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Capacitação das parteiras para a assistência ao parto: uma proposta do ministério da saúde

RESENHA

Capacitação das parteiras para a assistência ao parto: uma proposta do ministério da saúde

Qualification of midwives for delivery assistance: a proposal of the federal health department

Capacitación de las parteras para asistir el parto: una propuesta del ministerio de la salud

Anna Maria Hecker Luz

Enfermeira. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e da Pós-Graduação, Mestrado em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutoura em Educação pela PUCRS

Esta resenha tem o objetivo de divulgar a intenção do Ministério da Saúde para a melhoria dos cuidados obstétricos na capacitação e supervisão das parteiras tradicionais, em publicação intitulada -"Livro da Parteira" e "Trabalhando com parteiras tradicionais", editado pelo Ministério da Saúde e Grupo Curumim, Área Técnica da Saúde da Mulher em Brasília, no ano de 2000.

No Brasil, apesar da grande maioria dos partos ocorrerem em hospitais, a mortalidade materna é um desafio para o Ministério da Saúde que se empenha para superá-lo. Nesse sentido, adota uma série de medidas para a implantação da assistência pré-natal, atenção à gestante de alto risco, redução das taxas de cesariana e a promoção do parto normal.

Nas últimas décadas, há uma rápida expansão do desenvolvimento e uso de uma variedade de práticas: para desencadear, corrigir a dinâmica uterina, acelerar, regular ou monitorar o processo fisiológico do parto e táticas cirúrgicas para antecipar ou abreviar o nascimento. Apesar dessas medidas pretenderem melhores resultados para as mães e seus recém-nascidos, muitas vezes, servem para racionalizar padrões de trabalho hospitalar ou incrementar a "cultura de cesarianas", que se justificam somente na assistência às mulheres com complicações do parto.

Infelizmente, essas práticas têm ampla variedade de efeitos negativos e algumas delas com sérias implicações. Portanto, questiona-se se esses altos níveis de intervenção são realmente necessários. A adoção sem critérios de uma série de intervenções inoportunas, inadequadas ou desnecessárias põem em risco a assistência materna ¾ de proteção à saúde, para obter mãe e criança saudáveis ¾ com o menor nível de intervenção compatível com a segurança.

Além disso, para um contingente de mulheres brasileiras sob influência de fatores geográficos, econômicos e sociais especialmente, nas zonas rurais, pesqueiras e lugares mais distantes, a única opção que existe para dar a luz é o parto domiciliar contando com a experiência de parteiras, muitas vezes, em condições precárias e sem muito preparo técnico.

A abordagem ao parto normal e maternidade segura implica que o prestador de serviços de parto tenha condições de treinamento adequado e habilidade obstétrica apropriada à assistência. Essas habilidades devem permitir que o prestador de serviços avalie os fatores de risco, reconheça as complicações, observe as condições maternas, acompanhe o estado do feto e do recém-nascido e encaminhe os casos que exijam intervenções além da sua competência. E, com igual importância, é preciso ter paciência e empatia necessárias para o apoio à parturiente e sua família.

As publicações conjuntas do Ministério da Saúde e do Grupo Curumim são, aqui, sintetizadas para dar conhecimento prévio do seu conteúdo. No entanto, recomenda-se a leitura na íntegra por tratar-se de importante manual técnico a ser utilizado pelos profissionais de saúde na capacitação e supervisão das parteiras, em especial às enfermeiras, profissionais que, via de regra, executam os programas de educação em saúde.

Nesse sentido, o "Livro das Parteiras" serve de material de apoio ao processo de aprendizagem das parteiras, como um dos principais instrumentos pedagógicos para a sua capacitação. O texto do livro é sumário, com o uso de poucas palavras e possui recursos visuais (desenhos e fotos) que facilitam o entendimento, de modo que a parteira possa utilizálo como material de consulta em casos de dúvida nos procedimentos para a saúde da mãe e do bebê, mesmo não sendo alfabetizada. É dividido em 11 capítulos: o corpo da mulher; pré-natal; exames que a parteira pode e deve fazer; trabalho e posições do parto; cuidados com o recémnascido; material para um parto limpo; experiência de um parto em domicílio; problemas na gravidez, parto, depois do parto e com o bebê; como encaminhar em caso de problemas; amamentação; plantas medicinais.

"Trabalhando com parteiras tradicionais" serve de apoio pedagógico, apresentando diferentes técnicas de oficina para o desenvolvimento dos temas. Muitas das técnicas sugeridas nesse livro são desenvolvidas pelo movimento cie mulheres e movimento popular de saúde. Criadas, adaptadas e utilizadas como instrumento de sensibilização sobre a questão de gênero e para a reciclagem de conhecimentos técnicos. Trata-se de uma proposta de processo de capacitação das parteiras tradicionais, de metodologia lúdica e criativa, valorizando suas experiências pessoais na tentativa de atenuar a postura educacional professor/aluno através de metodologia participativa.

O conteúdo das oficinas, em número de 17, aborda, além dos temas do Livro da Parteira, outros de integração grupai, valorização pessoal, gênero, sexualidade e direitos reprodutivos, notificação do parto e avaliação da capacitação.

O programa de atividade com o grupo inclui técnicas corporais com o objetivo de ampliar e fortalecer o potencial interno das participantes através do processo de integração corpo/mente. Para o desenvolvimento das atividades são apresentados os objetivos, a técnica empregada, as dicas (número de participantes, duração, recomendações ao educador) e a aplicação (material empregado, tarefa a ser executada).

Portanto, essa publicação é útil não só para os que serão responsáveis pela capacitação das parteiras tradicionais, mas para todas as enfermeiras que fazem educação em serviço ou desenvolvem atividades com grupos específicos: discentes de enfermagem, gestantes, idosos, hipertensos...

A proposta do Ministério da Saúde, contida nessas publicações, é auxiliar e capacitar as parteiras tradicionais para a assistência ao parto normal que prestam às mulheres e seus recém-nascidos, além de permitir o desabrochar, nos profissionais de saúde, da necessidade da parceria no trabalho, permitindo a integração das parteiras aos serviços de saúde e acolhendo as mulheres por elas encaminhadas.

A idéia do Ministério da Saúde, colocada em prática pela proposta do Grupo Curumim que visa a capacitação da parteira tradicional, representa a possibilidade de troca de experiência pessoal acumulada numa vida de trabalho, amor, respeito e valorização dos momentos sagrados e amorosos da vida de uma mulher. Também possibilita reflexões que auxiliam de maneira profunda e significativa "o assistir o parto". Essa contribuição pode representar o salto qualitativo para os prestadores de serviços no parto normal, em auto-reflexão e crescimento profissional.

Nessa possibilidade de troca, pode-se muito mais do que ensinar, aprender com as parteiras uma maneira mais humana de assistiras mulheres, resgatando o saber fundamental para se conservar a intimidade do parto. A recuperação da magia e do encantamento do nascimento fazem parte dessa simbologia de se encarar tanto o parto e seu desenrolar quanto os cuidados com o recém-nascido, por condições de maior respeito e humanismo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jun 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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