O significado de aprender a pesquisar durante a graduação

El significado del aprender a investigar durante la graduación

The meaning of learning how to research during graduation

PESQUISA

O significado de aprender a pesquisar durante a graduação

The meaning of learning how to research during graduation

El significado del aprender a investigar durante la graduación

Zeneide Soubhia^I; Maria Lúcia Garanhani^II; Elma Mathias Dessunti^III

^IEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual de Londrina, PR. [e-mail]

^IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual de Londrina, PR

^IIIEnfermeira. Doutora em Saúde Pública. Docente da Universidade Estadual de Londrina, PR

RESUMO

O trabalho apóia-se na seguinte inquietação: Como o aluno de graduação percebe o seu processo de aprendizagem da pesquisa? O objetivo foi compreender o significado de aprender a pesquisar para o aluno. Trata-se de estudo qualitativo utilizando o referencial de Bardin. O instrumento de coleta de dados continha duas questões norteadoras aplicados a 42 alunos do Currículo de Transição e a 49 alunos do Currículo Integrado do curso de Enfermagem da UEL. A análise dos discursos dos sujeitos permitiu a construção de cinco categorias compostas por subcategorias temáticas que desvelam o significado de aprender pesquisar para esses alunos. O olhar sobre os dados permitiu perceber que a aprendizagem da pesquisa é um processo dinâmico, complexo e constante que requer tempo para o seu desenvolvimento.

Descritores: Pesquisa; Ensino; Auto-avaliação.

ABSTRACT

This paper is based on the following inquiry: how do the students realize their research learning process? The aim was to understand the meaning of learning how to research to students. It is a qualitative study that uses the Bardin referential. The sheet used to collect the data had the two guideline questions and were applied to 42 students of the Transition Curriculum and to 49 students of the Integrated Curriculum at UEL Nursing Course. The assessment of the speeches allowed the gathering of five groups segmented into thematic subgroups that unfold the students' meaning of learning. This approach has permitted the acknowledgement that research learning is a complex, dynamic and constant process which requires time they can develop their competence in research.

Descriptors: Research; Teaching; Self-assessment (psychology).

RESUMEN

Este trabajo parte de la siguiente inquietud: ¿Cómo el alumno percibe su proceso de aprendizaje de la investigación? El objetivo del estudio ha sido comprender el significado de aprender a investigar para el alumno. Se trata de estudio cualitativo utilizando el referencial de Bardin. El instrumento de colecta de datos contenía dos cuestiones que nortean aplicados para 42 alumnos del Currículo de Transición y 49 alunmos del Currículo Integrado del Curso de Enfermería de la UEL. El análisis de los discursos de los sujetos permitió la construcción de cinco categorías compuestas por subcategorías temáticas que desvelan el significado de aprender a investigar. El mirar sobre los datos ha permitido percibir que el aprendizaje de la investigación es un proceso dinámico, complejo y constante que requiere tiempo para el alumno desenvolver su habilidad en investigación.

Descriptores: Investigación; Enseñanza; Autoevaluación.

1. INTRODUÇÃO

O significado de ensinar e aprender a pesquisar sempre foi uma preocupação como docentes de Metodologia de Pesquisa. O freqüente ir e vir da teoria à prática e da prática à teoria, participando de aulas, discussões, orientações e de bancas de avaliação de investigações, consolidaram algumas indagações sobre formas mais eficazes para ensinar e aprender pesquisa e, como o aluno vê o seu próprio modo de aprender a pesquisar.

A mudança curricular do Curso de Graduação em Enfermagem, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), passando de uma estrutura tradicional (Currículo de Transição) para uma integrada (Currículo Integrado) foi fundamental para oportunizar o estudo desta temática, enfocando a aprendizagem da pesquisa. No Currículo de Transição a pesquisa estava estruturada dentro de uma disciplina específica, assim como na disciplina de Práticas Interdisciplinares e Multiprofissionais (PIN) que, obrigatoriamente, utiliza a pesquisa como estratégia de aprendizagem. No Currículo Integrado o conteúdo está diluído nos vários módulos do curso, além de atividades mais direcionadas como o PIN e o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Este trabalho parte da seguinte inquietação: como o aluno percebe o seu processo de aprendizagem da pesquisa durante a graduação?

