Acessibilidade / Reportar erro

O cuidado empreendedor de enfermagem em contextos de iniquidades sociais

RESUMO

Objetivos:

identificar estratégias emancipadoras para fortalecer o protagonismo social de colecionadores de materiais recicláveis à luz do cuidado empreendedor de Enfermagem.

Métodos:

estudo qualitativo realizado em duas etapas: aproximação de campo em uma Associação de Materiais Recicláveis, a partir de intervenções de cuidado; e, na segunda, a realização de entrevistas individuais entre os meses de outubro e dezembro de 2018.

Resultados:

a análise resultou em três categorias temáticas: Contribuição social do colecionador de materiais recicláveis; Da percepção assistencialista ao cuidado empreendedor de Enfermagem; Estratégias emancipadoras do trabalho de reciclagem.

Considerações Finais:

as estratégias emancipadoras para fortalecer o protagonismo social de colecionadores de materiais recicláveis à luz do cuidado empreendedor de Enfermagem estão relacionadas com a valorização, o reconhecimento e a potencialização do trabalho social que já vem sendo realizado por estes profissionais, e com a criação de espaços para a socialização de vivências, expectativas e perspectivas futuras.

Descritores:
Iniquidade Social; Aproveitamento de Resíduos Sólidos; Educação em Saúde; Cuidados de Enfermagem; Pesquisa em Enfermagem

ABSTRACT

Objectives:

to identify emancipatory strategies to strengthen the social protagonism of recyclable materials collectors in the light of entrepreneurial Nursing care.

Methods:

qualitative study carried out in two stages: field approach from healthcare interventions in a Recycling Materials Association, and individual interviews conducted between October and December 2018.

Results:

the analysis resulted in three thematic categories: Social contribution of recyclable materials collectors; From the assistentialist perception to entrepreneurial Nursing care; Emancipatory strategies of recycling work.

Final Considerations:

the emancipatory strategies to strengthen the social protagonism of recyclable materials collectors in the light of entrepreneurial Nursing care are related to the appreciation, recognition and enhancement of social work that has been already performed by these professionals, and to the creation of spaces for the socialization of experiences, expectations and perspectives.

Descriptors:
Social Inequity; Solid Waste Use; Health Education; Nursing care; Nursing Research

RESUMEN

Objetivos:

identificar estrategias emancipadoras para el fortalecimiento del protagonismo social de recolectores de materiales reciclables, a la luz del cuidado emprendedor de Enfermería.

Métodos:

estudio cualitativo realizado en dos etapas: aproximación de campo en una Asociación de Materiales Reciclables, a partir de intervenciones de cuidado y, en la segunda, la realización de entrevistas individuales, entre los meses de octubre y diciembre de 2018.

Resultados:

el análisis ha resultado en tres categorías temáticas: Contribución social del recolector de materiales reciclables; De la percepción asistencialista al cuidado emprendedor de Enfermería; Estrategias emancipadoras del trabajo de reciclaje.

Consideraciones Finales:

las estrategias emancipadoras para fortalecer el protagonismo social de recolectores de materiales reciclables, a la luz del cuidado emprendedor de Enfermería, están relacionadas con la valorización, el reconocimiento y la potenciación del trabajo social que ya vienen siendo realizados por estos profesionales, y con la creación de espacios para la socialización de vivencias, expectativas y perspectivas futuras.

Descriptores:
Iniquidad Social; Uso de Residuos Sólidos; Educación en Salud; Atención de Enfermería; Investigación en Enfermería

INTRODUÇÃO

Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, conforme prioridades da Agenda 2030, requer impulso colaborativo pela integração da dimensão econômica, social e ambiental, além de uma compreensão sistêmica e de interdependência entre os diferentes segmentos da sociedade que dinamizam o processo de viver saudável. Apesar do progresso econômico e da melhoria dos indicadores de saúde, as doenças crônicas e aquelas resultantes dos determinantes e condicionantes sociais, continuam figurando entre os principais desafios para a ciência de Enfermagem/Saúde, sobretudo, em contextos de iniquidades sociais. Estudos demostram que as perdas econômicas para os países de renda média e baixa provenientes destas doenças ultrapassarão US$ 7 trilhões até o ano de 2025(11 Panoramas setoriais 2030: desafios e oportunidades para o Brasil. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; 2017. Available from: http://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/14214-22 Ramos C. Desenvolvimento econômico sustentável: tendências e desafios na promoção dos empregos verdes no Brasil. Textos Debates [Internet]. 2016 [cited 2019 Jan 03];2(30):23-38. doi: 10.18227/2217-1448ted.v2i30.3417
https://doi.org/10.18227/2217-1448ted.v2...
).

