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Enfermagem brasileira e norte-americana do Projeto HOPE (1972): aproximações e distanciamentos

RESUMO

Objetivo:

Compreender a estruturação, o funcionamento do Serviço de Enfermagem do navio-hospital SS HOPE e as relações entre a Enfermagem norte-americana e a norte-rio-grandense.

Método:

Pesquisa qualitativa, sócio-histórica, realizada a partir de consultas a fontes documentais e orais.

Resultados:

A análise chegou às categorias: O Projeto HOPE: impressões de suas enfermeiras e A Enfermagem do navio-hospital SS HOPE: impressões brasileiras. Essas categorias revelaram um Serviço de Enfermagem similar ao de um hospital geral, ordenado por escalas e que funcionava, ininterruptamente, nos três turnos.

Considerações finais:

O Serviço de Enfermagem era composto, exclusivamente, de enfermeiras, obedecia a um sistema de hierarquia com acúmulo de funções administrativas e assistenciais, a execução do trabalho era realizada de maneira rígida, precisa e técnica, e as barreiras idiomáticas e culturais parecem não ter comprometido o intercâmbio e o sistema de trabalho em contrapartes.

Descritores:
Enfermagem; História de Enfermagem; Cooperação Internacional; Serviços de Enfermagem; Pessoal de Saúde

ABSTRACT

Objective:

Understand the structuring and operation of the Nursing Service on the hospital ship HOPE and the relations between Nursing from North America and from Rio Grande do Norte.

Method:

Qualitative, sociohistorical research, developed by consulting documentary and oral sources.

Results:

The analysis revealed the categories: The HOPE Project: impressions of its nurses and Nursing on the hospital ship SS HOPE: Brazilian impressions. These categories revealed a Nursing Service similar to that of a general hospital, ordered by scales and which functioned uninterruptedly in the three shifts.

Final considerations:

The Nursing Service consisted exclusively of nurses; followed a hierarchical system; with accumulation of administrative and care functions; strict, precise and technical execution of the work. The language and cultural barriers do not seem to have compromised the Exchange and the work system in counterparts.

Descriptors:
Nursing; Nursing History; International Cooperation; Nursing Services; Health Personnel

RESUMEN

Objetivo:

Comprender la estructuración, el funcionamiento del Servicio de Enfermería del buque hospital SS HOPE y las relaciones entre la Enfermería norteamericana y la norte-rio-grandense.

Método:

Investigación cualitativa, socio-histórica, realizada a partir de consultas a fuentes documentales y orales.

Resultados:

El análisis llegó a las categorías: El Proyecto HOPE - impresiones de sus enfermeras y La Enfermería del buque hospital SS HOPE - impresiones brasileñas. Estas categorías revelaron un Servicio de Enfermería similar al de un hospital general, ordenado por escalas y que funcionaba ininterrumpidamente en los tres turnos.

Consideraciones finales:

El Servicio de Enfermería estaba compuesto exclusivamente de enfermeras, obedecía a un sistema de jerarquía con acumulación de funciones administrativas y asistenciales, la ejecución del trabajo se realizaba de manera rígida, precisa y técnica, y las barreras idiomáticas y culturales parecen no haber comprometido el intercambio y el sistema de trabajo en contrapartes.

Descriptores:
Enfermería; Historia de la Enfermería; Cooperación Internacional; Servicios de Enfermería; Personal de la Salud

INTRODUÇÃO

O Projeto HOPE correspondeu a uma iniciativa da política externa do governo norte-americano – em tempos da Guerra Fria, caracterizada pela polarização política, econômica e social entre as potências na luta pela hegemonia mundial – que utilizou o navio-hospital SS HOPE, conhecido popularmente como Navio Esperança, para levar ajuda humanitária, promover ações à saúde e realizar intercâmbio profissional em países em desenvolvimento. De caráter filantrópico, o projeto foi fundado e presidido pelo médico William B. Walsh, responsável por angariar recursos e recrutar profissionais de saúde – médicos, enfermeiras, dentistas, técnicos – de diversas especialidades, para o trabalho voluntário(11 Barnes RW. The hospital ship HOPE. Med Arts Sci. 1969; 23(3): 41-43.-22 Peake JB. The Project HOPE and USNS Mercy Tsunami Experiment. Military Medicine [Internet]. 2006 [cited 2017 Jan 21]; 171(10):27-29. Available from: http://militarymedicine.amsus.org/doi/pdf/10.7205/MILMED.171.1S.27.pdf
http://militarymedicine.amsus.org/doi/pd...
).

