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A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública

Lá práctica educativa como forma de cuidado en Salud Pública

Educational practice expressing the care in Public Health

Resumos

Este artigo objetiva refletir quanto à importância da prática educativa como forma de cuidado na Enfermagem em Saúde Pública, a partir da experiência desenvolvida no Projeto de Extensão Universitária: Aprendendo e Ensinando com o Alto Simão, da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. A fundamentação teórico-metodológica baseia-se na pedagogia crítica em uma perspectiva Freireana e na proposta da Construção Compartilhada do Conhecimento. Os resultados apontam para as várias formas de perceber o cuidado e sua relação com a ação educativa. Concluindo, percebe-se que há uma potencialidade na extensão enquanto espaço de formação voltada para o cuidado e como produção de conhecimento, além da centralidade da ação educativa para a Enfermagem em Saúde Pública.

Enfermagem em Saúde Pública; Educação em saúde; Extensão Comunitária


Este artículo objetiva reflejar cuánto a la importancia de la práctica educativa como forma de cuidado en el oficio de enfermera en salud pública, a partir de la experiencia desarrollada en el proyecto de la extensión de la universidad: Aprendiendo y enseñando con el Alto Simão, de la Universidad del Enfermería de la Universidad del Estado del Río de Janeiro - UERJ. La fundamentacion teórico-metodológica esta asentada en la pedagogia crítica en una perspectiva de Paulo Freire y en la propuesta de la construcción compartida del conocimiento. Los resultados señalan con respecto a algunas formas para percibir el cuidado y su relación con la acción educativa. En la conclusion se percibe que hay una potencialidad en la extensión mientras el espacio de la formación dirigido hacia el cuidado y como producción del conocimiento el centralidade de la acción educativa hacia el enfermería en salud pública.

Enfermería en Salud Pública; Educación en Salud; Relaciones comunidad-institución


This study is a reflection about the educative practices importance as a care form in Public Health Nursing, from the experience developed in the Project of University Extension: Learning and Teaching with the Alto Simão, of the College of Nursing of the University of the State of the River of Janeiro - UERJ. The recital theoretician-methodological is based on the critical pedagogy in a Paulo Freire perspective and proposal the Shared Construction of the Knowledge. The results points to many forms to perceive the care and its relation with the educative action. Concluding, perceives that it has a potentiality in the extension as a space of formation directed to the care and as knowledge production and also shows the importance of educative action to the Nursing in Public Health.

Public Health nursing; Health education; Community- institutional relations


REFLEXÃO

A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública

Educational practice expressing the care in Public Health

Lá práctica educativa como forma de cuidado en Salud Pública

Sonia Acioli

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Enfermagem. Rio de Janeiro, RJ

Correspondência Correspondência: Sonia Acioli Rua Maestro José Botelho, 171, Bloco I, Vital Brasil CEP 24230-410. Niterói, RJ

RESUMO

Este artigo objetiva refletir quanto à importância da prática educativa como forma de cuidado na Enfermagem em Saúde Pública, a partir da experiência desenvolvida no Projeto de Extensão Universitária: Aprendendo e Ensinando com o Alto Simão, da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. A fundamentação teórico-metodológica baseia-se na pedagogia crítica em uma perspectiva Freireana e na proposta da Construção Compartilhada do Conhecimento. Os resultados apontam para as várias formas de perceber o cuidado e sua relação com a ação educativa. Concluindo, percebe-se que há uma potencialidade na extensão enquanto espaço de formação voltada para o cuidado e como produção de conhecimento, além da centralidade da ação educativa para a Enfermagem em Saúde Pública.

Descritores: Enfermagem em Saúde Pública; Educação em saúde; Extensão Comunitária.

