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O cuidado geriátrico: modos e formas de confortar

RESUMO

Objetivo:

Conhecer os modos e formas de confortar percecionadas pelos idosos hospitalizados num serviço de medicina.

Método:

Estudo etnográfico com abordagem qualitativa. Realizamos entrevistas semiestruturadas com 22 doentes idosos e observação participante nas situações de cuidados.

Resultados:

Os modos e formas de confortar centram-se em estratégias promotoras de conforto mobilizadas pelo enfermeiro e reconhecidas pelos doentes (informação/esclarecimento, interação/comunicação positiva, toque, sorriso, presença incondicional, integração do idoso/família nos cuidados e o alívio de desconfortos através da massagem/mobilização/terapêutica) e em momentos particulares de conforto (contato inaugural, visita da família., cuidados de higiene e arranjo pessoal), que se constituem como alicerces do cuidar/cuidado confortador.

Considerações finais:

O cuidado geriátrico edifica-se na relação que se desenvolve, atribuída de sentido, e assenta-se num encontro/interação entre os atores sob influência do contexto em que está inserido. Os diferentes modos e formas de confortar objetivam facilitar/aumentar o conforto, aliviar o desconforto e/ou investir no conforto potencial.

Descritores:
Enfermagem Geriátrica; Idoso; Hospitalização; Cuidados; Promoção do Conforto

ABSTRACT

Objective:

To know the ways and means of comfort perceived by the older adults hospitalized in a medical service.

Method:

Ethnographic study with a qualitative approach. We conducted semi-structured interviews with 22 older adults and participant observation of care situations.

Results:

The ways and means of providing comfort are centered on strategies for promoting care mobilized by nurses and recognized by patients(clarifying/informing, positive interaction/communication, music therapy, touch, smile, unconditional presence, empathy/proximity relationship, integrating the older adult or the family as partner in the care, relief of discomfort through massage/mobilization/therapy) and on particular moments of comfort (the first contact, the moment of personal hygiene, and the visit of the family), which constitute the foundation of care/comfort.

Final considerations:

Geriatric care is built on the relationship that is established and complete with meaning, and is based on the meeting/interaction between the actors under the influence of the context in which they are inserted. The different ways and means of providing comfort aim to facilitate/increase care, relieve discomfort and/or invest in potential comfort.

Descriptors:
Geriatric Nursing; Aged; Hospitalization; Delivery of Health Care; Hospice Care

RESUMEN

Objetivo:

Conocer los modos y las formas de confortar percibidas por adultos mayores hospitalizados en un centro hospitalario.

Método:

Se trata de un estudio etnográfico de abordaje cualitativo. Se realizaron entrevistas semiestructuradas entre 22 mayores enfermos con observación participante en las situaciones de cuidados.

Resultados:

Las maneras y formas de consolar se concentran en estrategias promotoras de conforto movilizadas por el enfermero y reconocidas por los enfermos (información/aclaración, interacción/comunicación positiva, toque, sonrisa, presencia incondicional, integración del adulto mayor/familia en los cuidados y el alivio de malestares mediante masaje/movilización/terapéutica) en momentos particulares de conforto (primer contacto, visita de la familia, aseo y cuidados personales), que se constituyen en la base del cuidar/cuidado confortador.

Consideraciones finales:

El cuidado geriátrico se cimenta en la relación edificada con sentido y se fortalece durante el encuentro/interacción entre los actores en el contexto en que están insertados. Las diferentes maneras y formas de confortar tienen como objetivo facilitar/aumentar el consuelo, aliviar el malestar y/o invertir en el cuidado prolífico.

Descriptores:
Enfermería Geriátrica; Adulto Mayor; Hospitalización; Cuidados; Promoción del Conforto

INTRODUÇÃO

A população mundial está envelhecendo, com especial destaque para a Europa(11 United Nations. World population prospects: the 2010 revision, volume I: comprehensive tables [Internet]. Washington: UN; 2011 [cited 2016 Out 15]. Available from: http://esa.un.org/wpp/Documentation/pdf/WPP2010_Volume-I_Comprehensive- Tables.pdf
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). Portugal não é exceção nessa tendência mundial. Essa dinâmica é consequência dos processos de declínio da natalidade e de aumento da longevidade, entendida internacionalmente como uma das mais importantes tendências demográficas do século XXI(22 Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Envelhecimento da população residente em Portugal e na União Europeia [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 16]. Available from: https://www.ine.pt/xportal/xmainxpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=224679354&DESTAQUESmodo=2&xlang=pt
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). Em 2013, Portugal foi o quinto de 28 países europeus como índice de dependência de idosos mais elevado(22 Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Envelhecimento da população residente em Portugal e na União Europeia [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 16]. Available from: https://www.ine.pt/xportal/xmainxpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=224679354&DESTAQUESmodo=2&xlang=pt
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-33 EUROSTAT. Old age dependency ration. Luxembourg: EUROSTAT [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 8]. Available from: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/tgm/refreshTableAction
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).

