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IMPORTÂNCIA DA AMAMENTAÇÃO NO RELACIONAMENTO SAUDÁVEL MÃE E FILHO* * Tema Livre apresentado no XXXI CBEn — Fortaleza — Ceará — 1979.

A glândula mamária inicia o seu preparo para lactação desde o início da gestação quando sofre ação hormonal da prolactina progesterona que estimulam o crescimento do lóbulo alveolar (mamogênese) 5LINHARES, E. - Mamas. Lactação. In: REZENDE, J. - Obstetrícia. 3.ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1974, 336-338.. A produção láctea é de origem endócrina sem qualquer participação nervosa, exigindo a presença de um verdadeiro "complexo lactogênico": prolactina, gonadotrofina, cortisona (ou ACTH) e tiroxina (lactogênese) 4GRELLE, F.C. - Vade-mécmn de Obstetrícia. l.ª ed., Rio de Janeiro, Livraria Atheneu, 1963, 197-207. . Isto ocorre logo após o parto e expulsão da placenta. (Quadro I)

Quadro I
FILOSOFIA DA LACTAÇÃO: MECANISMO ENDÓCRINO

A secreção láctea depende de um mecanismo refexo para sua manutenção, partindo da sucção da mama pelo lactente4GRELLE, F.C. - Vade-mécmn de Obstetrícia. l.ª ed., Rio de Janeiro, Livraria Atheneu, 1963, 197-207.. A mobilização do leite nos alvéolos é feita através de um mecanismo neuro-hormonal, ou seja, a ocitocina age diretamente nas células miopiteliais dos alvéolos, promovendo a expulsão do leite, destes para os duetos e mamilos. (Quadro II)

Quadro II
MECANISMO "NEURO-HORMONAL"

É evidente que quando ocorrem mudanças hormonais, tal como na lactação, estas mudanças são acompanhadas por alterações psicológicas.

Se a lactante se comporta satisfatoriamente quanto à função da lactação, ela se torna mentalmente fortalecida e portanto amadurecida; mas, quando ocorre o inverso ela se torna mentalmente enfraquecida, e assim mais susceptível a desenvolver um relacionamento insaudável mãe-filho.

CAPLAN1CAPLAN, G. - An approach to communith mental health. N.Y., Grune & Stratton, Inc., 1961, 97-132. define o relacionamento saudável mãe-filho, como sendo aquele em que a mãe reage para com a criança primariamente, sobre a base de sua percepção das necessidades da criança como uma pessoa em seu direito inato, respeito por estas necessidades e tenta satisfazê-las da melhor forma de acordo com sua habilidade.

Ressaltamos aqui que a amamentação é o melhor período para a mãe conhecer a criança, conhecer o seu jeito, a sua maneira, o seu choro, o seu sorriso, e dai ter condições de perceber suas necessidades e satisfazê-las respeitando-o como um ser individual.

Além disso, há evidências de que a prolactina (hormônio da lactação) quando presente, desenvolve um sentimento maternal. Prova deste fato NEWTON7NEWTON, N. - Maternal emotions New York, Paul. B. Hoeber, Inc. 1955, 43-58. in Maternal Emotion relata o ocorrido com um policial que teve uma desordem na pituitária e como conseqüência aumentou a secreção do hormônio lactogênico. Durante este período, ele tomou-se muito maternal em relação ao seu comportamento anterior. Quando o nível hormonal retornou à normalidade este comportamento se tornou menos marcante.

Ressalta também que há influência de emoção sobre a secreção e expulsão do leite:

— as emoções podem reduzir o fluxo sangüíneo da mama quando a mulher está sob estado de tensão e/ou excitação, reduzindo para 1/4 do fluxo normal. Como o sangue carrega o precursor do leite, nos estados de tensão e/ou excitação, haverá um prejuízo no suprimento de leite;

— a dor, cólica, mamilos dolorosos e outros estados, tornando-se repetitivos durante o ato da amamentação, assumem um caráter ritualista que agem negativamente sobre o mecanismo reflexo (arco-reflexo) contribuindo para menor ejeção láctea.

WIDENBACH1010 WIDENBACH, E. - Safegnard the mother's breasts. The American Journal of Nursing, 9:544, 1951 lembra que as mamas estão intimamente relacionadas com todo o processo reprodutivo. Sua resposta para as necessidades nutricionais do bebê depende sobretudo do estado físico-mental e emocional da mãe do que o seu desenvolvimento para melhor suprimento do leite.

Também cita que Charlotte Narish afirma que produzir leite não é só uma função da mama, mas sim uma função integral da mulher, em que a mama meramente faz a última parte do trabalho.

TYLDEN9TYLDEN, E. Psychological and social considerations in breastfeeding. Journal of Human Nutrition, 30 (4):239-244, 1976. comenta que as famílias que tem como tradição o hábito de amamentar transmitem às meninas um sentimento de prazer vinculado à lactação.

NOVAES8NOVAES, D.T.P. - Conhecimento das mães sobre aspectos do aleitamento materno. São Paulo, 1978. (Tese de Mestrado, Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo). afirma que "o ato de amamentar comporta um conjunto de aspectos profundos do relacionamento interpessoal, tais como: a disponibilidade da mãe, os contactos físicos, sensoriais, verbais e afetivos".