A serviço da People to People Foundation, esse navio-hospital realizou cruzeiros (1960-1973) na Indonésia e Vietnã do Sul (1960), Peru (1962-63), Equador (1963-64), Guiné (1964-65), Nicarágua (1966), Colômbia (1967), Ceilão (1968-69), Tunísia (1969-70), Índias Ocidentais (1971) e Brasil – Natal (1972) e Maceió (1973) – neste caso, considerado um feito inédito na história do Projeto HOPE duas viagens ao mesmo país(33 HOPE chegou e recebeu as boas vindas de milhares de natalenses. Diário Oficial do Rio Grande do Norte. 1972a Fev 12. Ano 77, n. 2.493:A:1.-44 Costa LMC, Santos RM, Santos TCF, Trezza MCSF, Leite JL. Project HOPE contribution to the setting up of the professional identity of the first nurses from Alagoas, 1973-1977. Rev Bras Enferm [Internet]. 2014 [cited 2017 Jan 22]; 67(4):535-542. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/0034-7167-reben-67-04-0535.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/003...
).

Quando em Natal, capital do Rio Grande do Norte (RN), introduziu o sistema de trabalho entre contrapartes para favorecer o intercâmbio técnico-profissional entre norte-americanos e norte-rio-grandenses. Desse modo, as atividades desenvolvidas pela Enfermagem só poderiam ser efetivadas, fosse no navio-hospital ou em instituições públicas de saúde do RN, com a participação de profissionais de ambas as nacionalidades(55 "HOPE" chega a Natal na quarta-feira de cinzas. Diário Oficial do Rio Grande do Norte. 1972b Fev 8. Ano 77, n.4.488:A1.-66 Adeus ao HOPE. A República. 1972 Dez 7: Ano LXXXIV, n.512:A1.).

Diante do exposto, o marcador temporal deste estudo corresponde ao período de 10 meses – 16 de fevereiro a 6 dezembro de 1972 –, referentes à permanência do navio em Natal/RN. Portanto, a realização deste manuscrito assume relevância pelo seu ineditismo, pela contemporaneidade dos fatos e por contribuir para a história do RN, da Enfermagem norte-rio-grandense e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

OBJETIVO

Compreender a estruturação, o funcionamento do Serviço de Enfermagem do navio-hospital SS HOPE e as relações entre a Enfermagem norte-rio-grandense e a norte-americana.

MÉTODO

Aspectos éticos

Este manuscrito é resultado de projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPES), da Universidade Federal de Santa Catarina.

Referencial teórico e tipo de estudo

Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, de abordagem sócio-histórica, fundamentado nas bases filosóficas da Nova História. Sob essa ótica, tornou-se possível a realização de um estudo dinâmico, sistemático, crítico e contextualizado, com o qual se buscou a explicação, a descrição, a compreensão dos fatos históricos, das atividades humanas e das relações sociais(77 Padilha MI, Borestein MS, Bastini J, Zytkuewisz GV, Lessmann JC. As fontes historiográficas em pauta: a história oral e a pesquisa documental. In: Borenstein MS, Padilha MI. Enfermagem em Santa Catarina: recortes de uma história. Florianópolis, SC: Secco; 2011. p. 37-55.).

A utilização desse aporte teórico propiciou revisitar um passado recente, de suma importância para a história da enfermagem e da saúde norte-rio-grandense e trouxe à tona fragmentos de acontecimentos importantes sobre o Projeto HOPE – objeto deste estudo –, assim como revelou personagens anônimos, que, recorrendo às suas memórias, contribuíram para o registro dos acontecimentos.

Procedimentos metodológicos

A realização desta pesquisa compreendeu dois momentos: primeiro, o envio de Cartas de Anuências a arquivos institucionais; segundo, a realização de entrevistas semiestruturadas com 14 colaboradores: quatro enfermeiras norte-americanas do Projeto HOPE, três enfermeiras professoras da Escola de Auxiliares de Enfermagem de Natal, hoje Escola de Saúde da UFRN (ESUFRN), uma enfermeira do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), dois Auxiliares de Enfermagem do HUOL, duas ex-alunas da Escola de Enfermeiras de Mossoró/RN, um médico professor da Faculdade de Medicina/UFRN e um odontólogo professor da Faculdade de Odontologia/UFRN. Esses colaboradores atenderam aos critérios de participação no Projeto HOPE e desenvolveram atividades no sistema de contrapartes.

A realização das entrevistas sucedeu à apresentação, leitura, esclarecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente à sua transcrição, as entrevistas foram devolvidas aos participantes para oportunizar a verificação e a correção de equívocos, momento em que se apresentou e foi assinado o Termo de Cessão do Depoimento pelos participantes. As entrevistas tiveram uma média de 64 minutos de duração e foi consensual a identificação dos colaboradores pelos sobrenomes.

