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Violência sob o olhar de adolescentes: intervenção educativa com Círculos de Cultura

Violencia bajo la mirada de los adolescentes: intervención educativa con el Círculos de Cultura

RESUMO

Objetivo:

aplicar a metodologia de Círculos de Cultura junto a adolescentes escolares como estratégia de educação em saúde da enfermeira na construção do conhecimento coletivo da temática violência.

Método:

estudo qualitativo do tipo pesquisa-ação em que participaram 11 adolescentes de uma escola pública estadual de Recife-PE. A produção dos dados no Círculo de Cultura abrangeu a observação participante com diário de campo, registro fotográfico e filmagem, além da técnica photovoice. A análise foi realizada pela triangulação de dados em diálogo com a literatura.

Resultados:

foi evidenciado que a ação problematizadora proporcionada pelo Círculo de Cultura possibilitou criar situações nas quais os adolescentes sentiam-se convidados a refl etir criticamente sobre o fenômeno da violência em sua complexidade.

Conclusão:

a intervenção de educação em saúde, realizada por meio de Círculos de Cultura, agregou aprendizado e crescimento mútuo subsidiando ações de cuidado em enfermagem que primem pelo protagonismo e autonomia dos adolescentes.

Descritores:
Adolescente; Violência; Educação em Saúde; Promoção da Saúde; Serviços de Enfermagem Escolar

RESUMEN

Objetivo:

aplicar la metodología de Círculos de Cultura con adolescentes escolares como estrategia de educación en salud de la enfermera en la construcción del conocimiento colectivo de la temática violencia.

Método:

estudio cualitativo del tipo investigación-acción que participaron 11 adolescentes de una escuela pública estadual de Recife-PE. La producción de los datos en el Círculo de Cultura abarcó la observación participante con diario de campo, registro fotográfico y filmación, además de la técnica photovoice. El análisis fue realizado por la triangulación de datos en diálogo con la literatura.

Resultados:

fue evidenciado que la acción problematizadora proporcionada por el Círculo de Cultura posibilitó crear situaciones en las cuales los adolescentes se sentían convidados a refl exionar críticamente sobre el fenómeno de la violencia en su complejidad.

Conclusión:

la intervención de educación en salud, realizada por medio de Círculos de Cultura, añadió aprendizaje y crecimiento mutuo proporcionando acciones de cuidado en enfermería que primen el protagonismo y autonomía de los adolescentes.

Palabras clave:
Adolescente; Violencia; Educación en Salud; Promoción de la Salud; Servicios de Enfermería Escolar

ABSTRACT

Objective:

to apply the methodology of Culture Circles on adolescents as a strategy for health education of nurses in the construction of the collective knowledge of the thematic violence.

Method:

action research type and qualitative study. Participants were 11 adolescents from a public school in Recife, PE, Brazil. Data production in Culture Circles included the participant observation with field diary, photographic recording and filming, as well as the photovoice technique. The analysis was performed by triangulating data in dialogue with the literature.

Results:

it was shown that the problematizing action provided by the Culture Circle made possible to create situations in which adolescents felt invited to critically refl ect on the phenomenon of violence in all its complexity.

Conclusion:

the health education intervention, performed by Culture Circles, added learning and mutual growth subsidizing nursing care actions that excel at leadership and autonomy of adolescents.

Key words:
Adolescent; Violence; Health Education; Health Promotion; School Nursing

INTRODUÇÃO

A adolescência, período de vida compreendido entre 10 a 19 anos de idade, tem sido considerada um grupo estratégico para as políticas de promoção à saúde e enfrentamento de vivências vulneráveis, como a violência(11 World Health Organization (CH). Health topics: adolescent health [Internet]. Geneva (CH): WHO; 2010 [updated 2015 Jun 26; cited 2013 Jan 30]. Available from: http://www.who.int/topics/adolescen_health/en/.
http://www.who.int/topics/adolescen_heal...
). No entanto, a magnitude com que este fenômeno vem vitimando crianças e adolescentes mostra a necessidade de políticas públicas intersetoriais e a formação de recursos humanos em saúde comprometidos com a atenção e proteção integral desses sujeitos numa perspectiva integradora dos direitos prioritários individuais e sociais.

Entender a violência que permeia a vida dos adolescentes e jovens requer mobilização de toda sociedade pois, como fenômeno social, a violência assume diferentes faces como expressão dos diferentes contextos as quais se exacerbam. Desse modo, as propostas de atenção integral à saúde dos adolescentes devem buscar intervir mediante ações que deem escuta, satisfaçam suas necessidades e permitam o desenvolvimento de competências e habilidades, extrapolando o simples assistencialismo, tornando-os parte de redes sociais alicerçadas em perspectivas de enfrentamento e de minimização de fatores da vulnerabilidade(22 Silva MAI, Mello FCM, Mello DF, Ferriani MGC, Sampaio JMC, Oliveira WA. [Vulnerability in adolescent health: contemporary issues]. Cienc Saude Colet [Internet]. 2014 Feb [updated 2015 Jun 26; cited 2013 Jan 30];19(2):619-27. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n2/1413-8123-csc-19-02-00619.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n2/1413-...
). A interface entre o conceito de vulnerabilidade e o fenômeno da violência procura lançar luz sobre a dinâmica dos processos sociais, culturais e individuais que demarcam a suscetibilidade dos adolescentes em contextos de violências.

