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Adesão das pessoas com diabetes mellitus ao autocuidado com os pés

Adhesion de las personas con diabetes mellitus autocuidado con sus pies

Resumos

Objetivo:

analisar o autocuidado de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 na Estratégia Saúde da Família, em Teresina-PI.

Método:

pesquisa transversal selecionou, por amostragem probabilística simples, 331 pessoas com diabetes mellitus. A coleta de dados aconteceu de agosto a dezembro de 2012, com uso de questionário de atividades de autocuidado com o diabetes e instrumento estruturado para registro de informações socioeconômicas e orientações recebidas pelo profissional enfermeiro.

Resultados:

os dados revelaram que os pacientes têm baixa adesão à automonitorização glicêmica, à prática de exercícios físicos e cuidados com os pés, porém com boa aderência ao uso da medicação. Apenas 38,7% da amostra examinavam os pés de cinco a sete dias na semana. Houve associação estatisticamente signifi cativa entre as atividades de autocuidado com os pés e as orientações do enfermeiro (p < 0,05).

Conclusão:

conclui-se que há necessidade de sensibilização no concernente ao desenvolvimento de habilidades para o autocuidado.

Autocuidado; Pés; Diabetes Mellitus


Objetivo:

analizar el autocuidado de los pacientes con diabetes mellitus tipo 2 en la Estrategia Salud de la Familia en Teresina-PI.

Método:

búsqueda Cruzada seleccionada por muestreo aleatorio simple, 331 personas con diabetes mellitus. La recolección de datos se llevó a cabo entre agosto y diciembre de 2012 con el uso de las actividades de autocuidado Cuestionario con Diabetes e instrumento estructurado para registrar la información socioeconómica y la orientación recibida por la enfermera profesional.

Resultados:

los pacientes tienen una mala adherencia a la supervisión de glucosa en sangre, el ejercicio físico y el cuidado de los pies, pero con buena adherencia a la medicación. Sólo el 38,7% de la muestra examinada los pies de cinco a siete días a la semana. Asociación estadísticamente signifi cativa entre las actividades de auto-cuidado con los pies y las orientaciones de las enfermeras (p <0,05).

Conclusión:

la necesidad de crear conciencia en relación con el desarrollo de habilidades para el autocuidado.

Autocuidado; Pies; diabetes mellitus


Objective:

to analyze the self-care of patients with type 2 diabetes mellitus in the Family Health Strategy in Teresina-PI.

Method:

search cross selected by simple random sampling, 331 people with diabetes mellitus. Data collection took place from August to December 2012 with the use of Self-Care Activities Questionnaire with Diabetes and structured instrument for recording information socioeconomic and guidance received by the professional nurse.

Results:

the data revealed that patients have poor adherence to blood glucose monitoring, the physical exercise and foot care, but with good adherence to the medication. Only 38.7% of the sample examined the feet of fi ve to seven days a week. Statistically signifi cant association between self-care activities with their feet and orientations of nurses (p < 0,05).

Conclusion:

that there is need to raise awareness with regard to the development of skills for self-care.

Self-Care; Feet; Diabetes Mellitus


INTRODUÇÃO

O autocuidado é definido por Orem como a prática de atividades para a manutenção da vida, da saúde e do bem-estar, realizadas pelo indivíduo em seu próprio benefício. Quando realizadas eficazmente, contribuem para a manutenção da integridade e funcionamento humano(1George JB. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.). A participação ativa do paciente, por meio das atividades de autocuidado, constitui-se a peça principal para o controle do diabetes mellitus (DM), uma vez que os pacientes e familiares são responsáveis por mais de 95% do tratamento(2Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial [Internet]. Brasília (DF): OMS; 2003 [acesso em 11 de julho de 2013]. Disponível em: http://www.who.int/chp/knowledge/publications/icccportuguese.pdf
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).

