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Fitossociologia do componente lenhoso de um refúgio vegetacional no município de Buíque, Pernambuco

Phytosociology of the woody component in vegetacional refuge, Buíque, Pernambuco

Resumos

Com o objetivo de contribuir para o conhecimento da vegetação lenhosa das chapadas sedimentares do sertão de Pernambuco, foi realizada a caracterização fisionômica e a análise da estrutura da vegetação arbustiva perenifólia localizada em uma vertente a barlavento da serra do Catimbau, na propriedade sítio Cigano, Buíque (8°67'LS e 37°1' LW) a 800 m de altitude. Em cem pontos quadrantes, distribuídos em 10 linhas paralelas, interdistantes 30 m, cada uma com 10 pontos quadrantes distanciados 10 m, foram amostrados todos os indivíduos com diâmetro do caule > ou = 3 cm no nível do solo e altura total > ou = 1 m. Densidade total, área basal total, alturas e diâmetros médios e máximos foram de 2.207,7 ind./ha, 6,07 m²/ha, 2,3 m e 7,0 m, 5,1 cm e 21,96 cm, respectivamente, revelando um padrão fisionômico distinto das vegetações de caatinga e carrasco estudadas no nordeste do Brasil. Das 35 espécies amostradas, Eremanthus capitatus, Piptadenia obliqua, Gochnatia oligocephala, Senna cana var. cana e Eugenia punicifolia foram responsáveis por 63,3% do índice do valor de importância total. O índice de diversidade de Shannon para espécies foi de 2,73 nats/ind.

fitossociologia; refúgio vegetacional; semi-árido


Phytosociology of the woody component of a vegetacion refuge in the municipality of Buíque, Pernambuco. Physiognomy and structure of a evergreen shrub vegetation found on the windward slope of the Catimbau range, at the Cigano property, Buíque (8°67'LS and 37°1' LW, altitude 800 m) were determined, as a contribution to the knowledge of the vegetation on sedimentary plateaus of Pernambuco. The point centered quarter method was used with 100 points distributed in 10 parallel lines, each point 10 m and each line 30 m apart. All living and standing dead individuals with stem diameter > or = 3 cm at soil level and plant height > or = 1 m were sampled. Total density, total basal area, average and largest diameter and height were 2.208 ind./ha, 6.07 m²/ha, 5.1 cm and 22.0 cm and 2.3 m and 7 m, respectively, revealing a shrub pattern different from those of the caatinga and carrasco studied in Northeastern Brasil. Of the 35 sampled species, Eremanthus capitatus, Piptadenia obliqua, Gochnatia oligocephala, Senna cana var. cana and Eugenia punicifolia were reponsible for 63.3% of the importance value index total. Shannon diversity index for species was 2.73 nats/ind.

phytosociology; vegetational refuge; semi-arid


FITOSSOCIOLOGIA DO COMPONENTE LENHOSO DE UM REFÚGIO VEGETACIONAL NO MUNICÍPIO DE BUÍQUE, PERNAMBUCO1

MARIA JESUS NOGUEIRA RODAL,2 KARLA VITÓRIA DE ALMEIDA ANDRADE,3 MARGARETH FERREIRA SALES2 e ANA PAULA SOUSA GOMES4

1Trabalho financiado pelo projeto "Composição florística e diversidade dos brejos de altitude de Pernambuco" (Darwin Initiative/CNPq/PNE/UFRPE)

2Professora do Departamento de Biologia/UFRPE, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, CEP 52171-900, Dois Irmãos, Recife, PE

3Bolsista CNPq/PNE, herbário Professor Vasconcelos Sobrinho/Departamento de Biologia/UFRPE

4Aluna do programa de pós-graduação em Botânica da UFRPE

Correspondência para: Maria Jesus Nogueira Rodal, Rua José Moreira Leal, 303, apto. 201, CEP 51030-380, Recife, PE

Recebido em 14/05/97 ¾ Aceito em 02/06/98 ¾ Distribuído em 28/08/98

(Com 1 figura)