Em qualquer situação de doença, com internamento hospitalar, a fragilidade da pessoa idosa acentua-se, o que traduz no aparecimento e agravamento de necessidades de saúde, levando a uma maior suscetibilidade ao sofrimento, a um aumento do desconforto. Tal circunstância conduz a maior vulnerabilidade da pessoa idosa doente, implicando a adequação dos cuidados prestados. As pessoas estão assim no centro da ação, colocando-se diariamente o desafio de aprofundar conhecimentos e definir estratégias no sentido de cuidar de forma flexível e adaptada às suas necessidades(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.). Esse cuidado deve ser sistematizado e individualizado, tendo em vista a promoção da saúde(55 Medeiros FA, Oliveira JM, Lima RJ, Nóbrega MM. O cuidar de pessoas idosas institucionalizadas na percepção da equipe de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Nov 10];36(1):56-61. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v36n1/pt_1983-1447-rgenf-36-01-00056.pdf
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), de modo a contribuir para manter e recuperar as capacidades, permitindo suportar melhor os momentos de desconforto.

O conforto é um conceito importante e valor fundamental da enfermagem(66 Pinto S, Fumincelli L, Mazzo A, Caldeira S, Martins J. Comfort, well-being and quality of life: Discussion of the differences and similarities among the concepts. Porto Biomed J [Internet]. 2017 [cited 2017 Jan 22];2(1):6-12. Available from: c.els-cdn.com/S2444866416301076/1-s2.0-S2444866416301076-main.pdf?tid=97103012-e40d-11e6-bbe4-00000aab0f02&acdnat=1485465950_21bb5c3c947dce5bc04c825c9307ab9b
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-77 Tsai JL, Lee YL, Hu WY. Comfort: a concept analysis. Hu Li Za Zhi J Nurs [Internet]. 2012 [cited 2017 Jan 22]59(1):77-82. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22314653
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), constituindo-se como elemento chave na prestação de cuidados de enfermagem ao doente idoso(88 Ribeiro PP, Costa MA. O conforto do doente idoso crônico em contexto hospitalar: contributos para uma revisão sistemática da literatura. Rev Enf Ref [Internet]. 2012 [cited 2016 Nov 10];3(7):149-58. Available from: http://dx.doi.org/10.12707/RIII11166
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).

Confortar é um ato complexo que envolve muito mais do que o alívio da dor, o assegurar a alimentação ou a eliminação. Também compreende a atenção a todas as manifestações de estresse, tendo em conta todas as dimensões do ser humano, além da providência de medidas para alívio do sofrimento(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.,99 Ponte KM, Silva LF. Conforto como resultado do cuidado de enfermagem: revisão integrativa. Rev Pesqui: Cuid Fundam [Internet]. 2015 [cited 2016 Nov 10];7(3):2603-2614. Available from: http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-767348
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).

Kolcaba considera o conforto como uma necessidade básica da pessoa humana e "um resultado essencial do cuidado de saúde [...] um estado holístico e complexo [...]"(1010 Kolcaba K. Comfort theory and practice. A vision for holistic health care and research. New York: Springer Publishing Company. 2003.), um estado resultante das intervenções de enfermagem. O autor define o conforto teoricamente como "a experiência imediata de ser fortalecido por ter as necessidades de alívio, tranquilidade e transcendência satisfeitas em quatro contextos físico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental"(1010 Kolcaba K. Comfort theory and practice. A vision for holistic health care and research. New York: Springer Publishing Company. 2003.). O cuidado, para ser confortador, tem que ser ajustado à pessoa, dando resposta à sua singularidade e necessidade, o que é, no entanto, complexo, provisório, inespecífico, circunstancial, paradoxal, integrador, de compromisso e individualizado(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.).

O conforto é promovido através das intervenções de enfermagem. Confortar constitui um fator de cuidado e uma competência do enfermeiro, sendo que perceber os modos e formas de confortar a pessoa idosa hospitalizada se reveste de importância maior(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.)

Na prática de cuidados geriátricos, as situações representativas de cuidados de conforto constituem-se como intervenções/estratégias individualizadas, medidas de conforto significativas da ação e de cuidados, com objetivos direcionados às necessidades apresentadas de cada doente ou, ainda, como momentos particulares de conforto, considerado este um resultado desejado dos modos e formas de confortar(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.). Os modos e formas de confortar contextualizam-se no que desperta, estimula, fortalece e contribui para manter as capacidades existentes e reconquistar as que podem ser recuperadas, permitindo suportar melhor momentos de sofrimento(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.).

