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Vivências de professores acerca dos primeiros socorros na escola

RESUMO

Objetivo:

desvelar as vivências de professores do ensino infantil e fundamental sobre primeiros socorros na escola.

Método:

estudo descritivo, qualitativo realizado em maio de 2014, a partir de grupo focal com nove professores da rede municipal de Bom Jesus-PI. Ocorreu gravação de áudio, o conteúdo foi transcrito, os dados foram processados no software IRAMUTEQ e analisados a partir da Classificação Hierárquica Descendente.

Resultados:

foram obtidas três classes: “Conhecimento dos professores acerca dos primeiros socorros” (apontou influência da experiência materna, crença em mitos populares e consciência do despreparo); “Sentimentos em situações de urgência e emergência” (angústia, medo e preocupação); e “Primeiros socorros vivenciados na escola”, (ocorridos em sala de aula ou durante recreação, oriundos de pancadas e síncope).

Considerações finais:

A pesquisa evidenciou vivências baseadas em crenças populares, experiências familiares e lacuna de conhecimentos. O despreparo foi evidenciado pelo relato dos professores acerca de terem realizado condutas inadequadas durante primeiros socorros na escola.

Descritores:
Primeiros Socorros; Emergências; Saúde Escolar; Promoção da Saúde; Pesquisa Qualitativa

ABSTRACT

Objective:

To unveil the experiences of primary and elementary school teachers about first aid at school.

Method:

a descriptive, qualitative study, conducted in May 2014, from a focus group with nine teachers from the municipal network of Bom Jesus-PI. Audio recording occurred, content was transcribed, and data were processed by IRAMUTEQ software and analyzed from the Descendant Hierarchical Classification.

Results:

Three classes were obtained: Teachers’ knowledge about first aid (influence of maternal experience, belief in popular myths and awareness of lack of preparation were indicated); Feelings in situations of urgency and emergency (anguish, fear and concern); First aid at school, (occurring in class or during break time, coming from collisions and syncope).

Final considerations:

The research evidenced experiences based on popular beliefs, family experiences and knowledge gaps. The lack of preparation was evidenced by the teachers’ reports about having misconduct during first aid at school.

Descriptors:
First Aid; Emergencies; School Health; Health Promotion; Qualitative Research

RESUMEN

Objetivo:

desvelar las vivencias de profesores de la enseñanza infantil y fundamental sobre primeros auxilios en la escuela.

Método:

estudio descriptivo, cualitativo realizado en mayo de 2014, a partir de un grupo focal con nueve profesores de la red municipal de Bom Jesús-PI. La grabación de audio, el contenido fue transcrito, los datos fueron procesados en el software IRAMUTEQ y analizados a partir de la Clasificación jerárquica descendente.

Resultados:

se obtuvieron tres clases: “Conocimiento de los profesores acerca de los primeros auxilios” (apuntó influencia de la experiencia materna, creencia en mitos populares y conciencia del despreparo); “Sentimientos en situaciones de urgencia y emergencia” (angustia, miedo y preocupación); y “Primeros auxilios vivenciados en la escuela”, (ocurridos en el aula o durante la recreación, procedentes de golpes y síncope).

Consideraciones finales:

La investigación evidenció vivencias basadas en creencias populares, experiencias familiares y laguna de conocimientos. El despreparo fue evidenciado por el relato de los profesores acerca de haber realizado conductas inadecuadas durante primeros auxilios en la escuela.

Descriptores:
Primeros Auxilios; Emergencias; Salud Escolar; Promoción de la Salud; Investigación Cualitativa

INTRODUÇÃO

A escola constitui um ambiente em que se desenvolvem várias atividades, dentre elas, o ensino, a recreação, as brincadeiras e a socialização, tornando-se um local propício para a ocorrência de acidentes(11 Maia MFM, Anjos MRR, Miranda Neto JT, Gomes MCS, Deusdará FF. Primeiros socorros nas aulas de educação física nas escolas municipais de uma cidade no norte do estado de Minas Gerais. Col Pesq Educ Física[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];11(1):195-204. Available from: http://www.conhecer.org.br/enciclop/2015a/situacoes.pdf
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).

Estudo nas capitais brasileiras evidenciou que a faixa etária em idade escolar (0 a 19 anos) correspondeu a 45,7% dos atendimentos por causas externas em serviços de urgência(22 Singletary EM, Charlton NP, Epstein JL, Ferguson JD, Jensen JL, MacPherson AI, et al. First Aid: 2015 American Heart Association and American Red Cross Guidelines Update for First Aid. Circulation [Internet]. 2015[cited 2018 Jan 20];132(Suppl-2)18:574-89. Available from: http://circ.ahajournals.org/content/132/18_suppl_2/S5744
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), enquanto outro estudo brasileiro aponta ainda que, nos atendimentos pediátricos de emergência, houve associação estatística entre a ocorrência de queda e o ambiente escolar(33 Callaway CW. Cardiac arrest in any location: the need for fewer bystanders and more layperson rescuers. JAMA Cardiol[Internet]. 2017[cited 2017 Jan 14];2(5):514-5. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28297005
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2829...
).

