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A NECESSIDADE HUMANA BÁSICA DE EXERCÍCIO - PACIENTE ACAMADO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

  • 1.1. Processos químicos relacionados com o trabalho muscular

  • 1.2. Influências da fadiga muscular sobre o organismo

  • 1.3. O Glicogênio na atividade muscular

2. CONCEITOS

  • 2.1. Exercício

  • 2.2. Necessidade

  • 2.3. Necessidade humana Básica

  • 2.4. Necessidade de Exercício

3. EXERCÍCIO E DESCONFORTO FÍSICO

    • 3.1. Causas de desconforto físico

    • 3.1.1. Relacionados à posição

    • 3.1.2. Relacionados à peso e pressão

    • 3.1.3. Relacionados à fricção, atrito e irritação

4. TIPOS DE EXERCÍCIO

  • 4.1. Passivo

  • 4.2. Ativo-assistido

  • 4.3. Ativo

  • 4.4. Contra-resistência

  • 4.5. Isométrico com fricção muscular

  • 4.6. Isotônico

5. TABELAS CONTENDO SINTOMAS, FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA, AÇÕES DE ENFERMAGEM E RECURSUS NECESSÁRIOS

6. DEFINIÇÃO DE TERMOS

7. CONCLUSÃO

8. BIBLIOGRAFIA

1. INTRODUÇÃO

Em conseqüência das dificuldades surgidas sobre alguns temas, durante os trabalhos para implantação de um novo plano de cuidados que servirá ao Hospital Universitário, ao realizar-se na Escola de Enfermagem Ana Néri, o “Primeiro Encontro de Monitoras do Departamento de Enfermagem Fundamenta] para Reciclagem de Conhecimentos”, foi proposto que fizéssemos um pequeno estudo à respeito de Necessidade Humana Básica de Exercício.

Devido à grande extensão do assunto, e ao pouco tempo que tínhamos à nosso dispor, decidimos de comum acordo que o nosso trabalho fosse delimitado e que a Necessidade Humana Básica de Exercício fosse dedicada ao paciente acamado, uma vez que este pode ter uma enorme parcela de lesões, provocadas por falta de exercícios.

Se a assistência de enfermagem oferecida for eficiente, e principalmente consciente, temos certeza que elevarse-á o grau de satisfação e, tanto enfermeiras (os) quanto paciente serão recompensados.

Nosso trabalho não pretende esgotar o assunto, mas esperamos que auxilie os leitores na elaboração do plano de cuidados, para que mantenha aceso o pensamento de que paciente não é simplesmente doente, mas antes de tudo, ser humano, envolvido por inúmeras necessidades.

1.1. Processos químicos relacionados com o trabalho muscular

O trabalho muscular é acompanhado de reações químicas distintas, que se produzem no interior do músculo, assim como outros setores do organismo.

Desde o tempo de Lavoisier, sabe-se que o trabalho aumenta a absorvição de oxigênio e eliminação de anidrido carbônico. Posteriormente, outros investigadores, encontraram que durante o exercício, aumenta a circulação sanguínea 5 vezes, a absorvição do oxigênio 20, e a eliminação de anidrido carbônico em 40 vezes sobre as condições basais de cada um deles. Também demonstrou-se que o consumo de oxigênio aumenta de acordo com a intensidade do trabalho produzido e que este aumento continua durante certo tempo depois de finalizado o exercício. Outro fato comprovado foi a presença de ácido lático no músculo fatigado pelo trabalho.

1.2. Influência da fadiga muscular sobre o organismo

Durante o trabalho muscular prolongado, chega um momento em que os músculos atuantes se fadigam. Produz-se então fenômenos distintos reveladores do padecimento muscular. Estes consistem à princípio, na diminuição da potência contrátil, mais tarde em dor muscular e por último em câimbra. Sabe-se que todos esses sintomas são produzidos delo acúmulo de ácido lático, assim como por acumulação de água no músculo (edema muscular).

1.3. O Glicogênio na atividade muscular

O metabolismo intenso tem lugar no trabalho dos músculos, acompanhado pelas transformações químicas complexas com liberação de gasto de uma grande quantidade de energia; algumas reações químicas ocorrem sem participação de oxigênio (fase anaeróbia), enquanto outras requerem oxigênio (fase aeróbia).

Na fase anaeróbia os compostos de fósforo são quebrados liberando energia que seria usada na contração muscular.

Como é sabido, o principal órgão ar-mazenador de Glicogênio é o fígado. Esse órgão o reserva para atividades que requerem energia. Quando o glicogênio, é quebrado a energia liberada é usada para restaurar os compostos de fósforo. A transformação do glicogênio, até atingir a glicose, fonte de energia, envolve todo o processo de modificações químicas contidas no ciclo de Krebs.

Faz-se importante lembrar que no músculo, o glicogênio entra em ação, assim que as fibras musculares se contraem. Então, o glicogênio sofre as degradações, chega até a glicose, que por sua vez fornece energia ao músculo.

