de 120 horas antes para pacientes que possuem CrCl entre 30?49 mL.min-1 (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  5. Sugere-se não realizar bloqueios de neuroeixo em pacientes em uso de dabigatrana que possuem CrCl menor que 30 mL.min-1 (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  6. Sugere-se que cateteres de neuroeixo sejam removidos 6 horas antes da primeira dose de dabigatrana pós-operatória (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  7. Se ocorrer uma administração imprevista de dabigatrana e houver um cateter em neuroeixo, considerar dosagem do fármaco cerca 34?36 horas após (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Argatroban (Acova®)

Derivado do ácido carboxílico, que se liga de forma não covalente à trombina, o argatroban é um inibidor direto reversível da trombina, administrado de forma intravenosa, que se liga às diferentes formas de trombina (livre ou ligada ao coágulo).115115 Kaplan KL. Direct thrombin inhibitors. Expert Opin Pharmacother. 2003;4:653-66.,116116 Kathiresan S, Shiomura J, Jang IK. Argatroban. J Thromb Thrombolysis. 2002;13:41-7. O argatroban é indicado em pacientes com trombose associada a trombocitopenia, Induzida por Heparina (TIH) pela ausência de interação com o Fator Plaquetário 4 (FP4).33 Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31.

O argatroban é administrado intravenoso de forma contínua e é eliminado exclusivamente pelo fígado, podendo ser utilizado em caso de insuficiência renal. A dose de 0,5 a 2 µg.kg.min-1 é ajustada para manter o TTPa entre 1,5 e 3 do valor normal. Em pacientes com boa função hepática, a normalização do TTPa ocorre com 2 a 4 horas do fim da infusão em virtude da meia-vida curta, de 35 a 45 minutos.117117 Yeh RW, Jang IK. Argatroban: update. Am Heart J. 2006;151:1131-8.

Recomendações

Se o paciente estiver usando o argatroban terapêutico devido ao diagnóstico de TIH aguda, o tratamento não deve ser descontinuado em virtude do risco de tromboembolismo; portanto, o bloqueio está contraindicado (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Desirudina (Iprivask ®), bivalirudina (Angiomax®) e lepirudina (Refludan®)

As hirudinas recombinantes, desirudina, bivalirudina e lepirudina, são da primeira geração dos inibidores diretos da trombina e administradas por via parenteral. Não apresentam interação com o Fator Plaquetário 4 (FP4) e, portanto, não desencadeiam trombocitopenia Induzida por Heparina (TIH). A desirudina é indicada para a profilaxia de TVP e a lepirudina para tratamento de TVP em pacientes com história de TIH.1313 Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.

Tanto a lepirudina como a desirudina têm meia-vida de 1,3 a 2 horas, que aumenta significantemente na insuficiência renal. Devido ao risco potencial para sangramentos, o efeito anticoagulante das hirudinas deve ser rotineiramente monitorizado com TTPa ou ECT (Ecarin Clotting Time).118118 Greinacher A. Lepirudin: a bivalent direct thrombin inhibitor for anticoagulation therapy. Expert Rev Cardiovasc Ther. 2004;2:339-57.

Recomendação

Para pacientes recebendo inibidores de trombina endovenosa, recomenda-se a suspensão de bloqueio do neuroeixo (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Bloqueio do neuroeixo e exames laboratoriais

Consensos atuais determinam que o bloqueio no neuroeixo não deve ser realizado em pacientes com trombocitopenia, entretanto, nenhum deles determina o limite mínimo do número de plaquetas para a realização do bloqueio no neuroeixo.99 Green L, Machin SJ. Managing anticoagulated patients during neuraxial anaesthesia. Br J Haematol. 2010;149:195-208. A função plaquetária parece ser mais importante do que o número isolado de plaquetas,119119 Abramovitz S, Beilin Y. Thrombocytopenia, low molecular weight heparin, and obstetric anesthesia. Anesthesiol Clin North Am. 2003;21:99-109. e pesquisas na área de anestesia obstétrica sugerem ser aceitável a contagem ˃ 50.000 mm3 com função preservada, enquanto contagem ˃ 100.000 mm3 é aceitável sem considerar o teste de avaliação da função plaquetária.120120 Douglas MJ. Coagulation abnormalities and obstetric anaesthesia. Can J Anaesth. 1991;38:R17-25.,121121 Schindler M, Gatt S, Isert P, et al. Thrombocytopenia and platelet functional defects in pre-eclampsia: implications for regional anaesthesia. Anaesth Intensive Care. 1990;18:169-74.

Estudo122122 Lee LO, Bateman BT, Kheterpal S, et al. Risk of Epidural Hematoma after Neuraxial Techniques in Thrombocytopenic Parturients: A Report from the Multicenter Perioperative Outcomes Group. Anesthesiology. 2017;126:1053-63. avaliando 573 parturientes submetidas a anestesia do neuroeixo (peridural e subaracnóidea) e contagem ˂ 100.000 mm3 não mostrou caso de HEP nem mesmo nas 15 pacientes com contagem plaquetária abaixo de 50.000 mm3. Nesse mesmo estudo foi realizada revisão sistemática utilizando outros relatos da literatura para o cálculo do risco de HEP em parturientes com trombocitopenia, e foi encontrado que o risco de hematoma em pacientes com contagem ˃70.000 mm3 é extremamente baixo (< 0,2%). Entretanto, o risco exato de HEP com contagem de plaquetas ˂ 70.000 mm3 permanece incerto, com limite superior de 3% para contagens de 50.000 a 69.000 mm3 e 11% para contagens ˂ 49.000 mm3. Essa incerteza deve ser considerada pelos profissionais ao se fazer a difícil avaliação de risco e benefício da anestesia no neuroeixo em parturientes com uma contagem de plaquetas abaixo de 70.000 mm3.

Na ausência de fatores de risco, contagem de plaquetas ˃ 80.000 mm3 é considerada segura para a realização de bloqueios subaracnóideos/peridurais, e contagem ˃ 40.000 mm3, para punção lombar simples.123123 Van Veen JJ, Nokes TJ, Makris M. The risk of spinal haematoma following neuraxial anaesthesia or lumbar puncture in thrombocytopenic individuals. Br J Haematol. 2010;148:15-25. Revisão sistemática mostrou não haver evidências suficientes para se recomendar transfusão profilática de plaquetas em pacientes trombocitopênicos com o intuito de reduzir o risco de HEP em pacientes submetidos a anestesia do neuroeixo.124124 Estcourt LJ, Malouf R, Hopewell S, et al. Use of platelet transfusions prior to lumbar punctures or epidural anaesthesia for the prevention of complications in people with thrombocytopenia. Cochrane Database Syst Rev. 2018;4:Cd011980.