Dentre os grupos socialmente vulneráveis, destacam-se os trabalhadores que atuam em Associações de Materiais Recicláveis. Na maioria das vezes, esses profissionais operam em condições insalubres e expostos a riscos de toda natureza, tais como químicos, biológicos, ambientais e outros, e convivem com iniquidades e a desvalorização social. Tais fatores têm influenciado diretamente no viver saudável, compreendido como processo singular, circular e interativo, dinamizado por meio de vivências de ordem e desordem, em busca de uma contínua auto-organização individual, familiar e social(33 Backes DS, Zamberlan C, Colomé J, Souza MT, Marchiori MT, Lorenzini EA, et al. Interatividade sistémica entre os conceitos interdependentes de cuidado de enfermagem. Aquichan [Internet]. 2016a [cited 2019 Jan 04];16(1):24-31. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/v16n1a04.pdf
http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/...
).

Nessa perspectiva, o empreendedorismo social pode ser apreendido como ferramenta indutora de novos saberes e práticas solidárias e colaborativas. Para estudiosos da área, o empreendedorismo induz a processos que interligam diferentes agentes e seguimentos sociais, tendo em vista que as inovações e transformações em âmbito local resultam de redes interativas e associativas, em que as necessidades dos indivíduos e das comunidades são assumidas colaborativamente(44 Lisetchi M, Brancu L. The entrepreneurship concept as a subject of social innovation. Procedia: Social and Behavioral Sciences [Internet]. 2014 [cited 2019 Jan 03];124(6):87-92. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042814020114
https://www.sciencedirect.com/science/ar...
-55 Heinze KL, Banaszak-Holl J, Babiak K. Social entrepreneurship in communities. Nonprofit Manag Leadersh [Internet]. 2016 [cited 2019 Jan 05];26(7):313-30. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/nml.21198
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full...
).

Na área de enfermagem, a visão empreendedora assumiu características tanto comerciais quanto sociais, associadas à (re)criação de algo para gerar benefícios de mercado. Também está associada à capacidade de gerar processos e associações criativas com o objetivo de emancipar indivíduos, famílias e comunidades. Nessa direção, o cuidado empreendedor de enfermagem, pode/deve ser considerado fenômeno complexo, sistematizado por meio das múltiplas relações, interações e associações sistêmicas, com vistas a promover o viver saudável de forma integral e articulado com os demais setores da sociedade(33 Backes DS, Zamberlan C, Colomé J, Souza MT, Marchiori MT, Lorenzini EA, et al. Interatividade sistémica entre os conceitos interdependentes de cuidado de enfermagem. Aquichan [Internet]. 2016a [cited 2019 Jan 04];16(1):24-31. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/v16n1a04.pdf
http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/...
,66 Backes DS, Ilha S, Weissheimer AS, Halberstadt BMK, Megier ER, Machado R. Atividades socialmente empreendedoras na enfermagem: Contribuições à saúde/viver saudável. Esc Anna Nery [Internet]. 2016[cited 2019 Jan 06];20(1):77-82. doi: 10.5935/1414-8145.20160011
https://doi.org/10.5935/1414-8145.201600...
).

Na perspectiva do empreendedorismo social, a (re)significação do cuidado de Enfermagem é temática recorrente em debates que norteiam o Sistema Único de Saúde (SUS), as diretrizes curriculares de formação profissional do Enfermeiro e em políticas institucionais, onde é reforçado o estímulo ao protagonismo e à corresponsabilidade social. A percepção de que pelo cuidado empreendedor, o Enfermeiro pode contribuir para o desenvolvimento social sustentável, relacionado com a ampliação das oportunidades e possibilidades reais de indivíduos, famílias e comunidades, constitui-se não mais um desafio, mas um apelo prospectivo para o avanço da ciência de enfermagem. O Enfermeiro assume um papel proativo na identificação das necessidades de cuidado da população, e na promoção e proteção da saúde dos indivíduos em suas diferentes dimensões(77 Altman M, Brinker D. Nursing social entrepreneurship leads to positive change. Nursing Management [Internet]. 2016 [cited 2018 Dec 08];47(7):28-32. Available from: https://journals.lww.com/nursingmanagement/fulltext/2016/07000/Nursing_social_entrepreneurship_leads_to_positive.9.aspx
https://journals.lww.com/nursingmanageme...
-88 Lomba MLLF, Toson M, Weissheimer AS, Backes TSB, Büscher A, Backes DS. Social entrepreneurship: translation of knowledge and practices in Brazilian nursing students. Revista de Enfermagem Referência [Internet]. 2018 [cited 2019 Jan 07];4(19):107-16 Available: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=2996&id_revista=24&id_edicao=152
https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module...
).

