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O significado do cuidado do paciente com aids uma perspectiva de compreensão

Resumos

Os autores se propõe a desvelar facetas do significado do cuidado ao paciente com AIDS, aos olhos dos funcionários do Serviço de Enfermagem que cuidam do paciente. Para tanto, recorrem a uma metodologia de pesquisa qualitativa - a investigação fenomenológica - que lhes permita o acesso a esse objeto de estudo, à sua essência. Desta forma, são coletados depoimentos de funcionários de uma Clínica de Moléstias Infecto-Contagiosas de um Hospital Geral Escola, mediante a questão orientadora "o que significa para você o cuidado com AIDS ?" Os depoimentos foram analisados segundo suas convergências de acordo com os passos da pesquisa fenomenológica e, a partir delas, foram elaboradas as unidades significativas que expressam a essência dp significado desse cuidado, os resultados mostram o desvelamento de facetas importantes ligadas ao cuidado do paciente com AIDS, tais como o risco e o medo que permeiam o cotidiano de trabalho desses funcionários, o desconforto gerado pela necessidade do uso de vários paramentos para a execução das técnicas, bem como toda a dificuldade que sentem no lidar com paciente percebido por eles como "difícil". Surgem ainda facetas fundamentais verbalizadas por eles como a opção pessoal para prestar o cuidado, associada à necessidade de preparo, valorização e reconhecimento. "Na opinião dos autores, o desvelamento dessas facetas se constitui em novos caminhos para a assistência de enfermagem ao paciente com AIDS na medida em que contempla a essência do cuidado aos olhos de quem o presta, em sua situcionalidade.


The objective of the present study was to clarify the differents aspects of the meaning of care for patients with AIDS as seen by nursing employees who provide this care. The research methodology used has been a qualitative one phenomenologic investigation - that would permit access to this topic of study and to its essence. Thus, statements were obtained from the employees of a Clinic for Infectious - Contagious Diseases of a General Teaching Hospital in response to the following quiding question: "What does it mean to you to care for a patient whith AIDS ? The statements were analyzed according to their convergencies using the steps of phenomenologic research, and the significant units that express the essence of the meaning of this care were elaborated from them. The results led the classification of important aspects related to the care for the patients with AIDS, such as the risk an fear that permeat the daily work routine of these employees, the disconfort generated by the need using several parameters for the execution of the techniques, and the difficulty they experience in dealing with patients that are perceived by them as "difficult" ones. Fundamental aspects have been also verbalized by the employees, such as a personal option to care for these patients, associated with the need for preparation, appreciation and recognition. In the author's opinion, the classification of these aspects opens new means for nursing care to patients with AIDS by contemplating the essence of care as seen by those who provide it, in its situationality.


O significado do cuidado do paciente com aids uma perspectiva de compreensão* * Prêmio Wanda de Aguiar Horta - 1 - Lugar - 42º Congresso Brasileiro de Enfermagem - Natal-RN **** Manual - AIDS - Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo - Edição pela Federação de Obras Sociais - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina - USP - Projeto AIDS/USP, 1988 * I Encontro lnteramericano de Pesquisa Qualitativa em Enfermagem, São Paulo, 22 a 26 de fevereiro de 1988

Dorotea Erica DreslerI; Magali Roseira BoemerII

IEnfermeira Chefe da Unidade de Internação Moléstias Infecto-Contagiosas do Hospital das Clínicas da Faculdades de Medicina de Ribeirão Preto - USP - COREn SP 8486

IIProfessor Associado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP - COREn SP 6331