Quanto à hemostasia secundária, o nível de atividade de 40% de cada fator é adequado para hemostasia normal ou próxima ao normal.8181 Xi M, Beguin S, Hemker HC. The relative importance of the factors II, VII, IX and X for the prothrombinase activity in plasma of orally anticoagulated patients. Thromb Haemost. 1989;62:788-91. IRN de 1,5 está associado a atividade do fator VII de 40%. O sangramento pode ocorrer se o nível de qualquer fator de coagulação estiver reduzido a 20%?40% do seu valor habitual.8383 Enneking FK, Benzon H. Oral anticoagulants and regional anesthesia: a perspective. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:140-5.

Recomendações

  1. Bloqueios subaracnóideos ou peridurais, na ausência de fatores de risco para sangramento, poderão ser realizados com contagem plaquetária ˃ 80.000 mm3 (2 C).123123 Van Veen JJ, Nokes TJ, Makris M. The risk of spinal haematoma following neuraxial anaesthesia or lumbar puncture in thrombocytopenic individuals. Br J Haematol. 2010;148:15-25.

  2. Deve-se considerar IRN menor que 1,5 para a realização, com segurança, de bloqueios do neuroeixo (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Considerações durante a gravidez

Embora haja risco aumentado de trombose durante gravidez normal, os eventos tromboembólicos apresentam baixa incidência nos períodos perigestacionais. O tromboembolismo venoso, porém, é uma das causas mais comuns de morbimortalidade materna, especialmente em países desenvolvidos.125125 D’Alton ME, Friedman AM, Smiley RM, et al. National Partnership for Maternal Safety: Consensus Bundle on Venous Thromboembolism. Anesth Analg. 2016;123:942-9. Fatores de risco comuns que aumentam a incidência de trombose em mulheres grávidas inclui a idade acima de 35 anos, imobilização prolongada, obesidade, trombofilia, tromboembolismo prévio e parto cesáreo.126126 Bates SM, Middeldorp S, Rodger M, et al. Guidance for the treatment and prevention of obstetric-associated venous thromboembolism. J Thromb Thrombolysis. 2016;41:92-128.,127127 Bates SM, Greer IA, Middeldorp S, et al. VTE, thrombophilia, antithrombotic therapy, and pregnancy: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e691S-736S.

Na maioria das mulheres saudáveis ??com gravidez e parto vaginal sem complicações, os benefícios da tromboprofilaxia não superam os riscos maternos e fetais. No entanto, para condições maternas como trombofilia adquirida ou hereditária, e para mulheres em repouso prolongado, os benefícios da tromboprofilaxia podem superar os riscos. Assim, o uso de anticoagulação para prevenção de tromboembolismo em pacientes está se tornando mais frequente.128128 Ansari J, Carvalho B, Shafer SL, et al. Pharmacokinetics and Pharmacodynamics of Drugs Commonly Used in Pregnancy and Parturition. Anesth Analg. 2016;122:786-804.

A incidência de HEP após bloqueio neuroaxial (com ou sem hemostasia alterada) no paciente obstétrico é muito difícil de determinar. Bateman e cols. avaliaram 142.287 pacientes submetidos a anestesia peridural/analgesia e encontraram sete casos de hematomas peridurais com necessidade de laminectomia de descompressão, resultando em uma incidência de HEP de 1:22.189. No entanto, nenhum dos casos se referia a pacientes obstétricos, o que sugere que pacientes obstétricas submetidas a implante de cateter peridural apresentam risco significativamente menor de HEP em comparação com pacientes cirúrgicos não obstétricos.129129 Bateman BT, Mhyre JM, Ehrenfeld J, et al. The risk and outcomes of epidural hematomas after perioperative and obstetric epidural catheterization: a report from the Multicenter Perioperative Outcomes Group Research Consortium. Anesth Analg. 2013;116:1380-5.

O estado relativamente hipercoagulável da gravidez pode ser protetor e oferece possível motivo para a menor taxa de hematomas neuroaxiais nessa população. As alterações anatômicas normais que ocorrem na coluna vertebral com o envelhecimento podem fornecer outra explicação para a diferença na incidência. A prevalência de doença vascular, osteoporose e alterações degenerativas da coluna aumenta com a idade, resultando, por fim, em uma diminuição do volume do espaço peridural. Por outro lado, a paciente obstétrica mais jovem possui um espaço peridural mais complacente, com capacidade de acomodar um volume maior de sangue antes do início dos sintomas.129129 Bateman BT, Mhyre JM, Ehrenfeld J, et al. The risk and outcomes of epidural hematomas after perioperative and obstetric epidural catheterization: a report from the Multicenter Perioperative Outcomes Group Research Consortium. Anesth Analg. 2013;116:1380-5.

O bloqueio no neuroeixo é essencial para o cuidado da paciente obstétrica, em comparação com modos alternativos de tratamento da dor. Para o trabalho de parto, a analgesia neuraxial proporciona alívio superior da dor a outras modalidades analgésicas e diminui os níveis circulantes de catecolaminas, o que pode ser particularmente benéfico para pacientes com distúrbios hipertensivos da gravidez ou comorbidades preexistentes. Da mesma forma, no parto cesáreo, a anestesia no neuroeixo tem muitos benefícios maternos e fetal em comparação com a anestesia geral, incluindo diminuição do risco de complicações pulmonares, além de possibilitar a melhor relação mãe-bebê imediatamente após o parto.130130 Algert CS, Bowen JR, Giles WB, et al. Regional block versus general anaesthesia for caesarean section and neonatal outcomes: a population-based study. BMC Med. 2009;7:20.

131 Beckmann M, Calderbank S. Mode of anaesthetic for category 1 caesarean sections and neonatal outcomes. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 2012;52:316-20.
-132132 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, et al. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:Cd003519.

Alterações fisiológicas durante a gravidez resultam em aumento no volume de distribuição, depuração, biodisponibilidade e metabolismo de muitos medicamentos, e podem levar à diminuição do efeito de pico e à diminuição das concentrações plasmáticas ao longo do tempo após a administração de anticoagulantes. Assim, há recomendação de profilaxia com heparina não fracionada com dosagem maior que a habitual.128128 Ansari J, Carvalho B, Shafer SL, et al. Pharmacokinetics and Pharmacodynamics of Drugs Commonly Used in Pregnancy and Parturition. Anesth Analg. 2016;122:786-804.,133133 Brancazio LR, Roperti KA, Stierer R, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of subcutaneous heparin during the early third trimester of pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 1995;173:1240-1245.,134134 Lebaudy C, Hulot JS, Amoura Z, et al. Changes in enoxaparin pharmacokinetics during pregnancy and implications for antithrombotic therapeutic strategy. Clin Pharmacol Ther. 2008;84:370-7.

