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A análise documental no estudo de projetos arquitetônicos de um hospital paulistano

RESUMO

Objetivos:

relatar a experiência do uso de projetos arquitetônicos de um hospital para uma pesquisa histórico-documental.

Métodos:

relato de experiência do percurso metodológico do uso de projetos arquitetônicos de 1974 a 2002 de um hospital modelar.

Resultados:

após planilhados, os projetos de interesse foram selecionados, criando um arranjo de dados em que foi aplicada a ficha analítica contendo: contexto; autoria; autenticidade/confiabilidade; natureza do texto e análise preliminar. Os achados foram agrupados por pertinência e similaridade, resultando na construção de categorias de análise.

Considerações Finais:

o projeto arquitetônico é uma fonte desafiadora, tanto em sua busca, visto que foram necessários dois anos e meio até que fossem licenciados legalmente, como por envolver terminologias específicas e simbologias próprias. Deve-se ter atenção aos critérios de seleção, à organização e à análise do documento, e compartilhar o manejo de fontes incomuns na área da saúde, como esta, a fim de favorecer o desenvolvimento da pesquisa.

Descritores:
História da Enfermagem; Documentos; Arquitetura Hospitalar; Projeto Arquitetônico Baseado em Evidências; Historiografia

ABSTRACT

Objectives:

to report the experience of using architectural designs of a hospital for a historical documentary research.

Methods:

report of the experience of the methodological route of using architectural designs of a model hospital from 1974 to 2002.

Results:

after being spread on a worksheet, the projects of interest were selected, enabling the data arrangement, where the analytical chart was applied, containing: context; authorship; authenticity/ reliability; nature of the text and preliminary analysis. The findings were grouped by pertinence and similarity, resulting in the construction of categories of analysis.

Final Considerations:

architectural design is a challenging source, both for its pursuit, since it took two and a half years until it was legally licensed, as well as for involving specific terminologies and symbology of its own. A special attention should be given to the selection criteria, organization and analysis of the document, and sharing the access of unusual sources with the health area, like this one, so as to stimulate the development of research.

Descriptors:
Nursing History; Documents; Hospital Architecture; Evidence-Based Architectural Design; Historiography

RESUMEN

Objetivos:

informar la experiencia del uso de proyectos arquitectónicos de un hospital, en una investigación histórica y documental.

Métodos:

reporte de experiencia del recorrido metodológico del uso de proyectos arquitectónicos de 1974 a 2002 de un hospital modelar.

Resultados:

después de insertar los proyectos en planillas, se seleccionaron los proyectos de interés, creando un arreglo de datos en que se aplicó la ficha analítica que contenía: contexto; autoría; autenticidad/fiabilidad; naturaleza del texto y análisis preliminar. Los hallazgos fueron agrupados por pertinencia y semejanza, resultando en la construcción de categorías de análisis.

Consideraciones Finales:

el proyecto arquitectónico es una fuente desafiante, tanto para su búsqueda, ya que fueron necesarios dos años y medio hasta que recibieron la licencia legal, como por involucrar terminologías específicas y simbologías propias. Se debe prestar atención a los criterios de selección, organización y análisis del documento y compartir el manejo de fuentes inusuales en el área de la salud, como ésta, a fin de favorecer el desarrollo de la investigación.

Descriptores:
Historia de la Enfermería; Documentos; Arquitectura y Construcción de Hospitales; Diseño de Instalaciones Basado en Evidencias; Historiografía

INTRODUÇÃO

A pesquisa histórica se presta a interpretar o passado e subsidia a compreensão do presente, mas, para que isso seja possível, os documentos usados como fonte precisam ser bem organizados, interpretados e analisados, sob o prisma dos objetivos da investigação proposta. Portanto, o percurso específico desta pesquisa terá como pano de fundo o tratamento metodológico de documentos destacados.