Torna-se assim fundamental conhecer o significado de conforto, bem como maneiras e formas de confortar, de modo a definirem-se intervenções efetivas promotoras de conforto. Somente através da investigação é que se poderá desenvolver o estado da arte relativa à inclusão efetiva do conforto nos cuidados de saúde prestados(66 Pinto S, Fumincelli L, Mazzo A, Caldeira S, Martins J. Comfort, well-being and quality of life: Discussion of the differences and similarities among the concepts. Porto Biomed J [Internet]. 2017 [cited 2017 Jan 22];2(1):6-12. Available from: c.els-cdn.com/S2444866416301076/1-s2.0-S2444866416301076-main.pdf?tid=97103012-e40d-11e6-bbe4-00000aab0f02&acdnat=1485465950_21bb5c3c947dce5bc04c825c9307ab9b
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,1111 Marques RM, Dixe MA, Querido AI, Sousa PP. Revalidação do Holistic Comfort Questionnaire - Family para cuidadores de pessoas com doença crónica avançada. Rev Enf Ref [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20];4(11):91-100. Available from: http://dx.doi.org/10.12707/RIV16060
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).

OBJETIVO

Esta pesquisa teve como objetivo conhecer os modos e formas de confortar percecionados pelos idosos crônicos hospitalizados num serviço de medicina.

MÉTODO

Aspectos éticos

No que se refere a procedimentos formais e éticos, antes de empreendermos a colheita de dados propriamente dita, encetamos algumas diligências para a realização do estudo na instituição escolhida. Foi solicitada a autorização ao Conselho de Administração e à Comissão de Ética da Instituição, sendo realizado o primeiro contato com o contexto do estudo. Foi efetuado o consentimento informado e esclarecido aos participantes, bem como respeitada a sua condição de anonimato. As entrevistas realizadas aconteceram em ambiente privado e os nomes foram substituídos pelas letras Id (Idoso), seguidas de números que correspondem à sequência da realização das entrevistas (Id1, Id2 etc.). As observações foram realizadas numa abordagem progressiva que partiu de observação alargada descritiva para observação focalizada e mais seletiva, sem identificação dos participantes e codificadas com as letras Op (Observação participante), seguidas de números que correspondem às sequências (Op1, Op2 etc.).

Referencial teórico-metodológico e tipo de estudo

Trata-se de um estudo etnográfico com uma abordagem qualitativa, realizado à luz do referencial teórico de Miles e Huberman(1212 Miles MB, Huberman AM. Qualitative Data Analysis: an expanded sourcebook. Thousand Oaks: Sage; 1994.). Para a compreensão de um fenômeno particular em situação microssocial, tendo por base uma filosofia interpretativa e reconstrutiva da realidade, o investigador recorreu à observação participante e à entrevista semi-estruturada audiogravada a fim de captar o sentido e o significado que idosos dão às suas vivências e às práticas. Teve como finalidade a descrição de uma realidade concreta, sem pretender chegar à validade universal nem fazer generalizações independentes do contexto, justificando, portanto, o uso desse referencial neste estudo(1212 Miles MB, Huberman AM. Qualitative Data Analysis: an expanded sourcebook. Thousand Oaks: Sage; 1994.).

Procedimentos metodológicos

Realizamos entrevistas semiestruturadas com os doentes idosos, tendo por base um guião que foi submetido a um pré-teste em idosos que não fizeram parte dos participantes do nosso estudo. Com isso, objetivamos testar a clareza e a compreensão das questões ligadas às experiências significativas durante a hospitalização, relacionadas com os momentos/situações de cuidados, que permitam a utilização do conceito de conforto - as ações/intervenções promotoras de conforto e os momentos/situações agradáveis de conforto e bem-estar. Paralelamente, com o intuito de compreender melhor o significado atribuído aos modos e formas de confortar, utilizou-se a observação participante orientada por um guião direcionado aos momentos em que os enfermeiros prestavam cuidados aos idosos. A observação foi focalizada em qualquer intervenção de enfermagem que acontecesse com (ou para) o doente idoso, procedendo assim à realização de observações detalhadas de determinadas situações, com carácter reflexivo, recolhendo, registando e interpretando os dados mediante a participação na vida de grupo, o que possibilitou a confirmação dos dados. Os guiões orientadores foram discutidos com dois juízes a fim de assegurar a sua validade.

Cenário do estudo

Partindo do objetivo da pesquisa, escolheu-se como cenário para o estudo um serviço de internamento de Medicina de um Hospital Central de Lisboa. Para a definição dos participantes, utilizou-se a técnica de amostragem não probabilística intencional, sendo que, para a seleção da amostra, definimos os seguintes critérios de inclusão: ser uma pessoa com doença crônica, com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos; apresentar capacidade para responder oralmente às questões aplicadas; consentir de livre vontade participar no estudo. Em relação à observação, procuramos o acesso ao mundo social experienciado pelos atores nos acontecimentos e nas situações que iam decorrendo ao longo do tempo.

