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Desenvolvendo competências no ensino em enfermagem obstétrica: aproximações entre teoria e prática

RESUMO

Objetivo:

Analisar o desenvolvimento de competências profissionais em curso de pós-graduação em Enfermagem Obstétrica.

Método:

Pesquisa qualitativa, utilizando entrevista semiestruturada com 11 egressos da especialização em Enfermagem Obstétrica da Universidade Estadual do Ceará. Dados submetidos à análise temática.

Resultados:

Na ótica dos sujeitos, o curso confere o desenvolvimento de competências que fortalecem e ampliam o campo de atuação da enfermagem obstétrica. Embora resgate o conhecimento prévio dos discentes e as experiências vivenciadas, há distanciamento entre conteúdos ministrados e a prática de estágios, apresentados como desafios e dificuldades enfrentadas pelos egressos. Os achados sugerem revisão curricular, incorporando as metodologias ativas de ensino-aprendizagem, superando a fragmentação entre teoria e prática.

Considerações finais:

Os egressos se constituem em um corpus potencialmente implicado na construção e transformação de pensamentos e valores das instituições de saúde e ensino, necessários às mudanças nas organizações políticas e sociais, visando atendimento integral e igualitário à população.

Descritores:
Enfermagem Obstétrica; Prática Profissional; Educação Continuada; Educação de Pós-Graduação; Aprendizagem

ABSTRACT

Objective:

To analyze the development of professional skills in an obstetric nursing graduate course.

Method:

Qualitative research, applying semi-structured interviews with 11 students in the obstetric nursing specialization at the State University of Ceará. Data was submitted to thematic review.

Results:

According to the subjects, the course offers the development of skills to strengthen and expand the range of activities in obstetric nursing. Despite relying on previous knowledge and experience acquired by the students, there is a gap between the content taught and internship practice, presented as challenges and difficulties faced by the students. The findings suggest a need for curricular revision, incorporating active teaching-learning methodologies, to overcome the disjunction between theory and practice.

Final considerations:

Students are part of a corpus that is potentially implicated in the construction and transformation of thoughts and values set forth by educational and health institutions, and it is necessary to make changes in political and social organizations, with a focus on providing comprehensive and egalitarian care to the population.

Descriptors:
Obstetric Nursing; Professional Practice; Continuing Education; Graduate Education; Learning

RESUMEN

Objetivo:

Analizar el desarrollo de competencias profesionales en curso de posgrado en Enfermería Obstétrica.

Método:

Investigación cualitativa, aplicando entrevista semiestructurada a 11 egresados de especialización en Enfermería Obstétrica de la Universidade Estadual do Ceará. Datos sometidos a análisis temático.

Resultados:

Según visión de los sujetos, el curso brinda desarrollo de competencias que refuerzan y amplían el campo de actuación de la enfermería obstétrica. Aun recurriendo a conocimientos y experiencias previas del alumnado, existe distancia entre los contenidos dictados y la práctica de pasantías, considerados desafíos y dificultades enfrentadas por los egresados. Hallazgos sugieren revisión curricular, incorporando metodologías activas de enseñanza-aprendizaje, superando fragmentaciones teórico-prácticas.

Consideraciones finales:

Los egresados constituyen un corpus potencialmente implicado en construir y transformar pensamientos y valores de instituciones de salud y enseñanza, necesarios para el cambio en las organizaciones políticas y sociales, apuntando a una atención integral e igualitaria de la población.

Descriptores:
Enfermería Obstétrica; Práctica Profesional; Educación Continua; Educación de Posgrado; Aprendizaje

INTRODUÇÃO

Nos diferentes contextos de trabalho do enfermeiro, a obstetrícia é destacada como prática humanizadora essencial na consolidação dos princípios da cobertura universal de saúde(11 Schveitzer MC, Zoboli ELCP, Vieira MMS. Nursing challenges for universal health coverage: a systematic review. Rev Latino-Am Enfermagem[Internet]. 2016[cited 2016 Jun 26];24:e2676. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.0933.2676
http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.0933...
). Por esse motivo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha que haja incentivo na formação de maior número de enfermeiros obstetras, a fim de que esse profissional desempenhe papel mais adequado e com melhor custo-efetividade para prestar assistência à gestação e ao parto normal, avaliando riscos e reconhecendo complicações, estimulando o resgate da valorização à fisiologia do parto. Ainda, recomenda-se que os países devam ter, no mínimo, um profissional qualificado para cada 125 nascimentos ao ano(22 World Health Organization (WHO). The world health report 2005: Make every woman and child count. [Internet]. Geneva, Switzerland; 2005[cited 2016 Mar 15]. 219p. Available from: http://www.who.int/whr/2005/whr2005_en.pdf?ua=1
http://www.who.int/whr/2005/whr2005_en.p...
).