Cenário do estudo

Diz respeito às atividades laborais desenvolvidas entre profissionais de saúde – brasileiros e norte-americanos – nas dependências do navio-hospital SS HOPE, do Hospital Universitário Onofre Lopes/UFRN e em instituições públicas de saúde de Natal/RN, no ano de 1972.

Fonte de dados

Este estudo foi elaborado a partir de consultas a fontes documentais e a fontes orais.

Coleta e organização dos dados

Consultas a serviços de arquivo, entre janeiro e abril/2013, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; do Arquivo Geral do Estado; da Associação Brasileira de Enfermagem/RN; do HUOL; do Departamento de Enfermagem/UFRN; da ESUFRN; do Serviço de Arquivo da Assembleia Legislativa/RN; dos jornais Tribuna do Norte e A República.

Entrevistas nos meses de janeiro a julho/2014 com quem vivenciou a história do Projeto HOPE.

Análise dos dados

A análise e a interpretação dos dados foram realizadas por meio da Análise Temática(88 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, SP: HUCITEC; 2010.), e desse processo emergiram as seguintes categorias: O Projeto HOPE: impressões de suas enfermeiras e A Enfermagem do navio-hospital SS HOPE: impressões brasileiras.

RESULTADOS

O Projeto HOPE: impressões de suas enfermeiras

Esta seção registra a motivação para participar do Projeto HOPE, o processo seletivo e algumas impressões das enfermeiras norte-americanas sobre o Brasil. Quanto a isso:

Nos anos 1960-70, nos Estados Unidos, existiam projetos voluntários que ajudavam países em desenvolvimento. (CAMPOS)

Eu era jovem e queria trabalhar fora dos Estados Unidos [...] certa vez, conversei com uns médicos do Projeto HOPE [...] fiquei bastante motivada. (MASSON)

Desejava conhecer outras culturas e idiomas [...] me inscrevi para o Voluntário da Paz e para o Projeto HOPE [...] optei pelo Projeto HOPE, em Natal, no Brasil. (BRITO)

A ciência das atividades do Projeto HOPE parece ter sido imprescindível ao ingresso à instituição. Seguem algumas informações sobre o processo seletivo e os critérios de contratação.

Fui entrevistada, em Seattle, Washington, pela diretora de Enfermagem do Projeto Hope, Dorothy Aeschliman, em 1970 [...] tive a sorte de ser contratada. (MASSON)

Era critério comprovar experiência profissional. (REDDING)

Eu tinha experiência em UTI [...] acredito que isso tenha sido determinante a minha contratação. (CAMPOS)

Como a participação no Projeto HOPE era voluntária, as viagens a países da África, América Latina e Ásia podem ter se convertido em atrativos para muitos profissionais. No que concerne às informações acerca do Brasil, seguem os seguintes depoimentos:

Não tínhamos muitas informações [...] sabíamos das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, da floresta amazônica e da ditadura militar. (CAMPOS)

[...] da produção de café, da Bossa Nova e que o idioma era o português [...] sabia que Natal tinha sido uma importante base aérea norte-americana durante a II Guerra Mundial. (BRITO)

Segundo a avaliação de suas enfermeiras, o Projeto HOPE teve como desdobramento positivo:

As amizades [...] o conhecimento do sistema de saúde americano e o compartilhamento de práticas assistenciais [...] doação de recursos à continuidade de alguns programas clínicos e educacionais implantados por onde passou. (MASSON)

Servir de modelo para outros povos e como embaixadores americanos de boa vontade. (REDDING)

Apesar de ser um navio-hospital, seu funcionamento era nos moldes dos hospitais norte-americanos [...] serviu como modelo [...] havia enfermeiras em todas as unidades de internação [...] cumpríamos horário igual ao dos hospitais nos Estados Unidos, em três turnos: das 07h às 15h, das 15h às 23h e das 23h às 07h, de segunda a segunda, inclusive nos feriados. (CAMPOS)

A Enfermagem do navio-hospital SS HOPE: impressões brasileiras

Para as enfermeiras e auxiliares norte-rio-grandenses, o intercâmbio foi a oportunidade de trocar conhecimentos, experiências e de conhecer outra realidade assistencial.