O olhar do aluno sobre seu próprio aprendizado pode oferecer pistas para o corpo docente do Curso de Enfermagem para adequar os conteúdos de acordo com o desenvolvimento do aluno, com situações específicas dos campos de ensino e com a complexidade do tema abordado no módulo. Assim, o conhecimento adquirido passa ser uma luz que possibilite ver melhor a realidade⁽¹⁾.

O problema em estudo foi explorado por meio de uma auto-avaliação e os significados de aprender a pesquisar foram categorizados, utilizando-se como recurso a Análise de Conteúdo⁽²⁾.

O presente estudo pretende proporcionar aos docentes do ensino da pesquisa subsídios para reflexão sobre o modo de ensinar e aprender a pesquisa durante um curso de graduação.

O objetivo do estudo foi: compreender o significado de aprender a pesquisar para o aluno de graduação em Enfermagem.

2. METODOLOGIA

Este estudo foi desenvolvido na abordagem qualitativa utilizando o referencial de análise de conteúdo para organizar os discursos coletados⁽²⁾.

O estudo foi realizado com alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina - UEL

Participaram do estudo formandos de dois projetos curriculares do Curso de graduação em Enfermagem, o que estava em desativação - Currículo de Transição (CT) e o que estava sendo implantado - Currículo Integrado (CI).

O instrumento de coleta de dados (auto-avaliação) continha a seguinte questão norteadora para os alunos do CT: o que significou vivenciar o ensino de Metodologia de Pesquisa durante o curso? E para os alunos do CI, o que significou vivenciar o ensino de Metodologia de Pesquisa com o conteúdo distribuído nos módulos do curso?

Os dados foram coletados junto a 42 alunos do CT, formandos de 2002 e 49 alunos do CI, formandos de dezembro de 2003. Essa atividade foi desenvolvida em momentos planejados para tal propósito.

Os alunos dos dois projetos curriculares foram informados com antecedência sobre as atividades da coleta de dados e que poderiam desistir a qualquer momento da pesquisa, sem prejuízo de seu desempenho acadêmico. Foi esclarecido, nesse momento, que a participação não era obrigatória, que todas as informações obtidas eram mantidas em sigilo e somente utilizadas na construção dos resultados da pesquisa. Os alunos que concordaram em participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto que gerou informações para este artigo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEL em 03/01/03.

A organização dos discursos foi ensaiada de diversas maneiras até resultar na construção de categorias e subcategorias. . A análise dos discursos dos graduandos foi subsidiada pelo referencial de análise de conteúdo de Bardin⁽²⁾.

Em primeiro lugar, apresentaremos uma visão global, mostrando a convergência das falas para as categorias; em seguida, adentraremos nos significados mais específicos dos discursos.

2.1 Análise dos Resultados

Procuramos, neste tópico, por em evidência os discursos dos graduandos sobre o significado de aprender a pesquisar no Curso de Enfermagem. Embora essas falas estejam categorizadas, não representam expressões independentes.

Os discursos dos graduandos dos dois currículos foram agrupados em cinco categorias: pontos positivos, pontos negativos, exigências, aproveitamento e sugstões. As diferentes falas que integram essas categorias foram salientadas em subcategorias.

Após essa primeira avaliação, procuramos interpretar esses discursos, visando descobrir o que significava para esses alunos aprender a pesquisar. Isso resultou em subcategorias que foram incluídas na primeira classificação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos discursos dos sujeitos permitiu a construção das cinco categorias compostas por várias subcategorias temáticas que desvelam o significado de aprender pesquisar para os alunos.

Em pontos positivos foram agrupados os discursos que salientavam a importância da pesquisa para a aprendizagem, bem como a referência a situações que a favoreciam. Em pontos negativos, foram reunidos os discursos relativos a experiências negativas com a aprendizagem da pesquisa. Em exigêncas, foram agrupados os discursos que expressavam requisitos importantes para a realização da pesquisa. Em aproveitamento foram organizados os discursos que manifestavam o julgamento do aluno sobre seu desenvolvimento. Em sugestões, foram reunidos os discursos que apresentavam sugestões relativas à forma de ensinar a pesquisa.

No movimento seguinte da análise dos discursos percebemos temas que nos possibilitaram a criação das subcategorias.