O Conselho Internacional de Enfermeiros referiu que os enfermeiros obstetras devem desenvolver competências por meio de programas educacionais, com conteúdo acadêmico e clínico suficientes para facilitar a prática segura e autônoma, em um nível definido de proficiência no contexto da formação e certificação de enfermeiros obstetras(33 International Council of Nurses (ICN). The ICN Code of ethics for nurses: revised 2012 [Internet]. Geneva, Switzerland; 2012[cited 2016 Mar 05]. 11 p. Available from: http://www.icn.ch/images/stories/documents/about/icncode_english.pdf
http://www.icn.ch/images/stories/documen...
). Assim, esses profissionais devem possuir competências para manejar tanto a gestação, o trabalho de parto, o parto e o nascimento normais quanto às situações de risco ou de complicações das mulheres e ou dos recém-nascidos. Ademais, faz-se importante destacar que os países, estados e ou municípios devem fornecer respaldo legal e normativo que subsidie a participação desses profissionais na melhoria da atenção à maternidade(22 World Health Organization (WHO). The world health report 2005: Make every woman and child count. [Internet]. Geneva, Switzerland; 2005[cited 2016 Mar 15]. 219p. Available from: http://www.who.int/whr/2005/whr2005_en.pdf?ua=1
http://www.who.int/whr/2005/whr2005_en.p...
).

Competência é definida como a capacidade de aplicar conhecimentos específicos, habilidades, atitudes e valores para o padrão de desempenho exigido em contexto específico(44 Australian Health Promotion Association's (AHPA). Core Competencies for Health Promotion Practitioners. Management Committee at their National Teleconference meeting on Thursday 5th February; 2009.). A aquisição e consolidação de competências vão-se construindo gradativamente ao longo do percurso formativo, sendo, portanto, um fenômeno evolutivo, que se vai concretizando conforme os discentes conseguem mobilizar os conhecimentos adquiridos(55 Zangão MO, Mendes FRP. Relational skills and preserving patient privacy in the caring process. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015[cited 2016 Nov 15];68(2):191-97. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680202i
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015...
).

No sentido de promover o desenvolvimento de competências, o Brasil disponibiliza cursos na área de enfermagem obstétrica, consubstanciados em especialização ou programa de residência, diferindo em carga horária teórica e prática, que visam formação de enfermeiros obstetras com perfil humanístico e ético, capazes de fortalecer a saúde da população materna e neonatal, preconizada pelo Ministério da Saúde (MS), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a assistência prestada por enfermeiros obstetras é regulamentada e normatizada pelo Conselho Federal de Enfermagem.

A abertura desse campo de atuação exercido por enfermeiros especializados e nossa crença de que a área da assistência obstétrica amplia as possibilidades de ações desse profissional para muito além da sala de parto motivaram a busca de evidências científicas acerca da temática da pesquisa, que mostrou lacunas em publicações com enfoque no desenvolvimento de competências.

Portanto, ressalta-se a importância dos programas educacionais lato sensu abordarem conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias à formação crítico-reflexiva do enfermeiro obstétrico. Em face do exposto, o presente estudo objetivou analisar o desenvolvimento de competências profissionais em curso de pós-graduação em Enfermagem Obstétrica.

MÉTODO

Aspectos éticos

Os preceitos éticos da Resolução 466/12 foram seguidos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Estadual da Saúde do Ceará.

Tipo de estudo

Trata-se de um estudo exploratório com abordagem qualitativa.

Procedimentos metodológicos

Cenário do estudo

O estudo foi realizado em uma maternidade de referência obstétrica e neonatal, em Fortaleza, Ceará. Essa instituição trabalha com suas atividades seguindo as diretrizes da Política Nacional de Humanização, Acolhimento com Classificação de Risco em obstetrícia. A maternidade recebe alunos de várias instituições de Ensino Superior público e privado, dentre elas as residências médicas e multiprofissional, os alunos de graduação e de pós-graduação de Enfermagem.

Fonte de dados

A pesquisa foi desenvolvida com egressos do curso de especialização em Enfermagem Obstétrica da Universidade Estadual do Ceará. Estabeleceu-se como critérios de inclusão: egressos que residiam em Fortaleza e que apresentaram o trabalho de conclusão de curso, com o recebimento do certificado de especialista em Enfermagem Obstétrica. Excluíram-se os egressos que estavam aguardando receber o certificado devido a pendências com o curso lato sensu. Foram selecionados 11 alunos de um universo constituído por 26 egressos da 14ª turma de especialização.

Os participantes foram esclarecidos sobre o estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para garantia do sigilo e anonimato, os sujeitos foram representados por letra E de enfermeiro, seguida pelo número da ordem cronológica da realização da entrevista.