A escola constitui um cenário privilegiado para o desenvolvimento de ações promotoras de saúde, pois é a partir dela que adolescentes e jovens desenvolvem e constroem sua visão de mundo, autonomia e subjetividade. Assim, torna-se imprescindível que a prática das(os) enfermeiras(os), enquanto profissionais mais próximas da realidade dos adolescentes brasileiros no âmbito do SUS, esteja pautada no rompimento do silêncio e da acomodação que envolve a problemática da violência junto a esse grupo etário(33 Ribeiro JP, Silva MRS, Cezar Vaz MR, Silva PA, Silva BT. The protection of children and adolescents from violence: an analysis of public policies and their relationship with the health sector. Invest Educ Enferm [Internet]. 201 Jan-Apr [cited 2013 Jan 30];31(1):134-41. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/iee/v31n1/v31n1a16.pdf
http://www.scielo.org.co/pdf/iee/v31n1/v...
). Neste contexto, destacam-se as ações educativas apoiadas em referenciais pedagógicos humanistas e libertadores, como prática capaz de promover o empowermentdos adolescentes e estimular o seu protagonismo para ação coletiva e exercício da cidadania.

Pode-se destacar, nesta direção, a metodologia de Círculos de Cultura, proposta por Freire, na alfabetização de jovens e adultos que tem como ideia fundamental desenvolver uma ação educativa como ato de recriação, de ressignificação de significados. Este Método tem como fio condutor a reflexão-ação visando à libertação, não somente no campo cognitivo, mas essencialmente nos campos social e político(44 Feitosa SCS. Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular de educação. [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo; 1999.). No campo da enfermagem, os constructos epistemológicos do pensador Paulo Freire vêm impulsionando pesquisas, como de Monteiro e Vieira(55 Monteiro EMLM, Vieira NFC. [Health education based on culture circles]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2010 May-Jun [cited 2013 Jan 30];63(3):397-403. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a08v63n3.pdf Portuguese.
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), como proposta de educação em saúde mediante Círculos de Cultura junto a grupos da comunidade, como um caminho profícuo para viabilizar novas faces para a produção do cuidado em enfermagem comprometido com a autonomia e a consciência crítica da realidade.

Este estudo procura contribuir para a área do conhecimento da saúde do adolescente, fortalecendo a atuação da(o) enfermeira(o) enquanto mediadora de ações educativas sintonizadas com a ideia do protagonismo juvenil e da emancipação. A importância de tais estratégias evidencia-se pelo fato de que mesmo adolescentes e jovens constituindo-se enquanto sujeitos vulneráveis, são também potencialmente capazes de elaborar e ressignificar situações de proteção(66 Ayres JRCM, Carvalho YM, Nasser MA, Saltão RM, Mendes VM. Ways of comprehensiveness: adolescents and young adults in Primary Healthcare. Interface Comun saúde Educ [Internet]. 2012 Jan-Mar [cited 2013 Jan 30];16(40):67-82. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832012000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

Alguns fatores motivaram os pesquisadores deste estudo, a saber: pouca atuação dos profissionais da saúde no cenário escolar, falta de conhecimento da importância das metodologias ativas nos espaços de discussões sobre problemas sociais complexos e a necessidade de fortalecer o compromisso na formação dos adolescentes enquanto agentes de mudança para o enfrentamento dos problemas da comunidade. Neste sentido, propôs-se o seguinte problema de pesquisa: a implementação do modelo de Círculos de Cultura como intervenção educativa em enfermagem junto aos adolescentes escolares, possibilita reflexão, fortalecimento e mobilização para a compreensão da problemática da violência? Para tanto, este estudo objetivou aplicar a metodologia de Círculos de Cultura junto a adolescentes escolares como estratégia de educação em saúde da(o) enfermeira(o) na construção do conhecimento coletivo da temática violência.

MÉTODO

Estudo do tipo pesquisa-ação, com abordagem qualitativa, que utilizou o Círculo de Cultura proposto por Monteiro e Vieira(55 Monteiro EMLM, Vieira NFC. [Health education based on culture circles]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2010 May-Jun [cited 2013 Jan 30];63(3):397-403. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a08v63n3.pdf Portuguese.
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). A escolha por desenvolver um Círculo de Cultura, visa ensejar uma vivência participativa com ênfase no diálogo, campo profícuo para a reflexão-ação na elaboração coletiva de uma proposta sistematizada para uma prática educativa de enfermagem emancipatória(55 Monteiro EMLM, Vieira NFC. [Health education based on culture circles]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2010 May-Jun [cited 2013 Jan 30];63(3):397-403. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a08v63n3.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a08...
).

A pesquisa foi realizada nos meses de agosto a dezembro de 2011, em uma escola pública da rede estadual de ensino da cidade de Recife, capital de Pernambuco, Brasil. Os sujeitos do estudo foram 11 adolescentes da primeira ou segunda série do ensino médio, na faixa etária entre 15 e 19 anos, sendo 6 do sexo feminino e 5 do masculino, todos residentes na comunidade onde a escola está inserida. A comunidade é caracterizada por apresentar frequentes ocorrências de situações de violência relacionadas a disputas de gangues pelo território de drogas.

Para composição da amostra foi realizada divulgação da intervenção educativa nas salas de aula do ensino médio, orientando os escolares interessados a preencherem uma ficha de inscrição contendo dados pessoais e o seguinte questionamento: por que você deseja participar? Foi destacada a necessidade de conversarem com os pais ou responsáveis, consultando-os sobre a permissão para participar do estudo. Dessa forma, a escolha dos participantes obedeceu aos seguintes critérios: estar matriculado e frequentando as atividades pedagógicas regularmente, ter preenchido a ficha de inscrição, ter interesse em participar do estudo e apresentar sua anuência formal, bem como dos pais ou responsáveis, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A opção por trabalhar com uma amostra não probabilística do tipo intencional encontra-se alicerçada na proposta da participação livre e espontânea dos adolescentes para composição final da amostra. Fortalecer a participação espontânea e consciente dos jovens é essencial para o desenvolvimento dos Círculos de Cultura, cuja dialogicidade e conscientização constituem alicerces relevantes deste método(55 Monteiro EMLM, Vieira NFC. [Health education based on culture circles]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2010 May-Jun [cited 2013 Jan 30];63(3):397-403. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a08v63n3.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n3/a08...
).

