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Oficinas de educação em saúde com crianças no contexto de pandemia da COVID-19

RESUMO

Objetivo:

Descrever a experiência de atividades extensionistas de prevenção da COVID-19 com crianças da rede pública de ensino.

Métodos:

Relato de experiência de abordagem crítica e reflexiva sobre a vivência extensionista no projeto “Atenção à Saúde na Escola”, no contexto pandêmico da COVID-19, em uma cidade do interior de Goiás, em março de 2020.

Resultados:

Realizaram-se cinco oficinas de higienização das mãos como prevenção da COVID-19 com 57 crianças de 2 a 5 anos em Goiás.

Considerações Finais:

A abordagem lúdica na forma de oficinas de baixo custo foi uma estratégia para atender a uma demanda emergencial da comunidade no início da pandemia da COVID-19.

Descritores:
Pandemias; Criança; Saúde Pública; Educação em Saúde; Enfermagem Pediátrica

ABSTRACT

Objective:

Describe the experience of extension activities in the prevention of COVID-19 with children from public school system.

Methods:

Experience report of critical and reflexive approach on the extension experience of the project “Healthcare at School” (Atenção à Saúde na Escola), in the COVID-19 pandemic context, in a countryside town in the State of Goias, in March 2020.

Results:

It is carried out five hand sanitizing workshops as a prevention for COVID-19 with 57 children from 2 to 5 years old in the State of Goias.

Final Considerations:

The playful approach in a low-cost workshop format was a strategy to meet an emergency requirement of the Community in the beginning of the COVID-19 pandemic.

Descriptors:
Pandemics; Children; Public Health; Health Education; Pediatric Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Describir la experiencia de actividades extensionistas de prevención a la COVID-19 con niños de la red pública de enseñanza.

Métodos:

Relato de experiencia de abordaje crítico y reflexivo sobre la vivencia extensionista en el proyecto “Atención a la Salud en la Escuela”, en el contexto de la pandemia de COVID-19, en una ciudad del interior de Goiás, en marzo de 2020.

Resultados:

Realizaron cinco talleres de higienización de las manos como prevención a la COVID-19 con 57 niños de 2 a 5 años en Goiás.

Consideraciones finales:

El abordaje lúdico en la forma de talleres de bajo costo ha sido una estrategia para atender a una demanda de emergencia de la comunidad en el inicio de la pandemia de COVID-19.

Descriptores:
Pandemias; Niño; Salud Pública; Educación en Salud; Enfermería Pediátrica

INTRODUÇÃO

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde decretou que o mundo enfrentava uma pandemia provocada pela COVID-19. Identificada pela primeira vez em dezembro de 2019, na China, a COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) e encontra-se presente em 114 países(11 World Health Organization. WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing on COVID-19 [Internet]. 2020 [2020 Apr 17]. Available from https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
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).

Com crescimento de casos exponencial, registram-se mais de 25 milhões de notificações e 22.970.240 de mortes no mundo até 22 de Agosto de 2020. No Brasil, são 3.582.362 de casos, com 114.250 óbitos registrados em todas faixas etárias. Os dados sobre a população infantil de 1 a 5 anos está restrito àquelas em situação de hospitalização por SARS-CoV-2. Das 18.267 notificações da SARS, 1.860 tiveram seu diagnóstico confirmado para COVID-19, e 123 foram a óbito(22 Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Especial n. 28. Doença pelo Coronavírus COVID-19. Semana Epidemiológica 34 (16 a 22/08) [Internet]. 2020 [2020 Sep 1]. Available from https://saude.gov.br/images/pdf/2020/August/27/Boletim-epidemiologico-COVID-28-FINAL-COE. pdf
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).

