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Investigação qualitativa e transferência do conhecimento – do projeto à tomada de decisão?

A proliferação dos estudos científicos e a divulgação dos seus resultados na Saúde contribuíram, indubitavelmente, para a melhoria dos cuidados, aumento da esperança média de vida, diminuindo a mortalidade, a morbilidade e as complicações associadas às doenças crônicas, entre outros.

Associado a estes ganhos, surgiram novos desafios para a clínica e para a academia. Os clínicos são impelidos à constante atualização e autoformação para acompanhar os rápidos avanços científicos e tecnológicos. Por esse lado, as unidades de saúde também se sentem estimuladas a promover mudanças rápidas, profundas e estruturadas na organização dos cuidados e no planeamento e gestão dos recursos, atendendo ao controle de custos, com um claro enfoque no desenvolvimento de competências clínicas, mas também de competências de liderança, adaptação, gestão, resolução de problemas, inovação e criatividade. Na academia, emerge o desafio de divulgar e disseminar os achados científicos de forma mais efetiva, promovendo e agilizando a sua utilização na clínica, enquanto fomenta a tomada de decisão baseada na evidência(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.).

Há muito tempo que se tem questionado os modelos tradicionais da Prática Baseada em Evidências, com o recurso a modelos lineares e unidirecionais, que ‘levam’ passivamente a informação dos investigadores aos utilizadores e consumidores, em relação à sua eficácia(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.-22 Baumbusch JL, Kirkham SR, Khan KB, McDonald H, Semeniuk P, Tan E, Anderson JM. Pursuing Common Agendas: A Collaborative Model for Knowledge Translation between Research and Practice in Clínical Settings. Res Nurs Health. 2008;31(2):130 40. doi: 10.1002/nur.20242
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). Por isso, os acadêmicos necessitam desvelar soluções para que, desde o planeamento até a concretização do projeto de investigação, seja considerada a transferência dos achados para a clínica(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.).

A definição do objeto de estudo com a identificação clara dos fenômenos de interesse, dos métodos e técnicas para investigá-los continua a ser um desafio presente para qualquer investigador na atualidade, mas, sem dúvida, que o futuro traz a emergência da produção de conhecimento que possa ser transferido para a clínica, com valorização e empoderamento da práxis clínica(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.).

Para (re)pensar a transferência do conhecimento para a clínica, há que questionar os modos de investigar e a forma como os profissionais da clínica compreendem a investigação, não só os resultados, mas todo o processo, dado que a compreensão alargada de como foi garantida a validade, adequação e objetividade dos achados permite uma apreciação da sua qualidade(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.). Por este motivo, desde a concepção à divulgação dos resultados, o investigador tem de conseguir estruturar o processo analítico de modo a tornar compreensível o que os achados revelam, de forma a possibilitar ao profissional, provavelmente menos hábil na arte de investigar, a compreensão da utilidade dos mesmos e o impacto que podem ter na melhoria da prestação de cuidados(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.).

A rutura epistemológica com a visão tradicional da produção de conhecimento obriga o investigador a uma melhor compreensão do impacto do seu estudo na clinica, através do trabalho colaborativo e em rede, com os diversos atores institucionais.

Uma nova metodologia de trabalho a partir das necessidades sentidas e em colaboração com os contextos pode promover uma transformação qualitativa da prática com individualização do cuidado; e um benefício direto sobre a saúde dos cidadãos(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.). Dessa forma, há que partir para um novo paradigma e modificar as redes de comunicação e colaboração, entre pesquisadores e profissionais, promovendo a reflexão sobre as práticas, os “modos de fazer” e as consequências da atividade, usando o conhecimento baseado na investigação(11 Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.-22 Baumbusch JL, Kirkham SR, Khan KB, McDonald H, Semeniuk P, Tan E, Anderson JM. Pursuing Common Agendas: A Collaborative Model for Knowledge Translation between Research and Practice in Clínical Settings. Res Nurs Health. 2008;31(2):130 40. doi: 10.1002/nur.20242
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), para a tomada de decisão.

Os artigos presentes nesta edição da REBEn ilustram etapas diferentes do processo de transferência do conhecimento para a clínica. A partir da investigação qualitativa, os autores mostram como a aplicação correta de métodos e técnicas, neste âmbito, pode contribuir de forma efetiva para a melhoria da compreensão dos fenômenos vividos pela pessoa em diferentes transições de saúde/doença, da qualidade e da organização dos cuidados.

REFERENCES

  • 1
    Baixinho CL, Ferreira Ó, Marques FM, Presado MH, Cardoso M, Sousa AD. Investigação Qualitativa e transferência do conhecimento para a clínica. In: Brandão C, Carvalho JL, Ribeiro J, Costa AP. A prática na Investigação Qualitativa: exemplos de estudos (vol.2). Oliveira de Azeméis: Ludomédia, 2018; p.179-208.
  • 2
    Baumbusch JL, Kirkham SR, Khan KB, McDonald H, Semeniuk P, Tan E, Anderson JM. Pursuing Common Agendas: A Collaborative Model for Knowledge Translation between Research and Practice in Clínical Settings. Res Nurs Health. 2008;31(2):130 40. doi: 10.1002/nur.20242
    » https://doi.org/10.1002/nur.20242

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2019
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