Ainda há muito a ser investigado no campo do empreendedorismo social, principalmente ao associá-lo com a erradicação da pobreza, a redução das inequidades sociais e promoção da vida saudável, desafios que transcendem a área da saúde e merecem prioridade nas agendas investigativas das diversas áreas do conhecimento. Assim, questiona-se: Como promover o protagonismo e a emancipação social de integrantes de uma Associação de Materiais Recicláveis à luz do cuidado empreendedor de Enfermagem?

OBJETIVOS

Identificar estratégias emancipadoras para fortalecer o protagonismo social de colecionadores de materiais recicláveis à luz do cuidado empreendedor de Enfermagem.

MÉTODOS

Aspectos éticos

As recomendações da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012 foram seguidas e o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o nº 1.641.967. Para manter anonimato, as falas dos participantes foram identificadas com a letra “P” (Participante), seguida por um algarismo arábico correspondente à ordem das falas: P1, P2... (22).

Tipo de estudo

Estudo descritivo, exploratório e qualitativo. O empreendedorismo social foi utilizado como referencial teórico e a análise de conteúdo temática como técnica de análise dos dados de pesquisa.

Procedimento metodológico

O processo de investigação se deu em duas etapas. Inicialmente, foi realizada uma aproximação de campo em uma Associação de Materiais Recicláveis a partir de intervenções de cuidado, dentre as quais se destacam as oficinas de educação em saúde com temáticas sugeridas pelos trabalhadores, rodas de conversa, confraternizações em datas especiais, o dia do voluntariado na Associação, dentre outras intervenções de ensino e pesquisa dinamizadas de forma criativa e com participação ativa dos trabalhadores. Nessa etapa, as pesquisadoras buscaram reconhecer o contexto e as condições de trabalho, as relações e interações entre os integrantes e o seu entorno social.

Na sequência, a segunda etapa, as pesquisadoras já estavam familiarizadas com o cenário e realizaram entrevistas individuais com os 22 trabalhadores da Associação de Materiais Recicláveis em dias e horários previamente acordados com os participantes.

Cenário do estudo

O estudo foi realizado em uma Associação de Materiais Recicláveis localizada na região central do Rio Grande do Sul. Essa Associação existe desde o ano de 2009 e oportuniza trabalho e renda para cerca de 30 famílias que dependem desta fonte de renda, embora no local, trabalhem apenas 22 pessoas. A média de filhos por família varia entre quatro e oito. A rotina diária de trabalho é de oito horas e a receita mensal de cada colecionador varia entre 400 e 600 reais, acrescida de doações voluntárias.

Coleta e organização dos dados

Os dados de pesquisa foram coletados entre outubro e dezembro de 2018 por meio de entrevistas realizadas após o reconhecimento do cenário e as intervenções de cuidado. Os critérios de inclusão dos participantes foram: estar ativo no trabalho no período da coleta de dados e ter participado de pelo menos 80% das atividades de intervenção previamente realizadas. Os critérios de exclusão foram: menores de 18 anos e aqueles que, por algum motivo, não desejassem participar do trabalho. As entrevistas foram realizadas com os 22 colecionadores baseadas nas seguintes questões norteadoras: Qual a contribuição de seu trabalho para a sociedade? Caso pudesse, o que faria diferente em seu trabalho? Quais atividades de cuidado de Enfermagem/Saúde você considera importantes para qualificar o seu trabalho na Associação?

Análise dos dados

As entrevistas, complementadas pelas observações no decorrer das intervenções de cuidado, foram transcritas, organizadas e o material foi submetido à análise de conteúdo temática. O objetivo foi descobrir os núcleos de sentido que formaram a comunicação e cuja presença ou frequência acrescentou perspectivas significativas ao objeto de estudo. Na sequência, vieram as três seguintes etapas preconizadas por esta técnica: pré-análise, com leitura exaustiva dos dados, seguida da organização do material e formulação de hipóteses; exploração do material, com a codificação dos dados brutos; interpretação e delimitação dos dados em categorias temáticas pela compreensão dos significados(99 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70; 2015. 143 p.).

RESULTADOS

Dos dados organizados e analisados resultaram três categorias temáticas, quais sejam: Contribuição social do colecionador de Materiais Recicláveis; Da percepção assistencialista ao cuidado empreendedor de Enfermagem; Estratégias emancipadoras do trabalho de reciclagem.