Comentava-se que a Enfermagem do navio era composta por enfermeiras graduadas, e que, entre elas, havia especialistas [...] elas eram atentas, esforçadas e procuravam saber tudo sobre o paciente [...] desfrutavam de prestígio e confiança. (MOURA)

Apesar de falarem mal o português, focavam na qualidade do serviço. (CARVALHO)

A assistência de Enfermagem era prestada por norte-americanas e brasileiras [...] era uma rotina igual a qualquer hospital: escalas, atribuições, passagem de plantão, prescrições médicas, horários de medicamentos, cuidados, etc. (LEITE)

Os recursos eram fartos e havia muita gente para assistir os pacientes [...] elas tinham uma divisão do trabalho bem rigorosa [...] a passagem de plantão era um ato quase solene [...] existiam graduações entre as enfermeiras americanas. (GERMANO)

Toda equipe cumpria, rigorosamente, os horários e programações. (VILA NOVA)

Sobre o trabalho das enfermeiras do navio-hospital SS HOPE, importa registrar que atuaram na assistência à saúde e na educação em saúde. Acerca disso, a seguir, alguns relatos versam sobre a desempenho dessas profissionais.

No Centro Cirúrgico do Hospital Universitário, o Projeto HOPE favoreceu a revisão de nossas rotinas, protocolos e bandejas [...] Dona Nadir Vila Nova e Susan Jane Betts criaram a Central de Material Esterilizado dentro do Centro Cirúrgico, do Hospital Universitário [...] melhoramos nossa comunicação sobre o paciente, sua admissão ao setor e passamos a detalhar mais sobre a cirurgia: início e fim da anestesia; descrição do ato cirúrgico; registro da equipe responsável [...] o circulante passou a ser o responsável pela burocracia. (ARAÚJO SILVA)

Elas trouxeram ensinamentos e desenvolveram atividades no Hospital Universitário, no Hospital Infantil Varela Santiago e em comunidades carentes de Natal. (COELHO)

No Hospital Infantil Varela Santiago, a enfermeira Kay Burwell prestou serviços extremamente relevantes [...] acrescentou ensinamentos à Enfermagem. (SOARES)

A enfermeira dental, Elaine Neenan, vinculou-se à Graduação em Odontologia/UFRN, com participação de destaque [...] ajudou na elaboração e execução de cursos para formação de recursos humanos auxiliares em Odontologia que continuam sendo realizados até os dias atuais. (ALBUQUERQUE)

Apesar das contribuições e do clima cooperativo, as atividades laborais impuseram a superação de desafios. Sobre isso, assim registraram alguns colaboradores:

Quando na UTI do navio, certo dia, ao ajudar uma auxiliar de Enfermagem, minha funcionária no Hospital Universitário, fui imediatamente, repreendida por uma colega norte-americana [...] peguei-a pelo punho e fomos conversar, em reservado, sério e baixinho [...] isso resultou em uma reunião com a cúpula administrativa do navio-hospital, mesmo assim eu permaneci na UTI aprendendo as rotinas. (LEITE)

Tive dois aborrecimentos [...] certa vez fui chamada à atenção por causa de uma mecha do meu cabelo que estava fora do gorro, e, em outra, por causa da negativa de substituição, para eu ir ao banheiro e beber água, ao instrumentar uma neurocirurgia por mais de 4 horas [...] isso rendeu a maior confusão, mesmo assim dei continuidade as minhas atividades no Centro Cirúrgico do navio [risos]. (VILA NOVA)

As enfermeiras norte-americanas vestiam roupas brancas dentro e fora das unidades de saúde [...] para nós a roupa branca era roupa de trabalho [...] isso não foi positivo [...] depois da passagem do navio, muitos aderiram por ser mais prático. (COELHO)

Mas o convívio humano também possibilita momentos de aproximação. Na particularidade da permanência do navio-hospital HOPE em Natal/RN, no ano de 1972, os episódios que se seguem revelam outras facetas do intercâmbio.

Eram duas folgas por semana e dois finais de semanas livres, por mês [...] eu gostava de ir à praia, ao cinema e à igreja [...] jantava fora com a amiga [...] sempre que dava, eu ia a Recife/PE. (CAMPOS)

Certa vez, cruzamos o rio Potengi de barco e fomos à praia da Redinha com algumas enfermeiras do navio HOPE [...] elas eram descontraídas, gostavam de cerveja, de brincar e de ouvir nossas músicas [...] perguntavam muitas coisas sobre o Brasil [...] às vezes ensinávamos coisas erradas para sorrir, tudo brincadeira. (CARVALHO)

Todos os dias, a partir das 17h, havia o happy hour , no convés do navio [...] confraternizavam os que estavam lá ou os que iam só para isso. (SOARES)

O sanfoneiro Zé Menininho tocava forró e animava o pessoal. (ARAÚJO SILVA)

Foi um tempo bom, com namoros iniciados, casamentos realizados, noivados acabados e muitas brigas de casais, também [risos]. (COSTA)

DISCUSSÃO

A motivação impulsiona as pessoas a descortinarem horizontes e a vislumbrarem novas conquistas, tornando-as estimuladas a prosseguir ao alcance de seus desejos e objetivos, mantendo-as animadas e esperançosas para superar obstáculos e seguir suas vidas de forma positiva(99 Bianch E. Motivação pessoal e profissional. São Paulo, SP: Fundação Perseu Abramo; 2012.).

