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Arte da pintura do ventre materno: termo, conceito e técnica

RESUMO

Objetivo:

apresentar o termo, o conceito e a técnica da arte de pintar o ventre materno.

Método:

estudo teórico, exploratório e qualitativo.

Resultados:

a partir dos resultados, foram elaborados o termo, fundamentado nas perspectivas linguística, filosófica e especializada, o conceito e a técnica da Arte da Pintura do Ventre Materno, norteados pelo humanismo e o holismo.

Considerações finais:

este estudo pode ampliar a visibilidade desta arte visual, inserindo-a no campo especializado da obstetrícia, bem como a sua adoção por enfermeiras, obstetrizes e outros profissionais de saúde no cuidado humanista e holístico à saúde materna.

Descritores:
Arte; Pintura; Obstetrícia; Teoria de Enfermagem; Humanização da Assistência

ABSTRACT

Objective:

to present the term, concept and technique of art of maternal womb painting.

Method:

a theoretical, exploratory and qualitative study.

Results:

from the results, the concept was elaborated and based on linguistic, philosophical and specialized perspective. The concept and technique of Art of Maternal Womb Painting were guided by humanism and holism.

Final considerations:

this study can broaden the visibility of this visual art and insert it in the obstetrics, as well as its adoption by nurses, midwives and other health professionals in humanistic and holistic care for maternal health.

Descriptors:
Art; Paint; Obstetrics; Nursing Theory; Humanization of Assistance

RESUMEN

Objetivo:

presentar el término, el concepto y la técnica del arte de pintar el vientre materno.

Método:

estudio teórico, exploratorio y cualitativo.

Resultados:

a partir de los resultados, se elaboró el término, fundamentado en las perspectivas lingüística, filosófica y especializada, el concepto y la técnica del Arte de la Pintura del Vientre Materno, orientados por el humanismo y el holismo.

Consideraciones finales:

este estudio puede ampliar la visibilidad de esta arte visual, insertándola en el campo especializado de la obstetricia, así como su adopción por enfermeras, obstetras y otros profesionales de salud en el cuidado humanista y holístico a la salud materna.

Descriptores:
Arte; Pintura; Obstetricia; Teoría de Enfermería; Humanización de la Atención

INTRODUÇÃO

Desde a Pré-História, a arte tem representado uma atividade basal do ser humano que, ao produzir objetos e provocar certos estados psíquicos no receptor, não encerra absolutamente o seu sentido nestas operações. Ela é, em si, um modo específico de as pessoas entrarem em relação com o universo e consigo mesmas (11 Bosi A. Reflexões sobre a arte. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática; 2008.) e de colocá-las em estado de equilíbrio com o mundo que as rodeia (22 Fischer E. A necessidade da arte. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC; 1987.).

A arte une o indivíduo a um todo e reflete a ilimitada capacidade para a associação, para compartilhar experiências e ideias (22 Fischer E. A necessidade da arte. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC; 1987.). Isso a torna fundamental à existência humana. Não é recente o seu uso no campo da Saúde, tampouco na Enfermagem.

Essa profissão possui a arte em sua essência. Isso pode ser verificado no registro histórico de sua precursora, Florence Nightingale, realizado no século XIX, no qual ela escreveu que objetos belos têm efeitos sobre a doença, especialmente aqueles brilhantes e coloridos. Os efeitos não ocorrem apenas na mente, mas também no corpo. Pelo pouco que se conhece sobre o modo com que as pessoas são afetadas pela forma, pela cor, pela luz e pelo brilho, sabe-se que eles geram um resultado físico real, representando meios para a recuperação (33 Nightingale F. Notes on nursing: What it is and what it is not. New York: D. Appleton and Company; 1860.).

As notas de Florence (33 Nightingale F. Notes on nursing: What it is and what it is not. New York: D. Appleton and Company; 1860.) revelam que sua perspectiva em relação ao indivíduo era integral e, por isso, propunha a aplicação de elementos artísticos no cuidado, apontando para as possíveis implicações destes no corpo e na mente. Historicamente, a Enfermagem é entremeada pelo paradigma humanista, o que facilita a entrada de práticas integrativas nesta área. Ela é também holística e algumas de suas teorias elucidam este aspecto.

Hildegard Peplau, criadora da Teoria Interpessoal, conceitua a Enfermagem como um processo terapêutico, significativo, interpessoal, que funciona cooperativamente com outros processos humanos que tornam a saúde possível para indivíduos e comunidades. Ela é um instrumento educacional, uma força de amadurecimento, que visa movimentar a personalidade na direção da criatividade, produtividade, da construção e da vida comunitária (44 Peplau HE. Interpersonal relations in nursing: a conceptual frame of reference for psychodynamic nursing. New York: Spring Publishing Company; 1991.).

Myra Estrin Levine, em seu modelo holístico de enfermagem, aborda as pessoas como um todo dinâmico. Martha Rogers, desenvolvedora dos princípios da hemodinâmica, também enfoca a totalidade dos indivíduos. Para ela, o ser humano é um campo de energia, irredutível, indivisível, pandimensional e identificado por padrão, que se beneficia da Enfermagem que contribui em harmonia com o seu processo de mudança (55 George JB. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.). Wanda Horta (66 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979.), em sua Teoria das Necessidades Humanas Básicas, se apoia na lei do holismo que define que as necessidades humanas básicas se inter-relacionam e integram o ser humano, que é um todo.

A Teoria dos Princípios Básicos de Enfermagem, de Virgínia Henderson, contempla os componentes biológicos, psicológicos, sociológicos e espirituais, conceituando a saúde como a capacidade do ser de funcionar de forma independente. Ela destaca o papel da enfermeira na promoção da saúde e defende que esta profissional deve estar na vanguarda do atendimento preventivo e criativo aos cidadãos (55 George JB. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.).