ABSTRACT

Phytosociology of the woody component in vegetacional refuge, Buíque, Pernambuco

Phytosociology of the woody component of a vegetacion refuge in the municipality of Buíque, Pernambuco. Physiognomy and structure of a evergreen shrub vegetation found on the windward slope of the Catimbau range, at the Cigano property, Buíque (8°67'LS and 37°1' LW, altitude 800 m) were determined, as a contribution to the knowledge of the vegetation on sedimentary plateaus of Pernambuco. The point centered quarter method was used with 100 points distributed in 10 parallel lines, each point 10 m and each line 30 m apart. All living and standing dead individuals with stem diameter ³ 3 cm at soil level and plant height ³ 1 m were sampled. Total density, total basal area, average and largest diameter and height were 2.208 ind./ha, 6.07 m2/ha, 5.1 cm and 22.0 cm and 2.3 m and 7 m, respectively, revealing a shrub pattern different from those of the caatinga and carrasco studied in Northeastern Brasil. Of the 35 sampled species, Eremanthus capitatus, Piptadenia obliqua, Gochnatia oligocephala, Senna cana var. cana and Eugenia punicifolia were reponsible for 63.3% of the importance value index total. Shannon diversity index for species was 2.73 nats/ind.

Key words: phytosociology, vegetational refuge, semi-arid.

RESUMO

Com o objetivo de contribuir para o conhecimento da vegetação lenhosa das chapadas sedimentares do sertão de Pernambuco, foi realizada a caracterização fisionômica e a análise da estrutura da vegetação arbustiva perenifólia localizada em uma vertente a barlavento da serra do Catimbau, na propriedade sítio Cigano, Buíque (8°67'LS e 37°1' LW) a 800 m de altitude. Em cem pontos quadrantes, distribuídos em 10 linhas paralelas, interdistantes 30 m, cada uma com 10 pontos quadrantes distanciados 10 m, foram amostrados todos os indivíduos com diâmetro do caule ³ 3 cm no nível do solo e altura total ³ 1 m. Densidade total, área basal total, alturas e diâmetros médios e máximos foram de 2.207,7 ind./ha, 6,07 m2/ha, 2,3 m e 7,0 m, 5,1 cm e 21,96 cm, respectivamente, revelando um padrão fisionômico distinto das vegetações de caatinga e carrasco estudadas no nordeste do Brasil. Das 35 espécies amostradas, Eremanthus capitatus, Piptadenia obliqua, Gochnatia oligocephala, Senna cana var. cana e Eugenia punicifolia foram responsáveis por 63,3% do índice do valor de importância total. O índice de diversidade de Shannon para espécies foi de 2,73 nats/ind.

Palavras-chave: fitossociologia, refúgio vegetacional, semi-árido.

INTRODUÇÃO

O Nordeste do Brasil apresenta uma área de aproximadamente 1.640.000 km2 e uma grande heterogeneidade de quadros naturais, que se revelam no clima e vegetação. O clima varia desde o superúmido até o semi-árido, que é limitado pela isoeta de 800 mm/ano e ocupa uma área de 800.000 km2 (Fernandes, 1996). A caatinga e o carrasco representam os tipos vegetacionais atualmente característicos da região semi-árida, enquanto as manchas de mata úmida, mata estacional, cerrado e cerradão, que ocorrem espalhadas pelo semi-árido, representam vegetações residuais de períodos climáticos mais úmidos (Fernandes, 1996).

Os técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística consideram que alguns dos tipos vegetacionais brasileiros representam áreas de tensão ecológica e refúgios vegetacionais (IBGE, 1992). Os primeiros ocorrem em locais onde as floras de duas ou mais regiões fitoecológicas distintas se justapõem ou interpenetram, sendo divididas em encraves e ecótonos, enquanto os refúgios se restringem a áreas de pequena dimensão, com vegetação floristicamente diferente do contexto geral da flora da região.