Dessa maneira, as enfermeiras norte-americanas esclareceram algumas motivações e como se inteiraram das atividades do Projeto HOPE. Enfatizaram a participação voluntária e a crença de que os projetos norte-americanos, de ajuda humanitária, corriqueiros nos anos de 1960-70, tinham sido atraentes aos profissionais de saúde, muito provavelmente pela oportunidade de viajar, de conhecer outras culturas, aprender idiomas diferentes e vivenciar outras realidades de assistência à saúde. No que se refere à Enfermagem, percebe-se a composição de um quadro exclusivo de enfermeiras jovens, mas com comprovada experiência profissional.

Na visão dessas profissionais, o Projeto HOPE foi uma iniciativa positiva centrada na aproximação e cooperação entre os povos e que cumpriu, com sucesso, seus objetivos ao promover ações humanitárias, compartilhar conhecimentos, disponibilizar recursos e implantar projetos clínicos e educacionais em países nos quais passou. As participantes prosseguem afirmando que tal projeto contribuiu para o desenvolvimento da Enfermagem e que instrumentalizou profissionais para dar continuidade a ele.

A cooperação internacional está associada ao contexto político-econômico e envolve estratégias de ordens nacional e internacional. Por exemplo, no Brasil, a experiência com a Fundação Rockefeller no século XX, idealizada para planejar e desenvolver ações de saúde pública, também contribuiu para a reorganização das instituições públicas de saúde, instalação de programas sanitários rurais e capacitação profissional. Quanto a isso, pode-se destacar: Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem (1921-31); implantação do modelo anglo-americano de formação de enfermeiras (1923); construção, na Universidade de São Paulo, da Faculdade de Medicina (1931) e da Escola de Enfermagem (1942)(1010 Kobayashi E, Faria L, Costa MC. Eugenia e Fundação Rockefeller no Brasil: a saúde como proposta de regeneração nacional. Sociologias [Internet]. 2009 [cited 2017 Jan 10]; 11(22):314-51. Available from: http://www.scielo.br/pdf/soc/n22/n22a12.pdf
http://www.scielo.br/pdf/soc/n22/n22a12....
-1111 Oguisso T, Freitas GF, Takashy MH. Edith Magalhaes Fraenkel: the greatest figure of Brazilian Nursing. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 19]; 47(5):1219-26. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n5/pt_0080-6234-reeusp-47-05-1219.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n5/pt...
).

Mas, se o intercâmbio técnico-científico aproxima povos e nações sob o discurso da solidariedade, também pode dissimular interesses comerciais, políticos, econômicos e culturais, bem como estar vinculado à compra e venda de materiais e equipamentos e à qualificação de recursos humanos locais necessários à execução de atividades(1212 Santos RF, Cerqueira MR. South-South Cooperation: Brazilian experiences in South America and Africa. Hist Ciênc Saúde-Manguinhos [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 19]; 22(1):23-47. Available from: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v22n1/0104-5970-hcsm-22-01-00023.pdf
http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v22n1/0104...
).

No caso da vinda do Projeto HOPE ao Brasil, deduz-se que o contexto das relações internacionais, marcado pela Guerra Fria, Revolução Cubana e instabilidade política na América Latina, bem como as proporções territoriais continentais do Brasil, seu contingente populacional, seus recursos naturais e sua localização geográfica estratégica – a exemplo do ocorrido na II Guerra Mundial, quando o governo norte-americano utilizou bases militares no Nordeste brasileiro – podem ter sido decisivos. Essa conjuntura, possivelmente, contribuiu para a vinda do navio-hospital SS HOPE a Natal/RN (1972) e Maceió/AL (1973).

As enfermeiras norte-americanas são lembradas pela habilidade, competência e dedicação ao serviço. Características como obediência, submissão, religiosidade e disciplina, consideradas atributos natos das mulheres, têm acompanhado com muita proximidade a história da Enfermagem, profissão essencialmente feminina relacionada à prestação do cuidado aos doentes. Importa dizer que análises sobre estereótipos relacionados às profissões femininas se converteram em objeto de estudos multicêntricos com o propósito de compreender os fatores socioculturais para a reversão dos preconceitos(1313 Almeida DB, Queirós PJP, Silva GTR, Laitano ADC, Almeida SS. Sexist stereotypes in portuguese nursing: a historical study in the period 1935 to 1974. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 14]; 20(2):228-35. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v20n2/en_1414-8145-ean-20-02-0228.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v20n2/en_14...