Quando se utiliza HNF, as doses recomendadas são de 7500 a 10.000 UI de 12/12 horas ou até 20.000 UI diárias por via subcutânea. Quando em terapia profilática, nessas doses, o bloqueio neuraxial deve ser realizado após 12 horas da administração da última dose. Quando em uso de doses terapêuticas, ultrapassando 10.000 UI por dose ou 20000 UI diárias, o bloqueio deve ser realizado 24 horas após a administração da última dose.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

A preferência de profilaxia ou terapia em nosso meio é a HBPM. As doses recomendadas são semelhantes às dos pacientes não obstétricos. A enoxaparina profilática utilizada é de 40 mg diários para pacientes entre 50 e 90 kg, 60 mg, entre 91 e 130 kg, e 80 mg para aquelas acima de 130 kg. As doses terapêuticas são de 1 mg.kg-1 de 12/12 horas. Mantendo-se as recomendações quanto ao tempo de uso da medicação e o tempo de bloqueio igual para pacientes obstétricas e não obstétricas.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,135135 Friedman AM, D’Alton ME. Venous thromboembolism bundle: Risk assessment and prophylaxis for obstetric patients. Semin Perinatol. 2016;40:87-92.

Recomendações

  1. Dados farmacológicos são limitados com relação aos agentes antitrombóticos na gravidez. Na ausência de uma grande série de casos com bloqueio do neuroeixo na população gestante em uso de profilaxia ou tratamento para TEV, sugerimos que as mesmas diretrizes gerais sejam aplicadas às parturientes (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Em circunstâncias que envolvem parturientes de alto risco que recebem profilaxia para TEV e requerem intervenções urgentes para indicações maternas ou fetais, e havendo risco maior de anestesia geral do que a anestesia no neuroeixo sugeriu modificações nas diretrizes, com seguimento por avaliação neurológica a cada 2 horas após recuperação da anestesia (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Gestantes em uso de HNF profilática na dose de 7.500?10.000 UI de 12/12 horas ou abaixo de 20.000 UI.dia-1, sugerimos intervalo de 12 horas entre a última dose e a punção do neuroeixo. Nas parturientes em uso de doses terapêuticas, ou seja, acima de 10.000 UI por dose ou dose total diária maior que 20.000 UI, sugerimos um intervalo de 24 horas entre a última dose e o bloqueio de neuroeixo (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  4. Para parturientes em tromboprofilaxia pré-operatória com HBPM, é recomendado bloqueio do neuroeixo após 12 horas da última dose de HBPM (1 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.,1515 Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.

  5. Para parturientes com doses terapêuticas de HBPM, como enoxaparina 1 mg.kg-1 a cada 12 horas, enoxaparina 1.5 mg.kg-1 por dia, dalteparina 120 UI.kg-1 a cada 12 horas, dalteparina 200 UI.kg-1 por dia, ou tinzaparina 175 UI.kg-1 por dia, é recomendado um intervalo de pelo menos 24 horas entre a última dose e o bloqueio no neuroeixo para assegurar hemostasia normal (2 C).22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Bloqueio do plexo e periférico no paciente anticoagulado

Embora o HEP seja a maior complicação hemorrágica da anestesia regional, devido à natureza catastrófica de sangramento em espaço restrito e não compressível, o risco associado após bloqueios de plexo e nervos periféricos permanece indefinido.11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15. Os casos publicados de sangramento/hematomas clinicamente significativos após técnicas de plexo ou periféricos, tanto em pacientes com hemostasia normal como naqueles em uso de terapia antitrombótica e que apresentaram algum grau de déficit neurológico, apresentaram recuperação satisfatória da função nervosa entre 6 a 12 meses. Assim, enquanto o sangramento em uma bainha neurovascular pode resultar em reduções significativas no hematócrito, a natureza expansível do local periférico pode diminuir a chance de isquemia neural irreversível.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

Observa-se, na literatura, casos de complicações hemorrágicas em pacientes submetidos a bloqueios de nervos periféricos tanto com hemostasia normal136136 Kurzel RB, Au AH, Rooholamini SA. Retroperitoneal hematoma as a complication of pudendal block. Diagnosis made by computed tomography. West J Med. 1996;164:523-5.

137 Mishio M, Matsumoto T, Okuda Y, et al. Delayed severe airway obstruction due to hematoma following stellate ganglion block. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:516-9.
-138138 Singh SK, Katyal S, Kumar A, et al. Massive hemothorax: A rare complication after supraclavicular brachial plexus block. Anesthesia, essays and researches. 2014;8:410-2. como em pacientes em uso de terapia antitrombótica ou coagulopatias.139139 Clendenen SR, Robards CB, Wang RD, et al. Case report: continuous interscalene block associated with neck hematoma and postoperative sepsis. Anesth Analg. 2010;110:1236-8.

140 Parvaiz MA, Korwar V, McArthur D, et al. Large retroperitoneal haematoma: an unexpected complication of ilioinguinal nerve block for inguinal hernia repair. Anaesthesia. 2012;67:80-1.

141 Rodriguez J, Taboada M, Garcia F, et al. Intraneural hematoma after nerve stimulation-guided femoral block in a patient with factor XI deficiency: case report. J Clin Anesth. 2011;23:234-7.
-142142 Warner Ns, Duncan Cm, Kopp Sl. Acute Retroperitoneal Hematoma After Psoas Catheter Placement in a Patient with Myeloproliferative Thrombocytosis and Aspirin Therapy. A A Case Rep. 2016;6:28-30. Embora a maioria dos casos evoluiu sem dano neurológico, houve prolongamento da estadia hospitalar, com prejuízo e insatisfação do paciente, assim como necessidade de transfusão de concentrados de hemácias. Em um caso houve morte por sangramento maciço.143143 Maier C, Gleim M, Weiss T, et al. Severe bleeding following lumbar sympathetic blockade in two patients under medication with irreversible platelet aggregation inhibitors. Anesthesiology. 2002;97:740-3.