Diversos estudos discutem a baixa adesão às atividades de autocuidado com o diabetes, descrevendo possíveis fatores responsáveis pela ascensão dessa problemática(3Vilas-Boas LCG, Foss MS, Foss-Freitas MC, Torres HC, Monteiro LZ, Pace AE. Adesão à dieta e ao exercício físico das pessoas com diabetes mellitus. Texto & Contexto Enferm [Internet]. 2011 [acesso em 11 de julho de 2013];20(2):272-9. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v20n2/a08v20n2
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-4Compeán Ortiz LG, Galegos Cabriales EC, González González JG, Gómez Meza MV. Condutas de autocuidado e indicadores de saúde em adultos com diabetes tipo 2. Rev Latinoam Enferm [Internet]. 2010 [acesso em 11 de julho de 2013];18(4):675-80. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n4/pt_03.pdf
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). Fatores de ordem pessoal, socioeconômica e cultural, além de aspectos relativos à doença, ao tratamento, ao sistema de saúde e à equipe multiprofissional podem influenciar o autogerenciamento dos cuidados(2Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial [Internet]. Brasília (DF): OMS; 2003 [acesso em 11 de julho de 2013]. Disponível em: http://www.who.int/chp/knowledge/publications/icccportuguese.pdf
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).

Os profissionais de saúde, em geral, e a Enfermagem, em particular, têm a missão de promover melhor adesão do paciente ao tratamento por meio do estímulo a mudanças comportamentais imprescindíveis ao efetivo controle da doença. Pesquisa(5Morais GFC, Soares MJGO, Costa MML, Santos IBC. O diabético diante do tratamento, fatores de risco e complicações crônicas. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2009 [acesso em 11 de julho de 2013];17(2):240-5. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v17n2/v17n2a18.pdf
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) demonstrou que as orientações sobre autocuidado recebidas pelo paciente, as mudanças no estilo de vida e as habilidades para executá-las implicam prevenção e redução de complicações. Os cuidados com os pés constituem-se uma das vertentes do autocuidado dos pacientes com DM, uma vez que o pé diabético é uma das principais complicações advindas da doença e causa constante de hospitalizações e amputações entre esses pacientes(6Lottenberg SA. Manual de Diabetes Mellitus. Liga de controle de Diabetes Mellitus do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina-USP. São Paulo: Atheneu; 2010.).

É importante ação de enfermagem o ensino aos pacientes sobre os cuidados apropriados com os pés, os quais se iniciam com o exame diário criterioso desses membros. O autoexame dos pés deve incluir a lavagem, a secagem e a lubrificação, para evitar o acúmulo de umidade nos espaços interdigitais. Deve ser enfatizada também a seleção de calçados adequados. O profissional deve avaliar os pés dos pacientes diabéticos anualmente, procurando identificar deformidades e detectar neuropatia por monofilamento de 10g, além de palpar pulsos periféricos (pediosa e tibial posterior)(6Lottenberg SA. Manual de Diabetes Mellitus. Liga de controle de Diabetes Mellitus do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina-USP. São Paulo: Atheneu; 2010.).

Nesse contexto, procura-se explorar as ações desenvolvidas pelo profissional enfermeiro na prevenção do pé diabético e sua repercussão na adesão dos pacientes ao autocuidado com os pés.

O presente estudo tem como objetivo analisar o autocuidado de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 na Estratégia Saúde da Família, em Teresina-PI.

MÉTODOS

Caracteriza-se por ser estudo descritivo de natureza transversal desenvolvido nos Centros de Saúde que integram a Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina-PI, onde equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) realizam atividades de atenção básica.

A população pesquisada se constituiu de 8.709 pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) acompanhados pelas equipes da ESF de Teresina, conforme dados contidos no DA-TASUS SIS-HIPERDIA. Por amostragem probabilística simples teve-se uma amostra de 368 pessoas com DM2, das quais foram entrevistadas 331.