ABSTRACT

This study is a reflection about the educative practices importance as a care form in Public Health Nursing, from the experience developed in the Project of University Extension: Learning and Teaching with the Alto Simão, of the College of Nursing of the University of the State of the River of Janeiro - UERJ. The recital theoretician-methodological is based on the critical pedagogy in a Paulo Freire perspective and proposal the Shared Construction of the Knowledge. The results points to many forms to perceive the care and its relation with the educative action. Concluding, perceives that it has a potentiality in the extension as a space of formation directed to the care and as knowledge production and also shows the importance of educative action to the Nursing in Public Health.

Descriptors: Public Health nursing; Health education, Community- institutional relations.

RESUMEN

Este artículo objetiva reflejar cuánto a la importancia de la práctica educativa como forma de cuidado en el oficio de enfermera en salud pública, a partir de la experiencia desarrollada en el proyecto de la extensión de la universidad: Aprendiendo y enseñando con el Alto Simão, de la Universidad del Enfermería de la Universidad del Estado del Río de Janeiro – UERJ. La fundamentacion teórico-metodológica esta asentada en la pedagogia crítica en una perspectiva de Paulo Freire y en la propuesta de la construcción compartida del conocimiento. Los resultados señalan con respecto a algunas formas para percibir el cuidado y su relación con la acción educativa. En la conclusion se percibe que hay una potencialidad en la extensión mientras el espacio de la formación dirigido hacia el cuidado y como producción del conocimiento el centralidade de la acción educativa hacia el enfermería en salud pública.

Descriptores: Enfermería en Salud Pública; Educación en Salud; Relaciones comunidad-institución.

INTRODUÇÃO

A Enfermagem tem na ação educativa, um de seus principais eixos norteadores que se concretiza nos vários espaços de realização das práticas de Enfermagem em geral e especialmente no campo da Saúde Pública, sejam elas desenvolvidas em comunidades, serviços de saúde vinculados à Atenção Básica, escolas, creches, e outros locais.

Isso implica pensar a ação educativa como eixo fundamental para a nossa formação profissional no que se refere ao cuidado de Enfermagem em Saúde Pública e a necessidade de identificar ambientes pedagógicos capazes de potencializar essa prática.

As práticas educativas desenvolvidas no campo da saúde têm sido nomeadas de formas diversas, as quais estão relacionadas à história da Educação e Saúde e a forma como essas práticas têm sido apropriadas. O campo da Educação e Saúde tem uma história fortemente influenciada pelo higienismo, doutrina que remonta o século XIX, tendo sido inspirada pela revolução bacteriana. No Brasil, no início do século, ao discurso higienista associou-se a idéia de policia sanitária. Nesse sentido, a então chamada "educação sanitária" cumpria o papel de controle da sociedade, tanto no que se refere às questões sanitárias quanto, aos aspectos referentes à vida cotidiana das famílias pobres. Essa idéia é perpassada pela concepção de que as classes pobres são perigosas pois oferecem problemas para a organização das cidades além da possibilidade de contágio de doenças, o que remete-nos ao imaginário brasileiro desde fins do século XIX acompanhando a administração pública brasileira que associava as ações saneadoras nas cidades com a incorporação de um modelo europeu de civilização(1).

Dessa forma, as práticas inspiradas no higienismo pressupõem a necessidade de mudar a vida das pessoas pobres, ensinando-as hábitos de higiene e cuidados para "ter saúde". Esse tipo de abordagem educativa enfatiza a responsabilidade individual no que se refere à mudança de hábitos ou de estilos de vida, limitando-se ao repasse de informações.

Em sua história, a Enfermagem parece ter sido bastante influenciada pelo higienismo adotando abordagens de Educação em Saúde pautadas por um referencial autoritário e, tradicional(2). Pode-se dizer que ainda hoje, muitas das práticas educativas desenvolvidas por enfermeiros, mantém este enfoque educativo-preventivo sem incorporar a compreensão dos fatores determinantes dos problemas de saúde ou ainda, as necessidades e saberes da população trabalhada. Percebe-se também que ainda que sejam reconhecidas como parte importante das práticas de Enfermagem em Saúde Pública, são ainda poucos os estudos que se debruçam sobre as práticas educativas.