A diretriz de 2018 da American Society of Regional Anesthesia revisou todos os casos de complicações hemorrágicas relacionadas a bloqueios de plexos profundos ou nervo periférico.22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309. Foi encontrada uma série de 32 casos, sendo 14 casos em pacientes com hemostasia normal e 18 casos em pacientes em uso de medicação antitrombótica ou história de coagulopatia. A maioria das complicações hemorrágicas graves ocorreu durante a realização de bloqueios de plexos profundos. Uma interessante observação é que em nenhum caso a ultrassonografia foi utilizada como método de localização do nervo periférico ou plexo profundo.

Com o uso cada vez maior da ultrassonografia para auxiliar bloqueios periféricos e de plexo, o número de complicações, como punção vascular, diminuiu devido à visualização dinâmica das estruturas adjacentes ao nervo a ser bloqueado.144144 Marhofer P, Willschke H, Kettner S. Current concepts and future trends in ultrasound-guided regional anesthesia. Curr Opin Anaesthesiol. 2010;23:632-6. Isso aumenta a segurança em pacientes em uso de fármacos que afetam a coagulação ou com alterações inatas da hemostasia em que a anestesia regional é um desafio.145145 Abrahams MS, Aziz MF, Fu RF, et al. Ultrasound guidance compared with electrical neurostimulation for peripheral nerve block: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Br J Anaesth. 2009;102:408-17. Apesar de pequena, uma série de 9 casos recentes mostrou que o uso da ultrassonografia para guiar bloqueios de nervos periféricos superficiais em pacientes anticoagulados ou antiagregados é segura, e não resultou em nenhum caso de hemorragia quando utilizada por mãos experientes.146146 Martins LE, Ferraro LH, Takeda A, et al. Ultrasound-guided peripheral nerve blocks in anticoagulated patients - case series. Rev Bras Anestesiol. 2017;67:100-6.

Recomendações

  1. Para pacientes submetidos a bloqueio profundos (bloqueios paravertebrais, plexo lombar, simpático lombar etc.) ou ao redor do neuroeixo, recomendamos adotar as mesmas recomendações referentes às técnicas para bloqueio do neuroeixo (1 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  2. Para pacientes submetidos a bloqueios superficiais ou técnicas periféricas, o anestesiologista deve considerar a realização do bloqueio em uso de medicação antitrombótica de acordo com compressibilidade do local, vascularização e consequências do sangramento, caso ocorra (2 C).11 Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.,22 Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.

  3. Até a realização de estudos maiores, essa força tarefa sugere o uso da ultrassonografia para realização de bloqueios periféricos superficiais e profundos com o intuito de reduzir o risco de punção vascular inadvertida (2 C).146146 Martins LE, Ferraro LH, Takeda A, et al. Ultrasound-guided peripheral nerve blocks in anticoagulated patients - case series. Rev Bras Anestesiol. 2017;67:100-6.