Foram incluídas pessoas com DM2, cadastradas no SIS-HI-PERDIA e acompanhadas pela mesma equipe da ESF há pelo menos 12 meses. Os critérios de exclusão foram os seguintes: intolerância à glicose, dificuldades de locomoção dos pacientes, diabéticos impossibilitados de realizar as atividades de autocuidado, em virtude de déficit visual, transtorno mental e/ou limitações físicas.

A abordagem da amostra foi em sala reservada enquanto aguardavam atendimento do enfermeiro. Nesse momento foram esclarecidos os objetivos da pesquisa para que as pessoas manifestassem o desejo de participar ou não do estudo, com a garantia do seu anonimato. Àqueles que concordaram foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que fosse assinado.

Para a coleta de dados utilizou-se o Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD) versão traduzida e adaptada para a cultura brasileira do instrumento Summary of Diabetes Self-Care Activities (SDSCA), como estratégia de mensuração das atividades de autocuidado de pessoas com diabetes. Informações sobre as características socioeconômicas da amostra e ações de promoção do autocuidado com os pés orientadas pelo enfermeiro foram obtidas por meio da aplicação de um instrumento estruturado.

A versão brasileira do SDSCA é composta por 15 itens, sendo 3 itens direcionados aos cuidados com os pés. A avaliação é parametrizada em dias da semana, numa escala de 0 a 7, correspondendo aos comportamentos referentes aos últimos sete dias. A adesão às atividades de autocuidado com os pés resultou satisfatória quando os escores eram maiores ou iguais a cinco. Optou-se por aplicá-lo em forma de entrevista em virtude da baixa escolaridade dos participantes.

Após a coleta dos dados procedeu-se à investigação detalhada das informações recolhidas, utilizando-se a estatística descritiva por meio do software Statistical Package for Social Sciences for Windows (SPSS for Windows), na versão 18.0.

O teste de Kolmogorov-Smirnov permitiu a verificação da normalidade dos dados. Por não apresentarem distribuição normal, recorreu-se à utilização do teste não paramétrico de Mann-Whitney (Teste U) para averiguar diferenças entre orientações do enfermeiro e os itens do QAD direcionados aos cuidados com os pés. O teste é significativo no nível de p < 0,05.

RESULTADOS

Participaram da pesquisa 331 pessoas com DM2. Quanto às características socioeconômicas da amostra, obteve-se que 223 (67,4%) eram do sexo feminino; 203 (61,3%) casados; média de idade de 59,05 (DP=9,70) anos, e de escolaridade de 4,6 (DP=4,34) anos de estudo. Conviviam em média 4,14 (DP=1,97) pessoas no domicílio, com renda familiar mensal média de R$1.081,00 (DP=768,98).

Quanto às ações de promoção do autocuidado com os pés orientadas pelos enfermeiros (Figura 1), 53,8% (n=178) dos entrevistados são unânimes em afirmar que nunca receberam orientação do enfermeiro a respeito da necessidade de examinar os pés e de secar os espaços interdigitais, bem como 66,5% (n=220) negaram orientações sobre a inspeção dos sapatos antes de calçá-los.

Figura 1
Ações de promoção do autocuidado com os pés orientadas pelos enfermeiros, na perspectiva de pessoas com DM2, Teresina, Piauí, Brasil, 2011

Ao se investigarem as ações realizadas pelo enfermeiro durante a consulta obteve-se que 79,5% (263) não tiveram os pés examinados durante o atendimento, e em 96,4% (n=319) não se realizou o teste de sensibilidade dos pés nos últimos 12 meses.

O Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD) permitiu verificar que o item examinar os pés obteve aderência de 3,06 dias, sendo que 38,7% (n=128) dos participantes exercem essa ação de 5 a 7 dias na semana. No entanto, esse percentual cai para 29% (n=96) quando se trata de examinar os sapatos antes de calçá-los. Quanto a secar os espaços interdigitais depois de lavar os pés, o estudo mostrou média de 3,10 dias, com 40,8% (n=135) dos entrevistados realizando esse comportamento na mesma frequência citada anteriormente (Tabela 1).

