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Terapia assistida com cães em pediatria oncológica: percepção de pais e enfermeiros

Terapia asistida con perros en pediatría oncológica: percepción de padres y enfermeros

RESUMO

Objetivo:

apreender a percepção de profissionais da equipe de enfermagem e responsáveis por crianças e adolescentes com câncer acerca da Terapia Assistida com Cães.

Método:

Estudo qualitativo baseado na técnica de Observação Participante, realizado junto a 16 participantes em um hospital de referência paracâncer infantil. Aplicou-se entrevista em profundidade e os dados foram interpretados com base na técnica de análise de conteúdo.

Resultados:

A prática é reconhecida como benéfica para os participantes, mas estes não compreendem o verdadeiro objetivo terapêutico e aplicações. Associam-na apenas a algo que distrai e diverte, sem, no entanto, perceber que ali ocorre um processo mais complexo, que envolve mudanças além das emocionais, que são percebidas mais facilmente.

Conclusão:

As percepções dos participantes reforçam recomendações que podem ser aplicadas no contexto hospitalar e evidencia que a terapia em questão pode tornar-se uma tecnologia efetiva para promoção da saúde de crianças e adolescentes com câncer.

Descritores:
Enfermagem Pediátrica; Terapia Assistida por Animais; Oncologia; Adolescente Hospitalizado; Institutos de Câncer

RESUMEN

Objetivo:

comprender la percepción de profesionales del equipo de enfermería y responsables de niños y adolescentes con cáncer acerca de la Terapia Asistida por Perros.

Método:

estudio cualitativo, basado en técnica de Observación Participante, realizado con 16 participantes en hospital de referencia de cáncer infantil. Se aplicó entrevista en profundidad. Datos interpretados por técnica de análisis de contenido.

Resultados:

la práctica es reconocida como benéfica para los participantes, aunque ellos no entienden su verdadero objetivo terapéutico y aplicaciones. La consideran sólo algo que distrae y divierte, sin percibir que lo que ocurre es un proceso más complejo que involucra cambios más allá de los emocionales, los más fácilmente perceptible.

Conclusión:

las percepciones de los participantes refuerzan recomendaciones aplicables en el contexto hospitalario y evidencian que la práctica en cuestión puede convertirse en técnica efectiva de promoción de salud en niños y adolescentes con cáncer.

Descriptores:
Enfermería Pediátrica; Terapia Asistida por Animales; Oncología; Adolescente Hospitalizado; Instituciones Oncológicas

ABSTRACT

Objective:

to understand the perception of nursing staff professionals and legal guardians of children and adolescents with cancer regarding Assisted Therapy with dogs.

Method:

qualitative study based on participant observation conducted with 16 participants in a reference hospital of child cancer. We applied an in-depth interview and interpreted the data according to a content analysis technique.

Results:

the practice is admittedly beneficial to participants despite the fact they do not understand its true objectives and therapeutic applications. Participants only associate it with something distracting and entertaining without realizing the occurrence of a more complex process behind it, which comprises changes besides the emotional ones (more easily perceived).

Conclusion:

the perceptions of participants reinforce recommendations that can be applied in the hospital environment, also showing that the therapy in question can become an effective technology to promote the health of children and adolescents with cancer.

Descriptors:
Pediatric Nursing; Animal-Assisted therapy; Oncology; Hospitalized Teenager; Cancer Institutes

INTRODUÇÃO

A Terapia Assistida por Animais (TAA) refere-se aos serviços desenvolvidos por profissionais de saúde que utilizam o animal como parte integrante do cuidado em saúde(11 Goddard AT, Gilmer MJ. The Role and Impact of Animals with Pediatric Patients. Pediatr Nurs [Internet]. 2015 [cited 2016 May 03];41(2):65-71. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26292453
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26292...
). Mais do que um cuidado considerado contemporâneo, a TAA remete aos registros de Florence Nightingale de 1860, a partir de observaçãode pacientes que contavam com a companhia de pequenos animais e suas consequentes manifestações de melhora na saúde. Sendo assim, este se configura como um dos primeiros registros no mundo a utilizar tal técnica e a influenciar profissionais de saúde para o uso da TAA(22 Nightingale F. Notas sobre a enfermagem: o que é e o que não é. São Paulo: Cortez; 1989.).

No contexto da Enfermagem, mediante revisão integrativa sobre TAA realizada recentemente, evidenciou-se que cada vez mais a profissão tem aderido à terapia para reduzir a dor, ansiedade, aumentar a socialização e qualidade de vida, e contribuir com tratamentos em diversas áreas da saúde1. Dentre os animais mais utilizados por enfermeiros, destaca-se o cão, por meio da Terapia Assistida com Cães (TAC), o qual possui uma afeição natural pelas pessoas, é facilmente adestrado e cria respostas positivas ao toque(33 Pereira C, Ferrari D, Barros MA. Utilização de Cães na Unidade de Terapia Intensiva. Rev Intertexto. 2014;2(1):1-15.). Um fator extremamente importante é que a atividade assistida por animais pode ser desenvolvida em grupo ou individualmente, tendo como objetivo o auxílio na busca pelo bem-estar pleno do indivíduo, resguardadas as especificidades de cada caso(44 Chitic V, Rusu AS, Szamoskozi S. The effects of animal assisted therapy on communication and social skills: a meta-analysis. Transylvanian J Psychol [Internet]. 2012 [cited 2016 May 18];13(1):1-17. Available from: http://connection.ebscohost.com/c/articles/79980461/effects-animal-assisted-therapy-communication-social-skills-meta-analysis
http://connection.ebscohost.com/c/articl...
).

