Graduação em enfermagem: ensino por aprendizagem baseada em problemas

RESUMO

Objetivo:

Descrever como os cursos de graduação em enfermagem estão utilizando a aprendizagem baseada em problemas (ABP).

Método:

Revisão integrativa da literatura, a partir de buscas nas bases de dados Education Resources Information Center (ERIC), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e PubMed, no período de 2010 a 2015. Foram analisados 36 artigos.

Resultados:

Método de ensino utilizado em todos os continentes, a ABP possibilita a melhoria do pensamento crítico, da autonomia, da motivação para a aprendizagem, da atitude de busca ativa, da capacidade de trabalhar em equipe e de resolver problemas. As dificuldades e desafios referem-se à capacitação de estudantes e professores para compreender os princípios do método.

Considerações finais:

Os benefícios da ABP coadunam as necessidades da formação do enfermeiro, mas sua aplicabilidade demanda revisão constante na busca de desenvolver a competência necessária a essa formação.

Descritores:
Aprendizagem Baseada em Problemas; Educação em Enfermagem; Educação Superior; Ensino; Currículo

ABSTRACT

Objective:

To describe how undergraduate courses in Nursing are using the problem-based learning (PBL).

Method:

Integrative literature review, from searches in the databases Education Resources Information Center (ERIC), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (Lilacs), and PubMed, from 2010 to 2015. 36 articles were analyzed.

Results:

A teaching method used in all continents, the PBL enables improvement of the critical thinking, autonomy, motivation for learning, active search attitude, ability to work in teams, and problem-solving. Difficulties and challenges relate to the training of students and teachers to understand the principles of the method.

Final considerations:

The benefits of PBL coincide with the needs of nursing training, but its applicability demands constant review in seeking to develop the skills necessary for this training.

Descriptors:
Problem-Based Learning; Nursing Education; Higher Education; Teaching; Curriculum

RESUMEN

Objetivo:

Describir cómo el grado en enfermería está utilizando el aprendizaje con base en problemas (ABP).

Método:

Revisión integrativa de literatura, desde búsquedas en las bases de datos Centro de Información de Recursos de Educación (ERIC), Literatura Latinoamericana y Caribe en Ciencias de la Salud (Lilacs) y PubMed, en el período entre 2010 y 2015. Se analizaron 36 estudios.

Resultados:

Utilizado en todos los continentes, el método de enseñanza ABP permite la mejora del pensamiento crítico, la autonomía, la motivación para el aprendizaje, la actitud activa para búsqueda, la capacidad de trabajar en equipo y la solución de problemas. Las dificultades y desafíos se refieren a la capacitación de los estudiantes y profesores en la comprensión de los principios del método.

Consideraciones finales:

Los beneficios del ABP se adaptan a las necesidades de formación de los enfermeros, pero la aplicación del método necesita constante revisión para que se desarrollen las habilidades necesarias para esta formación.

Descriptores:
Aprendizaje con Base en Problemas; Educación en Enfermería; Educación Superior; Enseñanza; Plan de estudios

INTRODUÇÃO

Na área da saúde, seguindo a tendência mundial nas transformações do cuidado, o Brasil iniciou profundas mudanças após a criação e a divulgação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), impondo grandes desafios a seus profissionais e às instituições formadoras, considerando que atuar segundo esse direcionamento demanda um caminhar distinto do atendimento centrado na doença e no hospital. A questão pedagógica nem sempre foi valorizada enquanto área do saber necessária ao processo de ensino e aprendizagem na área da saúde, o que dificulta mudanças na formação profissional pautadas em pressupostos educacionais inovadores^(1-2).

Visando atender às novas exigências sociais, a Lei nº 9.394/1996 estabeleceu as diretrizes e bases para a educação nacional, o que representa um marco importante de impulsão para a reformulação do ensino. Nela, as ideias de Piaget, assim como as de Vygotsky e Wallon, foram revalorizadas a partir da concepção interacionista por eles defendida, ou seja, a concepção de que o conhecimento é resultado da ação do que acontece entre o sujeito e o objeto⁽²⁾.

Alguns educadores, na tentativa de resgatar a relevância atribuída ao saber historicamente acumulado, desencadearam o movimento da pedagogia crítica, que ganhou força no início da década de 1980. Originalmente usado pela Escola de Frankfurt, na atualidade tal movimento abriga um amplo espectro de reflexões filosóficas, com algumas diferenças em suas bases conceituais. Todas, porém, compartilham as ideias de que a escola é o local para lidar com as contradições sociais e problematizar a realidade, e que a decisão sobre o que saber depende das necessidades sociais. Todas procuram a superação da dicotomia “trabalho intelectual-trabalho manual” e sua proposta é a de formar o homem pelo e para o trabalho⁽³⁾.