Coleta e organização dos dados

A coleta de dados ocorreu de janeiro a fevereiro de 2015. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com uso de roteiro e um aparelho de gravação de voz digital. A gravação foi realizada após autorização prévia dos sujeitos, com duração média de 40 minutos, sendo posteriormente transcritas na íntegra pela pesquisadora.

Análise dos dados

Após transcrição das entrevistas, o tratamento dos dados seguiu a análise temática(66 Minayo MCS. Pesquisa social: teoria método e criatividade. Petrópolis RJ: Vozes; 2016.). Na pré-análise, fez-se a organização do material transcrito; em seguida, foi realizada a leitura flutuante, com intuito de absorver todo o conteúdo, definindo o corpus do trabalho. Para exploração do material, fez-se o recorte do corpus, a categorização e a descrição das categorias(66 Minayo MCS. Pesquisa social: teoria método e criatividade. Petrópolis RJ: Vozes; 2016.). Por fim, foi realizada a interpretação sobre os achados, correlacionando-os com a literatura.

RESULTADOS

Quanto à caracterização sociodemográfica dos 11 participantes do estudo, a maioria era do sexo feminino (10), parda (09), católica (10) e solteira (09). Dentre os sujeitos, um tinha o título de mestre. A faixa etária média era de 31 anos, variando entre 20 e 45 anos. O tempo de formação, com média de oito anos. Somente cinco exerciam a profissão e trabalhavam na área de obstetrícia em média há cinco anos. Quanto ao vínculo empregatício, somente um declarou ter dois empregos; e a renda familiar dos participantes estava entre 3 a 6 salários mínimos.

Os depoimentos dos sujeitos fizeram emergir duas categorias temáticas, a saber: 1) Construção de competências na enfermagem obstétrica: fortalecendo e ampliando o campo de atuação do profissional; e 2) Experiências vivenciadas na pós-graduação em obstetrícia: desafios e dificuldades enfrentadas pelos egressos.

Construção de competências na enfermagem obstétrica: fortalecendo e ampliando o campo de atuação do profissional

Os participantes do estudo referiram que o curso de especialização em Enfermagem Obstétrica prepara os profissionais para desenvolver competências técnicas e fortalecer a prática assistencial. Dentre as ações, podem ser citadas as características de parto humanizado, a intervenção mínima e o respeito à mulher, interpretado como o direito à igualdade de tratamento e à assistência obstétrica de qualidade. O respeito à autonomia da mulher também foi apontado nessa caracterização, sendo representada como liberdade de movimentos, participação mais ativa no processo de nascimento e conhecimento acerca da evolução do parto e dos procedimentos adotados pelos profissionais, conforme evidenciam as falas:

Aprendi a realizar anamnese e exame físico, a partejar e identificar distócias no parto. (E2)

Aprendi, a escutar os batimentos cardíacos fetais, fazer cardiotocografia e teste rápido anti-HIV. Fazer episiotomia e episiorrafia, técnica que deverá ser feita quando realmente for necessário, pois sei que pode causar danos físicos e psicológicos à mulher. (E9)

Deixar o parto fluir fisiologicamente estimulando a autonomia e autoconfiança da gestante. (E4)

O curso ensina a gente sobre o parto humanizado, essencial para reduzir a morte das mães e bebês. (E11)

O curso de especialização em Enfermagem Obstétrica estudado tem suas bases e eixos estruturantes fundados no modelo humanizado de assistência, como preconiza o Sistema Único de Saúde. No campo obstétrico, esse modelo é subsidiado por práticas menos intervencionistas e pelo respeito aos direitos sexuais e reprodutivos, aos sentimentos e às emoções da parturiente, estabelecendo com a mulher cuidado humanizado. A preocupação de prover a competência para adoção do modelo que prima pela assistência humanizada foi demonstrada pelos participantes.

Atender às gestantes com visão holística às suas necessidades, respeitando suas individualidades culturais e desejos. (E2)

Eu vejo na questão da humanização que a presença do acompanhante, a parturiente se sente mais segura, confortável e acolhida. (E10)

Demonstrar que ela, a gestante, pode confiar e estabelecer um relacionamento enfermeiro-paciente para o seu bem-estar físico e mental. (E3)

No entendimento dos egressos, para prestar assistência com segurança e competência em todas as fases do ciclo gravídico-puerperal, os saberes do enfermeiro obstetra devem estar baseados nas melhores e mais atualizadas evidências científicas.