Fez-se uso das seguintes técnicas de coleta de dados durante o desenvolvimento do Círculo de Cultura: observação participante com anotações em diário de campo, registro fotográfico e filmagem dos encontros, além de produções coletivas pelos adolescentes de imagens fotográficas, denominado photovoice(77 Wang CC. Youth participation in photovoice as a strategy for community change. J Community Pract [Internet]. 2006 [cited 2013 Jan 30];14(1-2):147-61. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1300/J125v14n01_09
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.13...
).

A técnica de photovoice(77 Wang CC. Youth participation in photovoice as a strategy for community change. J Community Pract [Internet]. 2006 [cited 2013 Jan 30];14(1-2):147-61. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1300/J125v14n01_09
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) pode ser considerada uma estratégia participativa de promoção a saúde na qual os adolescentes são motivados a desenvolver sua criticidade a partir da captação de imagens que retratam sua realidade, possibilitando um olhar crítico e reflexivo.

O Círculo de Cultura como instrumento de coleta e método de investigação foi feito a partir do cumprimento das seguintes fases: descoberta do universo vocabular, dinâmica de sensibilização e descontração, situações para a problematização (trabalhar a(s) questão(ões) norteadora(as)), fundamentação teórica, reflexão crítica, elaboração coletiva das respostas, síntese do que foi vivenciado e avaliação. O Círculo de Cultura teve em média duração de duas horas. Após finalização do encontro, os pesquisadores realizaram a descrição minuciosa de todos os eventos e acontecimentos ocorridos durante o desenvolvimento do processo: narração das informações contidas no diário de campo, transcrição do material registrado nas filmagens e as vivências das atividades em grupo com registro fotográfico.

Para organização e análise dos dados recorreu-se à análise por triangulação de dados(88 Denzin NK. Triangulation 2.0. J Mix Methods Res [Internet]. 2012 Apr [cited 2013 Jan 30];6(2) 80-8. Available from: http://mmr.sagepub.eom/content/6/2/80.abstract
http://mmr.sagepub.eom/content/6/2/80.ab...
) por permitir a observação da realidade a partir de distintos ângulos numa inserção mais aprofundada dos pesquisadores, obtendo-se maior validade dos dados. A síntese interpretativa ocorreu por meio das falas, observações, participações, atitudes nas atividades em grupo e significados da vivência educativa pelos atores sociais envolvidos. O material foi discutido e analisado à luz da literatura pertinente à temática, em um movimento crítico-dialético.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco, com protocolo de nº 076/11 e registro CAAE: 0062.0.097.000-11. A privacidade dos adolescentes foi preservada mediante a utilização de pseudônimos, seguidos da identificação do sexo e da idade. Os pseudônimos foram escolhidos pelos adolescentes por representarem características pessoais, durante realização de uma dinâmica de apresentação e descontração.

RESULTADOS

A etapa da descoberta do universo vocabular dos adolescentes compreendeu um momento iniciado anteriormente a realização do Círculo de Cultura, por meio de contatos prévios individuais com os participantes quanto aos aspectos que permearam a problemática da violência em seu espaço cotidiano, que possibilitou extrair as palavras geradoras a serem trabalhadas no encontro. Além disso, foi possível lançar outras visões acerca do planejamento que, ainda não sendo conclusivo, foi receptivo a flexibilizações. Segundo Freire(99 Freire P. Pedagogia do oprimido. 47. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2008.), é a partir da relação entre educador-educando-objeto do conhecimento que o processo dialógico ancora-se. A busca pelo conteúdo programático é essencial para estabelecer uma interação entre estas três categorias gnosiológicas, pois o diálogo entre elas começa antes da prática pedagógica propriamente dita.

Círculo de Cultura: conhecendo as situações de violência para o adolescente

Para desenvolver o caminhar teórico-metodológico do Círculo de Cultura, foi proposto um momento de acolhimento, com uma técnica grupal durante a qual os adolescentes foram convidados a escolher uma tira de papel para colar na camisa. As tiras continham o nome de algumas representações da sociedade, como: juiz, gestores, políticos, professor, estudante, profissional de saúde, família. Em seguida foram distribuídos aos participantes um balão e um pequeno papel em branco, para que escrevessem uma mensagem sobre o que é preciso para o adolescente ser feliz. Em seguida, as mensagens foram colocadas dentro dos balões que, depois de serem cheios ao som de uma música animada, foram lançados ao ar, tendo o cuidado de não deixá-los cair. À medida que a brincadeira fluía os adolescentes eram retirados do centro, um a um. Quanto à percepção da brincadeira, os adolescentes relataram:

Digamos que nesta bola tem tudo que a gente precisa e se algum momento alguém desistir de ser feliz [...]. Sempre um tem que ajudar o outro. (Alegria, F, 17 anos)

Percebi que eu fiz falta [...]. Começamos como um grupo e que foi se desfazendo e não sustentou as bolas [...]. (Criatividade, M, 18 anos)

... a questão de escolher uma profissão eu achei interessante, mas algumas dessas pessoas nem sempre estão presentes em nossas vidas.(Amizade, M, 15 anos)

O objetivo desta técnica foi promover o espírito coletivo para o trabalho grupal, estimulando o compromisso com o outro, estabelecendo relações de reciprocidade, respeito e mobilização no processo de construção de conhecimento, e uma vivência que permitisse o crescimento dos adolescentes enquanto protagonistas de suas histórias de vida. Quanto ao modo de identificação por meio de uma profissão, foi identificado que os adolescentes se posicionaram ao questionar e cobrar a presença de determinados atores sociais responsáveis por garantirem uma proteção integral às crianças e adolescentes. Ao final deste momento, os adolescentes estouraram as bolas e leram as seguintes mensagens: esperança, Deus, alegria, amor, dinheiro, educação, paz, lazer, saúde, amigos.