Dewey (1859-1952) teve seu pensamento pedagógico difundido no mundo inteiro ao defender que a educação tem papel importante no campo social e político e que a formação deve ser dotada de mentalidade moderna, científica e aberta à colaboração. Sua filosofia se evidencia no intercâmbio ativo entre sujeito e natureza, que transforma ambos e se mantém aberto e exposto a sucessivas crises. Cada crise é marcada pelo desequilíbrio, que exige o pensamento reflexivo para reconstrução do equilíbrio⁽⁴⁾. No Brasil, esse movimento ganha força na figura de Paulo Freire, que propõe a pedagogia do diálogo, visando o desenvolvimento de uma consciência crítica da realidade⁽⁴⁾.

Frente a tais pressupostos, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem (DCN/ENF), definidas em 2001, sugerem o uso de métodos ativos de aprendizagem com a finalidade de contribuir para a construção de uma lógica de cuidado mais ampliado e integral, o que representa um grande desafio, tendo em vista sua abrangência e a falta de preparo dos profissionais para atuar segundo tal lógica⁽⁵⁾. Passados mais de 15 anos de sua aplicação, as instituições ainda caminham entre avanços, dificuldades e desafios, relacionados principalmente à estrutura institucional e ao preparo dos docentes para implementar as mudanças. Além disso, ao longo destes anos, foram identificadas dificuldades em relação à falta de clareza no modo operante de aspectos propostos pelas diretrizes⁽⁶⁾. Sendo assim, a Associação Brasileira de Enfermagem desencadeou um movimento que visa uma nova formulação das diretrizes, com o propósito de fornecer maior direcionamento e objetividade à formação do enfermeiro, reforçando sua consonância com os principios e diretrizes do SUS⁽⁷⁾.

Diferentes métodos de ensino e aprendizagem vêm sendo utilizados nessa perspectiva, variando de acordo com objetivo, complexidade e custo. Destacam-se a aprendizagem baseada em problemas (ABP); o aprendizado baseado em equipes (team-based learning – TBL); a educação a distância (EAD) e a simulação⁽⁵⁾.

A ABP foi proposta por Barrows na década de 1960 e instituída na faculdade de medicina da Universidade McMaster, no Canadá. Pouco depois, foi adotada na Universidade de Maastricht, na Holanda. É sustentada pela Teoria da Indagação, de John Dewey, firmando-se em uma perspectiva construtivista especialmente pautada na pedagogia piagetiana⁽⁴⁾. A partir da abordagem dos princípios filosóficos que fundamentam a ABP, discute-se que esta forma de aprendizagem não pode ser tratada como mera técnica, pois envolve mudança de postura frente o processo. Os conceitos da problematização e do diálogo, propostos por Freire, são considerados essenciais a seu desenvolvimento⁽⁸⁾. Acrescenta-se que essa é uma tendência mundial, visto haver maior valorização do desenvolvimento de competências profissionais a partir da prática pela maior possibilidade de articulação de distintas habilidades, como a afetiva, a cognitiva e a psicomotora^(9-10).

Frente ao exposto, este estudo parte da consideração de que a ABP é um método de aprendizagem ativa revestido de características importantes no atendimento das atuais necessidades de formação profissional. Vem sendo utilizada mais frequentemente nos cursos de medicina, mas nos cursos de enfermagem sua utilização é ainda pouco conhecida e enfatizada.

OBJETIVO

Descrever como a ABP vem sendo utilizada nos cursos de graduação em enfermagem a partir de uma revisão integrativa da literatura.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura (RIL), reconhecida como importante forma de sintetizar o conhecimento produzido sobre determinado fenômeno em particular^(11-12).