Em pontos positivos desvelaram-se oito subcategorias:

a)Falando sobre o incentivo revela falas que atribuem importância à motivação como recurso didático para despertar o aluno para aprender.

Desperta o aluno para a descoberta de coisas novas ou de validar a realidade vivida (T Nº 9).

É muito importante inserir o aluno no aprendizado da pesquisas para que eles consigam entender o seu significado (I Nº 40).

b)Valorizando a pesquisa no contexto de ensino e aprendizagem descreve discursos que permitem perceber que pesquisa para os alunos constitui-se em algo importante que favorece o seu desenvolvimento.

Foi uma ótima experiência e um grande aprendizado... (T Nº 10)

A pesquisa é uma atividade extremamente importante e enriquecedora para a nossa formação, é através dela que aprendemos a conhecer a realidade (I Nº 2).

A pesquisa colabora para a definição do papel da enfermeira perante as necessidades relacionadas à saúde da população, bem como para a compreensão, pelos profissionais, das dimensões da profissão, os quais, pela pesquisa, podem descrever, explicar e intervir nos fenômenos relacionados à prestação de serviços em saúde⁽³⁾.

c)Reconhecendo que a prática é fundamental comporta os discursos dos graduandos que valorizam as situações em que a pesquisa foi exercitada durante o curso.

... praticar a pesquisa durante a graduação foi de extrema importância porque me fornecem subsídios para desenvolver trabalhos e pesquisas (T Nº 13).

Foi muito importante, pois aprendemos a não somente ver os problemas existentes como também saber intervir neles, buscando a resolução (ou alternativa) dos problemas encontrados na realidade vivenciada de uma forma mais fácil e coerente (I Nº 11).

A prática da pesquisa na graduação é defendida por alguns autores, os quais salientam a importância da pesquisa na formação de um profissional para que tenha maior senso crítico, criatividade e raciocínio científico^(4,5).

d)Percebendo a necessidade de ajuda mostra falas sobre o processo de ensino e aprendizagem a caminho da competência em pesquisa. Nessa trajetória, a pesquisa mostra-se como uma atividade complexa, exigindo do acadêmico um esforço singular para adquirir conhecimento em conceitos específicos e habilidades para aplicar esse aprendizado na elaboração do projeto, da pesquisa e do artigo científico. No processo de desenvolvimento do aluno, ele necessita de assessoria até superar sua insegurança.

A ajuda dos docentes em orientar a nossa pesquisa foi fundamental para maior incentivo (T Nº 25).

Não estou saindo inteiramente capacitada para realizar a minha pesquisa, porém experienciei e posso encontrar subsídios para a elaboração. Com certeza vou errar, mas posso buscar ajuda de outros e até de especialistas e até realizar um bom trabalho (I Nº 32).

Nada é definitivo, nem o conhecimento científico produzido hoje oferece apoio seguro para as situações futuras. É importante estar alerta para a necessidade de saber conviver com as incertezas⁽⁶⁾.

e)Proporcionando crescimento pessoal agrega as falas que retratam a percepção dos alunos das diferentes facetas do processo e, assim, tem a possibilidade de reformular o seu pensar sobre a pesquisa. Após as primeiras incertezas vão percebendo o crescimento e passam da posição passiva para a de sujeito ativo do processo de aprendizagem.

Significou que aprendi a aprender, descobri que nem todo o conhecimento está pronto, é preciso estar sempre pesquisando e buscando pesquisas recentes para sempre atualizar os conhecimentos e contribuir para a criação de novos conceitos e de novas pesquisas (I Nº 12).

O próprio processo de ensino-aprendizagem adotado pelo Curso de Enfermagem, com certeza ajudar-me-á para que eu, como futuro profissional, possa desenvolver trabalhos científicos principalmente para identificar problemas, pois este currículo nos instigou a voltar nosso olhar de forma crítica e a sermos responsáveis pela construção de nosso próprio conhecimento (I Nº 30).

Ao aluno, em suas atividades acadêmicas, cabe aprender e instruir-se, e por meio da prática internalizar sem decorar, exercitando, experienciando, questionando e dialogando com a realidade. O contacto com a realidade, além de despertar a curiosidade, desperta o ator político, tornando-o capaz de criar soluções⁽⁷⁾.

f)Fornecendo apoio à tomada de decisão revela falas sobre a conquista de algumas habilidades, percebendo que o conhecimento produzido através da pesquisa oferece um apoio seguro à tomada de decisões.