Para o cuidado de crianças e adolescentes com câncer, a introdução do cão, de forma terapêutica, tem colaborado para aumentar autoestima, compensar déficits afetivos e estruturais, aumentar a concentração plasmática de endorfinas e diminuir a concentração plasmática de cortisol, substância que atua diretamente no estado de ansiedade(55 Harper CM, Dong Y, Thornhill TS, Wright J, Ready J, Brick GW, Dyer G. Can therapy dogs improve pain and satisfaction after total joint arthroplasty? a randomized controlled trial. Clin Orthop Relat Res. [Internet]. 2015 [cited 2016 May 18];473(1):372-9. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25201095
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25201...
). Além disso, melhora a interação social, promove o autocuidado e comunicação entre equipe de saúde, família e entre outras crianças(66 Urbanski BL, Lazenby M. Distress among hospitalized pediatric cancer patients modified by pet-therapy intervention to improve quality of life. J Pediatr Oncol Nurs [Internet]. 2012 [cited 2016 May 05];29(5):272-82. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22907682
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22907...
). A TAC pode ser utilizada pelo enfermeiro para a adaptação da criança em situações estressantes, aumentar a mobilidade e atividade muscular, e favorecer a colaboração da criança durante os procedimentos, pois se sentem mais relaxadas e confiantes, percebendo que o ambiente hospitalar também lhes proporciona momentos prazerosos e divertidos(77 Fleishman SB, Homel P, Chen MR, Rosenwald V, Abolencia V, Gerber J, et al. Beneficial effects of animal-assisted visits on quality of life during multimodal radiation-chemotherapy regimens. J. Community Support Oncol [Internet]. 2015 [cited 2016 May 18];13(1):22-6. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25839062
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25839...
).

Enfermeiros procuram consistentemente intervençõesque reduzam o estresse da internação hospitalar e que facilitem o tratamento do câncer; por essa razão, o uso de terapias alternativas no cuidar, que sejam capazes de desenvolver estratégias para tornar isso menos traumático, tem sido valorizado(55 Harper CM, Dong Y, Thornhill TS, Wright J, Ready J, Brick GW, Dyer G. Can therapy dogs improve pain and satisfaction after total joint arthroplasty? a randomized controlled trial. Clin Orthop Relat Res. [Internet]. 2015 [cited 2016 May 18];473(1):372-9. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25201095
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25201...
,88 Bussotti EA, Leão ER, Chimentão DMN, Silva CPR. Assistência individualizada: "posso trazer meu cachorro? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005 [cited 2014 Mar 17];39(2):195-201. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/10...
). Estudo de caso realizado em São Paulo evidenciou que o desenvolvimento de um plano de cuidados que envolva a TAA ou a TAC podem proporcionar momentos de descontração e alegria, beneficiando pacientes, acompanhantes, familiares e a própria equipe de enfermagem(88 Bussotti EA, Leão ER, Chimentão DMN, Silva CPR. Assistência individualizada: "posso trazer meu cachorro? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005 [cited 2014 Mar 17];39(2):195-201. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/10...
).

Apesar de todos os benefícios evidenciados pela terapia, ainda existem muitas dúvidas e medos por parte dos profissionais de saúde e familiares, principalmente entre as crianças com câncer devido ao estado de imunossupressão que favorece o aparecimento de infecções oportunistas. No entanto, estudo evidencia que os índices de infecção hospitalar entre unidades que recebem a visita de cães e aquelas que não recebem são semelhantes(99 Caprilli S, Messeri A. Animal-assisted activity at A. Meyer Children's Hospital: a pilot study. Evid Based Complement Alternat Med [Internet]. 2006 [cited 2016 Apr 16];3(3):379-83. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1513141/pdf/nel029.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
). Se seguidos os procedimentos adequados (higiene e imunização) para a entrada do cão nesse ambiente, é mais comum um visitante humano transmitir infecções aos pacientes do que os animais(99 Caprilli S, Messeri A. Animal-assisted activity at A. Meyer Children's Hospital: a pilot study. Evid Based Complement Alternat Med [Internet]. 2006 [cited 2016 Apr 16];3(3):379-83. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1513141/pdf/nel029.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
).