Conhecendo a teoria por meio das literaturas recentes, como as fases do trabalho de parto, a gestação de alto risco e as práticas não farmacológicas para o alívio da dor e colocando em prática, vi que tudo isso é maravilhoso. (E4)

Para tentar conciliar a teoria com a prática, busco artigos e estudos baseados em evidências científicas que hoje estão no auge e nos dão segurança durante a assistência. (E8)

As disciplinas da matriz curricular consideradas mais atrativas para os egressos foram a Enfermagem Obstétrica I e II, exatamente por estarem atreladas ao campo de estágio prático. Discorrendo sobre a realidade e a relevância dos estágios supervisionados, os egressos se sentiram seguros em realizar procedimentos na prática, buscando o desenvolvimento da autonomia.

Foi de total relevância a Obstétrica I e II, pois através dos estágios, pude ver a realidade de perto e também adquirir mais autonomia. (E1)

No campo de prática, tínhamos autonomia, realizamos os procedimentos, confiantes sempre com a supervisão da professora, que contribuiu para aprimoramento de nossos conhecimentos. (E11)

De maneira geral, a aprendizagem em relação aos conteúdos teóricos e práticos atendeu às expectativas dos egressos, com contribuições para construção de um profissional crítico-reflexivo e preparado para enfrentar o mercado de trabalho.

Tudo o que faço na enfermagem obstétrica aprendi no curso, desempenho a prática profissional com uma visão mais crítica e reflexiva. (E9)

A partir do curso, as oportunidades no mercado de trabalho se expandiram. Ele aperfeiçoou minhas habilidades práticas, fazendo com que desenvolvesse um trabalho de qualidade, com mais criatividade. (E2)

Para os egressos, a participação no programa educacional possibilitou vivenciar novas experiências, ampliou a capacidade técnico-científica do cuidar e propiciou o desenvolvimento de competência para atuação na prática gerencial, assim como também na docência, de modo que passaram a atuar como facilitadores ou preceptores de campo de estágio, nas turmas da graduação em Enfermagem.

Atuo na gestão em obstetrícia em uma unidade de referência para o parto normal, hospital terciário; atuo também como preceptor no curso de graduação em Enfermagem. (E10)

Estou na assistência em duas maternidades de referência. E graças à especialização. (E3)

Experiências vivenciadas na pós-graduação em obstetrícia: desafios e dificuldades enfrentadas pelos egressos

Embora, sintam-se preparados para desenvolver suas habilidades e atitudes de forma eficaz, os egressos referiram haver descompasso entre o tempo de abordagem dos saberes teóricos e práticos, ou seja, primeiro aprendem a teoria, para depois irem para o campo de estágio, e isso não é bem articulado no curso. Tal fato pode remeter ao desejo de encontrar o saber científico para oportunizar o embasamento das atividades realizadas cotidianamente.

A maioria dos conteúdos abordados, durante os estágios, é vista no início do curso, e os estágios só ocorrem no final do curso, se a teoria e a prática fossem articuladas, o aprendizado seria melhor. (E1)

Em relação à parte teórica, ficou um pouco a desejar. A forma que eu busquei conciliar a teoria com a prática foi através de leitura de artigos, durante os estágios. (E8)

Ao discorrer sobre a práxis da enfermagem obstétrica, os egressos demonstraram a capacidade de aprendizagem para além do embasamento teórico. Nessa perspectiva, as relações do cotidiano são expressas com enfrentamentos e são entendidas como obstáculos a serem superados, como a assistência que vão prestar à mulher somente com a aprendizagem significativa. É muito comum os educadores considerarem que os alunos chegam prontos, com todos os pré-requisitos para desenvolver tarefas, pesquisas e/ou provas, pois os docentes não consideram as lacunas do conhecimento apresentadas pelos discentes.

Nunca tinha passado por uma maternidade, e os professores da teoria achavam que a gente já chegava sabendo das coisas, então acabava de me virar sozinha. Os professores da parte teórica deveriam se dedicar mais, para a prática ser melhor ainda. (E8)

Os docentes sempre confrontavam a teoria vista em sala de aula com a prática, mas tinha aluno que não trabalhava na área e ficava um pouco perdido. Acho que a teoria deveria ter sido mais aprofundada, visando nível de conhecimento de todos os alunos. (E6)

As falas sustentam a proposição de que o ensino-aprendizagem no curso de especialização em Enfermagem Obstétrica foi uma oportunidade única para desenvolver as competências na formação como especialista. Contudo, os egressos apontaram a ocorrência de limitações pertinentes ao programa educacional, pois consideraram o campo de estágio muito concorrido e disputado pelos profissionais de outras instituições.