Contribuição social do colecionador de Materiais Recicláveis

A contribuição social de trabalhadores em uma Associação de Reciclagem fica perceptível em cada depoimento, expressão, olhar ou gesto. Frequentemente ouvia-se, com emoção e um brilho no olhar, a expressão: “Tenho orgulho do que eu faço. Reconheço o valor do meu trabalho”. De modo geral, todos os trabalhadores têm ciência da relevância de seu trabalho para o desenvolvimento sustentável, embora nem sempre sejam compreendidos em seus direitos, conforme expresso:

... é o trabalho que eu gosto de fazer. Eu acho que se me dessem outra oportunidade eu pensaria, porque eu gosto do que eu faço. Este é um trabalho digno, como o de vocês, do Presidente. É uma profissão, mas não temos direito a nada. Vocês ajudam a salvar vidas. Assim é a reciclagem, ajuda a salvar o planeta. (P2)

Adoro o que eu faço. Gosto de estar aqui trabalho no que eu faço. É cansativo, estressante, mas eu gosto de trabalhar no que eu faço. Tenho orgulho! [emocionada]. (P11)

Outra contribuição evidenciada na fala dos participantes diz respeito ao resgate da cidadania e da promoção da dignidade de outras pessoas próximas. Embora reconheçam o seu trabalho como ‘humilde’, os integrantes da Associação de Reciclagem o equiparam ao trabalho de qualquer outra profissão e, em alguns casos, o consideram ainda mais relevante pelo fato de contribuírem com o desenvolvimento sustentável e, sobretudo, a subsistência de suas famílias, conforme expresso na fala:

Nosso trabalho é preventivo para todas as áreas, tanto na ambiental quanto para o sustento das famílias... aqui se consegue prevenir, pelo sustento, para que um filho não entre na marginalidade e nas drogas. Aos olhos de alguns, é um trabalho sem importância nenhuma, não conseguem ver o que tem por trás... o resgate da cidadania, o sustento para o teu filho comer, estudar e garantir um futuro melhor para ele. Prepara o teu filho para ele não ser uma pessoa orgulhosa e indiferente. Enfim, para mim é um trabalho. É onde eu me sinto uma mulher realizada profissionalmente, me sinto realizada com os meus colegas e onde eu tenho orgulho de falar sobre o que eu faço. (P16)

Em geral, nos depoimentos, os participantes demostraram preocupação com a família e os filhos. Para além do sustento diário, reconhecem que seu trabalho constitui em exemplo de vida e dignidade para os filhos, conforme expresso: “para que não sejam pessoas orgulhosas e indiferentes”. Com essa expressão, retratam sua indignação com atitudes provocativas e a indiferença de muitas pessoas da sociedade, que se julgam superiores aos demais.

Da percepção assistencialista ao cuidado empreendedor de Enfermagem

No depoimento dos participantes, ficou fortemente destacada a dimensão social do cuidado de enfermagem. Num primeiro instante, o cuidado de enfermagem se voltou ao trabalhador da Associação e, num segundo momento, à comunidade em geral. Na fala de uma das lideranças, ficou evidente que a forma da Enfermagem reconhecer as necessidades das pessoas e lidar com elas tem potencial para emancipar os diferentes grupos sociais, em especial os colecionadores, para que estes protagonizem novos espaços na sociedade, considerando o fato de alguns trabalhadores se sentirem diminuídos e desvalorizados em sua lida diária.

Aqui, todos precisam entender que estamos fazendo um trabalho digno, honesto e assumir esta condição. Não estamos roubando ou nos prostituindo. É um trabalho digno... todos precisam pensar desta forma e não se sentir diminuídos... A enfermagem nos ajuda a pensar e a perceber a grandeza deste trabalho... mostra que somos fundamentais para a sociedade. (P4)

Uma das participantes, em especial, fez referência aos cuidados básicos discutidos pela Enfermagem, tais como a lavagem de mãos, as atividades físicas e cuidados preventivos e destacou, sobretudo, a forma como as temáticas foram abordadas com os trabalhadores. Esta mesma participante reconheceu a efetividade das intervenções realizadas, inclusive perceptíveis na mudança de atitudes e comportamentos de seus colegas de trabalho:

A Enfermagem trouxe para nós uma possibilidade de troca de experiências que a gente ainda não tinha, mas não com algo pronto, por que não adianta você vir aqui falar um monte de coisas complicadas que eu não sei o que você está falando. Os professores e alunos que estiveram aqui falaram de forma simples, clara e a gente conseguiu entender, participar e passar para os outros... Os colegas estão mais atentos, hoje, ‘Óh, tu não dá remédio, você não pode fazer isto...’. (P12)

Outra liderança, em outro momento, reforçou a necessidade de instrumentalizar a comunidade em geral, sobre o significado e a relevância social da reciclagem, considerando que muitas pessoas não distinguem a reciclagem do lixo, ou seja, consideram “tudo como lixo”. Nesse sentido, os participantes deste estudo reconhecem que a enfermagem tem um papel educador fundamental, na indução do exercício da cidadania e de novas formas de pensar e agir em sociedade.

... ela pode mostrar o valor e a dignidade do nosso trabalho. Não sei se é ignorância, mas muitos ainda não respeitam o nosso trabalho, nos consideram como lixo. Tem um senhor que vem trazer vidro e ele disse assim: ‘eu vim trazer aqui porque vocês pegam tudo. Eu respondi que não. Nós não pegamos de tudo. Ah, mas lixo é lixo e eu disse não. Aqui trabalhamos com material reciclável. Como quem diz que veio trazer para o lixão... Não! Aqui lidamos com materiais recicláveis. (P18)

A partir dos depoimentos expressos, a Enfermagem já vislumbra novas abordagens teórico-práticas em que o usuário é sujeito e protagonista de sua história. Além disso, o cunho assistencialista e pontual do cuidado de Enfermagem vem, gradativamente, assumindo características empreendedoras e comprometidas com a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento social.

Estratégias emancipadoras do trabalho de reciclagem

A primeira estratégia evidenciada na fala dos participantes está relacionada com a capacidade de reconhecer e potencializar o trabalho que os integrantes da Associação de Materiais Recicláveis já vêm realizando em favor da sustentabilidade ambiental. A segunda estratégia, claramente perceptível e recomendada pelos integrantes, é que a comunidade não sinta ‘pena’ do colecionador de reciclagem, mas o valorize como ‘ser humano’, merecedor de respeito e dignidade, a exemplo do trabalho de qualquer outro profissional, conforme depoimentos a seguir:

Não queremos que sintam pena de nós ou do nosso trabalho. Nós não somos dignos de pena, porque trabalhamos com dignidade. Queremos, sim, que valorizem o nosso trabalho e que colaborarem conosco, separando em suas casas o material reciclável. (P5)

Em todas as falas, foi perceptível o forte apelo para que as pessoas em geral, iniciem o processo de separação dos materiais sólidos em seus domicílios e o enviem em condições minimamente aceitáveis para a Associação. Nessa direção, os colecionadores não pedem nada de extraordinário, se não maior consideração e valorização pelo trabalho que realizam.

Eu gostaria que as pessoas da comunidade tivessem mais consideração pelo nosso trabalho, com a gente... que se conscientizassem da necessidade de reciclar os seus materiais em casa e não nos humilhassem e nos tratassem como se o nosso trabalho fosse inferior e menos importante. (P13)

Outra estratégia está relacionada à criação de oportunidades e espaços para a troca de experiências e a socialização de perspectivas e expectativas futuras. Em outras palavras, que sejam possibilitados ambientes onde os trabalhadores possam verbalizar os seus sentimentos, preocupações e inseguranças em relação ao seu dia a dia, além de demonstrarem a importância de seu trabalho para o desenvolvimento social.

Tu tens que colocar para fora os teus sentimentos. Tu tens que falar, te abrir e dizer para as pessoas o que te incomoda. Por que se tu não falar vai ficar naquela mesmice e nada vai mudar. Você também é responsável para que as coisas mudem e não só esperar pelos outros. (P19)

Alguns integrantes da Associação demostram desejo de aprender a ler e escrever, ou seja, se prepararem para novas e diferentes perspectivas de vida e de mercado. Outros também mencionaram a necessidade de se pensar estratégias relacionadas à automedicação, tendo em vista que os medicamentos são frequentemente descartados incorretamente pela comunidade em geral, e que são facilmente manipulados pelos colecionadores.

Eu gostaria que todos tivessem, aqui, a possibilidade de aprender a ler e escrever. (P2)

Eu tenho muito medo com a automedicação do pessoal. Tenho medo do que vem para cá e o destino que os trabalhadores dão para este tipo de medicamentos. Precisamos pensar em alguma estratégia. (P22)

Na concepção dos entrevistados, um forte incremento educativo está relacionado com a educação ambiental, a prevenção e a promoção da saúde como áreas de investimento prioritárias. Destacam que a reciclagem não deve ser reduzida a um espaço específico e/ou limitada a um grupo de pessoas, mas que o processo seja assumido de forma responsável e colaborativa pela comunidade em geral.