Ao conhecermos possíveis dúvidas no contexto do cuidado à criança e adolescentes com câncer será possível aprimorar a TAC e fornecer novos conhecimentos que permitirão implementá-la na prática do enfermeiro, como estratégia terapêutica que reforça o enfrentamento da doença. Por essa causa, o objetivo do estudo é apreender a percepção de profissionais da equipe de enfermagem e responsáveis por crianças e adolescentes com câncer acerca da Terapia Assistida com Cães em um hospital de referência no Nordeste brasileiro.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo respeitou a Resolucao 466/12 e foi aprovado sob parecer n° 809.068. A fim de preservar o anonimato, nomearam-se os participantes como Responsavel (A ao J) e Profissional da equipe de enfermagem (A ao F), elencados por ordem de entrevista. Destaca-se que os resultados foram apresentados aos representantes e profissionais do estudo durante sessão no referido hospital, sendo importante fonte de validação dos dados conforme recomendações internacionais(1212 Tong A, Sainsbury P, Craig J. Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ): a 32-item checklist for interviews and focus groups. Int J Qual Health Care [Internet]. 2007 [cited 2016 May 18];19(6):349-57. Available from: http://intqhc.oxfordjournals.org/content/intqhc/19/6/349.full.pdf
http://intqhc.oxfordjournals.org/content...
).

Referencial teórico-metodológico

Para aprender percepção de profissionais da equipe de enfermagem e responsáveis/familiares das crianças e adolescentes com câncer optou-se pela abordagem qualitativa baseada na observação participante(1010 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13 ed. São Paulo: Hucitec, 2013.), técnica que consiste na inserção do pesquisador no interior do grupo observado, tornando-se parte dele, interagindo por longos períodos, partilhando de seu cotidiano para entender o que significa vivenciar determinada situação.

Adotou-se esse referencial teórico metodológico porque permite ao pesquisador atenuar a distância que o separa do grupo social com quem pretende atuar. A aproximação exige paciência e dedicação, sendo condição essencial para a realização da pesquisa, considerando que o hospital é um ambiente estressante, no qual os sujeitos/pacientes não são meros objetos, mas protagonistas de suas vidas. Durante o estudo, tomaram-se várias medidas para garantir o rigor da investigação: aproximação com o cenário de estudo respeitando as peculiaridades do serviço, das famílias e do cão, realização de sessões regulares de discussões entre os autores para codificação das informações, uso comparativo das anotações feitas pelos autores durante as entrevistas e observação da interação criança/cão.

Procedimentos metodológicos

Cenário do estudo

O estudo foi realizado em um hospital de referência para o Norte e o Nordeste destinado a diagnóstico e tratamento do câncer infanto-juvenil, situado em uma capital do Nordeste brasileiro. A instituição atende anualmente cerca de 40 mil crianças e adolescentes através do Centro Pediátrico do Câncer, uma parceria do Hospital com uma associação local. O serviço oferece além de internação hospitalar, consultas de rotina, tratamentos e suporte psicossocial.

No que se refere à participação dos responsáveis, que na sua maioria eram mães, foram entrevistados 10 acompanhantes de crianças e adolescentes que frequentavam o hospital para consultas, realização de quimioterapia ou internação no período de outubro de 2014 a fevereiro de 2015. A amostra foi selecionada por conveniência, até a saturação das informações durante o período de estudo. Os critérios de inclusão para os responsáveis foram: acompanhar a criança ou adolescente no serviço, já ter presenciado algum atendimento ou visita com cães e apresentar condições emocionais no momento da entrevista.

A fim de conhecer a atuação dos profissionais, entrevistaram-se seis membros da equipe de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem), os quais prestam cuidados diretos às crianças e atuam como colaboradores na terapia com cães. Os critérios de inclusão para participação destes foram: estar vinculado ao setor onde as crianças e adolescentes recebem a terapia e atuar no período mínimo de seis meses na unidade.

Coleta e organização dos dados

Ao total foram acompanhadas quatro visitas diretas com o cão, com duração de aproximadamente uma hora cada. Além disso, houve aproximação da pesquisadora no cenário de estudo, dois meses antes do início das atividades, seguindo as orientações da técnica de observação participante, para aproximação com o serviço de saúde, familiares e profissionais da unidade. Durante a visita do cão, estavam presentes, além das crianças e adolescentes, seus responsáveis, profissionais de saúde, a condutora do cão e pesquisadores. A participação dos responsáveis e da equipe de enfermagem foi valiosa, pois eles poderiam avaliar com maior propriedade os estados físico e emocional das crianças e adolescentes antes e após a aplicação da atividade com o cão.