Particularmente nos planaltos e chapadas do semi-árido, ocorrem tipos vegetacionais residuais pouco estudados, como os encraves de mata úmida nos brejos de altitude (Lyra, 1982; Mayo & Fevereiro, 1982; Ferraz et al., 1998) e a vegetação arbustiva perenifólia das chapadas sedimentares, a qual representa refúgios vegetacionais formados por espécies de caatinga, floresta, campo rupestre e cerrado, dos quais pouco se conhece.

A vegetação arbustiva perenifólia das chapadas do semi-árido distingue-se dos diferentes tipos fisionômicos da caatinga pela completa caducifolia da maior parte dos componentes desta última formação, estratégia utilizada para enfrentar a deficiência hídrica durante a maior parte do ano (Rodal et al., 1992). O atual panorama dos levantamentos fitossociológicos no semi-árido mostra um incremento de trabalhos em áreas de caatinga (Souza, 1983; Santos, 1987; Silva, 1991; Rodal, 1992; Alcoforado-Filho, 1993; Ferraz, 1994; Araújo et al., 1995).

Fernandes (1996) observa que, assim como na caatinga, os indivíduos do carrasco também perdem as folhas. Segundo Araújo et al. (1998), o carrasco distingue-se da caatinga principalmente pela florística, geologia, geomorfologia e hidrologia das áreas onde ocorre. Apresenta fisionomia densa, de 2 a 5 m de altura, com arbustos e árvores caducifólios, folhas duras, coriáceas e até membranosas. Como trabalhos pioneiros em áreas de carrasco, podem-se destacar o de Araújo et al. (1998) e o de Oliveira et al. (1997), em transição caatinga-carrasco.

Diante da inexistência de levantamentos sobre a vegetação arbustiva perenifólia das chapadas sedimentares, foi realizado o levantamento fitossociológico em uma área da chapada de São José, no município de Buíque, Pernambuco. Nessa chapada ocorrem quatro ambientes com flora e vegetação distintos: a caatinga arbustiva, nas vertentes a sotavento, entre as cotas de 600 a 800 m; o campo rupestre, nas partes mais elevadas, entre 900 e 1.000 m; a vegetação florestal perenifólia, localizada no sopé de algumas serras, na cota de 800 m; e a vegetação arbustiva perenifólia, situada nas vertentes a barlavento, entre 600 e 800 m. À exceção das caatingas de sedimentos arenosos, já estudadas por Rodal (1983), os demais tipos vegetacionais são praticamente desconhecidos no estado de Pernambuco. Vale a pena salientar que a vegetação florestal perenifólia, os chamados "brejos", foram totalmente substituídos por plantações de capim e frutíferas. Este trabalho é o primeiro de uma série, cujo objetivo é caracterizar a organização comunitária dos diferentes tipos vegetacionais da chapada de São José no município de Buíque, Pernambuco.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo localiza-se na serra do Catimbau, uma das muitas de um conjunto que recebe, no município de Buíque, a denominação genérica de chapada de São José. Situa-se a 4 km da sede do município, na estrada que liga a sede ao distrito do Catimbau, na propriedade sítio Cigano, em torno das coordenadas 8°67'LS e 37°11' LW e altitude de 800 m (Fig. 1).


O posto meteorológico mais próximo da área localiza-se na sede do município e registra temperatura e precipitação médias anuais de 25 °C e 1.095,9 mm, respectivamente, com maior pluviosidade entre os meses de abril a junho (SUDENE, 1990).

O conjunto de serras pertence à formação Tacaratu, que no município de Buíque toma o aspecto de morros isolados ou serras com relevo forte ondulado e montanhoso. Exibe elevações em forma de mesetas, encostas íngremes e topos aplainados, tendo na sua base um relevo suave ondulado e vales abertos (Jacomine et al., 1973). Trata-se de uma formação datada do Siluriano e pertencente à bacia sedimentar do Jatobá. É formada por camadas basais de seqüência sedimentar, repousando discordantemente sobre o embasamento cristalino, formando arenitos de granulação predominantemente grosseira, micáceos ou mesmo feldspáticos, evoluindo muitas vezes para conglomerados (Jacomine et al., 1973).