14 Marti B. Minoria de hombre en la profesión de enfermeira: reflexiones sobre su historia, imagen y evolución en España. Enferm Global [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 14]; 37:328-34. Available from: http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v14n37/reflexion1.pdf
http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v14n37/re...
-1515 Pérez RER, Hernández ML. El análisis de las diferencias salariales y discriminación por género por áreas profesionales en México, abordado desde un enfoque regional, 2015. Estud Soc [Internet]. 2017 [cited 2017 Apr 14]; 27(49):121-50. Available from: http://www.scielo.org.mx/pdf/estsoc/v27n49/0188-4557-estsoc-27-49-00121.pdf
http://www.scielo.org.mx/pdf/estsoc/v27n...
).

Como profissão, a Enfermagem é reconhecida desde o século XIX, e Florence Nightingale é a sua principal representante. Na atualidade, a Enfermagem é desenvolvida por trabalhadores especializados, dispõe de entidades associativas e representativas e tem por incumbência a produção de conhecimentos que fundamentem ações de cuidado, tecnicamente seguros e responsáveis, que promovam a vida e o bem-estar(1616 Santos BP, Ferreira GB, Soares MC, Meincke SMK. Ensino de enfermagem no Brasil: do advento do sistema Nightingale ao cenário científico. Hist Enferm Rev Eletron [Internet]. 2014 [cited 2017 Jan 21]; 5(2):310-22. Available from: http://www.here.abennacional.org.br/here/vol5num2artigo11.pdf
http://www.here.abennacional.org.br/here...

17 Salviano MEM, Nascimento PDFS, Paula MA, Vieira CS, Frison SS, Maia MA, et al. Epistemology of nursing care: a reflection on its foundations. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 69(6):1172-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_0034-7167-reben-69-06-1240.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_...
-1818 Medeiros ABA, Enders BC, Lira ALBC. The Florence Nightingale's Environmental Theory: a critical analysis. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 19]; 19(3):518-24. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n3/en_1414-8145-ean-19-03-0518.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n3/en_14...
).

Ainda sobre as impressões norte-rio-grandenses, ressalta-se o rigor com que as norte-americanas trabalhavam – informações precisas, cumprimento de rotinas, prestação de cuidados, horários, exames, medicações –, tudo bem controlado, deixando transparecer a imagem de profissionais competentes, com domínio de conhecimentos e técnicas. Cabe relembrar que as ações assistenciais eram desenvolvidas no sistema de trabalho em contrapartes, ou seja, executadas entre profissionais de Enfermagem dos dois países aqui em destaque.

Tais depoimentos asseguram que o Serviço de Enfermagem do navio-hospital SS HOPE era composto, exclusivamente, de enfermeiras e que se estruturava segundo uma hierarquia. De acordo com os colaboradores, o navio-hospital dispunha de diferentes setores de internações, e todos eles contavam com o gerenciamento de enfermeiras com as quais as brasileiras trabalharam. Quanto à realidade da Enfermagem norte-rio-grandense do Hospital Universitário e das instituições públicas de saúde, à época, cabe informar que eram constituídas por enfermeiras, auxiliares, religiosas e atendentes de enfermagem, em maior quantitativo(1919 Carlos DJD, Germano RM. A escola de auxiliares de enfermagem de Natal e o Hospital Universitário Onofre Lopes. Rev Rene [Internet]. 2009 [cited 2017 Jan 21]; 10(1):1-165. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/vol10n1_html_site/a08v10n1.htm
http://www.revistarene.ufc.br/vol10n1_ht...
-2020 Carlos DJD, Germano RM, Padilha MI. Participação de religiosas na composição do serviço de enfermagem em um hospital universitário (1909-2005). Rev Rene [Internet]. 2014 [cited 2017 Jan 20]; 15(3):411-9. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/viewFile/1532/pdf
http://www.revistarene.ufc.br/revista/in...
).

Apesar das diferenças culturais e estruturais existentes entre os Serviços de Enfermagem, as falas possibilitaram identificar semelhanças, como: presença de uma coordenadora geral ou chefe do serviço; desempenho de funções de acordo com a hierarquia; trabalho rigoroso, dividido entre atividade administrativas e assistenciais; turnos sequenciados e ininterruptos; e rotinas, como escalas de serviço, atribuições, passagem de plantão, abertura e conferência de horários de medicamentos e cuidados de Enfermagem.

O rigor e a exigência no trabalho podem ser vistos como elementos contribuintes para o aumento das tensões. Tomando como exemplos os eventos ocorridos na UTI e no Centro Cirúrgico, estes e outros contratempos podem ser minimizados por meio da comunicação harmoniosa, integração do trabalho e capacitação profissional, aliadas ao conhecimento das relações humanas e à administração dos conflitos advindos da diversidade dos profissionais.