References

  • 1
    Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol. 2014;64:1-15.
  • 2
    Horlocker Tt, Vandermeuelen E, Kopp Sl, et al. Regional Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Thrombolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg Anesth Pain Med. 2018;43:263-309.
  • 3
    Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121-31.
  • 4
    Horlocker TT, Wedel DJ, Schroeder DR, et al. Preoperative antiplatelet therapy does not increase the risk of spinal hematoma associated with regional anesthesia. Anesth Analg. 1995;80:303-9.
  • 5
    Stafford-Smith M. Impaired haemostasis and regional anaesthesia. Can J Anaesth. 1996;43:R129-41.
  • 6
    Horlocker TT, Wedel DJ. Anticoagulation and neuraxial block: historical perspective, anesthetic implications, and risk management. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:129-34.
  • 7
    Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological complications after central neuraxial blockades in Sweden 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950-9.
  • 8
    Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and spinal-epidural anesthesia. Anesth Analg. 1994;79:1165-77.
  • 9
    Green L, Machin SJ. Managing anticoagulated patients during neuraxial anaesthesia. Br J Haematol. 2010;149:195-208.
  • 10
    Tryba M. Epidural regional anesthesia and low molecular heparin: Pro. Anasthesiol Intensivmed Notfallmed Schmerzther. 1993;28:179-81.
  • 11
    Cameron CM, Scott DA, McDonald WM, et al. A review of neuraxial epidural morbidity: experience of more than 8,000 cases at a single teaching hospital. Anesthesiology. 2007;106:997-1002.
  • 12
    Cook TM, Counsell D, Wildsmith JA. Major complications of central neuraxial block: report on the Third National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists. Br J Anaesth. 2009;102:179-90.
  • 13
    Gogarten W, Vandermeulen E, Van Aken H, et al. Regional anaesthesia and antithrombotic agents: recommendations of the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2010;27:999-1015.
  • 14
    Horlocker Tt, Wedel Dj, Rowlingson Jc, et al. Regional anesthesia in the patient receiving antithrombotic or thrombolytic therapy: American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Third Edition). Reg Anesth Pain Med. 2010;35:64-101.
  • 15
    Narouze S, Benzon HT, Provenzano D, et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet and Anticoagulant Medications (Second Edition): Guidelines From the American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018;43:225-62.
  • 16
    Lawton MT, Porter RW, Heiserman JE, et al. Surgical management of spinal epidural hematoma: relationship between surgical timing and neurological outcome. J Neurosurg. 1995;83:1-7.
  • 17
    Tryba M, Wedel DJ. Central neuraxial block and low molecular weight heparin (enoxaparine): lessons learned from different dosage regimes in two continents. Acta Anaesthesiol Scand Suppl. 1997;111:100-4.
  • 18
    Wulf H. Epidural anaesthesia and spinal haematoma. Can J Anaesth. 1996;43:1260-71.
  • 19
    Popping DM, Zahn PK, Van Aken HK, et al. Effectiveness and safety of postoperative pain management: a survey of 18 925 consecutive patients between 1998 and 2006 (2nd revision): a database analysis of prospectively raised data. Br J Anaesth. 2008;101:832-40.
  • 20
    Meikle J, Bird S, Nightingale JJ, et al. Detection and management of epidural haematomas related to anaesthesia in the UK: a national survey of current practice. Br J Anaesth. 2008;101:400-4.
  • 21
    Breivik H, Bang U, Jalonen J, et al. Nordic guidelines for neuraxial blocks in disturbed haemostasis from the Scandinavian Society of Anaesthesiology and Intensive Care Medicine. Acta Anaesthesiol Scand. 2010;54:16-41.
  • 22
    D’alton ME, Friedman AM, Smiley RM, et al. National partnership for maternal safety: consensus bundle on venous thromboembolism. Obstet Gynecol. 2016;45:706-17.
  • 23
    Leffert L, Butwick A, Carvalho B, et al. The society for obstetric anesthesia and perinatology consensus statement on the anesthetic management of pregnant and postpartum women receiving thromboprophylaxis or higher dose anticoagulants. Anesth Analg. 2018;126:928-44.
  • 24
    Waurick K, Riess H, Van Aken H, et al. S1-Leitlinie Rückenmarksnahe regionalanästhesien und thrombembolieprophylaxe/antithrombotische medikation. Anästh Intensivmed. 2014;55:464-92.
  • 25
    Rosencher N, Bonnet MP, Sessler DI. Selected new antithrombotic agents and neuraxial anaesthesia for major orthopaedic surgery: management strategies. Anaesthesia. 2007;62:1154-60.
  • 26
    Singelyn FJ, Verheyen CC, Piovella F, et al. The safety and efficacy of extended thromboprophylaxis with fondaparinux after major orthopedic surgery of the lower limb with or without a neuraxial or deep peripheral nerve catheter: the EXPERT Study. Anesth Analg. 2007;105:1540-7.
  • 27
    Carabini LM, Ramsey GE. Hemostasis and transfusion medicine. In: In: Clinical Anesthesia. eighth edition Wolters Kluwer Health; 2017. p. 1088-91.
  • 28
    Cronberg S, Wallmark E, Soderberg I. Effect on platelet aggregation of oral administration of 10 non-steroidal analgesics to humans. Scand J Haematol. 1984;33:155-9.
  • 29
    Leese PT, Hubbard RC, Karim A, et al. Effects of celecoxib, a novel cyclooxygenase-2 inhibitor, on platelet function in healthy adults: a randomized, controlled trial. J Clin Pharmacol. 2000;40:124-32.
  • 30
    Greensite FS, Katz J. Spinal subdural hematoma associated with attempted epidural anesthesia and subsequent continuous spinal anesthesia. Anesth Analg. 1980;59:72-3.
  • 31
    Prevention of pulmonary embolism and deep vein thrombosis with low dose aspirin: Pulmonary Embolism Prevention (PEP) trial. Lancet. 2000;355:1295-302.
  • 32
    CLASP: a randomised trial of low-dose aspirin for the prevention and treatment of pre-eclampsia among 9364 pregnant women. CLASP (Collaborative Low-dose Aspirin Study in Pregnancy) Collaborative Group. Lancet. 1994;343:619-29.
  • 33
    Sibai BM, Caritis SN, Thom E, Shaw K, McNellis D. Low-dose aspirin in nulliparous women: safety of continuous epidural block and correlation between bleeding time and maternal-neonatal bleeding complications. National Institute of Child Health and Human Developmental Maternal-Fetal Medicine Network. Am J Obstet Gynecol. 1995;172:1553-7.
  • 34
    Horlocker TT, Bajwa ZH, Ashraf Z, et al. Risk assessment of hemorrhagic complications associated with nonsteroidal antiinflammatory medications in ambulatory pain clinic patients undergoing epidural steroid injection. Anesth Analg. 2002;95:1691-7.
  • 35
    Benzon HT, Wong HY, Siddiqui T, et al. Caution in performing epidural injections in patients on several antiplatelet drugs. Anesthesiology. 1999;91:1558-9.