... conseguimos observar melhor as informações e inclusive propor ou identificar problemas que existem nas rotinas vigentes, propondo, quando possível, alterações nas rotinas, procurando sempre melhorar a qualidade (T Nº 22).

Permitiu-nos relacionar a teoria com o que vivenciamos na prática e provar, através de pesquisas, as teorias lidas. Isso nos dá mais segurança quando realizamos uma prática (I Nº 24).

Falas semelhantes são, freqüentemente, encontradas no meio acadêmico de enfermagem. Os docentes alertam os alunos para a necessidade de construir um corpo de conhecimentos específicos da profissão para dar suporte à prática e propiciar a melhoria da assistência⁽⁸⁾.

g)Relacionando a pesquisa com a formação acadêmica reúne falas de alunos que, ao reviver sua experiência com a pesquisa, tomam conhecimento sobre o quanto evoluíram com a realização de atividades que envolvem a pesquisa como: leitura de artigo científico, produção de texto, entre outras, reconhecendo o seu papel.

Foi essencial para minha formação acadêmica pois é através destas pesquisas que podemos nos aprofundar e aumentar nossos conhecimentos sobre assuntos diversos (T Nº 32).

Foi muito importante, pois além de formar um enfermeiro assistencial e generalista, é necessário que ele seja um pesquisador, um agente transformador (I Nº 8).

Destaca que a utilização da pesquisa para subsidiar a prática daria à sociedade maior visibilidade para a profissão, bem como favoreceria a expansão dos papéis da enfermeira⁽¹¹⁾.

h)Relacionando a importância da pesquisa para a profissão traz os discursos que ressaltam o lugar da pesquisa na profissão, como meio para construir um corpo de conhecimento específico da enfermagem e dar visibilidade aos profissionais.

...mostra a importância da pesquisa para o reconhecimento da nossa profissão (T Nº 19).

Muito importante para o aprendizado e para fornecer subsídios para pesquisas futuras que deverão ser desenvolvidas ao longo de minha vida profissional (I Nº 19).

Pela pesquisa os profissionais constroem conhecimentos na área com a função de direcionar as ações que propiciam a melhoria da assistência⁽⁸⁾.

Na categoria pontos negativos temos sete subcategoria:

a)Vivenciando a complexidade e a novidade do processo pesquisar abarca os discursos dos graduandos que revelam a dificuldade diante de um processo ainda não vivido, expressando sentimentos de angústia, sofrimento e insegurança.

Durante as aulas não consegui aprender muita coisa, pois achei muito complexo o estudo, porém, quando comecei a elaborar trabalhos científicos consegui aprender mais... (T Nº 34).

Antes de eu entrar na faculdade, eu nem imaginava como se fazia um projeto de pesquisa e foi muito difícil para eu assimilar o conteúdo que era dado (I Nº 31).

Esses sentimentos levam a refletir sobre a importância de serem os conteúdos complexos abordados em vários momentos do curso, possibilitando, por aproximações gradativas, a aprendizagem de conteúdos complexos⁽⁹⁾.

b)Convivendo com pouco tempo para a disciplina, aqui, os alunos expressam o seu sentimento ao deparar-se com pouco tempo para entender o processo da pesquisa.

A disciplina de Metodologia de Pesquisa deveria ter um tempo maior na grade curricular do curso, pois as dificuldades encontradas foram grandes... (T Nº 41).

...nossos contatos com a pesquisa existiram, porém foram poucos... Acho que os docentes deveriam conscientizar-se melhor da importância da pesquisa científica para a nossa formação (I Nº 39).

c)Percebendo a falta de incentivo contém as falas dos graduandos que, ao se voltarem aos anos anteriores da graduação, manifestam a falta de incentivo durante o curso.

Alguns alunos, talvez pelo próprio perfil, desenvolveram mais pesquisas, outros não desenvolveram tantas, talvez por falta de iniciativa, incentivo e apoio (T Nº 16).

Para mim o apoio à pesquisa não foi muito grande. Apesar dos docentes cobrarem, falta preparo para que aja uma boa orientação. Gostaria de ter realizado mais pesquisas mais houve pouco incentivo (I Nº 30).