Dando início ao momento de problematização, os adolescentes foram mobilizados a se organizar em grupos para o desenvolvimento de um trabalho por meio do registro fotográfico. Para a produção das imagens fotográficas, foi elaborada a seguinte pergunta: quais as situações de violência que identifico na comunidade? O pesquisador disponibilizou quatro câmeras fotográficas (modelo digital), ficando duas com cada grupo composto por seis adolescentes. Foi acordado que todos deveriam participar na produção de dez fotos por grupo. Cada subgrupo elegeu um coordenador para a atividade, que ficou responsável por contatar o pesquisador para a revelação das fotos. As fotos reveladas foram distribuídas nos grupos para que os adolescentes registrassem atrás delas o que representavam. Neste momento foi possível a exclusão das fotos que eram repetidas retratando uma mesma situação.

Desse modo o primeiro grupo construiu o seguinte painel (Figura 1):

Figura 1
Painel de fotos sobre a percepção do adolescente quanto as situações de violência, elaborado pelo primeiro grupo de adolescentes do Círculo de Cultura

Este painel foi assim decodificado pelo grupo:

Trouxemos aqui algumas situações de violência em locais da comunidade onde é ponto de droga, prostituição, onde tem assalto, assassinato[...]. A gente vendo isso nos agride, a gente olha e não gosta; nos sentimos mal, dá vontade de mudar ... e ocorrem bem perto da escola, alguns de nós sempre passa por lá pra chegar em casa. (Vida, F, 16 anos)

Em alguns destes locais da comunidade se encontra gente morta, inclusive assassinaram um colega meu neste local, chegamos até a escutar os tiros. (Perfeccionista, F, 15 anos)

Tiramos a foto deste muro laranja, porque um dia a gente viu a polícia abordando alguns adolescentes neste local [...]. Não sei porque foi o motivo, mas acho que é preconceito, pelo modo como a gente se veste... e estávamos passando no exato momento e quando batemos a foto o policial viu, pegou forte no meu braço mandando eu apagar.(Criatividade, M, 18 anos)

A gente também trouxe a pichação na escola que é demais, o vandalismo [...]. Em alguns locais onde poderíamos colar trabalhos, tá cheio de tinta que nem sai mais. (Sonho, M, 16 anos)

Esta outra foto aqui de uma criança de 3 anos é pra gente ter uma ideia de como crianças e jovens fazem trabalhos domésticos ou trabalham fora de casa ... isso faz com deixe de estudar e saia da escola [...]. (Superação, F, 19 anos)

Mostramos aqui uma adolescente grávida [...]. Muitas colegas minhas tiveram filhos com 14 anos. (Esperança, F, 17 anos)

E nessa outra situação temos um idoso trabalhando, carregando alguns sacos de cimento, chamou nossa atenção isso [...]. E aqui tem um homem catando lixo para poder achar coisas de valor e revender [...]. Isso é bem triste para um filho que vê seu pai fazendo isso, ele vai querer ajudar. (Perfeccionista, F, 15 anos)

O painel construído pelo segundo grupo (Figura 2) foi assim apresentado:

Figura 2
Painel de fotos sobre a percepção do adolescente quanto as situações de violência, elaborado pelo segundo grupo de adolescentes do Círculo de Cultura

Por meio das falas, este painel foi assim apreciado pelo grupo:

O lixo que é jogado nas ruas, nós percebemos que é uma violência com o mundo, com o meio ambiente e com as próprias pessoas que podem ficar doentes, pois o mundo devolve com prejuizos quando a gente agredi ele [...]. (Alegria, F, 17 anos)

A gente quis mostrar aqui, um campo de futebol da comunidade, que deveria ser de lazer ... na verdade é ponto de venda e uso de drogas, esconderijo de armas, de "apagamento" de pessoas, já foi encontrada muita gente morta lá [...]. (Amor, F, 18 anos)

Essa coisa da droga é séria, porque é atraves dela que gera toda a violência ... tem muitas consequências para a criança e nós adolescentes, porque os "chefes" nos usa para traficar ... é muito comum a gente vê por aqui na comunidade ... nesse mundo só leva a dois caminhos: prisão e principalmente morte. (Amizade, M, 15 anos)

... ano passado eu vi um colega dentro da escola com uma arma guardada na bolsa [...]. (Estudioso, F, 18 anos)

Houve um dia de grande confusão na escola, os meninos na hora do almoço saíram virando e quebrando as bancas da sala, jogando os copos e os pratos com a comida ... ficamos meio assustados, nem parecia que estavámos numa escola ... isso é uma forma de violência e prejudica até a própria educação da gente. (Coragem, M, 15 anos)

O momento de leitura foi proporcionada pelo texto "Onde está a violência?" adaptado das edições da UNESCO(1010 Abramovay M, Castro MG, Pinheiro LC, Lima FS, Martinelli CC. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas. Brasília: UNESCO; 2002. [cited 2013 Jan 30]. Available from: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127138por.pdf
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/00...
), através do qual se estabeleceu um diálogo entre a literatura e o que foi desvelado por meio dos saberes dos adolescentes:

Me chamou atenção no texto foi um tipo de violência que não é de bater e de agredir, e sim humilhar o outro [...]. (Perfeccionista, F, 15 anos)

Quando você bate numa pessoa e deixa marca física aquilo passa, mas se algo ficar no coração ou na mente vai ficar para sempre [...]. Vai surgir o medo nessa pessoa, ela vai ficar retraída, não faz amizades [...]. (Alegria, F, 17 anos)

Diante da profundidade com que os adolescentes expressaram seu entendimento sobre a temática da violência, foi percebido que o texto acrescentou informações ao conhecimento que o grupo já detinha sobre o fenômeno. Assim, podemos evidenciar que os adolescentes elaboraram uma definição de violência que não apenas é resultado de dano físico, lesões ou morte os quais deixam marcas mais visíveis, mas uma forma de violência velada que humilha, exclui e trata o outro com indiferença capaz de deixar marcas psicológicas que afetam a sua vida social.