RESUMO

Os autores se propõe a desvelar facetas do significado do cuidado ao paciente com AIDS, aos olhos dos funcionários do Serviço de Enfermagem que cuidam do paciente. Para tanto, recorrem a uma metodologia de pesquisa qualitativa - a investigação fenomenológica - que lhes permita o acesso a esse objeto de estudo, à sua essência. Desta forma, são coletados depoimentos de funcionários de uma Clínica de Moléstias Infecto-Contagiosas de um Hospital Geral Escola, mediante a questão orientadora "o que significa para você o cuidado com AIDS ?" Os depoimentos foram analisados segundo suas convergências de acordo com os passos da pesquisa fenomenológica e, a partir delas, foram elaboradas as unidades significativas que expressam a essência dp significado desse cuidado, os resultados mostram o desvelamento de facetas importantes ligadas ao cuidado do paciente com AIDS, tais como o risco e o medo que permeiam o cotidiano de trabalho desses funcionários, o desconforto gerado pela necessidade do uso de vários paramentos para a execução das técnicas, bem como toda a dificuldade que sentem no lidar com paciente percebido por eles como "difícil". Surgem ainda facetas fundamentais verbalizadas por eles como a opção pessoal para prestar o cuidado, associada à necessidade de preparo, valorização e reconhecimento. "Na opinião dos autores, o desvelamento dessas facetas se constitui em novos caminhos para a assistência de enfermagem ao paciente com AIDS na medida em que contempla a essência do cuidado aos olhos de quem o presta, em sua situcionalidade.

ABSTRACT

The objective of the present study was to clarify the differents aspects of the meaning of care for patients with AIDS as seen by nursing employees who provide this care. The research methodology used has been a qualitative one phenomenologic investigation - that would permit access to this topic of study and to its essence. Thus, statements were obtained from the employees of a Clinic for Infectious - Contagious Diseases of a General Teaching Hospital in response to the following quiding question: "What does it mean to you to care for a patient whith AIDS ? The statements were analyzed according to their convergencies using the steps of phenomenologic research, and the significant units that express the essence of the meaning of this care were elaborated from them. The results led the classification of important aspects related to the care for the patients with AIDS, such as the risk an fear that permeat the daily work routine of these employees, the disconfort generated by the need using several parameters for the execution of the techniques, and the difficulty they experience in dealing with patients that are perceived by them as "difficult" ones. Fundamental aspects have been also verbalized by the employees, such as a personal option to care for these patients, associated with the need for preparation, appreciation and recognition. In the author's opinion, the classification of these aspects opens new means for nursing care to patients with AIDS by contemplating the essence of care as seen by those who provide it, in its situationality.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 BEAINI, T.C. A escuta do silêncio um estudo sobre a linguagem no pensamento de Heidegger. São Paulo: Cortez, 1981.

2 BERGAMO, M.; MARCELINO, K.; GARRIDO, L.S. Procedimentos Técnicos Básicos na prevenção da "AIDS" num Centro Cirúrgico de grande porte. Rev. Bras. Enf., Brasília, 41(2), 155-160, Abril/Junho, 1988.

3 BOEMER, M.R. e cols. A quem oferecemos o cuidado de Enfermagem - Uma visão fenomenológica, In: I Seminário Nacional - o perfil e a competência do enfermeiro - ANAIS, Brasília, Secretaria da Saúde - Fundação Hospitalar do Distrito Federal, 28 de setembro a 2 de outubro, 95-103p., 1987 (publicado em 1989).

4 BONTEMPO, M. "AIDS" - Esclarecimento global e uma abordagem alternativa", São Paulo, 158p.

5 DANIEL, L.F. A enfermagem planejada. São Paulo, EPU, 133p. 1981.

6 DESSUNTI, E.M. Percepção de discentes e equipe de enfermagem em relação ao paciente com suspeita ou diagnóstico de AIDS, Rev. Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, 10(1): 45-51, janeiro de 1989.

7 GIR, E. Interação verbal entre a equipe de enfermagem e pacientes aidéticos. Dissertação de Mestrado, EERP-USP, Ribeirão Preto, 1988, 210p.

8 HEIDEGGER, M. El ser y el tiempo. Tradução J. Gaos. México, Fondo de Cultura. 1967.

9 KUBLER - ROSS, E. AIDS - O desafio final, Editora Best-Seller, São Paulo, 1967.

10 LACAZ, C.S. AIDS: Doutrina, aspectos iatrofilosòficos, infecções oportunistas associadas. São Paulo: Salvador, 124p. 1985.

11 LIMA, M.B.C. AIDS/SIDA - Rio de Janeiro: Medsi, 156p. 1986.

12 LOWEN, A. O corpo em depressão, as bases biológicas da fé e da realidade, São Paulo: Summers, 220p. 1972.

13 MACIEL, P.M.A, Os enfermeiros frente ao paciente com Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA-AIDS), uma proposta de assistência de enfermagem. Rio de Janeiro: - Escola de Enfermagem Ana Neri, 1987, 15p. (Dissertação de Mestrado).