  • 36
    Horlocker TT, Wedel DJ. Neuraxial block and low-molecular-weight heparin: balancing perioperative analgesia and thromboprophylaxis. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:164-77.
  • 37
    Hegi TR, Bombeli T, Seifert B, et al. Effect of rofecoxib on platelet aggregation and blood loss in gynaecological and breast surgery compared with diclofenac. Br J Anaesth. 2004;92:523-31.
  • 38
    Capodanno D, Ferreiro JL, Angiolillo DJ. Antiplatelet therapy: new pharmacological agents and changing paradigms. J Thromb Haemost. 2013;11:316-29.
  • 39
    Osta WA, Akbary H, Fuleihan SF. Epidural analgesia in vascular surgery patients actively taking clopidogrel. Br J Anaesth. 2010;104:429-32.
  • 40
    Kawaguchi S, Tokutomi S. A case of epidural hematoma associated with epidural catheterization which occurred on 12th days after the last medication of ticlopidine hydrochloride. Masui. 2002;51:526-8.
  • 41
    Mayumi T, Dohi S. Spinal subarachnoid hematoma after lumbar puncture in a patient receiving antiplatelet therapy. Anesth Analg. 1983;62:777-9.
  • 42
    Benzon HT, McCarthy RJ, Benzon HTA, et al. Determination of residual antiplatelet activity of clopidogrel before neuraxial injections. Br J Anaesth. 2011;107:966-71.
  • 43
    Asai F, Jakubowski JA, Naganuma H, et al. Platelet inhibitory activity and pharmacokinetics of prasugrel (CS-747) a novel thienopyridine P2Y12 inhibitor: a single ascending dose study in healthy humans. Platelets. 2006;17:209-17.
  • 44
    Douketis JD, Spyropoulos AC, Spencer FA, et al. Perioperative management of antithrombotic therapy: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e326S-e50S.
  • 45
    Oprea AD, Popescu WM. Perioperative management of antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2013;111:13-7.
  • 46
    Gurbel PA, Bliden KP, Butler K, et al. Randomized double-blind assessment of the ONSET and OFFSET of the antiplatelet effects of ticagrelor versus clopidogrel in patients with stable coronary artery disease: the ONSET/OFFSET study. Circulation. 2009;120:2577-85.
  • 47
    Sible AM, Nawarskas JJ. Cangrelor: A New Route for P2Y12 Inhibition. Cardiol Rev. 2017;25:133-9.
  • 48
    Akers WS, Oh JJ, Oestreich JH, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of a bolus and infusion of cangrelor: a direct, parenteral P2Y12 receptor antagonist. J Clin Pharmacol. 2010;50:27-35.
  • 49
    Angiolillo DJ, Firstenberg MS, Price MJ, et al. Bridging antiplatelet therapy with cangrelor in patients undergoing cardiac surgery: a randomized controlled trial. JAMA. 2012;307:265-74.
  • 50
    De Luca G. Glycoprotein IIb-IIIa inhibitors. Cardiovasc Ther. 2012;30:e242-54.
  • 51
    Schror K. The pharmacology of cilostazol. Diabetes Obes Metab. 2002;4:S14-9.
  • 52
    Kaneda T, Urimoto G, Suzuki T. Spinal epidural hematoma following epidural catheter removal during antiplatelet therapy with cilostazol. J Anesth. 2008;22:290-3.
  • 53
    Sacco RL, Diener HC, Yusuf S, et al. Aspirin and extended-release dipyridamole versus clopidogrel for recurrent stroke. N Engl J Med. 2008;359:1238-51.
  • 54
    Koenig-Oberhuber V, Filipovic M. New antiplatelet drugs and new oral anticoagulants. Br J Anaesth. 2016;117:ii74-84.
  • 55
    Rossini R, Musumeci G, Visconti LO, et al. Perioperative management of antiplatelet therapy in patients with coronary stents undergoing cardiac and non-cardiac surgery: a consensus document from Italian cardiological, surgical and anaesthesiological societies. EuroIntervention. 2014;10:38-46.
  • 56
    Feres F, Costa RA, Abizaid A, et al. Three vs twelve months of dual antiplatelet therapy after zotarolimus-eluting stents: the OPTIMIZE randomized trial. JAMA. 2013;310:2510-22.
  • 57
    Levine MS, Carucci LR, DiSantis DJ, et al. Consensus Statement of Society of Abdominal Radiology Disease-Focused Panel on Barium Esophagography in Gastroesophageal Reflux Disease. AJR Am J Roentgenol. 2016;207:1009-15.
  • 58
    Banerjee S, Angiolillo DJ, Boden WE, et al. Use of Antiplatelet Therapy/DAPT for Post-PCI Patients Undergoing Noncardiac Surgery. J Am Coll Cardiol. 2017;69:1861-70.
  • 59
    Kaluza GL, Joseph J, Lee JR, et al. Catastrophic outcomes of noncardiac surgery soon after coronary stenting. J Am Coll Cardiol. 2000;35:1288-94.
  • 60
    Devereaux PJ, Mrkobrada M, Sessler DI, et al. Aspirin in patients undergoing noncardiac surgery. N Engl J Med. 2014;370:1494-503.
  • 61
    Hirsh J, Bauer KA, Donati MB, et al. Parenteral anticoagulants: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:141S-59S.
  • 62
    Hirsh J, Raschke R, Warkentin TE, et al. Heparin: mechanism of action, pharmacokinetics, dosing considerations, monitoring, efficacy, and safety. Chest. 1995;108:258S-75S.
  • 63
    Ruff RL, Dougherty JH. Complications of lumbar puncture followed by anticoagulation. Stroke. 1981;12:879-81.
  • 64
    Davignon KR, Maslow A, Chaudrey A, et al. CASE 5 ‒ 2008: Epidural Hematoma: when is it safe to heparinize after the removal of an epidural catheter?. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2008;22:774-8.
  • 65
    Rosen Da, Hawkinberry Dw, Rosen Kr, et al. An epidural hematoma in an adolescent patient after cardiac surgery. Anesth Analg. 2004;98:966-9.
  • 66
    Liu SS, Mulroy MF. Neuraxial anesthesia and analgesia in the presence of standard heparin. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:157-63.
  • 67
    Roediger L, Larbuisson R, Lamy M. New approaches and old controversies to postoperative pain control following cardiac surgery. Eur J Anaesthesiol. 2006;23:539-50.
  • 68
    Ho AM, Chung DC, Joynt GM. Neuraxial blockade and hematoma in cardiac surgery: estimating the risk of a rare adverse event that has not (yet) occurred. Chest. 2000;117:551-5.
  • 69
    Chaney MA. Cardiac surgery and intrathecal/epidural techniques: at the crossroads?. Can J Anaesth. 2005;52:783-8.
  • 70
    Tryba M. European practice guidelines: thromboembolism prophylaxis and regional anesthesia. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:178-82.
  • 71
    Sandhu H, Morley-Forster P, Spadafora S. Epidural hematoma following epidural analgesia in a patient receiving unfractionated heparin for thromboprophylaxis. Reg Anesth Pain Med. 2000;25:72-5.
  • 72
    King CS, Holley AB, Jackson JL, et al. Twice vs three times daily heparin dosing for thromboembolism prophylaxis in the general medical population: A metaanalysis. Chest. 2007;131:507-16.
  • 73
    Working P. Association of Anaesthetists of Great B, Ireland, Obstetric Anaesthetists A, Regional Anaesthesia UK. Regional anaesthesia and patients with abnormalities of coagulation: the Association of Anaesthetists of Great Britain & Ireland The Obstetric Anaesthetists’ Association Regional Anaesthesia UK. Anaesthesia. 2013;68:966-72.
