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Ensino de enfermagem no Ceará de 1942-1956: a memória que projeta o futuro

Enseñanza de enfermería en Ceará de 1942-1956: la memoria que proyecta el futuro

Nursing teaching in Ceará from 1942 to 1956: a memory that projects the future

Resumos

O estudo é uma reflexão de natureza histórica que se propõe a recuperar e preservar a história e memória do Ensino de Enfermagem no Ceará. Teve como recorte temporal o período compreendido entre os anos de 1942 e 1956. O marco inicial corresponde ao início do ensino de Enfermagem no Estado (curso de enfermeiras de emergência) e o terminal, o acervo disponível. Utilizou como fontes de investigação, documentos escritos, quatro quadros de concludentes das primeiras turmas e depoimentos. Sugere a sensibilização e determinação dos profissionais da categoria para criação de uma proposta de compromisso com a história, a memória e o presente da profissão.

Enfermagem; História da Enfermagem; Escolas da Enfermagem


El estudio es una reflexión histórica que se propone recuperar y preservar la história y memória de la Enseñanza de Enfermeria en Ceará. Fué analizado el período entre los años 1942 y 1956. El marco inicial corresponde al início de la enseñanza de Enfermeria en el Estado (curso de enfermeras de emergencia) y el terminal, el acervo disponiblel. Utilizó como fuentes de investigación, documentos escritos, cuatro cuadros de concluyentes de las primeras promociones y declaraciones. Sugiere la sensibilización y determinación de los profesionales de la categoria para la creación de una propuesta de compromiso con la história, la memória y el presente de la profesión.

Enfermeria; História de la Enfermeria; Escuelas de la Enfermeria


This study reflects on and proposes to rescue the history of nursing school in Ceará, covering the period between 1942 (implementation of the first emergency-room nursing course in the state) and 1956. Data were collected from written documents, school records covering four classes and interviews with former students. The study is intended to make nursing professionals aware of the importance of a strong commitment to the history, memory and further development of the profession.

Nursing; History of Nursing; Schools, nursing


HISTÓRIA DA ENFERMAGEM

Ensino de enfermagem no Ceará de 1942-1956: a memória que projeta o futuro

Nursing teaching in Ceará from 1942 to 1956: a memory that projects the future

Enseñanza de enfermería en Ceará de 1942-1956:la memoria que proyecta el futuro

Silvia Maria Nóbrega-Therrien; Maria Irismar de Almeida; Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE

Correspondência Correspondência: Sílvia Maria Nóbrega-Therrien Universidade Estadual do Ceará Av. Paranjana, 1700. Itaperi CEP - 6074-000. Fortaleza, CE

RESUMO

O estudo é uma reflexão de natureza histórica que se propõe a recuperar e preservar a história e memória do Ensino de Enfermagem no Ceará. Teve como recorte temporal o período compreendido entre os anos de 1942 e 1956. O marco inicial corresponde ao início do ensino de Enfermagem no Estado (curso de enfermeiras de emergência) e o terminal, o acervo disponível. Utilizou como fontes de investigação, documentos escritos, quatro quadros de concludentes das primeiras turmas e depoimentos. Sugere a sensibilização e determinação dos profissionais da categoria para criação de uma proposta de compromisso com a história, a memória e o presente da profissão.

Descritores: Enfermagem; História da Enfermagem; Escolas da Enfermagem.

ABSTRACT

This study reflects on and proposes to rescue the history of nursing school in Ceará, covering the period between 1942 (implementation of the first emergency-room nursing course in the state) and 1956. Data were collected from written documents, school records covering four classes and interviews with former students. The study is intended to make nursing professionals aware of the importance of a strong commitment to the history, memory and further development of the profession.

Descriptors: Nursing; History of Nursing; Schools, nursing.

RESUMEN

El estudio es una reflexión histórica que se propone recuperar y preservar la história y memória de la Enseñanza de Enfermeria en Ceará. Fué analizado el período entre los años 1942 y 1956. El marco inicial corresponde al início de la enseñanza de Enfermeria en el Estado (curso de enfermeras de emergencia) y el terminal, el acervo disponiblel. Utilizó como fuentes de investigación, documentos escritos, cuatro cuadros de concluyentes de las primeras promociones y declaraciones. Sugiere la sensibilización y determinación de los profesionales de la categoria para la creación de una propuesta de compromiso con la história, la memória y el presente de la profesión.

Descriptores: Enfermeria; História de la Enfermeria; Escuelas de la Enfermeria.