Considerando a centralidade da ação educativa na prática profissional do enfermeiro, parte-se do pressuposto que a prática educativa faz parte do cuidado em Enfermagem. Entende-se que a compreensão do cuidado em Enfermagem pressupõe a explicitação de um referencial teórico e filosófico e a compreensão da experiência de cuidado no contexto sócio-político, econômico e cultural em que ocorre. Está se falando portanto, de um valor e de uma prática que pressupõem a potencialização da expressão do cidadão(3).

Nessa perspectiva percebe-se que as experiências de extensão comunitária constituem-se em espaços de construção de conhecimentos e de experimentação de formas de cuidado de Enfermagem em Saúde Pública.

Vem se fortalecendo a compreensão da extensão universitária como processo educativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa viabilizando encontros e diálogos entre alunos, professores e com a sociedade indicando a possibilidade de produção de novos conhecimentos, de caráter emancipador constituídos a partir do movimento de troca e construção entre os saberes científico e popular. Nesse sentido, entende-se que a Extensão possui algumas características potencializadoras de mudanças.

Dessa forma o conhecimento considerado emancipador seria o conhecimento que pensa a conseqüência de seus atos, no qual a relação sujeito-objeto é substituída pela reciprocidade entre os sujeitos e onde a solidariedade e a participação estão presentes. Essa forma de pensar a ciência e a produção de conhecimentos, propõe a idéia de um saber não apenas voltado para as necessidades do mercado, para uma racionalidade cognitivo-instrumental, mas abre-se à importância da experiência, do compartilhamento de saberes ampliando os cenários de geração de novos conhecimentos(4).

Parece-nos que o campo e a produção de conhecimentos em Enfermagem tem aproximações a esse debate, já tendo em algumas experiências incorporado em sua prática o desenvolvimento de outras formas de saber que tenham como princípio a idéia de conhecimento-emancipação a partir das experiências de extensão.

Considerando essa opção teórico-metodológica existem alguns princípios que deveriam orientar as práticas educativas como expressão do cuidado em Enfermagem em Saúde Pública. São eles:

- Diálogo / Ouvir o outro.

- Tomar como ponto de partida do processo pedagógico o saber anterior das pessoas, acreditando que todos têm um conhecimento a partir de suas experiências e vivências, de suas condições concretas de existência.

- Troca de experiências e construção de conhecimento entre o saber técnico e o saber popular, o que pressupõe que os diversos saberes são apenas diferentes, e não hierarquizados e que a experiência vale tanto quanto a teoria.

Portanto, pretende-se neste artigo refletir quanto à importância da prática educativa a partir da extensão universitária como forma de cuidado na Enfermagem em Saúde Pública, considerando os eixos teóricos já apresentados.

DISCUSSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

Nesse trabalho, a prática educativa ou a ação de Educação em Saúde, é entendida como uma prática desenvolvida junto a grupos sociais a partir de campos de conhecimento que compõem as áreas interdisciplinares da saúde e da educação.

"A nosso entender, é necessário pensar a educação e a saúde não mais como uma educação sanitarizada (educação sanitária) ou localizada no interior da saúde (educação em saúde) ou ainda educação para a saúde (como se a saúde pudesse ser um estado que se atingisse depois de ser educado!). É preciso recuperar a dimensão da Educação e da Saúde/doença e estabelecer as articulações entre esses dois campos e os movimentos (organizados) sociais"(1).

Dessa forma, privilegia-se uma abordagem que enfatiza as experiências e saberes contextualizados dos sujeitos envolvidos entendendo-os como processos estimuladores de mudanças individuais e coletivas. As práticas educativas em saúde, denotam ações que compreendem relações entre os sujeitos sociais que ocorrem em diferentes espaços, portam diferentes saberes e são práticas dialógicas e estratégicas mediadas pela ação instrumental(6).