A análise documental, uma das técnicas empregadas na investigação histórica, percorre etapas que têm, como propósito, estudar e compreender documentos de forma a relacioná-los com circunstâncias sociais, políticas e econômicas que envolveram determinado fato. O documento é o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, das sociedades que o produziram e também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver. Documentos são vestígios do passado, passíveis de análise histórica que, decifrados, podem transformar-se em uma fonte histórica. Documentos devem ser considerados estruturas vivas e redes de ação quando aproximados de seus contextos histórico, social, político e econômico(11 Le Goff J. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp; 2016.-22 Flick U. A redação e o futuro da pesquisa qualitativa: arte ou método? In: Introdução à pesquisa qualitativa. 3¬a ed. Porto Alegre: Artmed; 2009.).

Dentre os tipos de documentos que se prestam a essas interpretações, destacam-se, neste estudo, os projetos arquitetônicos de um hospital modelo referência elaborados durante o período de 1974 a 2002(33 Pastro C. Hospital Santa Catarina: 1906-2006. São Paulo: Grafa; 2006.), quando ocorreram transformações nas normas para construção e reforma de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS), que foram aplicadas na modificação do edifício hospitalar em foco.

O projeto de arquitetura é definido como uma fonte de pesquisa capaz de informar e problematizar questões disciplinares e outras relativas à sociedade, à economia, à política, aos tipos de investimento imobiliário, à cultura e à técnica de um determinado período(11 Le Goff J. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp; 2016.-22 Flick U. A redação e o futuro da pesquisa qualitativa: arte ou método? In: Introdução à pesquisa qualitativa. 3¬a ed. Porto Alegre: Artmed; 2009.,44 Silva JMC. Um acervo, uma coleção e três problemas: a Coleção Jacques Pilon da Biblioteca da FAUUSP. An Mus Paul. 2016;24(3):45-70. doi: 10.1590/1982-02672016v24n0302
https://doi.org/10.1590/1982-02672016v24...
).

A relação dialética entre os documentos, tais como projetos arquitetônicos, e a problemática histórica pode favorecer a construção de análises, assim como o entrelaçamento entre a história da arquitetura com as histórias social, política, econômica, cultural e relativas a outras áreas do conhecimento. Assim, analisando a produção arquitetônica sob vários prismas, pode-se construir uma leitura histórica complexa e potente, e lançar novas hipóteses, iluminando velhas fontes de pesquisa e contribuindo para outras interpretações de determinada época(44 Silva JMC. Um acervo, uma coleção e três problemas: a Coleção Jacques Pilon da Biblioteca da FAUUSP. An Mus Paul. 2016;24(3):45-70. doi: 10.1590/1982-02672016v24n0302
https://doi.org/10.1590/1982-02672016v24...
).

A arquitetura enquanto atividade é um campo multidisciplinar que inclui, em sua base, a matemática, as ciências da natureza, as artes, a tecnologia, as ciências sociais, a política, a história e a filosofia, entre outros. Embora tenha linguagem própria e complexa, a arquitetura de EAS teve contribuições expressivas de enfermeiros(55 Nightingale F. Notes on hospitals. 3rd ed. London: Savill & Edwards; 2010.).

A enfermeira Florence Nightingale, no livro Notas sobre hospitais, a partir de suas observações sobre o sistema pavilhonar, estabeleceu as bases e dimensões do que ficou posteriormente conhecido como “enfermaria Nightingale”. Ela utilizou projetos arquitetônicos da época para compor diretrizes para construir e reformar hospitais ingleses do século XIX, e esse trabalho foi fundamental para diminuir consideravelmente os índices de morbidade e mortalidade da época. Ainda hoje algumas de suas prescrições são essenciais para a construção e reforma de EAS(55 Nightingale F. Notes on hospitals. 3rd ed. London: Savill & Edwards; 2010.

6 Miquelin LC. Anatomia dos edifícios hospitalares. São Paulo: CEDAS; 1992.
-77 Draganov PB, Sanna MC. Architectural drawings from hospitals described in Florence Nightingale's "Notes on hospitals" book. Hist Enferm Rev Eletrônica [Internet]. 2017 [cited 2018 Jun 10];8(2):94-105. Available from: http://here.abennacional.org.br/here/v8/n2/a04.pdf
http://here.abennacional.org.br/here/v8/...
).