Durante a mamentação há oportunidade de uma aproximação mais afetiva entre a mãe e filho que leva a suavizar o trauma da separação provocado pelo parto, através da sensação "da volta ao corpo materno" o que permite ao recém-nascido reelaborar o impacto da separação. O aconchego durante a amamentação proporciona um contacto epidérmico, transmissão de afeto através do olhar e da movimentação do corpo, que leva ao estabelecimento de uma relação materno filial sadia. (MALDONADO 6MALDONADO, M.T.P. - Psicologia da gravidez. Petrópolis, R.J., Editora Vozes Ltda., 1976, 11-65.)

EVANS e col. 2EVANS, R.T. e col. - Exploration of factors involved in maternal physiological adaptation to breastfeeding. Nursing Research, 18(1) :28-33, 1969., estudando os fatores que afetam a adaptação fisiológica no aleitamento, concluíram que as necessidades maternas prioritárias são: físicas, de informação e psico-sociais. Enfatizam ainda a necessidade da ação da enfermagem durante o l.c mês de lactação.

O parecer de WIEDENBACH1010 WIDENBACH, E. - Safegnard the mother's breasts. The American Journal of Nursing, 9:544, 1951 reforça o de EVANS e col. 2EVANS, R.T. e col. - Exploration of factors involved in maternal physiological adaptation to breastfeeding. Nursing Research, 18(1) :28-33, 1969. quando afirma que há três responsabilidades da enfermeira na adaptação da mãe à amamentação :

— ajudar a mãe a identificar as condições para amamentar o bebê quando o tempo chegar;

— ajudar a mãe a entender o valor da amamentação;

— ajudar a mãe a desenvolver um sentimento positivo em relação à amamentação, tornando o ato possível e seguro.

GRANT3GRANT, D.M. - Greast feeding maybe a dying "art". The canadian Nurse, 64(8):45-65, 1968. lembra que o pessoal de enfermagem, sempre em pequeno número e excessivamente ocupado, encontra dificuldade em achar tempo para encorajar a mãe a amamentar, considera que a chave do sucesso da mulher que amamenta pode estar nas mãos de uma enfermeira; portanto esta deve examinar freqüentemente sua atitude frente às necessidades especiais da mãe que amamenta.

Se a enfermeira tem a oportunidade de primariamente prevenir um bom relacionamento mãe-filho, nada mais importante do que agir nos primeiros contactos mãe e filho, porque é neste início que se começará a solidificar a base mental da criança.

Assim podemos salientar que:

— a mãe que amamenta está completando o seu destino biológico na perpetuação da espécie;

— a mãe que amamenta está se protegendo contra o câncer mamário;

— a mãe que amamenta terá muito mais oportunidade de conhecer seu filho, de enxergá-lo como uma pessoa, que tem suas próprias características;

— a mãe que amamenta favorece uma melhor interação mãe-filho;

— a mãe que amamenta está colaborando com a mais antiga firma que existe "Natureza S/A";

— a mãe que amamenta pelo menos 6 meses, considerando que cada mamada dura 20 minutos, pode-se dizer com segurança que ela dedicou 360 horas de muito afeto e amor ao seu filho.

  • MAMEDE, M.V. e colaboradores - Importância da amamentação no relacionamento saudável mãe e filho. Rev. Bras. Enf.; DF, 32 : 299-302, 1979.
  • *
    Tema Livre apresentado no XXXI CBEn — Fortaleza — Ceará — 1979.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1
    CAPLAN, G. - An approach to communith mental health. N.Y., Grune & Stratton, Inc., 1961, 97-132.
  • 2
    EVANS, R.T. e col. - Exploration of factors involved in maternal physiological adaptation to breastfeeding. Nursing Research, 18(1) :28-33, 1969.
  • 3
    GRANT, D.M. - Greast feeding maybe a dying "art". The canadian Nurse, 64(8):45-65, 1968.
  • 4
    GRELLE, F.C. - Vade-mécmn de Obstetrícia. l.ª ed., Rio de Janeiro, Livraria Atheneu, 1963, 197-207.
  • 5
    LINHARES, E. - Mamas. Lactação. In: REZENDE, J. - Obstetrícia. 3.ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1974, 336-338.
  • 6
    MALDONADO, M.T.P. - Psicologia da gravidez. Petrópolis, R.J., Editora Vozes Ltda., 1976, 11-65.
  • 7
    NEWTON, N. - Maternal emotions New York, Paul. B. Hoeber, Inc. 1955, 43-58.
  • 8
    NOVAES, D.T.P. - Conhecimento das mães sobre aspectos do aleitamento materno. São Paulo, 1978. (Tese de Mestrado, Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo).
  • 9
    TYLDEN, E. Psychological and social considerations in breastfeeding. Journal of Human Nutrition, 30 (4):239-244, 1976.
  • 10
    WIDENBACH, E. - Safegnard the mother's breasts. The American Journal of Nursing, 9:544, 1951

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 1979
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