Fonte dos dados

Participaram do estudo vinte e dois doentes idosos crônicos, admitidos num serviço de internamento de medicina de um Hospital Central de Lisboa, que preenchiam os seguintes critérios: (i) ter idade igual ou superior a 65 anos; (ii) estar consciente e orientado ou com capacidade para responder oralmente e produzir um discurso coerente; (iii) enfrentar hospitalização em qualquer fase da sua doença crônica, nomeadamente por agudização da mesma; (iii) aceitar participar do estudo, partilhando a sua vivência de "conforto", aspecto que foi objeto de análise cuidada. A seleção foi realizada pelos investigadores, com a colaboração dos enfermeiros presentes nos respectivos turnos, tendo a preocupação de verificar a disponibilidade de cada doente através de um diálogo inicial de apresentação. Em relação ao estado de consciência e à capacidade de responder oralmente, na presença de dúvidas recorremos à ajuda dos enfermeiros. A dimensão e composição final da amostra foi determinada pela saturação dos dados, justificada pela riqueza da experiência individual, bem como o atingir da redundância da informação ou saturação de campo, nas quais novas informações vieram confirmar as anteriores, não acrescentando, objetivamente, dados novos(1313 Creswell JW. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. Porto Alegre: Penso; 2014.).

Coleta e organização dos dados

Os dados colhidos por meio de entrevista e do registro das notas de campo tiveram por base o preconizado por Miles e Huberman(1212 Miles MB, Huberman AM. Qualitative Data Analysis: an expanded sourcebook. Thousand Oaks: Sage; 1994.). Observamos e registramos a ação, fazendo a sua descrição e do seu contexto. Em seguida, procedemos ao registro da reflexão sobre a descrição na relação com as categorias que foram emergindo. As entrevistas foram audiogravadas e transcritas e o instrumento de coleta de dados contemplou questões relacionadas com a caracterização dos participantes e questões abertas relacionadas com situações representativas de cuidados de conforto, nomeadamente estratégias promotoras de conforto mobilizadas pelo enfermeiro e momentos particulares de conforto. Organizamos um sistema de categorização com todos os dados, sendo esse um trabalho de descoberta, com o objetivo de selecionar, agrupar, simplificar e transformar os dados para posterior análise.

Análise dos dados

No que se refere ao tratamento, os dados qualitativos foram analisados pelo método de análise temática de conteúdo(1212 Miles MB, Huberman AM. Qualitative Data Analysis: an expanded sourcebook. Thousand Oaks: Sage; 1994.-1313 Creswell JW. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. Porto Alegre: Penso; 2014.). À medida que recolhemos os dados, fomos procedendo à sua organização e sistematização a fim de prosseguirmos à sua codificação, comparação sistemática e análise para encontrar semelhanças, relações e diferenças, tendo em vista a definção de frases que poderiam constituir-se como unidades de significação. Os significados encontrados foram agrupados em um tema central, em domínio específico que englobou duas categorias que deram origem a subcategorias, de forma a explicitar as situações de cuidados promotoras de conforto, as suas características e as relações entre elas.

RESULTADOS

Os participantes do estudo foram 22 doentes idosos, sendo a maioria do sexo feminino (68,2%), com idades compreendidas entre 65 e 90 anos (média de 76,6 anos e desvio padrão de 3,81). Todos os participantes apresentaram polipatologias, encontravam-se conscientes e orientados e referiram mais do que um internamento no contexto.

Procuramos a explicitação das situações representativas de conforto, tendo em conta a variedade da sua natureza, nomeadamente, atividades que os enfermeiros realizavam com os idosos e o significado atribuído às mesmas. Foram identificadas aquelas consideradas como promotoras de conforto ou, ainda, outras situações/momentos particulares de vivência confortadora que podiam ser suportadas pelos diferentes atores. Em função dos relatos e das constatações observadas, as situações representativas de cuidados de conforto traduzem-se em estratégias promotoras deste mobilizadas pelo enfermeiro em momentos particulares.

A análise dos dados levou à definição de duas categorias centrais: estratégias confortadoras (C1) e momentos particulares de conforto (C2).

De entre as estratégias confortadoras, emergiram nove (9) sub-categorias: o esclarecimento/informação (C1-Sc1); a interação/comunicação positiva (C1-Sc2), a musicoterapia (C1-Sc3), o toque (C1-Sc4), o sorriso (C1-Sc5), a presença incondicional (C1-Sc6), a relação de empatia/cumplicidade (C1-Sc7), o integrar o idoso/família como parceiro de cuidados (C1-Sc8), o alívio de desconfortos através da massagem/mobilização/terapêutica (C1-Sc9).

No âmbito dos momentos particulares de conforto, sobressaíram três (3) sub-categorias, sendo o contato inaugural (C2-Sc1), o momento dos cuidados de higiene e arranjo pessoal (C2-Sc2) e a visita da família (C2-Sc3).