Esta concepção de educação e saúde baseia-se em um enfoque crítico, o que implica no reconhecimento do caráter histórico dos determinantes sociais, políticos e econômicos do processo saúde-doença. Busca-se romper com o modelo normatizador, propondo um movimento contínuo de diálogo e troca de experiências, no qual pretende-se articular as dimensões individual e coletiva do processo educativo. Essa proposta pressupõe a compreensão do outro como sujeito, detentor de um determinado conhecimento e não mero receptor de informações. Isso implica no respeito ao universo cultural dos participantes, e principalmente na idéia de saberes - popular e científico - pensados de forma dinâmica, ou seja, saberes em relação. Entende-se que em um processo contínuo de interação, postura de "escuta atenta" e abertura ao saber do outro, dá-se a possibilidade de uma construção compartilhada do conhecimento e de formas de cuidado diferenciadas a partir dessa construção.

Este trabalho preocupa-se, com formas de construção compartilhada que nascem da relação entre senso comum e conhecimento científico. Refere-se a um processo de interação onde sujeitos possuidores de saberes diferentes, se articulam a partir de interesses comuns. Nesse sentido:

"a construção compartilhada do conhecimento é uma metodologia desenvolvida na prática da Educação e Saúde que considera a experiência cotidiana dos atores envolvidos e tem por finalidade a conquista, pelos indivíduos e grupos populares, de maior poder e intervenção nas relações sociais que influenciam a qualidade de suas vidas"(7).

Esse tipo de prática envolve aspectos tanto de natureza pedagógica quanto metodológica, e inspira-se na proposta pedagógica de Paulo Freire e em uma abordagem construtivista da aprendizagem.

Para este autor, o diálogo pressupõe a pronúncia do mundo, o encontro de homens que pronunciam o mundo, um ato de criação. Partindo dessa idéia, esse autor apresenta alguns pressupostos para a educação dialógica e para o diálogo. São eles: o amor, a fé, a confiança, a esperança. Por fim, o diálogo verdadeiro pressupõe um pensar verdadeiro, um pensar crítico, pensar que percebe a realidade como processo(8).

O conteúdo programático da educação é a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. Devem considerar os homens em situação, e em diálogo com esses homens conhecer não só a objetividade em que estão inseridos, mas, a consciência que tenham desta objetividade. Portanto, os conteúdos programáticos devem ser definidos a partir da situação dos sujeitos no mundo que se manifesta nas suas formas de agir. Isso implica em uma prática de educação em saúde compartilhada, ou seja, construída em conjunto.

A abordagem construtivista(9) por sua vez pressupõe que o conhecimento seja construído através da reflexão crítica de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, a partir de nossas experiências prévias, estruturas mentais e crenças. A realidade é, portanto, construída pelo sujeito que aprende.

Partindo desses pressupostos, aponta-se como princípios de processos de construção compartilhada: a prática metodológica dialética; o trabalho desenvolvido a partir da realidade local; a ênfase em processos de desconstrução de conceitos, valores e posturas; o uso de múltiplas linguagens; a postura permanente de estudo e pesquisa durante o processo educativo; o planejamento coletivo das ações educativas; e a avaliação processual. No cotidiano das práticas desenvolvidas no projeto aqui referido são utilizados instrumentos próprios da pesquisa de abordagem qualitativa como entrevistas semi-estruturadas ou livres, conversas informais, observação participante e registros em diários de campo.

A realização desse tipo de proposta pressupõe incorporar nas práticas educativas os conhecimentos produzidos pelos sujeitos envolvidos, valorizar a troca de experiências e saberes entre profissionais de saúde e população e, propor a incorporação do planejamento participativo nas práticas educativas.