As propriedades terapêuticas da arte são conhecidas há séculos (77 Staricoff RL. Arts Council England. Research report 36. Arts in health: a review of the medical literature [Internet]. London: Arts Council England; 2004 [cited 2017 Jan 30]. Available from: http://www.creativenz.govt.nz/assets/ckeditor/attachments/1030/staricoff_r_arts_in_health.pdf?1410235845
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). A arte causa impactos positivos na saúde das pessoas, podendo beneficiá-las na recuperação mental, emocional e física, aliviar a ansiedade e diminuir a percepção da dor. Pode ser uma ferramenta para a cura e o alívio de tensões, podendo também ser aplicada na comunidade para a prevenção, a promoção do bem-estar e na comunicação de informações de saúde, para a aquisição de conhecimento (88 Rollins J, Sonke J, Cohen R, Boles A, Li J. State of the Field Committee. State of the field report: Arts in healthcare [Internet]. Washington: Society for the Arts in Healthcare; 2009 [cited 2017 Jan 30]. Available from: https://www.americansforthearts.org/sites/default/files/ArtsInHealthcare_0.pdf
https://www.americansforthearts.org/site...
).

Cada vez mais, as artes têm sido tratadas como componentes importantes da saúde integral (88 Rollins J, Sonke J, Cohen R, Boles A, Li J. State of the Field Committee. State of the field report: Arts in healthcare [Internet]. Washington: Society for the Arts in Healthcare; 2009 [cited 2017 Jan 30]. Available from: https://www.americansforthearts.org/sites/default/files/ArtsInHealthcare_0.pdf
https://www.americansforthearts.org/site...
). Elas servem aos usuários dos serviços e aos cuidadores como apoio poderoso em tempos de vulnerabilidade emocional e trazem beleza ao mundo dos cuidados em saúde, permeado por estresse. Também tocam espíritos que buscam encorajamento e consolo, ajudam a celebrar e construir uma comunidade entre clientes, famílias e profissionais da saúde (99 National Endowment for the Arts and Society for the Arts in Healthcare. The arts in healthcare movement in the United States [Internet]. Washington: The Arts in Healthcare Symposium; 2003 [cited 2017 Jan 30]. Available from: https://www.arts.gov/sites/default/files/NEA_SAHConceptPaper.pdf
https://www.arts.gov/sites/default/files...
).

A arte nasce de uma profunda experiência da realidade, é elaborada e toma forma através da objetividade (22 Fischer E. A necessidade da arte. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC; 1987.). O seu fazer modifica a matéria oferecida pela natureza e pela cultura, envolvendo três dimensões: técnica, mimesis e expressão. Ou seja, ela proporciona a transformação, reprodução e representação dos signos e projeta a vida interior para o exterior (11 Bosi A. Reflexões sobre a arte. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática; 2008.). Um artista coleta, controla e transforma a experiência em memória, a memória em expressão e a matéria em forma (22 Fischer E. A necessidade da arte. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC; 1987.).

É com base nas perspectivas supracitadas que se dá o desenvolvimento da Arte da Pintura do Ventre Materno, uma atividade artística na qual se aplica a técnica da pintura no abdome de gestantes, para representar objetivamente o bebê imaginado pela mãe (e sua família) e outros elementos inerentes ao território intrauterino. Esta pode ser utilizada no cuidado obstétrico realizado pela enfermeira, pela obstetriz ou por outros profissionais de saúde.

A primeira autora deste estudo a aplicou na sua prática profissional e observou, empiricamente, que essa arte visual pode influenciar na experiência subjetiva da vinculação da gestante com o seu bebê. Por isso, em sua tese de doutorado, intitulada “Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados” estudou profundamente este fenômeno (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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). A partir dos resultados deste trabalho, estabeleceu um corpo teórico que culminou no presente artigo.

Até o momento, não haviam sido realizados estudos científicos sobre esse assunto. Inova-se ao atribuir cientificidade a esta arte visual e ao apresentar, pela primeira vez, sobre o seu uso na obstetrícia.

OBJETIVO

Apresentar o termo, o conceito e a técnica da arte de pintar o ventre materno.

MÉTODO

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (CAAE: 48174715.1.0000.5404) e da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (CAAE: 48174715.1.3001.0101). Respeitou os preceitos éticos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (1111 Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2012 [cited 2017 Jan 30]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
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).

As figuras que mostram as participantes do estudo e a cientista que coletou os dados provêm dos registros fotográficos da tese, os quais foram feitos após autorização, consentimento e assinatura de um Termo de Autorização de Uso da Imagem.

Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo teórico, exploratório, qualitativo, desenvolvido a partir dos resultados de uma tese de doutorado (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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) produzida entre os anos de 2014 e 2017, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem (FEnf) da Unicamp.

Na Figura 1, está disposto como se deu o processo de construção do presente artigo, demonstrando os objetivos, o método e os manuscritos resultantes da tese (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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), que contribuíram para a sua elaboração.

Figura 1
Construção do presente artigo baseada nos resultados da tese da primeira autora (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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), Campinas, São Paulo, Brasil, 2017

A tese supracitada resultou em cinco artigos. O primeiro, intitulado “A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes” (1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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) objetivou descrever quando, como e o porquê a enfermeira e a obstetriz aplicam a pintura no ventre de gestantes. Nele, foram tratados os dados provenientes da história oral temática das sete profissionais de saúde entrevistadas, com base na análise temática de conteúdo de Laurence Bardin (1515 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2009.). Os discursos coletados possibilitaram elaborar uma árvore histórica da pintura no ventre e emergiram três categorias de análise que revelam quando, como e o porquê a enfermeira e a obstetriz aplicam esta arte no cuidado (1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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).

