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Transtornos mentais comuns e resiliência de pessoas em situação de rua

RESUMO

Objetivo:

Rastrear transtornos mentais comuns e a resiliência de pessoas em situação de rua.

Método:

Estudo transversal com 49 pessoas em situação de rua, assistidas na Casa de Acolhida e Centro de Referência Especializado em município do Nordeste do Brasil. Coleta realizada entre fevereiro e março de 2018, utilizando escalas SRQ20 para transtornos mentais comuns e outra de Resiliência. Utilizaram-se os testes de Kruskal Wallis, t e Qui Quadrado.

Resultados:

61,2% (30) dormem mal, 69,4% (34) sentem-se nervosos, tensos ou preocupados, 71,4% (35) tristes, 63,3% são incapazes de desempenhar um papel útil na sua vida, em 71,4% (35) rastreou-se transtornos mentais comuns e em 44,9% (22) baixa resiliência. A resiliência influencia os transtornos mentais comuns, os quais são influenciados pelo gênero e a idade.

Conclusão:

Os profissionais que assistem pessoas em situação de rua necessitam ter um olhar direcionado aos transtornos mentais comuns e resiliência.

Descritores:
Transtornos Mentais; Resiliência Psicológica; Pessoas em Situação de Rua; Saúde Mental; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To identify common mental disorders and resilience in homeless persons.

Method:

Cross-sectional study with 49 homeless persons, assisted in the Casa da Acolhida Adulta and the Specialized Reference Center in a municipality in the Northeast of Brazil. Data collection performed between February and March 2018, using SRQ20 scales for common mental disorders and another for Resilience. Kruskal Wallis test, Student’s T-test and Chi-Square test were used.

Results:

In the study, 61.2% (30) participants have poor sleep; 69.4% (34) feel nervous, tense or worried; 71.4% (35) feel unhappy; 63.3% are unable to play a useful role in their lives; 71.4% (35) have common mental disorders, and 44.9% (22) presented low resilience. Resilience influences common mental disorders, which, in turn, are influenced by gender and age.

Conclusion:

Professionals who assist homeless persons need to have a look directed at common mental disorders and resilience.

Descriptors:
Mental Disorders; Resilience, Psychological; Homeless Persons; Mental Health; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Identificar los trastornos mentales comunes y la resiliencia en personas en situación de calle.

Método:

Estudio transversal realizado con 49 personas en situación de calle, que recibían asistencia en la Casa de Acogida y Centro de Referencia Especializado, en un municipio del Nordeste de Brasil. La recolección de datos ocurrió entre febrero y marzo de 2018, siendo utilizado el SRQ-20 para los trastornos mentales comunes, y otro cuestionario para la resiliencia. Se utilizaron las pruebas de Kruskal-Wallis, t y de Qui-cuadrado.

Resultados:

El 61,2% (30) de los participantes duermen mal, el 69,4% (34) se sienten nerviosos, tensos o preocupados, el 71,4% (35) tristes, el 63,3% son incapaces de desempeñar un papel útil en la vida, el 71,4% (35) presentan trastornos mentales comunes y el 44,9% (22) tienen baja resiliencia. La resiliencia influye en los trastornos mentales comunes, que son influenciados por el género y la edad.

Conclusión:

Los profesionales que asisten a personas en situación de calle necesitan considerar los trastornos mentales comunes y la resiliencia.

Descriptores:
Trastornos Mentales; Resiliencia Psicológica; Personas sin Hogar; Salud Mental; Enfermería

INTRODUÇÃO

O número de pessoas no Brasil que tem excluídos seus direitos sociais básicos como educação, saúde, emprego e moradia têm aumentado consideravelmente, contribuindo para elevada incidência de pessoas em situação de rua(11 Paiva IKS, Lira CDG, Justino JMR, Miranda MGO, Saraiva AKM. Homeless people's right to health: reflections on the problems and components. Ciênc Saúde Colet. 2016;21(8):2595-606. doi: 10.1590/1413-81232015218.06892015
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).

Estimativas apontam que existam cerca de 101.854 pessoas em situação de rua no Brasil. Deste total, 77,02% habitam municípios de grande porte, com mais de 100 mil habitantes(22 Natalino MAC. Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil [Internet]. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); 2016 [cited 2018 Mar 2]. Available from: http://ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/26102016td_2246.pdf
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). No Brasil, as pessoas em situação de rua vivenciam preconceito, intolerância, isolamento, exclusão social, condição de extrema pobreza, vínculos familiares prejudicados(33 van Wijk LB, Mângia EF. Health care for homeless people by the network of psychosocial attention of Sé. Saúde Debate. 2017;41(115):1130-42. doi: 10.1590/0103-1104201711511
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).

Os transtornos mentais comuns atingem um terço da população geral em diferentes idades, sendo responsáveis por 12% das doenças(44 Lucchese R, Sousa K, Bonfin SP, Vera I, Santana FR. Prevalence of common mental disorders in primary health care. Acta Paul Enferm. 2014;27(3):200-7. doi: 10.1590/1982-0194201400035
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). As condições de vida nas ruas (violências, preconceitos, discriminações, falta de privacidade, carências de educação e de infraestrutura para os cuidados corporais) colaboram para o aparecimento dos transtornos mentais comuns (humor, ansiedade, somatização) que, por sua vez, podem ser um dos fatores que contribuem para que uma pessoa encontre-se em situação de rua(55 Nilsson SF, Laursen TM, Hjorthøj C, Thorup A, Nordentoft M. Risk of psychiatric disorders in offspring of parents with a history of homelessness during childhood and adolescence in Denmark: a nationwide, register-based, cohort study. Lancet Public Health. 2017;2(12):e541-50. doi: 10.1016/S2468-2667(17)30210-4
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).