De maio de 1994 a abril de 1996, foram realizadas excursões mensais a diversas serras do município de Buíque, utilizando mapa altimétrico na escala 1:100.000, com a finalidade de selecionar a área de estudo, coletar material botânico para adquirir um maior conhecimento da flora e vegetação do conjunto das serras e realizar o levantamento fitossociológico.

Foram instalados 100 pontos quadrantes distribuídos em 10 picadas paralelas, interdistantes 30 m, com 10 pontos quadrantes cada uma, distanciados 10 m. Em cada ponto foram amostrados todos os indivíduos, vivos ou mortos, exceto cipós e bromeliáceas, com diâmetro do caule ³ 3 cm no nível do solo e altura total ³ 1 m. No primeiro ponto quadrante foram coletados ramos de todos os indivíduos amostrados, férteis ou estéreis, manualmente, com tesoura de poda. A partir do segundo ponto, foram coletadas apenas as espécies ainda não amostradas, desconhecidas ou aquelas encontradas férteis, das quais só se havia coletado material vegetativo. Todas as amostras receberam número de coleta registrado em caderneta de campo, na qual era anotado o hábito, altura, nome vulgar e outras características julgadas relevantes. Posteriormente, todo o material foi incorporado à coleção do herbário Professor Vasconcelos Sobrinho, pertencente à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Em herbário, o material foi identificado até o nível de gênero ou espécie, a partir de chaves de identificação botânica e bibliografia especializada, como Martius & Eichler (1840/1906), Barroso et al. (1978, 1984, 1986), Irwin & Barneby (1978 e 1982) ou por comparação com o material depositado nos herbários PEUFR e Dárdano de Andrade-Lima (IPA), pertencente à Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária. Parte das identificações foi procedida por especialistas como G. Lewis (K), G. M. Barroso (RB), M. C. Mamede (STF) e N. Hind (K). A grafia e a autoria das espécies foram verificadas através de Brumitt & Powell (1992) e Stafleu & Cowan (1976/1988). O sistema de classificação de Cronquist (1981) foi adotado para este trabalho.

Na análise da organização comunitária (Martins, 1990), foram calculados parâmetros gerais como densidade total, área basal total, alturas e diâmetros médios e máximos e parâmetros de densidade, freqüência e dominância para espécie, a partir das fórmulas descritas por Rodal et al. (1992) e Martins (1993) e o índice de diversidade de Shannon (Magurran, 1988).

Nesses cálculos, foi utilizado o pacote FITOPAC, na versão 1.0, de autoria do Professor George John Shepherd do Departamento de Botânica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Adotou-se a abordagem de sinúsias para a análise da estrutura de tamanho. Segundo Barkman (1978), sinúsias representam um conjunto de plantas ou espécies com a mesma forma de vida. A maior altura individual de cada espécie definiu sua forma de vida. Consideraram-se as espécies como nanofanerófitas quando têm até 2 m de altura; microfanerófitas com alturas entre 2,1 e 8 m; e mesofanerófitas com mais de 8 m (Barkman, 1978).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A vegetação selecionada apresenta alguns sinais de perturbação que se evidenciam pela presença do cajueiro (Anacardium ocidentale) e por alguns indícios de corte seletivo. A fisionomia é arbustiva, os indivíduos são perenifólios, há poucos elementos arbóreos e o estrato subarbustivo é denso. Destaca-se da caatinga que circunda o conjunto de serras de Buíque principalmente por seu aspecto perenifólio e pela ausência de elementos espinhosos, como cactáceas e bromeliáceas.

No levantamento fitossociológico foram amostradas 35 espécies distribuídas por 32 gêneros e 24 famílias (Tabela 1). Além dessas espécies, outras 10, não amostradas, também atenderam ao critério de inclusão (Dasyphyllum sprengelianum var. inerme, Hymenaea courbaril L., Senna splendida var. gloriosa, Hirtella racemosa, Clusia nemorosa, Erythroxylum nummularia, Eugenia personii, Coutarea hexandra, Simarouba amara e Helicteres cf. velutina).

