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Consumo de álcool, qualidade de vida, Intervenção Breve entre universitários de Enfermagem

RESUMO

Objetivos:

Avaliar o padrão de consumo de álcool, o impacto da Intervenção Breve (IB) e a qualidade de vida (QV) de universitários de Enfermagem.

Método:

Estudo prospectivo longitudinal realizado com informações sociodemográficas, econômicas, ingesta de bebidas alcoólicas, IB e avaliação da QV de 281 universitários de Enfermagem. Aplicados questionários; realizada palestra e discutido sobre padrão de consumo, entregue material informativo após reavaliação dos universitários e reforço da IB. Realizada estatística descritiva e analítica.

Resultados:

Já ingeriram álcool 90% dos universitários e 20,6% faziam uso abusivo/nocivo associado significativamente à menor idade do primeiro uso. Após IB, diminuiu significantemente o consumo de álcool entre universitários. Vitalidade, estado geral de saúde e aspectos emocionais dos universitários estavam diminuídos e a saúde mental significativamente menor entre universitários que bebiam.

Conclusão:

A IB contribuiu com a diminuição do consumo de bebidas alcoólicas e na promoção da saúde.

Descritores:
Consumo de Bebidas Alcoólicas; Estudantes; Enfermagem; Promoção da Saúde; Qualidade de Vida

ABSTRACT

Objective:

To evaluate nursing university students’ alcohol consumption patterns, Brief Intervention and Quality of Life (QoL).

Method:

This is a prospective and longitudinal study containing sociodemographic, economic information concerning alcoholic beverages, BI and QoL evaluation among 281 nursing university students. Since surveys have been applied, seminars have been given and consumption patterns have been discussed, an educational material was delivered after university students’ revaluation and BI reinforcement. Descriptive and analytical statistics have been conducted.

Results:

90% of the students have already consumed alcohol and 20.6% that consumed for the first time and abused alcohol were minors. After the implementation of BI, the alcohol consumption has decreased among university students. Besides the vitality, generate state of health, and emotional aspects have decreased, mental health was substantially low among the students that used to drink.

Conclusion:

BI contributes to decrease alcoholic beverages consumption and promotes health.

Descriptors:
Alcohol Consumption; Students; Nursing; Health Promotion; Quality of Life

RESUMEN

Objetivos:

Evaluar el patrón de consumo de alcohol, el impacto de la Intervención Breve (IB) y la calidad de vida (CV) de universitarios de Enfermería.

Método:

Estudio prospectivo longitudinal realizado con informaciones sociodemográficas y económicas, la ingesta de bebidas alcohólicas, la IB y la evaluación de la CV de 281 universitarios de Enfermería. Se han aplicado cuestionarios, realizado una conferencia y debatido el patrón de consumo de alcohol. Se entregó material informativo tras la reevaluación de los universitarios y refuerzo de la IB. Se realizó una estadística descriptiva y analítica.

Resultados:

Ya ingirieron alcohol el 90% de los universitarios y el 20,6% lo hacían uso abusivo/ nocivo, asociado significativamente a la más corta edad del primer uso. Tras la IB, el consumo del alcohol disminuyó notablemente entre los universitarios. La vitalidad, el estado general de salud y los aspectos emocionales de los universitarios estaban disminuidos y la salud mental significativamente más baja entre los que bebían.

Conclusión:

La IB ha contribuido con la disminución del consumo de bebidas alcohólicas y la promoción de la salud.

Descriptores:
Consumo de Bebidas Alcohólicas; Estudiantes; Enfermería; Promoción de la Salud; Calidad de Vida

INTRODUÇÃO

O álcool é a substância psicoativa mais utilizada no mundo(11 United Nations. Office of Drugs and Crime. World Drug Report 2013 [Internet]. Vienna (Austria): United Nations; 2013 [cited 2017 May 20]. 151 p. Available from: https://www.unodc.org/unodc/secured/wdr/wdr2013/World_Drug_Report_2013.pdf
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), cresce o seu consumo e a prevalência entre universitários brasileiros(22 Silva ML, Rego FS, Roque NF, Valenti VE. Use of psychoactive substances in students at a public university. ABCS Health Sci [Internet]. 2014 [cited 2017 May 20]; 39(3):160-6. Available from: https://www.portalnepas.org.br/abcshs/article/view/650/649
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-33 Brasil. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. I Levantamento Nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras [Internet]. Brasília: SENAD; 2010 [cited 2017 May 20]. 282 p. Available from: http://www.grea.org.br/userfiles/GREA-ILevantamentoNacionalUniversitarios.pdf
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), os quais vivenciam mudanças e experiências no convívio social, distanciam-se da família, passam grande parte do tempo na universidade e têm liberdade e autonomia para as decisões. Essa fase é crítica e vulnerável para início e manutenção do consumo de bebidas alcoólicas, que pode passar a ser frequente e intenso, quando comparado ao consumo da população em geral(33 Brasil. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. I Levantamento Nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras [Internet]. Brasília: SENAD; 2010 [cited 2017 May 20]. 282 p. Available from: http://www.grea.org.br/userfiles/GREA-ILevantamentoNacionalUniversitarios.pdf
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-44 Baumgarten LZ, Gomes VL, Fonseca AD. [Alcohol consumption among university students in the health area of Federal University of Rio Grande/RS: subsidy to the nursing]. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 16(3):530-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n3/15.pdf Portuguese
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).

