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A formação do enfermeiro em pesquisa na graduação: percepções docentes

RESUMO

Objetivo:

Analisar como a abordagem do tema “investigação científica” pode contribuir para o desenvolvimento da competência científica do estudante de Enfermagem.

Método:

Estudo descritivo-exploratório, do tipo estudo de caso, com abordagem qualitativa, realizado com docentes de uma universidade pública do Sul do País. Os dados foram coletados por entrevista individual semiestruturada e por entrevista em grupos, denominada roda de conversa.

Resultados:

A análise dos dados constituiu três categorias: “A pesquisa como tema estruturante e princípio científico na formação do estudante”; “A pesquisa como seiva e princípio educativo no currículo integrado”; “A pesquisa como princípio científico e educativo nas atividades extracurriculares”.

Conclusão:

A formação em pesquisa pode ocorrer em todos os momentos acadêmicos da graduação, proporcionando ao estudante apreender a investigação científica como conteúdo formativo e como atitude investigativa, no intuito de possibilitar o desenvolvimento da competência científica no exercício profissional.

Descritores:
Pesquisa; Educação em Enfermagem; Educação Superior; Ensino; Docentes de Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To analyze how the approach of the theme “scientific investigation” can contribute to the development of the scientific competence of the Nursing student.

Method:

A descriptive-exploratory, case-study, qualitative study was carried out with professors from a public university in the South of Brazil. Data were collected through a semi-structured individual interview and a group interview, called the conversation circle.

Results:

Data analysis consisted of three categories: “Research as a structuring theme and scientific principle in undergraduate student training in Nursing”; “Research as a structuring theme and scientific principle in undergraduate student training in Nursing”; “Sap research and educational principle in the integrated curriculum”.

Conclusion:

Research training can occur at all undergraduate academic moments, providing the student with the knowledge of scientific research as a formative content and as an investigative attitude, in order to enable the development of scientific competence in professional practice.

Descriptors:
Research; Nursing Education; Higher Education; Teaching; Nursing Professors

RESUMEN

Objetivo:

Analizar cómo el enfoque del tema “investigación científica” puede contribuir al desarrollo de la competencia científica del estudiante de Enfermería.

Método:

El estudio descriptivo-exploratorio, del tipo estudio de caso, con abordaje cualitativo, realizado con docentes de una universidad pública del sur del país. Los datos fueron recolectados por entrevista individual semiestructurada y por entrevista en grupos, denominada rueda de conversación.

Resultados:

El análisis de los datos constituyó tres categorías: “La investigación como tema estructurante y principio científico en la formación del estudiante”; “La investigación como savia y principio educativo en el currículo integrado”; “La investigación como principio científico y educativo en las actividades extracurriculares”.

Conclusión:

La formación en investigación puede ocurrir en todos los momentos académicos de la graduación, proporcionando al estudiante aprehender la investigación científica como contenido formativo y como actitud investigativa, con el fin de posibilitar el desarrollo de la competencia científica en el ejercicio profesional.

Descriptores:
Investigación; Educación en Enfermería; Educación Universitaria; Educación; Docentes de Enfermería

INTRODUÇÃO

No Brasil e no mundo, vivencia-se uma sucessiva preocupação com a qualidade da educação superior, que emerge em razão da necessidade de adaptação social do seu proeminente custo e das exigências de transformação de um cenário cada vez mais complexo, no qual as universidades devem promover resultados diante das carências da comunidade. É notável essa complexa inquietação pela busca de meios pertinentes de organização do ensino acadêmico, com mudança de padrões(11 González-Chordá VM, Maciá-Soler ML. Evaluation of the quality of the teaching-learning process in undergraduate courses in Nursing. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];23(4):700-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n4/0104-1169-rlae-23-04-00700.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n4/0104...
).

Para ajustar tanto a política quanto o planejamento educacional, instituíram-se as Regulamentações da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No caso da Enfermagem, observam-se ainda os princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação (DCN), de 7 de novembro de 2001. As DCN do Curso de Graduação em Enfermagem estabelecem que o futuro enfermeiro inicie, ainda na graduação, o processo de ser pesquisador, de modo a construir o pensamento crítico e reflexivo, culminando com a realização do trabalho de conclusão de curso (TCC), sob orientação de um docente(22 Fernandes JD, Rebouças LC. Uma década de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduação em Enfermagem: avanços e desafios. Rev Bras Enferm[Internet]. 2013 [cited 2017 Jul 15];66(Spe):95-101. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66nspe/v66nspea13.pdf
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).

Na Enfermagem, a pesquisa científica pode ser caracterizada como um processo de produção e reprodução do conhecimento, que objetiva o aperfeiçoamento do bem-estar de vida da população, e a evolução científica e tecnologica(33 Erdmann AL, Leite JL, Nascimento KC, Lanzoni GMM. Vislumbrando a iniciação científica a partir de orientadoras de bolsistas de Enfermagem. Rev Bras Enferm [Internet]. 2011[cited 2017 Jul 15];64(2):261-7. Available: http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n2/a07v64n2.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n2/a07...
). No entanto, ainda constata-se um distanciamento entre o que é investigado e o que é utilizado no cotidiano profissional. Sem funcionalidade, o conteúdo fica restrito, por consequência não acontecem progressos, o que acarreta a estabilização dos saberes(44 Paim L, Trentini M, Silva DGV, Jochen AA. Desafios à pesquisa em enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2010[cited 2017 Jun 15];14(2):386-90. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n2/23.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n2/23.pd...
).

Para romper com esta situação, faz-se necessário apreender e utilizar a investigação científica, como atividade intelectual, ao impulsionar o estudante e ao futuro enfermeiro a desenvolver, por meio do raciocínio investigativo, o hábito de, pela pesquisa, buscar respostas para o cuidar qualificado, com evidências científicas e resolutividade, diante das necessidades dos indivíduos, família e comunidade, atuando como multiplicador de conhecimentos científicos(55 Palmeira IP, Rodriguéz MB. A investigação científica no curso de enfermagem: uma análise crítica. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2008[cited 2017 Jun 15];12(1):68-75. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n1/v12n1a11.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n1/v12n1...
-66 Guariente MHM, Zago MF, Soubhia Z, Haddad MCL. Sentidos da pesquisa na prática profissional de enfermeiras assistenciais. Rev Bras Enferm[Internet]. 2010[cited 2017 Jul 15];63(4):541-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n4/07.pdf
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).