Ao serem levantados os 50 primeiros pontos quadrantes, 32 espécies já haviam sido amostradas. Com a duplicação do esforço de amostragem (100 pontos), houve a inclusão de apenas três espécies, Simaba cuneata, Lippia rigida e Turnera diffusa, todas com poucos indivíduos.

Analisando a distribuição, em outras áreas do Nordeste, de algumas espécies do componente lenhoso, observa-se que elas parecem estar distribuídas principalmente em áreas de vegetação mais aberta, como pode ser constatado pelos exemplos a seguir.

Representantes do grupo das leguminosas, como Bocoa mollis, ocorrem em caatinga e cerrado; Chamaescrista ramosa, em restinga, dunas costeiras, caatinga e cerrado; Mimosa lewisii, em campo rupestre, cerrado, campo geral e dunas costeiras; Senna cana var. cana, em cerrado, caatinga arbustiva e campos gerais; Senna macranthera var. micans, em caatinga perturbada, cerrado, campo geral e capoeiras de mata de cipó e Senna splendida var. gloriosa, em caatinga e campo geral (Lewis, 1987).

Elementos de outras famílias, como Hirtella ciliata (Chrysobalanaceae), ocorrem em cerrado de altitude (Stannard, 1995); Lippia rigida (Verbenaceae), em campo rupestre (Atkins, 1995); Dasyphyllum sprengelianum var. inerme (Asteraceae), em cerrado (Hind, 1995). Outras, como Eugenia punicifolia (Myrtaceae), ocorrem em campo rupestre, cerrado de altitude e carrasco (Lughadha, 1995; Araújo et al., prelo); Campomanesia aromatica (Myrtaceae) e Zanthoxylum stelligerum ( Rutaceae), em áreas de carrasco (Araújo et al., prelo); e Helicteres cf. velutina (Sterculiaceae), em áreas de caatinga sobre sedimentos arenosos (Rodal, 1983).

Além do conjunto de espécies acima citadas, mais relacionadas a vegetações mais abertas, existe um outro formado por espécies distribuídas preferencialmente em vegetação florestal, como as caatingas arbóreas e florestas secas ou matas úmidas. Exemplos seriam Buchenavia capitata (Combretaceae) e Simaba cuneata (Simaroubaceae), presentes em floresta úmida (Andrade-Lima, 1954), Manilkara rufula (Sapotaceae), em floresta subúmida e de galeria (Pennington, 1990), e Schoepfia brasiliensis (Olacaceae), em floresta de galeria, caatinga e restinga (Sleumer, 1984).

Os 400 indivíduos arbustivos e arbóreos amostrados ocuparam uma área de aproximadamente 0,18 ha, correspondendo a uma densidade total de 2.208 ind./ha, área basal de 6,07 m2/ha, alturas e diâmetros médios e máximos de 2,3 e 7 m e 5,1 e 22 cm, respectivamente, e maiores concentrações de altura e diâmetro entre as classes de 1 a 2 m de altura e 3 a 6 cm de diâmetro (Tabela 2).

Na Tabela 2, é possível observar que o valor da densidade total da área de estudo foi inferior aos registrados para a transição caatinga-carrasco estudada por Oliveira et al. (1997), para as áreas de carrasco levantadas por Araújo et al. (1998) e para a caatinga arbórea analisada por Alcoforado Filho (1993), semelhante à da caatinga arbustivo-arbórea de Poço do Ferro analisada por Rodal (1992) e superior ao da caatinga arbustivo-arbórea da Fasa estudada por Rodal (1992).

O valor da área basal total foi inferior aos registrados para a transição caatinga-carrasco estudada por Oliveira et al. (1997), para as duas caatingas arbustivo-arbóreas levantadas por Rodal (1992), para as áreas de carrasco avaliadas por Araújo et al. (1998) e para a caatinga arbórea analisada por Alcoforado Filho (1993). Como os dados revelam, trata-se de um parâmetro que individualiza a vegetação da área de estudo dos demais levantamentos analisados (Tabela 2).