O consumo excessivo de álcool aumenta a incidência de doenças, acarreta problemas sociais, psíquicos, violência urbana e interfere na qualidade e expectativa de vida. Abordagens terapêuticas como Intervenções Breves (IB) podem aumentar a expectativa de vida, reduzir custos sociais e os cuidados com a manutenção da saúde(55 Tariq L, van den Berg M, Hoogenveen RT, van Baal PH. Cost-effectiveness of an opportunistic screening program and brief intervention for excessive alcohol use in primary care. PLoS One [Internet]. 2009 [cited 2017 May May];4(5):e5696. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2682644/
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) por terem enfoque educativo, motivacional e estimular a reflexão(66 DiFulvio GT, Linowski SA, Mazziotti JS, Puleo E. Effectiveness of the Brief Alcohol and Screening Intervention for College Students (BASICS) program with a mandated population. J Am Coll Health [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 60(4):269-80. Available from: https://dx.doi.org/10.1080/07448481.2011.599352
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). A estrutura de aplicação da técnica de IB é composta por ações de educação em saúde para os indivíduos identificados como consumidores de substâncias psicoativas (SPA) como o álcool, com aplicação de aconselhamento, intencionando-se promover novos comportamentos com a diminuição ou abstinência do consumo por meio da responsabilidade pessoal e encaminhamento para tratamento do uso nocivo/dependência de SPA, quando necessário(77 Humeniuk RE, Henry-Edwards S, Ali RL, Poznyak V, Monteiro M. The ASSIST-linked brief intervention for hazardous and harmful substance use: manual for use in primary care [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2010 [cited 2017 Jun 10]. 46p. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44321/1/9789241599399_eng.pdf
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). Revisão sistemática sobre a efetividade da IB no uso abusivo de álcool sugeriu que ela deve ser incorporada às políticas públicas de saúde como estratégia de enfrentamento do consumo abusivo e prevenção de dependência química(88 Pereira MO, Anginoni BM, Ferreira NC, Oliveira MA, Vargas D, Colvero LA. [Effectiveness of the brief intervention for the use of abusive alcohol in the primary: systematic review]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 66(3):420-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n3/a18v66n3.pdf Portuguese.
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).

Estudo com universitários de diversos cursos avaliou o consumo de álcool e, após análise do padrão de consumo, mostrou que as orientações preventivas podem conscientizar pessoas e gerar respostas positivas para a redução do consumo e dos efeitos deletérios(99 Silva EC, Tucci AM. [Brief intervention to reduce alcohol consumption and its consequences in Brazilian university students]. Psicol Reflex Crit [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):728-36. Available from: http://www.scielo.br/pdf/prc/v28n4/0102-7972-prc-28-04-00728.pdf Portuguese.
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).

O uso abusivo do álcool altera a qualidade de vida (QV) conceituada como subjetiva, multidimensional, cultural e não se limita às condições de saúde. A QV relacionada à saúde (QVRS) refere-se às condições gerais de uma população, grupo ou indivíduo e pode ser resumida a um construto psicológico e multidimensional que abrange aspectos físicos, psicológicos, sociais, funcionais, espirituais, ambientais e impacta na saúde(1010 Jorngarden A, Wettergen L, von Essen L. Measuring health-related quality of life in adolescents and young adults: Swedish normative data for the SF-36 and the HADS, and the influence of age, gender, and method of administration. Health Qual Life Outcomes [Internet]. 2006[cited 2017 May May];4:91. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1697805/pdf/1477-7525-4-91.pdf
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).

OBJETIVO

Este estudo teve como objetivos: avaliar o padrão de consumo de álcool, a efetividade da intervenção breve (IB) e a qualidade de vida (QV) de universitários de Enfermagem.

MÉTODO

Aspectos éticos

Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram orientados sobre os objetivos e etapas do estudo.

Desenho, local do estudo e período

Estudo longitudinal prospectivo, realizado nas salas de aula com universitários de Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem (EPE) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), entre março de 2015 e setembro de 2016.

População e amostra

Dentre os 304 universitários matriculados nas quatro séries, 281(92,43%) aceitaram participar do estudo e 23(7,57%) recusaram, portanto, foram excluídos. Foi solicitada autorização da coordenação do curso e dos docentes para liberação de parte da aula para realização da pesquisa.