INTRODUÇÃO

Este artigo é de natureza histórica e é escrito com três intenções que se complementam e se entrelaçam como é próprio da história sempre contextualizada e em movimento. A primeira intenção é fazer justiça aos precursores desta história descrevendo como se deu sua contribuição ao ensino de enfermagem; a segunda é evidenciar os caminhos e condições de aparecimento e desenvolvimento desse ensino até os meados da década de 1950; a terceira é levar a categoria a reflexões que permitam observar que a riqueza de informações contidas no passado, contribui também para esclarecimento ou entendimento de questões-críticas atuais pelas quais passa a profissão de

Enfermagem. Entende-se, como Galeano(1) "que a memória é o melhor porto de partida para navegantes com desejo de vento e profundidade".

METODOLOGIA

É um estudo de cunho histórico, que teve como fontes primárias de investigação documentos escritos (jornais, atas, ofícios expedidos e depoimentos), quatro quadros de concludentes das primeiras turmas do Curso de Enfermagem (hoje pertencente ao Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará-UECE). Como fontes secundárias foram utilizados artigos e livros que abordam a história da Enfermagem, principalmente no Ceará. Este estudo teve como recorte temporal o período compreendido entre 1942 e 1956. O marco inicial corresponde ao início do ensino de Enfermagem no Estado (curso de enfermeiras de emergência) e o terminal, o acervo disponível.

As entrevistas foram à base para o enriquecimento, complementação e esclarecimento das informações obtidas por meio principalmente dos quadros de madeira que emolduram as primeiras turmas de enfermeiras formadas. Os sujeitos entrevistados contribuíram, não só com o seu depoimento (utilizando a memória), mas com um acervo (caseiro) de inestimável valor, em jornais, fotos, atas, ofícios currículos e portarias da época. De certa forma, utilizou-se a história oral, em forma de depoimentos de pessoas que participaram do processo histórico ou testemunharam acontecimentos no âmbito da vida privada ou coletiva(2), no caso a criação e implantação do ensino de Enfermagem no Ceará.

Os entrevistados foram orientados acerca dos objetivos da pesquisa e do desejo de participar ou não da mesma, e, tiveram seus direitos respeitados, conforme os princípios da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, relativos à pesquisa com seres humanos.

RESULTADOS

A criação da primeira Escola de Enfermagem no Ceará: pistas encontradas

O ensino de Enfermagem no Ceará teve o seu início oficial, em 1943, reconhecida pelo Decreto-Lei nº 21.885 de 26/09/1946(3) logo, há mais de sessenta anos, com a instalação da Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo, que futuramente viria a ser congregada a outras faculdades, para dar guarida ao aparecimento da Universidade Estadual do Ceará-UECE, em 1975. A Escola foi anexada oficialmente à UECE, através do Parecer nº 764/77 do Conselho Federal de Educação(3).

Essa pioneira Escola de Enfermagem cearense nasceu dos cursos de Emergência de Voluntários Socorristas e de Defesa Passiva Anti-Aérea, ministrados no Patronato Nossa Senhora Auxiliadora (dirigido à época pelas Irmãs de Caridade), de agosto de 1942 a janeiro de 1943, com duração de 4 meses. A guerra é o cenário maior, o motivo patriótico de inserção da mulher e de sua contribuição oficial, no esforço para amenizar seus horrores. Essa contribuição tinha amparo nas mulheres-enfermeiras heroínas de guerra, Florence Nightingale e Anna Nery. Para que isso acontecesse, entretanto, era necessário um treinamento. Os jornais da época (Gazeta, Unitário, Nordeste, Estado, Correio do Ceará e O Povo), registram parte dessa história nas seguintes manchetes:

Congregadas para servir ao Brasil as senhoras dos oficias do Exército vão preparar-se como enfermeiras de emergência, sob orientação do dr. Jurandir Picanço – A íntegra do memorial dirigido ao ilustre médico e à diretora do Patronato Maria Auxiliadora(4).

A Escola Doméstica São Rafael vai fundar um curso de Enfermeiras de Emergência: virá uma monitora do Rio para dirigir os trabalhos. Em setembro, a abertura do curso preparatório – Bases para as inscrições(5).

INAUGURA-SE-Á HOJE o Curso de Enfermeiras de Guerra do Patronato de N. Senhora Auxiliadora(6).

NSTALAR-SE-Á, HOJE, EM FORTALEZA, MAIS UM CURSO DE ENFERMEIRAS DE EMERGÊNCIA. A nova e patriótica organização funcionará no Patronato Nossa Senhora Auxiliadora, sob a direção do dr. Jurandir Picanço. Senhoras e senhorinhas da alta sociedade vão preparar-se para enfrentar as dificuldades da guerra(7).

Instalado ontem o Curso de enfermeiras de Emergência: impressionaram os discursos do tenente Ednardo Weyne e do acadêmico Hesíodo Faço(8).