A EXPERIÊNCIA: O PROJETO DE EXTENSÃO "APRENDENDO E ENSINANDO COM O ALTO SIMÃO"

Estas reflexões relacionam-se à experiência de extensão desenvolvida no projeto "Aprendendo e Ensinando com o Alto Simão". Este projeto iniciou-se em 1997 e desenvolve-se na localidade do Alto Simão no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro. A criação do projeto teve como principal elemento motivador o desenvolvimento de atividades do currículo integrado da Faculdade de Enfermagem da UERJ (FENF/UERJ) nesta localidade. A partir desta experiência com o ensino da graduação, observou-se a necessidade de manutenção de um canal permanente de interação com os moradores para o estabelecimento de vínculo e relação de confiança entre os sujeitos envolvidos. As experiências docentes junto a grupos populares, geralmente se restringem ao momento em que as atividades de interesse pedagógico são desenvolvidas, o que reforça entre os participantes um sentimento de serem objetos de uma ação e não sujeitos. Além disso, pensou-se a possibilidade de desenvolver ações que pudessem responder a algumas das demandas e interesses percebidos junto aos grupos de moradores.

O Projeto tem como objetivos gerais: contribuir para o reconhecimento por parte da comunidade da correlação entre processo saúde-doença e cidadania; facilitar a integração entre a universidade e a comunidade e favorecer a realização de processos de construção compartilhada do conhecimento em saúde entre professores, alunos e moradores do Alto Simão.

Busca-se a articulação com atividades da Graduação da FENF / UERJ, projetos de extensão, com os grupos que desenvolvem outras atividades na comunidade e com o movimento comunitário.

No sentido de concretizar uma proposta educativa voltada para o desenvolvimento de processos de construção compartilhada do conhecimento, foram estabelecidos os seguintes eixos de ação: manutenção de um processo permanente de interação/interlocução; realização de práticas educativas desenvolvidas a partir dos interesses e necessidades percebidos pelos moradores, planejamento de atividades com participação de grupos de moradores e avaliação permanente das atividades entre todos os sujeitos envolvidos.

Para a manutenção do processo de interação com os moradores, a equipe do projeto faz visitas semanais à comunidade, as quais são realizadas em horários e dias variados, como forma de facilitar o contato com os vários grupos existentes, além de viabilizar a participação dos moradores nas atividades desenvolvidas. Nesses contatos semanais é realizado um levantamento informal das expectativas e demandas dos moradores com relação aos temas de interesse para as ações educativas a serem desenvolvidas. Por vezes, esse levantamento, que é a base para o planejamento das atividades é realizado durante a própria atividade educativa com sugestões do grupo sociais desta localidade envolvido na atividade.

Realizar práticas educativas a partir dos interesses e necessidades percebidos pelos moradores, não significa abrir mão de sugerir algum tema ou atividade, no entanto, qualquer proposta sugerida será incorporada como atividade apenas se priorizada pelo grupo como um todo. Desta forma, alunos, professores e moradores são sujeitos do processo educativo, que já se inicia com a definição do conteúdo a ser desenvolvido.

Isso pressupõe um planejamento flexível, não definido apenas pela equipe do projeto. O planejamento de atividades educativas com a participação de grupos de moradores não é uma tarefa fácil, pois implica em que exista um determinado grupo de moradores – sejam crianças, adolescentes ou adultos – motivado a planejar coletivamente, e, principalmente implica no reconhecimento por parte da equipe de que é possível o desenvolvimento de um produto coletivo montado a partir de interesses e saberes tão diferentes.

Além de constituir-se em um elemento importante no "compartilhamento" de conhecimentos, o planejamento coletivo é um momento fundamental na construção de alianças e fortalecimento de vínculos entre os participantes. Esta proposta educativa pressupõe a troca de experiências, que só ocorre quando há convivência e vínculos de confiança estabelecidos entre os participantes.