Foram propostas cinco etapas para a realização do presente estudo⁽¹²⁾. A primeira, que se refere à formulação do problema e à seleção da questão ou hipótese da pesquisa, foi assim definida: como a ABP vem sendo utilizada nos cursos de graduação em enfermagem? Na segunda etapa – pesquisa na literatura –, foram definidas as bases de dados com maior possibilidade de encontrar material bibliográfico em nível mundial sobre as informações pretendidas. São elas as bases de dados Education Resources Information Center (ERIC), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e PubMed. Nelas foram utilizados os descritores problem-based learning and nursing, tendo como limite artigos em inglês, português e espanhol publicados de 2010 a 2015. A busca foi realizada em fevereiro de 2016. Foram excluídos aqueles artigos que não tinham relação com a questão do estudo, os de revisão de literatura, de reflexão teórica e aqueles que não tratavam do ensino nos cursos de graduação em enfermagem. No total, foram analisados 36 artigos, conforme se observa na Figura 1.

Figura 1
Fluxograma de seleção de artigos

Na terceira etapa (avaliação dos dados), os artigos foram caracterizados, identificando as revistas que mais publicaram sobre o tema, o país em que os estudos foram realizados, o tipo de estudo, o grau de evidência e os participantes dos estudos analisados. O levantamento dos objetivos e os principais resultados permitiram responder às questões norteadoras. Na quarta etapa, foram realizadas diversas leituras dos dados contidos no fichamento com o propósito de construir as categorias e analisá-las criticamente. Os resultados e a discussão são apresentados na sequência, constituindo a quinta etapa).

Para definição do grau de evidência do material bibliográfico utilizado, foi utilizada a hierarquização elaborada pelo Colégio de Enfermagem da Universidade do Arizona, em parceria com o Centro de inovação em Saúde e Enfermagem para o Avanço da Prática Baseada em Evidências, da seguinte forma:

• Grau I – Estudos de revisão sistemática ou meta-análise;

• Grau II – Estudos randomizados e ensaio clínico controlado;

• Grau III- Estudo clínico controlado sem a randomização;

• Grau IV – Estudo de caso controle ou de estudo coorte;

• Grau V – Revisão sistemática de estudos qualitativos ou descritivos;

• Grau VI – Estudo qualitativo ou estudo descritivo;

• Grau VII – Estudo de opinião ou de Consenso⁽¹³⁾.

RESULTADOS

Na Tabela 1, verifica-se que 16 (44,5%) dos estudos referentes à ABP estão publicados nos periódicos Nursing Education Today, Nursing Education in Pratice e Journal of Nursing Education. Dos estudos analisados, 21 (58,5%) foram realizados na China, Espanha, Coreia ou Canadá, embora tenham sido encontradas pesquisas sobre o tema em diferentes partes do mundo, abrangendo a maioria dos continentes. A maioria dos estudos – 28 (76,7%) – foi realizada com estudantes. Considerando o ano de publicação dos artigos, no período analisado, houve semelhanças quanto ao número de artigos/ano. Quanto ao tipo de estudo, houve maior prevalência da modalidade qualitativa, seguida pelos quantitativos descritivos e pelos estudos quase experimentais, sendo que os dois primeiros tipos enquadram-se na hierarquia de evidências como grau VI.

Tabela 1
Distribuição percentual dos artigos de acordo com a revista, país de publicação, tipo de estudo e participantes do estudo, Marília, São Paulo, Brasil, 2016

VARIÁVEIS	n	%
Revista Nursing Education Today Nursing Education in Pratice Journal of Nusing Education Revista Latino-Americana de Enfermagem Outras Total	09 04 03 03 17 36	25 11,2 8,3 8,3 47,2 100
País de realização do estudo China Espanha Coreia do Sul/Coreia do Norte Canadá Brasil Austrália Estados Unidos Outros (Hungria, Tailândia, Turquia, Irã, Guiana, África do Sul, Suécia, Malawi) Total	07 07 04 03 03 02 02 08 36	19,5 19,5 11,2 8,3 8,3 5,5 5,5 22,2 100
Tipo de estudo/grau de evidência Qualitativo/VI Quantitativo e descritivo/VI Quase experimental/ III Experimental/ II Relato de experiência/ VI Método misto/VI Estudo de coorte/IV Total	12 08 05 03 03 03 02 36	33,4 22,3 13,9 8,3 8,3 8,3 5,5 100
Participantes do estudo Estudantes Egressos Facilitadores/tutores e estudantes Total	27 02 07 36	75 5,5 19,5 100
Ano de publicação 2010 - 2011 2012 - 2013 2014 - 2015 Total	13 11 12 36	36,1 30,5 33,3 100

Os estudos analisados indicam que a utilização da ABP ainda é relativamente incomum na educação em enfermagem e que este método vem sendo utilizado de forma experimental, envolvendo uma disciplina do currículo, um módulo ou alguma temática. Outros mostram que a ABP se encontra incorporada à estrutura curricular e, ainda, há aqueles que a utilizam em associação com outras estratégias de ensino ativo ou apoiada por alguma teoria.