Em termos de classes de altura, apenas este trabalho, a transição caatinga-carrasco de Padre Marcos (Oliveira et al., 1997) e a caatinga arbustivo-arbórea de Fasa (Rodal, 1992) tiveram maior concentração de indivíduos entre a classe de 1 a 2 m, ficando os demais com intervalos superiores. Já com relação às classes de diâmetro, todos os levantamentos tiveram maior número de indivíduos, na classe de 3 a 6 cm, variando apenas na proporção do número de indivíduos, que oscilou de 44% na caatinga arbustivo-arbórea de Fasa (Rodal, 1992) a 72% no carrasco de Estrondo (Araújo et al., 1998).

Dos 8 levantamentos analisados na Tabela 2, a vegetação do sítio Cigano distingue-se das caatingas e dos carrascos analisados pelas suas menores alturas (médias e máximas). Em termos de diâmetro, todavia, a área de estudo apresentou valores próximos a algumas das áreas de carrasco estudadas por Araújo et al. (1998), individualizando-se destas pelas menores alturas.

Dos parâmetros acima discutidos, pode-se considerar que a área de estudo apresenta uma fisionomia arbustiva distinta dos padrões encontrados nos levantamentos de carrasco ou de caatinga, seja arbustiva-arbórea ou arbórea, já realizados no Nordeste.

Deve-se salientar a ausência de levantamentos quantitativos em caatingas com padrão fisionômico arbustivo como o da área de estudo. De qualquer forma, continuaria a haver a separação por conta da caducifolia dos elementos da caatinga.

No nível estrutural, a organização das espécies pelos seus valores de IVI (Tabela 3), exceto pela espécie mais importante, Eremanthus capitatus, seguiu principalmente a densidade e freqüência relativas, comportamento semelhante ao encontrado nas caatingas arbustivo-arbóreas (Rodal, 1992) e arbórea (Alcoforado Filho, 1993), no carrasco (Araújo et al., 1998) e na transição caatinga-carrasco (Oliveira et al., 1997).

Considerando as sinúsias florísticas, foram encontradas 8 nanofanerófitas, 28 microfanerófitas e nenhuma mesofanerófita. Comparando esses resultados com levantamentos em áreas de caatinga (arbórea ou arbustivo-arbórea) e de carrasco, pode-se observar que a área de estudo foi a única a não apresentar mesofanerófitas (Tabela 4).

Esses resultados corroboram os dados já discutidos, confirmando o padrão fisionômico arbustivo da área, distinto das caatingas e carrascos analisados.

Essas diferenças provavelmente estão relacionadas ao tipo de solo e relevo em que aquelas formações vegetacionais ocorrem.

Diferenças fisionômicas em formações vegetacionais secas e sazonais também foram apontadas por Murphy & Lugo (1995) ao analisarem os parâmetros vegetacionais de 11 levantamentos na América Central e Caribe. Os autores mostram que, sob os mesmos totais pluviométricos, é possível encontrar florestas semidecíduais com alturas bastante distintas em função de variações topográficas e pedológicas.

O índice de diversidade de Shannon para espécie, 2,73 nats/ind., foi inferior aos registrados para Baixa Fria e Estrondo (Araújo et al., 1998), cujos valores foram 3,03 e 2,91 nats/ind., e superior ao citado para a área Carrasco (Araújo et al., 1998), a transição caatinga-carrasco (Oliveira et al., 1997), as duas caatingas arbustivo-arbóreas (Rodal, 1992) e para a caatinga arbórea (Alcoforado Filho, 1993), cujos valores foram 2,57, 2,65, 2,54, 2,25 e 3,09 nats/ind., respectivamente.

CONCLUSÕES

A área de estudo apresenta uma fisionomia arbustiva, perenifólia, formada por nano e microfanerófitas e com baixa área basal, nitidamente distinta das caatingas e dos carrascos nordestinos já estudados. Parte dos representantes de sua flora apresenta distribuição geográfica abrangendo formações vegetais abertas, como campos rupestres, cerrados e outros.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2001
  • Data do Fascículo
    Ago 1998

Histórico

  • Recebido
    14 Maio 1997
  • Aceito
    02 Jun 1998
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