A fim de que isso ocorra, faz-se necessário compreender o ensino da pesquisa na graduação com o intuito de formar enfermeiros qualificados e fortalecer a Enfermagem como ciência em construção, consolidando a profissão(77 Piexak DR, Barlem JGT, Silveira RS, Fernandes GFM, Lunardi VL, Backes DS. A percepção de estudantes da primeira série de um curso de graduação em enfermagem acerca da pesquisa. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2013[cited 2017 Jul 15];17(1):68-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v17n1/10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v17n1/10.pd...
). Logo, o período da graduação constitui-se como momento importante para levar a atividade de pesquisa para novos patamares, promovendo o desenvolvimento de competências e habilidades que possibilitem ao futuro enfermeiro refletir criticamente sobre a prática da sua profissão(88 Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHD. Integrated nursing curriculum in Brazil: a 13-year experience. Creative Educ[Internet]. 2013 [cited 2016 Jul 30];4(12B):66-74. Available from: http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=41470
http://www.scirp.org/journal/PaperInform...
).

Para compreender efetivamente o processo de ensino da pesquisa na graduação, optou-se por estudar um curso que desenvolve o “currículo integrado” desde o ano 2000. Nessa proposta, os conteúdos disciplinares são integrados e a matriz curricular é articulada, ministrada em 18 (dezoito) módulos interdisciplinares, distribuídos em quatro séries. O processo de ensino e aprendizagem ocorre por meio da problematização e da utilização de metodologias ativas. O curso adota ainda 12 unidades temáticas de ensino, denominadas temas transversais ou “seivas”, como dinamizadoras das ações pedagógicas, presentes em todos os módulos curriculares do curso. As seivas visam aprimorar o conhecimento, articulando-o aos desempenhos a serem alcançados pelos acadêmicos(88 Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHD. Integrated nursing curriculum in Brazil: a 13-year experience. Creative Educ[Internet]. 2013 [cited 2016 Jul 30];4(12B):66-74. Available from: http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=41470
http://www.scirp.org/journal/PaperInform...

9 Silva JP, Garanhani ML, Guariente MHDM. Nursing care systems and complex thought in nursing education: document analysis. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2014 [cited 2017 Mar 09];35(2):128-34. Available from: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/44538/29943
http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGa...
-1010 Silva JP, Garanhani ML, Peres AM. Systematization of Nursing Care in undergraduate training: the perspective of Complex Thinking. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2015[cited 2017 Jul 09];23(1):59-66. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n1/0104-1169-rlae-23-01-00059.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n1/0104...
).

O projeto educacional do curso, ao definir as competências e habilidades em relação ao perfil do concluinte, especifica a competência científica como qualificadora e que transforma a realidade que envolve a área da saúde, tendo como objetivos: desenvolver pesquisas e/ou outras formas de produção do conhecimento científico(88 Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHD. Integrated nursing curriculum in Brazil: a 13-year experience. Creative Educ[Internet]. 2013 [cited 2016 Jul 30];4(12B):66-74. Available from: http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=41470
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9 Silva JP, Garanhani ML, Guariente MHDM. Nursing care systems and complex thought in nursing education: document analysis. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2014 [cited 2017 Mar 09];35(2):128-34. Available from: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/44538/29943
http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGa...
-1010 Silva JP, Garanhani ML, Peres AM. Systematization of Nursing Care in undergraduate training: the perspective of Complex Thinking. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2015[cited 2017 Jul 09];23(1):59-66. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n1/0104-1169-rlae-23-01-00059.pdf
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).

Diante do exposto, é de relevância que o ensino da investigação científica ocorra desde a graduação, visando a formação de enfermeiros competentes em seu processo de trabalho. O estudo se justifica ao abordar como as estratégias de ensino-aprendizagem articulado com a pesquisa, em um currículo integrado, pode estimular sua disseminação e/ou sua utilização em outras instituições de ensino superior que ainda não o fazem.

OBJETIVO

Analisar, a partir da perspectiva de professores universitários, como a abordagem do tema “investigação científica” pode contribuir para o desenvolvimento da competência científica do estudante de Enfermagem.

MÉTODO

Aspectos éticos

Esta pesquisa faz parte de um estudo intitulado “Currículo Integrado de um Curso de Enfermagem: temas transversais e formação profissional”, que tem por objetivo analisar a implementação dos temas transversais na prática pedagógica do currículo integrado da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A pesquisa respeitou todos os preceitos éticos conforme a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, e foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP-UEL).

Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória, do tipo estudo de caso, com abordagem qualitativa. Utilizou-se o estudo de caso, pois a proposta pedagógica estudada possui o diferencial de temas transversais, que são temas que devem perpassar todo o período acadêmico, entre esses temas, encontra-se a pesquisa(88 Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHD. Integrated nursing curriculum in Brazil: a 13-year experience. Creative Educ[Internet]. 2013 [cited 2016 Jul 30];4(12B):66-74. Available from: http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=41470
http://www.scirp.org/journal/PaperInform...
).

Procedimentos Metodológicos

Cenário do estudo

O estudo foi realizado em um curso de graduação em Enfermagem de uma universidade pública do sul do país que utiliza o regime seriado anual, em tempo integral, com 4.152 horas. Atualmente o curso oferece sessenta vagas para o ingresso de estudante, cinquenta por meio de vestibular e dez pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU), fornecido mediante Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O curso de Enfermagem foi iniciado em 18 de fevereiro de 1972, e no ano 2000 implantou o currículo integrado, por meio das metodologias ativas e da problematização.

Fonte de dados

A fonte de dados foram os 19 docentes dos Departamentos de Enfermagem e Saúde Coletiva da instituição pesquisada. A seleção dos docentes foi intencional, cujos critérios de inclusão compreenderam ser docente efetivo do curso de Enfermagem há mais de cinco anos; atuar na área profissionalizante; ser orientador de trabalho de conclusão de curso e iniciação científica; ser coordenador de atividades extracurriculares (projeto de extensão, ensino ou pesquisa); ser coordenador; e ser participante de grupo de pesquisa.