A liberdade para o aluno traçar seu próprio caminho na conquista de novos conhecimentos e a assistência ao educando no ato de investigar são aspectos importante no processo de ensino e aprendizagem. Quando o aluno tem liberdade para escolher como e o que aprender, a aprendizagem se torna mais significativa e os conceitos adquiridos têm maior profundidade, compreensão e durabilidade⁽¹⁰⁾.

d)Vivenciando o sentimento de rejeição agrega os sentimentos de alunos que perceberam a preferência de docentes, por um ou outro aluno, no momento de selecionar os participantes para seus projetos de pesquisa.

Quase sempre as mesmas pessoas eram favorecidas pois já tinham algum contacto com os docentes que desenvolvem essa atividade (T Nº 31).

Não tive muita oportunidade de participar de pesquisas (I Nº 27).

Acompanhar o processo de desenvolvimento do aluno deve ser um ato amoroso. O aluno necessita ser acolhido como ele se apresenta e professor deve ajudá-lo descobrir formas de enfrentamento para suas dificuldades⁽¹¹⁾.

e)Julgando a disciplina chata e cansativa ancora os sentimentos vivenciados por alunos que falam sobre a falta de atenção nos momentos difíceis.

Não gostei das aulas de Metodologia de Pesquisa, achei chata e cansativa, só fui aprender na hora do vamos ver, ainda tenho um pouco de dificuldade para identificar o problema, a hipótese... (T Nº 11).

Participei apenas do PIM, achei muito chato e cansativo (I Nº 1).

f)Avaliando a pesquisa aquém das expectativas contempla as falas que refletem frustrações dos alunos ao pensarem que poderiam estar mais seguros, se maiores oportunidades fossem ofertadas durante o curso.

Foi muito importante mas acho que deixou muito a desejar, poderia ter tido mais projetos (T Nº 12).

No PIM o aproveitamento é mínimo, já que este projeto não funciona por vários motivos (I Nº 48).

O processo de ensino e aprendizagem está norteado pelo projeto Político Pedagógico do Curso de Enfermagem da UEL que adota a metodologia da problematização como recurso didático. Um ponto importante dessa prática pedagógica é o contacto com a realidade, a partir disso, os alunos buscam construir o conhecimento necessário para encaminhar ou solucionar o problema eleito. Se os problemas da comunidade não sensibilizarem o sujeito, o aprendizado perde sentido⁽¹²⁾.

g)Percebendo os limites do contexto agrega as falas que refletem os sentimentos dos alunos ao se defrontarem com as atividades de pesquisa, principalmente aquelas relacionadas à compreensão dos textos acadêmicos e, por isso julgam a atividade trabalhosa.

A primeira vez sempre é mais difícil, pela falta de experiência e hábito de leitura... (T Nº 21).

...não tive apoio financeiro, faltou material para a pesquisa e encontrei algumas pessoas que queriam somente aproveitar do trabalho para certificado ou fazer fama com professores ou com os contatos (I Nº 33).

A categoria Exigências da pesquisa configura os discursos que revelam a percepção de alguns alunos sobre pré-requisitos essenciais ao desenvolvimento da competência em pesquisa. Isso aparece em duas subcategorias.

a)Relacionando as dificuldades com a falta de domínio em leitura reúne os discursos dos alunos que ressaltam essa fragilidade.

As aulas eram cansativas, não entendia o porque dos textos, como eu deveria fazer o trabalho, mas quando escolhemos o tema a ficha caiu... (T Nº 27)

Na verdade é uma prática de que eu não gosto e nunca gostei. Na redação que eu fiz para o vestibular tive muita dificuldade, pelo "simples" fato de não gostar de ler. Para obter uma certa facilidade, eu acho que é necessário ter uma boa leitura. Em todos os trabalhos de que participei ajudei muito pouco na hora de escrever (I Nº 37).

b)Julgando a pesquisa trabalhosa agrupa as expressões dos alunos que revelam esse sentimento ao relembrar seus primeiros ensaios com as atividades relacionadas à pesquisa.

...quando fui realizar pesquisas, era necessário escrever, desenvolver uma pesquisa, achei muito trabalhoso (T Nº 26).