Nesse processo do gligogênio pode ocorrer doenças do armazenamento ou deposição de glocogênio. Isto ocorre devido a alterações hereditárias caracterizadas pela deposição anormal em quantidade ou qualidade de glicogênio nos tecidos. Os portadores, dessa síndrome, apresentam uma grande intolerância para o exercício. Embora seus músculos tenham um teor anormalmente elevado de glicogênio, seu sangue não apresenta pouco lactato após o exercício.

2. CONCEITOS

2.1. Exercício

Definir pura e simplesmente como: a movimentação ativa e passiva dos diversos órgãos, aparelhos e sistemas do corpo humano, seria muito leigo, pois, na verdade, o exercício não é uma parte, mas sim um todo, no bom desenvolvimento e funcionamento do corpo humano, apoiados que estão nele toda a anatomia, fisiologia, sociologia, reações químicas, farmacológicas emicrobiológi-cas do nosso corpo.

2.2. Necessidade

Quando nos falta alguma coisa que perturba, pela sua ausência, o equilíbrio orgânico, chamamos de necessidade à essa falta. Para saná-la, precisamos retirar do meio ambiente os elementos de que carecemos; portanto, esses elementos são necessários. A falta deles põe em perigo corporalmente o homem. A lista das necessidades humanas é imensa, e dificilmente poderíamos apresentá-la, porque além das corpóreas, há as culturais, e algumas com origem na fantasia, além das que se originam na realidade.

2.3. Necessidade Básica

Precisão absoluta, falta que, sem ser suprida, não nos permite boas condições de vida, saúde e felicidade.

2.4. Necessidade de Exercício

Estado de morbidez ou fadiga, a que é levado o organismo quando permanece em longo período de inércia, quer de causa ocupacional, ou terapêutica. Está intimamente relacionada à deficiência de funcionamento de órgãos, aparelhos e sistemas, especialmente as do aparelho digestivo e sistemas circulatório e nervoso.

3. EXERCÍCIO E DESCONFORTO FÍSICO

É sobejamente conhecido o enfoque da perda de identidade dos paciente que se internam num hospital. A perda da identidade engloba várias perdas menores (do convívio familiar, do desempenho profissional, do contato com amigos, da prática religiosa, etc...) que devem, ser encaradas como objeto de preocupação da (o) enfermeira (o) no que diz respeito à sua minimização. Pois bem, os pacientes também perdem, invariavelmente, for^a como resultado do repouso no leito, tratamento dolorosos, e procedimentos incômodos. Isso também deve ser objeto de atenção da (o) enfermeira (o).

Muitas vezes o repouso no leito é mal interpretado e executado, por falta de conhecimento de seus verdadeiros benefícios e riscos.

Na antiguidade, os pacientes acamados eram paralelamente esquecidos no leito. Essa medida causou muitos problemas em pessoas convalescentes que tiveram assim suas energias desnecessariamente diminuidas e, deformidades físicas que poderiam ter sido evitadas.

A enfermagem tem evoluído em seu conhecimento científico e logrado grandes progressos em seu campo de atuação. Porém, muitas vezes, não estamos fazendo o que sabemos que podemos fazer. Isso se aplica bem ao atendimento da necessidade de exercício quando efetada em pacientes sob nossos cuidados.

Necessitamos compreender os problemas da imobilidade do repouso no leito, e que ações podemos adotar para reduzí-los ao mínimo.

Quando observamos o problema do conforto físico em pacientes acamados, sempre identificamos causas de desconforto inerentes à própria situação de estar acamado (em repouso no leito). Assim, se observamos o quadro abaixo, de pronto, identificaríamos várias causas de desconforto físico que poderiam ser reduzidas com ajuda do exercício físico. Daí podermos afirmar que: atender a necessidade de exercício dos pacientes também é uma forma de proporcionar-lhe conforto.

3.1. Causas de Desconforto Físico

  • 3.1.1. Relacionados à posição:

    • Longo tempo na mesma posição.

    • Cansaço muscular devido a falta de apoio.

    • Deslizamento para os pés de cama.

    • Má acomodação dos travesseiros.

    3.1.2. Relacionados à peso e pressão:

    • Peso dos braços sobre o abdome ou peito.

    • Pressão sobre as nádegas quando sentado.

    • Peso das cobertas sobre queimaduras, úlceras, fraturas ou articulações doloridas.

    • Pressão devida à aparelhos ou ataduras demasiadamente apertadas.

    • Lençóis muito esticados sobre os pés.

    3.1.3. Relacionados à fricção, atrito, irritação:

    • Roçar constante do corpo contra migalhas, rugas do lençol de baixo, principalmente se estiver úmido.

4. TIPOS DE EXERCÍCIO

4.1. Passivo

Conduzido por enfermeira (o) ou terapeuta sem a participação do paciente

4.2. Ativo-assistido

Exercício levado a efeito com o paciente, com assistência do terapeuta ou enfermeira (o).

4.3. Ativo

Exercício executado pelo paciente sem assistência.