Protocolo do estudo

O estudo ocorreu em quatro etapas: na 1ª foram coletados dados sociodemográficos, econômicos (CRITÉRIO BRASIL, 2013)(1111 Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Alterações na aplicação do Critério Brasil, válidas a partir de 01/01/2014 [Internet]. São Paulo: ABEP; 2012 [cited 2017 May 20]. 5 p. Available from: www.abep.org/Servicos/Download.aspx?id=01
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), informações sobre consumo de álcool por meio do instrumento The Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e foi avaliada a QV por meio do Medical Outcomes Studies 36-items short-form (SF-36). O AUDIT, elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi traduzido e validado para a língua portuguesa do Brasil; é autorrelato, avalia e classifica o padrão de consumo a partir do somatório de 10 questões, em que cada uma tem o valor variando entre 0 e 40 pontos. Baixo risco corresponde aos valores entre 0 e 7 pontos; uso de risco, entre 8 e 15; uso nocivo, entre 16 e 19 e provável dependência, entre 20 e 40(1212 Lima CT, Freire AC, Silva AP, Teixeira RM, Farrell M, Prince M. Concurrent and construct validity of the audit in an urban Brazilian sample. Alcohol Alcohol [Internet]. 2005 [cited 2017 May 20]; 40(6):584-9. Available from: https://doi.org/10.1093/alcalc/agh202
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). Seguimos a classificação recomendada pela OMS e utilizada por outros pesquisadores(1313 Pillon SC, Santos MA, Gonçalves AM, Araújo KM. [Alcohol use and spirituality among nursing students]. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2017 May 20]; 45(1):98-105. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/en_14.pdf Portuguese.
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) que consideraram abstinência ou baixo risco: pontuação inferior a 8; consumo de risco, nocivo ou provável dependência: valor igual ou superior a 8 pontos. O instrumento genérico SF-36 foi traduzido e validado no Brasil(1414 Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999; 39(3):143-50.) e avalia a QV, contém 36 itens, distribuídos em 8 domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, aspectos emocionais, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental. Cada dimensão recebe um escore que varia de zero: pior, a cem: melhor QV.

Na 2ª etapa (duas semanas após a 1ª) foi feita a IB, que constou da devolutiva consolidada dos resultados do AUDIT para os universitários de cada série, seguida da palestra “Consumo de álcool e suas consequências”, que abordou aspectos epidemiológicos; níveis de consumo e consequências do uso, abuso e dependência do álcool; ação, metabolismo e efeitos do álcool; entrega do folheto “Bebidas Alcoólicas: Álcool Etílico, Etanol”(1515 Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Bebidas alcoólicas (álcool etílico, etanol) [Internet]. São Paulo: Unifesp, Departamento de Psicobiologia; 2017 [cited 2017 May 20]. Available from: http://www2.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/folhetos/alcool_.htm
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) e encaminhamento da cartilha “Drogas: Cartilha Álcool e Jovens”(1616 Brasil. Presidência da República, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Drogas: cartilha álcool e jovens [Internet]. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; 2010 [cited 2017 May 20]. 44 p. Available from: http://www.sgas.saude.ms.gov.br/wp-content/uploads/sites/105/2016/07/cartilha_alcool_jovens.pdf
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) para o endereço eletrônico de cada série.

Na 3ª etapa (três meses após a 2ª), participaram 272 universitários (nove alunos desistiram do curso). Aplicados AUDIT, SF-36 e acrescida avaliação da IB anteriormente realizada.

Na 4ª etapa (um ano após a 3ª), 42 universitários foram convocados por ainda apresentarem consumo de risco/nocivo/provável dependência; 36 aceitaram e 5 recusaram. Foi realizada devolutiva individual do resultado do AUDIT da 3ª etapa e orientada nova leitura da cartilha. Após duas semanas, preencheram o SF-36 e o AUDIT.

Análise dos dados

Os dados foram armazenados em banco Excel (2010). A análise estatística empregou o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 19, a análise descritiva das variáveis quantitativas abrangeu frequência absoluta e relativa e das quantitativas, medidas de posição. Para verificar relação entre variáveis e entre etapas, utilizaram-se Anova, McNemar, GEE/Q de Cochran, R Verossimilhança, Qui-Quadrado e Spearmam. O nível de significância adotado foi 5% (p≤0,05).

RESULTADOS

A Tabela 1 mostra as variáveis sociodemográficas e econômicas dos universitários de Enfermagem da UNIFESP que estavam em curso em 2015.

Tabela 1
Características sociodemográficas e econômicas dos universitários de Enfermagem, Escola Paulista de Enfermagem-Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2015 (N=281)

Utilizaram álcool alguma vez na vida: 253 (90%); tinham em média 15,4 anos, quando experimentaram bebida alcoólica pela primeira vez; 159 (62,8%) referiram estar com amigos no primeiro uso; 97 (38,3%), com parentes e 2 (0,8%), sozinhos (múltipla resposta); 194(76,7%) ainda ingeriam bebidas alcoólicas; 30 (10,7%) apresentavam doença física ou mental (Depressão 3 (10%), Transtorno Obsessivo Compulsivo 2 (6,7%) e Diabetes Mellitus tipo I, 2 (6,7%)).

A IB e o material educativo foram avaliados como bons por 176 (64,7%) universitários de Enfermagem e 179 (65,8%) afirmaram que as estratégias contribuíram para atitude positiva em relação ao consumo de álcool. Ocorreu diminuição no padrão de consumo de álcool entre as etapas (Tabela 3).