Constata-se, no Quadro 1, que este método de ensino melhora principalmente o pensamento crítico, o conhecimento, a autonomia e a satisfação com a aprendizagem e desenvolve a atitude de busca ativa, a capacidade de trabalhar em equipe, a motivação e a capacidade de resolver problemas. Como pontos negativos foram indicados, entre outros aspectos, o fato de ser um processo demorado e estressante, bem como a dificuldade de adaptação de estudantes e de facilitadores. Os desafios referem-se ao preparo de estudantes e docentes, as questões culturais envolvidas na aceitação do método, bem como a necessidade de constantes acréscimos de estratégias complementares.

Quadro 1
Distribuição dos pontos positivos e dos negativos identificados nos resultados dos estudos analisados N=36, Marília, São Paulo, Brasil, 2016

Pontos positivos

Melhora no pensamento crítico(14-22). Aumenta a satisfação com o processo de aprendizagem(16,20). Melhora na autoeficácia(20). Obtenção de notas melhores no exame final(23). Maior conhecimento teórico(23-24). Melhor habilidade na atividade prática(23). Ampliação da capacidade de buscar o próprio conhecimento(15,17,19,25). Melhora a capacidade para cuidar do paciente de forma holística(15). Melhora a capacidade de trabalho interdisciplinar/em grupo(15,22,24,26-29). Amplia a capacidade de liderança e de lidar com o conflito(30). Aumenta a responsabilidade social(19,31). Desenvolve a capacidade de participação ativa(19). Melhora da capacidade de resolver problemas(14,22,32-33). Melhora a motivação para a aprendizagem(24,32,34). Melhora da compreensão dos objetivos educacionais(27,35). Melhora a capacidade para envolvimento com a prática baseada em evidência autodirigida(14,21,26). Impacto positivo na atitude, confiança e colaboração interpessoal(34). Melhora o desempenho(36). Amplia a curiosidade(37). Desenvolve a capacidade de estar com o outro(27). Melhora a integração entre teoria e prática(27,38). Melhora a autonomia para a tomada de decisão(32,39). Autonomia na construção do conhecimento(25,39). Estimula o sentido da responsabilidade(32). Aumenta a capacidade de assimilar o conteúdo(38,40). Melhora a relação professor aluno(24). Torna os estudantes aptos a interligar saberes e experiências prévias(25). Favorece a integração entre ciclo básico e ciclo clínico e entre as dimensões biopsicossociais(29). Desenvolve a habilidade de fazer e receber críticas(29). Aumenta a metacognição(30). Melhora a criatividade(30). Melhora a autorregulação(39).

Pontos negativos

Adaptação ao processo marcada por confusão e negatividade(22). Processo demorado(32,41). Envolve maior carga de trabalho(41). Processo estressante(41-42). As informações são vagas(41). Objetivos pouco claros(42). Processo tutorial chato, com pouca participação do tutor(42). Exige domínio dos recursos do computador(42). Facilitadores/tutores controladores(43). Insuficiência de conhecimento teórico(42). Os estudantes se sentem perdidos na busca do conhecimento(32). Mudanças geram inseguranças(31). Estudantes pouco questionadores(22).

Desafios

Preparo adequado dos ambientes de ensino(22,38). Preparo de docentes e discentes para incorporar os princípios(22,38). Interferência dos aspectos culturais(42,44). Necessidade de constantes acréscimos de estratégias complementares(45).

DISCUSSÃO

Um terço dos estudos analisados está publicado em revistas de enfermagem destinadas especificamente à educação, evidenciando a importância de periódicos que trabalham mais especificamente com a temática no atendimento à demanda de divulgação nessa linha de pesquisa. A maioria dos estudos foi realizada com estudantes, o que parece justificar-se por serem eles os principais atores do processo de aprendizagem. Embora tenham sido encontrados estudos sobre o uso da ABP nos cursos de graduação em enfermagem em diferentes países, o que mostra a preocupação mundial com novas abordagens no processo de ensino e aprendizagem, eles são de baixo grau de evidência, indicando que este uso precisa ser aprimorado e enfatizado de forma mais consistente⁽¹³⁾.