A história de normas para construir e reformar EAS no Brasil também contou com a relevante contribuição de enfermeiros, que participaram ativamente das transformações desses espaços. Além disso, o planejamento, a programação, a elaboração e a avaliação de projetos arquitetônicos de EAS são primordiais para a prestação de assistência de saúde de qualidade, visto que a arquitetura, desde o século XVIII, é reconhecida como um elemento terapêutico(88 Foucault M. Microfísica do poder. 17ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 2012.).

O manejo de projetos arquitetônicos de EAS está incluso no processo de trabalho “Administrar em Enfermagem - a gestão de recursos físicos”. Nessa área, a atuação competente e responsável do enfermeiro requer conhecimento técnico e científico, habilidades e atitudes nas áreas de arquitetura, projeto, decoração, legislação e denominação dos compartimentos, entre outros. Assim, a leitura de desenhos arquitetônicos é uma das habilidades que o enfermeiro deve desenvolver no exercício de sua profissão(99 Sanna MC. The structure of knowledge in Nursing Administration. Rev Bras Enferm. 2007;60(3):336-8. doi: 10.1590/S0034-71672007000300017
https://doi.org/10.1590/S0034-7167200700...
).

Um artigo denominado “Recursos físicos hospitalares no Brasil: um estudo bibliométrico”, publicado na Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, em 2016, foi desenvolvido para identificar e descrever a produção científica brasileira em teses e dissertações, nos repositórios da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia (IBICT), sobre recursos físicos em ambientes hospitalares. O artigo comprova a intersecção vigorosa da arquitetura com as ciências da saúde e conclui que estudos sobre essa temática, desenvolvidos por enfermeiros, são escassos e que o uso de projetos arquitetônicos em pesquisas sobre história da enfermagem não foram localizados(1010 Draganov PB, Vieira RQ, Sanna MC. Recursos físicos em ambientes hospitalares no Brasil: um estudo bibliométrico. Rev Bras Bibliotecon Documen [Internet]. 2016 [cited 2018 July 11];12(1):89-109. Available from: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/424/489
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/v...
).

Trabalhar com projetos arquitetônicos não é exercício fácil, pois trata-se de linguagem específica, própria de determinada área - a arquitetura. Divulgar o arcabouço metodológico de um estudo com essa matéria-prima parece bastante oportuno, pois poderá contribuir com outras pesquisas nessa área e/ou com esse tipo de material. Além disso, o método elucida a capacidade de observar, selecionar e organizar cientificamente os caminhos que devem ser percorridos para que determinado estudo se concretize, contribuindo para que o pesquisador possa vislumbrar novos horizontes, como se pretende que este texto possa ser utilizado.

OBJETIVOS

Relatar a experiência do uso de projetos arquitetônicos de um hospital para uma pesquisa histórico-documental, com vistas ao compartilhamento da experiência com outros pesquisadores que também pretendam usar projetos arquitetônicos de hospitais em pesquisas de análise documental.

MÉTODOS

Trata-se de um relato de experiência sobre a análise documental de projetos arquitetônicos de um hospital modelar, parte da tese de doutorado intitulada Evidências de poder da Enfermagem expressas em projetos arquitetônicos de um hospital paulistano modelo referência: 1974-2002, cujo recorte temporal teve 1974 como marco inicial, o ano de elaboração da primeira publicação oficial Normas de construção e instalação do Hospital Geral, e final em 2002, com a última versão publicada da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 50/2002.

Respeitando-se os padrões éticos em pesquisa, o projeto desta investigação foi submetido a análise do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atendendo à norma da instituição, em consonância com a Resolução MS nº 112/2012. O projeto foi aprovado em 16 de outubro de 2015. O contrato de licença de uso de imagem (projetos arquitetônicos) foi aprovado e assinado pelo hospital modelo-referência em foco, em 7 de dezembro de 2016. Não se utilizou Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), pois trata-se de pesquisa com documentos.