Os primeiros socorros são definidos como ações que são executadas em alguma vítima, diante de uma situação de emergência(44 Oliveira MR, Leonel ARA, Montezeli JH, Gastaldi AB, Martins EAP, Caveião C. Conception of undergraduate nursing students on the practice of health education on first aid. Rev Rene[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 14];16(2):150-8. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/view/1863
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). Como, geralmente, a chegada dos profissionais de saúde pode demandar algum tempo, estas ações precisam ser iniciadas por pessoas presentes no local que presenciem a situação(55 Malta DC, Mascarenhas MDM, Bernal RTI, Andrade SSCA, Neves ACM, Melo EM, et al. Causas externas em adolescentes: atendimentos em serviços sentinelas de urgência e emergência nas Capitais Brasileiras-2009. Cienc Saude Colet[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];17(9):2291-304. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n9/a11v17n9.pdf
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). Assim, é necessário que a população, em sua diversidade de contextos, empodere-se e assuma o protagonismo das ações de primeiros socorros(66 Malta DC, Silva MMA, Mascarenhas MDM, Sá NNB, Morais Neto ON, Bernal RTI, et al. The characteristics and factors of emergency service visits for falls. Rev Saúde Publica[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];46(1):128-37. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v46n1/en_3200.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v46n1/en_32...
).

O “empowerment”, em uma perspectiva integral, refere-se a uma participação ativa dos indivíduos nos processos decisórios, no fortalecimento dos modos coletivos de planejamento e decisão nas ações de saúde(77 Silva LGS, Costa JB, Furtado LGS, Tavares JB, Costa JLD. Primeiros socorros e prevenção de acidentes no ambiente escolar: intervenção em unidade de ensino. Enferm Foco[Internet]. 2017[cited 2017 Oct 03];8(3):25-29. Available from: http://revista.portalcofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/893/394
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). Uma estratégia que contribui com o empoderamento no ambiente escolar é o Programa Saúde na Escola (PSE). Desde 2007, tal programa contempla a intersetorialidade entre saúde e educação, a partir da atuação da Estratégia de Saúde da Família com alunos e professores no ambiente escolar, em atividades de diagnóstico e prevenção(88 Oliveira IS, Souza IP, Marques SM, Cruz AF. Knowledge of educators on prevention of accidents in childhood. Rev Enferm UFPE[Internet]. 2014 [cited 2017 Jan 03];8(2):279-85. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/3390/pdf_4532
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). Nesse contexto, o tema “primeiros socorros” na escola corrobora com as atividades que podem ser realizadas no PSE, por versar sobre um assunto relativo à saúde que é frequentemente vivenciado na rotina escolar(99 Berardinelli NAC, Guedes NAC, Ramos JP, Silva MGN. Tecnologia educacional como estratégia de empoderamento de pessoas com enfermidades crônicas. Rev Enferm UERJ[Internet]. 2014[cited 2017 Jan 14];22(5):603-9. Available from: http://www.facenf.uerj.br/v22n5/v22n5a04.pdf
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).

Os professores são potenciais testemunhas, que necessitam realizar os primeiros socorros em casos de acidentes na escola, entretanto, apesar de participarem de cursos sobre o tema, estes profissionais adotam condutas incorretas diante de situações de acidentes(1010 Taddeo PS, Gomes KWL, Caprara A, Gomes AMA, Oliveira GC, Moreira TMM. Acesso, prática educativa e empoderamento de pacientes com doenças crônicas. Ciênc Saude Colet[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];17(11):2923-30. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n11/v17n11a08.pdf
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). Nesse cenário, cabe aos profissionais de saúde, em especial aos enfermeiros, implementarem medidas que contribuam com a autonomia e o empoderamento dos professores, acerca das questões que envolvem A temática, para que ocorra a capacitação efetiva desses profissionais(1111 Lopes FTP, Cordeiro MP. Entrevistas individuais e grupos focais: alguns cuidados ético-metodológicos. Rev Espaç Acadêmic[Internet]. 2011[cited 2017 Jan 14];11(123):58-67. Available from:http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/12486/7594
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).

Para que intervenções educativas possuam maior chance de sucesso, é importante que sejam planejadas a partir da compreensão acerca dos fatores objetivos e subjetivos que permeiam a situação a ser abordada. Assim, desvelar a vivência de professores sobre os primeiros socorros ganha relevância, ao considerar que estratégias de educação em saúde podem ser planejadas e realizadas pelo enfermeiro, com vistas ao empoderamento comunitário, a partir da compreensão das experiências anteriores e das particularidades oriundas das mesmas.

OBJETIVO

Desvelar vivências de professores do ensino infantil e fundamental sobre primeiros socorros na escola à luz do referencial teórico do empoderamento.

