Acessibilidade / Reportar erro

Enfermagem e o cuidado ao idoso no domicilio

EDITORIAL

Enfermagem e o cuidado ao idoso no domicilio

Angela Maria AlvarezI; Lucia Hisako Takase GonçalvesII

IUniversidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Enfermagem. Florianópolis-SC, Brasil. Associação Brasileira de Enfermagem, Departamento Científico de Enfermagem Gerontológica. Brasilia-DF, Brasil

IIUniversidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Enfermagem, Grupo de Estudos sobre Cuidados de Saúde de Pessoas Idosas (Membro). Florianópolis-SC, Brasil. Universidade Federal do Pará, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (Pesquisadora Visitante CNPq/2011-2013). Belém-PA, Brasil

Nas últimas décadas, depara-se, no Brasil, com um processo de envelhecimento populacional e com um modelo de transição epidemiológica singular, que exigem, além de competência técnico-científica em todos os níveis da atenção à saúde, um projeto de organização política capaz de abarcar todas as demandas e interfaces desses fenômenos.

Apesar de ser um grande ganho para a humanidade, a expectativa de vida também acarreta problemas complexos para as áreas sociais e de saúde, pois a sociedade se vê diante de um contingente de pessoas suscetíveis a condições crônicas, em contexto de precárias situações socioeconômicas, que contribuem para aumentar o risco de dependência física e social a que as pessoas idosas estão sujeitas.

Em muitos países, o processo de envelhecimento tem ocorrido de maneira lenta e gradual, possibilitando acomodações no provimento de serviços sociais, previdenciários e de saúde. No Brasil, entretanto, esse processo vem ocorrendo de forma acelerada, principalmente no início deste século, exigindo maiores esforços no planejamento de políticas, programas e ações visando ao envelhecimento ativo e saudável das pessoas.

Esse fato coloca a Enfermagem diante de questões preocupantes, como: Qual é a visão da Enfermagem sobre a velhice? Como a profissão tem-se comprometido com a crescente demanda de usuários idosos nos serviços de saúde? Que esforços estão sendo feitos para capacitar enfermeiros e técnicos de enfermagem dos serviços de saúde para atender essa clientela? Como os currículos estão sendo readequados para formar novos profissionais com base nessa realidade?

O cuidado ao idoso fragilizado constitui-se numa responsabilidade sem par para a Enfermagem, pois a precária atenção vigente no âmbito da atenção primária tem acarretado crescente demanda de atendimento de urgência/emergência e de hospitalização. A Enfermagem presencia o evento e desempenha suas funções conforme a situação requer. Todavia, cabe à profissão questionar e desenvolver uma consciência política para engajar-se em movimentos que vislumbrem perspectivas de atenção à vida e à saúde das pessoas idosas de modo integrado, contínuo, prolongado e até permanente.

Os preceitos da Promoção da Saúde defendem o incremento de estratégias que visem ao desenvolvimento da autonomia e à melhoria das condições de vida e saúde para promover um envelhecimento ativo e saudável; a atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa; o estímulo às ações intersetoriais visando à integralidade da atenção; o provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa; o estímulo à participação e ao fortalecimento do controle social; e a educação permanente na área gerontológica.

Destaca-se aqui a importância da qualificação necessária para realizar esse trabalho, devendo-se considerar as questões éticas que permeiam o relacionamento do idoso com seu cuidador, e temas preocupantes, como a violência contra o idoso, maus tratos e o abandono familiar. Além dessas preocupações, convém lembrar que em nossa realidade o idoso é cuidado principalmente pela família, seja ela extensiva ou nuclear.

A família é um sistema de unidade de valores culturais, em que se presumem relações pessoais e troca de afeição, conformando um ideal que todos ou muitos almejam, como um porto seguro para as experiências de vida de seus membros. O valor da unidade familiar foi assumido pelo Ministério da Saúde ao considerá-la porta de entrada do SUS. O esforço de implantação da ESF em todo o território nacional impõe a atenção às famílias no interior de suas casas, abrindo um espaço imenso e promissor para a Enfermagem. O acolhimento ao idoso e sua família nos serviços de saúde só se evidencia se a pessoa idosa, mesmo com doenças crônicas, ou fragilizada com o avançar da idade, possa manter-se apoiada em suas necessidades, para desfrutar condignamente de qualidade de vida e do aconchego de sua família, que, por sua vez, deve ser valorizada em seu papel de cuidadora.

Ao citar o papel da família como cuidadora, é interessante destacar que, com as mudanças na estrutura familiar na atualidade, observa-se escassez de membros que possam assumir essa função/papel, levando as famílias diminuídas, mas com recursos financeiros, a contratar alguém – o cuidador ocupacional – para cuidar, no domicílio, de seu parente fragilizado, que se encontra com algum grau de dependência, exigindo cuidados específicos, embora a responsabilidade última recaia sobre a família.

A questão do cuidador ocupacional, com movimento de torná-lo profissional, tem sido a solução encontrada pelo mercado e apoiado por outros profissionais da área da saúde, de órgãos governamentais e entidades privadas, a despeito do contributo da Enfermagem na organização dos serviços de saúde de nosso país.

As políticas de direitos das pessoas idosas no Brasil preconizam a criação de programas que otimizem o potencial da pessoa idosa na manutenção de sua vida social, de seu bem-estar e de um viver condigno. Essas atitudes devem ser efetivamente consideradas na prática da Enfermagem, incorporando uma visão mais abrangente sobre o que representa o idoso na sociedade e quão importante é, em seu desenvolvimento humano, a perspectiva de construção e reconstrução da cidadania.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2013
  • Data do Fascículo
    Out 2012
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br