As solenidades de formatura destas turmas eram acompanhadas de pompas quase sempre presididas pelo interventor Menezes Pimentel, e a participação de diversos oradores ilustres. O texto do discurso publicado no jornal Unitário refere que:

(...) a solenidade foi presidida pelo interventor Menezes Pimentel que tomou assento no centro da mesa, como dirigente dos trabalhos, ladeado pelo Dr. César Cals, presidente do Centro Médico Cearense; Dr. Jurandir Picanço, Diretor do Curso; capitão Fernando Pessoa, representante do Comando da Brigada; Dr. Elleyson Cardoso, Delegado Federal de Saúde e o 1º Tenente Ednardo Weyne, representante dos oficiais cujas esposas ingressavam no curso(9).

A manchete do jornal estampava:

Mais de 30 stas. e senhoras receberam a braçadeira com o distintivo da cruz vermelha(9).

As braçadeiras eram colocadas no braço esquerdo das aspirantes ao curso e posteriormente eram utilizadas pelas próprias irmãs-enfermeiras. Podem ser percebidas nas fotografias da época.

Nesta solenidade de abertura, Dr. Jurandir Picanço (Diretor do Curso) em seu discurso enaltece a personalidade marcante da Irmã Breves (Diretora do Patronato Nossa Senhora Auxiliadora) pelo seu apoio, e missão de enfermeira, informa sobre a nova organização do curso para as próximas turmas que abrargerá, "além da enfermagem propriamente dita, dois aspectos novos do socorro: o da maternidade para proteção da continuidade da vida no fragor das batalhas e o social que dará o amparo moral e espiritual àqueles que necessitam do estímulo para altaneiros e fortes, poder enfrentar as contingências da luta". Fato que é registrado em manchete do mesmo jornal como:

OUTRO PROBLEMA DA GUERRA: A ASSISTENCIA A MATERNIDADE E AOS RECEM-NASCIDOS; as alunas do Curso de Enfermeiras de Emergência do patronato N. S. Auxiliadora vão receber, também, ensinamentos de puericultura(10).

Estes cursos eram destinados, às esposas de oficiais do Exército aqui sediados. Surgiam com o apoio e a colaboração da Assistência Municipal, da Maternidade Dr. João Moreira e da Santa Casa de Misericórdia, e o patrocínio da Cruz Vermelha. A coordenadora dos cursos (à época superiora do Patronato Nossa senhora Auxiliadora) Irmã Margarida Maria Breves (Irmã Breves) foi quem lançou posteriormente a idéia da criação de uma Escola de Enfermagem no modelo "Anna Nery", proposta essa considerada muito ousada para a época e local, tendo em conta a carência de recursos em nosso meio e a existência de somente duas escolas que formavam enfermeiras no Brasil (Informação obtida em matéria do Jornal O Povo, de 5 de outubro de 1942, e confirmada pelos depoimentos dos sujeitos entrevistados). Em Diário Oficial do Estado do Ceará, do dia (s.d) de dezembro de 1942, a dificuldade de recursos encontra-se registrada, bem como a determinação da Irmã Breves de seguir em frente diante das diversidades apresentadas. O texto do D.O. referia:

Da Diretora do Patronato Maria Auxiliadora, apresentando ao Diretor do D.S.P. o projeto de organização de uma escola "Escola de Enfermagem" e pleiteando do Governo uma subvenção para construção do prédio e para custeio de despesas indispensáveis(11) (D.O.,1942).

E a resposta do Diretor do D.S.P.: (Departamento de Saúde Pública).

No momento não é possível qualquer promessa de auxílio por isso que a situação financeira do Estado, com o flagelo da seca, está seriamente comprometida, devendo haver déficit bem apreciável de arrecadação orçamentária. Deve, por isso, a requerente aguardar que se estabeleça o equilíbrio exigido pelo erário público para que possa o Governo ir ao encontro de sua justa e patriótica pretensão.

A Escola era mantida com verba federal recebida no final de cada ano letivo, subvenções do governador e de outros políticos e de bolsas de estudo oferecidas às alunas pela Campanha Nacional contra a Tuberculose(12). Foi de Irmã Breve também a iniciativa de conseguir o aval da Associação São Vicente de Paulo para se tornar a mantenedora da nova instituição. A instituição recebeu o nome de Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo·, iniciou suas aulas em 15 de março de 1943 e passou a ser o primeiro curso implantado na região nordeste(3). As manchetes dos jornais da época registravam:

Instalada em Fortaleza a Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo(13).

Funcionará em março o novo Curso da Escola de Enfermagem S. Vicente de Paulo(14).