14 MARTINS, J.& BICUDO, M.A.V. - A pesquisa qualitativa em psicologia: Fundamentos e recursos básicos. Moraes, São Paulo: 1989.

15 MARTINS, J. et allii - A fenomenologia como alternativa metodológica para pesquisa. (No prelo da Revista de Enfermagem, São Paul).

16 MENEGHIM, P. AIDS: Assistência de enfermagem e revisão de literatura. Rev. Paul. Enf., São Paulo: 6(3): 99-107, juL/set, 1986.

17 MORIYA, T.M. MANZOLI,M.C., Isolamento em doenças transmissíveis: conceituação em Enfermagem. Rev. Esc. Enf. - USP., São Paulo: 20(2): 89-100,1986.

18 OLIVEIRA, M.H.P.; VIETTA,E.P.; MORIYA, T.M.; GIR, E. Reações emocionais dos portadores de doenças sexualmente transmissíveis no momento da confirmação do seu diagnóstico, Rev. Bros. Ef., Brasília, 40(1), jan./fev./mar., 1987.

19 PASTERNAK, J. AIDS - Verdade e mito: história e fatos, São Paulo: 159p. Círculo do Livro, 1988.

20 PRATT, R.S. AIDS -Uma estratégia para a assistência de enfermagem, São Paulo, Ática, 1986,141p.

21 VERONESI, R.; FOCACCIA, R. AIDS entre profissionais de saiíde: riscos e prevenção. Rev. Bras. de Clínicas e Terapêuticas. XVIII (4): 130-132, Abril, 1989.

ANEXO 1

Recomendações específicas pertinentes às rotinas e técnicas exigidas para a prevenção e isolamento portadores de AIDS.

1. É usado dentro do sistema de isolamento uma placa de fundo amarelo nas bordas, e no centro traz as precauções escritas em fundo branco, recomendando-se desta forma o isolamento protetor com precauções de fluidos e sangue:

2 Dentro do quarto: aparelho de pressão, estetoscópio, termômetro, colchão forrado de plástico.

3 Uso de óculos protetores em casos de colheita de sangue arterial, aspiração de vias aéreas ou outros procedimentos com riscos.

4 Uso de objetos descartáveis: seringas, agulhas, copos, pratos, talheres, etc.

5 Não reencapar agulhas e escalpes.

6 Material cortante e seringas com sangue desprezar em galões de plástico duro e com tampas.

7. Retirar roupa com técnica de saco duplo e em saco plástico de 100 litros.

8 Retirar material e lixo em saco plástico duplo.

9. Tubos, frascos, recipientes com material coletado (sangue, urina, fezes, escarro, liquor, material de biópsias): tampar e identificar com durex vermelho e transportar em caixa de aço inoxidável com tampa. Desinfetar a parte externa com álcool a 70%.

10. Desinfecção de fluídos com solução de hipoclorito de sódio a 2% durante meia hora.

11. Limpeza de unidade com hipoclorito de sódio a 2%. Enxaguar após meia hora, pois o risco de oxidação e grande.

12. Propés usados - colocar em saco plástico separado dentro do saco de roupa.

13. Luvas usadas, sem sangue ou fluidos, colocar em galheteiro separado. Retirar em saco plástico, encaminhar à Central de Material.

14. Todo material do quarto - identificar com colante vermelho com as letras MC impressas (Material Contaminado).

15. Material usado de borracha - desprezar.

16. Material de aço inoxidável - encaminhar em saco plástico à Central de Material.

17. Material que não pode sofrer a ação do calor - usar solução de glutaraldeido durante meia hora. Enxaguar em água corrente com luvas. Se for necessário esterilização - deixar após por 10 horas.

18. Material que não pode sofrer a ação do calor ou da solução de glutaraldeido - encaminhar à Central de Oxidoetileno.

19. Água para beber - usar frasco estéril de vidro.

20. Superfícies onde se derramar fluídos do paciente - desinfetar com solução de hipoclorito de sódio a 2% forrar com papel e limpar após 30 minutos.

21. Toda roupa que estiver no paciente deve estar livre de fluidos. Retirar logo, colocando no saco de roupa suja, se houver.