MÉTODO

Aspectos éticos

Este estudo ocorreu conforme estabelecido pela Resolução 466/12, acerca das pesquisas envolvendo seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de Pernambuco.

Tipo de estudo

Para alcance do objetivo proposto, realizou-se um estudo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa.

Cenário do estudo

O cenário do estudo foi constituído pelas 14 escolas públicas municipais localizadas no município de Bom Jesus, no estado do Piauí.

Fontes de dados

O grupo focal foi utilizado como fonte de dados e deve ser formado com a participação de seis a dez pessoas(1212 Camargo BV, Justo AM. Tutorial para o uso do software de análise textual IRAMUTEQ. Laboratório de Psicologia Social da Comunicação e Cognição - LACCOS [Internet]. 2013[cited 2015 Apr 02]; Universidade Federal de Santa Catarina. Available from: http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais
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). Ao considerar a possibilidade de perdas, foram convidados 30 professores, selecionados por amostragem aleatória simples, a partir da lista de docentes da Secretaria Municipal de Educação do referido município. Desses, nove concordaram em participar do estudo e, portanto, integraram à amostra.

A seleção versou sobre os seguintes critérios de inclusão: ser professor da educação infantil ou do ensino fundamental, uma vez que os escolares destas faixas etárias apresentam fatores de risco, inerentes à sua etapa de desenvolvimento, que contribuem com a ocorrência de acidentes; e possuir mais de um ano que exerce a função de professor, o que eleva a chance de vivência de alguma situação de emergência com os alunos.

Como critérios de exclusão, foram adotados: afastamento de qualquer natureza no período em que ocorreu a coleta dos dados e exercer outra atividade profissional que atribua preparo prévio para realização dos primeiros socorros, como bombeiro ou condutor socorrista, o que poderia trazer viés aos resultados.

O perfil dos professores que participaram do presente estudo foi obtido através do preenchimento de uma ficha que abordou informações socioeconômicas e profissionais.

Coleta e organização dos dados

Para coleta de dados foi utilizado um roteiro com as seguintes questões norteadoras a serem contempladas pelo grupo: Fale-me sobre as situações que você vivenciou na qual algum aluno precisou ser socorrido. Como foi para você se deparar com estas situações?

A coleta dos dados ocorreu em maio de 2014. O grupo focal foi realizado em uma sala destinada para reuniões da Secretaria Municipal de Educação. Foram realizados dois encontros com o mesmo grupo de nove professores, o primeiro teve duração de 50 minutos e o segundo durou 49 minutos, com intervalo de dois dias entre ambos, diante da disponibilidade dos professores para se reunir novamente. Destaca-se que a realização de dois encontros foi necessária, pois o objetivo do grupo focal não pôde ser atingido somente no primeiro, diante do volume de falas gerado a partir da grande quantidade de situações de primeiros socorros vivenciadas pelos professores. Ademais, foi no segundo encontro que a saturação do conteúdo foi obtida.

A operacionalização do grupo focal ocorreu pela moderação do pesquisador na discussão do grupo e a condução técnica se deu pela atuação de um observador previamente treinado para tal. Os professores foram acomodados em um círculo e dois aparelhos de MP3 foram posicionados no centro deste para registro do áudio. Posteriormente a cada encontro, ocorreu a transcrição na íntegra do conteúdo que foi gravado.

Análise de dados

Os dados foram processados com o Software IRaMuTeQ (Interface de R pourles Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) versão 0.7 alpha2, que funciona mediante ancoragem ao programa R. O referido programa, de acordo com o tamanho do texto, divide os conteúdos escritos em trechos, geralmente de três linhas, denominados segmentos e possibilita a análise com métodos simples, como a obtenção da frequência de palavras (lexicografia básica), até as formas mais complexas, como a análise multivariada(1313 Brasil. Ministério da Saúde. Caderno do gestor do PSE. Brasília: MS; 2015.). No presente estudo, realizou-se a análise multivariada a partir do método da Classificação Hierárquica Descendente (CHD). Este método consiste no agrupamento em classes dos segmentos textuais, a partir da frequência e Qui-quadrado do vocabulário(1313 Brasil. Ministério da Saúde. Caderno do gestor do PSE. Brasília: MS; 2015.). Em tal agrupamento, os segmentos de determinada classe possuem vocabulário semelhantes entre si e, concomitantemente, vocabulário diferente dos segmentos das outras classes, de forma que a CHD é apresentada pelo software em forma de dendrograma e mostra a relação entre as classes obtidas na análise textual(1313 Brasil. Ministério da Saúde. Caderno do gestor do PSE. Brasília: MS; 2015.).

O corpus de texto resultante da transcrição apresentou-se compatível e viável de ser analisado pelo IRAMUTEQ, uma vez que possuía 1228 palavras e 202 segmentos textuais, com aproveitamento de 80,2% dos segmentos para processamento pelo programa e o agrupamento destes resultou em três classes: conhecimento acerca dos primeiros socorros; sentimentos em situações de urgência e emergência; e primeiros socorros vivenciados na escola.