4.4. Contra-resistência

Exercício ativo executado contra uma resistência produzida por técnicas manuais ou mecânicas.

4.5. Isométrico com fricção muscular

O exercício é executado pelo paciente (tanto ativo quanto contra-resistência). Também contribui para o reforço os músculos, embora não melhore o movimentos das articulações.

4.6. Isotônico

O músculo se contrai, obrigando o membro à movimentar-se. Aumenta a força muscular e contribue para a mobilidade das articulações.

5. TABELAS CONTENDO: Sintomas; Fundamentação científica; Ações de Enfermagem e Recursos necessários.

A seguir apresentamos alguns sintomas e/ou manifestações que podem sugerir, de uma maneira geral. Necessidade de Exercício afetada. Lembramos, contudo, que todos esses sintomas também podem sugerir outros tipos de necessidades. É importante, por isso, saber identificar quando e como devem as(os) enf ermeiras (os) atuar.

6. DEFINIÇÃO DE TERMOS

  • Adução: - movimento de um membro em direção ao eixo, à linha média, ou uma parte do corpo.

  • Abdução: - movimento de afastamento da linha mediana do corpo; rotação para fora.

  • Extensão: - quando se refere a uma extremidade, significa extensão horizontal da articulação.

  • Hiperextensão: - extensão além da amplitude normal para correção de deformidade ou redução de fratura óssea, colocando-se os fragmentos em posição e alinhamento adequado.

  • Flexão: - flexão de várias articulações, tais como: Joelho ou cotovelo, ou a coxa sobre o tronco.

    É o ato de curvar, condição de ser curvado.

    Dorsiflexão: - flexão para trás. Flexão do pé para cima.

    Rotação: - volta ou movimento de uma parte em torno de seu eixo.

    • - Interna: - rotação em direção ao centro.

    • - Externa: - rotação para fora.

    Pronação: - rotação da palma da mão para baixo. Condição de estar em decúbito ventral.

    Supinação: - rotação da palma da mão para cima. Ato de deitar-se em decúbito dorsal.

7 CONCLUSÃO

Empregamos a palavra do modo mais simples de movimento, locomoção. Afirmamos que no homem o exercício é necessário e que esta necessidade redunda em bem estar para todo o organismo.

Hipócrates, pai da Medicina, muitos anos antes de Cristo já enfatizava a importância do exercício para o ser humano. "Deve ter-se em mente que o exercício fortalece e a inatividade consome”, dizia ele. Este é um princípio básico que serve de fundamento à manutenção da Saúde e às vezes, ainda hoje, é descurado quando assistimos a pacientes acamados.

Todos fazemos exercício, mas o que temos de indagar é se os mesmos são adequados, suficientes, e se as condições são próprias e convenientes para que produzam seus frutos

Para ajudar o paciente no atendimento à necessidade de exercício, a enfermeira (o) deve diagnosticar esta necessidade para identificação do problema do excesso ou desuso dos segmentos corporais; determinar que problemas requerem a intervenção da enfermagem, selecionar ações preventivas, assistir o paciente na aplicação dessas medidas e avaliar a eficácia dessas ações.

O exercício deve ser considerado com uma constante em nossa vida, e não uma atividade à parte.

Ao assistirmos um paciente acamado, não podemos esquecer o quanto esse cuidado é importante, e que tão pouco exige para ser prestado.

  • LOBLER, C.S. e colaboradoras - A necessidade humana básica de exercicio. Rev. Bras. Enf.; DF, 31 : 123-134, 1978.

8. BIBLIOGRAFIA

  • BRUNNER, Lillian S. & SULDARTH, Doris S. - Enfermagem médico-cirúrgica, (Medical-Surgical nursing). Trad. Cleonice V. Ribeiro et alli. Rio de Janeiro Ed. Interamericana Ltda, 1977.
  • DULGAS, Beverly W. - Tratado de enfermagem práctica, México, Nueva Editorial Interamericana S.A., 1974.
  • HARPER, Harold A. - Manual de química fisiológica, São Paulo, Ed. Atheneu S.A., 1973.
  • HOERR, Normand L. et alli. - Dicionário médico ilustrado, (Illustrated pocket medical dictionary) Trad. Roberto Pessoa. São Paulo, Organização André Editora S.A.
  • NORMARK, Madelyn T & ROHWEDER, Anne W. - Princípios científicos aplicados a la enfermeria, México, La Prensa Médica Mexicana, 1975.
  • SOUZA, Elvira De Felice - Novo manual de enfermagem, Rio de Janeiro, Ed. Bruno Buccini, 1972.
  • SPALTEHOLZ, Werner et alli. - Atlas de anatomia humana, Barcelona, Editorial Labor SA., 1976.
  • SKRYKER, Ruth P. - Enfermeria de rehabilacion, (Rehabilitative aspects of and chronic nursing care) Trad. Vicente Agut Armer, México, Ed. Interamericana Ltda, 1974.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 1978
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