  • 1 BEAINI, T.C. A escuta do silêncio um estudo sobre a linguagem no pensamento de Heidegger. São Paulo: Cortez, 1981.
  • 2 BERGAMO, M.; MARCELINO, K.; GARRIDO, L.S. Procedimentos Técnicos Básicos na prevenção da "AIDS" num Centro Cirúrgico de grande porte. Rev. Bras. Enf., Brasília, 41(2), 155-160, Abril/Junho, 1988.
  • 3 BOEMER, M.R. e cols. A quem oferecemos o cuidado de Enfermagem - Uma visão fenomenológica, In: I Seminário Nacional - o perfil e a competência do enfermeiro - ANAIS, Brasília, Secretaria da Saúde - Fundação Hospitalar do Distrito Federal, 28 de setembro a 2 de outubro, 95-103p., 1987 (publicado em 1989).
  • 4 BONTEMPO, M. "AIDS" - Esclarecimento global e uma abordagem alternativa", São Paulo, 158p.
  • 5 DANIEL, L.F. A enfermagem planejada. São Paulo, EPU, 133p. 1981.
  • 6 DESSUNTI, E.M. Percepção de discentes e equipe de enfermagem em relação ao paciente com suspeita ou diagnóstico de AIDS, Rev. Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, 10(1): 45-51, janeiro de 1989.
  • 7 GIR, E. Interação verbal entre a equipe de enfermagem e pacientes aidéticos. Dissertação de Mestrado, EERP-USP, Ribeirão Preto, 1988, 210p.
  • 8 HEIDEGGER, M. El ser y el tiempo. Tradução J. Gaos. México, Fondo de Cultura. 1967.
  • 9 KUBLER - ROSS, E. AIDS - O desafio final, Editora Best-Seller, São Paulo, 1967.
  • 10 LACAZ, C.S. AIDS: Doutrina, aspectos iatrofilosòficos, infecções oportunistas associadas. São Paulo: Salvador, 124p. 1985.
  • 11 LIMA, M.B.C. AIDS/SIDA - Rio de Janeiro: Medsi, 156p. 1986.
  • 12 LOWEN, A. O corpo em depressão, as bases biológicas da fé e da realidade, São Paulo: Summers, 220p. 1972.
  • 13 MACIEL, P.M.A, Os enfermeiros frente ao paciente com Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA-AIDS), uma proposta de assistência de enfermagem. Rio de Janeiro: - Escola de Enfermagem Ana Neri, 1987, 15p. (Dissertação de Mestrado).
  • 14 MARTINS, J.& BICUDO, M.A.V. - A pesquisa qualitativa em psicologia: Fundamentos e recursos básicos. Moraes, São Paulo: 1989.
  • 15 MARTINS, J. et allii - A fenomenologia como alternativa metodológica para pesquisa. (No prelo da Revista de Enfermagem, São Paul).
  • 16 MENEGHIM, P. AIDS: Assistência de enfermagem e revisão de literatura. Rev. Paul. Enf., São Paulo: 6(3): 99-107, juL/set, 1986.
  • 17 MORIYA, T.M. MANZOLI,M.C., Isolamento em doenças transmissíveis: conceituação em Enfermagem. Rev. Esc. Enf. - USP., São Paulo: 20(2): 89-100,1986.
  • 18 OLIVEIRA, M.H.P.; VIETTA,E.P.; MORIYA, T.M.; GIR, E. Reações emocionais dos portadores de doenças sexualmente transmissíveis no momento da confirmação do seu diagnóstico, Rev. Bros. Ef., Brasília, 40(1), jan./fev./mar., 1987.
  • 19 PASTERNAK, J. AIDS - Verdade e mito: história e fatos, São Paulo: 159p. Círculo do Livro, 1988.
  • 20 PRATT, R.S. AIDS -Uma estratégia para a assistência de enfermagem, São Paulo, Ática, 1986,141p.
  • *
    Prêmio Wanda de Aguiar Horta - 1 - Lugar - 42º Congresso Brasileiro de Enfermagem - Natal-RN
    **** Manual - AIDS - Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo - Edição pela Federação de Obras Sociais - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina - USP - Projeto AIDS/USP, 1988
    * I Encontro lnteramericano de Pesquisa Qualitativa em Enfermagem, São Paulo, 22 a 26 de fevereiro de 1988
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Fev 2015
    • Data do Fascículo
      Mar 1991
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