... uma tarefa difícil com etapas pré-estabelecidas e que devem ser seguidas para a realização de um trabalho sério. (I Nº 42)

"Estudar é, realmente, um trabalho difícil. Exige de quem o faz uma postura crítica, sistemática. Exige uma disciplina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a"⁽¹³⁾.

A categoria aproveitamento reúne os discursos dos alunos que descrevem como vivenciaram seu aprendizado em pesquisa durante o curso. As falas revelam o julgamento que fazem sobre seu aprendizado e a tomada de consciência de seu desenvolvimento ao longo do processo de ensino e aprendizagem da pesquisa. Está estruturada em três subcategorias.

a)Falando de suas inseguranças inclui falas, onde os alunos avaliam seu desempenho e constatam que ainda se sentem inseguros para realizar uma pesquisa.

Na verdade estou deixando a Universidade com pouco conhecimento na área da pesquisa (T Nº 8).

Tenho ainda muitas dúvidas e não me sinto totalmente segura neste assunto (I Nº25).

b)Julgando-se com base em pesquisa agrega os discursos, onde os alunos manifestam sua percepção sobre seu potencial para desenvolver uma pesquisa.

Apesar de não me sentir totalmente preparada devido a pouca prática, acredito que já possuo um pouco de base para realizar novas pesquisas (T Nº 5).

Foi importante aprender os passos para elaboração de uma pesquisa científica, ter experiência na elaboração de algumas e visualizar as dificuldades que ela apresenta.Também foi ótimo aprender a buscar soluções científicas para os problemas, saindo do senso comum (I Nº 5).

c)Julgando-se com competência em pesquisa expressa a percepção de que estão prontos para realizar uma pesquisa.

Foi muito bom; antes eu não sabia como fazer uma pesquisa e hoje tenho estrutura para realizar... (T Nº 18)

Acredito estar saindo da graduação com aptidão necessária para desenvolver pesquisas científicas na prática. Porém, como todos, é preciso buscar algumas questões na bibliografia (nos livros). Dúvidas sempre surgem no desenvolver de pesquisas (I Nº 43).

Em sugestões, estão incluídas as falas dos graduandos que ao fazerem uma retrospectiva sobre seu aprendizado em pesquisa, recordam aspectos positivos e negativos. A partir dessa configuração apresentam sugestões que, no seu entender, podem reduzir as situações que dificultaram o seu aprendizado. Essa categoria está composta em cinco subcategorias.

a)Sugerindo o período para pesquisa comporta falas que surgem após a convivência com a complexidade própria do processo de pesquisar e relacionam as dificuldades com a inadequação do tempo destinado para o desenvolvimento desta competência em pesquisa.

A disciplina deveria ser dada no primeiro ano, mas sendo retomada nos anos seguintes, deveria haver maior espaço (tempo) destinado exclusivamente para a pesquisa (T Nº 19).

Acho que este tema deveria ser dado no primeiro ano para que pudéssemos nos aprofundar sobre o assunto e realizar pesquisas que pudessem ter utilidade na minha vida acadêmica (I Nº 17).

b)Propondo mais atenção à disciplina, aqui os alunos expressam suas considerações sobre a importância da disciplina para sua formação e, solicitam mais atenção do corpo docente as atividades relacionadas à pesquisa.

... acho que é uma disciplina que merece ser dada uma maior atenção, pois sempre teremos que estar realizando pesquisa e ter claro os passos... é de fundamental importância. (T Nº 26)

c)Propondo critérios para a seleção dos candidatos aos projetos reúne discursos que manifestam certo ressentimento com a escolha de alunos pelos docentes para os projetos do departamento.

A minha opinião é que deveríamos ter chances iguais de fazer trabalhos, apresentá-los, porque muitos não fizeram nenhum e poucos fizeram vários (T N 27).

d) Propondo curso sobre estratégias de estudo transparece a fragilidade dos alunos na lida com os textos acadêmicos. A dificuldade em leitura realmente representa um obstáculo ao seu desenvolvimento porque prática e teoria necessitam uma da outra, caso contrário a prática será orientada só pelo conhecimento do senso comum, e a teoria sem a prática torna-se estéril.

O ideal seria ter um curso de habilidades para a leitura no inicio da graduação com alunos interessados e em pequenos grupos (I Nº 33).

e) Propondo mais projetos está constituída por falas que ressaltam o desejo dos alunos de participar em projetos. Esses alunos têm consciência de que o exercício da pesquisa é fundamental para sua formação acadêmica, como já apareceu em falas de outras categorias.