RESULTADOS

Todos os participantes do estudo foram mulheres e em relação à idade, prevaleceu a faixa etária compreendida entre 30 e 40 anos. Quanto ao estado civil, a maioria era casada (cinco professoras) e possuíam filhos (oito professoras).

No perfil profissional, observou-se que a maioria possuía mais de oito anos de experiência docente (oito professoras) e o regime de trabalho que predominava no grupo era de 40 horas semanais, cumpridos nos turnos manhã e tarde. A formação complementar versou sobre cursos de capacitação pedagógica, vivenciados por três professoras e a titulação predominante foi de especialista, em seis participantes, as demais possuíam como maior titulação a graduação.

O IRAMUTEQ dividiu o texto em 202 segmentos e o agrupamento destes resultou na obtenção de três classes, detalhadas na Figura 1.

Figure 1
Dendrograma das palavras distribuídas por classes, Fortaleza, Ceará, Brasil, 2017

Na classe 1 (conhecimento dos professores acerca dos primeiros socorros), observa-se que algumas condutas de primeiros socorros são conhecidas pelos professores e que foram obtidas principalmente pela experiência materna, por envolver o cuidado com os filhos, que adoecem e se acidentam na infância e levam as mães à buscarem informações acerca da forma correta de socorrer. Dessa forma, a maternidade é apresentada pelas professoras como a motivação para o empoderamento nos primeiros socorros.

O que a gente sabe de primeiros socorros é por ser mãe e, muitas vezes, já ter socorrido os filhos da gente. Se for pancada tem que colocar gelo, se sangrar precisa estancar o sangramento apertando o local com um pano limpo. (P7)

Apesar dessa experiência, existe a crença alicerçada em mitos populares, aos quais os professores relatam ter tido acesso por conversas informais, nas quais souberam de casos onde tais condutas (mitos populares) foram bem sucedidas para salvar ou tratar uma situação de emergência.

Eu já ouvi falar que quando a cobra pica você tem que amarrar acima do lugar pra o sangue não correr, fazer uma perfuração e espremer o local pra sair aquele sangue que tem em volta. (P1)

As falas evidenciam que existe entre os professores a consciência de que possuem despreparo para prestarem os primeiros socorros, principalmente diante da complexidade que pode envolver um caso de urgência e emergência. O argumento apresentado para tal despreparo versa sobre a formação acadêmica ser direcionada para exercício da docência, sem qualquer treinamento sobre primeiros socorros e aponta à necessidade do empoderamento do professor para os primeiros socorros na escola ser contemplado desde a formação.

Na hora que acontece a gente não sabe o que fazer, somos professores, não temos preparo para isso, não vimos nada disso no nosso curso. (P3)

Os professores, apesar de acreditarem que não possuem o preparo necessário, demonstram ciência da importância de acionamento do serviço pré-hospitalar móvel para que a vítima possa receber o atendimento adequado. Entretanto, o acionamento dos profissionais da saúde é apontado como a única solução para a situação.

E algum tempo atrás era mais difícil, por que a gente não tinha o SAMU ainda aqui na cidade. Agora já ficou menos complicado, por que no caso de uma emergência a gente já pode ligar pro SAMU, a única solução é chamar o SAMU. (P2)

A classe 2 (sentimentos em situações de urgência e emergência) apresenta os sentimentos expressos, intensificados pela lacuna no empoderamento para realizar os primeiros socorros, dos quais podem ser destacados: angústia, preocupação e medo, oriundos do fato dos professores não saberem como agir (enquanto os profissionais da saúde chegam ao local) e pela exposição a situações atípicas da sua rotina, a partir de estímulos sensoriais que remetem ao risco de morte, como a visualização de sangue.

Mesmo você mandando o SAMU vir pegar, você fica angustiada o tempo todo. Porque você não soube prestar os primeiros socorros, você fica desesperada e não sabe prestar os primeiros socorros. (P6)

Como a gente não tem experiência em como socorrer a pessoa acidentada, você se desespera, fica todo mundo apavorado vendo sangue. (P8)

Os sentimentos relatados pelos professores são gerados diante não só da urgência e gravidade da situação do aluno que precisa de socorro, mas do contexto familiar envolvido, no qual o professor pode sofrer agressões por parte da família e ser acusado de negligenciar a segurança do aluno, que se encontrava sob sua responsabilidade.