As fontes que poderiam tornar esta pesquisa viável foram listadas após extensas discussões e estudos. Como produto desse processo, acordou-se que a documentação histórica que representasse as transformações físicas ocorridas em EAS formalizadas pelas normas de âmbito federal que antecederam a RDC nº 50/2012 e ela própria, além dos documentos que tratassem das transformações físicas ocorridas no hospital modelo referência em estudo, seriam úteis ao propósito da pesquisa e, a partir disso, a coleta de documentos começou a se processar.

Para este artigo, interessa relatar como se deu a coleta, organização e tratamento dos projetos arquitetônicos do hospital modelo referência. O manejo dos projetos arquitetônicos será descrito a seguir.

Trajetória do uso de projetos arquitetônicos na pesquisa em história da enfermagem

Os projetos arquitetônicos de um hospital modelo referência elaborados durante o período de 1974 a 2002, quando ocorreram transformações nas normas para a construção e reforma de EAS, foram selecionados para compor o rol de documentos que, tratados metodologicamente, deram subsídios para responder a tese de uma pesquisa histórica que se fundamentou nesse percurso metodológico.

Nessa perspectiva, foi importante contextualizar a escolha do hospital modelar. Assim, o hospital selecionado para estudo teve, em sua história, a intersecção com os processos transicionais da arquitetura hospitalar de pavilhonar para vertical, é uma instituição centenária que atravessou todo o período de transformação das normas para reforma e construção de EAS. O hospital apresenta, também, transformações estruturais interessantes e profundas, incluindo perfil de atendimento, modelo de assistência, estrutura organizacional, arquitetura, entre outras, justificando, assim, que se trata de um modelo referência que permitirá vislumbrar as relações entre a norma e sua interpretação prática, ou seja, por meio dessa fonte histórica será possível produzir a discussão em campo real e, assim, como de fato essa interpretação aconteceu.

O hospital centenário modelo referência localiza-se no município de São Paulo e iniciou sua história em 1903, em um imóvel alugado na rua Brigadeiro Luiz Antônio. Em 10 de novembro de 1904, a sua mantenedora efetuou a compra do terreno com área total de 15.783 m² e 75 m², situado na nascente da avenida Paulista e contratou, como protagonista do projeto, o engenheiro Maximilian Hehl, também autor do projeto da Catedral da Sé. Mudanças e ampliações se sucederam na história dessa instituição, que viria a ter seis edificações interligadas denominadas blocos, que seriam nomeadas por letras do alfabeto: A, B, C, D, E e F. O bloco C foi construído em 1934, o bloco B em 1949, o bloco E em 1954, o bloco D em 1963, o bloco A em 1977 e o bloco F em 2002. Nesse ano, o hospital comportava 350 leitos, 11 salas cirúrgicas, nove leitos de terapia intensiva, cinco salas de parto e um berçário para 100 leitos(33 Pastro C. Hospital Santa Catarina: 1906-2006. São Paulo: Grafa; 2006.).

O hospital modelo referência agregou construções ao longo dos anos, adequou suas construções a cada norma de construção e reforma de EAS, que foi promulgada durante o período estudado, e guardou todo o acervo dessas transformações, ou seja, os projetos arquitetônicos.

O elenco de normas sobre reforma e construção de EAS constituiu a primeira etapa de coleta de dados da tese de doutorado referida no texto do método. A trajetória para localização, levantamento, certificação e aprovação legal para uso dos projetos arquitetônicos durou cerca de dois anos e meio.