Os relatos norte-rio-grandenses registraram que as norte-americanas atuaram em distintas instituições e serviços públicos – federal, estadual e municipal – de saúde. Vale observar que tais ações cumpriram as premissas do intercâmbio e que podem ser tidas como vivências positivas diante da criação de novos espaços de reorientação à formação em saúde(2121 Leal JA, Melo CMM, Veloso RBP, Juliano IA. New reorientation spaces for healthcare education: students' experiences. Interface [Internet]. 2015 [cited 2017 Jan 21]; 19(53):361-71. Available from: http://www.scielo.br/pdf/icse/v19n53/en_1807-5762-icse-19-53-0361.pdf
http://www.scielo.br/pdf/icse/v19n53/en_...
). Esses ambientes, colaborativos e interativos, de troca de conhecimentos e experiências, tornam a aprendizagem mais significativa quando planejados de acordo com a cientificidade das ações e com o propósito de promoção do conhecimento científico para o avanço da profissão(2222 Silva LTC, Diniz FA, Gontijo TL, Machado RM, Cavalcante RB. Percepções de estudantes de enfermagem sobre educação à distância. Ciênc Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 14]; 22(2):129-39. Available from: http://www.scielo.cl/pdf/cienf/v22n2/art_10.pdf
http://www.scielo.cl/pdf/cienf/v22n2/art...
).

Nessa perspectiva, o trabalho cooperativo constitui-se em um valoroso instrumento de desenvolvimento a partir do intercâmbio de conhecimento, troca de experiências e apoio mútuo entre instituições e nações. Esse instrumento pode ser utilizado em distintos campos das atividades humanas, com vistas à implantação de novos serviços ou cooperação técnica, porém, sempre com o compartilhamento de responsabilidades. Como tal, atende a interesses diversos, e é um fenômeno corriqueiro entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, principalmente, na área de formação de recursos humanos e materiais(2323 Campos ALV. Cooperação internacional em saúde: o serviço especial de saúde pública e seu programa de enfermagem. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2008 [cited 2017 Jan 20]; 13(3):879-88. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v13n3/10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v13n3/10.pd...
).

Constatou-se, pois, que o trabalho das enfermeiras norte-americanas estava relacionado à assistência à saúde – navio-hospital, Hospital Universitário e serviços de saúde pública de Natal – e à formação de recursos humanos – faculdade de Odontologia/UFRN. Essas frentes de trabalho findaram por contribuir para a construção de uma imagem profissional competente. As lembranças de nomes como os de Susan Jane Betts, Kay Burwell e Elaine Neenan dão a convicção da realização de um trabalho com bons resultados.

Ainda sobre o trabalho das norte-americanas, os relatos permitiram deduzir, considerando as duas folgas por semana e os dois finais de semana livres por mês, que, naquele tempo, início da década de 1970, elas cumpriam uma jornada de trabalho semanal de 36 horas. Na realidade brasileira, a Enfermagem vem reivindicando, há décadas, uma jornada de 30 horas semanais e acumulando decisões negativas desde as presidências de Café Filho, João Baptista Figueiredo, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff, nos anos de 1955, 1983, 1995 e 2012, respectivamente(2424 COREN-SP. 30 horas: há 57 anos Enfermagem ouve não. Enferm Rev [Internet]. 2012[cited 2017 Jan 19]:12-18. Available from: http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/01-30-horas.pdf
http://www.coren-sp.gov.br/sites/default...
).

Tal reivindicação objetiva atender às recomendações da Organização Internacional do Trabalho e se relaciona, diretamente, com a qualidade de vida dos profissionais de Enfermagem. Espera-se com isso a prestação da assistência à saúde segura e com boa qualificação, a diminuição do absenteísmo e das licenças, a redução da pressão e do sofrimento no trabalho, a minimização da exposição a agentes biológicos, químicos, físicos, mecânicos, fisiológicos e psiquiátricos, ou seja, o favorecimento do bom funcionamento da força de trabalho da Enfermagem(2525 Pires D, Lopes MGD, Silva MCN, Lorenzetti J, Peruzzo AS, Bresciani HR. Jornada de 30 horas semanais: condição necessária para assistência de enfermagem segura e de qualidade. Enferm Foco [Internet]. 2010[cited 2017 Jan 19];1(3);114-8. Available from: http://revista.portalcofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/182/119
http://revista.portalcofen.gov.br/index....