A gente fica preocupada por a criança chegar em casa machucada, porque muitas vezes os pais podem não entender, achar que é descuido do professor. (P5)

Em primeiro lugar pensa na família, o que ela vai dizer. Muitas vezes a família não entende, nem sempre os pais são compreensíveis, quando chegam já é no ponto de briga. (P7)

De acordo com a terceira classe (primeiros socorros vivenciados na escola), os agravos que os professores já testemunharam na escola ocorreram em sala de aula ou durante atividade recreativa, acometeram membros, cabeça e dentes e foram oriundos de quedas e pancadas, que causaram fraturas, síncope e edema, de forma que é apontada à necessidade de empoderamento dos professores para agirem diante de tais situações.

Lá no lugar onde eu trabalho, no momento de educação física, o aluno vinha correndo e bateu a cabeça bem na quina da parede, na hora subiu o galo. (P9)

Na nossa escola o que acontece bastante é a questão de cortes, eles têm na testa, no braço, quando eles caem, cortes fundos, bastantes fundos. (P4)

Ele estava brincando na hora da educação física e de repente ele caiu. (P1)

Uma criança, no pátio, brincando com os coleguinhas, caiu e quebrou o braço. (P3)

DISCUSSÃO

O atual modelo voltado para a promoção da saúde, reorganizado e operacionalizado pela Estratégia de Saúde da Família tem como um dos escopos de atuação o Programa Saúde da Escola (PSE). Tal Programa aborda a relevante atuação conjunta da saúde e educação para promoção da saúde no ambiente escolar, a partir de cinco componentes, que versam sobre o monitoramento/avaliação da saúde dos escolares e atividades de prevenção(88 Oliveira IS, Souza IP, Marques SM, Cruz AF. Knowledge of educators on prevention of accidents in childhood. Rev Enferm UFPE[Internet]. 2014 [cited 2017 Jan 03];8(2):279-85. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/3390/pdf_4532
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). Apesar da relevante contribuição do PSE, destaca-se a necessidade da contemplação acerca dos primeiros socorros na escola, com a capacitação dos professores na temática.

Ademais, os achados do presente estudo evidenciaram um paradoxo entre a teoria e a prática, em que os professores possuíam conhecimentos e habilidades incipientes para os primeiros socorros e, sobretudo, demonstravam medo e insegurança para comunicar o fato para os familiares, o que torna imperativo trabalhar a tríade saúde, educação e família, tornando factível essa vertente das recomendações do Programa Saúde na Escola.

Foi possível observar a lacuna que reflete em vivências calcadas em tomada de decisões subsidiada pelo despreparo. Estudo brasileiro quantitativo apontou o déficit de conhecimento sobre os primeiros socorros entre professores(1414 Calandrim LF, Santos AB , Oliveira LR, Massaro LG, Vedovato CA , Boaventura AP. First aid at school: teacher and staff training. Rev Rene[Internet]. 2017 [cited 2018 Jan 20];18(3):292-9. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/view/2641
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), assim como estudos da Nigéria e China mostraram realidade semelhante com professores, sobre a ressuscitação cardiorrespiratória(1515 Onyeaso AO, Onyeaso OO. Comparison of Practising and Student Teachers’ Knowledge of Cardiopulmonary Resuscitation in Nigeria. Public Health Res[Internet]. 2017[cited 2018 Jan 20];7(6):143-7.Available from: http://article.sapub.org/10.5923.j.phr.20170706.03.html
http://article.sapub.org/10.5923.j.phr.2...
-1616 Hung MSW, Chow MCM, Chu TTW, Wong PP, Nam WY, Chan VLK, et al. College students’ knowledge and attitudes toward bystander cardiopulmonary resuscitation: a cross-sectional survey. Cogent Med[Internet]. 2017[cited 2018 Jan 20];4(1):1334408. Available from: https://www.cogentoa.com/article/10.1080/2331205X.2017.13344088
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). Essa realidade não é específica apenas do ambiente escolar, são raros os casos de pessoas que possuem conhecimentos de primeiros socorros também no ambiente de trabalho, o que representa um aspecto negativo nos processos de gestão em saúde, que se configuram pela falta de atendimento imediato ou pela realização de práticas inadequadas(1717 Ragadali Filho A, Perira NA, Leal I, Anjos QS, Loose JTT. A importância do treinamento de primeiros socorros no trabalho. Rev Saberes [Internet]. 2015[cited 2018 Jan 20];2(3):114-25. Available from: http://facsaopaulo.edu.br/media/files/35/35_1390.pdf
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).

Esses resultados não se coadunam com as exigências do atual paradigma voltado para promoção da saúde com foco no cidadão, em que o sujeito torna-se protagonista do seu processo de vida e saúde por meio do empoderamento(1818 Pinto BK, Soares DC, Cecagno D, Muniz RM. Promoção da saúde e intersetorialidade: um processo em construção. Rev Min Enferm[Internet]. 2012 [cited 2017 Jan 14];16(4):487-93. Available from: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/552
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). O conhecimento em primeiros socorros é indispensável para diferentes segmentos sociais e profissionais, tendo em vista as ocorrências das situações de emergência nos mais variados grupos da população(1919 Costa CWA, Moura DL, Costa FLO, Melo RS, Moreira SR. Unidade didática de ensino dos primeiros socorros para escolares: efeitos do aprendizado. Pensar Prát [Internet]. 2015[cited 2017 Jan 14];18(2):338-49. Available from: https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/30205
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), principalmente na escola, que possui elevado fluxo de alunos sem, obrigatoriamente, possuir um profissional habilitado para realizar os primeiros socorros corretamente.