Os encontros com o cão ocorreram na brinquedoteca do hospital, local onde as crianças se distraiam e aguardavam as consultas e/ou realização de exames/quimioterapia. Para a realização de sessões de TAC, a presença do cão foi adaptada à rotina da unidade. Sendo assim, o cão visitava o serviço em períodos fixos, pré-agendados com a coordenação do hospital. Durante as visitas, o cão não aceitava alimentos, não fazia suas necessidades no ambiente hospitalar e obedecia aos comandos da condutora, que atendia as solicitações dos pacientes, familiares, acompanhantes e profissionais. As crianças e adolescentes que podiam se locomover, iam ao encontro do cão para conversar, acariciar, brincar e tirar fotos. A mesma rotina, quando possível, foi realizada junto às crianças que aguardam procedimento. Já o condutor utilizava crachá; inclusive o cão possuía uniforme, o qual cobria parte do dorso, conforme recomendações(55 Harper CM, Dong Y, Thornhill TS, Wright J, Ready J, Brick GW, Dyer G. Can therapy dogs improve pain and satisfaction after total joint arthroplasty? a randomized controlled trial. Clin Orthop Relat Res. [Internet]. 2015 [cited 2016 May 18];473(1):372-9. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25201095
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25201...
,1111 Marcus DA. Complementary medicine in cancer care: adding a therapy dog to the team. Curr Pain Headache Rep[Internet]. 2012 [cited 2016 May 18];16(4):289-91. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22544640
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22544...
).

Após a observação do cão no ambiente do hospital e sua interação com as crianças e adolescentes por uma entrevistadora previamente treinada, foi aplicada uma entrevista com profundidade e semiestruturada com os responsáveis pelas crianças e com os profissionais da enfermagem. A entrevista foi realizada em lugar privativo e gravada com anuência dos participantes.

Utilizou-se para os profissionais e responsáveis uma entrevista com dois itens, sendo o primeiro de caracterização da criança/do adolescente, familiar acompanhante, profissional de saúde; e o segundo, composto pelas seguintes questões norteadoras: "Você sabe qual a finalidade do cão neste ambiente? O cão tem influenciado a saúde do seu filho? De que forma?" Para os profissionais acrescentou-se: "Como a enfermagem pode aplicar a TAA ou TAC para o cuidado com crianças e adolescentes com câncer?" Todas as entrevistas foram conduzidas e transcritas pelas pesquisadoras.

Análise dos dados

Para a análise dos relatos, utilizou-se a Observação Participante com apoio no método de análise de conteúdo, buscando interpretar as mensagens, razões e lógicas individuais e sociais dos relatos obtidos com os participantes(1010 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13 ed. São Paulo: Hucitec, 2013.). Na trajetória interpretativa, percorreram-se as seguintes etapas: a) leitura compreensiva do material selecionado visando impregnar-se pelo conteúdo dos depoimentos, bem como ter uma visão de conjunto e apreender as particularidades dos participantes; b) identificação e recortes temáticos dos elementos que emergiram dos depoimentos; c) busca de significados mais amplos (socioculturais) d) elaboração de síntese interpretativa, procurando articular objetivo do estudo e dados empíricos, estabelecendo as categorias por meio do recorte nas falas dos participantes; e e) diálogo entre as ideias problematizadas e informações provenientes de outros estudos acerca do assunto.

RESULTADOS

Após a análise final, com a elaboração dos temas centrais e apoio na técnica de Observação Participante, foram estabelecidas categorias analíticas no roteiro e partir dos depoimentos dos sujeitos, a saber: 1) Percepções dos responsáveis/familiares acerca da terapia com cães; e 2) Conhecendo o papel do enfermeiro e da equipe de enfermagem no contexto da Terapia com cães.

Dentre os responsáveis participantes do estudo, a maioria eram parentes de primeiro grau, e a faixa etária variou de 20 a 45 anos, eram do sexo feminino e a idade das crianças/adolescentes variou de quatro a 16 anos, com predominância de crianças na fase da segunda infância. No geral, a escolaridade dos responsáveis variou entre Ensino Fundamental incompleto (três participantes) e Ensino Médio completo (sete participantes).

Dentre os profissionais de saúde, quatro eram do sexo feminino, com idade entre 24 a 54 anos e trabalham no serviço há no mínimo um ano.

Percepções dos responsáveis/familiares acerca da terapia com cães

Nas seguintes falas, as mães descreveram o estado emocional das crianças e adolescentes, antes da visita do cão, expressando sentimentos como medo, estresse e desânimo:

Estressado, como ele sempre fica quando vem. Moramos longe, passamos o dia aqui. Ele fica agoniado. (Mãe A)

Um pouco cansado e também meio desanimado. (Mãe E)

Vir para o hospital é o pior dia para ele. (Mãe B)

Quando questionados sobre o motivo do cão estar no hospital, os responsáveis relacionaram como uma distração/brincadeira para as crianças:

O cão (ela chama o cão pelo nome) vem para adoçar a vida das crianças. (Mãe A)

Imagino que seja trazer alegria para os pacientes, porque foi isso que eu vi. (Mãe D)

Ter um cão aqui no hospital é o que motiva meu filho a participar das sessões de quimioterapia. (Mãe F)

Em seguida, as mães foram estimuladas a resgatarem os sentimentos percebidos por elas diante da reação de seus filhos após a visita do cão, e foram percebidos sentimentos diferentes, verificando reações inclusive no estado de saúde:

Ele ficou bem alegre e mais calmo, ele gosta de conversar com todo mundo, mas aqui ele fica mais fechado [...] aídepois que viu ocão (o chama pelo nome) virou uma "matraca" de novo. (Mãe A)