Coleta e organização dos dados

A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista individual e coletiva, com os docentes, denominada “roda de conversa”. Utilizou-se a técnica de roda de conversa, por visar discutir uma determinada temática em grupos e se assemelhar ao grupo focal nas etapas de coleta, diferenciando-se por um número menor de participantes(1111 Melo MCH, Cruz GC. Roda de conversa: uma proposta metodológica para a construção de um espaço de diálogo no ensino médio. Imag Educ[Internet]. 2014[cited 2017 Jul 15];4(2):31-9. Available from: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ImagensEduc/article/view/22222
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).

A coleta de dados ocorreu de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016. Foram realizadas três entrevistas semiestruturadas com os coordenadores dos módulos, em que o tema transversal da pesquisa científica é trabalhado como conteúdo de ensino do módulo. Também foram realizadas três rodas de conversa com participação de cinco a seis docentes em cada grupo, totalizaram 16 participantes. Para a realização das rodas de conversas, os docentes foram agrupados de modo a representarem as diferentes áreas de ensino profissionalizante, evitando que houvesse dois docentes da mesma área em cada momento.

As rodas de conversas ocorreram em local fora da universidade, com a presença dos participantes da pesquisa e condução da discussão pela pesquisadora, além do apoio de dois observadores que realizaram anotações para auxiliarem a transcrições dos dados. Tanto as entrevistas individuais quanto as rodas de conversas foram gravadas e filmadas e, posteriormente, transcritas. O tempo de realização das entrevistas variou de 40 a 60 minutos; já com as rodas, de 60 a 90 minutos, totalizando 7 horas de duração ao todo. A questão disparadora das discussões foi: Como e quando ocorre o desenvolvimento do ensino da pesquisa no curso de Enfermagem?

Etapas do trabalho

Para a realização das entrevistas e rodas de conversa os juízes procederam a análise das questões incitadoras da discussão do tema. Após a aprovação das questões pelos juízes, fez-se o convite aos docentes para participar da entrevista e da roda de conversa, por meio de contato pessoal, e-mail e telefone. Posteriormente ao convite dos docentes, realizou-se primeiramente as entrevistas semiestruturada com os docentes coordenadores dos módulos interdisciplinares. Em seguida, realizaram-se as rodas de conversas com os demais docentes selecionados.

Análise dos dados

As gravações oriundas das rodas de conversa e das entrevistas foram transcritas na íntegra e, logo após, submetidas à análise de conteúdo. Na análise, procurou-se elencar temas que referenciassem o ensino da pesquisa, construindo uma sequência dos conteúdos ao longo do exame dos depoimentos. Em seguida, os temas foram agrupados em categorias e discutidos conforme a perspectiva de Pedro Demo, à luz das obras Educar pela pesquisa; e Pesquisa como princípio científico e educativo, que visam trazer a pesquisa como um método de ensino, ocorrendo em todos os momentos da vida cotidiana dos indivíduos. As contribuições conceituais de Pedro Demo foram escolhidas como referencial teórico devido às concepções apresentadas por esse autor que visa a educação reconstrutiva baseada na aprendizagem por meio da pesquisa. Os depoimentos dos docentes foram denominados pela letra D, seguida de numeral (D1, D2, D3...).

RESULTADOS

Participaram do estudo 19 docentes, com tempo de trabalho variando de cinco a 34 anos lotados nos Departamentos de Enfermagem e de Saúde Coletiva, atuando nas áreas de saúde da criança, saúde do adulto, fundamentos da Enfermagem, Infectologia, Saúde Mental, Saúde Coletiva, Saúde da Mulher, Gestão em Saúde e Enfermagem Perioperatória. Os participantes tinham entre 33 e 60 anos; 16 deles eram do sexo feminino e três do sexo masculino. Do total, 18 orientam TCC, 17 orientam iniciação científica e 16 coordenam projeto de pesquisa.

A análise das transcrições das rodas de conversas e das entrevistas permitiu o delineamento das seguintes categorias: “A pesquisa como tema estruturante e princípio científico na formação do estudante de graduação em Enfermagem”; “A pesquisa como seiva e princípio educativo no currículo integrado”; “A pesquisa como princípio científico e educativo nas atividades extracurriculares”.

A pesquisa como tema estruturante e princípio científico na formação do estudante de graduação em Enfermagem

Nessa categoria, os participantes identificaram quais os módulos desenvolvem a pesquisa como método investigatório no currículo integrado, que são os módulos denominados Práticas Interdisciplinares e Interação Ensino, Serviço e Comunidade I (PIN I) e Práticas Interdisciplinares e Interação Ensino, Serviço e Comunidade II (PIN II), presentes na primeira e segunda série respectivamente. Assim, se manifestaram:

Existem módulos que trabalham com a pesquisa, como é o caso do PIN I e PIN II, que começam a olhar para esses fins. (D1)

No PIN I, quando eu trabalho, eu falo para o aluno “olha, nós vamos ter que fazer uma intervenção”, em tese eles estão fazendo um estudo qualitativo, ainda que isso não esteja estruturado enquanto uma pesquisa, eles estão fazendo, por exemplo, uma entrevista. (D3)

No PIN I, a investigação científica sistematizada não é o foco. Tem foco em outros conceitos, então vamos trabalhando. Mas ele tem depois como objetivo o relato de experiência num evento científico, então isso já chama a atenção deles. Dá para escrever um trabalho que tem que se estruturar de determinada forma, escrever porque depois fica no currículo, então eles veem isso como uma produção, uma pesquisa. (D4)

Eu percebo que a pesquisa, logo no começo da graduação, tem muita relação com os PINs, principalmente o PIN II, que tem coleta de dados e apresentação dos dados. (D5)

Os módulos PIN I e PIN II desenvolvem o ensino das atividades investigativas, de forma interdisciplinar, entre estudantes dos cursos de Enfermagem, Farmácia e Medicina. Os acadêmicos são encaminhados para campo, com o objetivo do desenvolvimento do ensino da pesquisa, por meio do processo metodológico da problematização, havendo espaço para a discussão de aspectos relacionados à pesquisa e à epidemiologia. O módulo abrange três momentos: “o primeiro evidencia os indicadores de saúde, o segundo e o terceiro são relacionados à pesquisa, desde sua abordagem (qualitativa e quantitativa), tipos de pesquisa de desenho epidemiológico e etapas do projeto de pesquisa”. Ao final do módulo, o estudante deve finalizar a pesquisa e analisar os dados coletados e apresenta-los em evento científico(1212 Begui JR. A investigação científica na formação do enfermeiro em um currículo integrado. Londrina. Dissertação [Mestrado em Enfermagem] - Universidade Estadual de Londrina; 2015.).