Escola de Enfermagem S. Vicente de Paulo. Com mais um melhoramento vem ser dotada Fortaleza: a instalação de uma Escola de Enfermagem equiparada à Escola Ana Néri, do Rio de Janeiro15.

O texto da Gazeta de 20 de janeiro de 1943 era acrescido de informações sobre o local de funcionamento (Avenida do Imperador, 1.360 – Telefone, 1.130 em Fortaleza-Ce), a direção (Dr. Jurandir Picanço e Irmã Margarida Maria Cola, diplomada pela Escola Anna Nery), o corpo docente (Drs. Jurandir Picanço, César Cals de Oliveira, Pontes Neto, Vandick Pontes e Francisco Araújo), locais onde seriam ministradas às aulas práticas (Assistência Municipal, Santa Casa de Misericórdia) e critérios de admissão dos candidatos (que tenham curso secundário fundamental ou se submetam a exame vestibular). Outras manchetes de jornal local, como O Nordeste, veículo mantido pela Arquidiocese de Fortaleza anunciavam:

Novas enfermeiras de guerra do Brasil: mais uma vitória do ideal humanitário e patriótico da Irmã Margarida Breves(16).

A criação da primeira escola em Patronato administrado pelas irmãs de caridade evidencia a forte relação da profissão com a religião, o que não acontece somente em termos de Brasil e Ceará. Com o advento do cristianismo, começaram a ser criadas as ordens cristãs. Na primeira era cristã (até D.C.) uma das primeiras ordens de mulheres trabalhadoras foram às diaconisas e as viúvas. Mais tarde, incorporaram-se as virgens, as presbiterianas, as canônicas, as monjas e as irmãs de caridade(17). A institucionalização dos cuidados de enfermagem começou com as mulheres que trabalhavam nos hospitais, onde a maioria era composta de religiosas(18). A prática de enfermagem proposta a partir de Florence Nightingale e a influência recebida das ordens/associações religiosas é um dado histórico, mais especificamente a da Companhia das Irmãs de Caridade de S. Vicente de Paulo(17). Nesse contexto a Escola também floresceu sob as bênçãos eclesiais, produto também da incisiva ação da Arquidiocese de Fortaleza, por determinação e esforço à época de Dom Antônio de Almeida Lustosa(19). Sua estrutura administrativa foi então definida à época como um Conselho Consultivo e uma Diretoria Técnica: o médico Jurandir Picanço, como Diretor Administrativo, e Irmã Margarida Maria Cola, que assumiu a Direção Técnica da Escola recém-implantada. A Escola funcionou por dois anos no Patronato e somente por doação da Província Brasileira das Irmãs de Caridade S. Vicente de Paulo, a Escola teve o seu prédio próprio à Avenida do Imperador, 1.367, inaugurado em 25 de março de 1945 com seis salas de aula e as dependências para funcionamento do internato das alunas(3). Em 16 de julho de 1946, após inspeção do Ministério da Educação e Saúde, a Escola foi equiparada à Escola de Enfermagem Anna Nery, padrão no país; ano em que a Escola conferia diploma a cinco concludentes do curso.

Eram tempos belicosos, em escala mundial atingindo também a comunidade fortalezense, sujeita ao "apagão" (black out) e à vigilância costeira, com a visível circulação de militares norte-americanos e o recrutamento de brasileiros, para o esforço de guerra. Foi nesse contexto que se deu a criação e organização da Escola de Enfermagem no Ceará. Segundo informações de Leal(19), Dom Lustosa teve participação ativa nesse cenário de gestação. O autor registra que para lograr seu intento, Dom Lustosa à época arregimentou médicos, estreitamente observadores dos princípios católicos e das práticas cristãs, integrantes da Sociedade Médica São Lucas, com a finalidade de formar o corpo docente inicial, daqueles anos, assim como recorreu ao suporte de religiosas, pertencentes à Ordem das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, que, na época, atuavam cuidando dos enfermos em hospitais locais, os quais, em sua maioria, eram ligados à Igreja Católica. O agradecimento a esta figura católica Dom Antônio de Almeida Lustosa, encontra-se registrado nos quadros de formatura das cinco turmas de enfermeiras, como homenageado ou paraninfo.

À frente desses médicos, conforme os documentos já citados comprovam e na condução dos trabalhos, estava Dr. Jurandir Picanço, que soube juntamente com as irmãs de caridade Ir. Margarida Maria Breves (Diretora Administrativa), Irmã Fiúza (Supervisora da Santa Casa e monitora da Escola), Ir. Maria José Santos, Ir. Maria Cecília Fernandes (Diretora Técnica), Ir. Helena Correia, Ir. Madalena Mendes, Ir. Rosaly Albuquerque, e de Geraldina Maria de Lourdes, Aldenôra Moura, Maria Julieta Fernandes, Railda Bedê de Almeida, aglutinar bons profissionais, para a consecução da grande obra.