Reportando-se ao conhecimento advindo do senso materno, ressalta-se que a experiência anterior, se bem sucedida, constitui fonte de conhecimento sobre primeiros socorros para as professoras. Ademais, um conhecimento prévio pode ser tomado de base para a construção de um novo saber na perspectiva de expandir o aprendizado e ressignificar conceitos(2020 Chagas JJT, Sovierzoski HH. Um diálogo sobre aprendizagem significativa, conhecimento prévio e ensino de ciências. Meaningful Learn Rev[Internet]. 2014[cited 2017 Jan 14];4(3):37-52. Available from: http://www.if.ufrgs.br/asr/artigos/Artigo_ID67/v4_n3_a2014.pdf
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). Logo, as experiências familiares dos professores devem ser consideradas no processo de construção do conhecimento acerca dos primeiros socorros na escola, uma vez que poderão nortear decisões específicas dos educadores em saúde e podem fazer a diferença no planejamento e na eficácia das intervenções educativas.

Foi relevante o desvelamento sobre a priorização dos professores para chamar o SAMU rapidamente. Tal priorização possui importância, uma vez que o acionamento precoce do serviço móvel de emergência é associado com a elevação da sobrevivência(2121 Nichol G, Cobb LA, Yin L, Maynard C, Olsufka M, Larsen J, et al. Briefer activation time is associated with better outcomes after out-of-hospital cardiac arrest. Resuscitation[Internet]. 2016[cited 2018 Jan 20];107:139-44. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/274524900
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). Apesar disso, contempla-se a necessidade dos professores compreenderem que podem instituir condutas decisivas para salvar, mesmo enquanto profissionais de saúde ainda não estiverem presentes.

Os professores do ensino infantil e fundamental demonstraram ciência em relação ao próprio despreparo para agir nas situações de urgência e emergência na escola. Estudos realizados no Brasil, na Índia e na África apontaram resultados semelhantes relativos aos professores se depararem com acidentes na escola, reconhecerem que possuem conhecimento limitado para agir corretamente e se sentirem inseguros(11 Maia MFM, Anjos MRR, Miranda Neto JT, Gomes MCS, Deusdará FF. Primeiros socorros nas aulas de educação física nas escolas municipais de uma cidade no norte do estado de Minas Gerais. Col Pesq Educ Física[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];11(1):195-204. Available from: http://www.conhecer.org.br/enciclop/2015a/situacoes.pdf
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,2222 Oliveira Jr MA, Silva Jr CJ, Toledo EM. O Conhecimento em Pronto-Socorrismo de Professores da Rede Municipal de Ensino do Ciclo I de Cruzeiro-SP. ECCOM [Internet]. 2013[cited 2018 Jan 20];4(7):39-48. Available from: http://publicacoes.fatea.br/index.php/eccom/article/view/591
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23 Joseph N, Narayanan T, Zakaria S, Nair AV, Belayutham L, Subramanian AM, et al. Awareness, attitudes and practices of first aid among school teachers in Mangalore, South India. J Prim Health Care[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 14];7(4):274-81. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26668832
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2666...
-2424 Ngayimbesha A, Hatungimana O. Evaluation of first aid knowledge among elementary school teacher in Burundi. Int J Sport Scienc Fit[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 14];5(2):304. Available from: http://www.ijssf.org/PDF/v05issue02abs13.pdf
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). A lacuna no empoderamento quanto às intervenções em primeiros socorros requer uma análise de suas raízes. Apesar dos professores conviveram com a possibilidade iminente de acidentes, muitas vezes não existe um preparo para torná-los aptos a exercerem essa práxis. A falta de conhecimento pode está associada à ausência de treinamento ou treinamento inadequado(2525 Sönmez Y, Uskun E, Pehlivan A. Knowledge levels of pre-school teachers related with basic first-aid practices, Isparta sample. Turk Pediatr Ars[Internet]. 2014[cited 2017 Jan 14];49(3):238-46. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26078669
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2607...
). E a ausência de treinamento, que reflete no despreparo, contribui para que as vivências não sejam construtivas, sejam traumáticas e permeadas por sentimentos negativos.