Estudos apontam que são vários os fatores que podem levar uma pessoa a morar na rua, dentre eles, o rompimento de vínculos familiares, transtornos mentais comuns, falta de um núcleo familiar, violência, drogas, situação econômica ou mesmo a dificuldade para se inserir no mercado de trabalho(66 Silva ICN, Santos MVS, Campos LCM, Silva DO, Porcino CA, Oliveira JF. Social representations of health care by homeless people. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03314. doi: 10.1590/s1980-220x2017023703314
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) . Pesquisa realizada em João Pessoa-PB, cenário desta pesquisa, revelou como motivos para tornar-se pessoa em situação de rua o uso de drogas e álcool, desemprego e o rompimento de vínculos familiares(77 Oliveira MRL. A rua como espaço para morar: observações sobre a apropriação dos espaços públicos pelos moradores de rua da cidade de João Pessoa-PB [Dissertação] [Internet]. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social; 2011 [cited 2018 Mar 2]. Available from: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/7216.
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).

Autores apontam como sendo alta a prevalência do desenvolvimento de transtornos mentais comuns entre pessoas em situação de rua, comparando-as com outros grupos populacionais(88 Botti NCL, Castro CG, Silva AK, Silva MF, Oliveira LC, Castro ACHOA, et al. Avaliação da ocorrência de transtornos mentais comuns entre a população de rua de Belo Horizonte. Barbarói. 2010;(33):178-93. doi: 10.17058/barbaroi.v0i0.1583
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). Estudo desenvolvido no Brasil com esse grupo evidenciou que 49,4% apresentavam algum tipo de transtorno mental comum, sendo mais frequentes a depressão e a ansiedade(88 Botti NCL, Castro CG, Silva AK, Silva MF, Oliveira LC, Castro ACHOA, et al. Avaliação da ocorrência de transtornos mentais comuns entre a população de rua de Belo Horizonte. Barbarói. 2010;(33):178-93. doi: 10.17058/barbaroi.v0i0.1583
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). Pesquisa internacional com moradores de rua indicou que cerca de 90% destas pessoas receberam um diagnóstico psiquiátrico, sendo aproximadamente 40% de quadros de psicose e 29% uso abusivo de álcool(99 Zhang L, Norena M, Gadermann A, Hubley A, Russell L, Aubry T, et al. Concurrent disorders and health care utilization among homeless and vulnerably housed persons in Canada. J Dual Diagn. 2018;14(1):21-31. doi: 10.1080/15504263.2017.1392055
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).

Mesmo diante da situação precária em que vivem, o sentimento de culpa, da ausência familiar e do preconceito da sociedade, algumas dessas pessoas acreditam que algo bom pode acontecer em sua vida e buscam forças para conseguir superar essas adversidades, utilizando a resiliência. Esta por sua vez significa a capacidade de recuperação diante de situações adversas da vida(1010 Goodhew M, Salmon AM, Marel C, Mills KL, Jauncey M. Mental health among clients of the Sydney Medically Supervised Injecting Centre (MSIC). Harm Reduct J. 2016;13(29):1-5. doi: 10.1186/s12954-016-0117-y
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).

A resiliência se expressa frente à presença de fatores de risco. Não existirá resiliência sem o risco. Este tem um potencial para predispor pessoas e populações a resultados negativos e podem estar presentes tanto em características individuais como ambientais. Entre os fatores de risco individuais encontram-se características como gênero, problemas genéticos, carência de habilidades sociais, intelectuais e características psicológicas limitadas, e os fatores de risco ambientais caracterizam-se por eventos de vida estressantes, ausência de apoio social e afetivo, além do baixo nível sócio econômico(1111 Vasconcelos IFFG. Strategy, organizational change and organizational resilience. Cad EBAPE.BR. 2017;15(spe):1-3. doi: 10.1590/1679-395170357
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).

Para respaldar e justificar o desenvolvimento do estudo buscou-se por produção científica nos últimos cinco anos sobre a temática em questão, nas bases de dados/biblioteca virtual: Literatura Latino-Americana e do Caribe (Lilacs), PubMed, SCOPUS, CINAHL, Web of Science, Embase e Cochrane; utilizando-se os descritores em ciências da saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): Resiliência Psicológica/Resilience, Psychological; Transtornos Mentais/Mental Disorders e Pessoas em Situação de Rua/Homeless Persons. Verificaram-se escassez de estudos que abordassem os transtornos mentais comuns e a resiliência de pessoas em situação de rua(55 Nilsson SF, Laursen TM, Hjorthøj C, Thorup A, Nordentoft M. Risk of psychiatric disorders in offspring of parents with a history of homelessness during childhood and adolescence in Denmark: a nationwide, register-based, cohort study. Lancet Public Health. 2017;2(12):e541-50. doi: 10.1016/S2468-2667(17)30210-4
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).

A relevância social e acadêmica deste estudo centra-se na análise da prevalência de transtornos mentais comuns e da resiliência em pessoas em situação de rua, influenciando em modelos de decisão em saúde e dos serviços que prestam assistência a estas pessoas. Ademais, no Brasil, pesquisas sobre este tema são escassas, tornando pertinente a execução deste estudo(1212 Montiel JM, Bartholomeu D, Carvalho LF, Pessotto F. Avaliação de transtornos da personalidade em moradores de rua. Psicol Ciênc Prof. 2015;35(2):488-502. doi: 10.1590/1982-370301992013
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). Além disso, o acúmulo de estudos na área, visando demarcar este campo de atuação, pode levar ao estabelecimento de novas políticas públicas que sejam baseadas em evidências.