No segundo artigo, “Emotional expressions manifested by pregnant women in the experience of the Art of Maternal Womb Painting” (2020 Mata JAL, Silva MG, Shimo AKK. Emotional expressions manifested by pregnant women in the experience of the art of maternal womb painting. Health Care Women Int 2018;39(11):1275-94. doi: 10.1080/07399332.2018.1488853
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), o qual buscou identificar as expressões emocionais manifestadas por gestantes na vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno, foram analisados os achados relacionados às emoções codificadas por meio do FACS e os registros do diário de campo. Desse modo, identificaram-se as manifestações emocionais das voluntárias, suas características, a ordem de aparição das emoções e a relação com a história de cada participante (2020 Mata JAL, Silva MG, Shimo AKK. Emotional expressions manifested by pregnant women in the experience of the art of maternal womb painting. Health Care Women Int 2018;39(11):1275-94. doi: 10.1080/07399332.2018.1488853
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). O terceiro, “Arte da Pintura do Ventre Materno e vinculação pré-natal” (2121 Mata JAL, Shimo AKK. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Rev Cuid. 2018;9(2):2145-64. doi: 10.15649/cuidarte.v9i2.499
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), que teve por objetivo compreender o significado da vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno para gestantes, incluiu a análise dos dados originários das entrevistas aplicadas às gestantes, na ocasião da realização da arte visual e em até três dias após a mesma. A interpretação culminou em duas grandes categorias, as quais indicaram que o significado atribuído pelas participantes à Arte da Pintura do Ventre Materno, na técnica desenvolvida pela primeira autora, promoveu a experiência do núcleo subjetivo da vinculação ou de amor com o bebê e comportamentos maternos positivos (2121 Mata JAL, Shimo AKK. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Rev Cuid. 2018;9(2):2145-64. doi: 10.15649/cuidarte.v9i2.499
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).

O manuscrito intitulado “A representação social da Arte da Pintura do Ventre Materno para gestantes” (2222 Mata JAL, Shimo AKK. A representação social da arte da pintura do ventre materno para gestantes. Rev Pesqui Qual [Internet]. 2017 [cited 2017 Mar 16];5(8):250-68. Available from: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/113
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), o quarto da obra, envolveu a análise temática de conteúdo das entrevistas com as gestantes, fundamentada na Teoria das Representações Sociais, de Moscovici (1818 Moscovici S. Representações sociais: investigações em psicologia social. 11ª ed. Petrópolis: Vozes; 2015.). A representação social emergente no trabalho foi ‘eu imagino, eu vejo, me conecto e me aproximo do meu bebê’, fortalecendo a ideia de que a Arte da Pintura do Ventre Materno promoveu nas mulheres experiências do núcleo subjetivo da vinculação ou de amor com o feto (2222 Mata JAL, Shimo AKK. A representação social da arte da pintura do ventre materno para gestantes. Rev Pesqui Qual [Internet]. 2017 [cited 2017 Mar 16];5(8):250-68. Available from: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/113
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).

As autoras reuniram os quatro artigos e realizaram leitura flutuante; fichamento dos principais achados; classificação destes nas categorias “termo, conceito e técnica”; e análise e interpretação, com base em literaturas das áreas da Psicologia, Enfermagem, Etimologia, das Artes e da Neurociência. Em decorrência disto, elaborou-se este trabalho, o quinto da produção, que teoriza sobre o termo Arte da Pintura do Ventre Materno, o seu conceito e a sua técnica.

RESULTADOS

Definição do termo “Arte da Pintura do Ventre Materno”

Para definir o termo relativo à arte de pintar o ventre de gestantes, assumiu-se um olhar ampliado, entendendo que não se trata somente de uma técnica de pintura, mas representa um fenômeno artístico com fins terapêuticos e que atribui objetividade ao conteúdo psíquico, materno, familiar e, até mesmo, da enfermeira ou da obstetriz que a aplica.

Por meio de traços e cores, essa arte visual consolida as fantasias da mãe em relação às características do ser que está por vir, antes pertencentes ao imaginário e, agora, materializadas na sua pele. O bebê imaginado passa a ser visível, tocável, acessado e conhecido pela mulher/família/profissional.

Pintar o ventre materno é o ato de trazer para o exterior aquilo que é inerente ao interior, revelando, aos olhos expectantes, o bebê imaginário e outros elementos da gestação. É um fazer que transforma, promove conhecimentos, emoções (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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) e exprime a vida intrauterina por meio estético. Diante disso, é imprescindível denominar esta técnica como “Arte”. Ela é, em sua essência, uma atividade artística. Ao aplicá-la, é transformado aquilo que a natureza e a cultura oferecem, combinando imagens, sensações e representações.

O seu modo de fazer envolve a pintura aplicada diretamente no abdome da gestante e, por isso, também foram escolhidas as palavras “pintura”, “ventre” e “materno” para nomeá-la. A escolha do termo “ventre”, que também significa útero, se deu pelo motivo de esta arte exteriorizar e revelar, de forma simbólica, mas com objetividade, o que está no território intrauterino. Com ela, o feto se torna “criança”, ser social, parte do mundo simbólico da mãe/família, mostrando que não é redutível à sua organização genética/biológica, ele existe, é pessoa e objeto de comunicação.

No artigo “A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes” (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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,1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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) (ver Figura 1 e Quadro 1), foi verificado que a pintura feita no ventre de gestantes possui uma variabilidade de definições: ultrassom natural, pintura de barriga, ultrassom gestacional e ecografia natural. A primeira foi criada pela obstetriz/parteira tradicional Naolí Vinaver, por volta do ano de 1996. As outras se originaram na prática das profissionais estudadas, na busca por oferecer às mulheres uma comunicação acessível e melhor compreensão em relação a essa técnica.