Os docentes também referiram que o módulo Trabalho de Conclusão de Curso I (TCC I), na terceira série e o Trabalho de Conclusão de Curso II (TCCII), na quarta série, promove o ensino da pesquisa por ser o tema central do módulo o processo investigatório.

De maneira formal ele [o tema investigação científica] vem com o TCC 1 e TCC 2. (D2)

Na estrutura curricular acho que depois, no quarto ou terceiro ano, durante o TCC. (D4)

[...] depois o TCC no terceiro e quarto ano. (D1)

No módulo, TCC I, cada estudante deve desenvolver um pré-projeto de pesquisa, individualmente e sob orientação de um docente, e enviá-lo ao Comitê de Ética em Pesquisa. Já o módulo TCC II é o momento de elaboração da pesquisa, com entrega de um trabalho final de curso, avaliado por uma banca específica com posterior apresentação dos resultados em um evento científico(1212 Begui JR. A investigação científica na formação do enfermeiro em um currículo integrado. Londrina. Dissertação [Mestrado em Enfermagem] - Universidade Estadual de Londrina; 2015.).

Nessa categoria, foi possível identificar pelos depoimentos dos docentes que o processo educativo de ensino da pesquisa ocorre em quatro momentos sequenciais, sendo um por série, permitindo assim ao estudante uma formação contínua e qualificada ao longo do curso.

A pesquisa como seiva e princípio educativo no currículo integrado

Essa categoria aborda os diferentes módulos que trabalham com a pesquisa como tema transversal, bem como os diferentes meios de utilizar a pesquisa como ensino na graduação. As expressões dos docentes entrevistados possibilitaram apreender o ensino da pesquisa como tema transversal, ou seiva, no percurso do currículo integrado. A pesquisa como seiva foi identificada pelos docentes como princípio educativo, ou seja, como uma metodologia de ensino, permeando todos os módulos do curso. Assim, relataram:

Eu acho que essa aproximação da literatura é em todos os módulos. (D6)

Então assim, que os nossos módulos, de alguma forma, sim, estão contribuindo muito para ajudá-los a começar essa caminhada da pesquisa. (D7)

O acadêmico vai adquirindo essas habilidades em diversos módulos. (D2)

Os docentes relataram as atividades que realizam nos módulos, demonstrando a pesquisa como princípio educativo, ou seja, como um meio de aprender conteúdos, pois:

Se você pensar que a pesquisa pode ser um estudo de caso, um relato de experiência, então ele é exposto a isso, em mais de um momento. Agora, em central de material, os alunos utilizaram um instrumento de avaliação de qualidade para avaliar uma realidade, compararam com a realidade anterior, fizeram um relatório, fizeram uma análise critica, chegaram a novos índices, chegaram a novas conclusões e apresentaram isso para o serviço. Na verdade, foi um processo simplificado de pesquisa. (D8)

Eu consigo me lembrar também, no nosso modulo de saúde de criança, em perfil epidemiológico em relação à criança, então o aluno, ele tem que pesquisar a realidade das doenças mais comuns brasileiras, da região, e local e comparar com a UBS em que ele está inserido, então não deixa de ser um raciocínio de pesquisador. Ele buscar, de um lado até chegar no dele analisar: é igual? é diferente? quais são os programas? (D9)

Essas atividades oportunizam aos acadêmicos sucessivas aproximações com a pesquisa, como meios de aprendizagem na sua formação, como é reforçado neste dizer:

O que eu vejo é que quando o aluno se aproxima mais de uma vez e isso realmente tem significado, desperta interesse, portanto todos os módulos colaboram e contribuem para o aprendizado da pesquisa. (D3)

A metodologia ativa por si só proporciona isso, porque quando você vai buscar o conhecimento, inevitavelmente você já está fazendo pesquisa. Você vai à biblioteca, vai para a internet e começa a se perguntar: “O blogue do Bodão pode ser o meu elemento de pesquisa?” Não pode, então tem que ser um site do Incra, do Ministério da Saúde... A partir daí, você já começa. Eu acho que essa aproximação da literatura é em todos os módulos. (D6)

A pesquisa como princípio científico e educativo nas atividades extracurriculares

Nessa categoria, os participantes identificaram as atividades extracurriculares que ocorrem fora da grade curricular do curso e compreendem a participação em projetos de ensino, pesquisa e extensão como fundamentais nesse processo de ensino, agregando o desenvolvimento da formação inicial de pesquisa na graduação. No tocante a esse aspecto, os docentes relataram que o desenvolvimento do ensino da pesquisa também se verifica na inserção dos acadêmicos nas atividades de iniciação científica.

O aprendizado da pesquisa vem mesmo dos projetos de iniciação científica. (D9)

Então, acho que ele concretiza com a iniciação científica, chamar a pessoa para a iniciação científica, que é onde conseguimos aproveitar mais com alguns alunos. (D4)

A iniciação científica ainda foi identificada como o elo entre o acadêmico e a pesquisa, como demonstrado na fala a seguir:

Então, a iniciação científica, ela constrói de maneira explícita esse vínculo entre o aluno e a pesquisa. Eu acho que a iniciação científica, dentro dos primeiros anos, ela consegue dar suporte para a formação. (D11)

Os professores relataram que, além da iniciação científica, as demais atividades extracurriculares, como projetos de extensão e ensino, também contribuem para a formação em pesquisa na graduação.