Considerando que o número de pessoas em situação de rua é cada vez maior e que a saúde mental é parte da adaptação psicológica do indivíduo, torna-se importante a investigação a respeito de tais condições, proporcionando embasamento para desenvolvimento de estratégias de enfrentamento, visando garantir assistência necessária para manutenção de seu bem-estar físico e mental. Esta pesquisa emergiu do seguinte questionamento: há transtornos mentais comuns e resiliência em pessoas em situação de rua? Os transtornos mentais comuns são influenciado pela resiliência? O gênero e a idade influenciam os transtornos mentais comuns e a resiliência? O tempo de moradia de rua influência a resiliência?

OBJETIVO

Rastrear transtornos mentais comuns e a resiliência de pessoas em situação de rua.

MÉTODO

Aspectos éticos

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, e seguiu os princípios éticos estabelecidos na Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde(1313 Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília, 12 dez. 2012 [cited 2018 Mar 2]. Available from: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
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).

Desenho, local do estudo e período

Pesquisa caracterizada como transversal, descritiva e quantitativa realizada com pessoas em situação de rua que recebem assistência social na Casa da Acolhida Adulta e no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), na cidade de João Pessoa-PB, Brasil. A coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro e março do ano 2018.

A Casa da Acolhida e o Centro POP constituem instituições geridas pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) no município de João Pessoa-PB, dispõem de profissionais (educador, psicólogo e assistente social) que fornecem assistência e encaminham para acompanhamento em outras instituições públicas, como: Centro de Assistência Psicossocial (CAPS), hospital, unidade de saúde, clínica de reabilitação para dependente químico. Estes locais de coleta de dados foram selecionados por serem instituições de referência na assistência às pessoas em situação de rua na cidade, além de funcionarem como campo de ensino e pesquisa para instituições de ensino superior.

População ou amostra: critérios de inclusão e exclusão

Considerando as pessoas que permaneceram nos locais de realização da pesquisa durante o período de coleta de dados, a população do estudo constituiu-se de 51 pessoas em situação de rua, sendo a amostra composta por 49 indivíduos, pois dois se recusaram a participar do estudo. Destaca-se que realizou-se o cálculo amostral no Programa Statdisk U.S.A para Windows considerando 95% de confiança e 3% de margem de erro. Ressalta-se que problemas, como a greve prolongada de profissionais e posterior reforma de uma das instituições, limitaram o número de pessoas que frequentaram os serviços investigados durante o período do estudo. Dessa forma, não foi possível ampliar a amostra.

Foram considerados como critérios de inclusão: idade igual ou superior a 18 anos, capacidade de comunicação verbal e que estejam aptos a contribuir com a pesquisa no momento de coleta de dados. Foram excluídas aquelas pessoas em situação de rua que não estavam nas casas de apoio (local de coleta de dados), apresentaram-se agressivos ou em uso de droga ilícita no momento da coleta de dados.

Protocolo do estudo

As pessoas em situação de rua receberam comunicado prévio sobre a data e o procedimento da coleta de dados por meio dos pesquisadores, com apoio do coordenador da Casa da Acolhida e do Centro de Referência para Pessoas em Situação de Rua.

Os dados foram coletados individualmente pelos pesquisadores, em ambiente adequado, com tempo médio de aplicação dos instrumentos de 40 minutos por sujeito. O instrumento de coleta foi aplicado por quatro estudantes de Enfermagem, bolsistas de Iniciação Científica, acompanhados por uma doutoranda em Enfermagem em todos os dias de coleta de dados. No intuito de padronizar a coleta, estes participaram previamente de um treinamento com carga horária total de 20 horas, ministrado pelo coordenador da pesquisa, sendo discutidos os assuntos pertinentes ao objeto de estudo. Ressalta-se que todas as questões do instrumento foram discutidas detalhadamente com os pesquisadores que coletaram os dados.

Os instrumentos utilizados para coleta de dados consistiram em duas escalas validadas, sendo a primeira referente a transtornos mentais comuns, denominada Self Reporting Questionnaire (SRQ20) e a segunda sobre Resiliência. A escala SRQ 20 rastreia transtornos mentais comuns (insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas), composta de 20 questões, sendo quatro referentes a sintomas físicos e 16 psicoemocionais, com alternativas de respostas “sim” ou “não”. Escore com sete ou mais respostas “sim” foi considerado afirmativo para a presença de transtornos mentais comuns(1414 Gonçalves DM, Stein AT, Kapczinski F. Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSMIV-TR. Cad Saúde Pública. 2008;24(2):380-90. doi: 10.1590/S0102-311X2008000200017
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).

A escala de resiliência apresenta 25 itens que engloba cinco temas: serenidade, perseverança, autoconfiança, sentido de vida e autossuficiência. As respostas variam de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente), com escore mínimo de 25 e máximo 175 pontos, sendo quanto mais elevado o escore, maior a resiliência. Escore até 125 indica baixa resiliência, 125 a 145 média e acima de 145 alta(1515 Pesce RP, Assis SG, Avanci JQ, Santos NC, Malaquias JV, Carvalhaes R. Adaptação transcultural, confiabilidade e validade da escala de resiliência. Cad Saúde Pública. 2005;21(2):436-48. doi: 10.1590/S0102-311X2005000200010
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). Além desses instrumentos, foram extraídas variáveis sociodemográficas: idade, gênero, tempo em situação de rua.