No tocante aos sentimentos relatados pelos professores, eles corroboram pesquisa qualitativa oriunda da Noruega, na qual foram entrevistadas pessoas que prestaram os primeiros socorros às vítimas de colapso cardíaco e cujos resultados mostram a presença de nervosismo, medo e angústia(2626 Mathiesen WT, Bjørshol CA, Braut GS, Søreide E. Reactions and coping strategies in lay rescuers who have provided CPR to out-of-hospital cardiac arrest victims: a qualitative study. BMJ Open[Internet]. 2016[cited 2018 Jan 20];6:e010671. Available from: http://bmjopen.bmj.com/content/6/5/e0106711
http://bmjopen.bmj.com/content/6/5/e0106...
). Tais sentimentos são comuns diante da complexidade da situação e podem ser minimizados se os professores se sentirem mais seguros ao serem treinados.

Os agravos vivenciados e relatados no grupo focal são comuns no ambiente escolar, uma vez que as atividades desenvolvidas nas escolas, em especial as recreativas, propiciam a ocorrências de emergências, como quedas, com consequente fratura, traumas, cortes e escoriações, além das emergências clínicas como a síncope e crise convulsiva(11 Maia MFM, Anjos MRR, Miranda Neto JT, Gomes MCS, Deusdará FF. Primeiros socorros nas aulas de educação física nas escolas municipais de uma cidade no norte do estado de Minas Gerais. Col Pesq Educ Física[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];11(1):195-204. Available from: http://www.conhecer.org.br/enciclop/2015a/situacoes.pdf
http://www.conhecer.org.br/enciclop/2015...
,2727 Eze CN, Ebuehi OM, Brigo F, Otte WM, Igwe SC. Effect of health education on trainee teacher’s knowledge, attitudes, and first AID management of epilepsy: an interventional study. Seizure[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 14];33:46-53. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26558347
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2655...
-2828 Galindo Neto NM, Pereira JCN, Muniz MLC, Mallmann DG, Souza NMG, Neri MFS, et al. Health education intervention on first aid in school: integrative review. Int Arch Med[Internet]. 2016[cited 2017 Jan 14];9(144):1-7.Available from: http://imed.pub/ojs/index.php/iam/article/view/1733
http://imed.pub/ojs/index.php/iam/articl...
). Nesse contexto, torna-se necessária a multiplicação da informação referente às condutas corretas, como a indicação de manter imóvel qualquer membro que esteja sob suspeita de se encontrar fraturado; da aplicação de gelo em locais de pancada e, em casos de sangramento nasal, a aplicação do gelo na testa e nuca; utilização de compressa limpa para pressão direta em casos de sangramento, com o devido cuidado de envolver as mãos em material impermeável (como sacola plástica), para não haver contato com material biológico(44 Oliveira MR, Leonel ARA, Montezeli JH, Gastaldi AB, Martins EAP, Caveião C. Conception of undergraduate nursing students on the practice of health education on first aid. Rev Rene[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 14];16(2):150-8. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/view/1863
http://www.revistarene.ufc.br/revista/in...
).

Ao considerar a relevância dos professores conhecerem os primeiros socorros para os agravos supracitados, é importante destacar a necessidade de inclusão de tais profissionais no planejamento e implementação da educação em saúde, para que haja maior motivação e envolvimento e se eleve a probabilidade dos conteúdos abordados corresponderem às demandas vivenciadas por eles na escola(1818 Pinto BK, Soares DC, Cecagno D, Muniz RM. Promoção da saúde e intersetorialidade: um processo em construção. Rev Min Enferm[Internet]. 2012 [cited 2017 Jan 14];16(4):487-93. Available from: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/552
http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/5...
). Assim, a contribuição dos atores envolvidos versará para que os professores não sejam somente expectadores, mas sujeitos ativos do processo de ensino-aprendizagem.

Nesse contexto, a capacitação acerca da temática apresenta-se como uma estratégia de enfrentamento para contribuir com a sua segurança e tornar os docentes empoderados. É pertinente destacar que o empoderamento em primeiros socorros no contexto escolar deve transpor a transmissão de informações acerca das condutas corretas de primeiros socorros: deve contemplar a identificação dos riscos de acidentes, que perpassam a sua cinemática, os determinantes alicerçados em concepções tradicionais do senso comum, assim como questões contemporâneas como aquelas relativas à estrutura familiar, papéis sociais dos pais e as relações de poder, que são fatores que incidem na educação e no comportamento de risco dos escolares.

A qualidade de intervenções educativas, que contribui com o tal processo de empoderamento e envolvimento ativo precisa ser realizada por profissionais que possuam formação sobre os primeiros socorros, que atuem na Atenção Primária à Saúde e sejam educadores. Diante do papel educador do profissional de enfermagem, por tal profissional integrar obrigatoriamente a equipe de saúde da família, que atua na escola e ao considerar que a estrutura e o contexto dos locais de atuação da enfermagem demandam a percepção de especificidades e tomada de decisão adaptados a cada realidade, que considerem determinantes sociais, econômicos e tecnológicos(2929 Pivoto FV, Filho WDL, Lunardi Filho WD, Silva PA. Organization of work and the production of subjectivity of the nurse related to the nursing process. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2017[cited 2017 Jan 14];21(1):e20170014. Available from:http://www.scielo.br/pdf/ean/v21n1/en_1414-8145-ean-21-01-e20170014.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v21n1/en_14...
), aponta-se a privilegiada posição estratégica que a enfermagem ocupa para abordar os primeiros socorros na escola.