Você pode ter um projeto de extensão e desenvolver também a formação em pesquisa, tendo um projeto de ensino também, como nós temos. Para mim, é possível que se desenvolvam as duas coisas. (D1)

Eu acho que os projetos de ensino e extensão também contribuem para a pesquisa; eu tenho um projeto que a gente complementa com o ensino, onde ele vai pro laboratório e pra prática, e o aprendizado é significante. (D12)

Para os participantes, as atividades extracurriculares fortalecem o ensino da pesquisa, devido às atividades que os acadêmicos executam que podem ser desde os relatórios exigidos pelo projeto até a produção dos dados, como demonstrado nas seguintes falas:

O bolsista de extensão obrigatoriamente tem que ter um trabalho de pesquisa. Ele tem que desenvolver um projeto dentro da extensão, o bolsista. Ele é obrigado a coletar e apresentar os dados da extensão. (D13)

A extensão estimula bastante, que o que é feito na extensão se transforme em dados, cobrar também uma produção, até uma apresentação nessa produção, e eu acho isso muito importante para o aprendizado da pesquisa. (D14)

Outra atividade extracurricular identificada pelos docentes como agregadora do ensino da pesquisa foi a participação de acadêmicos em grupos de pesquisa, isso devido aos diversos níveis de formação e sua interação, como demonstrado a seguir:

No meu grupo de pesquisa tem alunos de graduação, de mestrado, e quando a gente insere o acadêmico, e ele ganha conhecimento com isso [...] a pesquisa ela forma, ela produz, ela integra áreas diferentes que se somam, com resultado final que gera conhecimento. (D12)

[...] E aí, por meio de um grupo de pesquisa, fortalecemos tanto as linhas de pesquisa quanto a inserção de alunos na pesquisa. (D4)

... quando o aluno da graduação participa e frequenta um grupo de pesquisa, o aluno cria um turbilhão de ideias novas na cabeça dele. (D15)

DISCUSSÃO

A primeira categoria traz à tona os módulos que desenvolvem a pesquisa como método investigatório no currículo integrado. Este resultado encontra ressonância no importante fato de que o processo de ensino da pesquisa na graduação encontra-se regulamentado pela DCN de Enfermagem, oportunizando ao acadêmico sair da posição de sujeito passivo para a produção e reconstrução do seu próprio conhecimento, desenvolvendo um pensamento crítico da realidade. Proporcionar que o acadêmico realize a pesquisa capacita-o a produzir mecanismos e procedimentos que favorecem sua autonomia, criatividade e inovação(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.).

Nesse processo, a proposta curricular e o professor têm um papel essencial, proporciona ao estudante a descoberta e a criação, coerente em relação à teoria, método, prática e empiria(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.). Além disso, o professor deve ser o “socializador do conhecimento”, estimulando no acadêmico o entendimento da pesquisa(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.). Observa-se que essas premissas são almejadas e praticadas pelos docentes da realidade em estudo.

Importa não perder de vista que, para proporcionar o entendimento da pesquisa para o estudante, o professor deve construir seu projeto pedagógico próprio (projeto de aula), criar textos científicos próprios, elaborar seu material didático e inovar sua prática didática(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.). Além de possuir bagagem pessoal, o professor deve também ser capaz de comparar as várias formas de planejar um tema, formulando um ambiente característico do diálogo criativo(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.).

Na proposta curricular estudada, a pesquisa adquire um intenso significado durante o processo de ensino-aprendizado, e a sua obtenção é o alicerce impulsionador de um dos temas transversais delineados na formatação desta proposta pedagógica, denominado “seivas”, com o sentido de “aquilo que transpassa as disciplinas curriculares”, enriquecendo as atividades acadêmicas(88 Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHD. Integrated nursing curriculum in Brazil: a 13-year experience. Creative Educ[Internet]. 2013 [cited 2016 Jul 30];4(12B):66-74. Available from: http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=41470
http://www.scirp.org/journal/PaperInform...
). Nessa perspectiva, o currículo pedagógico deve superar a condição de conteúdos a serem executados, mas deve promover vivências e experiências para os discentes em todo o período acadêmico, embasado nos objetivos institucionais da formação(1414 Moraes BA, Costa NMS. Understanding the curriculum the light of training guiding health in Brazil. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2016[cited 2017 Jul 15];50(Spe):9-16. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v50nspe/0080-6234-reeusp-50-esp-0009.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v50nspe/...
).

Para que isso ocorra, o diferencial da pesquisa encontra-se no questionamento, que envolve a teoria e a prática, a qualidade formal e política, a inovação e a ética, oportunizando o conhecimento crítico e criativo(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.). A pesquisa necessita ter o compromisso científico e educativo, se isso não ocorrer, torna-se uma expressão tipicamente formal, restando somente o domínio metodológico(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.).

As expressões citadas pelos participantes na segunda categoria demonstram que, apesar de o módulo não possuir o propósito de ensinar a pesquisar de forma explícita, suas atividades estão vinculadas à pesquisa como princípio educativo, ou seja, as atividades realizadas na aula são ações de pesquisa que promovem o ensino do conteúdo por meio da pesquisa. Essas atividades valorizam a utilização de metodologias ativas e problematizadora dentro do currículo integrado e oportunizam aos acadêmicos serem ativos na construção do seu conhecimento.

Aprender pela pesquisa consiste em compreender que a aula, em vez de ser um “pacote didático curricular”, torna-se um espaço para a criatividade, construindo soluções diante de novos problemas(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.). Quando a educação na escola fica centrada em aula que só repassa conteúdo, torna o acadêmico objeto de ensino e instrução, tirando-lhe a condição de sujeito construtor dos seus saberes(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.).

Os espaços educacionais, como as salas de aula, os cenários da prática em saúde, laboratórios e comunidades devem ser os locais onde ocorre o processo de emancipação do estudante, que consiste no desenvolvimento histórico de conquista como protagonista racional e produtivo do seu conhecimento(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.). Emancipar-se é também possuir a consciência crítica e descobrir-se como ser social, com sua condição histórica, entendendo que parte é concedida e parte é formada(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.