Tabela 2
Comparação dos resultados do The Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) entre os universitários de Enfermagem na 1ª e 3ª etapas da pesquisa, Escola Paulista de Enfermagem-Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2015
Tabela 3
Comparação entre resultados do The Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) da 1ª, 3ª e 4ª etapas dos universitários de Enfermagem. Escola Paulista de Enfermagem-Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2016, (n=36)

A Tabela 4 demonstra a QV dos universitários entre a 1ª e a 3ª etapa do estudo.

Tabela 4
Comparação dos escores médios dos domínios do SF-36 dos universitários de Enfermagem, entre a 1ª e 3ª etapa, Escola Paulista de Enfermagem-Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2015 (n= 272)

A Tabela 5 mostra que os alunos do sexo masculino, os brancos, os casados, com mais idade, sem doenças diagnosticadas e os que não bebiam, apresentavam escores de QV significantemente maiores; evangélicos ingeriam menos álcool (p≤0,003) e em menor frequência (p≤0,004), enquanto os sem religião consumiam mais; universitárias ingeriam significativamente menos doses (p≤0,015). Escore geral do AUDIT foi maior para os brancos, para solteiros, e menor para evangélicos. Baixo risco de consumo foi significativamente maior entre casados (p≤0,043); e alunos do 1º ano ingeriam com menor frequência, quando comparados aos do 4º ano (p≤0,009). Houve correlação entre maior idade do primeiro uso e menor escore do AUDIT p≤0,0003, r=-0,226; bebedor de baixo risco ingeriu álcool pela primeira vez com mais idade (p≤0,0001); menor frequência e consumo correlacionaram-se com a idade de início maior p≤0,0064 e p≤0,0001.

Tabela 5
Variáveis sociodemográficas e mórbidas dos universitários de Enfermagem que apresentaram correlação significativa com escores do The Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e Medical Outcomes Studies 36-items short-form (SF-36). Escola Paulista de Enfermagem-Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2015 (N= 281)

DISCUSSÃO

Pesquisas realizadas com universitários de Enfermagem descreveram que houve prevalência de mulheres, solteiras, católicas e jovens. Quanto à cor da pele autorreferida e provavelmente relacionada às características regionais, encontramos predomínio de universitários de cor branca(44 Baumgarten LZ, Gomes VL, Fonseca AD. [Alcohol consumption among university students in the health area of Federal University of Rio Grande/RS: subsidy to the nursing]. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 16(3):530-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n3/15.pdf Portuguese
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,99 Silva EC, Tucci AM. [Brief intervention to reduce alcohol consumption and its consequences in Brazilian university students]. Psicol Reflex Crit [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):728-36. Available from: http://www.scielo.br/pdf/prc/v28n4/0102-7972-prc-28-04-00728.pdf Portuguese.
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). Estudo semelhante realizado na região nordeste do Brasil demonstrou semelhança entre as variáveis, exceto no predomínio de cor de pele que foi parda(1717 Pires CG, Mussi FC, Souza RC, Silva DO, Santos CA. Consumption of alcohol among nursing students. Acta Paul Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):301-7. Available from:http://www.scielo.br/pdf/ape/v28n4/en_1982-0194-ape-28-04-0301.pdf).

No presente estudo, 90% dos universitários de Enfermagem haviam usado bebida alcoólica alguma vez na vida, porcentagem superior à relatada no levantamento nacional sobre uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários, realizado em 27 capitais brasileiras, que demonstrou 86,2%(33 Brasil. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. I Levantamento Nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras [Internet]. Brasília: SENAD; 2010 [cited 2017 May 20]. 282 p. Available from: http://www.grea.org.br/userfiles/GREA-ILevantamentoNacionalUniversitarios.pdf
http://www.grea.org.br/userfiles/GREA-IL...
). Na Argentina, 75,3% dos jovens já haviam ingerido bebida alcoólica(1818 Acosta LD, Fernandez AR, Pillon SC. [Social risk factors for alcohol use among adolescents and youth] Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2011[cited 2017 May 20];19(Spec No):771-81. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19nspe/15.pdf Spanish.
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) e 57,5% dos universitários da área da saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul também já o fizeram(44 Baumgarten LZ, Gomes VL, Fonseca AD. [Alcohol consumption among university students in the health area of Federal University of Rio Grande/RS: subsidy to the nursing]. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 16(3):530-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n3/15.pdf Portuguese
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).

Neste estudo, a idade média de experimentação de álcool foi 15,43 anos (3 a 22), no Rio de Janeiro 83,5% ingeriram antes dos 18 anos, dos quais, 39,5% o fizeram entre 14 e 15 anos(1919 Tavares-Jomar R, Santos Silva E. Consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes de enfermagem. Aquichan [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 13(2):226-33. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v13n2/v13n2a09.pdf
http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v13n2/...
). Entre universitários do Rio Grande do Sul de outras áreas da saúde, 68% iniciaram o consumo entre 10 e 17(44 Baumgarten LZ, Gomes VL, Fonseca AD. [Alcohol consumption among university students in the health area of Federal University of Rio Grande/RS: subsidy to the nursing]. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 16(3):530-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n3/15.pdf Portuguese
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).