DISCUSSÃO

O cuidado empreendedor de Enfermagem/saúde, potencializado pela participação ativa e responsável dos diferentes atores sociais, é uma importante estratégia para o exercício da cidadania, o desenvolvimento social e o alcance de uma vida mais digna e saudável para todos. Quanto mais avançarmos na construção de saberes e práticas na perspectiva do empreendedorismo social, tanto melhor poderemos contribuir para o avanço da ciência de enfermagem e o desenvolvimento de políticas públicas condizentes com as reais necessidades, sobretudo, em contextos de maior vulnerabilidade social(77 Altman M, Brinker D. Nursing social entrepreneurship leads to positive change. Nursing Management [Internet]. 2016 [cited 2018 Dec 08];47(7):28-32. Available from: https://journals.lww.com/nursingmanagement/fulltext/2016/07000/Nursing_social_entrepreneurship_leads_to_positive.9.aspx
https://journals.lww.com/nursingmanageme...
,1010 C arryer J, Adams S. Nurse practitioners as a solution to transformative and sustainable health services in primary health care: a qualitative exploratory study. Collegian [Internet]. 2017 [cited 2018 Dec 10];24(3):525-31. Available from: https://www.collegianjournal.com/article/S1322-7696(16)30189-5/abstract
https://www.collegianjournal.com/article...
).

No entanto, pouco se sabe sobre como os empreendedores sociais desenvolvem soluções inovadoras e transformadoras em contextos sociais específicos. Estudo reconhece que o empreendedorismo social se caracteriza pelo desenvolvimento de processos colaborativos e pela capacidade de expandir redes e parcerias, embora, permaneça o questionamento: como promover o protagonismo social de cidadãos subjugados pela sociedade, mas que realizam um trabalho social altamente relevante, a exemplo dos colecionadores de materiais recicláveis?(55 Heinze KL, Banaszak-Holl J, Babiak K. Social entrepreneurship in communities. Nonprofit Manag Leadersh [Internet]. 2016 [cited 2019 Jan 05];26(7):313-30. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/nml.21198
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full...
).

Na fala dos participantes deste estudo, ficou evidente que não bastam políticas sociais e de saúde e/ou intervenções exitosas de cunho assistencialista. Mais do que nunca, hoje são necessários processos colaborativos e intersetoriais de combate às iniquidades sociais, tendo em vista que cada parte reage/interage diretamente com o todo - sociedade e vice-versa. Para o desenvolvimento social global, é fundamental que os diferentes segmentos sociais sejam ouvidos, compreendidos e acolhidos em suas necessidades. Além disso, suas iniciativas e expectativas de vida e de trabalho devem ser potencializadas em âmbito individual e coletivo.

Os colecionadores de materiais recicláveis destacam consecutivamente, que as pessoas em geral não tenham “pena” de sua condição de vida e trabalho. Suplicam por reconhecimento, valorização, respeito e dignidade, consideradas necessidades humanas básicas. Este pensar requer uma mudança de paradigmas por parte dos diversos profissionais e segmentos da sociedade, especialmente na forma de conceber e lidar com as classes vulneráveis. Tradicionalmente, as intervenções sociais foram motivadas pelo assistencialismo, ou seja, conduzidas com base em ações pontuais e lineares, nas quais os principais envolvidos eram apreendidos como objetos e/ou de forma pretensiosa e utilitarista.

Na lógica do empreendedorismo social, os papeis/funções se complementam e potencializam. Estudo demonstra que o empreendedorismo social se configura como um dos principais fatores de indução do desenvolvimento econômico e social, e sua operacionalização se efetiva a partir da identificação de oportunidades e desenvolvimento de processos colaborativos e associativos, nos quais os diferentes atores participam e se reconhecem como sujeitos sociais(1111 Hernández D, Carrión D, Perotte A, Fullilove R. Public Health Entrepreneurs: Training the Next Generation of Public Health Innovators. Public Health Rep [Internet]. 2014 [cited 2018 Dec 17];129(6):477-81. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/003335491412900604
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177...
). Dentre as suas finalidades, o empreendedorismo social visa intercambiar ideias e soluções para resolver problemas sociais, combinando criativamente saberes e práticas e criando novas possibilidades de autossustentabilidade por meio de associações estratégicas(1212 Kirkman A, Wilkinson J, Scahill S. Thinking about health care differently: nurse practitioners in primary health care as social entrepreneurs. J Prim Health Care [Internet]. 2018 [cited 2019 Jan 07];10(4):331-7. doi: 10.1071/HC18053
https://doi.org/10.1071/HC18053...
).