14 Moraes BA, Costa NMS. Understanding the curriculum the light of training guiding health in Brazil. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2016[cited 2017 Jul 15];50(Spe):9-16. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v50nspe/0080-6234-reeusp-50-esp-0009.pdf
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-1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.). Para que isso aconteça, o acadêmico deve ser induzido à leitura e elaboração própria, por manuseio e formulação de trabalhos científicos, tornando-se gradativamente capacitado a criar(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.). Esta premissa foi observada nos relatos dos professores da realidade em estudo, exemplificado pelas atividades curriculares nos módulos.

O ambiente universitário deve ser um espaço de educar pela pesquisa, possibilitando ao estudante um comportamento ativo, dinâmico, com interação cativante, comunicação compreensível, favorecendo a motivação e a valorização da experiência do acadêmico(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.). Dessa forma, deve incentivar o estudante pela busca de materiais, como livros, fontes, dados e informações científicas, estimulando a iniciativa e superando o recurso pronto(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.).

Com a procura do material, o acadêmico deve fazer interpretações próprias, compreendendo o texto e, posteriormente, iniciando o processo de elaboração própria, substituindo o conhecimento originado do senso comum para dar espaço ao questionamento reconstrutivo(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.).

Um estudo realizado com docentes de graduação com o objetivo de identificar a relação entre ensino e pesquisa evidenciou que a pesquisa, quando atrelada ao processo pedagógico, torna-se uma estratégia inovadora para a qualidade educacional, pois unifica a prática com a teoria(1616 Soares SR, Cunha MI. Qualidade do ensino de graduação: concepções de docentes pesquisadores. Aval[Internet]. 2017 [cited 2017 Sep 23];22(2):316-31. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s1414-40772017000200003
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).

Para que a proposta de educar através da pesquisa seja efetiva e executada nas escolas de Enfermagem do Brasil, o professor necessita superar a sua formação da escola tradicional, que já não corresponde à expectativa de transformação e inovação do conhecimento(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.). Para isso, o professor deve estar constantemente engajado em cursos de capacitação, participando de espaços socializadores de conhecimento que consolidem a competência do docente, como congressos, eventos, seminários, entre outros(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.).

Na terceira categorias, os participantes expressaram a importância das atividades extracurriculares, bem como da iniciação cientifica que o acadêmico perfaz as etapas do método científico, partindo do delineamento do tema de interesse, com anuência do professor; posteriormente, redige um pré-projeto e o submete ao Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos – salvo em casos em que o docente já possui algum projeto em andamento(1717 Santos VC, Anjos KF, Almeida OS. Iniciação científica a partir de estudantes de Enfermagem. Rev Bras Ciênc Saúde[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];19(4):255-60. Available from: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/viewFile/19991/15099
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). Depois da aprovação do Comitê, o acadêmico inicia a pesquisa, primeiro pela busca bibliográfica e embasamento teórico e, logo em seguida, lança-se na pesquisa de campo ou coleta de dados(1717 Santos VC, Anjos KF, Almeida OS. Iniciação científica a partir de estudantes de Enfermagem. Rev Bras Ciênc Saúde[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];19(4):255-60. Available from: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/viewFile/19991/15099
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). Na sequência, analisa os dados coletados, elabora um trabalho em relação aos resultados e os divulga em eventos de caráter científico(1717 Santos VC, Anjos KF, Almeida OS. Iniciação científica a partir de estudantes de Enfermagem. Rev Bras Ciênc Saúde[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];19(4):255-60. Available from: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/viewFile/19991/15099
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).

A iniciação científica pode ser compreendida como um aprendizado prático do exercício de realizar a pesquisa, sob orientação de um profissional especializado, que deve ser pesquisador, geralmente docente do curso, com a finalidade de conferir ao acadêmico, oportunidade para aprender os princípios científicos e seja estimulado pelo interesse em se tornar um futuro pesquisador(1818 Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos. Rev Med[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];91(2):128-36. Available from: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/viewFile/58973/61960
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). O aprendizado da pesquisa também ocorre pela inserção do estudante em grupos de pesquisa, proporcionando convívio e aprendizado com outros estudantes, os de pós-graduação em nível mestrado e doutorado.

Além disso, a iniciação científica surge, no contexto universitário, como um mecanismo que permite introduzir os acadêmicos no ambiente científico, favorecendo a produção de recursos humanos qualificados(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.

16 Soares SR, Cunha MI. Qualidade do ensino de graduação: concepções de docentes pesquisadores. Aval[Internet]. 2017 [cited 2017 Sep 23];22(2):316-31. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s1414-40772017000200003
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17 Santos VC, Anjos KF, Almeida OS. Iniciação científica a partir de estudantes de Enfermagem. Rev Bras Ciênc Saúde[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];19(4):255-60. Available from: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/viewFile/19991/15099
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-1818 Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos. Rev Med[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];91(2):128-36. Available from: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/viewFile/58973/61960
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). Na Enfermagem, tem a característica particular de, ainda na graduação, incentivar o acadêmico a aproximar-se da realidade social, proporcionando a produção de pesquisas, contribuindo para sua construção profissional e para o desenvolvimento da ciência e da sociedade(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.

16 Soares SR, Cunha MI. Qualidade do ensino de graduação: concepções de docentes pesquisadores. Aval[Internet]. 2017 [cited 2017 Sep 23];22(2):316-31. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s1414-40772017000200003
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17 Santos VC, Anjos KF, Almeida OS. Iniciação científica a partir de estudantes de Enfermagem. Rev Bras Ciênc Saúde[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];19(4):255-60. Available from: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/viewFile/19991/15099
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-1818 Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos. Rev Med[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];91(2):128-36. Available from: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/viewFile/58973/61960
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).

É importante que as pesquisas de iniciação científica realizadas nas universidades estendam seus resultados à sociedade, transformando a Instituição em um ambiente acessível à comunidade, favorecendo o atendimento para as demandas sociais detectadas, por meio da devolutiva do conhecimento ali produzido(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.