Quadro 1
Resultados da tese(1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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,1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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20 Mata JAL, Silva MG, Shimo AKK. Emotional expressions manifested by pregnant women in the experience of the art of maternal womb painting. Health Care Women Int 2018;39(11):1275-94. doi: 10.1080/07399332.2018.1488853
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21 Mata JAL, Shimo AKK. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Rev Cuid. 2018;9(2):2145-64. doi: 10.15649/cuidarte.v9i2.499
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-2222 Mata JAL, Shimo AKK. A representação social da arte da pintura do ventre materno para gestantes. Rev Pesqui Qual [Internet]. 2017 [cited 2017 Mar 16];5(8):250-68. Available from: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/113
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) que sustentam o conceito da Arte da Pintura do Ventre Materno, apresentados nesta pesquisa, Campinas, São Paulo, Brasil, 2017

Ressalta-se que Naolí criou o nome “ultrassom natural” em um momento histórico marcado pelo intervencionismo e pelo uso excessivo da tecnologia no ciclo gravídico. Sua intenção foi mostrar que, por meio da arte, a obstetriz/parteira poderia revelar o tamanho aproximado e a posição precisa do feto, assim como o ultrassom convencional. Ela buscava concorrer com a aplicação indiscriminada do ultrassom obstétrico, questionando empiricamente os riscos oferecidos ao binômio mãe-bebê. Esta profissional foi pioneira na implementação da pintura em gestantes, no Brasil e internacionalmente.

Na atual perspectiva da atenção obstétrica, na qual se procura abolir a predominância da abordagem tecnocrática, adotando a humanista e/ou holística, denominar a pintura do ventre materno como “ultrassom” ou “ecografia” atribui uma dimensão medicalizada e tecnologizada a esta arte, o que se contrapõe à sua natureza e ao seu propósito. Por isso, recomenda-se o uso do termo “Arte da Pintura do Ventre Materno” que, na concepção das autoras, traduz a essência dessa atividade artística e terapêutica.

Conceito da Arte da Pintura do Ventre Materno

O conceito da Arte da Pintura do Ventre Materno, proposto nesta pesquisa, fundamentou-se nos principais resultados da tese, conforme demonstrado no Quadro 1.

Diante do exposto no Quadro 1, conceitua-se a Arte da Pintura do Ventre Materno como uma atividade artística e terapêutica que envolve uma técnica de pintura aplicada no abdome da gestante, na qual são representados, objetivamente, o bebê imaginário e outros elementos ligados à gestação, como o cordão umbilical, a placenta, o útero e a bolsa das águas. Trata-se de uma prática que pode ser aplicada por enfermeiras, obstetrizes e outros profissionais de saúde que atuam na atenção obstétrica.

Esta arte visual estimula, nas gestantes, experiências do núcleo subjetivo da vinculação ou de amor com o bebê, tendo potencial para promover a vinculação pré-natal. Além disso, provoca comportamentos e sentimentos positivos importantes para a adaptação durante o ciclo gestacional e a manutenção do bem-estar materno.

As mães que vivenciam a Arte da Pintura do Ventre Materno expressam, na maioria das vezes, emoções que podem ser positivas, como alegria e surpresa. Algumas apresentam manifestações emocionais que podem ser consideradas negativas, estando relacionadas intrinsicamente aos seus gatilhos emocionais. Ela oportuniza às mulheres externalizarem no período gravídico suas emoções mais primitivas ou desagradáveis, favorecendo a catarse.

Essa arte é representada pelas gestantes como algo positivo que estimula a sua imaginação em relação ao feto, pois permite visualizá-lo e, consequentemente, provoca sentimentos de aproximação e conexão com ele.

Recomendamos àqueles que tiverem interesse em conhecer mais profundamente sobre a vivência deste fenômeno e as suas repercussões, bem como os estudos citados (1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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20 Mata JAL, Silva MG, Shimo AKK. Emotional expressions manifested by pregnant women in the experience of the art of maternal womb painting. Health Care Women Int 2018;39(11):1275-94. doi: 10.1080/07399332.2018.1488853
https://doi.org/10.1080/07399332.2018.14...

21 Mata JAL, Shimo AKK. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Rev Cuid. 2018;9(2):2145-64. doi: 10.15649/cuidarte.v9i2.499
https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i2.4...
-2222 Mata JAL, Shimo AKK. A representação social da arte da pintura do ventre materno para gestantes. Rev Pesqui Qual [Internet]. 2017 [cited 2017 Mar 16];5(8):250-68. Available from: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/113
https://editora.sepq.org.br/index.php/rp...
) no Quadro 1, a leitura da tese (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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) que originou este artigo.

Descrição da técnica

No artigo 1 (1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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) (ver Figura 1), foi constatado que enfermeiras e obstetrizes têm aplicado de variadas formas a pintura no ventre de gestantes. Umas palpam o abdome da mulher; umas utilizam moldes de bebês para desenhar, interferindo no imaginário materno/familiar; outras desenham à mão livre; usam tinta para pintura facial/corporal/artística, maquiagem ou tinta guache; pintam com os dedos, pincéis e/ou esponjas. Desenvolvem a arte em diferentes momentos da gestação, e a maioria prioriza o terceiro trimestre (1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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).

Na sua gênese, a Arte da Pintura do Ventre Materno consiste em tornar externo aquilo que está no território uterino e no psiquismo da mãe. O bebê idealizado e fantasiado se corporifica, se revelando aos olhos expectantes. Nela, assume-se como primeiro passo o estímulo ao exercício de elaborar e imaginar o feto, de descrevê-lo e, assim, inseri-lo no mundo simbólico da gestante/família. É fomentada a personificação e a representação que a mãe/família faz do ser que está por vir.

O ato de mostrar uma imagem pronta de um bebê à gestante/família, para que ela escolha o que quer que seja desenhado e pintado, como é exercido por algumas profissionais, interfere neste processo. Nesta situação, o resultado da pintura deixa de ser o reflexo do conteúdo imaginário da mulher/família e faz um movimento inverso, do externo para o interno. Incute à mãe/família algo predefinido, estranho a ela e impregnado das influências do mundo exterior.

No que se refere aos materiais utilizados para a execução da arte, defende-se a liberdade artística de cada profissional, desde que os produtos adotados sejam atóxicos e próprios para a aplicação à pele humana. Não se indica o uso de tinta guache.