26 Maciel MED, Oliveira FN. Qualidade de vida do profissional técnico de enfermagem: a realidade de um hospital filantrópico em Dourados-MS. Rev Psicol Saúde [Internet]. 2014 [cited 2017 Jan 19]; 6(1):83-9. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpsaude/v6n1/v6n1a11.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpsaude/v6...
-2727 Felli VEA. Condições de trabalho de enfermagem e adoecimento: motivos para a redução da jornada de trabalho para 30 horas. Enferm Foco [Internet]. 2012 [cited 2017 Jan 20]; 3(4):178-81. Available from: file:http://revista.portalcofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/379/170
http://revista.portalcofen.gov.br/index....
).

Sobre os momentos de folga e lazer, constatou-se que os encontros de final de tarde no convés do navio-hospital, sob a animação do forró, eram habituais, e que se converteram em espaço para a socialização entre os participantes do intercâmbio. Desses momentos frutificaram amizades, discórdias, bons relacionamentos e, até, casamentos, como informou uma colaboradora.

Por fim, a partir do que foi possível registrar, depreende-se a existência da boa vontade em aparar as arestas, pois, apesar dos percalços, o intercâmbio prosseguiu sem maiores comprometimentos e com a manutenção do trabalho entre contrapartes. Provavelmente, as dificuldades idiomáticas tenham contribuído para o surgimento de tais contratempos, uma vez que a comunicação era prejudicada e ineficiente, como alguns colaboradores destacaram.

Limitações do estudo

Dizem respeito à pequena produção de estudos históricos relacionados à enfermagem e à saúde do Rio Grande do Norte, à dificuldade em localizar personagens norte-americanos dessa história e à precarização dos serviços de arquivo quanto à conservação do acervo. Apesar disso, tais limitações não afetaram a qualidade das informações alcançadas.

Contribuições para a área de enfermagem, saúde ou política pública

Espera-se que este estudo tenha alcançado seus objetivos e que se converta em estímulos à realização de novas pesquisas sobre a história da profissão da saúde e do Rio Grande do Norte. Importa reiterar a importância do Projeto HOPE e seus desdobramentos junto aos serviços de saúde pública no estado, assim como destacar que esse Projeto representou mais uma aproximação ente a enfermagem norte-americana e a brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto HOPE foi um programa da política externa norte-americana, em tempos de Guerra Fria, que utilizou o navio-hospital SS HOPE para levar ajuda humanitária e favorecer intercâmbio profissional com países em desenvolvimento, segundo a premissa de aproximação entre os povos.

Conforme informaram as enfermeiras participantes do estudo, o processo seletivo realizava-se, basicamente, em três momentos: inscrição, realização de entrevista e análise curricular, com ênfase na comprovação de experiência profissional. Na avaliação dessas colaboradoras, o Projeto HOPE cumpriu, positivamente, sua missão por meio da cooperação técnico-educacional, compartilhando conhecimentos, recursos e implantando e executando projetos de educação à saúde nos países por onde passou.

Na visão da Enfermagem brasileira, as norte-americanas eram habilidosas, demonstravam ter domínio técnico, e a ênfase de sua prática profissional era a realização de afazeres. Quanto a isso, os depoimentos fazem crer que o convívio e o intercâmbio teriam sido mais tranquilos e proveitosos se tivessem assegurado aos profissionais participantes momentos para a troca de saberes e experiências. Ficou a impressão de que as enfermeiras estrangeiras adotaram uma postura de liderança equivocada, na qual, por altivez ou desconhecimento do contexto da Enfermagem norte-rio-grandense e das práticas locais de saúde, assumiram o comando das ações, cabendo às brasileiras a obediência e a execução das ordens. Certamente, as norte-rio-grandenses, cientes da implementação das Teorias de Enfermagem nos Estados Unidos nos idos de 1950-60, ansiavam por discutir questões pertinentes aos processos de enfermagem. Deduz-se, pois, que esse convívio manteve-se centrado na prática assistencial, ou seja, limitado à execução de tarefas.

Acerca do universo laboral da Enfermagem, considerando as diferenças culturais, de formação e as rotinas de serviço, era presumível o surgimento de tensões. Apesar de alguns episódios terem vindo à tona, supõe-se que foram facilmente contornados e que não constituíram nenhum empecilho à continuidade do intercâmbio profissional, dando a entender que os ânimos foram controlados, e as atividades prosseguiram. Essa suposição assume relevo nos relatos dos happy hours acontecidos diariamente no convés do navio-hospital, em clima de confraternização e descontração, conforme registram os depoimentos.

Por fim, espera-se que esta pesquisa contribua para a compreensão da permanência do navio-hospital HOPE em Natal/RN, no ano de 1972, as nuances do intercâmbio profissional, assim como possa fomentar a realização de novos estudos relacionados à história norte-rio-grandense e da própria UFRN.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2018

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2017
  • Aceito
    26 Jun 2017
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