Quadro 1
Estratégias Confortadoras (C1)
Quadro 2
Momentos Particulares de Conforto (C2)

No âmbito dos momentos particulares de conforto, sobressaíram três (3) sub-categorias, que incluem o contato inaugural (C2-Sc1), momento dos cuidados de higiene e arranjo pessoal (C2-Sc2) e a visita da família (C2-Sc3).

DISCUSSÃO

Os dados encontrados, nos modos e formas de confortar, valorizam a unicidade da Pessoa e o respeito pela identidade do idoso, evidenciando o agir do enfermeiro numa ação confortadora assente em valores e princípios da profissão. Na sua efetivação, implica estabelecer uma relação especial com o doente assente em pilares de humanização, num encontro que possa levar à tomada de decisão informada, permitindo-lhe ter o controle que é possível sobre a sua própria situação de vida. No encontro entre o idoso/enfermeiro, apesar das limitações que o ambiente hospitalar possa colocar, gravita uma série de qualidades humanas e profissionais fundadoras da relação confortadora. Nos modos e formas de confortar, o saber profissional é importante e está imbuído de determinadas ferramentas. Dentre elas, sobressai a forma de estar em relação, como uma relação intersubjetiva, um processo interpessoal e recíproco determinante, combinada numa expressão de gestos e afetos que identificam o comportamento humano dos atores, em geral, e do enfermeiro, em particular.

No âmbito da estrutura do cuidar geriátrico, o esclarecimento/informação emerge como principal meio para que o idoso compreenda e decida sobre o seu tratamento, que tranquiliza-o e assume-se como determinante intervenção confortadora . É um valor que decorre da dignidade humana, implicando o reconhecimento de que cada pessoa é autônoma nas decisões relativas a si própria e à sua vida(1414 Bernard B. Human dignity as a component of a long-lasting and widespread conceptual construct. Bioethical Inquiry [Internet]. 2014 [cited 2016 Nov 10]. Available from: http://www.unige.ch/medecine/ieh2/files/5314/3472/9172/Dignity.pdf
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). Parece ser importante que o doente se sinta satisfeito e confortado com a informação e que encontre respostas às questões e dúvidas, sem que haja incongruências e contradições. Esse processo assenta na partilha de conhecimentos no qual a comunicação aberta e transparente com os doentes/familiares é primordial para uma interação de sucesso(55 Medeiros FA, Oliveira JM, Lima RJ, Nóbrega MM. O cuidar de pessoas idosas institucionalizadas na percepção da equipe de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Nov 10];36(1):56-61. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v36n1/pt_1983-1447-rgenf-36-01-00056.pdf
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). A gestão da informação, como modo de intervenção que conforta, surge interligada à gestão de sentimentos, sendo, aliada à forma como é transmitida, estratégias promotoras de conforto pelo papel organizador que têm junto do doente/família.

Concomitantemente, a dimensão informativa remete-nos à interação/comunicação positiva como modo e forma de confortar. Para tal, verifica-se um intercâmbio de informação e de compreensão entre os atores, com implícito processo de interpretação mútuo, sendo necessário que o enfermeiro esteja sempre atento não só às palavras, mas também aos gestos, expressões e atitudes, bem como aos desejos, à forma de pensar e ao agir da pessoa. No cuidado geriátrico, essa forma de interação/comunicação positiva enfatiza a relação interpessoal e procura, intencionalmente, compreender a pessoa no seu todo, valorizando as suas vivências na unidade social onde está inserida(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.). A comunicação aberta e clara com os doentes é fundamental para uma interação de sucesso na construção de uma dinâmica comunicativa adequada, na qual se verifica uma harmonia entre o cuidar instrumental e comportamental, constituindo o eixo do cuidar/cuidado confortador(55 Medeiros FA, Oliveira JM, Lima RJ, Nóbrega MM. O cuidar de pessoas idosas institucionalizadas na percepção da equipe de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Nov 10];36(1):56-61. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v36n1/pt_1983-1447-rgenf-36-01-00056.pdf
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).

Esta investigação evidencia, igualmente, que a musicoterapia e o toque emergem como formas de comunicação não-verbal e se constituem como integrantes das intervenções de cuidado, revelando-se determinante no estabelecimento da comunicação, na partilha de ideias e emoções, pois transmitem conforto, carinho, bem-estar, sentimentos de confiança, segurança e partilha.

Na procura da intencionalidade confortadora, a musicoterapia revela-se como uma estratégia de proximidade, um convite ao encontro com a pessoa, que constitui um momento singular em que o relacionamento acontece, dando suporte aos sentimentos do prazer e da felicidade.