Uma das dificuldades no campo de estágio foi completar o número de partos, tendo em vista que são muitas alunas e residentes para o número de gestantes assistidas. (E2)

A dificuldade encontrada durante o curso foi que havia muitos estagiários para poucos procedimentos, assim tínhamos que ficar mais tempo na instituição ou procurar outros horários para não ser prejudicado no aprendizado. (E7)

Após conclusão do curso, uma das motivações dos egressos foi a de propor mudanças na assistência obstétrica em suas instituições, com objetivo de implementar o modelo assistencial da humanização do parto e nascimento e as boas práticas, a fim de proporcionar atendimento de qualidade. No entanto, sentiram dificuldades em fazê-las, demonstrando sentimento de impotência, falta de autonomia, de espaço de atuação e de reconhecimento profissional, com resistência por parte da hegemonia médica.

Eu tentei colocar em prática tudo que aprendi, lógico com dificuldades, pois encontrei barreiras, principalmente de médicos que não ajudam. Mas, aos trancos e barrancos, a gente vai se impondo e vai tentando colocar em prática o que a gente aprendeu. (E9)

A gente vê muitos profissionais médicos que não têm consideração e nem respeito por essa questão de tratar o parto humanizado. (E11)

DISCUSSÃO

Desde o início da civilização, os cuidados cotidianos foram conferidos às mulheres. A participação feminina também foi determinante na história dos cuidados aos doentes e da Enfermagem, bem como na obstetrícia, que foi notadamente marcada pelo cuidado feminino(77 Nicácio MC, Heringer ALS, Schroeter MS, Pereira ALF. Perception of nurse midwives regarding their professional identity: a descriptive study. Online Braz J Nurs [Internet] 2016 [cited 2017 Feb 20];15(2):205-14. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/viewFile/5203/pdf_1
http://www.objnursing.uff.br/index.php/n...
). No presente estudo, predominou o sexo feminino, corroborando a literatura.

As transformações que ocorrem no mundo atual, em decorrência das mudanças tecnológicas e novas maneiras progressivas de organização do trabalho, especificamente na área da saúde, exigem a construção de um programa de educação permanente, voltado para o desenvolvimento de competências fundamentais dos profissionais ao exercício de suas atividades com qualidade e segurança(88 Camelo SHH, Angerami ELS. Professional competence: the construction of concepts, strategies developed by health services and implications for nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013. [cited 2016 Mar 13];22(2):552-60. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n2/en_v22n2a34.pdf
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). Pode ser identificado, neste estudo, o investimento na capacitação que graduandos e graduados em Enfermagem realizaram por meio de curso lato sensu, a fim de melhor desenvolver suas atividades no campo da obstetrícia e, assim, poderem oferecer uma assistência segura com respaldo científico à comunidade.

Logo, o curso prepara profissionais qualificados para prestar e coordenar a assistência à saúde da mulher e família no processo reprodutivo; trabalhar em equipe multiprofissional; contribuir para construção do conhecimento na área e fundamentar a prática naquela já existente; analisar criticamente a realidade de assistência à saúde da mulher, propondo ações criativas para solução dos problemas encontrados, levando em conta o perfil epidemiológico, os fatores sociopolíticos e culturais, a tecnologia e os equipamentos disponíveis e necessários à prática profissional. Dessa maneira, o curso tem como objetivo formar profissional apto a trabalhar na promoção integral da saúde, no contexto do SUS e das premissas da humanização do parto e nascimento(99 Narchi NZ, Silva LCFP, Gualda DMR. Midwifery training in Brazil: context, challenges and perspectives. Saúde Soc[Internet]. 2012[cited 2016 Mar 07];21(2):510-19. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v21n2/a22v21n2.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v21n2/a2...
).

Foi possível perceber, neste estudo, que os alunos compreendiam o parto e nascimento como evento fisiológico na vida da mulher, o qual provoca variadas e profundas alterações físicas e emocionais, o que requer atenção e acompanhamento contínuo por parte da família e dos profissionais de saúde, sendo o enfermeiro obstetra o profissional de escolha para prestar esse atendimento de forma holística. Além disso, os conhecimentos adquiridos na especialização poderiam contribuir para os egressos poderem agir com autonomia e se tornarem agentes principais na implementação das ações de saúde que visam mudança no modelo assistencial do processo de parturição, conforme as normas do SUS.