A associação entre as orientações disponibilizadas pelo enfermeiro e a adesão aos itens do QAD direcionados aos cuidados com os pés (Tabela 2) foi possível mediante a utilização do teste não paramétrico de Mann-Whitney.

Tabela 1
Adesão aos itens do Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD) direcionados aos cuidados com os pés, Teresina, Piauí, Brasil, 2011
Tabela 2
Associação entre as orientações do enfermeiro e a adesão aos Itens do QAD direcionados aos cuidados com os pés, Teresina, Piauí, Brasil, 2011

Percebe-se que o valor médio dos postos relativos aos itens examinar os pés, examinar o interior dos sapatos e secar os espaços interdigitais foi superior no grupo que diz ter recebido orientações do enfermeiro sobre esses aspectos da assistência com valor de p < 0,05, o que mostra que houve associação estatisticamente significativa entre esses itens e a variável orientação (Tabela 2).

DISCUSSÃO

O declínio das taxas de natalidade aliado ao avanço da expectativa de vida resulta no envelhecimento da população. Consequentemente, essa transição demográfica repercute positivamente na incidência e prevalência de problemas crônicos de saúde(2Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial [Internet]. Brasília (DF): OMS; 2003 [acesso em 11 de julho de 2013]. Disponível em: http://www.who.int/chp/knowledge/publications/icccportuguese.pdf
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). O aumento da expectativa de vida no Brasil tem incrementado a prevalência de DM, uma vez que a doença tende a crescer com o aumento da faixa etária(7Sartorelli DS, Franco LJ. Trends in diabetes mellitus in Brazil: the role of the nutritional transition. Cad Saúde Pública [Internet]. 2003 [cited 2013 July 11];19(Suppl. 1):S29-S36. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2003000700004&script=sci_arttext
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). Estudos realizados com pacientes diabéticos têm demonstrado não apenas o incremento no quantitativo com o avançar da idade, mas também a prevalência do sexo feminino(8Grillo MFF, Gorini MIPC. Caracterização de pessoas com diabetes mellitus tipo 2. Rev Bras Enferm. 2007;60(1):49-54.

Torres HC, Pace AE, Stradioto MA. Análise sociodemográfica e clínica de indivíduos com diabetes tipo 2 e sua relação com o autocuidado. Cogitare Enferm. 2010;15(1):48-54.
-1010 Gómez-Aguilar PIS, Yam-Sosa AV, Martín-Pavón MJ. Estilo de vida y hemoglobina glucosilada en la diabetes mellitus tipo 2. Rev Enferm Inst Mex Seguro Soc [Internet]. 2010 [acceso 11 julio 2013]18(2):81-7. Disponible em: http://www.medigraphic.com/pdfs/enfermeriaimss/eim-2010/eim102d.pdf
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).

Até a faixa etária dos 40 anos, a prevalência da obesidade é semelhante em ambos os sexos, idade a partir da qual essa prevalência é duas vezes mais elevada em mulheres em relação a homens(1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2002-2003: análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro; 2004 [acesso em 11 de julho de 2013]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2002analise/pof2002analise.pdf
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). Esse fato pode justificar a ascensão da doença em pessoas do sexo feminino em Teresina, já que a obesidade é um dos principais fatores para as altas prevalências de DM(6Lottenberg SA. Manual de Diabetes Mellitus. Liga de controle de Diabetes Mellitus do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina-USP. São Paulo: Atheneu; 2010.).

Deve-se atentar também para o baixo grau de escolaridade dos participantes, uma vez que pessoas com menor nível de escolaridade podem apresentar dificuldades de compreender as recomendações terapêuticas dadas pelos profissionais de saúde(3Vilas-Boas LCG, Foss MS, Foss-Freitas MC, Torres HC, Monteiro LZ, Pace AE. Adesão à dieta e ao exercício físico das pessoas com diabetes mellitus. Texto & Contexto Enferm [Internet]. 2011 [acesso em 11 de julho de 2013];20(2):272-9. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v20n2/a08v20n2
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), o que justificaria a menor adesão desses pacientes ao tratamento.