O momento de síntese constituiu em revisitar os principais pontos trabalhados no Círculo de Cultura, onde palavras-chaves emergiam das discussões e reflexões do centro da roda. Assim, os adolescentes enfatizaram o convívio constante com a violência, seja na vizinhança, na escola, no ambiente familiar ou nas áreas que deveriam ser de lazer da comunidade. Os adolescentes demonstraram, também, que a prática da violência por ser encarada como normal e esperada, principalmente, entre indivíduos que residem na periferia, acaba por lançar uma visão estereotipada dos jovens, limitando o acesso a bens e serviços sociais importantes para a conquista da autonomia e o exercício da cidadania. Por fim, o grupo destacou a violência não só pelo uso da força, mas de palavras, sendo uma característica comum nas relações sociais de hoje, e o maior cuidado com o patrimônio público por se tratar de um tipo de violência que afeta a todas as pessoas.

Durante as discussões deste momento a adolescente Vida relatou o seguinte depoimento:

Quando a gente para pra observar é que percebemos o que está acontecendo a nossa volta [...]. (Vida, F, 16 anos)

Esta visão crítica sobre o contexto social vivido remete a um dos alicerces do pensamento "freireano": a conscientização, cujo princípio é tomar posse da realidade, afastando-se desta e produzindo sua desmitologização, ou seja, o olhar mais crítico sobre a realidade para desvendá-la e conhecê-la(99 Freire P. Pedagogia do oprimido. 47. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2008.).

Todo Círculo de Cultura apresenta em sua etapa final a avaliação, mediada não por um modelo classificatório e pontual, mas por uma auto avaliação quanto à vivência do processo ensino-aprendizagem com enfoque não só na atuação dos sujeitos, como também, do pesquisador-animador dos Círculos de Cultura. Para este momento de avaliação, foi solicitado que o grupo fizesse uma reflexão, relatando como foi a experiência vivenciada com a descoberta de novos conhecimentos a partir do tema gerador do Círculo de Cultura. O desejo de falar foi notado no olhar de cada adolescente que então assim revelaram:

Quando estávamos fazendo as fotos, pensei: como vamos trabalhar com isso? E quando chegou tudo foi fluindo, pegando o jeito da coisa, muito interessante foi essa forma de aprender [...]. (Perfeccionista, F, 15 anos)

... aprendizado por meio da realidade. (Coragem, M, 15 anos)

... alertar para os problemas da nossa comunidade.(Criatividade, M, 18 anos)

Fica evidenciado que a ação problematizadora proporcionada pelo Círculo de Cultura possibilitou criar situações nas quais os adolescentes se veem convidados a examinar criticamente suas ações cotidianas e opiniões como forma de intervenção no mundo.

DISCUSSÃO

Com o momento da problematização, foi possível gerar o diálogo, a troca de saberes, com ênfase na valorização do saber popular, nas experiências e modos particulares de lidar com as questões que envolvem o cotidiano humano em suas relações biopsicosocioculturais. Assim, os adolescentes engajaram-se no processo de codificação e decodificação das situações-limite que atravessam a problemática da violência e suas inúmeras faces e representações assumidas na vida de cada indivíduo. Diante da complexidade do fenômeno da violência e da necessidade de conduzir uma prática educativa criativa e convidativa, foi proposta a utilização de câmeras com o intuito de dar vozes a grupos em situações de vulnerabilidade, como os adolescentes, permitindo-lhes expressar aspectos de sua vida com denúncias das situações de violência presentes em sua comunidade, as quais poderiam não ser visíveis de outra forma, com o objetivo de arquitetar planos de mudanças. Foi trabalhada, ainda, como uma forma de gerar conhecimento, à medida que estimulou no grupo a busca pelo novo, possibilitando aproximá-los mais da sua realidade, com a responsabilidade de levantar aspectos socialmente relevantes(1111 Warren S. Photography and voice in critical qualitative management research. Accounting Auditing Accountability J [Internet]. 2005 [cited 2013 Jan 30];18(6):861-82. Available from: http://www.emeraldinsight.com/doi/pdfplus/10.1108/09513570510627748
http://www.emeraldinsight.com/doi/pdfplu...
).

Ao apreciar as fotografias do painel do primeiro grupo, foi revelado nos depoimentos dos adolescentes um contexto de grande vulnerabilidade na sua comunidade, expondo-os a diversas situações geradoras de violência, como: o convívio com o crime e o tráfico, prostituição, assassinatos em locais próximos as suas residências e a escola, tiroteios em épocas de conflito e disputa entre os "chefes" de gangue. São situações que os adolescentes convivem rotineiramente; mas, mesmo assim, eles não demonstraram aceitar os fatos, assumindo uma atitude de repúdio e de inquietação contra esta realidade, que priva as pessoas do direito de exercer sua cidadania.

Foi denunciado pelos adolescentes Vida e Perfeccionista um clima de insegurança na escola e no trajeto da escola para casa, pois as áreas da comunidade onde a violência em sua forma mais brutal é marca constante são locais que dão acesso à escola. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada em 2012, verificou que adolescentes deixaram de ir à escola por insegurança no trajeto casa-escola e no próprio interior da escola. A pesquisa mostrou, também, que a situação de insegurança foi mais relatada nas escolas públicas, o que pode refletir as desigualdades sociais e uma distribuição desigual da violência, com exposições e riscos diferenciados(1212 Malta DC, Mascarenhas MDM, Dias AR, Prado RR, Lima CM, Silva MMA, et al. Situations of violence experienced by students in the state capitals and the Federal District: results from the National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2014 [cited 2013 Jan 30];17(Suppl. 1):158-71. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2014000300158&lng=en&nrm=iso&tlng=en English, Portuguese.
http://www.scielosp.org/scielo.php?scrip...
).