Consta, segundo Frazão(3) e Martins-Filho(20) que, em 1953, a Escola tomou parte ativa no processo de criação da Universidade Federal do Ceará, promovendo várias reuniões com seu corpo docente, em adesão espontânea ao movimento pró-Universidade. Mas tarde com a criação da UFC passou a Escola a integrar as unidades didáticas dessa universidade, entretanto na condição de Escola agregada, através do Parecer de nº 464/55 do Conselho Nacional de Educação, posteriormente homologado pelo Exmo. Ministro da Educação e Saúde, em 21 de janeiro de 1956. Com a agregação a UFC, a Escola se dinamizou, ampliou suas atividades, melhorou seu acervo bibliográfico, e seguiu sua missão formando enfermeiras e enfermeiros. Mais tarde, conforme ainda relato de Frazão(3), a Escola atravessou sérias dificuldades financeiras culminando com a crise em 1968. Posteriormente, em 1975, a Escola é encampada pela Fundação Educacional do Estado do Ceará-FUNEDUCE em 14 de março do ano citado. Essa passagem da Escola agregada à UFC para FUNEDUCE conta no mínimo com duas versões (relatos obtidos nas entrevistas); a Irmã Leoni (Irmã Sirena Bomfim) foi autora da tramitação da Escola para UFC, ato político que não ocorreu completamente, pela falta de autorização da autoridade máxima da Associação das Filhas de Caridade, à época orientada por algumas irmãs que não apoiavam a federalização da Escola, mesmo sabendo de suas dificuldades financeiras. Há informação também de que a Escola como se encontrava juridicamente recebia recursos externos, fato que não mais poderia ocorrer com sua federalização. Existia também uma solicitação de órgãos internacionais para criar um curso de enfermagem onde tivesse hospital universitário, e a não aceitação do reitor á época de federalização da Escola São Vicente de Paulo, abiu espaço para gestação de um outro curso de enfermagem e de desligamento progressivo da Escola S.V. de Paulo, da UFC.

A criação da Escola de Enfermagem S. Vicente de Paulo contribuiu para a formação local, de um profissional até então escasso, pois o Estado contava quase invariavelmente, com enfermeiras graduadas pela Escola Anna Nery, nome que homenageia a que foi cognominada "A Mãe dos Brasileiros"; além disso, mesmo contando com a sua natureza religiosa, essa Escola concorreu para a laicização profissional, mediante as sucessivas turmas por ela formadas e postas a serviço da comunidade, despojando-as do hábito sacro, mas preservando o hábito da solidariedade e da fraternidade humanas, tão presentes no ato de cuidar. A laicização profissional das enfermeiras é oriunda de várias mudanças surgidas principalmente da ruptura da Igreja com o Estado e datam da Constituição de 1891(21). Nesse sentido, a criação de escolas de enfermagem laicas abalou mais ainda a situação das enfermeiras-religiosas.

Não restam dúvidas, entretanto, de que o ensino de Enfermagem no Ceará surgiu sob as graças benfazejas de uma entidade-mater, que deu a luz, no sentido exato da parição, a uma legião de enfermeiras, no início mais vocacionadas para a assistência, posteriormente, com a profissionalização crescente e institucionalização do ensino universitário, formadas para a assistência, a gestão, a docência e a investigação. Essa parição serviu de luz, para trilhas propiciadoras da constituição das estruturas formadoras subseqüentes, instaladas nas universidades (UNIFOR, UFC, UVA e URCA) e, por desdobramento, nas faculdades montadas em outros estabelecimentos de ensino superior cearense.

As primeiras turmas de Enfermagem no Ceará: o passado que se faz presente

Como era comum, àquela época, hábeis artesãos eram chamados para esculpir, na madeira, os quadros que registravam as turmas de formandos, à época, obras de grande valor, se não do ponto de vista estético, mas pelo forte impacto emocional e histórico, posto que deixavam gravadas homenagens a pessoas especiais e perpetuavam o registro destas informações, e conseqüentemente o frescor da juventude das enfermeiras recém-graduadas. As informações e fotos incrustadas nesses quadros permitem construir parte da história desse ensino.

A primeira turma de concludentes de Enfermagem, intitulada de "Pioneiras de 1946", foi composta de apenas cinco alunas, todas cearenses: Aldenora M. de Moura, Carmen F. de Souza Leão, Maria Julieta Fernández, Maria Neves Bezerra (oradora) e Raimunda Rocilda Bedê de Almeida.