Estudos apontam o uso da ABP em disciplinas, módulos ou temáticas específicas. Encontra-se sua utilização na capacitação de estudantes em parada cardiorrespiratória (PCR)⁽²³⁾, na disciplina de enfermagem médico-cirúrgica⁽⁴⁶⁾; na pediatria⁽⁴²⁾; na disciplina de ética^(18,34); no ensino do sistema cardiorrespiratório⁽⁴⁰⁾; em disciplina de cuidados básicos de enfermagem⁽²⁷⁾; de enfermagem de centro cirúrgico⁽²⁴⁾; no ensino do diagnóstico de enfermagem⁽¹⁷⁾; na disciplina de gerenciamento em saúde⁽²⁵⁾; no primeiro período de um curso⁽³⁰⁾; no ensino de anatomia e fisiologia⁽³⁸⁾; no módulo de saúde reprodutiva⁽³⁹⁾ e, também, no cuidado a crianças com bronquite⁽⁴⁵⁾.

Em um curso que utiliza o método tradicional de ensino, foi realizado um estudo que comparou a ABP e o 5E Learning Cycle Model, um modelo que tem auxiliado os estudantes na aprendizagem de evidências científicas de conceitos fundamentais. Os autores deste estudo afirmam que, por meio da ABP, é possível melhorar o conhecimento, a atitude, o interesse e o raciocínio científico quando comparada a outros métodos⁽²⁰⁾.

Outros estudos, realizados na Tailândia e na China, buscaram evidenciar a adaptação e a visão dos estudantes em relação à ABP, respectivamente, destacando que, nesses países, a utilização deste método de ensino é recente^(22,41). Na Tailândia, por exemplo, apesar de a ABP estar em consonância com as iniciativas governamentais para melhorar a educação em enfermagem, ainda não é largamente utilizada⁽²²⁾. De forma semelhante, na República do Malawi, a implementação da ABP, iniciada em 2002, tem sido muito lenta em todo o país⁽⁴⁷⁾. Na África do Sul, o processo de incorporação do método revelou-se problemático, especialmente em relação aos facilitadores, que não aceitavam bem a tomada de decisões pelos estudantes no planejamento, implementação e avaliação das atividades⁽⁴³⁾.

A compreensão dos aspectos filosóficos e dos novos papeis assumidos por docentes e estudantes é considerada elemento essencial para seu desenvolvimento. Assim, na transição ou na implantação da ABP, é preciso um programa bem estruturado de capacitação dos docentes e estudantes, bem como investimentos estruturais, visto que se passa a trabalhar com pequenos grupos e que as fontes de informação precisam ser de fácil acesso^(14,47).

Os autores que estudaram a Universidade McMaster, pioneira na implantação da APB nos cursos de enfermagem e de medicina, informam que a partir de 1995 foi formada uma rede colaborativa entre a universidade e as escolas de enfermagem de Mohawk e Conestoga, que passaram a ter, como orientação, a ABP nos seus currículos. Esse movimento é acompanhado sistematicamente por avaliações que apontam possíveis inconsistências⁽⁴⁸⁾. Frente a isso, estratégias foram estabelecidas visando preencher lacunas deixadas pelo método, incluindo extensiva orientação para os cursos que utilizam a ABP, a descrição de guia para os facilitadores e o preparo dos estudantes quanto à teoria e prática da ABP, fundamentados em seus princípios filosóficos⁽⁴⁸⁾.

Depreende-se que, além dos cuidados relativos à implantação do método, é preciso que todo o processo seja acompanhado, uma vez que o fato de estar estruturalmente organizado não garante sua eficiência. Além disso, ao se acrescentar novos elementos à ABP, pode-se obter melhores resultados. Cita-se, como exemplo, estudo que mostrou os resultados da integração entre a ABP e a simulação, favoravelmente avaliada pelos alunos⁽⁴⁰⁾.

A partir da consideração que o pensamento crítico e a criatividade são habilidades essenciais à formação do enfermeiro, um curso que desenvolve a ABP em seu currículo incorporou outras atividades, visando avançar nesses aspectos. Foram agregadas à ABP a composição de música, a escrita de poemas e o uso do role plays⁽³³⁾.

Numa trajetória distinta, um curso de enfermagem da Turquia, no qual a ABP foi introduzida em 1999, realizou modificações devido ao inadequado número de tutores: as sessões em pequenos grupos são utilizadas para discussão do problema e levantamento das questões de aprendizagem, intercaladas com sessões em grandes grupos destinadas à discussão das buscas e da autoaprendizagem⁽³⁵⁾. Estudos que fizeram comparação entre cursos com currículo em ABP e com método tradicional mostram resultados significativamente melhores naqueles que usam a ABP^{(14,21,38,43)}.