Percebe-se como a violência é marca presente na vida deste grupo etário, uma vez que têm sido tantos os eventos ocorridos, que se torna cotidiano e corriqueiro apontar situações de violência envolvendo adolescentes e jovens no Brasil. Inúmeros dados têm demonstrado que esses sujeitos se encontram em situação de maior vulnerabilidade à violência, considerada um grave problema para a saúde pública no Brasil e constituindo a principal causa de morte de adolescentes(1313 Reichenheim ME, Souza ER, Moraes CL, Mello Jorge MHP, Silva CMFP, Minayo MCS. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet [Internet]. 2011 Jun [cited 2013 Jan 30];377(9781):1962-75. Available from: http://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736%2811%2960053-6.pdf
http://www.thelancet.com/pdfs/journals/l...
).

No depoimento de Criatividade, foi evidenciada a descrição de locais da comunidade onde a polícia geralmente atua, realizando ações de revista do "adolescente suspeito" com o uso da força. Qualquer estereótipo lançado sobre o jovem que mora em bairros da periferia é motivo para tal situação, como: a aparência física, a maneira como se veste, a identificação com determinados padrões que fogem à regra social, a condição racial e étnica, dentre outros.

A pichação e a depredação nas dependências da escola também foram destacadas pelo adolescente Sonho, como situações de violência. Estas situações reforçam a ideia de que a violência da sociedade se introduz nos estabelecimentos escolares, acrescentando ou amplificando os conflitos que nela existem potencial ou manifestamente(1414 Fernáne Villanueva C, Revilla Castro JC, Domínguez Bilbao R, Ferreira Salles LMF, Silva JMAP. [Imaginary representations of interaction and school violence]. Athenea Digital [Internet]. 2011 Nov [cited 2013 Jan 30];11(3):51-78. Available from: http://atheneadigital.net/article/view/760 Spanish.
http://atheneadigital.net/article/view/7...
).

Merece ser destacado o depoimento dos adolescentes Superação, Esperança e Perfeccionista que comentam a questão do trabalho de crianças e adolescentes, a gravidez não planejada na adolescência, ao trabalho braçal realizado pelo idoso e a necessidade de sobrevivência dos catadores de lixo. Em relação ao trabalho infantil, é considerado uma das formas de expressão da violência estrutural, marcada por desequilíbrio e exclusão sociais e relações de dominação vigentes nas instituições da sociedade, que restringe o acesso dos sujeitos aos direitos básicos na garantia de uma vida digna(1313 Reichenheim ME, Souza ER, Moraes CL, Mello Jorge MHP, Silva CMFP, Minayo MCS. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet [Internet]. 2011 Jun [cited 2013 Jan 30];377(9781):1962-75. Available from: http://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736%2811%2960053-6.pdf
http://www.thelancet.com/pdfs/journals/l...
).

Os adolescentes demonstraram que a situação de gravidez indesejada, bem como o acometimento por DST, é decorrente da iniciação sexual cada vez mais precoce dos adolescentes. Esta realidade é entendida como uma situação de violência na adolescência, por privar o jovem de dar continuidade a sua formação educacional, deparando-se com uma realidade de carência de suporte emocional e financeiro para lidar com a situação, levando-o ao trabalho precoce.

Ao longo das discussões, percebeu-se como os adolescentes particularizaram a dimensão social e programática da vulnerabilidade que envolve, respectivamente, o acesso às informações, as possibilidades de metabolizá-las e o poder de incorporá-las a mudanças práticas na vida cotidiana e as ações organizadas pelo poder público com destinação de recursos para a proteção dos indivíduos e o enfrentamento de situações que causam vulnerabilidade(22 Silva MAI, Mello FCM, Mello DF, Ferriani MGC, Sampaio JMC, Oliveira WA. [Vulnerability in adolescent health: contemporary issues]. Cienc Saude Colet [Internet]. 2014 Feb [updated 2015 Jun 26; cited 2013 Jan 30];19(2):619-27. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n2/1413-8123-csc-19-02-00619.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n2/1413-...
,66 Ayres JRCM, Carvalho YM, Nasser MA, Saltão RM, Mendes VM. Ways of comprehensiveness: adolescents and young adults in Primary Healthcare. Interface Comun saúde Educ [Internet]. 2012 Jan-Mar [cited 2013 Jan 30];16(40):67-82. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832012000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

Foi identificado que os dois grupos de adolescentes tiveram convergência quanto aos temas centrais trabalhados na etapa de problematização e, mesmo existindo complementaridade do conteúdo, foi possível evidenciar no painel de fotografias do segundo grupo uma interface da violência com a questão das drogas, as condições sanitárias e socioambientais relevantes à saúde e as formas de manifestação no ambiente escolar.

Na fala de Alegria é evidenciada uma preocupação quanto à poluição do meio ambiente, apontando uma forma de violência ecológica, que provoca o aparecimento de doenças e desequilíbrios no ecossistema global. Este fato também foi apontado em outra pesquisa, que verificou associação da violência comunitária com a coleta de lixo deficiente, sujeira e infraestrutura precária(1515 Reis DC, Almeida TAC, Miranda MM, Alves RH, Madeira AMF. Health vulnerabilities in adolescence: socioeconomic conditions, social networks, drugs and violence. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. 2013 Mar-Apr [cited 2013 Jan 30];21(2):586-94. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21n2/0104-1169-rlae-21-02-0586.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21n2/0104...
).