Recomenda-se o emprego dos seguintes componentes: tintas para pintura facial/artística/corporal (blush líquido, cremoso e/ou pancake); glitter; pincéis de cerdas macias para pintura ou maquiagem, de variados tamanhos (16, 8 e 6, por exemplo); lápis delineador para olhos, nas cores preta e/ou marrom; esponjas para maquiagem; demaquilante (também podem ser usados lenços umedecidos); um copo com água, para a limpeza dos pincéis; spray com água, para o pancake; discos de algodão, para o uso de demaquilante; um sonar Doppler fetal ou um estetoscópio de Pinard, para a ausculta dos batimentos cardiofetais, caso não seja feita a ausculta direta. Se for utilizado o sonar, também será necessário um gel condutor.

A coleta dos dados, durante a produção da tese (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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), iniciou com as gestantes e, só depois, foi efetivada com as enfermeiras e obstetrizes. A primeira autora tomou esta medida para evitar que sua técnica de pintura do ventre sofresse influência daquelas praticadas pelas profissionais participantes do estudo.

A Arte da Pintura do Ventre Materno, desenvolvida na produção da pesquisa, foi registrada, criteriosamente, por fotografias e notas em diário de campo. Os registros feitos embasaram a técnica descrita a seguir.

A Arte da Pintura do Ventre Materno deve ser desenvolvida em cinco passos:

  • Passo 1 – Estímulo à gestante para descrever o bebê imaginário: primeiramente, a(o) profissional de saúde deve perguntar à gestante se ela imagina como é o seu bebê. Se a resposta for positiva, estimula a mãe a descrever o bebê imaginado. Se negativa, suscita a sua imaginação. A família e outras pessoas presentes também podem participar da confecção da arte, mas é importante que a mulher tenha espaço para expressar primeiro o seu conteúdo psíquico, sem interferências externas.

  • Passo 2 – Posicionamento materno e palpação obstétrica (manobra de Leopold Zweifel): a gestante deverá ser posicionada de forma confortável, de acordo com a sua escolha. Se deitada, a colocação de apoios na cabeça, nos ombros e nas costas pode ser uma boa opção. Podem ser utilizadas almofadas e/ou travesseiros, recomendando-se uma elevação de 30º. Se o desenvolvimento da arte se dá em um serviço de saúde, a maca ou a cama podem ter a sua cabeceira elevada. No caso de ser pintada em poltrona, recomenda-se manter uma leve inclinação do tronco para trás. A mulher precisa ter liberdade para movimentar-se e mudar de posição quando desejar e a(o) profissional deve oferecer esta informação antes de começar a técnica. Com as mãos aquecidas, a(o) profissional de saúde pode iniciar a manobra de Leopold Zweifel, realizando os seus três primeiros tempos: situação, posição e apresentação fetal (Figura 2). Nesse momento, ela(ele) pode estimular a gestante/família a tocar as partes do bebê. Além disso, pode desenvolver a educação perinatal, explicando sobre o crescimento e o desenvolvimento do feto, as funções da placenta e do cordão umbilical, o líquido amniótico, as trocas uteroplacentárias, etc. Recomenda-se a aplicação da arte a partir de 24 semanas gestacionais, quando é possível realizar a manobra de Leopold Zweifel e, por consequência, representar o bebê objetivamente.

    Figura 2
    Sequência de fotos mostrando os passos 2 (a. situação; b. posição; c. apresentação) e 3 (d. ausculta dos BCFs) da Arte da Pintura do Ventre Materno, Campinas, São Paulo, Brasil, 2017

  • Passo 3 – Ausculta dos batimentos cardiofetais (Figura 2): depois de constatadas a situação, a posição e a apresentação fetal, procede-se à ausculta dos batimentos cardiofetais (BCFs), que pode ser feita com sonar Doppler fetal, estetoscópio de Pinard ou por meio de ausculta direta. Nesta etapa, algumas gestantes/famílias costumam se emocionar, pois, por meio dos BCFs, o bebê revela a sua existência e se faz ainda mais presente. A(O) profissional pode desenhar um coração no local onde identificou o foco de ausculta máxima, ensinar e estimular a gestante/família a auscultarem diretamente com o ouvido os BCFs, quando desejarem.

  • Passo 4 – Desenho do bebê imaginário descrito pela mãe e de elementos ligados à gestação (Figura 3): à mão livre, a(o) profissional desenha, com o lápis delineador para olhos, os contornos do corpo do bebê descrito, conforme sua situação, posição, apresentação e o seu tamanho aproximado. Traça o cordão umbilical e a placenta e, depois, realiza o contorno das imagens simulando o útero. Podem ser incluídos outros desenhos requeridos pela mãe/família, como, por exemplo, uma moldura ao redor do útero incluindo pétalas de flores, linhas assimétricas, curvas, o nome do bebê, etc.

    Figura 3
    Passo 4 da aplicação da Arte da Pintura do Ventre Materno, Campinas, São Paulo, Brasil, 2017

  • Passo 5 – Pintura dos desenhos (Figura 4): com a tinta própria para pintura corporal, procede-se ao preenchimento dos desenhos com pincéis de variados tamanhos. Se for utilizado pancake, também serão usadas esponjas para maquiagem. Inicia-se pelo corpo do bebê, o útero e o líquido amniótico, depois, pintam-se o cordão umbilical e a placenta e, por último, a moldura, quando solicitada. As cores aplicadas no bebê devem aproximar-se do que foi descrito pela gestante (cor da pele, dos olhos e do cabelo, por exemplo). Quanto ao cordão umbilical e à placenta, recomenda-se aplicar os tons de vermelho e azul, a fim de simular a circulação uteroplacentária real. O líquido amniótico pode ser representado pela cor branca, e a aplicação de glitter no espaço que representa a bolsa amniótica ajuda a dar um efeito de líquido. O pai, parentes e/ou amigos presentes no momento da pintura podem ser convidados a ajudar no preenchimento, caso seja desejo da mãe, sendo uma oportunidade para promover a interação e estabelecer/fortalecer vínculos.

    Figura 4
    Passo 5 da aplicação da Arte da Pintura do Ventre Materno, Campinas, São Paulo, Brasil, 2017

Durante os passos 4 e 5, é importante interagir com a mãe/família, exercendo a escuta qualificada e buscando levantar dados significativos para planejar os cuidados a serem realizados. Também podem ser oferecidas orientações, conforme as necessidades da mulher/família, representando uma oportunidade para a educação em saúde.

