A importância e seriedade do pesquisador ao apontar as limitações do estudo

Periódicos científicos indexados com normas editoriais e recomendações relativas à integridade e padrões éticos na condução do relatório de pesquisa⁽¹⁾ têm apontado aos autores de pesquisas tanto qualitativas como quantitativas a explicitação clara das limitações do estudo. O pressuposto é que nenhum trabalho científico é isento de limitações, portanto, sinaliza-se que a sua descrição não se consubstancia em algo inerentemente ruim. Informar as limitações não desmerece o trabalho científico, ao contrario, é um dever do pesquisador propiciar a reprodutibilidade e o nivelamento do caminho que os outros devem ou não seguir, mostrar onde fazer maiores esforços da próxima vez, ou seja como “não tropeçar na mesma pedra”.

No entanto, ainda que muitos artigos científicos sejam considerados de ótima qualidade, isto é, consistentes e produzam conhecimento relevante e original, os mesmos não seguem todos os critérios estabelecidos. Neste sentido, as limitações do estudo têm sido um dos aspectos menos apontados⁽²⁾. Por sua vez, muitos dos que contemplam esse item confundem “limitações do estudo” com “limitações do método”. Ou seja, sinalizar, por exemplo, que a pesquisa tem limitações de generalização dos estudos qualitativos, é descrever algo inerente às especificidades do método qualitativo e não às limitações reconhecidas pelo autor em seu texto. Em alguns, o autor chega a responsabilizar o interlocutor pela escassez das informações coletadas⁽²⁾.

Dentre as limitações, podem ser incluídas o tamanho da amostra. Neste sentido, há explicitas diferenças entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa. Deve-se considerar que com um tamanho pequeno é difícil encontrar relações e generalizações significativas a partir dos dados, já que as provas estatísticas requerem um tamanho amostral maior para garantir uma tendência, uma distribuição representativa de grupos de pessoas, objetos, processos, entre outros⁽³⁾.

Podem ser apontadas como limitações do estudo perguntas que não foram explicitadas e que surgiram com o desenvolvimento do trabalho porem não havia dados confiáveis ou que pela ausência de dados não puderam ser respondidas. Essas limitações devem ser descritas, mas também fornecer razões pelas quais você acredita que os dados estão faltando ou que não são confiáveis, o que será muito útil como uma oportunidade para descrever a necessidades de pesquisas futuras^(1,3).

A falta de pesquisas anteriores sobre o tema abordado, também, pode ser apontada como uma limitação do estudo. Mas, antes de assumir que existem poucas pesquisas acerca do tema, as principais bases de dados nacionais e internacionais devem ser amplamente e rigorosamente consultadas. Identificar uma limitação deste tipo pode também servir como uma oportunidade para identificar novas lacunas na literatura e, consequentemente, novas investigações⁽²⁾.

Os dados auto-relatados pelos participantes da pesquisa, também, podem conter várias fontes potenciais de viés e serem arrolados como limitações do estudo, pelo fato de que raramente podem ser verificados independentemente⁽³⁾. E, os motivos das possíveis limitações do acesso do pesquisador a pessoas, organizações ou documentos, também, devem ser descritas.

Ainda, as limitações culturais e outros tipos de preconceito, constituem-se em um viés, na medida em que uma pessoa, um lugar ou coisa é vista ou exibida de forma imprecisa. O viés é geralmente negativo, embora também possa haver um viés positivo, especialmente se esse viés refletir sua confiança em pesquisas que sustentam apenas sua hipótese⁽²⁾.

Enfim, ao revisar seu artigo, revise criticamente a maneira como você colocou um problema, selecione os dados a serem estudados, o que você pode ter omitido, o modo como ordenou os procedimentos, eventos, pessoas ou lugares. Mas, observe que é muito difícil homogeneizar as limitações de uma forma que funcione para todos os estudos. Limitações podem ser gerais e, também, específicas de cada estudo. Cada estudo é diferente. Logo, ainda que as limitações possam determinar generalidades, existem especificidades que não estarão associadas a nenhum aspecto, aqui, abordado.

REFERENCES

• ¹
  International Committee of Medical Journal Editors. Recommendations for the Conduct, Reporting, Editing, and Publication of Scholarly Work in Medical Journals[Internet]. International Committee of Medical Journal Editors. 2019[cited 2018 Oct 22]. Available from: http://www.icmje.org/urm_main.html
  » http://www.icmje.org/urm_main.html
• ²
  Taqquete SR, Minayo MC. Análise de estudos qualitativos conduzidos por médicos publicados em periódicos científicos brasileiros entre 2004 e 2013. Physis Rev Saúde Colet. 2016;26(2):417-34. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312016000200005
  » http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312016000200005
• ³
  Price JH, Murnan J. Research Limitations and the Necessity of Reporting Them. Am J Health Educ. 2004;35(2):66-7. doi: https://doi.org/10.1080/19325037.2004.10603611
  » https://doi.org/10.1080/19325037.2004.10603611

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Ago 2019
• Data do Fascículo
  Jul-Aug 2019