Universitários brasileiros ingeriram bebidas alcoólicas em maior quantidade, frequência e doses por evento do que as universitárias entre 18 e 24 anos(33 Brasil. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. I Levantamento Nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras [Internet]. Brasília: SENAD; 2010 [cited 2017 May 20]. 282 p. Available from: http://www.grea.org.br/userfiles/GREA-ILevantamentoNacionalUniversitarios.pdf
http://www.grea.org.br/userfiles/GREA-IL...
,2020 Carneiro AL, Rodrigues SB, Gherardi-Donato EC, Guimarães EA, Oliveira VC. [The pattern of alcohol consumption among college students of health areas]. Rev Enferm Cent O Min [Internet]. 2014 [cited 2017 May 20]; 4(1):940-50. Available from: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/recom/article/view/449/569 Portuguese.
http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/re...
-2121 Silva EC, Tucci AM. [Pattern of alcohol consumption in college students (freshmen) and gender differences]. Temas Psicol [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 24(1):313-23. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v24n1/v24n1a16.pdf Portuguese.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v24n1/v...
). Pesquisa desenvolvida com adolescentes, nos Estados Unidos da América, identificou que o consumo de álcool apresentou maior prevalência entre mulheres e em faixa etária inferior, de 12 a 17 anos, enquanto nos países da Europa o consumo era moderado. Outro estudo apontou a possibilidade de o consumo de álcool na adolescência/juventude comprometer o desenvolvimento(2222 Cheng HG, Anthony JC. A new era for drinking? Epidemiological evidence on adolescent male-female differences in drinking incidence in the United States and Europe. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol [Internet]. 2017 [cited 2017 May 20]; 52(1):117-26. Available from: https://dx.doi.org/10.1007/s00127-016-1318-0
https://dx.doi.org/10.1007/s00127-016-13...
).

A presente pesquisa identificou que quanto maior foi a idade de início do consumo de álcool, foram menores o consumo de risco, a frequência da ingesta e o número de doses consumidas por evento. Estudos comprovaram que a ingesta precoce submete o indivíduo a maior risco de consumo excessivo com consequentes prejuízos associados(1818 Acosta LD, Fernandez AR, Pillon SC. [Social risk factors for alcohol use among adolescents and youth] Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2011[cited 2017 May 20];19(Spec No):771-81. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19nspe/15.pdf Spanish.
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19nspe/15...
,2323 Vieira DL, Ribeiro M, Laranjeira R. Evidence of association between early alcohol use and risk of later problems. Rev Bras Psiquiatr [Internet]. 2007 [cited 2017 May 20]; 29(3):222-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v29n3/a06v29n3.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbp/v29n3/a06v2...
).

Estudos têm mostrado que as principais companhias no momento do primeiro uso de bebida alcoólica são amigos e parentes, conforme encontrado entre universitários da área da saúde, no sul do Brasil, que reportaram ter sido o primeiro uso com amigos (65,2%) e com parentes (17,4%)(44 Baumgarten LZ, Gomes VL, Fonseca AD. [Alcohol consumption among university students in the health area of Federal University of Rio Grande/RS: subsidy to the nursing]. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 16(3):530-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n3/15.pdf Portuguese
http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n3/15.pd...
), enquanto universitários de Enfermagem da região sudeste referiram 53,6% e 20,2%(1919 Tavares-Jomar R, Santos Silva E. Consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes de enfermagem. Aquichan [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 13(2):226-33. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v13n2/v13n2a09.pdf
http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v13n2/...
), respectivamente. O presente estudo demonstrou porcentagem de primeiro uso bem mais elevada (38,3%) junto aos parentes, evidenciando a influência da família na iniciação do consumo do álcool.

Dentre os universitários avaliados, 32,1% ingeriam cinco ou mais doses, por evento, enquanto 26,2% dos universitários de Enfermagem da Universidade Federal de Salvador/Bahia ingeriam tal quantidade(1717 Pires CG, Mussi FC, Souza RC, Silva DO, Santos CA. Consumption of alcohol among nursing students. Acta Paul Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):301-7. Available from:http://www.scielo.br/pdf/ape/v28n4/en_1982-0194-ape-28-04-0301.pdf). Pesquisa em 24 países da Ásia, África e Américas, com universitários, verificou prevalência de 11,3% nesse padrão(2424 Peltzer K, Pengpid S. Heavy drinking and social and health factors in university students from 24 low, middle income and emerging economy countries. Community Ment Health J [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 52(2):239-44. Available from: https://dx.doi.org/10.1007/s10597-015-9925-x
https://dx.doi.org/10.1007/s10597-015-99...
).