Ficou bem esperto, mais contente. Nos dias em que o cão vem, ele parece que recebe melhor o tratamento, tem menos complicação. Acho que dá mais saúde nele. (Mãe E)

Quando ele chega e vê o cachorrinho, ele parece ser outro menino, muito mais alegre. (Mãe G)

Os responsáveis comentaram que a terapia é válida e contribui efetivamente para o enfrentamento da criança/adolescente no ambiente hospitalar e que a TAA favorece a relação entre a equipe de saúde e usuário do hospital, na medida em que os profissionais também apresentam satisfação quando próximos ao cão, o que influencia um cuidado diferenciado:

Quando o médico ou a enfermeira passam aqui para ver o cão e depois vai ver a gente, eles ficam bem mais tranquilos e cuidam bem melhor das crianças. (Mãe D)

A gente percebe quando um enfermeiro ou médico viu o cachorro [...] eles vem para falar com a gente bem mais animados e isso influencia no jeito que a gente se sente e o jeito como a gente sai daqui. (Mãe H)

Conhecendo o papel do enfermeiro e equipe de enfermagem no contexto da Terapia com cães

Os profissionais referiram que o intuito da TAA éadiversão das crianças, não relacionando diretamente o cão ao seu papel terapêutico. Segundo quatro profissionais:

Ele veio distrair os pacientes que aguardam as consultas. (Profissional A)

O cão vem para divertir os pacientes e quem ele encontrar pela frente. (Profissional D)

O objetivo mesmo é ficar com as crianças para elas se animarem mais. (Profissional B)

Quanto ao estado emocional dos pacientes antes da visita do cão, revelaram que geralmente predomina a ansiedade e o estresse, além de certo distanciamento entre as próprias crianças, e destes para com os profissionais de saúde:

Muitos ficam estressados, ansiosos, irritados. (Profissional F)

Percebi que por mais que elas brinquem e se distraiam ali na brinquedoteca, elas não interagem entre si, ou com qualquer profissional. (Profissional D)

Eles geralmente vêm ansiosos, alguns de mau humor e ficam isolados. (Profissional E)

Assim como os responsáveis, a equipe de enfermagem reconhece a mudança de comportamento entre os pacientes adolescentes, após a interação com o cão, considerando ter sido uma mudança positiva, evidenciada pela alegria, transmitindo tanto para os profissionais quanto para os pacientes uma sensação de tranquilidade, conforme os discursos:

Eles se distraem, brincam e se divertem. Os adolescentes geralmente ficam mais chateados e quietos, com o cão melhora a interação e eles ficam mais tranquilos e serenos. (Profissional C)

Elas brincam, riem mais, conversam, falam com o cão, falam sobre ele com a gente. Quando o cão vem aqui, esse hospital vira uma festa. É uma disputa pra ver esse cachorro. (Profissional D)

Sem dúvida eles ficam mais alegres, mais calmos, as crianças aproveitam mais que os adolescentes, mas o efeito nos jovens é perceptível porque eles se abrem mais, saem do mundinho deles. (Profissional E)

A equipe de enfermagem também foi questionada se a presença do cão, de alguma forma, melhorou o relacionamento terapêutico com as crianças e adolescentes, emergindo os seguintes relatos:

Sim, houve uma melhora na comunicação, principalmente com aqueles que são mais tímidos, ou com os que vêm mais assustados. (Profissional A)

Elas conversam bem mais. A gente puxa assunto, e elas falam sobre o cachorro, e a partir daí é possível realizar alguns cuidados e conduzir o tratamento. (Profissional D)

Geralmente, eles não querem muita conversa, mas no dia que o cachorro vem, nós mesmos ficamos mais animadas, aí conversamos com eles sobre isso. Eles passam a ter assunto em comum para conversar e fica muito mais fácil fazer uma medicação. (Profissional E)

Quando questionados sobre o uso da TAA por enfermeiros nesse contexto, os três profissionais comentaram que é uma atividade que reforçaria muito o cuidado, mas ao mesmo tempo ficam receosos por não possuírem conhecimentos adequados sobre essa técnica e pelo serviço não ter estabelecido protocolo específico para tal:

A vinda do cão para o hospital é muito interessante, porque facilita o nosso trabalho, mas o problema é que estamos tão acostumados com as atividades do cotidiano que acho que não sabemos bem como usufruir deste potencial. Eu não imagino o que precisa para fazer a terapia, quais condutas se devem ter com o animal. (Profissional B)

Eu nunca imaginei que pudesse utilizar animais no atendimento com crianças e, depois do cão aqui, vi que facilita muito, seja com crianças ou adolescentes. (Profissional C)