O quadro da 1ª Turma de 1946 encontra-se hoje no Curso de Enfermagem da UECE, juntamente com outros de três turmas de concludentes, mas é o único que ainda possui a frase escolhida pela turma de formandos "CARIDADE E CIÊNCIA". Dentre os símbolos adotados para representar a enfermagem internacional, prevaleceu no Brasil o emblema universal da lâmpada de Aladim, sobreposta à constelação do Cruzeiro do Sul(22). A lâmpada com a chama acesa em seu centro é circundada pelas palavras LUX AQUA LUX (Luz de onde emana toda Luz), que representa a enfermagem católica, estas palavras são registradas no Quadro de Formatura das 1ª e 2ª Turmas. Por ocasião da formatura, havia a Cerimônia da Lâmpada, onde se prestava homenagens à enfermagem moderna, cerimônia abolida em 1959, quando a colação passa a acontecer não mais no Theatro José de Alencar, mas na Concha Acústica da Reitoria da UFC(12). As aulas da 1ª Turma tiveram seu início no Patronato Nossa Senhora Auxiliadora.

O corpo docente é composto somente por médicos, o que, de certa forma, remete ao corpo docente dos cursos de Enfermeiras de Emergência de 1942. Na segunda turma, a do ano de 1947, já aparecem como professoras as Irmãs de caridade e senhoras enfermeiras (algumas delas alunas que acabaram de ser diplomadas na 1ª turma). Poucas lembranças são resgatadas através dos depoimentos de quem viveu a época. Somente a falta de recursos da Escola e das alunas; que as aulas eram ministradas por "pontos" nos quais os professores se apoiavam para sabatinar as alunas; a dedicação da Irmã Breves, sua figura forte, que, como refere o próprio Dr. Jurandir Picanço, em seu discurso por ocasião do recebimento do titulo de Dr. Honris Causa da Escola referia: "passou pelos corredores e salas desta casa, com sua corneta alvíssima como se fosse as asas de um anjo bom, levando para o caminho da glória a Enfermagem do Ceará"(23).

A segunda turma de concludentes de Enfermagem, formada em 1947, foi constituída de oito alunas e teve por Padroeira, Sta. Catarina Labouré, e por Paraninfo, Dom Antônio de Almeida Lustosa. Consta no quadro a menção à Diretoria Administrativa, sendo citados a Irmã Maria Breves, Diretora de Prática de Aula, o Dr. Jurandir Picanço, Diretor do Corpo Docente, e o Dr. Turíbio Motta, Inspetor Federal.

Constata-se que logo após um ano de existência do curso o número de alunas aumenta, como surgem alunas de outros estados do nordeste e principalmente o corpo docente deixa de ser por unanimidade do sexo masculino e de médicos. Já surgem professoras, a maioria delas as próprias irmãs de caridade. No quadro de madeira da 2ª Turma do ano de 1947 surge a figura do Inspetor Geral, no caso o Dr. Turíbio Motta. Esse nome novamente aparece em documento, quando é requerida a assinatura do Inspetor Federal, no caso, em texto que resume as atas do Diretório Acadêmico "Florence Nightingale" em 31 de dezembro de 1949. O quadro talhado em madeira de mogno registra que seu projeto de arte foi desenvolvido por Alice R. Santos e sua execução foi realizada por J. Moura; o letreiro por Aluísio (este sem sobrenome).

Em Livro de Ata pertencente à Escola, Ata de nº 1, do dia 14 de setembro de 1946, assinada pela Irmã Cecília Fernandes (que substituiu Irmã Margarida Cola na direção da Escola), entre outros assuntos registrados como a própria freqüência da realização das reuniões foi combinada a distribuição das matérias a serem lecionadas pelas monitoras, resolvendo-se que várias destas cadeiras seriam confiadas a algumas das diplomadas (na 1ª Turma), sob o controle das monitoras e a distribuição é registrada em Ata.

Os registros em documentos recuperados que datam do período que compreendem o intervalo que vai de 1948 a 1949, encontram-se em duas Atas:

- Ata de nº 2 que se refere: à primeira Reunião do Corpo Docente Médico, realizada em 3 de junho de 1949, na sede da Escola; e a

- Ata de nº 3 da segunda Reunião das Monitoras, realizada em 6 de junho de 1949, na sede da Escola.