Procurando a explicitação das situações representativas de conforto, o toque também surge como uma poderosa forma de confortar que transmite interesse e tranquiliza o doente idoso. A forma como se toca pode ser reveladora de carinho, afeto e proteção, além de constituir-se como um elemento facilitador na interação enfermeiro/doente. Importa perceber a sua importância para a prestação de cuidados confortadores pela imensidão de sentimentos que o toque envolve e desperta(1515 Cibanal L, Sánchez MC. La relatión enfermera-paciente. Medellín: Editorial Universidad Antioquia. 2009).

Surgindo naturalmente entrelaçado, o sorriso emergiu como outro dos sinais de comunicação com sentido confortador pelo afeto caloroso que transmite à pessoa. Os estudos demonstram que o sorriso e o humor têm efeito na interação, promovendo um efeito terapêutico em pessoas que se sentem deprimidas ou pessimistas, ou ainda como uma forma de maior relaxamento(1616 Tremayne P. Using humour to enhance the nurse-patient relationship. Nurs Stand [Internet]. 2014 [cited 2016 Nov 10];28 (30):37-40. Available from: http://dx.doi.org/10.7748/ns2014.03.28.30.37.e8412
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). Decorrente da nossa observação, percebemos que o sorriso foi utilizado, frequentemente, na interação entre os atores de cuidados e os idosos como expressão de simpatia, alegria ou ainda em situações de maior tensão, para que estas sejam tornadas mais ligeiras.

A qualidade da presença faz a diferença na vivência da relação confortadora. É uma forma de "estar lá", que se revela na capacidade de "estar com" e evidencia interesse, provocando no doente uma mudança positiva no seu estado e conduzindo-o ao bem-estar e ao conforto(44 Sousa PP. O Conforto da Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2014.). A presença incondicional imbuída de proximidade afetiva assume importância significativa na ação confortadora. Nessa ordem de ideias, o uso do silêncio na presença assume-se como uma poderosa forma de comunicação, constituindo-se neste estudo como um modo de demonstrar atenção, interesse, respeito e reconhecimento pela necessidade da pessoa.

A existência de uma relação de empatia/cumplicidade resulta em aproximação para a compreensão do quadro de referências interno da pessoa idosa (problemas, necessidades/desejos do idoso), fazendo com que o enfermeiro seja capaz de construir um caminho no qual se evidencie maior adaptação, satisfação e capacidade de transcender a situação. Sem ignorar as circunstâncias concretas que envolvem e condicionam o encontro, o enfermeiro dá sentido ao cuidado confortador, escutando e apoiando com humanidade. Além disso, procura uma relação facilitadora e potenciadora de maior bem-estar, maior estado de conforto e, por isso, maior crescimento.

Os modos e formas de confortar alicerçam-se também numa relação interpessoal na qual está presente a intenção de ajuda concretizada em intervenção capaz de promover a autonomia e a capacidade do doente idoso, que se relaciona com o atender à decisão/vontade/desejos do doente.

Manter a autonomia e as capacidades tem a ver com a vontade dos doentes, ou seja, com a sua decisão. No contexto em questão, em que os doentes apresentam dependência e vulnerabilidade, evidenciaram-se cuidados específicos para manter a sua autonomia e responsabilidade. Estimular o doente idoso a realizar sozinho as atividades para as quais tem capacidade em vez de as fazer por ele, mesmo que seja mais demorado, pode ajudá-lo a desenvolver os seus próprios recursos internos e possibilitar-lhe um aumento da autonomia e da autoestima. Apela ao "possibilitar" como uma forma de tornar o outro capaz de cuidar de si próprio, fazendo-o acreditar que as decisões não podem ficar ao acaso(1717 Waldrop DP, Kirkendall AM. Comfort measures: a qualitative study of nursing homebased end-of-life care. J Palliat Med. 2009;12(8):719-724.). Decorrente dessa ideia, o enfermeiro procura como estratégia de conforto a participação do doente no seu cuidado, bem como o envolvimento e integração do idoso/família como parceira de cuidados . A ação conjunta e negociada enfermeiro/idoso/família promove o conforto do doente, na medida em que são encorajadoras, e possibilita o aumento da autonomia, dos recursos internos, haja vista os problemas encontrados, transmitindo sentimento de utilidade e promovendo aumento da autoestima. Envolver os familiares nas próprias ações permite-lhes sentir que estão fazendo algo de positivo, reforçando o papel que têm na recuperação, no bem-estar e no conforto do doente.