Concluída a Arte da Pintura do Ventre Materno (Figura 5), a(o) profissional pode revelá-la à gestante por meio de um espelho e observá-la. Esta é uma excelente ocasião para avaliar os aspectos relacionados à adaptação materna/familiar ao processo gestatório e à experiência subjetiva da vinculação ou de amor entre a mãe e o feto.

Figura 5
Arte da Pintura do Ventre Materno finalizada. Foto do acervo da tese (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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), com autorização do uso da imagem, Campinas, São Paulo, Brasil, 2017

O tempo de permanência da pintura é variável. A gestante pode retirar no banho com água e sabão. O desenho feito com o lápis delineador para olhos sai facilmente com o auxílio de um demaquilante. Verificou-se, na pesquisa, que a maioria das gestantes desejou ficar mais tempo com a arte em seu corpo, algumas permaneceram mais de um dia com ela (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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).

DISCUSSÃO

A concepção do termo “Arte da Pintura do Ventre Materno” se baseou em três perspectivas: linguística, filosófica e especializada. Essas áreas convergem, ao considerar que o termo possui um propósito essencial e, portanto, tem um valor funcional, embora se diferenciem na concepção do mesmo (linguística – unidade de significado; filosofia – unidade de cognição; especialidades – unidade de denominação) e na delimitação de sua função (2323 Cabré MT. La terminología hoy: concepciones, tendências y aplicaciones [Internet]. Ci Inf. 1995 [cited 2018 Jun 18];24(3). Available from: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/567
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).

Para a linguística, o termo é considerado um signo linguístico que integra o componente léxico da gramática do locutor. É uma unidade do léxico gramatical que faz parte da competência do orador, que pode ser geral, quando comum a todos os falantes, ou especializada, quando restrita a grupos. Ele é considerado uma forma de saber e tem a função de significar (2323 Cabré MT. La terminología hoy: concepciones, tendências y aplicaciones [Internet]. Ci Inf. 1995 [cited 2018 Jun 18];24(3). Available from: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/567
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).

Na filosofia, o termo é uma unidade cognitiva que representa o conhecimento especializado. O seu papel é representar, dando uma ideia de organização do mundo especializado ou, pelo ao menos, de como os indivíduos percebem este mundo. É uma maneira de conhecer e representa organizadamente uma realidade especializada (2323 Cabré MT. La terminología hoy: concepciones, tendências y aplicaciones [Internet]. Ci Inf. 1995 [cited 2018 Jun 18];24(3). Available from: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/567
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).

No campo das especialidades, é uma unidade de expressão e comunicação que oportuniza a transferência do pensamento especializado, sendo uma forma de transferir e de comunicar com a função de denominar (2323 Cabré MT. La terminología hoy: concepciones, tendências y aplicaciones [Internet]. Ci Inf. 1995 [cited 2018 Jun 18];24(3). Available from: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/567
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).

Cada uma das perspectivas supracitadas prioriza aspectos distintos do objeto termo. A linguística se concentra na relação nome-significado, priorizando a significação; a filosofia, coisa-significado, focando a cognição e a representação; e as especialidades, coisa-nome, centrando-se na denominação para a transferência (2323 Cabré MT. La terminología hoy: concepciones, tendências y aplicaciones [Internet]. Ci Inf. 1995 [cited 2018 Jun 18];24(3). Available from: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/567
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).

O termo “Arte da Pintura do Ventre Materno” se originou de elementos linguísticos e filosóficos, dentro da especialidade da obstetrícia, sendo eles: unidades de significado presentes nos discursos de gestantes e profissionais de saúde que tomaram contato com este fenômeno; a representação social da vivência desta arte visual para as mães; e o vivido da cientista que aplicou a técnica artística na coleta dos dados, no campo obstétrico. Em sua definição, foram considerados os pontos coincidentes entre os olhares da linguística, da filosofia e das especialidades para teorizar este novo saber.

A apresentação desse termo tem como propósitos: significar a prática de pintar o abdome de gestantes; promover o conhecimento acerca dela, elucidando a sua representação no mundo social; e denominá-la dentro da área da Saúde. Para elaborá-lo, foram considerados o significado e a origem das palavras. A primeira palavra escolhida foi “Arte” (substantivo), originada do latim ars, que significa conhecimento técnico, habilidade adquirida pela prática (2424 Rezende AM, Bianchet SB. Dicionário de latim essencial. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2014.). Está na raiz do verbo “articular”, significando a ação de fazer junturas entre as partes de um todo (11 Bosi A. Reflexões sobre a arte. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática; 2008.).

A arte é um fazer, pois envolve um conjunto de atos pelos quais se transforma os signos da natureza e da cultura. Também é um modo de representação, um caminho para conhecer. Qualquer atividade humana, desde que conduzida regularmente a um fim, pode chamar-se artística (11 Bosi A. Reflexões sobre a arte. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática; 2008.). A Arte da Pintura do Ventre Materno é uma atividade artística que utiliza a estética no cuidado obstétrico para promover experiências subjetivas da vinculação ou de amor entre mãe-feto e promover a saúde materna/familiar.

Pintura (substantivo), Ventre (substantivo) e Materno (adjetivo) se originam das seguintes palavras latinas e seus respectivos significados: pictura – arte de pintar, obra de pintura; venter – abdome, ventre. Dá sentido também a uterus, que denota útero, feto, criança no ventre; e maternus – maternal, de mãe (2424 Rezende AM, Bianchet SB. Dicionário de latim essencial. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2014.-2525 Simões RS, Girão JHRC, Sasso GRS, Silva RF, Alonso LG, Marques SR. Etimologia de termos morfológicos. São Paulo: UNIFESP; 2014.).