DISCUSSÃO

No estudo, observa-se que a TAC beneficia crianças e adolescentes hospitalizados, segundo opinião de responsáveis/familiares e profissionais da equipe de enfermagem, facilitando a adaptação ao ambiente hospitalar e reduzindo a ansiedade e o trauma da hospitalização. Revisão integrativa verificou os efeitos sociais positivos da TAC em crianças com transtornos sociais e incapacidades(1010 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13 ed. São Paulo: Hucitec, 2013.), corroborando o presente estudo onde as crianças apresentaram maior socialização com os profissionais de saúde e outras crianças após a TAC. Outro estudo realizado na Austrália, envolvendo o uso de Atividades Assistidas com Animais (AAA) em salas de aula, com crianças autistas, evidenciou melhorias significativas em relação a habilidades sociais dos participantes, diminuindo comportamentos de retraimento. Além disso, mais da metade dos pais relataram que os participantes demonstraram aumento no interesse em frequentar a escola durante o programa(88 Bussotti EA, Leão ER, Chimentão DMN, Silva CPR. Assistência individualizada: "posso trazer meu cachorro? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005 [cited 2014 Mar 17];39(2):195-201. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/10...
). Apesar dos estudos citados serem com crianças com necessidades especiais, observa-se o potencial da terapia na prática de cuidado.

Durante o estudo, foi possível observar que os responsáveis , na maioria,mães das crianças e adolescentes verificam mudanças, inclusive fisiológicas, em seus filhos. Segundo a literatura, a interação entre o cão e o paciente é um momento de alegria, e essa felicidade faz que o organismo reduza o nível de estresse e libere no sistema imunológico substâncias como a endorfina e adrenalina, minimizando os efeitos da depressão. Esse contato com o animal diminui a percepção da dor e ameniza o clima tenso do hospital, principalmente oncológico. A simples presença do cão deixa a criança mais tranquila e àvontade na presença da equipe de saúde, o que facilita inclusive a realização de procedimentos, tranquilizando os familiares(1313 Silveira IR, Santos NC, Linhares DR. Protocol of the animal assisted activity program at a university hospital. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2016 May 18];45(1):283-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/en_40.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/en...
).

Verificou-se que, tanto por parte dos responsáveis quanto dos profissionais da saúde, existe uma carência de conhecimentos acerca da implementação da terapia assistida por animais.A práticaéreconhecida comobenéfica para os participantes da terapia, mas estes não conhecem seu verdadeiro objetivo terapêutico e aplicações. Associam-na apenas a algo que distrai e diverte, sem, no entanto, perceber que ali ocorre um processo mais complexo, envolvendo mudanças além das emocionais, as quais são as primeiramente e mais facilmente percebidas. Isso pode ser explicado pelo fato de que a TAA ainda é pouco difundida no Brasil, sobretudo em um estado do Nordeste brasileiro sem experiência nesse tipo de terapia.

Todavia, estudos comprovam que há, no Brasil, uma escassez de pesquisa sobre o assunto, principalmente na enfermagem, e consideram importante que profissionais da saúde se interessassem em investigar mais sobre a TAA para implantá-la em suas práticas profissionais, devido aos comprovados benefícios conseguidos por ela(33 Pereira C, Ferrari D, Barros MA. Utilização de Cães na Unidade de Terapia Intensiva. Rev Intertexto. 2014;2(1):1-15.).

Além disso, percebe-se que os profissionais têm desejo de utilizar mais a terapia, mas sabem pouco sobre sua realização, principalmente sobre manejo do animal. Assim, para tirar total proveito da terapia, é preciso estabelecer protocolos. Um grupo de enfermeiras descreveu procedimentos que foram implantados em um hospital de São Paulo e que abordam orientações sobre como conduzir os animais, critérios de inclusão e exclusão para animais e recomendação à equipe de saúde. Concluíram que, com a adoção deste protocolo, há uma diminuição dos riscos clínicos, prevenindo acidentes e controlando infecções(1313 Silveira IR, Santos NC, Linhares DR. Protocol of the animal assisted activity program at a university hospital. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2016 May 18];45(1):283-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/en_40.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/en...
). Além disso, as autoras salientam que o projeto proporcionou bem-estar aos pacientes.

O estudo pôde evidenciar que a TAC é uma possibilidade plausível, pois pais e enfermeiros reconhecem que ela pode se associar àtradicional terapêutica visando o bem-estar da criança ou adolescente com câncer, não obstante reconhecerem que algumas condutas devem ser aplicadas para facilitar essa convivência.

O enfermeiro deve estar atento aos pressupostos da TAC, considerando que não basta fazê-la com qualquer cão, eles devem ser socializados desde filhotes em áreas públicas, apresentarem temperamento dócil e obedecerem a ordens. É importante o acompanhamento de um médico veterinário para exames parasitológicos e dermatológicos, entre outros(1414 Urbanski BL, Lazenby M. Distress among hospitalized pediatric cancer patients modified by pet-therapy intervention to improve quality of life. J Pediat Oncol Nurs [Internet]. 2012 [cited 2016 May 18];29(5):272-82. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22907682
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22907...
). Outra preocupação dos estudos internacionais é a consideração éticapara com o animal, salientando sua coparticipação e não coisificando-o, como simples ferramenta de uma nova técnica de trabalho(1515 Marcus DA, Blazek-O'Neill B, Kopar JL. Symptom, reduction identified after offering animal-assisted activity at a cancer infusion center. Am J Hosp Palliat Care [Internet]. 2013 [cited 2016 May 18];31(4):420-1. Available from: http://ajh.sagepub.com/content/31/4/420.long
http://ajh.sagepub.com/content/31/4/420....
).