No contexto situacional, a procura de atendimento centrado nas necessidades reais da pessoa é determinante. Os modos/formas de confortar contextualizam-se em estratégias/ações realizadas no dia-a-dia, que procuram satisfazer as necessidades particulares, seja através da realização da massagem, nas mudanças de decúbito ou nos cuidados de higiene e arranjo pessoal(1818 Pott FC, Stahlhoefer T, Felix JV, Meier MJ. Medidas de conforto e comunicação nas ações de cuidado de enfermagem ao paciente crítico. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2016 Nov 7];66(2):174-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/04.pdf
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). Está aí implícito o ato de tocar que, tal como já referimos, constitui uma medida confortadora importante, por ser um excelente método que visa a aproximação entre o enfermeiro e o idoso. Além disso, substituir a roupa da cama quando se encontra molhada e mantê-la bem esticada, evitando que as "rugas" da roupa provoquem desconforto, bem como massagear o doente, constituem ações confortadoras frequentes no contexto estudado, com o sentido de alívio do desconforto e/ou estado de conforto(1818 Pott FC, Stahlhoefer T, Felix JV, Meier MJ. Medidas de conforto e comunicação nas ações de cuidado de enfermagem ao paciente crítico. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2016 Nov 7];66(2):174-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/04.pdf
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). A presença e a sensação de dor se relacionam com o desconforto, sendo o objetivo imediato da intervenção dos enfermeiros a promoção do alívio. Para tanto, promove-se o controle da dor através da administração de terapêutica, de massagem e de mudanças de decúbito, estas consideradas como promotoras de conforto em bem-estar.

Para além das estratégias mobilizadas pelos enfermeiros, a estrutura essencial dos modos e formas de confortar revela-se, igualmente, pela existência de momentos particulares de conforto, que incluem o contato inaugural, o momento dos cuidados de higiene e arranjo pessoal, além da presença da família.

Na procura da intencionalidade confortadora, o contato inaugural reveste-se da maior importância, já que é revelador de disponibilidade e de amabilidade, permitindo, desde logo, maior aproximação ao idoso e família(1717 Waldrop DP, Kirkendall AM. Comfort measures: a qualitative study of nursing homebased end-of-life care. J Palliat Med. 2009;12(8):719-724.). O efeito do acolhimento no idoso surge como uma forma de cuidado de conforto facilitador da adaptação à hospitalização, como referem os idosos, através de uma relação construtiva premiada pelo afeto e pela atenção, associados ao contexto psicoespiritual definido por Katherine Kolcaba. Sem ignorar as circunstâncias concretas que envolvem e condicionam o encontro, o contato inaugural é o primeiro contato relacional. Apesar de não ser um ato pontual, esse momento, reconhecido como situação de cuidar por excelência, surge como primeira circunstância em que o enfermeiro interage com o idoso, emergindo como um espaço de (re)conhecimento/avaliação da situação do idoso/família decisivo para que o doente se sinta confortável, confiante e seguro. Torna-se particularmente importante que se estabeleça uma relação positiva na díade enfermeiro/doente, isto é, que se torne efetivo o estabelecimento de laços de confiança(1414 Bernard B. Human dignity as a component of a long-lasting and widespread conceptual construct. Bioethical Inquiry [Internet]. 2014 [cited 2016 Nov 10]. Available from: http://www.unige.ch/medecine/ieh2/files/5314/3472/9172/Dignity.pdf
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). Constitui-se, por isso, como uma atividade bidirecional relevante na construção da relação de cuidados de conforto. Assim, o vínculo criado pelo enfermeiro que acolhe o idoso no momento do contato inaugural torna-se de maior importância para uma relação de confiança e, por isso, de conforto, estabelecida entre os atores em contexto, sobre a qual se desenvolvem os cuidados(1515 Cibanal L, Sánchez MC. La relatión enfermera-paciente. Medellín: Editorial Universidad Antioquia. 2009).

Os momentos dos cuidados de higiene e arranjo pessoal foram igualmente valorizados pelos doentes idosos. A investigação demonstra que, para além da higienização do doente, os cuidados de higiene e arranjo pessoal remetem para a noção de aparência (vestuário e outros acessórios), com a imagem do corpo do doente livre de microrganismos patogênicos, promovendo a sensação de alívio e de leveza e melhorando o estado de conforto. Na realidade, o banho é um verdadeiro cuidado e um ato no qual se verifica a existência de uma inter-relação entre quem cuida e quem é cuidado. Os períodos em que os enfermeiros prestam cuidados de higiene aos idosos, além de serem momentos de interação particular adequados ao melhor conhecimento do doente, são referidos como importantes e confortadores, permitindo à enfermagem uma relação privilegiada pelo momento propício para o estabelecimento de um contato mais íntimo com o idoso, particularmente em relação aos doentes, reveladores de bem-estar.