No entanto nosso currículo necessitaria de maior número de pesquisas e projetos para os alunos desde o primeiro ano (I Nº 9).

... mas poderia haver um número maior de projetos de pesquisa nos quais os alunos trabalhassem junto com os professores e não apenas como mão de obra (INº 28).

Esses discursos refletem a preocupação de diversos autores com o processo ensino e aprendizagem^{(3- 6)} e com o aprendizado da pesquisa na graduação^(7-11).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os aspectos colocados em relevo neste estudo, julgamos imprescindível a discussão dos encaminhamentos que se fizerem necessários pelo corpo docente, bem como sua capacitação pedagógica para atender o desenvolvimento da pesquisa no curso. Com estas medidas, provavelmente, estaremos levando em consideração o alerta dado pelos alunos de que os docentes necessitam tomar consciência da importância da pesquisa para sua formação.

Acreditamos que a participação discente em projetos de pesquisa é um outro recurso, para aprender sobre a pesquisa, que necessita ser discutido e incorporado pelo corpo docente.

As percepções dos alunos levam a refletir sobre a pertinência de abordar a pesquisa com recursos audiovisuais e estratégias de ensino mais atrativos, mais condizentes com seus interesses. A metodologia adotada no curso, provavelmente, representa uma saída, quando bem trabalhada e explorada nas seqüências de atividades. O contacto com a realidade, primeira etapa da metodologia, poderá ser o meio para despertar o interesse e o compromisso em dar respostas à problemática levantada. O acompanhamento amoroso do docente na busca dos meios que o ajudarão a dar respostas ao problema eleito será o suporte para a continuidade do seu desenvolvimento diante das dificuldades e inseguranças nesse percurso.

A complexidade da pesquisa é um aspecto do qual necessitamos ter consciência, a fim de refletir e criar estratégias para dar encaminhamento à proposta do Projeto Político Pedagógico do curso.

Uma alternativa, além das existentes nas seqüências de atividades, seria o acompanhamento, por um docente, de um grupo de alunos, durante o período da graduação, em todas as atividades relacionadas à pesquisa. O convívio prolongado com um docente fortalecerá os vínculos e o acompanhamento do desenvolvimento do aluno.

Talvez esse acompanhamento prolongado de um grupo de alunos por docente seja uma estratégia para ser refletida e discutida pelo corpo docente. O acompanhamento prolongado facilitaria as avaliações: diagnóstica, formativa e recapitulativa. Essas avaliações, dando subsídios ao docente e ao aluno, possibilitarão o planejamento de atividades e ajudarão os docentes a superar as dificuldades específicas desse grupo de alunos, como falta de domínio da leitura e dificuldade na elaboração dos relatórios de atividades acadêmicas. Essas atividades poderiam ser oferecidas como cursos de extensão pelo departamento.

A realização deste estudo possibilitou-nos compreender que a competência se constitui, por ora, a nossa grande utopia, mas a caminhada está iniciada e com o trajeto sinalizado. Resta-nos, ainda, novos olhares para o fenômeno e outras avaliações do processo de ensino e aprendizagem sobre a pesquisa em futuros formandos.

As falas dos alunos nos colocam ante as fraquezas existentes no curso que requerem estudos, reflexões e organização de ações pertinentes.

A oportunidade de mergulhar nesses discursos para compreender o significado de aprender sobre a pesquisa possibilitou-nos uma experiência em outra dimensão da prática da pesquisa. Esse olhar permitiu perceber que o sentir da pessoa é um processo dinâmico, movimentando-se por todas as graduações de um ponto ao outro; revelou que os processos interiores refletem as inseguranças diante de uma realidade que nos surpreende e provoca, e desencadeia outras buscas. Esse movimento da subjetividade está manifestado na seguinte fala:

Não será fácil, pois em cada pesquisa encontrarei diferentes dificuldades e novas aprendizagens (I Nº 33).

Submissão: 01/09/2006

Aprovação: 03/01/2007

Texto elaborado a partir da Tese apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo USP.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  24 Mar 2008
• Data do Fascículo
  Abr 2007

Histórico

• Aceito
  03 Jan 2007
• Recebido
  01 Set 2006