A avaliação psicométrica dos instrumentos realizada para validação dos mesmos encontrou para a escala de resiliência, um Kappa que oscilou entre discreto (0,0 – 0,20) e moderado (0,40 – 0,60) com confiança de 35%, alfa de Cronbach 0,85, o Coeficiente de Correlação Intraclasse foi 0,746 com intervalo de confiança 0,624 e 0,829(1515 Pesce RP, Assis SG, Avanci JQ, Santos NC, Malaquias JV, Carvalhaes R. Adaptação transcultural, confiabilidade e validade da escala de resiliência. Cad Saúde Pública. 2005;21(2):436-48. doi: 10.1590/S0102-311X2005000200010
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). O coeficiente alfa de Cronbach para a escala SRQ20 é de 0,86 em sua validação com r Pearson para correlação dos itens representado por p < 0,001(1414 Gonçalves DM, Stein AT, Kapczinski F. Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSMIV-TR. Cad Saúde Pública. 2008;24(2):380-90. doi: 10.1590/S0102-311X2008000200017
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).

Análise estatística

O processamento dos dados foi realizado pelo programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19.0. O teste Kruskal Wallis foi utilizado para verificar as hipóteses: transtornos mentais comuns influenciam na classificação da resiliência; a classificação da resiliência é influenciada pelo tempo de moradia de rua; a idade influencia na classificação da resiliência. O teste t foi empregado para verificar a hipótese: o escore da escala de resiliência influencia o escore da escala de transtornos mentais comuns. O teste Qui Quadrado foi realizado para testar as hipóteses: a classificação dos transtornos mentais comuns é influenciada pelo gênero; a classificação da resiliência é influenciada pelo gênero; a idade influencia no escore da escala de transtornos mentais comuns. Para todos os testes considerou-se significativo quando o valor p ≤ 0,05. Foi realizada uma análise psicométrica de consistência interna das escalas por meio do alfa de Cronbach, considerando ideal o valor maior que 0,7.

RESULTADOS

As 49 pessoas em situação de rua que participaram da pesquisa apresentavam idade média de 34,93 ± 9,3 anos, a maioria (89,8%) do gênero masculino, com tempo de moradia de rua variando entre no máximo 31 anos e mínimo três dias.

A escala SRQ20 apresentou alfa de Cronbach de 0,81 (81%) determinando que os itens são homogêneos e que a escala mede consistentemente a variável em questão. A Tabela 1 demonstra os resultados da escala SRQ20 referente ao rastreamento dos transtornos mentais comuns de forma detalhada.

Tabela 1
Respostas da escala SRQ20 que rastreou transtornos mentais comuns de pessoas em situação de rua (N = 49), João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2018

O alfa de Cronbach referente à escala de resiliência apresentou 84% (0,84) de confiabilidade, representando boa consistência. A Tabela 2 expõe as respostas da escala de resiliência de forma a compreendê-la minuciosamente.

Tabela 2
Frequência absoluta e relativa das informações sobre a resiliência de pessoas em situação de rua (N = 49), João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2018

O rastreamento dos transtornos mentais comuns e resiliência encontram-se expostos na Tabela 3.

Tabela 3
Rastreamento de transtornos mentais comuns e resiliência de pessoas em situação de rua (N = 49), João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2018

A Tabela 4 revela o resultado dos testes que verificaram a influência de uma variável sobre a outra.

Tabela 4
Influência dos transtornos mentais comuns e resiliência, da resiliência com tempo de moradia de rua e da idade em relação as duas variáveis (N = 49), João Pessoa, Paraíba, Brasil, 2018

DISCUSSÃO

A média de idade dos participantes desse estudo foi de 34,93 anos – dados similares foram obtidos por um estudo realizado com 594 pessoas em situação de rua em Ottawa, Toronto e Vancouver, onde 24,4% dos entrevistados tinham idade entre 30 e 39 anos(1616 To MJ, Palepu A, Aubry T, Nisenbaum R, Gogosis E, Gadermann A, et al. Predictors of homelessness among vulnerably housed adults in 3 Canadian cities: a prospective cohort study. BMC Public Health. 2016;16:1041. doi: 10.1186/s12889-016-3711-8
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). No tocante à prevalência de pessoas do sexo masculino em situação de rua, corroboram com o encontrado por outros estudos(1717 Stenius-Ayoade A, Haaramo P, Erkkilä E, Marola N, Nousiainen K, Wahlbeck K, et al. Mental disorders and the use of primary health care services among homeless shelter users in the Helsinki metropolitan area, Finland. BMC Health Serv Res. 2017;17:428. doi: 10.1186/s12913-017-2372-3
https://doi.org/10.1186/s12913-017-2372-...
).

O tempo de moradia de rua variou de três dias a 31 anos neste estudo. Em Goiânia-Goiás, estudo com 150 pessoas em situação de rua constatou que 60,7% estavam nesta situação a menos de seis meses e 30,7% a mais de seis meses(1818 Barros CVL, Galdino Jr H, Rezza G, Guimarães RA, Ferreira PM, Souza CM, et al. Bio-behavioral survey of syphilis in homeless men in Central Brazil: a cross-sectional study. Cad Saúde Pública. 2018;34(6):e00033317. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00033317
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). Um estudo realizado em Hong Kong identificou que mais de 80% dos entrevistados estavam em situação de rua há mais de um ano(1919 Yim LC, Leung HC, Chan WC, Lam MH, Lim VW. Prevalence of mental illness among homeless people in Hong Kong. PloS One. 2015;10(10):e140940. doi: 10.1371/journal.pone.0140940
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).

