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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA SOB A FORMA DE RESIDÊNCIA - RELATO DE EXPERIÊNCIA DO 1.º ANO

I - INTRODUÇÃO

Atualmente revestem-se de grande polêmica os cursos de pós-graduação em todas às áreas. As universidades tentam interpretar e aplicar as recomendações do Conselho Federal de Educação no sentido de oferecer cursos que visem principalmente à formação de pessoal docente para as várias carreiras profissionais bem como para o desenvolvimento da pesquisa.

Se há preocupação sempre crescente em todas as profissões no sentido de um melhor preparo técnico-científico no desenvolvimento de chefia, liderança e o preparo dos indivíduos que se destinem ao magistério, verifica-se que na enfermagem também esta necessidade torna-se cada vem mais acentuada, pelo fato de os enfermeiros recém-graduados serem solicitados a desempenharem cargos em nível de coordenação e chefia ou mesmo de assumir as atividades docentes dos diversos cursos de todas as categorias de enfermagem.

Nota-se que, após a graduação, os enfermeiros se destinam ao mundo profissional para enfrentar três tipos de atividades: administrativa, assistencial e de ensino. Destes, alguns se introduzem na vida profissional sem maiores preocupações, visando apenas à obtenção imediata de condições que o próprio grau de enfermeiro lhe oferece.

Outro, no entanto, sentem a necessidade de aquisição de conhecimentos científicos mais profundos para enfrentarem o mercado de trabalho com o seu amplo leque de operações. Verifica-se um processo de intensa procura por parte dos enfermeiros da comunidade, principalmente dos recém-graduados, para a realização de estágios orientados bem como de consultas freqüentes para esclarecimentos de dúvidas surgidas na área de atuação.

Acresce que, com o surgimento de vários serviços de atendimento de urgência, com melhor qualificação clínica e tecnológica, aumentam as solicitações de profissionais com maior preparo do que aquele que é possível ser administrado no curso de graduação.

A procura que se evidencia tanto é de ordem administrativa, como de ordem assistencial ao paciente, tendo em vista a crescente delegação de funções até então médicas para o campo da enfermagem. Começa assim a se intensificar o interesse pelos cursos de pós-graduação na enfermagem. Torna-se indispensável que os mesmos sejam oferecidos de imediato para aqueles que, motivados por uma aspiração própria, tentam uma qualificação mais profunda antes de iniciar o exercício da profissão ou mesmo para aqueles que desejam atualizar-se e aprimorar-se em conhecimentos e não têm condições de se deslocarem para outros estados ou países onde estes cursos já estão sedimentados.

Considerando que os cursos de pós-graduação em "sensu stricto" mestrado e doutorado - se destinam especificamente para formação de docentes e pesquisadores - o que se limita a uma pequena elite - torna-se indispensável o acatamento do outro conceito de pós-graduação em "sensu lato", no qual estariam incluídos os cursos de especialização.

No que se refere a estes cursos na enfermagem, a finalidade primordial deverá ser de uma ampla fundamentação científica para o exercício da profissão, porém com vistas a um determinado setor. De maneira precípua, o propósito essencial de um curso desta ordem é o de contribuir para o processo de formação do enfermeiro, fornecendo um bom lastro para a assistência básica do paciente, com disciplinas a serem desenvolvidas na área a que o mesmo se destina.

Isto, poderá ser conseguido através de um curso sistemático que ofereça maior oportunidade de treinamento mas, ao mesmo tempo, desenvolve a capacidade de tomar decisões, capacidade de criatividade e condicionamento a um estudo continuado e permanente na vida profissional, desperte análise e espírito de pesquisa.

A intenção deve ser a de oferecer ao enfermeiro uma tomada de responsabilidade, no mundo profissional, de maneira progressiva, sem causar traumatismo ou desajustes. Ao tempo em que há o propósito de um preparo orientado para este profissional dentro do campo hospitalar, deve-se procurar envolvê-lo na problemática geral de saúde da comunidade, para que o mesmo se sinta capacitado a selecionar a área onde vai atuar futuramente.

Para atender a esse contexto analisado, uma Comissão composta por Professores da E. E. e pelo Diretor do Hospital Prof. Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia, fez opção pela implantação de um curso de especialização sob a forma de Residência médico-cirúrgica com conotação administrativa.