Percebeu-se, segundo relato dos responsáveis sobre as crianças e adolescentes, a prevalência de sentimentos como estresse, ansiedade, medo, angústia, solidão e isolamento relacionados aos tratamentos e procedimentos, muitas vezes dolorosos e traumáticos. O hospital muitas vezes ocasiona experiências que afetam tanto o físico quanto o psicológico das crianças, marcando-as por toda a vida, consequência traumática, esta, que o cão consegue minimizar e, por isso, deve ser valorizado pela equipe de saúde(1616 O'Haire ME, McKenzie SJ, McCune SM, Slaughter V. Effects of classroom animal-assisted activities on social functioning in children with autism spectrum disorder. J Altern Complement Med[Internet]. 2014 [cited 2015 Apr 12];20(3):162-8. Available from: http://online.liebertpub.com/doi/abs/10.1089/acm.2013.0165
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).

Para enfrentar essa situação, a TAA, segundo benefícios mais observados pela equipe de enfermagem, pode reduzir a ansiedade e estresse, promover relaxamento, diminuição da solidão e isolamento, suavização do clima pesado de um ambiente hospitalar, melhora das relações interpessoais, melhora da comunicação entre equipe de saúde e paciente(33 Pereira C, Ferrari D, Barros MA. Utilização de Cães na Unidade de Terapia Intensiva. Rev Intertexto. 2014;2(1):1-15.). A comunicação entre paciente e enfermeiro é algo de grande valor durante os cuidados prestados, por ser valiosa ferramenta para um cuidado mais humanizado e individualizado.

A literatura(1717 Reed R, Ferrer L, Villegas N. Natural healers: a review of animal assisted therapy and activities as complementary treatment for chronic conditions. Rev. Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2012 [cited 2016 Jan 15];20(3):612-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n3/a25v20n3.pdf
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) refere que a terapia assistida por animais pode ser usada como um recurso de aproximação entre o enfermeiro e o paciente na medida em que a terapia facilita a comunicação entre ambos, considerando esta, parte do tratamento; e a TAA,válida como métodoque ajuda esta interação: profissional e paciente. Enfatizam ainda que o reconhecimento dos sentimentos do paciente é imprescindível para o enfermeiro, pois é através dessa compreensão que ele percebe as necessidades reais do paciente, possibilitando que se realize um plano de cuidados sistematizado, levando em conta o paciente como um todo e desenvolvendo uma postura empática. A comunicação seria o meio que permite esse reconhecimento, e a TAC é uma valiosa opção de que o enfermeiro dispõe para facilitar sua interação com o paciente de modo agradável a ambos. E, nos relatos, foi possível perceber tal relação.

A enfermagem tem se destacado como uma profissão de importante proximidade com o paciente e, por isso, é responsável por um olhar holístico que contempla, no processo de cuidar, as dimensões biológica, mental, emocional e espiritual do ser humano(1818 Nascimento LC, Santos TFM, Oliveira FCS, Pan R, Flória-Santos M, Rocha SMM. Spirituality and religiosity in the perspectives of nurses. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013 [cited 2015 Aug 29];22(1):52-60. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n1/pt_07.pdf
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).

Em vista do exposto, é possível, a partir do estudo, realizar algumas recomendações para o Cuidar em Enfermagem com apoio na terapia com cães em unidade oncológica, pois, em cursos de enfermagem fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos,sãocomuns formações específicas para enfermeiros que querem trabalharcom TAA usufruindo de seus benefícios físicos, cognitivos, emocionais, fisiológicos e comportamentais junto ao paciente. Um dos exemplos é a Universidade de Okland na Califórnia, que possui um Center for Human Animal Interventions conduzido por enfermeiros.

Para a profissão, a prática com cães ou outros animais tem sido um tema emergente, que internacionalmente conta com diretrizes, tais como as recomendações do Guidelines for Animal-Assisted Interventions in Health Care Facilities e do Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee (HICPAC), tendo sido utilizadas em condições mais crônicas de saúde, o câncer por exemplo. Essas organizações apresentam recomendações que são aplicadas tanto ao animal quanto ao paciente bem como à coordenação do serviço de saúde que deseja receber o programa(1919 Chubak J, Hawkes R. Animal-assisted activities results from a survey of top-ranked pediatric oncology hospitals. J Pediatr Oncol Nurs [Internet]. 2015 [cited 2016 May 18];33(4):104-19. Available from: http://jpo.sagepub.com/content/33/4/289.long
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).

Antes do contato com o cão, o enfermeiro deve reconhecer os fatores de riscos que podem envolver a criança ou adolescente com câncer, pois estes são mais suscetíveis a desenvolverem infecções. Portanto, devem participar da terapia com algumas limitações(2020 Silveira IR, Santos NC, Linhares DR. Protocol of the animal assisted activity program at a University Hospital. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2016 Apr 20];45(1):283-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/en_40.pdf
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) quando no pós-operatório imediato, submetidos a esplenectomia recente, alérgicos, imunossuprimidos graves ou têm fobias a animais.