Em relação à violência contra o patrimônio e que foi levantada pelos adolescentes Amizade e Coragem, evidenciaram-se questões que envolvem depredações de equipamentos e material escolar; pichações de muros, paredes, salas de aula; desperdício de alimentos da merenda e deixar sujeira no pátio. Este tipo de violência é classificada como uma forma de violência contra a escola(1616 Priotto EP, Boneti LW. Violência escolar: na escola, da escola e contra a escola. Rev Diálogo Educ [Internet]. 2009 Jan-Abr [2013 Jan 30];9(26):161-79. Available from: http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/dialogo?dd1=2589&dd99=view&dd98=pb
http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/d...
), com ocorrência de atos de vandalismo e de agressões contra o patrimônio público.

Foi identificado que a presença da droga constitui um elemento gerador de violência, bem como uma relação de dominação pelo aliciamento de crianças e adolescentes no "mundo do tráfico", como expresso no depoimento de Amizade. Esta realidade concorre para uma situação de vulnerabilidade pelo envolvimento deste grupo etário com a crimilidade, e consequentemente com a perda de liberdade ou com o aumento nas estatísticas de homicídios.

Vale ressaltar que a vinculação entre adolescência e drogas não deve ser percebida apenas como fonte geradora de violência, mas também como uma consequência da exposição dos adolescentes a diversos fatores da vulnerabilidade social e programática, como: falta de oportunidades, desemprego, dificuldade de acesso à educação, serviços de saúde e bens de consumo. Não perceber a complexidade da relação violência-drogas-adolescente pode denunciar uma visão simplista do fenômeno e a existência de preconceitos envolvendo os jovens de classes economicamente desfavorecidas(1717 Melo MCB, Barros EM, Almeida AMLG. [Manifestatations of violence in adolescents in public schools in the municipality of Jaboatâo dos Guararapes]. Cienc Saude Colet [Internet]. 2011 Oct [cited 2013 Jan 30];16(10):4211-21. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n10/a26v16n10.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n10/a26v...
). Ademais, a possibilidade do adolescente adquirir informações por diálogos e observação acerca do consumo de drogas e suas complicações, mostram-se como fatores protetores diante de contextos em que a disponibilidade da droga é relevante(1818 Sanchez ZVM, Oliveira LG, Nappo SA. Main reasons for non-use of illicit drugs by young population exposed to risk situations. Rev Saude Publica [Internet] 2005 Aug [cited 2013 Jan 30];39(4):599-605. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v39n4/en_25532.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v39n4/en_25...
).

O contexto comunitário marcado pela criminalidade configura-se em uma ordem de organização social com facilidade de acesso a determinados recursos como armas de fogo, inclusive por adolescentes, no intuito de manter esta ordem. Por estar localizada em uma comunidade que atinge altos índices de violência e dominada por grupos do crime, a escola não está isenta dos problemas do entorno, como a presença de armas, identificado no depoimento da adolescente Amor.

No decorrer das discussões sobre a presença da violência na comunidade, foi destacada a seguinte fala:

O cara (bandido) lá diz: ninguém mexe comigo [...]. Quando eles passam na comunidade ninguém fala deles, debocha deles, eles fazem o que querem [...]. (Estudioso, M, 16 anos).

Esta denúncia da realidade vem mostrar que nestas comunidades a violência é legitimada como norma social e sua presença se faz permanente, marcando a vida das pessoas, construindo as suas personalidades, definindo os seus caminhos, produzindo uma nova ordem cultural, uma nova concepção, um novo jeito de se relacionar com o outro - é a violência assumindo o papel de norma e rompendo as interações, colonizando o mundo da vida(1919 Melo EM, Melo MAM, Pimenta SMO, Lemos SMA, Chaves AB, Pinto LMN. [Violence rupturing interaction. Interaction overcoming violence]. Rev Bras Saúde Mater Infant [Internet]. 2007 Jan-Mar [updated 2015 Jun 26; cited 2013 Jan 30];7(1):89-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v7n1/a11v07n1.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v7n1/a11v...
).

No momento de leitura em grupo, os adolescentes comentaram que os grupos abordaram situações que o texto estava levantando. Verificou-se que o texto gerou reflexões críticas e contribuiu para o conhecimento coletivo, fato destacado pelos adolescentes quanto à existência da dimensão simbólica da violência. Esta percepção pode facilitar estratégias para sua identificação e enfrentamento. No entanto, os dados aqui apresentados diferem de outros estudos que identificaram que não houve reconhecimento de alguns tipos de violência aos quais os adolescentes podem estar expostos cotidianamente, como a violência estrutural. A percepção de formas mais veladas de violência intimamente vinculadas ao contexto social foi superficial(1717 Melo MCB, Barros EM, Almeida AMLG. [Manifestatations of violence in adolescents in public schools in the municipality of Jaboatâo dos Guararapes]. Cienc Saude Colet [Internet]. 2011 Oct [cited 2013 Jan 30];16(10):4211-21. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n10/a26v16n10.pdf Portuguese.
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,2020 Silva KL, Dias FLA, Vieira NFC, Pinheiro PNC. [Reflections concerning the drug abuse and the violence in the adolescence]. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2010 Jul-Sep [cited 2013 Jan 30];14(3):605-10. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n3/v14n3a24.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n3/v14n3...
).