16 Soares SR, Cunha MI. Qualidade do ensino de graduação: concepções de docentes pesquisadores. Aval[Internet]. 2017 [cited 2017 Sep 23];22(2):316-31. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s1414-40772017000200003
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17 Santos VC, Anjos KF, Almeida OS. Iniciação científica a partir de estudantes de Enfermagem. Rev Bras Ciênc Saúde[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];19(4):255-60. Available from: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/viewFile/19991/15099
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-1818 Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos. Rev Med[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];91(2):128-36. Available from: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/viewFile/58973/61960
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).

A iniciação científica, como a extensão universitária, aparece para apresentar à sociedade a utilidade do ensino e da pesquisa. O processo de ensino e aprendizagem da pesquisa não deve ficar restrito à extensão, mas sim permear todo o percurso universitário(1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.). Assim, com as demais atividades de extensão, a iniciação científica e a pesquisa devem ser entendidas pela universidade, pelos docentes e acadêmicos como uma conexão com a proposta pedagógica, e não como algo isolado, ou seja, devem estar presente em todo o processo acadêmico, em todos os níveis e em todas as fases(66 Guariente MHM, Zago MF, Soubhia Z, Haddad MCL. Sentidos da pesquisa na prática profissional de enfermeiras assistenciais. Rev Bras Enferm[Internet]. 2010[cited 2017 Jul 15];63(4):541-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n4/07.pdf
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7 Piexak DR, Barlem JGT, Silveira RS, Fernandes GFM, Lunardi VL, Backes DS. A percepção de estudantes da primeira série de um curso de graduação em enfermagem acerca da pesquisa. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2013[cited 2017 Jul 15];17(1):68-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v17n1/10.pdf
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8 Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHD. Integrated nursing curriculum in Brazil: a 13-year experience. Creative Educ[Internet]. 2013 [cited 2016 Jul 30];4(12B):66-74. Available from: http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=41470
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9 Silva JP, Garanhani ML, Guariente MHDM. Nursing care systems and complex thought in nursing education: document analysis. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2014 [cited 2017 Mar 09];35(2):128-34. Available from: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/44538/29943
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10 Silva JP, Garanhani ML, Peres AM. Systematization of Nursing Care in undergraduate training: the perspective of Complex Thinking. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2015[cited 2017 Jul 09];23(1):59-66. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n1/0104-1169-rlae-23-01-00059.pdf
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11 Melo MCH, Cruz GC. Roda de conversa: uma proposta metodológica para a construção de um espaço de diálogo no ensino médio. Imag Educ[Internet]. 2014[cited 2017 Jul 15];4(2):31-9. Available from: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ImagensEduc/article/view/22222
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12 Begui JR. A investigação científica na formação do enfermeiro em um currículo integrado. Londrina. Dissertação [Mestrado em Enfermagem] - Universidade Estadual de Londrina; 2015.

13 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.

14 Moraes BA, Costa NMS. Understanding the curriculum the light of training guiding health in Brazil. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2016[cited 2017 Jul 15];50(Spe):9-16. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v50nspe/0080-6234-reeusp-50-esp-0009.pdf
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-1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.).

A iniciação científica, dentro da proposta pedagógica do curso, deve ocorrer como um complemento do processo de desenvolvimento do ensino da pesquisa que, espera-se, ocorra em todo o trajeto acadêmico. Restringir o ensino da pesquisa às atividades extracurriculares delimita o desenvolvimento científico dos acadêmicos. Além disso, a extensão universitária é o método educativo, cultural e científico que associa o processo educativo com a pesquisa de forma inseparável e incentiva a ligação transformadora entre universidade e sociedade(1919 Maurer BSS, Brusamarello T, Guimarães AN, Oliveira VC, Paes MR, Maftum MA. University extension in mental health at the federal university of paraná: contributions to the training of the nursing professional. Ciênc Cuid Saúde[Internet]. 2013[citado 2017 Jul 15];12(3):539-547. Available from: http://www.revenf.bvs.br/pdf/ccs/v12n3/en_17.pdf
http://www.revenf.bvs.br/pdf/ccs/v12n3/e...
).

Os projetos de extensão universitária devem ser formulados de modo a possibilitar que indivíduos sedentos por questionar qualifiquem-se para agir e intervir em situações manifestas em razão de diversidades culturais, sociais e ambientais, e não somente com os métodos técnicos(2020 Leite MF, Ribeiro KSQS, Anjos UU, Batista PSS. Extensão Popular na formação profissional em saúde para o SUS: refletindo uma experiência. Interface[Internet]. 2014 [cited 2017 Jul 15];18(Suppl-2):1569-78. Available from: https://scielosp.org/pdf/icse/2014.v18suppl2/1569-1578/pt
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). Ainda, os projetos de extensão contribuem para que os acadêmicos coloquem em prática os conteúdos teóricos discutidos em sala de aula, de maneira a desenvolver suas habilidades, conhecimentos e atitudes investigativas(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.

14 Moraes BA, Costa NMS. Understanding the curriculum the light of training guiding health in Brazil. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2016[cited 2017 Jul 15];50(Spe):9-16. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v50nspe/0080-6234-reeusp-50-esp-0009.pdf
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-1515 Demo P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados; 2015.,2121 Soares F, Stahlhoefer T, Maziero ECS, Meier MJ, Peruzzo SA, Taube SAM. Projeto de extensão centro de cuidados de enfermagem. Cogitare Enferm [Internet]. 2010[cited 2016 Jul 15];15(2):359-63. Available from: http://revistas.ufpr.br/cogitare/article/viewFile/17877/11667
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).

Os projetos de extensão promovem, assim, a relação da comunidade com a universidade, favorecendo a aprendizagem e a troca de conhecimentos, proporcionando ao estudante a compreensão da sociedade, bem como de suprir as necessidades de saúde(2222 Oliveira FLB, Almeida Jr JJ. Motivações de acadêmicos de enfermagem atuantes em projetos de extensão universitária: a experiência da Faculdade Ciências da Saúde do Trairí/UFRN. Espaç Saúde [Internet]. 2015[cited 2017 Jul 15];16(1):36-44. Available from: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/espacoparasaude/article/view/19372
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php...
).