Na escala SRQ20, que diz respeito a transtornos mentais comuns, 61,2% das pessoas em situação de rua afirmam que dormem mal. Destaca-se que estes indivíduos são privados de ambiente que favoreça o sono, dormindo muitas vezes em praças e calçadas sob os efeitos de frio, vento e chuva. Da mesma forma, estudo com pessoas em situação de rua em Santos-SP demonstrou que torna-se difícil ter um sono tranquilo, pois além dos fatores climáticos, há a fragilidade da segurança(2020 Andrade LP, Costa SL, Marquetti FC. A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo. Saúde Soc. 2014;23(4):1248-61. doi: 10.1590/S0104-12902014000400011
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). A insônia encontra-se presente neste contexto e é justificada pela incerteza de acordar vivo no outro dia, além do sofrimento, desespero e solidão(2121 Schmidt R, Hrenchuk C, Bopp J, Poole N. Trajectories of women's homelessness in Canada's 3 northern territories. Int J Circumpolar Health [Internet]. 2015[cited Mar 13];74(1):29778. doi: 10.3402/ijch.v74.29778
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).

O sentimento de tristeza foi relatado por 71,4% (35) dos indivíduos desta pesquisa, podendo ser resultado do isolamento social, depressão e violência física, conforme estudo internacional que identificou isolamento social grave em 60% e moderado em 28,8% de um total de 260 pessoas em situação de rua(2222 Riley ED, Shumway M, Knight KR, Guzman D, Cohen J, Weiser SD. Risk factors for stimulant use among homeless and unstably housed adult women. Drug Alcohol Depend. 2015;153:173-9. doi: 10.1016/j.drugalcdep.2015.05.023
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).

As pessoas em situação de rua relatam vidas familiares interrompidas, relacionamentos frágeis, apoio social prejudicado, desconfiança e desonestidade que estão associadas ao surgimento de sentimento de tristeza(2323 Neves-Silva P, Martins GI, Heller L. "We only have access as a favor, don't we?" The perception of homeless population on the human rights to water and sanitation. Cad Saúde Pública. 2018;34(3):e00024017. doi: 10.1590/0102-311x00024017
https://doi.org/10.1590/0102-311x0002401...
). Estudo realizado em João Pessoa-PB com pessoas em situação de rua evidenciou a presença de medo, desvalorização, indiferença, rejeição(77 Oliveira MRL. A rua como espaço para morar: observações sobre a apropriação dos espaços públicos pelos moradores de rua da cidade de João Pessoa-PB [Dissertação] [Internet]. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social; 2011 [cited 2018 Mar 2]. Available from: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/7216.
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).

A dificuldade em tomar decisões encontra-se presente em 59,2% dos participantes deste estudo. Este fato pode estar associado ao uso de drogas ilícitas, isolamento social, abandono familiar e de amigos, que prejudicam o compartilhamento de dificuldades e eventos ocorridos na vida pessoal(2424 Jabur PAC, Campos IO, Souza TR, Paula LB. Migração e situações de rua: o uso do álcool nas ruas de Brasília. Cad Ter Ocup. 2014; 22(Supl Esp):125-33. doi: 10.4322/cto.2014.037
https://doi.org/10.4322/cto.2014.037...
).

Tratando-se dos transtornos mentais comuns também houve presença de 63,3% de pessoas em situação de rua que se sentiram incapazes de desempenhar um papel útil em sua vida, podendo ir ao encontro dos sentimentos de culpa, arrependimento, e abandono dos parentes e amigos, assim como relatado em estudo com pessoas em situação de rua de Brasília-DF, que acrescentam ainda a necessidade de tentar sobreviver e esquecer esses sentimentos com o auxílio da bebida alcoólica(2525 Halpern SC, Scherer JN, Roglio V, Faller S, Sordi A, Ornell F, et al . Vulnerabilidades clínicas e sociais em usuários de crack de acordo com a situação de moradia: um estudo multicêntrico de seis capitais brasileiras. Cad Saúde Pública. 2017;33(6):e00037517. doi: 10.1590/0102-311x00037517
https://doi.org/10.1590/0102-311x0003751...
).

A ausência de sentido na vida, evidenciado por 20,4%(10) dos entrevistados, pode estar relacionado ao desejo de morrer, assim como apresentado por 41,8% das pessoas em situação de rua de outra pesquisa(2626 Fekadu A, Hanlon C, Gebre-Eyesus E, Agedew M, Solomon H, Teferra S, et al. Burden of mental disorders and unmet needs among street homeless people in Addis Ababa, Ethiopia. BMC Med. 2014;12:138. doi: 10.1186/s12916-014-0138-x
https://doi.org/10.1186/s12916-014-0138-...
). Houve prevalência de 57,1% de pessoas deste estudo que perderam o interesse em acreditar em um futuro próspero, podendo ser justificado pela desilusão em que vivem(77 Oliveira MRL. A rua como espaço para morar: observações sobre a apropriação dos espaços públicos pelos moradores de rua da cidade de João Pessoa-PB [Dissertação] [Internet]. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social; 2011 [cited 2018 Mar 2]. Available from: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/7216.
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle...
).

A atenção à saúde mental de pessoas em situação de rua, com transtornos mentais comuns como depressão, ansiedade e estresse, é algo que merece enfoque especial, uma vez que o fato de estarem expostas ao uso de drogas ilícitas, abuso sexual e violência, as tornam mais vulneráveis ao agravamento do seu estado de saúde. Essas pessoas são pouco estudadas e representam uma camada cada vez maior na sociedade, portanto, investigações mais profundas sobre o tema são de grande valia(2727 Chrystal JG, Glover, DL, Young AS, Whelan F, Austin EL, Johnson NK, et al. Experience of primary care among homeless individuals with mental health conditions. PloS One. 2015;10(2):e0117395. doi: 10.1371/journal.pone.0117395
https://doi.org/10.1371/journal.pone.011...
).