Na Enfermagem, o empreendedorismo social se traduz em cuidado sensível, interativo e associativo, capaz de ampliar as possibilidades de vida e promover o viver saudável de indivíduos, famílias e comunidades, com vistas a emancipá-los como protagonistas de sua própria história(66 Backes DS, Ilha S, Weissheimer AS, Halberstadt BMK, Megier ER, Machado R. Atividades socialmente empreendedoras na enfermagem: Contribuições à saúde/viver saudável. Esc Anna Nery [Internet]. 2016[cited 2019 Jan 06];20(1):77-82. doi: 10.5935/1414-8145.20160011
https://doi.org/10.5935/1414-8145.201600...
,1313 International Council of Nurses. Nurses' role in achieving the sustainable development goals. Geneva: International Council of Nurses [Internet]. 2017 [cited 2018 Dec 17]. Available from: https://www.icnvoicetolead.com/wpcontent/uploads/2017/04/ICN_AVoiceToLead_guidancePack-9.pdf
https://www.icnvoicetolead.com/wpcontent...
). A relevância social do cuidado de Enfermagem, bem como suas contribuições para o avanço da ciência, estão na capacidade do Enfermeiro ser agente ativo e proativo no processo de tomada de decisão e na sua relação com o exercício da cidadania dos diferentes grupos sociais(1414 Melo PMA, Silva RCGS, Figueiredo MHSJ. Attention foci in community health nursing and community empowerment: a qualitative study. Rev Enferm Ref [Internet]. 2018 [cited 2018 Jan 06];4(19):81-90. doi: 10.12707/RIV18045
https://doi.org/10.12707/RIV18045...
). Nessa direção, o cuidado empreendedor de enfermagem se diferencia pela capacidade de identificar as reais necessidades de indivíduos e da comunidade e, sobretudo, pela habilidade de intervir de forma agregadora e integradora nos diferentes movimentos relacionados ao processo de viver saudável(33 Backes DS, Zamberlan C, Colomé J, Souza MT, Marchiori MT, Lorenzini EA, et al. Interatividade sistémica entre os conceitos interdependentes de cuidado de enfermagem. Aquichan [Internet]. 2016a [cited 2019 Jan 04];16(1):24-31. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/v16n1a04.pdf
http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/...
).

Limitações do estudo

Considera-se, como limitação deste estudo, as poucas referências sobre o empreendedorismo social na Enfermagem, sobretudo, em âmbito nacional.

Contribuições para a área de enfermagem

A principal contribuição deste estudo está relacionada com a indução de uma cultura empreendedora na área de Enfermagem, além do fomento de novas abordagens teórico-metodológicas de intervenção social, com vistas ao avanço da ciência de Enfermagem. Além disso, demonstra a necessidade de formar enfermeiros para o empreendedorismo social, que implica, segundo esta visão, formar profissionais críticos, flexíveis e proativos para o que é novo e o diferente, ou seja, profissionais capazes de identificar oportunidades em meio às contradições e, assim, possibilitar uma nova organização em âmbito local e global.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As estratégias emancipadoras para fortalecer o protagonismo social de colecionadores de materiais recicláveis à luz do cuidado empreendedor de Enfermagem estão relacionadas com a valorização, o reconhecimento e a potencialização do trabalho social que já vem sendo realizado por estes profissionais, e com a criação de espaços para a socialização de vivências, expectativas e perspectivas futuras.

Os colecionadores de materiais recicláveis aspiram por reconhecimento social, ou seja, suplicam por sua compreensão como pessoas humanas, merecedoras de respeito e dignidade pelo trabalho que realizam em favor do ambiente e do desenvolvimento social. Nesse contexto, o cuidado de Enfermagem, em sua dimensão empreendedora, tem função de agregar, potencializar e induzir novas formas de pensar, conviver e se relacionar em comunidade.

  • FOMENTO
    Projeto financiado pelo Edital/Chamada “Produtividade em Pesquisa CNPq”, sob o título: “O cuidado de enfermagem como prática socialmente empreendedora”. Processo CNPq:302103/2017-1.