Além dessas atividades extracurriculares, o grupo de pesquisa também foi elencado como um facilitador desse processo, onde se denomina como um momento de encontro e exercício de pesquisa, cujo trabalho se estabelece em volta de linhas de pesquisas(2323 Padilha MI, Borenstein MS, Carvalho MAL, Ferreira AC. Nursing history research groups: a Brazilian reality. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];46(1):192-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n1/en_v46n1a26.pdf
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).

Nessa perspectiva, o grupo de pesquisa, bem como a pesquisa, faz-se importante como trabalho em conjunto, a fim de superar a “visão fragmentada, e o conhecimento distorcido da realidade”. Quando o acadêmico realiza trabalhos em equipe, ele adquire a perspectiva comum da realidade, ou seja, ele compreende como os demais indivíduos da sociedade interpretam determinado tema, e isso interfere no seu conhecimento, ampliando seu aprendizado(1313 Demo P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez; 2011.).

Estudo realizado com docentes orientadoras de pesquisa identificou o grupo de pesquisa como um espaço de relações de crescimento decorrente da interação e troca de conhecimento realizado entre estudante e orientador, e com os diversos níveis de formação, por exemplo, alunos de pós-graduação(33 Erdmann AL, Leite JL, Nascimento KC, Lanzoni GMM. Vislumbrando a iniciação científica a partir de orientadoras de bolsistas de Enfermagem. Rev Bras Enferm [Internet]. 2011[cited 2017 Jul 15];64(2):261-7. Available: http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n2/a07v64n2.pdf
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). Esse processo de interação estimula o acadêmico a buscar o aprendizado, bem como a delinear a sua linha de pesquisa desde o período da graduação(1818 Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos. Rev Med[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];91(2):128-36. Available from: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/viewFile/58973/61960
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,2323 Padilha MI, Borenstein MS, Carvalho MAL, Ferreira AC. Nursing history research groups: a Brazilian reality. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2012 [cited 2017 Jul 15];46(1):192-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n1/en_v46n1a26.pdf
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).

Em vista disso, a atividade extracurricular vem ao encontro do processo de formação dos enfermeiros, sendo um mecanismo auxiliar na proposta pedagógica do curso, da Instituição de Ensino e na formação da competência científica.

Portanto, fatores pedagógicos e organizacionais, pela interface com a pesquisa, contribuem para o desenvolvimento da competência científica do estudante de Enfermagem. A inovação está na organização da matriz curricular em módulos interdisciplinares, planejados em unidades temáticas de ensino para a obtenção de desempenhos substancial para a formação do profissional de Enfermagem almejada. Está no processo de ensino e aprendizagem por meio da problematização, e da utilização de metodologias ativas. Está nos temas transversais como dinamizadoras das ações pedagógicas, presentes em todos os módulos curriculares do curso. Está na possibilidade de espaços extracurriculares que privilegiem a pesquisa. Está na postura do docente aberta ao novo, ao outro e à formação necessária para quem cuida e pesquisa para melhor cuidar.

Limites do estudo

Considera-se como limitação deste estudo a percepção do objeto do estudo unicamente pelo olhar dos docentes. Há que se desenvolver estudos que procurem a formação em pesquisa na graduação na perspectiva discente, a fim de evidenciar os métodos de ensino e aprendizagem e sua importância na inserção do futuro enfermeiro no meio investigatório pelo olhar do estudante da graduação.

Contribuições para área da enfermagem

Compreender e anunciar os meios de ensino e aprendizagem da pesquisa na graduação em Enfermagem que podem favorecer as instituições e ensino superior, e os cursos de Enfermagem, ao evidenciar novos mecanismos do processo de ensino-aprendizagem, como também analisar a formação do estudante para essa temática, promovendo enfermeiros críticos e reflexivos no seu processo de trabalho e que relacionam seu exercício profissional com o científico, suscitando, assim, uma assistência baseada em evidências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na experiência analisada, os professores percebem que o tema “investigação científica” vem sendo alcançado na formação dos estudantes pelo currículo integrado, ao privilegiar a investigação científica como tema estruturante, tema transversal e também em atividades extracurriculares. Consideram que o papel do professor torna-se o diferencial no alcance da competência científica, tendo como princípio a relação professor-aluno, construída pelo interesse comum no tema da pesquisa.

As atividades extracurriculares foram evidenciadas pelos docentes como fundamentais no processo formativo de pesquisar. No entanto, essas não podem ser as únicas responsáveis pela construção do processo investigatório, sendo desejável a união entre as ações curriculares e extracurriculares para proporcionar a formação em pesquisa. Assim, os acadêmicos compreenderão que o processo educativo se dá por meio da relação entre essas atividades, ao longo do seu decurso formativo.

O método utilizado pela Instituição de Ensino pesquisada pode ser um referencial para os demais cursos de Enfermagem do Brasil, pela capacidade de organização e estruturação dos conteúdos de forma abrangente, relacionando-os com a realidade e proporcionando ao acadêmico várias aproximações com o tema da pesquisa, em diversos momentos do itinerário na graduação.

Faz-se importante salientar que a pesquisa enquanto processo educativo, ou seja, a utilização da pesquisa como forma de ensino de diversos conteúdos, também se torna um diferencial desta proposta pedagógica. Dessa forma, educar pela pesquisa, permite ao enfermeiro em formação autonomia de construção do conhecimento, consentindo que seja compreendido pelo estudante tanto o processo investigatório quanto os conteúdos necessários para a sua atuação profissional.

Os resultados permitem inferir, a partir da percepção dos docentes, que é possível que a formação do enfermeiro em pesquisa aconteça em todo o ciclo universitário, de forma dinâmica, processual, contribuindo para que o acadêmico faça a associação entre a teoria e a prática, rompendo com o tipo de formação que privilegia o ensino da pesquisa em um momento isolado, fragmentado, fora do contexto social e da saúde.

Portanto, o movimento de mais cursos de graduação em Enfermagem em torno do desenvolvimento da competência científica, como uma realidade no país, poderá alavancar a formação do estudante, contribuindo para qiue este, como futuro enfermeiro, relacione a pesquisa a sua prática cotidiana profissional para a assistência qualificada em saúde, bem como possibilite a base científica para quem almeja o percurso acadêmico-científico.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    01 Ago 2017
  • Aceito
    07 Out 2017
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