A TAA pode ser utilizada entre crianças e adolescentes que possuem alteraçõesemocionais ou físicas relacionadas ao câncer. Crianças que sofreram algum tipo de alteração de mobilidade ou força devido à doença podem melhorar tônus muscular e força por meio de estímulo sensorial e sinestésico junto ao cão, seja através do simples toque ou ao escovar o animal, recuperando autoestima e reforçando o contato social que o animal favorece(2121 Elmacı DT, Cevizci S. Dog-assisted therapies and activities in rehabilitation of children with cerebral palsy and physical and mental disabilities. Int J Environ Res Public Health [Internet]. 2015 [cited 2016 May 11];12(5):5046-60. Available from: http://www.mdpi.com/1660-4601/12/5/5046
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).

No entanto, a realização da terapia exige cuidados com o animal, havendo necessidade de atestado de saúde do mesmo, banho previamente às visitas e higienização realizada até 24 horas antes para reduzir agentes alergênicos e permitir que o animal tenha tempo para as eliminações fisiológicas; além disso, o percurso do animal até o hospital deve ser mínimo para evitar contaminação. Acrescenta-se a isso a necessidade de autorização da Comissão de Infecção Hospitalar e de que ocãoseja visto como uma vida que contribui para o cuidado humano e seja tratado com respeito. Por isso, identificar os sinais de estresse do animal é indispensável para uma boa relação entre humanos e cães(2222 Chandler CK. Animal assisted therapy in counseling. 2nd ed. New York: Routledge, 2012.).

Já no que se refere ao contato com o paciente, a criança ou adolescente deve ter o desejo de receber a visita do animal (os menores de idade devem ter a autorização prévia do familiar cuidador). Deve-se ter cuidado para que o cão não lamba a pele, feridas ou dispositivos. Informar qualquer incidente com o animal (como mordidas, arranhões, ou alterações de comportamento do animal) à Comissão de Controle de Infecção da instituição(2222 Chandler CK. Animal assisted therapy in counseling. 2nd ed. New York: Routledge, 2012.).

No tocante ao serviço de saúde e ao condutor do animal, é importante que haja concordância entre todos os profissionais da equipe que é desejo do serviço realizar a TAA. O condutor do cão deve solicitar autorização da enfermagem para iniciar a interação. Além disso, o cão deve se aproximar sempre do lado oposto a região do corpo do paciente que esteja imobilizada ou possua curativo ou acesso venoso ou dreno(1515 Marcus DA, Blazek-O'Neill B, Kopar JL. Symptom, reduction identified after offering animal-assisted activity at a cancer infusion center. Am J Hosp Palliat Care [Internet]. 2013 [cited 2016 May 18];31(4):420-1. Available from: http://ajh.sagepub.com/content/31/4/420.long
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).

Todas essas considerações são importantes, pois favorecem a realização dessa prática e permite que protocolos sejam criados nas unidades hospitalares, deixando profissionais de saúde e principalmente os pais e/ou responsáveis mais tranquilos durante sua realização. Apesar dos percalços observados no cenário do estudo, o desejo e a abertura dos participantes são encorajadores e abrem espaço para novos tipos de terapias alternativas no cuidar de enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível apontar recomendações para a prática de enfermagem que podem ser aplicadas ao contexto das crianças e adolescentes que vivenciam o adoecimento no hospital. Além disso, ao reconhecer possíveis lacunas ou fragilidades na compreensão de quem recebe a terapia, seja diretamente ou indiretamente como no caso dos pais/cuidadores, é possível aprimorar a TAC e promover ações mais humanizadas que se aproximem das crianças e adolescentes com câncer.

Detectou-se que épromissora a participação de cães no cuidado de criançase adolescentes com câncer no Nordeste, pois os informantes da pesquisa veem a terapia assistida por animais como ferramenta que fortalece os cuidados prestados ao paciente que vivencia alguma doença crônica no ambiente hospitalar. No entanto, ainda há pouca compreensão do funcionamento e dos objetivos da terapia assistida por animais pelos profissionais de enfermagem e familiares de crianças e adolescentes com câncer, o que de certa forma dificulta sua implementação de forma rotineira.

Embora ainda sejam necessários estudos nessa área, é notória a compreensão de que a terapia assistida por cães oferece diversos benefícios e possibilita aos profissionais da equipe de enfermagem fortalecer a comunicação, integração e formação de vínculo entre o profissional e paciente, tão importantes para o cuidado humanizado.

Apesar de alguns desafios para realizar este estudo, como o reduzido número de profissionais e cães treinados para tal atividade, impossibilitando a convivência com outras experiências dentro da terapia assistida com cães, não foi possível generalizar os resultados, porém apontam para um campo de atuação da enfermagem em expansão e que merece ser difundido entre a profissão.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    26 Maio 2016
  • Aceito
    31 Ago 2016
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