Estudos nacionais que identificaram o perfil de consumo de álcool entre universitários, utilizando AUDIT, revelaram que 68% a 93,4% eram bebedores de baixo risco e que 6,6% a 32%, bebedores de risco/nocivos/prováveis dependentes, valores esses que podemos interpretar como preocupantes, assim como os achados do presente estudo na primeira etapa, que foram de 79,4% e 20,6% respectivamente. No entanto, após a 1ª e a 2ª IB, diminuiu significativamente o número de bebedores para baixo risco p≤0,059 e p≤0,0001, respectivamente, mostrando que a informação/esclarecimento interfere positivamente no padrão de ingesta e reduz o risco de evolução negativa(2020 Carneiro AL, Rodrigues SB, Gherardi-Donato EC, Guimarães EA, Oliveira VC. [The pattern of alcohol consumption among college students of health areas]. Rev Enferm Cent O Min [Internet]. 2014 [cited 2017 May 20]; 4(1):940-50. Available from: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/recom/article/view/449/569 Portuguese.
http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/re...
-2121 Silva EC, Tucci AM. [Pattern of alcohol consumption in college students (freshmen) and gender differences]. Temas Psicol [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 24(1):313-23. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v24n1/v24n1a16.pdf Portuguese.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v24n1/v...
,2525 Funai A, Pillon SC. [Use of alcoholic beverages and religious aspects among nursing students]. Rev Eletron Enferm [Internet]. 2011 [cited 2017 May 20]; 13(1):24-9. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/v13/n1/v13n1a03.htm Portuguese.
http://www.fen.ufg.br/revista/v13/n1/v13...
-2626 Silva BP, Corradi-Webster CM, Donato EC, Hayashida M, Siqueira MM. [Common mental disorders, alcohol consumption and tobacco use, among nursing studentsata public university in the Western Brazilian Amazon]. SMAD Rev Eletron Saude Ment Alcool Drogas [Internet]. 2014 [cited 2017 May 20]; 10(2):93-100. Available from: http://www.revistas.usp.br/smad/article/view/98724/97287 Portuguese.
http://www.revistas.usp.br/smad/article/...
).

Dados semelhantes em relação ao número de doses ingeridas, uma a quatro, por evento, foram detectados entre os universitários dessa pesquisa e da região nordeste do Brasil(1717 Pires CG, Mussi FC, Souza RC, Silva DO, Santos CA. Consumption of alcohol among nursing students. Acta Paul Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):301-7. Available from:http://www.scielo.br/pdf/ape/v28n4/en_1982-0194-ape-28-04-0301.pdf). Entretanto, outro estudo realizado em São Paulo com graduandos, que utilizou o AUDIT antes e após IB, demonstrou que a intervenção provoca mudança significativa, para menos, no padrão de consumo de álcool (p=0,001)(99 Silva EC, Tucci AM. [Brief intervention to reduce alcohol consumption and its consequences in Brazilian university students]. Psicol Reflex Crit [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):728-36. Available from: http://www.scielo.br/pdf/prc/v28n4/0102-7972-prc-28-04-00728.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/prc/v28n4/0102-...
). Revisão sistemática sobre IB, na atenção primária, também indicou redução significativa no consumo excessivo de álcool com impacto positivo para os usuários(88 Pereira MO, Anginoni BM, Ferreira NC, Oliveira MA, Vargas D, Colvero LA. [Effectiveness of the brief intervention for the use of abusive alcohol in the primary: systematic review]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 66(3):420-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n3/a18v66n3.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n3/a18...
). Outra pesquisa indicou que a conscientização, quanto ao próprio consumo e suas consequências, favoreceu a mudança de atitude e a diminuição do padrão utilizado(99 Silva EC, Tucci AM. [Brief intervention to reduce alcohol consumption and its consequences in Brazilian university students]. Psicol Reflex Crit [Internet]. 2015 [cited 2017 May 20]; 28(4):728-36. Available from: http://www.scielo.br/pdf/prc/v28n4/0102-7972-prc-28-04-00728.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/prc/v28n4/0102-...
).

A Intervenção Breve realizada com consumidores de risco de substâncias psicoativas, norte- americanos, da atenção primária, mostrou que após três meses da IB, houve impacto significativo no domínio físico da QV de usuários iniciantes de substâncias psicoativas(2727 Baumeister SE, Gelberg L, Leake BD, Yacenda-Murphy J, Vahidi M, Andersen RM. Effect of a primary care based brief intervention trial among risky drug users on health-related quality of life. Drug Alcohol Depend [Internet]. 2014 [cited 2017 May 20]; 142:254-61. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4127148/pdf/nihms-611373.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

Os escores médios de QV de universitários de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição, da Turquia, mostraram-se baixos, em torno de 50, em todos os domínios do SF-36(2828 Oztasan N, Ozyrek P, Kilic I. Factors associated with health-related quality of life among university students in Turkey. Mater Socio Med [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 28(3):210-4. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4949046/pdf/MSM-28-210.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Alunos de educação física, desse mesmo país, que consumiam álcool apresentaram escores de QV significativamente inferiores, quando comparados aos que não consumiam(2929 Emamvirdi R, HosseinzadehAsl N, Colakoglu FF. Health-related quality of life with regard to smoking, consumption of alcohol, and sports participation. Iran Red Crescent Med J [Internet]. 2016[cited 2017 May May];18(7):e27919. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5022126/pdf/ircmj-18-07-27919.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