Na relação com outros atores promotores de conforto, a família/pessoa significativa constitui, para o doente, um grande suporte de ajuda/apoio associado ao contexto sociocultural. Sendo a referência mais importante para o conforto do idoso, o momento da visita é perspectivado como importante e olhado como um modo/forma de confortar o doente. A situação de doença crônica e a hospitalização constituem-se como etapas da vida que provocam um grande impacto emocional no doente e respectiva família, sendo o momento da visita importante, visualizado como modo/forma de confortar o doente. Quando presentes, os familiares/pessoa significativa procuram criar um ambiente personalizado, trazendo objetos pessoais do doente, flores, água, alimentos, entre outros, o que aumenta a proximidade afetiva familiar. Nesse âmbito, a adoção, por parte dos enfermeiros, de atitudes afáveis, de confiança progressiva, permitem a construção de uma relação confortadora entre os atores em contexto. Ao procurar essa compreensão, o enfermeiro procura estar em relação de ajuda, pela sua função facilitadora e potenciadora de desenvolvimento, implicando saber apreender e reconhecer o que, eventualmente, é significativo para cada um e permitindo alcançar maior estado de conforto.

Limitações do estudo

Considerando estes resultados, conscientes da importância desta temática na área substantiva dos cuidados aos idosos e dada a complexidade e a especificidade dos problemas que as pessoas idosas vivenciam em diferentes contextos, evidencia-se a necessidade de potenciar pesquisas sobre o fenômeno em outros contextos, com maior aprofundamento de estudos nos modos e formas de confortar a pessoa idosa e problemáticas envolventes. Sabendo que cada estudo etnográfico não é passível de "reprodução", estes resultados podem servir de orientação para a construção e a consolidação do conhecimento sobre um fenômeno considerado nobre e associado às intervenções dos enfermeiros.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Os resultados evidenciam a clarificação conceitual dos modos e formas de confortar, com subsídios capazes de promover modelos de organização dos cuidados baseados em evidência, acreditando que o progresso científico na área do conhecimento do cuidado de enfermagem poderá ser determinante no assegurar a qualidade da saúde. A obtenção de resultados leva à clarificação da natureza dos cuidados de enfermagem em redor do fenômeno do conforto passível de influenciar a política de saúde do país, com privilégio para a pessoa idosa. Os resultados constituem um contributo para a clarificação da sua realidade, concretamente, na compreensão do sentido/significado dos modos e formas de confortar, o que poderá ser estruturante e inspirador para o questionamento e a reformulação de princípios e práticas relativas à gestão de cuidados de enfermagem e recursos humanos, na atual conjuntura socioeconômica. Assim, entendemos que poderá levantar questões e originar novas investigações que, decerto, evidenciarão a essência da intervenção de enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Colocando no centro dos cuidados o doente idoso, a intencionalidade beneficente constitui fundamento do agir dos enfermeiros pela proximidade e maneira de ser/estar na relação com o idoso. É uma caminhada feita em conjunto, em sintonia, que implica por isso reciprocidade ativa, verificando-se uma congruência pela aceitação do doente idoso tal como ele é. Procura ir ao seu encontro, o que possibilita e permite a compreensão das formas como cada um vivencia os seus problemas, manifesta as suas necessidades, exprime os seus anseios e angústias.

Os diferentes modos e formas de confortar procuram, pela sua finalidade expressa, facilitar/aumentar o conforto, aliviar o desconforto e/ou investir no conforto potencial, o que leva ao aumento da perceção de controle sobre a vida e as circunstâncias vivida, além de ajudar na percepção da realidade, perspevtivando o futuro.

A ação confortadora é dotada de sentido. Os enfermeiros procuram simultaneamente atender ao pormenor e responder à globalidade da pessoa, reafirmando o compromisso de aliviar a dor/sofrimento, de ajudar e confortar, sempre. Assim, o processo de cuidar confortador geriátrico edifica-se na relação que se desenvolve, atribuída de sentido, não só pelo que se faz, mas no como se faz, constituindo-se como um processo interpessoal com intencionalidade terapêutica.

A valorização das situações particulares por parte do enfermeiro, bem como a intervenção adequada, é fundamental. Num processo de crescimento e desenvolvimento conjunto, o enfermeiro vai ao encontro do idoso numa atitude centrada nos seus desejos, vontades e necessidades, aspectos que orientam a sua intervenção confortadora.

Numa lógica de integralidade, o profissional procura voltar-se para respostas mais ou menos complexas, inerentes às circunstâncias vividas, respeitar as preferências e gerar espaços informais de reajustamento, o que implica permanentes formas de negociação, permitindo assim uma maior capacitação da pessoa. O processo de tomada de decisão posto em prática e a negociação/parceria dos cuidados com o doente/família constitui interação padronizada e "eleva-se" a uma práxis em prol do seu maior e melhor conforto.

Perspectivado num contexto interpessoal, de "aceitação do idoso" tal como ele é, o cuidado geriátrico confortador é assim determinado pela individualidade e pela flexibilidade que pressupõe aproximação holística da pessoa. Tem por base uma relação de confiança reveladora de interesse e de atenção às necessidades de conforto do idoso, evidenciando a compreensão pelo sofrimento do idoso e da sua família.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    05 Dez 2016
  • Aceito
    07 Abr 2017
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