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Realidade e desafios para o envelhecimento

O envelhecimento populacional mundial tem despertado interesse crescente, busca de entendimento das consequências situacionais e dos possíveis ajustes que a sociedade terá que realizar. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2025, o país ocupará o 6º lugar no mundo em quantidade de idosos, e estima-se que até 2055, o número de pessoas com mais de 60 anos superará o de brasileiros com idade inferior a 30 anos. Em 2018, o índice de envelhecimento era de 43,19%, podendo atingir 173,47%, em 2060 (11 Andrade H. IBGE projeta Brasil com mais idosos do que crianças em 21 anos [Internet]. 25 de julho de 2018[cited 2019 Jun 19]. Portal UOL. Available from: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/07/25/ibge-projeta-brasil-com-mais-idosos-do-que-criancas-em-21-anos.htm
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ul...
-22 Perissé C, Marli M. Idosos indicam caminhos para uma melhor idade. Rev Retratos [Internet]. 19 de março de 2019[cited 2019 Jun 19]. Available from: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/ag...
).

Envelhecer, para muitos, marca o período de diminuição da capacidade funcional, realizar Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) que são tarefas como: fazer compras, administrar as finanças, tomar remédios, utilizar meios de transporte, usar o telefone e realizar trabalhos domésticos, gradativamente, podem ser comprometidas e até gerar dependência completa. Registros nacionais, em 2018, apontaram que 39,2% dos idosos com idade acima de 75 anos apresentam declínio na capacidade de realizar as AIVD, o que pode ser reflexo da alta taxa de prevalência de doenças crônicas entre os idosos. 69,5% dos idosos têm diagnóstico de pelo menos uma doença crônica e 77% dos brasileiros relataram que os maiores temores relacionados à velhice eram os problemas de saúde, a preocupação financeira e a degradação da aparência física, do nível de responsabilidade e da energia (22 Perissé C, Marli M. Idosos indicam caminhos para uma melhor idade. Rev Retratos [Internet]. 19 de março de 2019[cited 2019 Jun 19]. Available from: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/ag...
).

O relatório de qualidade de vida de idosos do Global Age Watch, em 2017, considerou fatores como expectativa de vida, bem-estar psicológico, renda, transporte e segurança, e o Brasil ficou classificado em 56º lugar entre um total de 96 países. Em matéria de segurança de renda, o país apareceu em 13º lugar, e a aposentadoria despontou como o principal motivo, uma vez que, cerca de 87% da população acima dos 60 anos apresentava renda fixa e a taxa de pobreza extrema entre idosos ficou abaixo de 10% (33 Brasil é o 56º melhor país do mundo para envelhecer. Rev Exame [Internet]. 9 de setembro de 2015[cited 2019 Jun 19]. Available from: https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-e-o-56o-em-ranking-de-melhor-pais-para-idosos
https://exame.abril.com.br/brasil/brasil...
).

Baseados na realidade acima descrita, a maioria das pessoas viverá além dos 60 anos, e as consequências para o Sistema Único de Saúde que atualmente atende, exclusivamente, cerca de 76% dos idosos do país, precisará adaptar-se à nova realidade de envelhecimento da população, assim como os trabalhadores da área da Saúde. As mudanças nas políticas de saúde e na forma de prestação de serviços precisarão ultrapassar os modelos estereotipados e ultrapassados relacionados às pessoas com mais idade.

Segundo o Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde (RMES) da Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe um padrão de idoso. Diversidades nas capacidades e nas necessidades de saúde de cada um, decorrentes do curso da vida, os tornam únicos e modificáveis, frequentemente. Embora existam inúmeros problemas de saúde, à medida que a idade avança, isso não implica necessariamente em declínio obrigatório das capacidades e nem em aumento substancial dos custos com atenção à saúde do idoso. Nos EUA, entre 1940 e 1990, o envelhecimento contribuiu com cerca de 2% dos gastos com saúde, enquanto as mudanças relacionadas à tecnologia foram responsáveis por gastos entre 38% e 65% (44 Organização Mundial da Saúde. Relatório mundial de envelhecimento e saúde [Internet]. 2015[cited 2019 Jun 19]. Available from: https://sbgg.org.br//wp-content/uploads/2015/10/OMS-ENVELHECIMENTO-2015-port.pdf
https://sbgg.org.br//wp-content/uploads/...
). E qual, de fato, deveria ser o objetivo de imensos investimentos em tecnologia, se não a melhoria da qualidade de vida das pessoas, independentemente da idade?

Mudanças de paradigmas podem auxiliar na nova estrutura social-política-econômica-cultural e de saúde no Brasil. Imputar o desequilíbrio econômico ao envelhecimento tem sido uma forma de violência cometida contra pessoas idosas. O envelhecimento é inerente aos seres humanos, envelhecemos a cada dia, portanto, a valorização das pessoas não deve estar vinculada à sua idade. Envelhecer é uma preciosa oportunidade que precisa ocorrer de forma saudável, mas infelizmente muitos não envelhecem com qualidade e dignidade. Para a maioria dos idosos, o envelhecimento saudável é um processo que permite a manutenção da capacidade funcional, além da ausência de doenças ou o controle das mesmas. Em geral, as famílias e a sociedade preocupam-se com os custos necessários à manutenção da saúde dos idosos, e não percebem que investimentos na promoção da capacidade funcional dos idosos podem trazer imensos benefícios para todos e, consequentemente, qualidade de vida para o idoso, menos desgaste para a família e economia para o sistema de saúde a médio prazo. Soluções inovadoras são elaboradas constantemente nas mais diversas áreas do conhecimento, e muitas delas com custos baixos e resultados exorbitantes. Tais iniciativas precisam ser incentivadas para a busca de melhora no cenário dos idosos no Brasil e no mundo.

A construção de um mundo mais favorável para os idosos requer mudanças no sistema de saúde, de forma a substituir modelos curativos por modelos de assistência integral centrados nas necessidades do idoso permitindo ao mesmo e à sociedade o aproveitamento máximo dessa fase da vida. Uma vida mais longa pode proporcionar oportunidades para o crescimento pessoal, busca de satisfação, realizações, bem-estar, exclusão dos preconceitos e de regras, muitas vezes, inflexíveis vivenciadas no decorrer da vida.

Há muitos anos, os desafios para o governo, profissionais da saúde e sociedade, em relação à busca de estratégias que possam beneficiar os seres humanos com idades mais avançadas, têm sido lançados, porém, apesar de algumas iniciativas exitosas, ainda há muito por fazer.

Fica aqui o convite para o investimento em um mundo melhor para todos!

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    Nov 2019
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