No aspecto relacionado à escala de resiliência, 32,7% das pessoas em situação de rua discordaram totalmente sobre terem orgulho de ter realizado algo em suas vidas, fato que pode ser associado ao arrependimento e sentimento de culpa(2828 Macerata IM, Passos E. Intervenção com jovens em situação de rua: problematizando cuidado e controle. Psicol Soc. 2015;27(3):537-47. doi: 10.1590/1807-03102015v27n3p537
https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27...
).

Ainda tratando-se da resiliência, 30,6% discordam totalmente sobre achar motivo para sorrir. Em sua maior parte, as pessoas em situação de rua sentem-se tristes e possuem um olhar vago, com os sentimentos despedaçados, podendo ser aliviados quando conversam com alguém, pois ao compartilhar, pode-se ressignificar e criar a possibilidades de superação e mudança(2929 Santana CLA, Rosa AS, organizadores. Saúde mental das pessoas em situação de rua: conceitos e práticas para profissionais da assistência social [Internet]. 1ª ed. São Paulo: Epidaurus Medicina e Arte; 2016 [cited 2019 Feb 7]. Available from: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/saude_mental_pop_rua.pdf.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/s...
). Em contrapartida, torna-se relevante destacar um dos itens da escala de resiliência onde 30,6% concordaram totalmente que a vida tem sentido, revelando que mesmo após sentimentos tristes, acreditam em alguma mudança em suas vidas(3030 Andrade LP, Costa SL, Marquetti FC. A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo. Saúde Soc. 2014;23(4):1248-61. doi: 10.1590/S0104-12902014000400011
https://doi.org/10.1590/S0104-1290201400...
).

Pesquisa com jovens em situação de rua revelou boa resiliência, pois apesar de vivenciarem diversos problemas que permeiam este contexto, conseguem fazer uma transição bem sucedida para a vida adulta. Dentre os fatores que podem contribuir para isto estão a autoestima, inteligência e laços afetivos(3131 Krabbenborg MAM, Boersma SN, Wolf JRLM. A strengths based method for homeless youth: effectiveness and fidelity of Houvast. BMC Public Health. 2013;13:359. doi: 10.1186/1471-2458-13-359
https://doi.org/10.1186/1471-2458-13-359...
).

Transtornos mentais comuns foram rastreados em 71,4% dos sujeitos do estudo, corroborando com pesquisas que revelam sua influência pelo uso de drogas ilícitas, confronto familiar, abuso sexual, violência, isolamento e falta de oportunidades(2222 Riley ED, Shumway M, Knight KR, Guzman D, Cohen J, Weiser SD. Risk factors for stimulant use among homeless and unstably housed adult women. Drug Alcohol Depend. 2015;153:173-9. doi: 10.1016/j.drugalcdep.2015.05.023
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.201...
).

Ressalta-se que 60% da população em situação de rua geral apresenta algum tipo de transtorno mental comum, sendo os mais prevalentes a insônia, irritabilidade, esquecimento, que acrescentados a dependência de álcool e drogas, trazem como consequência o aumento da mortalidade – por suicídio ou por causas relacionadas ao próprio uso de drogas – , da vulnerabilidade, da vitimização de violência e criminalidade(2626 Fekadu A, Hanlon C, Gebre-Eyesus E, Agedew M, Solomon H, Teferra S, et al. Burden of mental disorders and unmet needs among street homeless people in Addis Ababa, Ethiopia. BMC Med. 2014;12:138. doi: 10.1186/s12916-014-0138-x
https://doi.org/10.1186/s12916-014-0138-...

27 Chrystal JG, Glover, DL, Young AS, Whelan F, Austin EL, Johnson NK, et al. Experience of primary care among homeless individuals with mental health conditions. PloS One. 2015;10(2):e0117395. doi: 10.1371/journal.pone.0117395
https://doi.org/10.1371/journal.pone.011...

28 Macerata IM, Passos E. Intervenção com jovens em situação de rua: problematizando cuidado e controle. Psicol Soc. 2015;27(3):537-47. doi: 10.1590/1807-03102015v27n3p537
https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27...

29 Santana CLA, Rosa AS, organizadores. Saúde mental das pessoas em situação de rua: conceitos e práticas para profissionais da assistência social [Internet]. 1ª ed. São Paulo: Epidaurus Medicina e Arte; 2016 [cited 2019 Feb 7]. Available from: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/saude_mental_pop_rua.pdf.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/s...

30 Andrade LP, Costa SL, Marquetti FC. A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo. Saúde Soc. 2014;23(4):1248-61. doi: 10.1590/S0104-12902014000400011
https://doi.org/10.1590/S0104-1290201400...
-3131 Krabbenborg MAM, Boersma SN, Wolf JRLM. A strengths based method for homeless youth: effectiveness and fidelity of Houvast. BMC Public Health. 2013;13:359. doi: 10.1186/1471-2458-13-359
https://doi.org/10.1186/1471-2458-13-359...
).