Com esta decisão, um projeto foi elaborado e encaminhado à Câmara de Pós-graduação e Pesquisa de Conselho de Coordenação da mesma Universidade.

A escolha do curso, sob a forma de residência, justifica-se pelas seguintes razões:

1 - por oferecer um perfil de formação mais aprofundada em atendimento a situações agudas e graves, em melhor qualificação, tanto na assistência direta ao doente, quanto no manuseio de aparelhagem eletrônica, ou outros recursos mais sofisticados, aplicados, modernamente, na área de saúde.

2 - por apresentar estrutura basicamente fundamentada na enfermagem médico-cirúrgica, levando o profissional a uma especialização clínica, com visão administrativa.

3 - por ser um curso de dedicação exclusiva, com expectativa, voltada, continuamente, para a área em estudo, onde é possível oferecer recursos e meios para que o aluno se sinta envolvido no programa.

4 - por oferecer trocas de experiências contínuas entre professores e profissionais da área, com indivíduos que procuram resposta para suas dúvidas e trazem uma bagagem pessoal de conhecimentos a serem completados.

5 - por atender melhor a uma formação prática de atuação efetiva junto ao doente, ao tempo em que o aluno recebe uma orientação teórica-planejada.

6 - por já existir uma experiência positiva e largamente realizada na área médica, oferecendo um modelo que despertou a elaboração de um plano semelhante no campo da enfermagem.

Ao se falar em residência, torna-se necessário uma ligeira apreciação sobre o seu siginificado.

Residência - curso de pós-graduação que se desenvolve em regime de dedicação exclusiva, pondo o aluno em contato permanente com o campo de estágio, estimulando uma motivação no acompanhamento da evolução dos pacientes, ao tempo em que cumpre a carga horária de aulas teóricas e preparos aos trabalhos solicitados. Especializa o enfermeiro em uma área de atendimento determinado, aprofunda conhecimentos na assistência a pacientes em estados graves e agudos, principalmente em áreas de cuidados intensivos.

Ao esquema de residência se oferecem condições, tais como: alojamento próximo ao hospital, bolsa de estudo, alimentação, assistência médica e dentária e uniforme de trabalho.

Conta-se com a disponibilidade de professores em regime de tempo integral para atendimento às solicitações de orientação e esclarecimento sempre que se fizer necessário por parte do aluno.

2 - OBJETIVOS DO CURSO

Pretende-se que, ao completar o Curso de Residência, o enfermeiro seja capaz de:

- desempenhar com bom discernimento e pronta iniciativa as funções administrativas a que se destina.

- desenvolver as funções assistenciais mais qualificadas e diferenciadas de que necessite o paciete grave na área de enfermagem médico-cirúrgica.

- descobrir e desenvolver o seu potencial de qualidade didática.

- atualizar-se freqüentemente através de estudos auto-dirigidos e por meio de cursos sistemáticos.

- desenvolver o interesse e habilidade para trabalhos de pesquisa.

3 - DESENVOLVIMENTO DO CURSO NO SEU PRIMEIRO ANO

3.1 - Planejamento e Organização

Como o curso visa essencialmente desenvolver aspectos profissionais, as disciplinas selecionadas para comporem o currículo visam aprimorar conhecimentos básicos de enfermagem médico-cirúrgica, concentrando, portanto, maior número de créditos nestas áreas.

O projeto inicialmente elaborado sofreu algumas modificações antes de ser aprovado a fim de ser melhor enquadrado nas "normas para Cursos de Especialização na Universidade Federal da Bahia".

Para a regulamentação do referido foi construído um Colegiado - órgão responsável por todas as deliberações concernentes ao cumprimento do projeto para a sua execução - composto por três professores indicados pela Câmara de Pós-Graduação e, dentre estes, um foi eleito Coordenador. Os demais professores responsáveis por disciplinas eram convidados a participar de reuniões do Colegiado.

Estes professores têm curso de pós-graduação e "curriculum vitae" compatível com a responsabilidade de desenvolver disciplinas neste nível. Em algumas disciplinas, foram convidados professores de outras faculdades para ministrarem aulas teóricas e/ou práticas de assuntos complementares.