A busca dos desenhos arquitetônicos deu-se por meio de contato telefônico com a instituição eleita e visita ao seu museu histórico, mas os documentos desejados não foram localizados nessa ocasião. No dia 17 de agosto de 2014, a documentação, contendo o projeto de pesquisa e a carta explicando detalhes sobre o estudo que viria a ser efetuado foi enviada para a instituição para avaliação do seu Comitê de Ética. O processo de solicitação dos documentos foi transferido para outras instâncias e somente em abril de 2015 deu-se autorização verbal para acesso físico a todos os desenhos arquitetônicos da instituição, a saber, cópias digitalizadas de plantas baixas, cortes, fachadas, implantação e detalhes de projetos de arquitetura. Em 4 de maio de 2015, os arquivos eletrônicos referentes aos projetos foram cedidos pelo setor de Engenharia e Projetos, na ocasião, 1.407 desenhos datados de 1906 a 2015.

Em setembro de 2016, quando os projetos que seriam utilizados nessa pesquisa foram finalmente selecionados e reunidos, foi solicitada assinatura de documento de licença para uso de imagens e, nessa ocasião, a instituição recusou ceder a licença legal. Alguns meses de negociação foram necessários, e então, em 7 de dezembro de 2016. finalmente o contrato de licença para uso de imagens foi assinado. A partir desse momento, a pesquisa foi continuada surgindo outro grande desafio, o da organização desses documentos.

Na primeira etapa, os desenhos foram então planilhados, organizados por localização, bloco, descrição, número da folha, data e tubo (local onde estava guardado o projeto físico). Assim, os desenhos de interesse para a tese foram selecionados, utilizando-se o processo de seleção do programa Microsoft Excel, criando um novo arranjo de dados, utilizando-se um número de série para cada documento. Foram selecionados, para isso, apenas os documentos datados de 1974 a 2002, referentes a projetos de arquitetura de alas e unidades hospitalares em que os cuidados eram prestados por profissionais de saúde a pacientes que frequentavam esse serviço. Também foram considerados todos os projetos de alas administrativas em que profissionais de saúde desempenhavam atividades de coordenação dos serviços de saúde. Dessa forma, o que norteou esse critério de inclusão dos setores com profissionais de saúde e exclusão das demais instalações foi justamente por envolver áreas em que profissionais da área da saúde circulavam exercendo suas funções laborais, interagindo entre si e com os clientes/pacientes.

Assim, na segunda etapa, restaram 14 projetos arquitetônicos, que foram utilizados como fonte histórica para a confecção de tese de doutorado.

A planilha foi desenvolvida contendo dados significativos para o estudo dos projetos arquitetônicos, ou seja, as variáveis: localização do projeto arquitetônico na planta física na instituição, a descrição quanto ao tipo de projeto, o ano de confecção do projeto arquitetônico e o link para o desenho, que está em formato de arquivo “.jpeg”. Como trata-se de programa Excel, é possível selecionar os desenhos e informações utilizando qualquer uma das variáveis acima citadas. A planilha contém 18 kilobytes.

A partir dessa organização dos dados, a terceira etapa envolveu a leitura compreensiva desses documentos com a elaboração de fichas analíticas contendo: dados relativos ao contexto no qual foi produzido o documento, ou seja, o universo social, político e econômico do autor e daqueles a quem foi destinado, na época em que o documento foi produzido; autoria, ou seja, os interesses (confessos, ou não) do documento, suas razões e as daqueles a quem eles se dirigem; a autenticidade e a confiabilidade do documento, ou seja, assegurar-se da qualidade da informação transmitida por meio dos dados contidos no carimbo, que é o espaço destinado à identificação da empresa e do responsável pelo projeto, identificação do cliente e do projeto, título do desenho, escalas, data, entre outras; a natureza do texto e, finalmente, a análise preliminar do documento, envolvendo dados referente a: denominação do espaço, metragens, posição do compartimento, fluxos (acessos e localização), condições de salubridade, instalações e compartimentos privativos. A ficha analítica, elaborada conforme sequência e formato descritos anteriormente, pode ser apreciada na Figura 1.