O problema em questão requer a reflexão e atitude dos profissionais de saúde, em especial dos enfermeiros, sobre o seu papel no empoderamento dos professores em primeiros socorros. Nesse processo, a Enfermagem possui função de realizar o diagnóstico situacional dos sujeitos e dos determinantes envolvidos das particularidades locais, planejar a educação em saúde, implementar e avaliar, baseada na visão holística e no raciocínio crítico-reflexivo acerca da situação.

Para enfrentamento das lacunas de conhecimento e empoderamento observadas, as práticas educativas realizadas pelos enfermeiros convergem para a agregação do saber popular e do fazer profissional, tornando o enfermeiro uma agente de transformação na perspectiva de subsidiar a autotomia e o protagonismo dos sujeitos em prol da sua vida e saúde(3030 Progianti JM, Costa RF. Práticas educativas desenvolvidas por enfermeiras: repercussões sobre vivências de mulheres na gestação e no parto. Rev Bras Enferm[Internet]. 2012[cited 2017 Jan 14];65(2):257-63. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n2/v65n2a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n2/v65...
).

Limitações do estudo

Destaca-se como limitação do presente estudo o cenário da investigação, visto que foi realizado com professores da educação infantil e ensino fundamental de escolas públicas, de forma que os achados obtidos podem não refletir as vivências dos profissionais que lecionam em outros níveis da educação (pré-escola ou ensino médio) ou que trabalhem em instituições privadas de ensino.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Desvelar as vivências dos professores do ensino infantil e fundamental sobre primeiros socorros, a partir das classes identificadas, contribuindo com a compreensão da realidade e com a análise dos aspectos teórico-práticos de um problema inerente às demandas do contexto escolar. Ademais, no tocante à Enfermagem, o estudo reforça que a abordagem dos profissionais deve pautar-se na intersetorialidade, direcionando ações planejadas de acordo com singularidades e empoderando os professores como corresponsáveis no processo de gestão frente às situações de emergência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa evidenciou vivências baseadas em crenças populares, lacuna de conhecimentos e experiências familiares, em que o despreparo se traduziu na indicação de condutas inadequadas ou na conduta de aguardar o SAMU, sem instituir possíveis primeiros socorros.

Os professores apontaram que existe uma lacuna de empoderamento acerca dos primeiros socorros na formação, enquanto apresentaram a maternidade como potencial motivação para que tal empoderamento seja buscado. Ademais destacaram à necessidade de se empoderarem para agir nos agravos vivenciados (fraturas, síncope e edema, oriundos de pancadas e quedas) e que a ausência do empoderamento culmina na vivência de sentimentos de angústia, preocupação e medo.

Face à demanda dos primeiros socorros no ambiente escolar, o problema supracitado deve despertar nos profissionais de saúde e nas instituições formadoras, em uma perspectiva intersetorial, a necessidade de implementar medidas de educação permanente para os professores com o intuito de fornecer embasamento teórico e empoderamento para implementar medidas preventivas e condutas corretas de primeiros socorros.

Ademais, recomenda-se que sejam considerados os fatores contemporâneos de risco presentes no seio da família e da sociedade para estimular o comportamento dos escolares convergente com a minimização da ocorrência de acidentes, o que contribui para práxis da promoção da saúde no que concerne à identificação dos determinantes e contribuição dos atores envolvidos no processo.

  • ERRATA

    No artigo “Vivências de professores acerca dos primeiros socorros na escola”, com número de DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0715, publicado no periódico Revista Brasileira de Enfermagem, v71(suppl 4):1678-84, na página 1775:
    Onde se lia:
    Nelson Miguel Galindo NetoI, Gerdane Celene Nunes CarvalhoII, Régia Christina Moura Barbosa CastroIII, Joselany Áfio CaetanoIII, Ellen Cristina Barbosa dos SantosIV, Telma Marques da SilvaV, Eliane Maria Ribeiro de VasconcelosV
    I Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto-SP, Brasil.
    Lê-se:
    Nelson Miguel Galindo NetoI, Gerdane Celene Nunes CarvalhoII, Régia Christina Moura Barbosa CastroIII, Joselany Áfio CaetanoIII, Ellen Cristina Barbosa dos SantosIV, Telma Marques da SilvaV, Eliane Maria Ribeiro de VasconcelosV
    I Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. Pesqueira-PE, Brasil.
    II Universidade Estadual do Piauí. Picos-PI, Brasil.
    III Universidade Federal do Ceará. Fortaleza-CE, Brasil.
    IV Universidade Federal de Pernambuco. Vitória de Santo Antão-PE, Brasil.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    11 Out 2017
  • Aceito
    10 Mar 2018
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