À primeira Reunião do Corpo Docente Médico onde estavam presentes Irmã Margarida Villac, recém-diplomada da universidade católica de Washington nos Estados Unidos e atual diretora da Escola de Enfermagem Medalha Milagrosa de Pernambuco; Dr. Jurandir Picanço Diretor do corpo docente, a Irmã Cecília Fernandes, Diretora Técnica, e os Drs. Antonio Wandick Pontes, Waldemar Alcântara, Lauro Chaves, Edimilson Barros de Oliveira, Josa Magalhães, Walter de Moura Cantidio e Carlos Augusto Studart, e as Irmãs Maria José Santos e Carolina Fernandes. Os assuntos tratados são referentes à necessidade de reparar algumas lacunas (de matérias), ainda existente na Escola. A Irmã Margarida Villac expôs os métodos modernos usados nas escolas de Enfermagem americanas, treinamento e aumento de horas nas disciplinas, os quais foram contestados pelo Dr. Jurandir por não ser possível pelo espaço restrito de três anos que o curso possuía. A falta de um hospital de clínicas (para alunos de medicina e enfermagem) para campo de estudos que traria significativa contribuição na formação pratica, assunto também tratado.

A carência dos meios financeiros é registrada onde se sugere a necessidade de interessar o governador e os prefeitos, com o auxílio de bolsas em favor da Escola o que muito auxiliaria as candidatas. A Ata é assinada pelas Irmãs Maria Julieta Fernandes, Cecília Fernandes e Fiúza.

A reunião das monitoras realizada também na sede da Escola conta com as presenças das Irmãs Fiúza (Superiora da Santa Casa de Misericórdia), Alvarenga (Superiora da Assistência Municipal), Margarida Villac, recém-diplomada da Universidade Católica de Washington (Diretora da Escola de Enfermagem Medalha Milagrosa de Pernambuco), Cecília Fernandes (Diretora Técnica da Escola), Maria José dos Santos, Suzana Carvalho, Cecília Bhering, Genoveva Pequeno e Carolina Fernandes. As monitoras são as responsáveis pelos campos de prática nos quais se realizava parte da formação das enfermeiras. A forte presença das religiosas nas unidades hospitalares da época pode ser constatada e esse "espírito religioso" é identificado como uma qualidade para a formação das enfermeiras, nos documentos da época. Essa hegemonia das religiosas na direção dos hospitais sofre mudanças. No final do século XIX houve um movimento organizado pela classe médica, objetivando instituir o médico em cargos de direção, e como conseqüência as irmãs de caridade não mais puderam assumir tais funções, e a igreja, então perdeu espaço tanto na prestação de cuidados de enfermagem como na administração dos hospitais a ela não vinculados(24).

O registro nas Atas, dos três tipos de reuniões que eram realizadas, entre as Irmãs de Caridade e professoras da Escola (Ata de 14 de setembro de 1946), o corpo docente médico (Ata de 3 de junho 1949) e as monitoras e a direção da Escola (Ata 6 de junho de 1949), fornecem um quadro das preocupações existentes, das decisões a serem tomadas e de condução administrativa da Escola durante os primeiros anos de sua existência.

Tem-se ainda como registro para descrição e análise dois quadros de madeira de conclusão de Turma de Enfermeiras da Escola de S. V. de Paulo. O quadro de madeira da turma de concludentes do ano de 1955 e outra Turma de concludentes com ano não identificado. Nestes dois quadros observa-se uma mudança na sua estrutura de apresentação: não aparece mais o corpo docente.

Essa turma, é bom lembrar, ingressou na Escola no ano de 1952. São relatos de que o número de religiosas era insuficiente, mas se admirava como dispunham de tempo para exercerem tantas funções. Havia uma sala para demonstração das técnicas de enfermagem às alunas pelas professoras, com duas camas de "fowler", separadas por biombos e duas bonecas de tamanho normal e dois berços cada um com um bebê. Ensinava-se banho no leito, massagem de conforto, técnicas de pediatria etc. Uma boneca se chamava Ciforosa e outra Tiamina(12).

Há lacunas entre os anos de 1948 e 1954. Com relação a quadros de turmas de formandos, já que não se pode identificar o ano de um dos quadros encontrado. A partir de então, perderam-se os registros das novas turmas de enfermeiras formadas na Escola S. V. de Paulo bem como toda a documentação que registrava a vida desta instituição. Atribuí-se à perda desta memória a três fatores que não são excludentes: primeiro, as mudanças ocorridas nesse período (a Escola em 1955 se integra a UFC e em 1975 é encampada pela UECE) que envolve o transporte e acondicionamento do acervo e, portanto, da história da Escola para outros campi; segundo, o acondicionamento inadequado por parte da instituição recebedora, no caso a UECE, de tão preciosa documentação; e terceiro, a falta de consciência histórica das enfermeiras na época, sobre a importância deste acervo para profissão.