O ensino teórico-prático foi desenvolvido predominantemente no Hospital Prof. Edgard Santos, órgãos que, juntamente com a Escola de Enfermagem, propôs à Câmara de Ensino de Pós-Graduação a criação do curso.

Além do referido hospital, foram utilizados também o Hospital Getúlio Vargas - destinado a emergências - órgãos da Secretaria de Saúde do Estado e hospitais particulares para visita e observação em serviços especializados.

O Hospital proponente, que é um Hospital Geral de Ensino com capacidade para 320 leitos, encontra-se em fase de implantação do Sistema de Cuidados Progressivos ao Paciente, o que determinou uma maior abertura em termos de áreas mais apropriadas para o desenvolvimento do programa de ensino da Residência, principalmente em se tratando da Unidade de Tratamento Intensivo, cuja qualificação oferece maior campo de aprendizagem.

Decorrente desta reforma, o hospital sofreu uma redistribuição de serviços e de leitos ficando assim situados: 10 para Unidade de Tratamento Intensivo, 50 para Pediatria, 24 para Psiquiatria e o restante para Médico-cirúrgico; Unidade de Atendimento a pacientes externos, Centro Cirúrgico com 8 salas para cirurgias e salas com recursos endoscópicos; área para hemodiálise e diálise peritonial. Conta ainda com a Divisão de Serviços Médicos Auxiliares de Diagnósticos e Terapêutica, além das Divisões Médicas, de Administração, Técnica e de Enfermagem. Estas cinco divisões colocaram seus serviços e setores à disposição da aprendizagem dos enfermeiros residentes, tendo os mesmos utilizados estes serviços sempre que se fazia necessário.

No que diz respeito a equipamento, foram utilizados para as aulas teóricas de todas as disciplinas, recursos tais como: quadro de giz, retro-projetor, epidioscópio, projetor de "slides" e cartazes.

Para as aulas práticas, além destes recursos, foram utilizados impressos especializados, prontuários dos pacientes, cardex, arquivos administrativos, radiológicos, anotomopatológicos e outros.

Para o estágio foram utilizados instalações e equipamentos das áreas em que os mesmos foram desenvolvidos.

Para consulta bibliográfica, contou-se, além da Biblioteca Central da Universidade, com a da Escola de Enfermagem, com 3.527 compêndios e 138 títulos de periódicos e a do Hospital com 2.967 compêdios e 288 títulos de periódicos. Para uso privativo dos enfermeiros-residentes, foi organizada uma pequena biblioteca específica com uma doação da Fundação Kellogg.

3.2 - Organização Didática

O curso tem a duração de 12 meses consecutivos. A carga horária semanal é de 48 horas com dedicação exclusiva e um regime de prontidão que cada residente cumpre no dia escalado, ficando esta responsável pelo atendimento a qualquer atividade extra de emergência na área assistencial. O grupo elege, entre as próprias colegas, uma chefe que fica responsável pela escala de prontidão e de plantões aos sábados, domingos e feriados, bem como pelo intercâmbio entre o grupo, a coordenadora do Colegiado e os demais professores.

O total de créditos do curso - em número de 29 - está distribuído em 2 áreas, ou seja; a área de concentração com 22 créditos (75%) e a área de disciplinas integrativas obrigatórias com 7 créditos (25%). Pelas Normas de Cursos de Especialização da UFBa, os créditos são assim distribuídos:

  • Crédito aula teórica - 15hs.

  • Crédito aula prática - 30hs.

  • Crédito aula laboratório 45hs.

  • Crédito aula de estágio - 80hs

3.2.1 - Disciplinas específicas da área de concentração

- Enfermagem médica com 8 créditos, sendo 1 teórico e 7 de estágio, visando preparar o enfermeiro para:

- Diagnosticar as necessidades de enfermagem do paciente com desequilíbrio dos sistemas fisiológicos. Baseado neste diagnóstico, planejar, fundamentar e executar a sua assistência de enfermagem.

- Orientar e assistir a família do paciente.