Estudos(1212 Xavier ATF, Bittar DB, Ataíde MBC. Crenças no autocuidado em diabetes: implicações para a prática. Texto & Contexto Enferm [Internet]. 2009 [acesso em 11 de julho de 2013];18(1):124-30. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v18n1/v18n1a15.pdf
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13 Pontieri FM, Bachion MM. Crenças de pacientes diabéticos acerca da terapia nutricional e sua influência na adesão ao tratamento. Ciênc Saúde Coletiva. 2010;15(1):151-60.
-1414 Oliveira NF, Souza MCBM, Zanetti ML, Santos MA. Diabetes Mellitus: desafios relacionados ao autocuidado abordados em Grupo de Apoio Psicológico. Rev Bras Enferm. 2011;64(2):301-7.) destacam a importância da família como componente de motivação para a adesão terapêutica, uma vez que o apoio e a participação familiar repercutem positivamente para a melhoria das condutas de autocuidado. A família e os amigos exercem papel determinante na vida diária das pessoas. A vida familiar acaba por influenciar a tomada de decisão quanto ao seguimento das recomendações, levando, pois, o paciente se reorganizar para a obtenção do controle metabólico. É de suma importância o enfermeiro considerar a família como partícipe do processo.

É importante ressaltar o baixo nível socioeconômico da amostra analisada imposto pela baixa renda familiar com que essas pessoas sobrevivem, característica semelhante àquela encontrada em Porto Alegre(8Grillo MFF, Gorini MIPC. Caracterização de pessoas com diabetes mellitus tipo 2. Rev Bras Enferm. 2007;60(1):49-54.).

A OMS atribui à pobreza e aos baixos níveis de escolaridade a precariedade da saúde de parcela significativa da população mundial, uma vez que os indivíduos com menor poder aquisitivo vivem e trabalham em ambientes relacionados às piores condições de saúde e, em geral, não têm acesso aos serviços de saúde ou a medidas preventivas. Além disso, famílias carentes tendem a ter menor grau de escolaridade. Seguramente, isso contribui para a manutenção do círculo pobreza e saúde precária(2Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial [Internet]. Brasília (DF): OMS; 2003 [acesso em 11 de julho de 2013]. Disponível em: http://www.who.int/chp/knowledge/publications/icccportuguese.pdf
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).

As consultas de enfermagem, além de outras finalidades, podem auxiliar o indivíduo a se capacitar para o autocuidado, por meio de orientações essenciais ao bom controle glicêmico. Nessa oportunidade o enfermeiro deve desenvolver estratégias que promovam a prevenção do pé diabético.

É prescrição de enfermagem ensinar ao paciente os cuidados que deve tomar, entre os quais a inspeção diária e a manutenção dos pés limpos e secos, especialmente entre os dedos, o que pode evitar complicações onerosas, tanto físicas como emocionais. Destaca-se, também, a necessidade de incentivar o paciente a usar calçados fechados que se adaptem bem aos pés, assim como inspecioná-los antes de calçar.

Acrescenta-se à consulta de enfermagem o exame dos membros inferiores para identificação do pé em risco. O informe da não realização de exame dos pés nas consultas realizadas no último ano mostrou-se associado à ocorrência de amputação (p<0,05), apresentando risco de 1,9 vezes maior em relação àqueles que tiveram os pés examinados(1515 Santos ICRV, Bezerra GC, Souza CL, Pereira LC. Pé diabético: apresentação clínica e relação com o atendimento na atenção básica. Rev RENE [Internet]. 2011 [acesso em 11 de julho de 2013];12(2):393-400. Disponível em: http://www.revistarene.ufc.br/vol12n2_pdf/a22v12n2.pdf
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).