Para a OMS, enfermeiros obstetras seriam os profissionais mais adequados para prestarem assistência ao parto de baixo risco, seja em domicílio, em centros de parto normal ou obstétricos. Também recomenda que todos os implicados no sistema de saúde, incluindo o aparelho formador, devem reconhecer o exercício desses profissionais e permitir que sejam colocadas em prática as competências, para o bem das mulheres e dos sistemas de saúde e indicadores de qualidade assistencial(22 World Health Organization (WHO). The world health report 2005: Make every woman and child count. [Internet]. Geneva, Switzerland; 2005[cited 2016 Mar 15]. 219p. Available from: http://www.who.int/whr/2005/whr2005_en.pdf?ua=1
http://www.who.int/whr/2005/whr2005_en.p...
). No campo da saúde, especialmente no que se refere à formação profissional, a construção de competências implica articular diferentes saberes para construção de uma prática profissional pautada não somente na aquisição e incorporação de conhecimentos e habilidades, mas também em atitudes pessoais e relacionais que visam transformação da realidade em saúde(88 Camelo SHH, Angerami ELS. Professional competence: the construction of concepts, strategies developed by health services and implications for nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013. [cited 2016 Mar 13];22(2):552-60. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n2/en_v22n2a34.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n2/en_v2...
).

O enfermeiro tem a obrigação e a responsabilidade pela prática da enfermagem e por manter sua competência para o exercício da profissão mediante educação permanente. Ao prestar cuidado, deve garantir que o uso da tecnologia e dos avanços científicos seja compatível com a segurança, a dignidade e os direitos das pessoas, promovendo o comportamento ético e o diálogo aberto(33 International Council of Nurses (ICN). The ICN Code of ethics for nurses: revised 2012 [Internet]. Geneva, Switzerland; 2012[cited 2016 Mar 05]. 11 p. Available from: http://www.icn.ch/images/stories/documents/about/icncode_english.pdf
http://www.icn.ch/images/stories/documen...
). No cenário obstétrico, os enfermeiros consideram que a autonomia profissional está relacionada ao conhecimento e às competências profissionais, bem como ao respaldo conferido pelos gestores da instituição. Esse apoio é fundamental no processo de construção da autonomia e empoderamento dos enfermeiros(1010 Copelli FHS, Oliveira RJT, Erdmann AL, Gregório VRP, Pestana AL, Santos JLG. Understanding nursing governance practice in a obstetric center. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015[cited 2016 Mar 07];19(2):239-45. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_1414-8145-ean-19-02-0239.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_14...
).

A competência e a autonomia do enfermeiro na assistência às gestantes, parturientes e puérperas foram conferidas pelo Conselho Federal de Enfermagem como integrantes essenciais da equipe de obstetrícia, incumbindo ao enfermeiro: prestação de assistência à parturiente e ao parto normal; identificação das distócias obstétricas e tomada de providências, até a chegada do médico; realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de anestésico local, quando necessário(1111 Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 516, de 24 de junho de 2016. Normatiza a atuação e a responsabilidade do Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz na assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos [Internet]. Brasília (DF), 2016[cited 2016 Nov 14]. Available from: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-05162016_41989.html
http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-...
).

A OMS recomenda o uso restrito da episiotomia, apenas 10% dos partos normais, sendo suas indicações: sinais de sofrimento fetal, progressão insuficiente do parto e ameaça de lacerações de 3º grau, incluindo laceração de 3º grau em parto anterior(1212 Organização Mundial da Saúde. Maternidade segura. Assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra (SUI): OMS; 1996.). No entanto, os dados apresentados na literatura divulgam que ainda hoje esse procedimento permanece sendo usado de forma rotineira nas instituições hospitalares. Para reduzir a frequência com que a episiotomia é executada, é essencial que os profissionais de saúde atuantes na área da obstetrícia sejam capacitados sobre o Parto Humanizado, para compreenderem a importância de informar corretamente essas mulheres e para exercerem uma assistência em consonância com as orientações da OMS.

Da mesma forma, os sujeitos da presente pesquisa relataram ter adquirido conhecimentos específicos, baseados em evidências científicas, habilidades e atitudes durante o curso de pós-graduação. Tornaram-se capazes de assistir a parturiente desde o pré-natal, parto, nascimento e puerpério, utilizando as tecnologias necessárias na obstetrícia. Ainda, destacaram que a prática assistencial no campo de estágio é voltada à valorização da mulher, propiciando cuidados humanizados e participação ativa da mulher durante o trabalho de parto, por meio do relacionamento dialogado e de confiança, potencializando o cuidado seguro.

Na relação enfermeiro-parturiente, há interação, por meio da conversa, dos gestos, do toque, ou da própria expressão facial. Essas atitudes são demonstração de sensibilidade do enfermeiro e permitem que a mulher expresse sentimentos, angústias, assegurando o conforto da presença humana no momento do parto(1313 Caires TLG, Santos RS. O saber da enfermagem obstétrica e suas contribuições sociais para a autonomia da parturiente. Rev Enf Prof[Internet]. 2014[cited 2016 Feb 18];1(2):422-35. Available from: http://seer.unirio.br/index.php/enfermagem profissional/article/view/3454/pdf_1406
http://seer.unirio.br/index.php/enfermag...
).