REFERENCES

  • 1
    Panoramas setoriais 2030: desafios e oportunidades para o Brasil. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; 2017. Available from: http://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/14214
  • 2
    Ramos C. Desenvolvimento econômico sustentável: tendências e desafios na promoção dos empregos verdes no Brasil. Textos Debates [Internet]. 2016 [cited 2019 Jan 03];2(30):23-38. doi: 10.18227/2217-1448ted.v2i30.3417
    » https://doi.org/10.18227/2217-1448ted.v2i30.3417
  • 3
    Backes DS, Zamberlan C, Colomé J, Souza MT, Marchiori MT, Lorenzini EA, et al. Interatividade sistémica entre os conceitos interdependentes de cuidado de enfermagem. Aquichan [Internet]. 2016a [cited 2019 Jan 04];16(1):24-31. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/v16n1a04.pdf
    » http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/v16n1a04.pdf
  • 4
    Lisetchi M, Brancu L. The entrepreneurship concept as a subject of social innovation. Procedia: Social and Behavioral Sciences [Internet]. 2014 [cited 2019 Jan 03];124(6):87-92. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042814020114
    » https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042814020114
  • 5
    Heinze KL, Banaszak-Holl J, Babiak K. Social entrepreneurship in communities. Nonprofit Manag Leadersh [Internet]. 2016 [cited 2019 Jan 05];26(7):313-30. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/nml.21198
    » https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/nml.21198
  • 6
    Backes DS, Ilha S, Weissheimer AS, Halberstadt BMK, Megier ER, Machado R. Atividades socialmente empreendedoras na enfermagem: Contribuições à saúde/viver saudável. Esc Anna Nery [Internet]. 2016[cited 2019 Jan 06];20(1):77-82. doi: 10.5935/1414-8145.20160011
    » https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160011
  • 7
    Altman M, Brinker D. Nursing social entrepreneurship leads to positive change. Nursing Management [Internet]. 2016 [cited 2018 Dec 08];47(7):28-32. Available from: https://journals.lww.com/nursingmanagement/fulltext/2016/07000/Nursing_social_entrepreneurship_leads_to_positive.9.aspx
    » https://journals.lww.com/nursingmanagement/fulltext/2016/07000/Nursing_social_entrepreneurship_leads_to_positive.9.aspx
  • 8
    Lomba MLLF, Toson M, Weissheimer AS, Backes TSB, Büscher A, Backes DS. Social entrepreneurship: translation of knowledge and practices in Brazilian nursing students. Revista de Enfermagem Referência [Internet]. 2018 [cited 2019 Jan 07];4(19):107-16 Available: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=2996&id_revista=24&id_edicao=152
    » https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=2996&id_revista=24&id_edicao=152
  • 9
    Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70; 2015. 143 p.
  • 10
    C arryer J, Adams S. Nurse practitioners as a solution to transformative and sustainable health services in primary health care: a qualitative exploratory study. Collegian [Internet]. 2017 [cited 2018 Dec 10];24(3):525-31. Available from: https://www.collegianjournal.com/article/S1322-7696(16)30189-5/abstract
    » https://www.collegianjournal.com/article/S1322-7696(16)30189-5/abstract
  • 11
    Hernández D, Carrión D, Perotte A, Fullilove R. Public Health Entrepreneurs: Training the Next Generation of Public Health Innovators. Public Health Rep [Internet]. 2014 [cited 2018 Dec 17];129(6):477-81. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/003335491412900604
    » https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/003335491412900604
  • 12
    Kirkman A, Wilkinson J, Scahill S. Thinking about health care differently: nurse practitioners in primary health care as social entrepreneurs. J Prim Health Care [Internet]. 2018 [cited 2019 Jan 07];10(4):331-7. doi: 10.1071/HC18053
    » https://doi.org/10.1071/HC18053
  • 13
    International Council of Nurses. Nurses' role in achieving the sustainable development goals. Geneva: International Council of Nurses [Internet]. 2017 [cited 2018 Dec 17]. Available from: https://www.icnvoicetolead.com/wpcontent/uploads/2017/04/ICN_AVoiceToLead_guidancePack-9.pdf
    » https://www.icnvoicetolead.com/wpcontent/uploads/2017/04/ICN_AVoiceToLead_guidancePack-9.pdf
  • 14
    Melo PMA, Silva RCGS, Figueiredo MHSJ. Attention foci in community health nursing and community empowerment: a qualitative study. Rev Enferm Ref [Internet]. 2018 [cited 2018 Jan 06];4(19):81-90. doi: 10.12707/RIV18045
    » https://doi.org/10.12707/RIV18045

Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Aparecida Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Antonio José de Almeida Filho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    10 Jan 2019
  • Aceito
    11 Jul 2019
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br