A neuropatia sensitivo-motora constitui-se em fator preditivo do surgimento de úlceras nos membros inferiores, podendo estar presente em cerca de 30% da população de diabéticos atendidos em hospitais e 20% daqueles atendidos na atenção básica. Frequentemente assintomática, seu diagnóstico deve ser realizado com o uso de testes neurológicos(1616 Guzmán JR, Lyra R, Cavalcanti N. Diabetes Mellitus: visión latinoamericana. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2009.), entre os quais se destaca o limiar de percepção cutânea realizado com a utilização de monofilamento de 10g, para pesquisar a perda da sensibilidade.

Tais ações devem ser implementadas, pelo enfermeiro, na rotina de atendimento a essa clientela, ao se considerar que o pé diabético é uma das principais causas de hospitalização de pessoas com diabetes. Pesquisa(1717 Baquedano IR. Fatores relacionados ao autocuidado de pessoas com diabetes tipo 2 no Serviço de Urgência do Hospital Regional Mérida, Yucatán, México [tese]. Riberão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Riberão Preto, Universidade de São Paulo; 2008.) encontrou que das 559 causas de internações registradas no hospital de Mérida, no México, 15,2% se devem ao pé diabético.

Os dados identificados nesse estudo remetem à necessidade de profunda reflexão e mudança acerca do fazer dos enfermeiros de Teresina-PI, pois a ausência desses cuidados é considerada comportamento de alto risco para a ocorrência de agravos no pé, bem como de custos com especialistas e internações.

Os cuidados com os pés constituem-se uma das vertentes do autocuidado dos pacientes com DM. É necessária a inspeção diária dos pés para detectar precocemente pequenos traumas ou sinais de que o calçado utilizado está sendo inadequado(6Lottenberg SA. Manual de Diabetes Mellitus. Liga de controle de Diabetes Mellitus do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina-USP. São Paulo: Atheneu; 2010.). Esse comportamento foi realizado, em média, por 3,06 dias na semana pela amostra estudada, semelhante aos dados de 3,5 e 3,55 encontrados em Portugal(1818 Bastos F, Severo M, Lopes C. Propriedades psicométricas da escala de autocuidado com a diabetes traduzida e adaptada. Acta Med Port. 2007;20(1):11-20.) e em Santa Catarina(1919 Michels MJ, Coral MHC, Sakae TM, Damas TB, Furlanetto LM. Questionário de atividades de Autocuidado com o Diabetes: tradução, adaptação e avaliação das propriedades psicométricas. Arq Bras Endocrinol Metab. 2010;54(7):644-51.), respectivamente.

A aderência de 2,24 dias ao item examinar sapatos antes de calçá-los mascara a real informação de que, na verdade, essas pessoas utilizam calçados abertos, não havendo, portanto, a necessidade de se olhar o interior, dado este percebido mediante diário de campo e que contraria o que preconiza a literatura, endossada pela SBD(2020 Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. Tratamento e acompanhamento do diabetes mellitus. Diretrizes da SBD. São Paulo: [s.n.]; 2011.) e ADA(2121 American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes - 2011. Diabetes Care [Internet]. 2011 [cited 2013 July 11];34(S1):S11-S61. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21193625
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21193...
).

Pesquisa(5Morais GFC, Soares MJGO, Costa MML, Santos IBC. O diabético diante do tratamento, fatores de risco e complicações crônicas. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2009 [acesso em 11 de julho de 2013];17(2):240-5. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v17n2/v17n2a18.pdf
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) mostrou que, dos 22 diabéticos participantes do seu estudo, 81,8% utilizavam sapato aberto. Numa cidade do interior de Minas Gerais(2222 Carvalho RDP, Carvalho CDP, Martins DA. Avaliação dos cuidados com os pés entre portadores de diabetes mellitus. Cogitare Enferm. 2010;15(1):106-9.) identificou-se percentual de 92% de diabéticos utilizando calçados inadequados. Verificou-se também que apenas 23,07% dos entrevistados realizavam sistematicamente limpeza dos pés com água morna e sabão neutro, hidratação, exame diário e manutenção dos pés secos. Deve-se lembrar que os pacientes aqui analisados secam os espaços interdigitais em média 3,10 dias na semana.