- Enfermagem cirúrgica com 8 créditos, sendo 1 teórico e 7 de estágio, visando aprofundar os conhecimentos específicos do enfermeiro no sentido de:

- Planejar e executar assistência de enfermagem a pacientes cirúrgicos e seus familiares.

- Fazer diagnóstico de enfermagem e tomar deliberações imediatas para o atendimento das necessidades de enfermagem a pacientes no pré e pós-operatório e na ocorrência de complicações cirúrgicas.

- Administração de Enfermagem com 6 créditos, sendo 2 teóricos e 4 de estágio, visando:

- Levantar aspectos de ordem administrativa de enfermagem dentro das áreas de assistência hospitalar ao paciente internado e de ambulatório.

- Aprofundar estudos de chefia de pessoal e seu papel dentro da equipe de saúde.

3.2.2 - Disciplinas integrativas obrigatórias

- Enfermagem nas emergências médico-cirúrgicas com 3 créditos, sendo 1 teórico, 1 prático e 1 de estágio, visando desenvolver maior habilidade nas situações de emergências médico-cirúrgicas e criar atitude de pronta iniciativa e segurança face a estas situações.

- Administração Sanitária com quatro créditos, sendo 2 teóricos, 1 prático e 1 de estágio, visando:

- Desenvolver no enfermeiro o interesse pela investigação epidemiológica da comunidade e o estudo dos meios para atender às necessidades de saúde.

- Promover o entendimento da integração entre a assistência-hospitalar e a comunitária.

Os alunos têm participação em atividades didáticas extra-curriculares, desde que as mesmas ofereçam oportunidades de novos conhecimentos. Participam das reuniões do Corpo de Enfermeiras do Hospital e da equipe de enfermagem das unidades de estágio.

3.3.3 - Sistema de Seleção e Admissão de Candidatos

A insenção ao curso é aberta aos enfermeiros graduados em escolas reconhecidas pelo Ministério de Educação e Cultura de todos os Estados do País e a enfermeiros estrangeiros, cujos créditos do curso graduado sejam equivalentes a do Curso Superior de Enfermagem no Brasil.

No ato da inscrição, o candidato deve apresentar os seguintes documentos:

- diploma de curso superior de enfermagem

- curriculum vitae

- histórico escolar

- atestado de sanidade física e mental, fornecido pelo Serviço Médico da Universidade Federal da Bahia.

- comprovante de pagamento de taxa de inscrição

- atestado de idoneidade moral

A aprovação do candidato é feita por uma comissão designada pelo Colegiado de Cursos, mediante entrevista individual, avaliação das credenciais apresentadas e testes de verificação de conhecimentos gerais de enfermagem.

A seleção dos candidatos foi feita após a publicação do edital de abertura das inscrições, obedecendo a critérios estabelecidos pelo projeto do curso. Como o mesmo é de maior interesse para enfermeiros recém-graduados, quando de sua oficialização, já se contava com um certo número de pretendentes entre os graduados do último ano.

3.3.4 - Sistema de aferição de aprendizado

A verificação do aprendizado é feita mediante o conceito alcançado pelo aluno em cada disciplina, o que resulta de uma média estabelecida entre os conceitos obtidos nos trabalhos escolares, exercícios de aplicação e estágio. Todas as disciplinas são eliminatórias. O residente é considerado habilitado se o conceito final for igual ou superior a M (médio) e a freqüência às atividades didáticas for igual ou superior a 90%.

O tipo de supervisão adotado é o de desenvolvimento da auto-determinação, discernimento e iniciativa do aluno. Os professores das disciplinas que estão sendo ministradas, acompanham indiretamente o aluno na área, discutem, sistematicamente, os cases mais importantes e estão sempre à disposição do mesmo para orientação direta de qualquer dúvida surgida. Na área de estágio, o aluno pode solicitar das enfermeiras da equipe qualquer esclarecimento imediato de situações verificadas. Cabe registrar que, sendo as Unidades do H.P.E.S. chefiadas por Professores da Escola, as mesmas se dispõem a orientar o residente, principalmente em início de estágio, o mesmo ocorrendo com todas as outras enfermeiras do Hospital que dão apoio às solicitações de supervisão de atuação do residente em todos os horários de estágio. Verifica-se, portanto, uma certa hierarquia entre as enfermeiras que compõem o quadro da Divisão de Enfermagem e os enfermeiros-residentes que desenvolvem funções assistenciais no mesmo nível, obedecendo apenas a um esquema didático pré-estabelecido.