A avaliação das atividades entre os sujeitos envolvidos é uma ação simples, que sugere no entanto um aguçado sentido de autocrítica e a necessidade de usarmos estratégias variadas. Essas estratégias – teatro, brincadeiras, dentre outras – tem por objetivo nos afastar da avaliação que se reduz a perguntas feitas ao final de cada atividade educativa. Ainda que bem intencionadas, são pouco úteis já que dificilmente os participantes dirão a pessoas com as quais tem, ou desejam ter um bom relacionamento, que não gostaram da atividade desenvolvida. A avaliação deve ainda acontecer de modo informal, já que em um momento posterior, pode haver melhor apreensão da atividade e maior capacidade de avaliação.

CONCLUSÕES

A proposta teórico-metodológica que orienta a prática educativa descrita neste trabalho pressupõe a necessidade de uma reorientação permanente da ação o que implica em um processo de planejamento dinâmico. Ou seja, o enfermeiro deve estar sistematicamente avaliando e reorientando o planejamento das ações a serem desenvolvidas a partir da observação da realidade, dos interesses e necessidades identificados.

Considera-se ainda que a ação educativa enquanto expressão do cuidado em Enfermagem em Saúde Pública, entendida de forma ampliada pode ocorrer tanto em momentos formais, planejados, quanto em momentos informais como em conversas com os moradores ou durante visitas domiciliares.

Por fim, se há relação de confiança e diálogo entre os sujeitos, há a aceitação da proposta de caráter educativo, mesmo que essa proposta não implique em um atendimento imediato aos problemas de saúde da população envolvida. O convívio e o respeito às diferenças torna-se algumas vezes um fator tão ou mais importante do que as informações técnicas no desenvolvimento das ações educativas junto aos grupos sociais de caráter popular.

As práticas de Educação e Saúde numa proposta de construção compartilhada devem ser orientadas pela busca da interdis-ciplinaridade, da autonomia e da cidadania. Ou seja, práticas que privilegiem a interação comunicacional onde sujeitos detentores de saberes diferentes, apropriam-se destes, transformando-se e transformando-os. Parece-nos que o Projeto tem caminhado nesse sentido, facilitando o acesso da comunidade a informações voltadas para o campo da Saúde Pública; além da articulação com atividades de ensino de graduação e pesquisa em Enfermagem.

Para que esta proposta educativa se concretize são necessárias reflexões críticas entre os vários sujeitos envolvidos, práticas de caráter formativo e não informativo e avaliação processual das atividades.

Parece-nos que o diálogo, o ouvir o outro, partir dos saberes e práticas do outro, são elementos fundamentais em qualquer processo educativo e de produção de conhecimentos, sendo também, princípios muito próximos a algumas experiências de extensão.

Nesse sentido, entende-se a experiência de Extensão como espaço privilegiado para:

- A construção de processos de formação que privilegiem as relações entre os sujeitos envolvidos nos processos de ensino-aprendizagem;

- A produção de conhecimentos e práticas de cuidado emancipadores;

- A formulação e o engajamento político.

Ainda que haja diferenças entre o tempo e a vocação para o ensino, o cotidiano das práticas, e a pesquisa, a extensão é um espaço aonde esses tempos e vocações se misturam e onde a possibilidade de um contato mais estreito com a sociedade aparece. Sendo assim, é também um espaço potencial de troca de experiências e saberes, de incorporação de interesses, os quais podem indicar inovações conceituais, suscitando novas formas de pensar, de saber e de fazer Enfermagem.

Faz-se necessário olhar com mais atenção a relação entre Cuidado em Enfermagem, Educação e Extensão Universitária identificando seus modos de fazer e suas potencialidades, para que essas relações sejam melhor trabalhadas, no sentido de construção de um conhecimento emancipatório e do fortalecimento das práticas educativas em Enfermagem em Saúde Pública.

Submissão: 17/05/2006

Aprovação: 12/11/2007

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  • Correspondência:

    Sonia Acioli
    Rua Maestro José Botelho, 171, Bloco I, Vital Brasil
    CEP 24230-410. Niterói, RJ
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Fev 2008
    • Data do Fascículo
      Fev 2008

    Histórico

    • Aceito
      12 Nov 2007
    • Recebido
      17 Maio 2006
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