Tais comportamentos constituem-se risco para a ocorrência de complicações que só pioram a qualidade de vida dessas pessoas. No entanto, alertam para a necessidade de implementação de práticas educativas efetivas voltadas para essa clientela e que levem em conta os costumes nordestinos.

Para melhorar a adesão dos diabéticos às atividades de autocuidado, os profissionais de saúde, em geral, e os enfermeiros, em particular, devem continuamente disponibilizar orientações básicas no sentido de reduzir a morbimortalidade por complicações da doença. Dessa perspectiva destaca-se a atuação dos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), uma vez que são responsáveis pela grande maioria das ações de saúde, entre as quais o acompanhamento de pessoas com diabetes mellitus.

Estudo(2323 Assunção TS, Ursine PGS. Estudo de fatores associados à adesão ao tratamento não farmacológico em portadores de diabetes mellitus assistidos pelo Programa Saúde da Família, Ventosa, Belo Horizonte. Ciênc Saúde Coletiva. 2008;13(Suppl. 2):2189-97.) verificou associação estatisticamente significativa entre a adesão ao tratamento não farmacológico e as orientações dispensadas pelo enfermeiro. Nesse sentido, convém ressaltar o excelente resultado das orientações do enfermeiro na adesão dos pacientes aos cuidados com os pés, especificamente examinar os pés, examinar os sapatos antes de calçá-los e secar os espaços interdigitais, com p=0,000.

A educação em saúde constitui-se como medida essencial para reduzir o desenvolvimento e a progressão de úlceras nos pés, uma vez que essa área é vulnerável a traumas imperceptíveis(6Lottenberg SA. Manual de Diabetes Mellitus. Liga de controle de Diabetes Mellitus do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina-USP. São Paulo: Atheneu; 2010.).

Assim, os resultados do presente estudo permitiram concluir que a população de diabéticos de Teresina-PI se compõe basicamente de pessoas do sexo feminino, de baixo nível socioeconômico, carentes de informações dispensadas pelo profissional enfermeiro no que tange aos cuidados com os pés e com baixa aderência a essas atividades de autocuidado.

No entanto, observou-se relação estatisticamente significativa das orientações disponibilizadas pelos enfermeiros aos pacientes para a aderência às atividades de autocuidado com os pés. Neste estudo, porém, não se avaliou a forma como esse profissional passa essa informação. Destaca-se também que esses pacientes sejam acompanhados conjuntamente por outros profissionais de saúde que provavelmente reforçam essas orientações, sendo corresponsáveis por tais resultados.

Apesar de traduzidos e validados para o português brasileiro, percebeu-se que os pacientes apresentaram limitações no entendimento do item examinar o interior dos sapatos antes de calçá-los, uma vez que esse questionamento caberia apenas àqueles que utilizassem calçado fechado. Sugere-se reformulação na redação desse item, bem como aplicação em outras amostras brasileiras.

É necessária a formação, e atuação contínua, da equipe interdisciplinar em conjunto com os diabéticos e a sociedade civil organizada. A atenção primária à saúde deve ser capacitada para a realização de práticas educativas dialógicas e reflexivas que valorizem o nível cultural das pessoas. Adicionalmente, os profissionais envolvidos precisam intensificar as ações direcionadas ao aconselhamento e à comunicação, uma vez que foi demonstrada a eficácia das orientações na adesão às práticas de autocuidado com os pés.

REFERÊNCIAS

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    George JB. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.
  • 2
    Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial [Internet]. Brasília (DF): OMS; 2003 [acesso em 11 de julho de 2013]. Disponível em: http://www.who.int/chp/knowledge/publications/icccportuguese.pdf
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  • 3
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  • 4
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2015

Histórico

  • Recebido
    04 Nov 2014
  • Aceito
    06 Fev 2015
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