O termo apresentado aqui baseia-se em uma perspectiva ampliada em relação a essa arte, pois a entendemos para além da técnica da pintura, da habilidade de fazer um desenho. Ela representa o conteúdo presente no psiquismo materno/familiar, já que envolve a expressão do bebê imaginário, que é a imagem mental do feto, elaborada pela mulher (ou os pais) durante a gestação (2626 Stern DN. A constelação da maternidade: o panorama da psicoterapia pais/bebê. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.). Essa personagem é marcada por fantasias e idealizações (2727 Stern DN, Bruschweiller-Stern N. The birth of a mother. 1st ed. New York: Basic Books; 1999.) que permeiam as primeiras relações entre mãe-filho, e é em relação a ela que o vínculo emocional se desenvolve (2828 Condon JT. The assessment of antenatal emotional attachment: development of a questionnaire instrument. Br J Med Psychol. 1993;66:167-83. doi: 10.1111/j.2044-8341.1993.tb01739.x
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).

Em certa medida, a pintura também representa o que está no imaginário da enfermeira/obstetriz (ou outro profissional de saúde) que, com sua liberdade artística, ultrapassa o limite daquilo que sente com as mãos, por meio da palpação, criando molduras com imagens diversas e aplicando cores que não são características do meio intraútero, mas que expressam a sua forma de produzir a arte e revelam por meio estético a sua personalidade e a de quem é pintada.

Em sua teoria, Wanda Horta (66 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979.) considera que o uso criativo e imaginativo do conhecimento para a melhoria do ser humano encontra expressão na arte da Enfermagem. Sua prática é imaginativa e criativa, estando fundamentada em saberes abstratos, julgamento intelectual e compaixão.

Na Arte da Pintura do Ventre Materno, o subjetivo e o objetivo se entrelaçam para materializar a experiência gestatória e corporificar o ser que está por vir. O ventre se torna a tela que ilustra as fantasias maternas e familiares e que também manifesta, objetivamente, o que está no interior do útero. Ela é, em sua essência, arte, pois transforma o que a natureza e a cultura nos oferecem, exprimindo representações, emoções e sentimentos.

Em uma pesquisa científica (1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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), na qual foram estudadas as enfermeiras e as obstetrizes que aplicam pintura no ventre de gestantes, foi verificada uma diversidade de definições relacionada ao motivo da sua execução e à necessidade de oferecer termos mais compreensíveis às mulheres/famílias que a vivenciam. Dentre eles, destacamos “ultrassom natural”, concebido pela precursora dessa prática, Naolí Vinaver. Nos contrapomos a ele, pelo fato de acreditarmos que a palavra “ultrassom” atribui uma perspectiva medicalizada e tecnologizada à arte de pintar o ventre materno.

Salienta-se que a denominação “ultrassom natural” emergiu em um período histórico caracterizado pela medicalização, sendo escolhido por Naolí com o intuito de competir com o uso abusivo do ultrassom obstétrico, mostrando que com as mãos a obstetriz/parteira também pode revelar à mulher a posição precisa e o tamanho aproximado do bebê (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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,1919 Mata JAL, Shimo AKK. A arte de pintar o ventre materno: história oral de enfermeiras e obstetrizes. Enferm Actual Costa Rica. 2018;35 doi: 10.15517/revenf.v0i35.31555
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). O seu nome foi influenciado pelo momento histórico-social em que foi definido.

A criação do termo “Arte da Pintura do Ventre Materno” também se fundamentou nos paradigmas humanista e holístico (2929 Davis-Floyd R. The technocratic, humanistic, and holistic paradigms of childbirth. Int J Gynecol Obstet. 2001;75:S5-23. doi: 10.1016/S0020-7292(01)00510-0
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). O primeiro reconhece a interconexão entre mente e corpo, focando estratégias de cuidado que influam nestes dois elementos (2929 Davis-Floyd R. The technocratic, humanistic, and holistic paradigms of childbirth. Int J Gynecol Obstet. 2001;75:S5-23. doi: 10.1016/S0020-7292(01)00510-0
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), entendendo que abordar aspectos psíquicos e emocionais repercute na fisiologia e vice-versa. Nele, compreende-se a mulher como sujeito e não como objeto. Por isso, busca-se o estabelecimento de uma relação humana, na qual emerge uma conexão com a pessoa e o conhecimento sobre ela (2929 Davis-Floyd R. The technocratic, humanistic, and holistic paradigms of childbirth. Int J Gynecol Obstet. 2001;75:S5-23. doi: 10.1016/S0020-7292(01)00510-0
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). A interação e a comunicação são ferramentas terapêuticas. Saber ouvir é tão importante quanto saber dizer. Os cuidados são movidos pela empatia e respeito à individualidade (2929 Davis-Floyd R. The technocratic, humanistic, and holistic paradigms of childbirth. Int J Gynecol Obstet. 2001;75:S5-23. doi: 10.1016/S0020-7292(01)00510-0
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).

O segundo paradigma baseia-se na unicidade entre corpo, mente e espírito. Neste, a dedicação aos aspectos psicológicos que influenciam na gestação é considerada útil e parte essencial do cuidado. Abrange-se também o mundo metafísico, tratando o corpo como um sistema energético conectado a outros sistemas de energia. O ser é abordado em sua inteireza, sem fragmentação, e o contexto de vida tem grande significância. O cuidado holístico dá crédito ao saber interior ou intuitivo (percepção não racional) da pessoa, considera informações que surgem da profunda interioridade do sujeito (2929 Davis-Floyd R. The technocratic, humanistic, and holistic paradigms of childbirth. Int J Gynecol Obstet. 2001;75:S5-23. doi: 10.1016/S0020-7292(01)00510-0
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).

A Enfermagem é essencialmente humanista e holística, pois suas teorias (33 Nightingale F. Notes on nursing: What it is and what it is not. New York: D. Appleton and Company; 1860.

4 Peplau HE. Interpersonal relations in nursing: a conceptual frame of reference for psychodynamic nursing. New York: Spring Publishing Company; 1991.