Dessa forma, o curso em análise tem maior potencial de qualificar enfermeiros com habilidades técnicas para os cuidados baseados nos princípios da humanização e nas evidências científicas, na visão dos egressos. Assim, contribuiu para que eles pudessem articular a teoria com a prática durante o estágio supervisionado, fomentando aprendizado crítico-reflexivo e criativo; e, ainda, preparou-os para atuar no mercado de trabalho de forma segura, com domínio dos saberes teórico-práticos, para a devida aplicação nos cenários da vivência, necessários ao crescimento profissional.

O desenvolvimento do curso, na visão dos egressos, comunga com a literatura a visão de que a educação é o caminho permanente para desenvolver a capacidade crítico-reflexiva dos sujeitos e para construção coletiva de conhecimentos, a partir da inserção em sua realidade. Homens e mulheres são seres do fazer, da ação e reflexão, da práxis, responsáveis pela transformação do mundo. Para tanto, necessitam articular prática e teoria, em que fazer é a teoria, e a prática é reflexão e ação(1414 Freire P. Pedagogia do oprimido. 50ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011. 184 p.). Para tanto, o processo educativo deve ser exercício constante em favor da produção e desenvolvimento da autonomia, implicando decisões e responsabilidade, com vistas a ser e estar melhor(1515 Müller EB, Zampieri FM. Educative practice with nurses, with a view to humanized care for the newborn in the obstetric center. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Mar 3];23(3):782-90. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n3/0104-0707-tce-23-03-00782.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n3/0104-...
).

Portanto, a vivência pelo discente do estágio curricular supervisionado é considerada indispensável, visto que o processo de trabalho, no campo de estágio, permite a aquisição de uma identidade na atuação, fazendo com que isso flua naturalmente. Isso torna o profissional, a cada dia, conforme vai lidando com situações em diversos cenários, mais preparado, autônomo e competente para enfrentar as exigências do mercado de trabalho(1616 Benito GAV, Tristão KM, Paula CSF, Santos MA, Ataide LJ, Lima RCD. Desenvolvimento de competências gerais durante o estágio supervisionado. Rev Bras Enferm [Internet]. 2012. [cited 2016 Mar 13];65(1):172-78. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n1/25.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n1/25....
).

As dificuldades e os desafios do curso relatados pelos sujeitos desta pesquisa foram aspectos que envolviam o programa curricular, como o fato de o estágio ter ocorrido no final do curso, ocasionando a dicotomia entre a prática e a teoria; o conteúdo ministrado em sala de aula não estar coerente com o conhecimento prévio dos alunos, prejudicando o aprendizado significativo; e o dimensionamento dos alunos em campo do estágio ter sido bem maior que a demanda dos procedimentos, comprometendo o desenvolvimento das habilidades.

Estudo com residentes de enfermagem obstétrica na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, detectou fragilidades no trabalho pedagógico, em virtude da dissociação entre a teoria e a prática, prejudicando a formação na perspectiva da práxis em enfermagem, que abrange não somente a articulação entre o conhecimento e a prática, mas também a compreensão de que a prática é uma teoria em ação. Isso requer que a academia e o serviço trabalhem de forma mais integrada(1717 Lima GPV, Pereira ALF, Guida NFB, Progianti JM, Araújo CLF, Moura MAV. Expectations, motivations and perceptions of nurses on the nurse-midwifery specialization course in the residence modality. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015[cited 2016 Mar 13];19(4):593-99. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n4/en_1414-8145-ean-19-04-0593.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n4/en_14...
).

Pode-se inferir que a teoria e a prática devem estar inseridas no processo formativo de maneira simultânea e indissolúvel, proporcionando, assim, a aprendizagem significativa. Nesse entendimento, de articular a prática com a teoria, o profissional poderá registrar-se no Conselho de Enfermagem como enfermeiro obstetra, caso tenha seguidos alguns critérios de qualificação, como ter realizado no mínimo: 15 consultas de enfermagem pré-natais; 20 partos com acompanhamento completo do trabalho de parto, parto e pós-parto; e 15 atendimentos ao recém-nascido na sala de parto(1111 Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 516, de 24 de junho de 2016. Normatiza a atuação e a responsabilidade do Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz na assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos [Internet]. Brasília (DF), 2016[cited 2016 Nov 14]. Available from: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-05162016_41989.html
http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-...
). Isso justifica a preocupação dos egressos em cumprir tais metas durante o estágio supervisionado, pois havia alunos demais para pouca conduta assistencial.

Em relação à dicotomia dos saberes entre a teoria e a prática, as lacunas do conhecimento devem ser contornadas e consideradas pelos docentes, para reestruturação do projeto político pedagógico no sentido de se obter resultado satisfatório na avaliação final do curso. Além disso, aqueles que já trabalhavam na área da obstetrícia sentiram a necessidade de colocar em prática as competências adquiridas por meio da especialização, mas perceberam que a categoria médica apresentava resistência para aceitar a atuação destes em serviço, de forma mais autônoma, segura, criativa, crítica e reflexiva.