A QV tem se mostrado inferior entre consumidores abusivos de álcool das mais diversas idades. Estudo realizado na Austrália com adultos e idosos que consumiam demasiadamente bebidas alcoólicas apontou comprometimento nos aspectos físicos, psicológicos e sociais(3030 Lubman DI, Garfield JB, Manning V, Berends L, Best D, Mugavin JM et al. Characteristics of individuals presenting to treatment for primary alcohol problems versus other drug problems in the Australian patient pathways study. BMC Psychiatry [Internet]. 2016[cited 2017 May 20];16:250. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4950603/pdf/12888_2016_Article_956.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Pesquisa realizada com noruegueses com diagnóstico de Transtorno do Abuso de Substâncias, especificamente polissubstâncias (heroína, metadona, canabis, álcool) atestou que 75% avaliaram a QV como muito ruim e ruim(3131 Muller AE, Skurtveit S, Clausen T. Many correlates of poor quality of life among substance users entering treatment are not addiction-specific. Health Qual Life Outcomes [Internet]. 2016[cited 2017 May 20];14:39. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4778354/pdf/12955_2016_Article_439.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

No decorrer do presente estudo, houve redução da QV dos universitários de Enfermagem, conforme declarado por eles. Investigação realizada com pós-graduandos de Enfermagem divulgou que, durante o curso, eles apresentaram redução da QV em vários aspectos devido às características e exigências da profissão(3232 Freitas MA, Silva Jr OC, Machado DA. [Stress level and quality of life of resident nurses]. J Nurs UFPE [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 10(2):623-30. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/7216/pdf_9624 Portuguese.
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...
). Estudos realizados com universitários de diversas áreas da saúde, como: Farmácia, Fonoaudiologia, Medicina e Enfermagem atestaram que o domínio capacidade física deteve a média de melhor escore, cerca de84,5, enquanto a vitalidade, 47,8(3333 Paro CA, Bittencourt ZZ. [Quality of Life of the Undergraduate Health Students]. Rev Bras Educ Med [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 37(3):365-75. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0100-55022013000300009 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-55022013...
-3434 Souza IM, Paro HB, Morales RR, Pinto RM, Silva CH. Health-related quality of life and depressive symptoms in undergraduate nursing students. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 20(4):736-43. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n4/14.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n4/14.p...
). Além das características do curso, os universitários do sexo feminino apresentaram escores significantemente inferiores nos domínios capacidade física, vitalidade e saúde mental(3434 Souza IM, Paro HB, Morales RR, Pinto RM, Silva CH. Health-related quality of life and depressive symptoms in undergraduate nursing students. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2012 [cited 2017 May 20]; 20(4):736-43. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n4/14.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n4/14.p...
).

Especificamente o aspecto saúde mental da QV de universitários de Enfermagem, obtida por pesquisa de revisão integrativa, mostrou-se comprometida no decorrer do curso(3535 Esperidião E, Barbosa JA, Silva NS, Munari DB. The mental health of nursing students: an integrative review of literature. SMAD Rev Eletron Saúde Ment Álcool Drogas [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 9(3):144-53. Available from: http://www.revistas.usp.br/smad/article/view/86745/89748
http://www.revistas.usp.br/smad/article/...
). Enquanto os aspectos sociais dos entrevistados foram os mais satisfatórios, e significantemente, superiores nos universitários casados e com mais de 20 anos. O bom desempenho nesse domínio estava relacionado à satisfação com o parceiro, apoio recebido dos amigos e parentes e com a vida sexual(3636 Moritz AR, Pereira EM, Borba KP, Clapis MJ, Gevert VG, Mantovani MF. Quality of life of undergraduate nursing students at a Brazilian public university. Invest Educ Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 34(3):564-72. Available from: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105247786015
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=10...
).

Os escores dos aspectos sociais, emocionais e a vitalidade dos universitários negros avaliados neste estudo, foram significantemente menores do que nos universitários com cor de pele diferente. Nos Estados Unidos, os negros apresentam pior QV do que os brancos, porém os estudos ainda são escassos para explicar os reais motivos dessa diferença naquele país(3737 Pereira CC, Palta M, Mullahy J. Health domains and race in generic preference-based health-related quality of life instruments in the United States literature. Rev Bras Estud Popul [Internet]. 2010 [cited 2017 May 20]; 27(2):425-37. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v27n2/11.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v27n2/11...
). No Brasil, pesquisa verificou que indivíduos que declararam cor de pele preta ou parda (43,2% e 42,3%, respectivamente) avaliaram a QV como ruim(3838 Pavão AL, Werneck GL, Campos MR. [Self-rated health and the association with social and demographic factors, health behavior, and morbidity: a national health survey]. Cad Saúde Pública [Internet]. 2013 [cited 2017 May 20]; 29(4):723-34. Available from: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v29n4/10.pdf Portuguese.
http://www.scielosp.org/pdf/csp/v29n4/10...
).

O período do curso de Enfermagem também pode ser um fator desencadeante para a alteração da QV dos universitários. No segundo ano, em alguns currículos, o universitário desenvolve atividades em ambiente hospitalar, o que pode gerar ansiedade, medo, angústia e conflitos(3939 Kawakame PM, Miyadahira AM. [Quality of life of undergraduate students in nursing]. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005 [cited 2017 May 20]; 39(2):164-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/06.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n2/06...
). No terceiro ano, apresenta melhor adaptação ao ambiente universitário, hospitalar e ao processo ensino/aprendizagem e lida melhor com situações conflitantes, podendo haver estabilização ou melhora da QV em alguns aspectos e comprometimento de outros relacionados aos aspectos físicos em razão de atividades práticas cumulativas do curso(4040 Scherer ZA, Scherer EA, Carvalho AM. [Reflections on nursing teaching and students’ first contact with the profession]. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet].2006 [cited 2017 May 20];14(2):285-91. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n2a20.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n...
).