Cabe mencionar que as causas da violência são múltiplas, como o próprio fenômeno da violência também é. Seu estudo deve compreender uma visão plural, abrangendo aspectos que não se restrinjam aos individuais, contextualizando questões socioculturais(1717 Melo MCB, Barros EM, Almeida AMLG. [Manifestatations of violence in adolescents in public schools in the municipality of Jaboatâo dos Guararapes]. Cienc Saude Colet [Internet]. 2011 Oct [cited 2013 Jan 30];16(10):4211-21. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n10/a26v16n10.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n10/a26v...
). A importância do estudo da violência na fase da adolescência merece foco devido às repercussões negativas para a saúde física, mental e social do adolescente, comprometendo a construção de projetos de vida destes que estão começando a traçar seus caminhos(2121 Assis SG, Avanci JQ, Pesce RP, Ximenes LF. [The situation of Brazilian children and adolescents with regard to mental health and violence]. Cienc Saude Colet [Internet]. 2009 Mar-Apr [cited 2013 Jan 30];14(2):349-61. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v14n2/a02v14n2.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/csc/v14n2/a02v1...
).

A desenvoltura dos adolescentes nos Círculos de Cultura destaca a importância de atuarem como protagonistas nos cenários de discussões e deliberações das políticas públicas de interesse para esse grupo etário. Vislumbra-se, assim, a atuação dos adolescentes como verdadeiros "gestores" nos espaços institucionais para que, finalmente, as políticas sociais se transformem em estratégias práticas capazes de lidar com os dilemas e conflitos da sociedade contemporânea.

No momento da avaliação do Círculo de Cultura, os adolescentes expuseram que a possibilidade de construção do conhecimento a partir da promoção de espaços de interação, engajamento, autoestima, alegria e responsabilidade permitiu situar a problemática da violência no contexto comunitário local e estimular posicionamentos dos adolescentes frente às questões de vulnerabilidade à violência. Nessa perspectiva, a enfermagem tem um papel fundamental na aplicação de metodologias ativas que oportunizem explorar as potencialidades, expressões e criações artísticas dos adolescentes, muitas vezes, negadas pelos processos formativos da educação bancária.

Por fim, a experiência por meio do registro de imagens fotográficas constituiu uma estratégia educativa eficaz para a apreensão da realidade percebida pelos adolescentes. A oportunidade de eles atuarem como denunciadores das situações de violências, que permeiam o convívio social em sua comunidade, permite perceberem-se como protagonistas das suas histórias de vida, como também como agentes de transformação, rompendo com o conformismo e a cultura do silêncio, dando aos sujeitos oportunidade da fala, da comunicação com ato de criação e recriação humana. Sair de uma cultura do silêncio significa assumir decisão política e reconstrução social e cultural(99 Freire P. Pedagogia do oprimido. 47. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2008.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Círculo de Cultura, por ser um método participativo, trouxe inúmeros desafios, dadas as especificidades do ser adolescente, a importância da valorização do saber popular no aprofundamento temático e de nos mantermos sempre vigilantes e sensíveis quanto ao processo grupal no atendimento dos interesses e expectativas dos participantes. Com isso, abriu inúmeras possibilidades de aprendizagem e reflexão crítica da realidade apresentada pelos adolescentes, com a conquista de espaços de descobertas, trocas, construção de vínculos e corresponsabilidades, permitindo modificações na percepção diante da realidade social. Trabalhar com o público adolescente na perspectiva da promoção à saúde, requereu nos despojarmos de uma construção social que o caracteriza como um ser "complicado", "rebelde", inerte a qualquer forma de expressão positiva da vida. Deve-se encarar a adolescência como uma fase de oportunidades, em que se forem oferecidas condições favoráveis a um trabalho participativo e inclusivo, poderá se comportar como eixo estratégico para ações intersetoriais no enfrentamento de problemas sociais como a violência.

O processo de problematização envolvendo o registro coletivo de fotografias representou uma riqueza na construção do conhecimento sobre a violência, sendo revelada pelos adolescentes múltiplas dimensões que atravessam a problemática sob a ótica da exclusão social, pobreza, discriminação, preconceito, indiferença, humilhação, não acesso às políticas públicas, do descuidar com o patrimônio público e com o meio ambiente. Quanto à definição da violência, os adolescentes não se limitaram apenas àquelas formas que produzem marcas físicas e que causam danos ao corpo, manifestando interesse no aprofundamento de outros tipos de violência mascaradas, simbólicas, muito presentes no seu cotidiano e que acarretam consequências muito mais negativas que a física.

Como proposta de intervenção de enfermagem em educação em saúde, o Círculo de Cultura possibilitou aprendizado e crescimento mútuos, atrelando ao processo ensino-aprendizagem à participação dos adolescentes como protagonistas juvenis, ao revisitar seus medos, suas dificuldades, passando a percebê-los como desafios possíveis de serem superados a partir de uma mobilização e construção coletiva do "novo saber". Configurando-se como uma tecnologia para o cuidado de enfermagem comunitária, o Círculo de Cultura mostrou-se eficaz à medida que favoreceu condições para o reconhecimento dos aspectos que permeiam a produção e reprodução de violências e para o exercício do empowermentdas(os) enfermeiras(os) e dos adolescentes no decorrer do processo de conscientização.

Quanto às limitações do estudo, por tratar-se de uma intervenção local que envolveu uma pequena dimensão da amostra e incluiu um grupo particular de adolescentes, os seus resultados não podem ser generalizados para a população. Além disso, é questionado se outros grupos de adolescentes compartilham as mesmas opiniões e experiências, tendo em vista a forte relação entre a violência e o contexto histórico-social em que ela é produzida. Recomenda-se que outras intervenções possam investir em abordagens educativas participativas amplas, que incluam também grupo de professores, gestão escolar e familiares na construção de estratégias de prevenção da violência.

  • Como citar este artigo:
    Brandão Neto W, Silva MAI, Aquino JM, Lima LS, Monteiro EMLM. Violence in the eye of adolescents: education intervention with Culture Circles. Rev Bras Enferm. 2015;68(4):617-25.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2015

Histórico

  • Recebido
    04 Nov 2014
  • Aceito
    15 Maio 2015
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