No final do curso, o aluno dispõe de 4. semanas para um estágio optativo, no qual ele escolhe a área e a especialidade na qual deseja se aprofundar mais.

3.4 - VIABILIDADE FINANCEIRA

A manutenção do curso é feita, como a seguir se demonstra:

3.4.1. - Pessoal docente

Os professores responsáveis pelo desenvolvimento das disciplinas curriculares fazem parte do corpo docente da Escola de Enfermagem. Destes, quatro têm dedicação exclusiva e os demais, 24 horas semanais de atividades didáticas.

3.4.2 - Bolsa de estudo

Os alunos recebem uma bolsa de estudo, correspondente a três salários mínimos da região.

No ano em que foi realizada a experiência que está sendo relatada, estas bolsas foram concedidas pela Fundação Kellogg, através do seu convênio com a Universidade Federal da Bahia, para o Programa "Mudança de Papel do Hospital Universitário numa Comunidade Brasileira". Atualmente, as bolsas são concedidas pelo Hospital, num orçamento próprio anual.

3.4.3 - Outros recursos

O material, o equipamento e as instalações físicas são os mesmos utilizados nas duas instituições proponentes.

Os alunos têm instalações residenciais na Escola de Enfermagem.

Os uniformes e as refeições são fornecidas pelo Hospital.

Durante o curso é prestado assistência médica pelo próprio Serviço Médico da Universidade.

3.5 - FACILIDADES E DIFICULDADES ENCONTRADAS

Para se levar a termo o primeiro ano de experiência, contou-se com algumas facilidades e dificuldades dentre as quais podem ser citadas:

3.5.1 - Facilidades

Decorrente da integração existente entre a Escola e o Hospital, através da manutenção dos cargos de Coordenação e Chefia por professores, torna-se mais fácil promover a receptividade, na área hospitalar, de inovações referentes ao ensino e à assistência ao paciente. Por outro lado, o Hospital também é beneficiado por contar com estas professoras e enfermeiras integradas nos mesmos objetivos, tentando elevar os padrões de assistência para obter melhor campo de ensino.

- Conta com um serviço de enfermagem organizado e recebe apoio integral do Diretor e dos órgãos de Administração Central.

- Sendo um hospital de ensino, como já se mencionou, conta com todas as instalações e equipamentos apropriados que servem de suporte para o desenvolvimento do curso.

- Dispondo de serviços que já bem integrados com a enfermagem, dá, portanto, uma boa receptividade por parte dos mesmos, facilitando as informações de estágios complementares.

- O fato de existir uma Residência Médica já em funcionamento, por analogia, foi facilmente interpretada e aceita a de enfermagem.

- Ainda se pode salientar a alta aceitação por parte das candidatas que aspiravam à continuidade de um curso que lhes desse maior maturidade e melhor formação profissional.

3.5.2 - Dificuldades

Inicialmente, observou-se um pouco de dificuldade por parte dos profissionais da área de saúde quanto à interpretação do espírito crítico que se procurou desenvolver no enfermeiro residente, através de análise da área onde estava atuando.

Outra condição que ofereceu certa dificuldade foi a inclusão do mesmo na equipe de trabalho por não se ter um discernimento preciso quanto às atividades que deveria desenvolver.

4 - ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA

Levando em consideração o desconhecimento da existência de outras realizações deste gênero no campo da formação de enfermeiros em nível de pós-graduação, sob a forma de residência, e a observância de que o curso tem sido aceito, com grande positividade, pelos elementos da equipe de saúde, e, em particular, pelo grupo que concluiu o ano experimental, é imperioso notar a importância e a abertura que o mesmo oferece para o campo profissional. Comprova-se isto, observando-se que a oferta de trabalho é verificada em nível de área. que exigem melhor preparo e maior amplitude de responsabilidade.

Tem sido acompanhada a atuação dos ex-enfermeiros - residentes no campo atual de trabalho, verificando-se que as mesmas apresentam uma maior maturidade, melhor senso crítico, ao tempo em que elaboram e desenvolvem programas em nível de coordenação e de assistência mais qualificada.