  • 74
    Sanderink GJ, Guimart CG, Ozoux ML, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of the prophylactic dose of enoxaparin once daily over 4 days in patients with renal impairment. Thromb Res. 2002;105:225-31.
  • 75
    Weitz JI, Eikelboom JW, Samama MM. New antithrombotic drugs: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e120S-e51S.
  • 76
    Warkentin TE, Levine MN, Hirsh J, et al. Heparin-induced thrombocytopenia in patients treated with low-molecular-weight heparin or unfractionated heparin. N Engl J Med. 1995;332:1330-5.
  • 77
    Douketis JD, Kinnon K, Crowther MA. Anticoagulant effect at the time of epidural catheter removal in patients receiving twice-daily or once-daily low-molecular-weight heparin and continuous epidural analgesia after orthopedic surgery. Thromb Haemost. 2002;88:37-40.
  • 78
    Bergqvist D, Lindblad B, Matzsch T. Risk of combining low molecular weight heparin for thromboprophylaxis and epidural or spinal anesthesia. Semin Thromb Hemost. 1993;19:147-51.
  • 79
    Wysowski DK, Talarico L, Bacsanyi J, et al. Spinal and epidural hematoma and low-molecular-weight heparin. N Engl J Med. 1998;338:1774-5.
  • 80
    Horlocker TT, Wedel DJ, Benzon H, et al. Regional anesthesia in the anticoagulated patient: defining the risks (the second ASRA Consensus Conference on Neuraxial Anesthesia and Anticoagulation). Reg Anesth Pain Med. 2003;28:172-97.
  • 81
    Xi M, Beguin S, Hemker HC. The relative importance of the factors II, VII, IX and X for the prothrombinase activity in plasma of orally anticoagulated patients. Thromb Haemost. 1989;62:788-91.
  • 82
    Ansell J, Hirsh J, Hylek E, et al. Pharmacology and management of the vitamin K antagonists: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008;133:160S-98S.
  • 83
    Enneking FK, Benzon H. Oral anticoagulants and regional anesthesia: a perspective. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:140-5.
  • 84
    Buvanendran A, Lubenow T, Majewski M, et al. The INR values at removal of epidural catheter in 4013 patients receiving warfarin. Anesthesiology. 2008;109:A427.
  • 85
    Parvizi J, Viscusi ER, Frank HG, et al. Can epidural anesthesia and warfarin be coadministered?. Clin Orthop Relat Res. 2007;456:133-7.
  • 86
    Liu SS, Buvanendran A, Viscusi ER, et al. Uncomplicated removal of epidural catheters in 4365 patients with international normalized ratio greater than 1.4 during initiation of warfarin therapy. Reg Anesth Pain Med. 2011;36:231-5.
  • 87
    Kwong LM, Muntz JE. Thromboprophylaxis dosing: the relationship between timing of first administration, efficacy, and safety. Am J Orthop (Belle Mead NJ). 2002;31:16-20.
  • 88
    Linkins LA, Dans AL, Moores LK, et al. Treatment and prevention of heparin-induced thrombocytopenia: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e495S-530S.
  • 89
    Eriksson BI, Quinlan DJ, Weitz JI. Comparative pharmacodynamics and pharmacokinetics of oral direct thrombin and factor xa inhibitors in development. Clin Pharmacokinet. 2009;48:1-22.
  • 90
    Eriksson BI, Borris LC, Friedman RJ, et al. Rivaroxaban versus enoxaparin for thromboprophylaxis after hip arthroplasty. N Engl J Med. 2008;358:2765-75.
  • 91
    Buller HR, Lensing AW, Prins MH, et al. A dose-ranging study evaluating once-daily oral administration of the factor Xa inhibitor rivaroxaban in the treatment of patients with acute symptomatic deep vein thrombosis: the Einstein-DVT Dose-Ranging Study. Blood. 2008;112:2242-7.
  • 92
    Dias C, Moore KT, Murphy J, et al. Pharmacokinetics, Pharmacodynamics, and Safety of Single-Dose Rivaroxaban in Chronic Hemodialysis. Am J Nephrol. 2016;43:229-36.
  • 93
    Kubitza D, Becka M, Wensing G, et al. Safety, pharmacodynamics, and pharmacokinetics of BAY 59-7939--an oral, direct Factor Xa inhibitor ‒ after multiple dosing in healthy male subjects. Eur J Clin Pharmacol. 2005;61:873-80.
  • 94
    Ozel O, Demircay E, Kircelli A, et al. Atypical Presentation of an Epidural Hematoma in a Patient Receiving Rivaroxaban After Total Hip Arthroplasty. Orthopedics. 2016;39:e558-60.
  • 95
    Radcliff KE, Ong A, Parvizi J, et al. Rivaroxaban-induced epidural hematoma and cauda equina syndrome after total knee arthroplasty: a case report. Orthop Surg. 2014;6:69-71.
  • 96
    Madhisetti KR, Mathew M, George M, et al. Spinal epidural haematoma following rivaroxaban administration after total knee replacement. Indian J Anaesth. 2015;59:519-21.
  • 97
    Eikelboom JW, Weitz JI. New anticoagulants. Circulation. 2010;121(13):1523-32.
  • 98
    Garcia D, Libby E, Crowther MA. The new oral anticoagulants. Blood. 2010;115:15-20.
  • 99
    Douxfils J, Chatelain C, Chatelain B, et al. Impact of apixaban on routine and specific coagulation assays: a practical laboratory guide. Thromb Haemost. 2013;110:283-94.
  • 100
    Lassen MR, Raskob GE, Gallus A, et al. Apixaban versus enoxaparin for thromboprophylaxis after knee replacement (ADVANCE-2): a randomised double-blind trial. Lancet. 2010;375:807-15.
  • 101
    Lassen MR, Raskob GE, Gallus A, et al. Apixaban or enoxaparin for thromboprophylaxis after knee replacement. N Engl J Med. 2009;361:594-604.
  • 102
    Granger CB, Alexander JH, McMurray JJ, et al. Apixaban versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2011;365:981-92.
  • 103
    Ruff CT, Giugliano RP, Antman EM, et al. Evaluation of the novel factor Xa inhibitor edoxaban compared with warfarin in patients with atrial fibrillation: design and rationale for the Effective aNticoaGulation with factor Xa next GEneration in Atrial Fibrillation-Thrombolysis In Myocardial Infarction study 48 (ENGAGE AF-TIMI 48). Am Heart J. 2010;160:635-41.
  • 104
    Cohen AT, Harrington R, Goldhaber SZ, et al. The design and rationale for the Acute Medically Ill Venous Thromboembolism Prevention with Extended Duration Betrixaban (APEX) study. Am Heart J. 2014;167:335-41.
  • 105
    Chan NC, Bhagirath V, Eikelboom JW. Profile of betrixaban and its potential in the prevention and treatment of venous thromboembolism. Vasc Health Risk Manag. 2015;11:343-51.
  • 106
    Chan NC, Hirsh J, Ginsberg JS, et al. Betrixaban (PRT054021): pharmacology, dose selection and clinical studies. Future Cardiol. 2014;10:43-52.
  • 107
    Connolly SJ, Ezekowitz MD, Yusuf S, et al. Dabigatran versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2009;361:1139-51.
  • 108
    Horlocker Tt. Regional anaesthesia in the patient receiving antithrombotic and antiplatelet therapy. Br J Anaesth. 2011;107:i96-106.
  • 109
    Stangier J, Clemens A. Pharmacology, pharmacokinetics, and pharmacodynamics of dabigatran etexilate, an oral direct thrombin inhibitor. Clin Appl Thromb Hemost. 2009;15:9S-16S.
  • 110