Um aspecto altamente valorizado nos artigos é o pensamento crítico. Alguns estudos tiveram como foco verificar como a ABP contribuiu para isso^{(14,22,26,46)}. Nessa perspectiva, o uso da ABP foi comparado com o uso da leitura didática tradicional (lecture-based learning)⁽⁴⁹⁾. Um curso que utiliza a ABP propôs-se a discutir seus avanços no pensamento crítico⁽²³⁾. Na Coreia, foram comparados cursos que utilizam e os que não utilizam a ABP, com vistas a evidenciar suas contribuições para o pensamento crítico⁽¹⁴⁾. Acrescenta-se que a capacidade de manutenção de um alto nível de vigilância e julgamento clínico pelos profissionais requer, além do pensamento crítico, a capacidade de resolução de problemas e a de comunicação⁽⁴⁹⁾.

O pensamento crítico e a criatividade são os dois principais resultados esperados da ABP. A criatividade é importante para explorar as diferentes possibilidades de solução para uma situação clínica, visando um atendimento de enfermagem de qualidade⁽⁴⁸⁾. A busca ativa do conhecimento é outro elemento indispensável na formação profissional para a atualidade, visto que o conhecimento está em constante avanço e as situações de prática são complexas, exigindo soluções criativas e atuais. Pelos mesmos motivos, o aprendizado sobre trabalhar em grupo é outra vantagem atribuída à ABP. Além disso, o método contempla a aprendizagem a partir de situações reais, permite a reflexão em distintas dimensões e integra os conteúdos, substituindo o conhecimento fragmentado oferecido pelas disciplinas, o que permite uma abordagem integradora e ampliada^(15,27). Em síntese, os pontos positivos vão ao encontro dos pressupostos de formação profissional indicados nas diretrizes curriculares para os cursos de enfermagem do Brasil, bem como de outros países do mundo.

Quanto aos pontos negativos, identifica-se que o processo da ABP é mais lento quando comparado ao método tradicional^(32,41). Portanto, para estudantes e professores acostumados com métodos tradicionais, é preciso, inicialmente, ter a compreensão dos princípios filosóficos que fundamentam a ABP, o que demanda preparo desses atores. Para aqueles cursos que já utilizam o método por mais tempo, é preciso constante revisão e acréscimo de novas estratégias, com a finalidade de manter sua efetividade⁽⁴⁸⁾.

Limitações do estudo

O estudo tem como limites o fato de ter trabalhado apenas com artigos em inglês, português e espanhol e de serem encontrados predominantemente estudos com baixo nível de evidência.

Contribuições para área da enfermagem

Os resultados do estudo contribuem para reflexões acerca da formação do enfermeiro em um momento em que os órgãos de classe, especialmente a Associação Brasileira de Enfermagem, vêm realizando discussões que visam novas formas de ensino nos cursos de enfermagem, para romper com os modelos de ensino tradicionais, por meio da implantação de propostas inovadoras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão integrativa possibilitou a construção de uma síntese do conhecimento científico sobre o uso da ABP na formação do enfermeiro, na perspectiva da literatura mundial. Postula-se, inicialmente, que os estudos analisados apresentam baixa evidência cientifica, indicando a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema.

Foi possível depreender que se trata de um método de ensino e aprendizagem utilizado no mundo todo como alternativa ao método tradicional de ensino. Apesar disso, nos cursos de graduação em enfermagem sua utilização ainda é pequena e recente. Muitos dos artigos analisados retratam o uso da ABP de forma experimental, normalmente comparando-o ao método tradicional de ensino. Alguns artigos que abordam cursos que utilizam a ABP há mais tempo indicam a necessidade de sua contínua revisão, bem como sua associação a outras estratégias, tendo em vista o fortalecimento de elementos essenciais à formação, como a criatividade e o pensamento crítico.

A utilização da ABP é marcada por aspectos considerados positivos, que coadunam as necessidades colocadas à formação profissional para a atualidade, na qual se lida com situações complexas, com diversidade e com incertezas. Apesar dos indicativos da importância do seu uso, é preciso que a sua aplicabilidade seja constante e sistematicamente acompanhada.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Ago 2019
• Data do Fascículo
  Jul-Aug 2019

Histórico

• Recebido
  29 Jun 2018
• Aceito
  06 Set 2018