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A Pesquisa em Enfermagem e os novos rumos a partir do SENPE

Após quase meio século do início da pesquisa em Enfermagem no Brasil, ainda há necessidade de investimentos para considerá-la consolidada. Os seminários nacionais que discutem a investigação nesta área demonstram esta afirmação ao longo de 17 eventos, por seus resultados e participação da categoria de pesquisadores e prestadores de serviço.

O 18º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem, realizado em Fortaleza (CE), em 2015, elegeu como tema Pesquisa em Enfermagem: aplicabilidade, implicações e visibilidade, compreendendo que a produção de conhecimento está legitimada dentro da categoria, necessitando, então, discutir estes três aspectos para transcender suas fronteiras e se firmar socialmente com um saber sólido e necessário. Teve como proposta refletir sobre a investigação em Enfermagem, considerando sua aplicação, promoção de mudanças nas práticas e contextos profissionais, visibilidade social e consumo de seus produtos no âmbito da profissão e entre outros profissionais da área da saúde. O tema central foi desdobrado em três eixos temáticos: 1 - O que e para que pesquisar: conhecimento e consumo da produção científica em Enfermagem; 2 - Desafios da produção do conhecimento em Enfermagem como fator de mudanças; 3 - Contribuições sociais da pesquisa em Enfermagem: como a produção do conhecimento chega ao público e aos profissionais de saúde. Foi precedido pelo Fórum de Pesquisadores e Coordenadores de Programas de Pós-graduação em Enfermagem, cujo propósito foi definir suas prioridades em pesquisa.

Para o 18º SENPE optou-se por uma metodologia mais participativa, uma vez que a temática exigia maior proximidade do quadrilátero problema-pesquisa-ação-transformação da prática, trazendo as discussões desde a produção de pesquisadores, até então reclusos nos seus espaços de atuação, contudo, com propostas relevantes para o avanço do conhecimento. Nos três dias do evento, as discussões ocorridas em Oficinas de Produto, tiveram ampla participação dos seminaristas, dando ensejo a falas sobre as experiências de cada um, dificuldades e propostas de mudanças para efetivar a aplicabilidade, potencialidades para promover mudanças e legitimar o conhecimento por meio da visibilidade social da produção do conhecimento. As oficinas foram precedidas de conferências proferidas por expertises internacionais da Enfermagem e de mesa redonda com os pesquisadores participantes. Os debates ocorridos consideraram os avanços quantitativos e qualitativos da pesquisa em Enfermagem nacional promovidos, essencialmente, no âmbito dos programas de pós-graduação em Enfermagem, mas que ainda necessitam de investimento social, político, cultural, técnico e teórico para consolidar a produção do conhecimento nesta seara.

Ao final do terceiro dia realizou-se a sessão plenária com as recomendações constantes na Carta de Fortaleza , abrangendo aspectos da aplicabilidade da pesquisa na área, as implicações para a melhoria da qualidade da assistência e estratégias para aumentar a visão social ao produto do conhecimento em Enfermagem.

Dentre as recomendações expressas pelos três eixos, cabe destacar: a indicação de pesquisas mais aderentes aos determinantes sociais do processo saúde-doença, perfil epidemiológico da população e necessidade de saúde, além de temas emergentes, como violência, diversidade, vulnerabilidades e riscos sociais, contribuindo efetivamente para a melhoria da vida e saúde das pessoas; eleição de temáticas de forma coletiva, em grupos ou programas de pós-graduação, incluindo pesquisadores das instituições de ensino, enfermeiros assistenciais, gestores de unidades de saúde e representações da sociedade, de modo a aproximar as investigações das necessidades de produção do conhecimento para resolução de problemas; estímulo à multidisciplinaridade nas pesquisas, evidenciando a participação da Enfermagem no ensino, pesquisa e extensão que as revistas científicas de Enfermagem criem linhas de publicação de experiências exitosas de metodologias inovadoras e de pesquisa-intervenção, bem como sejam assegurados espaços nos eventos de Enfermagem para socialização destas experiências; tornar acessível ao público leigo, pouco familiarizado com a linguagem científica, os resultados de pesquisa, de forma que se tornem consumidores deste saber.

Não é ousado afirmar que o 18º SENPE foi um marco para a Enfermagem, considerando a repercussão positiva que teve entre os participantes e as reiteradas afirmações de que a promoção superou as expectativas no que concerne ao avanço das discussões sobre pesquisa, produção do conhecimento e possibilidades de romper as barreiras da profissão quanto à sua legitimação, consumo e contribuição para o avanço do saber no campo da saúde.

Os 1.759 trabalhos apresentados, nas modalidades posters eletrônicos e comunicação coordenada, de excelente qualidade, as trocas de experiências e endereços eletrônicos entre os investigadores que se descobriram com afinidades intelectuais, a experiência de pesquisadores d'além mar que trouxeram para o evento a certeza de que se está no caminho da excelência como profissão, tudo isso leva à sensação de missão cumprida. Ainda falta muito? Com certeza. Precisa-se estimular não somente pesquisadores, mas também consumidores e divulgadores do conhecimento em Enfermagem da nova geração de enfermeiros e equipe de Enfermagem, bem como mostrar para a sociedade e aos demais profissionais da saúde que também se contribui, com o saber, para a qualidade do fazer saúde em um país ainda muito carente de inovações e estratégias para vencer barreiras e atingir objetivos. A Enfermagem, no 18º SENPE, mostrou, de forma clara e convincente, que está no caminho certo!

  • Como citar este artigo:
    Vale EG, Silva MJ. Research in nursing and new pathways based on SENPE. Rev Bras Enferm. 2015;68(4):571-2.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2015
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