    Eriksson BI, Dahl OE, Rosencher N, et al. Oral dabigatran etexilate vs. subcutaneous enoxaparin for the prevention of venous thromboembolism after total knee replacement: the RE-MODEL randomized trial. J Thromb Haemost. 2007;5:2178-85.
  • 111
    Fuji T, Fuijita S, Ujihira T, et al. Dabigatran etexilate prevents venous thromboembolism after total knee arthroplasty in Japanese patients with a safety profile comparable to placebo. J Arthroplasty. 2010;25:1267-74.
  • 112
    Rosencher N, Noack H, Feuring M, et al. Type of anaesthesia and the safety and efficacy of thromboprophylaxis with enoxaparin or dabigatran etexilate in major orthopaedic surgery: pooled analysis of three randomized controlled trials. Thromb J. 2012;10:9.
  • 113
    Pollack CV, Reilly PA, Eikelboom J, et al. Idarucizumab for Dabigatran Reversal. N Engl J Med. 2015;373:511-20.
  • 114
    Pollack CV, Reilly PA, Weitz JI. Dabigatran Reversal with Idarucizumab. N Engl J Med. 2017;377:1691-2.
  • 115
    Kaplan KL. Direct thrombin inhibitors. Expert Opin Pharmacother. 2003;4:653-66.
  • 116
    Kathiresan S, Shiomura J, Jang IK. Argatroban. J Thromb Thrombolysis. 2002;13:41-7.
  • 117
    Yeh RW, Jang IK. Argatroban: update. Am Heart J. 2006;151:1131-8.
  • 118
    Greinacher A. Lepirudin: a bivalent direct thrombin inhibitor for anticoagulation therapy. Expert Rev Cardiovasc Ther. 2004;2:339-57.
  • 119
    Abramovitz S, Beilin Y. Thrombocytopenia, low molecular weight heparin, and obstetric anesthesia. Anesthesiol Clin North Am. 2003;21:99-109.
  • 120
    Douglas MJ. Coagulation abnormalities and obstetric anaesthesia. Can J Anaesth. 1991;38:R17-25.
  • 121
    Schindler M, Gatt S, Isert P, et al. Thrombocytopenia and platelet functional defects in pre-eclampsia: implications for regional anaesthesia. Anaesth Intensive Care. 1990;18:169-74.
  • 122
    Lee LO, Bateman BT, Kheterpal S, et al. Risk of Epidural Hematoma after Neuraxial Techniques in Thrombocytopenic Parturients: A Report from the Multicenter Perioperative Outcomes Group. Anesthesiology. 2017;126:1053-63.
  • 123
    Van Veen JJ, Nokes TJ, Makris M. The risk of spinal haematoma following neuraxial anaesthesia or lumbar puncture in thrombocytopenic individuals. Br J Haematol. 2010;148:15-25.
  • 124
    Estcourt LJ, Malouf R, Hopewell S, et al. Use of platelet transfusions prior to lumbar punctures or epidural anaesthesia for the prevention of complications in people with thrombocytopenia. Cochrane Database Syst Rev. 2018;4:Cd011980.
  • 125
    D’Alton ME, Friedman AM, Smiley RM, et al. National Partnership for Maternal Safety: Consensus Bundle on Venous Thromboembolism. Anesth Analg. 2016;123:942-9.
  • 126
    Bates SM, Middeldorp S, Rodger M, et al. Guidance for the treatment and prevention of obstetric-associated venous thromboembolism. J Thromb Thrombolysis. 2016;41:92-128.
  • 127
    Bates SM, Greer IA, Middeldorp S, et al. VTE, thrombophilia, antithrombotic therapy, and pregnancy: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141:e691S-736S.
  • 128
    Ansari J, Carvalho B, Shafer SL, et al. Pharmacokinetics and Pharmacodynamics of Drugs Commonly Used in Pregnancy and Parturition. Anesth Analg. 2016;122:786-804.
  • 129
    Bateman BT, Mhyre JM, Ehrenfeld J, et al. The risk and outcomes of epidural hematomas after perioperative and obstetric epidural catheterization: a report from the Multicenter Perioperative Outcomes Group Research Consortium. Anesth Analg. 2013;116:1380-5.
  • 130
    Algert CS, Bowen JR, Giles WB, et al. Regional block versus general anaesthesia for caesarean section and neonatal outcomes: a population-based study. BMC Med. 2009;7:20.
  • 131
    Beckmann M, Calderbank S. Mode of anaesthetic for category 1 caesarean sections and neonatal outcomes. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 2012;52:316-20.
  • 132
    Moore ER, Bergman N, Anderson GC, et al. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:Cd003519.
  • 133
    Brancazio LR, Roperti KA, Stierer R, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of subcutaneous heparin during the early third trimester of pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 1995;173:1240-1245.
  • 134
    Lebaudy C, Hulot JS, Amoura Z, et al. Changes in enoxaparin pharmacokinetics during pregnancy and implications for antithrombotic therapeutic strategy. Clin Pharmacol Ther. 2008;84:370-7.
  • 135
    Friedman AM, D’Alton ME. Venous thromboembolism bundle: Risk assessment and prophylaxis for obstetric patients. Semin Perinatol. 2016;40:87-92.
  • 136
    Kurzel RB, Au AH, Rooholamini SA. Retroperitoneal hematoma as a complication of pudendal block. Diagnosis made by computed tomography. West J Med. 1996;164:523-5.
  • 137
    Mishio M, Matsumoto T, Okuda Y, et al. Delayed severe airway obstruction due to hematoma following stellate ganglion block. Reg Anesth Pain Med. 1998;23:516-9.
  • 138
    Singh SK, Katyal S, Kumar A, et al. Massive hemothorax: A rare complication after supraclavicular brachial plexus block. Anesthesia, essays and researches. 2014;8:410-2.
  • 139
    Clendenen SR, Robards CB, Wang RD, et al. Case report: continuous interscalene block associated with neck hematoma and postoperative sepsis. Anesth Analg. 2010;110:1236-8.
  • 140
    Parvaiz MA, Korwar V, McArthur D, et al. Large retroperitoneal haematoma: an unexpected complication of ilioinguinal nerve block for inguinal hernia repair. Anaesthesia. 2012;67:80-1.
  • 141
    Rodriguez J, Taboada M, Garcia F, et al. Intraneural hematoma after nerve stimulation-guided femoral block in a patient with factor XI deficiency: case report. J Clin Anesth. 2011;23:234-7.
  • 142
    Warner Ns, Duncan Cm, Kopp Sl. Acute Retroperitoneal Hematoma After Psoas Catheter Placement in a Patient with Myeloproliferative Thrombocytosis and Aspirin Therapy. A A Case Rep. 2016;6:28-30.
  • 143
    Maier C, Gleim M, Weiss T, et al. Severe bleeding following lumbar sympathetic blockade in two patients under medication with irreversible platelet aggregation inhibitors. Anesthesiology. 2002;97:740-3.
  • 144
    Marhofer P, Willschke H, Kettner S. Current concepts and future trends in ultrasound-guided regional anesthesia. Curr Opin Anaesthesiol. 2010;23:632-6.
  • 145
    Abrahams MS, Aziz MF, Fu RF, et al. Ultrasound guidance compared with electrical neurostimulation for peripheral nerve block: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Br J Anaesth. 2009;102:408-17.
  • 146
    Martins LE, Ferraro LH, Takeda A, et al. Ultrasound-guided peripheral nerve blocks in anticoagulated patients - case series. Rev Bras Anestesiol. 2017;67:100-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    22 Nov 2019
  • Aceito
    21 Fev 2020
Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjan@sbahq.org