Hoje, março de 2007, a existência dos quatro quadros talhados em madeira que perpetuam as turmas de concludentes do início da Escola de Enfermagem S.V. de Paulo, permanecem desafiando a umidade do ambiente, onde foram colocados, e o tempo, esperando que a consciência histórica das enfermeiras seja despertada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão está aberta e a história não existe se não for registrada, contada e preservada. Do exposto, se conclui a necessidade de historicizar a memória, e, portanto, multiplicar as contribuições que se insiram numa linha, no caso, de História da Memória da Enfermagem, fazendo justiça aos precursores desta história e, conseqüentemente, construindo um porto seguro para o presente e o futuro dessa profissão. Vítimas do silêncio estariam relegados ao esquecimento. Faz-se aqui uso das palavras de Umberto Eco para o fechamento dessas reflexões e sugestão. "Nós somos o tempo em que vivemos [...]. Vivemos nos três momentos, da esperança, da atenção e da memória, e um não existe sem o outro. Você não consegue se projetar para o futuro porque perdeu o passado"(25). Conta-se com a sensibilização e determinação da categoria para criação de uma proposta de compromisso com a história, a memória e o presente da profissão.

Submissão: 28/06/2007

Aprovação: 30/10/2007

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  • 2. Delgado LAN. História oral: memória, tempo e identidade. Belo Horizonte (MG): Autêntica; 2006.
  • 3. Frazão ES. 30 anos: Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo 1943-1973. Fortaleza (CE): s.ed; 1973.
  • 4
    Congregadas para servir ao Brasil as senhoras dos oficiais do Exército. O Povo 1942 out 5.
  • 5
    A Escola Domestica São Rafael vai fundar um curso de enfermeiras de emergência. Unitário. Fortaleza (CE) 1942 out 8.
  • 6. Inaugurar-se-á hoje o curso de enfermeiras de guerra do Patronato de N. Senhora Auxiliadora. Gazeta de Notícias. Fortaleza (CE) 1942 out 7.
  • 7
    Instalalar-se-á, hoje, em Fortaleza, mais um curso de enfermeiras de emergência. Nordeste. Fortaleza (CE) s.d.
  • 8. Instalado ontem o Curso de enfermeiras de emergência. Gazeta de Notícias. Fortaleza (CE) 1942 out 20.
  • 9
    Mais de 30 stas. e senhoras receberam a braçadeira com o distintivo da Cruz Vermelha. Unitário. Fortaleza (CE) 1942 out 8.
  • 10
    Outro problema da guerra: a assistência a maternidade e aos recém-nascidos. Unitário. Fortaleza (CE) 1942 out 8
  • 11
    Projeto de organização de um Escola de Enfermagem. Diário Oficial do Estado do Ceará. Fortaleza (CE) 1942 dez.
  • 12. Osório IB. Memórias de uma enfermeira Fortaleza (CE): LCR; 2007
  • 13. Instalada em Fortaleza a Escola de Enfermagem São Vicente de Paula. Correio do Ceará. Fortaleza (CE) 1943 jan 19.
  • 14
    Funcionará em março o novo curso da Escola de Enfermagem S. Vicente de Paula. O Estado. Fortaleza (CE) 1943 jan 19.
  • 15
    Escola de Enfermagem São Vicente de Paula com mais melhoramento vem ser dotada em Fortaleza (CE) 1943 jan 20.
  • 16
    Novas enfermeiras de guerra no Brasil: mais uma vitória do ideal humanitário e patriótico da Irmã Margarida Breves. Nordeste. Fortaleza (CE) 1943 fev 18.
  • 17. Padilha MICS, Mancia JR. Florence Nightingale e as irmãs de caridade: revisitando a história. Rev Bras Enferm 2005; 58 (6): 723-6.
  • 18. Conesa JH. Historia de la enfermería: un análisis histórico de los cuidados de enfermeira. Madrid (ESP): Interamericana-McGraw-Hill 1995.
  • 19. Leal VB. D. Antônio de Almeida Lustosa: um discípulo do mestre manso e humilde. 2Ş ed . Recife (PE): Gráfica Dom Bosco; 1992.
  • 20. Martins Filho D. Depoimento para a história das UFC. Fortaleza (CE): Imprensa Universitária; 2004.
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  • Correspondência:

    Sílvia Maria Nóbrega-Therrien
    Universidade Estadual do Ceará
    Av. Paranjana, 1700. Itaperi
    CEP - 6074-000. Fortaleza, CE
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Fev 2008
    • Data do Fascículo
      Fev 2008

    Histórico

    • Aceito
      30 Out 2007
    • Recebido
      28 Jun 2007
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