Estudo realizado no Nordeste do Brasil identificou fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais comuns, quais sejam: baixa autoestima, menor desejo de viver, depressão, problemas interpessoais, sentimento de tristeza, agressividade e violência sofrida(3232 Pinto ACS, Luna IT, Silva AA, Pinheiro PNC, Braga VAB, Souza AMA. Fatores de risco associados a problemas de saúde mental em adolescentes: revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP. 2014;48(3):552-61. doi: 10.1590/S0080-623420140000300022
https://doi.org/10.1590/S0080-6234201400...
). Salienta-se que as pessoas em situação de rua que encontram-se em confronto familiar e com transtornos mentais comuns possuem uma assistência fragilizada em países de baixa renda, pois os serviços sociais nem sempre estão adequados para recebê-los(2626 Fekadu A, Hanlon C, Gebre-Eyesus E, Agedew M, Solomon H, Teferra S, et al. Burden of mental disorders and unmet needs among street homeless people in Addis Ababa, Ethiopia. BMC Med. 2014;12:138. doi: 10.1186/s12916-014-0138-x
https://doi.org/10.1186/s12916-014-0138-...
).

A enfermagem pode detectar anormalidades associadas à presença de transtornos mentais comuns, auxiliar no acompanhamento das pessoas acometidas, por meio de grupos de apoio que podem ser implantados em unidades básicas de saúde, e ainda podem encaminhar para Centros de Apoio Psicossocial. Desta forma, o enfermeiro possui a capacidade de atender o indivíduo de forma integral e o dever de incluir assistência à saúde mental na unidade básica de saúde(3333 Loyola CMD. Mental health and psychiatric nursing: contributions to the resocialization of person in psychic suffering. Esc Anna Nery. 2017;21(3):e20170301. doi: 10.1590/2177-9465-ean-2017-0003-0001
https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-20...
).

Sendo assim, no contexto de pessoas em situação de rua, o enfermeiro pode atuar nas casas de acolhida e no consultório de rua. Este se apresenta como uma ferramenta de intervenção na atenção básica, sendo regulamentado pela Portaria do Ministério da Saúde nº 122/2011(3434 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 122, de 25 de janeiro de 2011. Define diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório de Rua [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília, 1 fev. 2012 [cited 2019 Feb 7]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0122_25_01_2012.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
).

A Política Nacional destinada à população de rua regulamentada pelo Decreto Federal nº 7.053/2009 afirma que deve ocorrer uma articulação entre as políticas públicas em todos os níveis, incluindo a saúde. Desta forma, as pessoas em situação de rua da presente pesquisa que recebem acompanhamento em casas de apoio devem ser encaminhadas para o serviço conforme a necessidade(3535 Governo Federal do Brasil. Decreto nº 7053, de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília, 24 dez. 2019 [cited 2019 Feb 7]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at...
).

Quanto à baixa resiliência, 44,9% das pessoas em situação de rua deste estudo apresentaram-na. Entende-se que a resiliência envolve o modo de encontrar meios para sair de ou resistir a conflitos. O déficit na resiliência também foi encontrado em outro estudo com pessoas em situação de rua, sendo que aqueles com idade mais jovem apresentavam maior dificuldade de superar situações estressantes(3636 Opalach C, Romaszko J, Jaracz M, Kuchta R, Borkowska A, Bucinski A. Coping styles and alcohol dependence among homeless people. PloS One. 2016;11(9):e0162381. doi: 10.1371/journal.pone.0162381
https://doi.org/10.1371/journal.pone.016...
).

Destaca-se que a pessoa resiliente apresenta algumas características, como: consciência de si, autoestima preservada, capacidade de abertura e criação, senso de humor, disciplina e tolerância. A resiliência pode ser influenciada pela estrutura social e pelo próprio ambiente no qual a pessoa está inserida(3434 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 122, de 25 de janeiro de 2011. Define diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório de Rua [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília, 1 fev. 2012 [cited 2019 Feb 7]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0122_25_01_2012.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
). Assim, a pessoa em situação de rua encontra-se em um local desfavorável a resiliência, pois não conseguem realizar atividades que lhe proporcionem prazer, não possuem oportunidades e têm acesso reduzido à serviços de lazer/recreação/passeio. Desta forma, são privados de atividades que proporcionam bem-estar e a tentativa de driblar as adversidades pode ser frustrada(3737 Estêvão P, Calado A, Capucha L. Resilience: moving from a "heroic" notion to a sociological concept. Sociologia, Problemas e Práticas. 2017;85(1):9-25. doi: 10.7458/SPP20178510115
https://doi.org/10.7458/SPP20178510115...
).

A resiliência envolve fatores de proteção e de risco, sendo o primeiro aquele que pode beneficiar o indivíduo com apoio familiar, temperamento, sensação de segurança, autoimagem positiva, crença e religião. Desta forma, os fatores protetores podem ser englobados em três classes: pessoais, familiares e sociais. Quanto aos fatores de risco não se pode determinar como uma sentença que todas as pessoas em situação de estresse ou condições de vida precárias irão ter a resiliência comprometida, mas há acontecimentos que podem contribuir, como: morte de pessoa querida, desemprego e doença(3838 Kidd SA, Gaetz S, O’Grady B. The 2015 National Canadian homeless youth survey: mental health and addiction findings. Can J Psychiatry. 2017;62(7):493-500. doi: 10.1177/0706743717702076
https://doi.org/10.1177/0706743717702076...
).

A resiliência envolve aspectos pessoais, familiares e de grupos, podendo ser vista de forma positiva a partir de situações adversas em que o indivíduo consegue superar, por ter entendido a situação em uma perspectiva positiva. Para aqueles que convivem em contextos frágeis, torna-se relevante o suporte social, como apoio familiar, amigos, programas e políticas públicas(3939 Amaral-Bastos M. O conceito de resiliência na perspectiva de enfermagem. Rev Aladefe[Internet]. 2013[cited 2018 Jun 20];3(4):61-70. Available from: https://www.enfermeria21.com/revistas/aladefe/articulo/92/o-conceito-de-resiliencia-na-perspetiva-de-enfermagem/
https://www.enfermeria21.com/revistas/al...
).