Figura 1
Ficha analítica de projetos arquitetônicos do hospital modelo referência

A leitura minuciosa de cada documento, ou seja, de cada projeto arquitetônico, foi facilitada a partir do esquadrinhamento dos desenhos em “áreas de análise”, denominadas: projeto arquitetônico, detalhes dos compartimentos e carimbo, como pode ser apreciado na Figura 2. Assim, gradativamente, os dados relevantes de cada projeto foram extraídos e sistematicamente organizados para compor os resultados da tese que deu origem a esse percurso metodológico.

Figura 2
Exemplo de padrão de informações a serem colhidas nos projetos arquitetônicos do hospital modelo referência.

À medida que as fichas eram confeccionadas, eram também agrupadas por pertinência e similaridade, na quarta etapa, resultando na construção de categorias de análise para apresentação dos resultados. Os achados serão, então, descritos e interpretados à luz da literatura científica encontrada sobre o tema.

Ao término do trabalho com essa fonte, cada ficha catalográfica foi conectada ao respectivo projeto arquitetônico, identificado por codificação específica, como já explicado, permitindo que o conjunto de dados fosse armazenado em arquivo eletrônico devidamente identificado, consolidando-se como acervo pessoal da pesquisadora principal, a fim de ser empregado em estudos futuros.

CONCLUSÕES

A pesquisa histórica-documental é um recurso precioso para a interpretação de um determinado contexto histórico, mas requer habilidade e cuidado com o manejo da fonte histórica. O documento deve ser criteriosamente selecionado, organizado e analisado, para que ocorra o sucesso da pesquisa.

Neste estudo, utilizou-se projetos arquitetônicos cedidos legalmente por meio de um termo licença de uso de imagem por um hospital modelo referência, que atendia aos critérios para participar do estudo.

Esse documento de licença de uso de imagem incluía a sessão dos projetos arquitetônicos da referida instituição, datados de 1974 a 2002, para uso em pesquisas.

Os documentos coletados foram organizados em planilha e os projetos digitalizados e organizados alfanumericamente, permitindo a seleção de documentos de interesse para esse estudo contemplando os critérios da atual pesquisa quanto ao recorte temporal e espaços de interesse. A fase analítica das fontes históricas foi facilitada pelo desenvolvimento de instrumento que subsidiou a construção de categorias de resultados.

Como limitações, o estudo em curso não teria como contemplar todas as possibilidades de uso de projetos arquitetônicos em estudos históricos na área de enfermagem, mas é uma experiência que pode ser replicada e receber contribuições ou dar embasamento para outros pesquisadores que trabalham ou pretendem trabalhar com fontes similares, sendo essa a contribuição para a área.

  • FOMENTO
    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

REFERENCES

  • 1
    Le Goff J. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp; 2016.
  • 2
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  • 3
    Pastro C. Hospital Santa Catarina: 1906-2006. São Paulo: Grafa; 2006.
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    Silva JMC. Um acervo, uma coleção e três problemas: a Coleção Jacques Pilon da Biblioteca da FAUUSP. An Mus Paul. 2016;24(3):45-70. doi: 10.1590/1982-02672016v24n0302
    » https://doi.org/10.1590/1982-02672016v24n0302
  • 5
    Nightingale F. Notes on hospitals. 3rd ed. London: Savill & Edwards; 2010.
  • 6
    Miquelin LC. Anatomia dos edifícios hospitalares. São Paulo: CEDAS; 1992.
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    » http://here.abennacional.org.br/here/v8/n2/a04.pdf
  • 8
    Foucault M. Microfísica do poder. 17ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 2012.
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  • 10
    Draganov PB, Vieira RQ, Sanna MC. Recursos físicos em ambientes hospitalares no Brasil: um estudo bibliométrico. Rev Bras Bibliotecon Documen [Internet]. 2016 [cited 2018 July 11];12(1):89-109. Available from: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/424/489
    » https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/424/489
  • 11
    Cellard A. A análise documental. In: Poupart J, Deslauriers JP, Groulx LH, Laperrière A, Mayer R, Pires A, organizadores. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e me-todológicos. Petrópolis: Vozes; 2008. p. 295-316.

Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Rafael Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2019
  • Aceito
    24 Maio 2019
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