5 George JB. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.
-66 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979.) valorizam as dimensões biológica, psicológica, social, cultural, histórica e espiritual no cuidado aos indivíduos. Nesta profissão, o ser humano é visto como um todo (55 George JB. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.-66 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979.), é um campo de energia que não pode ser fragmentado, reduzido ou abordado de forma unidimensional. Ele possui necessidades básicas multidimensionais que se inter-relacionam (66 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979.) e sua saúde é influenciada por sua individualidade, o ambiente e as coletividades que o rodeiam.

Os pressupostos citados não nortearam somente a definição do termo “Arte da Pintura do Ventre Materno”, mas também o seu conceito e a sua técnica. A conceituação apresentada neste manuscrito abrange o fazer e o propósito dessa arte visual, baseando-se também nos achados da tese que fundamentou este trabalho (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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), a qual registrou a técnica, desvelou a sua representação social e identificou as manifestações emocionais desencadeadas por ela.

Diante do exposto, defende-se que é imprescindível abordar, nesta arte, o conteúdo psíquico materno e, por isso, envolver o relato sobre o bebê imaginário que pode repercutir na experiência do núcleo subjetivo da vinculação ou de amor entre mãe-feto (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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,2121 Mata JAL, Shimo AKK. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Rev Cuid. 2018;9(2):2145-64. doi: 10.15649/cuidarte.v9i2.499
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,2828 Condon JT. The assessment of antenatal emotional attachment: development of a questionnaire instrument. Br J Med Psychol. 1993;66:167-83. doi: 10.1111/j.2044-8341.1993.tb01739.x
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), nas emoções (2020 Mata JAL, Silva MG, Shimo AKK. Emotional expressions manifested by pregnant women in the experience of the art of maternal womb painting. Health Care Women Int 2018;39(11):1275-94. doi: 10.1080/07399332.2018.1488853
https://doi.org/10.1080/07399332.2018.14...
) e nos comportamentos maternos (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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,2121 Mata JAL, Shimo AKK. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Rev Cuid. 2018;9(2):2145-64. doi: 10.15649/cuidarte.v9i2.499
https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i2.4...
).

A representação social da Arte da Pintura do Ventre Materno para gestantes, emergente na pesquisa, elucida que ela significa uma experiência positiva que possibilita imaginar, visualizar, aproximar-se e conectar-se ao bebê (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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,2222 Mata JAL, Shimo AKK. A representação social da arte da pintura do ventre materno para gestantes. Rev Pesqui Qual [Internet]. 2017 [cited 2017 Mar 16];5(8):250-68. Available from: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/113
https://editora.sepq.org.br/index.php/rp...
). Profissionais de saúde da atenção obstétrica podem inseri-la ao seu repertório de cuidados para promover a experiência da vinculação, a educação perinatal e a saúde materna e da família. As enfermeiras e obstetrizes investigadas na tese (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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) mostraram reconhecer, intuitivamente e empiricamente, estas possibilidades.

A Arte da Pintura do Ventre Materno tem enfoque terapêutico. Não se trata somente de pintar a gestante com finalidade artística. O seu modo de fazer integra componentes fisiológicos, psíquicos, culturais, sociais, históricos, valores e crenças; promove expressão, emoções, a experiência subjetiva da vinculação ou de amor entre gestante-feto e a interação/integração gestante-profissional e gestante-família-profissional (1010 Mata JAL. Vivência da Arte da Pintura do Ventre Materno por Profissionais e Gestantes: Histórias, Emoções e Significados [Tese] [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2017 [cited 2018 Jun 18]. Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/332878
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). Trata-se de um recurso de cuidado valioso para aqueles que desejam promover a saúde materna sob as óticas humanista e holística.

Limitação do estudo

As autoras desta pesquisa defendem os paradigmas humanista e holístico, bem como o uso da Arte da Pintura do Ventre Materno como prática terapêutica no cuidado obstétrico, o que ofereceu risco de tendenciamento no estudo. Para amenizar este risco, a produção dos dados foi realizada de forma criteriosa, garantindo o rigor científico. Além disso, os resultados e as inferências foram analisadas e discutidas com mais cinco profissionais de saúde e cientistas (quatro enfermeiras e uma médica), externas à coleta, que contribuíram para manejar esta limitação.

Contribuições para a área da Enfermagem e da Saúde

Esta pesquisa atribui cientificidade à Arte da Pintura do Ventre Materno, inserindo-a no campo especializado da Enfermagem e da Obstetrícia. Estabelece um novo corpo de conhecimentos que pode ampliar e subsidiar a aplicação dessa arte visual no cuidado à saúde materna e a realização de novas pesquisas sobre a temática que possam dar robustez à teoria e prática da Enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inaugura-se, na pesquisa, a abordagem científica da Arte da Pintura do Ventre Materno. O termo e o conceito apresentados podem subsidiar o tratamento desse tema em novas investigações e fomentar a sua inserção no campo especializado da Enfermagem e da Obstetrícia. A descrição detalhada desta arte visual pode orientar enfermeiras, obstetrizes e outros profissionais de saúde quanto à sua forma de aplicação e possibilitar a sua replicação em diferentes cenários de prática e em trabalhos futuros.

Reconhece-se que há limitações quanto ao conhecimento sobre os efeitos que esta técnica pode gerar. Por isso, considera-se que há necessidade de realização de mais investigações para dar maior robustez ao corpo teórico produzido até aqui, incluindo também estudos controlados e de abordagem quantitativa.

Almeja-se que este novo objeto da ciência e da prática obstétrica seja enxergado e tratado sob a ótica que o concebeu, como uma atividade artística, transformadora, com potencial humanizador e holístico, que se contrapõe ao modelo tecnocrático de cuidado à saúde materna, representando uma possibilidade terapêutica para o atendimento no pré-natal e dentro de maternidades. Com este trabalho, espera-se ter ampliado a visibilidade dessa arte visual, para que seja desenvolvida em novos espaços, refletida, discutida e pesquisada.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    Dez 2019

Histórico

  • Recebido
    22 Out 2017
  • Aceito
    08 Jun 2018
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