Em estudo realizado com puérperas de um centro de parto normal da cidade de Salvador, Brasil, detectou-se a impregnação do modelo biomédico e a pouca ou nenhuma autonomia das enfermeiras para exercerem de forma plena o cuidado às mulheres, pois, fatalmente, esbarram nas relações de poder existentes nas instituições(1818 Silva ALS, Nascimento ER, Coelho EAC. Nurses practices to promote dignity, participation and empowerment of women in natural childbirth. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Mar 13];19(3):424-31. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n3/en_1414-8145-ean-19-03-0424.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n3/en_14...
). Do ponto de vista institucional e político, seria imprescindível maior iniciativa e protagonismo dos gestores centrais e locais, para garantir espaço adequado e retaguarda médica especializada, não hostil, nos serviços de cuidado ao parto, em que os enfermeiros obstetras ainda são escassos, pouco conhecidos e respeitados no Brasil. Sua incorporação progressiva melhoraria o papel dos médicos obstetras, que passariam a ser requisitados em situações de maior risco(1919 Norman AH, Tesser CD. Obstetrizes e enfermeiras obstetras no Sistema Único de Saúde e na Atenção Primária à Saúde: por uma incorporação sistêmica e progressiva. Rev Bras Med Fam Comunidade[Internet]. 2015 [cited 2016 Mar 18];10(34):1-7. Available from: http://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1106/670
http://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1...
).

Nessa perspectiva, predominam as práticas não interferentes na fisiologia do parto e em consonância com o que é recomendado pelo MS/OMS, como o uso de métodos não farmacológicos para o alívio da dor, uso das posições verticais no segundo período do parto, da presença do acompanhante de escolha da mulher e das práticas humanizadas de recepção ao recém-nascido. Tudo isso qualifica a assistência prestada e valoriza o trabalho desenvolvido pelos enfermeiros obstetras; ademais, reduz a utilização de cuidados intervencionistas sem a adequada indicação clínica e respaldo científico(2020 Medeiros RMK, Teixeira RC, Nicolini AB, Alvares AS, Corrêa ÁCP, Martins DP. Humanized Care: insertion of obstetric nurses in a teaching hospital. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Feb 20];69(6):1091-98. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_0034-7167-reben-69-06-1091.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_...
).

Diante do contexto, o curso de especialização em Enfermagem Obstétrica tem contribuído para formação de um quantitativo de especialistas na área, objetivando a promoção de assistência, que respeita o caráter fisiológico do processo do nascimento e contribui para formação do profissional, com vistas à redução da mortalidade materna e neonatal.

Limitações do estudo

Considera-se como limite desta pesquisa a sua realização com uma turma do curso de Enfermagem Obstétrica, fato que não permite a generalização dos achados para outros programas educacionais lato sensu. No entanto, os resultados evidenciaram as concepções dos egressos sobre o desenvolvimento de conhecimentos específicos, habilidades e atitudes baseadas em evidências científicas, potencializando a assistência de enfermagem na área obstétrica e apontando necessidades de ajustes metodológicos ao programa educacional.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Os resultados encontrados neste estudo sugerem a revisão do desenho curricular do curso de especialização em Enfermagem Obstétrica, incorporando as metodologias ativas de ensino-aprendizagem, como recomendam as diretrizes curriculares nacionais. Dessa forma, os conteúdos seriam abordados de forma mais contextualizada, a partir de situações reais, por meio do uso de estratégias educacionais mais adequadas, além da aula tradicional, alteração dos períodos de campo de estágio, incorporando-o às disciplinas e promovendo a melhor articulação entre a teoria e a prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo revelou que o curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica proporcionou aos egressos a formação de profissionais críticos-reflexivos e criativos; e que os conhecimentos técnicos e científicos adquiridos durante o processo de ensino-aprendizagem foram aplicados no desenvolvimento das habilidades e atitudes, para atuação profissional nos programas de saúde da mulher, na assistência ao parto normal, identificando os riscos obstétricos e perinatais, seguindo as bases epidemiológicas, clínicas e humanísticas, por meio da articulação entre a teoria e a prática baseada em evidências científicas.

Ainda, pode-se inferir que os egressos se constituem em um corpus potencialmente implicado na construção e transformação de pensamentos, percepções e valores das instituições de saúde e ensino, necessários às mudanças nas organizações políticas e sociais, visando atendimento integral e igualitário à população.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2017

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2016
  • Aceito
    14 Mar 2017
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