Quanto à possível relação entre consumo de álcool e alteração da QV no meio estudantil, pesquisa demonstrou que estudantes do Ensino Médio apresentavam percepção negativa do domínio psicológico, principalmente no grupo de consumidores de risco/nocivo/prováveis dependentes. Intervenções que privilegiem atividades físicas e orientações sobre riscos relacionados ao consumo podem melhorar a QV dos adolescentes(4141 Gordia AP, Silva RC, Quadros TM, Campos W. Behavioral and sociodemographic variables are associated with the psychological domain of adolescents’ quality of life. Rev Paul Pediatr [Internet]. 2010 [cited 2017 May 20]; 28(1):29-35. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rpp/v28n1/en_v28n1a06.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rpp/v28n1/en_v2...
).

Estudos comprovaram associação entre a alteração dos diversos domínios da QV e o padrão de consumo de bebida alcoólica entre universitários(2929 Emamvirdi R, HosseinzadehAsl N, Colakoglu FF. Health-related quality of life with regard to smoking, consumption of alcohol, and sports participation. Iran Red Crescent Med J [Internet]. 2016[cited 2017 May May];18(7):e27919. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5022126/pdf/ircmj-18-07-27919.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
,4242 Damasceno RO, Boery RN, Ribeiro IJ, Anjos KF, Santos VC, Boery EN. [Use of alcohol, tobacco and other drugs, and quality of life among college students]. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 May 20]; 30(3):1-10. Available from: https://portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/15533/pdf_65 Portuguese.
https://portalseer.ufba.br/index.php/enf...
-4343 Manzatto L, Rocha TB, Vilela Jr GB, Lopes GM, Sousa JA. [Alcohol consumption and quality of life in college students]. Conexões [Internet]. 2011 [cited 2017 May 20]; 9(1):37-53. Available from: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8637712/5403 Portuguese.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
). Consequências físicas, sociais e psicológicas do consumo de álcool podem influenciar negativamente o consumidor, a família e sociedade, sendo necessárias intervenções educativas e preventivas.

Estudo conduzido com universitários da área da saúde, que consumiam álcool, concluiu que a QV deles estava prejudicada por limitações ou dificuldades como sentir-se triste, deprimido, cansado, com cefaleia ou enxaqueca, mal-estar e por estarem emocionalmente abalados pelo cotidiano acadêmico(4444 Faria JR, Ferreira MG, Lourenção LG, Tavares BB. [The alcohol abuse and the health university students quality of life]. Arq Ciênc Saúde [Internet]. 2014 [cited 2017 May 20]; 21(2):82-8. Available from: http://repositorio-racs.famerp.br/racs_ol/vol-21-2/03/ID%20595%2021(2)%20Abr-jun%202014.pdf Portuguese.
http://repositorio-racs.famerp.br/racs_o...
).

Limitações do estudo

Embora as contribuições deste estudo sejam relevantes, não podem ser generalizadas, por se tratar de amostra específica, universitários de Enfermagem e de universidade pública; assim como por possíveis imprecisões nas respostas de alguns universitários.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Podemos considerar como contribuições deste estudo o entendimento e a confirmação do impacto da Intervenção Breve como técnica de estímulo à redução do padrão de consumo de álcool, consequentemente de prevenção à saúde, especificamente entre universitários de Enfermagem, uma vez que serão futuros profissionais da área da saúde e como tal, precisarão trabalhar com a promoção da saúde e prevenção de doenças da população em geral. Os resultados encontrados sobre o consumo de risco e as alterações da QV dos universitários de Enfermagem podem subsidiar novos estudos, além de darem suporte para a prática assistencial, de ensino e gestão em Enfermagem.

CONCLUSÃO

A QV dos universitários apresentou bons escores, acima de 70, exceto nos aspectos de vitalidade, estado geral de saúde e saúde mental; universitários que consumiam álcool tinham escore de saúde mental significativamente inferior; universitários do sexo feminino e negros apresentaram escores de QV inferiores e significantes, a saber (CF, EGS, Vitalidade e SM; e Vitalidade, AS e AE, respectivamente); casados e com idade acima de 20 anos tiveram aspectos sociais significantemente melhores e os casados também tinham aspectos físicos significantemente melhores; após duas IBs, ocorreu diminuição significativa no consumo de risco/nocivo/provável dependência, na frequência de ingesta e no número de doses consumidas; as IBs foram classificadas como boas e colaboraram para melhor atitude perante o consumo de bebida alcoólica.

Conhecer o perfil, o padrão de consumo de álcool, a QV dos universitários e o papel da IB, pode subsidiar ações internas na universidade, assim como incrementar a literatura nacional e internacional sobre o tema para a busca de medidas promocionais e preventivas relacionadas à conscientização do consumo de álcool por universitários.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    13 Jun 2017
  • Aceito
    17 Ago 2017
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