O plano do curso de Residência foi cuidadosamente observado quanto ao cumprimento do calendário das aulas e estágios e dos créditos exigidos a fim de que não se transformasse em utilização da mão de obra por exclusividade, comprometendo o esquema didático e favorecendo a evolução de um auto-didatismo.

Além das condições curriculares exigidas, solicitou-se do aluno a apresentação de um relatório no fim de cada etapa de estágio, com o que se procurou desenvolver habilidade na elaboração de trabalhos e espírito crítico em relação à funcionalidade da área em que atuou. Esses relatórios foram analisados com as residentes periodicamente. Ao final do curso, foi solicitado um relatório geral de análise e avaliação.

Foi também de considerável importância o alojamento próximo ao Hospital, pois facilitou a locomoção para os campos de consulta bibliográfica e também para o acompanhamento de pacientes em estudo especial.

Neste ano, além dos recursos normais de recrutamento, outro fator que levou à maior procura do curso foi a divulgação do mesmo através da influência positiva do convívio das alunas do último ano com as enfermeiras residentes de 1973.

A seleção atendeu a certos requisitos não só do ponto de vista profissional e de aspirações de uma formação como a um critério de escolha de elite intelectual. Com isto, pode-se dizer mesmo que as candidatas selecionadas até então foram de um nível acima do comum, apresentado condições imprescindíveis para atenderem às solicitações do curso com bom equilíbrio emocional e rentabilidade satisfatória. Para que o mesmo se processasse dentro de um bom padrão, o número selecionado foi equivalente ao corpo docente disponível, bem como aos recursos materiais, de equipamento e ao número de leitos hospitalares da área de concentração do curso.

A experiência realizada mostrou que uma estimativa de 15 a 20 enfermeiros residentes seria o número recomendável dentro da realidade da região. No entanto, ainda não se atingiu a esse número porque não se tem uma estrutura mais consolidada, no que diz respeito à vivência.

5 - CONCLUSÃO

Com a apresentação deste relato, as autoras pretendem mostrar aos participantes deste conclave a experiência feita, na Universidade Federal da Bahia, com a realização do Curso de Especialização em Enfermagem, sob a Forma de Residência Médico-Cirúrgica.

Querem deixar patente também que esta experiência não seria possível se não fosse o grande empenho por parte do Prof. Dr. Emerson Spinola Marques Ferreira, então Diretor do Hospital, em estimular a elaboração do projeto e promover os recursos indispensáveis para a sua realização.

Resaltam que contaram com o apoio da Superintendência Acadêmica, na pessoa da Prof.ª Dra. Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, do, então Presidente da Câmara de Pós-Graduação e Pesquisa, Prof. Augusto Mascarenhas, do Coordenador do Projeto de implantação do Cuidado Progressivo ao Paciente no Hospital Prof. Edgard Santos, Prof. Cícero Adolpho da Silva e da Diretoria da Escola de Enfermagem, Prof.ª Aline Regis Galvão.

A finalidade prioritária da criação do referido curso prendeu-se à ampliação da área de conhecimentos técnicos e administrativos do enfermeiro, assim como pretendeu contribuir para que o mesmo possa sentir-se mais seguro ao iniciar, ou dar continuidade a atividade profissionais.

Teve também em vista abrir frente de atuação de Enfermagem no sentido de maior prestígio no âmbito da saúde e da comunidade.

A residência não encerra somente um programa de ensino. Pode-se mesmo dizer que inicia uma etapa de estudos avançados que poderá ser seguida pela educação continuada no campo de trabalho ou mesmo em cursos formais de mestrado e doutorado.

Para isto, tenta-se dar ao curso de especialização uma creditação formal que possa. depois ser aproveitada para continuação em cursos que se sigam ao mesmo.

Por todo o exposto, é recomendável que este curso preceda ao mestrado, pois o mesmo capacita o profissional em termos de formação mais profunda no atendimento básico da enfermagem para, no mestrado, desenvolver os créditos necessários para habilitarem o indivíduo para o cargo do magistério.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr-Jun 1975
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