Neste aspecto, a enfermagem pode estimular o indivíduo a buscar dentro de si a força necessária para conseguir os quatro elementos essenciais para que ele apresente resiliência preservada: conectividade (contato com os outros), criatividade (acreditar na capacidade pessoal), firmeza e flexibilidade (auxilia a suportar e lidar com as adversidades)(4040 Bezerra IHP, Macêdo Filho I, Costa RJLM, Sousa VJ, Carvalho MVG. População em situação de rua: um olhar da enfermagem sobre o processo saúde/doença. Enferm Rev [Internet]. 2015[cited 2018 Mar 2];18(1):3-14. Available from: http://periodicos.pucminas.br/index.php/enfermagemrevista/article/view/9365
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
).

Destaca-se que estas variáveis formam uma cascata na medida em que a resiliência influencia os transtornos mentais comuns, como comprovado estatisticamente, pois(3636 Opalach C, Romaszko J, Jaracz M, Kuchta R, Borkowska A, Bucinski A. Coping styles and alcohol dependence among homeless people. PloS One. 2016;11(9):e0162381. doi: 10.1371/journal.pone.0162381
https://doi.org/10.1371/journal.pone.016...
) pessoas em situação de rua estão mais susceptíveis a não encontrarem meios de equilibrar o estresse, podendo desenvolver doenças relacionadas à saúde mental, como a depressão e a ansiedade.

Neste estudo, identificou-se que os transtornos mentais comuns e a resiliência são influenciados pelo gênero (p = 0,003). Também observou-se que as mulheres estão mais propensas a apresentarem a saúde emocional comprometida, sendo este fato associado à violência que permeia o gênero feminino(3232 Pinto ACS, Luna IT, Silva AA, Pinheiro PNC, Braga VAB, Souza AMA. Fatores de risco associados a problemas de saúde mental em adolescentes: revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP. 2014;48(3):552-61. doi: 10.1590/S0080-623420140000300022
https://doi.org/10.1590/S0080-6234201400...
). Pesquisa realizada no Distrito Federal destaca que os transtornos mentais comuns estão presentes em 27,5% dos diagnósticos masculinos e 59,6% dos femininos(4141 Zanello V, Silva RMC. Mental health, gender and structural violence. Rev Bioét [Internet]. 2012[cited 2018 May 28];20(2)267-79. Available from: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/745/797
http://revistabioetica.cfm.org.br/index....
).

A baixa resiliência associa-se com a presença de depressão e tende a ser mais encontrada nas mulheres devido às próprias condições fisiológicas e hormonais(2222 Riley ED, Shumway M, Knight KR, Guzman D, Cohen J, Weiser SD. Risk factors for stimulant use among homeless and unstably housed adult women. Drug Alcohol Depend. 2015;153:173-9. doi: 10.1016/j.drugalcdep.2015.05.023
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.201...
). A idade influencia os transtornos mentais comuns (p = 0,003), sendo o mesmo aspecto encontrado por um estudo realizado no Canadá, onde foi identificado que dos 1103 participantes do estudo, 42% relataram uma ou mais tentativas de suicídio, neste sentido, a idade precoce no início da moradia de rua foi considerada um indicador de risco(3838 Kidd SA, Gaetz S, O’Grady B. The 2015 National Canadian homeless youth survey: mental health and addiction findings. Can J Psychiatry. 2017;62(7):493-500. doi: 10.1177/0706743717702076
https://doi.org/10.1177/0706743717702076...
).

Limitações do estudo

Como limitações do estudo, destaca-se o delineamento transversal. Levando em consideração a dispersão dessa população e seu crescimento constante, sugere-se a realização de estudos futuros com delineamento longitudinal e amostra que englobe um maior número de pessoas em situação de rua.

Contribuições para a enfermagem, saúde e política pública

Os resultados deste estudo contribuem para que os profissionais que prestam assistência às pessoas em situação de rua compreendam que as circunstâncias impostas pelo contexto em que vivem corroboram para o adoecimento mental, permitindo assim, direcionar a assistência para as reais necessidades desta população.

CONCLUSÃO

A pesquisa possibilitou rastrear, entre os moradores de rua participantes deste estudo, a presença de transtornos mentais comuns e baixa resiliência. Os testes estatísticos utilizados permitiram aceitar as seguintes hipóteses: o escore da escala de resiliência influencia o escore da escala de transtornos mentais comuns; a classificação dos transtornos mentais comuns é influenciada pelo gênero; a classificação da resiliência é influenciada pelo gênero; e a idade influencia no rastreio de transtornos mentais comuns. Além disso, permitiram rejeitar as hipóteses: os transtornos mentais comuns influenciam a classificação da resiliência; a classificação da resiliência é influenciada pelo tempo de moradia de rua; e a idade influencia a classificação da resiliência.

Ademais, variáveis como: “dormir mal”; “sentir-se nervoso”, “tenso ou preocupado”; “sentir-se triste”; “incapazes de desempenhar um papel útil na sua vida”; “apresentar transtornos mentais comuns” e “baixa resiliência”, podem se constituir em importantes fatores que precisam ser considerados para a promoção da saúde e qualidade de vida de moradores de rua.

Por fim, torna-se necessária a elaboração de novos estudos que investiguem e contribuam para o emprego das estratégias de resiliência na construção de protocolos assistenciais e planos de cuidado de enfermagem para pessoas que vivem em situação de rua.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2019
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    26 Jun 2018
  • Aceito
    03 Fev 2019
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