Estudos apontam que o prognóstico da doença na população infantil é favorável quando comparado aos adultos. Aponta-se que a maioria das crianças não apresenta sintomas diante da infecção pelo novo coronavírus. Com isso, elas podem ser consideradas vetores do vírus, ocupando um espaço social que expõe os adultos ao seu redor à infecção e ao curso da doença de maneira mais grave(33 Lu Q, Yuan S. Coronavirus disease (COVID-19) and neonate: what neonatologists need to know. J Med Virology. 2020. doi: 10.1002/jmv.25740
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4 Ludvigsson JF. Systematic review of COVID-19 in children shows milder cases and a better prognosis than adults. Acta Paediatr. 2020;109(6):1088-95.. doi:10.1111/apa.15270
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-55 Xia W, Shao J, Guo Y, Peng X, Li Z, Hu D. Clinical and CT features in pediatric patients with COVID-19 infection: different points from adults. Pediatr Pulmonol. 2020;55(5):1169-74.. doi:10.1002/ppul.24718
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). Contudo, é importante destacar que as crianças também estão vulneráveis à doença e seus agravos.

Nesse sentido, quando citamos estudos apontando que as crianças podem ser consideradas vetores do vírus, não temos a intenção de culpabilizá-las por qualquer infecção possível de ocorrer na referida situação. Objetivamos ressaltar a importância de trabalhar com essa população para a prevenção da COVID-19, uma vez que reconhecemos a população infantil enquanto agente moral. Isto é, as crianças são capazes de agir deliberadamente, falarem por si e refletirem sobre sua interação com o mundo. Isso significa que elas têm suas próprias visões de mundo e formas de interagir, sendo a linguagem expressada de diversas formas e não apenas pela fala(66 Montreuil M, Carnevale FA. A concept analysis of children’s agency within the health literature. J Child Health Care. 2016;20(4):503-11. doi:10.1177/1367493515620914
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).

Diante disso, salientamos que a escola é um espaço de socialização infantil, onde as crianças interagem umas com as outras para construir conhecimentos. A criança na faixa etária de 2 a 5 anos está em processo de aperfeiçoamento da comunicação e das habilidades motoras(77 Fonseca EMGO. Desenvolvimento Normal de 1 a 5 anos. Rev Pediatr SOPERJ [Internet]. 2011 [2020 Sep 1];4(8). http://revistadepediatriasoperj.org.br/audiencia_pdf.asp?aid2=551&nomeArquivo=v12n1s1a01.pdf
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), sendo-lhe propícia a introdução de temas de educação em saúde concretos, como a higienização das mãos — uma das principais medidas de prevenção da COVID-19, com eficácia de 55%(88 Chen X, Ran L, Liu Q, Hu Q, Du X, Tan X. Hand hygiene, mask-wearing behaviors and its associated factors during the COVID-19 Epidemic: a cross-sectional study among primary school students in Wuhan, China. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(8):2893. doi:10.3390/ijerph17082893
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9 Thampi N, Longtin Y, Peters A, Pittet D, Overy K. It’s in our hands: a rapid, international initiative to translate a hand hygiene song during the COVID-19. J Hosp Infect. 2020;S0195-6701(20)30234-6. doi:10.1016/j.jhin.2020.05.003
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-1010 Wang Y, Zhou CC, Shu R, Zou J. Oral Health Management of Children during the Epidemic Period of Coronavirus Disease 2019. Sichuan Da Xue Xue Bao Yi Xue Ban. 2020;51(2):151-154.. doi: 10.12182/20200360101
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), em estratégias de educação em Saúde.

OBJETIVO

Relatar a experiência de professoras e graduandos da área da saúde na realização de oficinas de higienização das mãos para prevenção da COVID-19 com crianças no ambiente escolar.

MÉTODOS

Procedimentos metodológicos

Relato de experiência(1111 Marconi MA, Lakatos EM. Metodologia do Trabalho Científico. 8. ed. São Paulo: Atlas; 2017. 256 p.) de cinco oficinas sobre higienização de mãos desenvolvidas com 57 crianças de 2 a 5 anos em março de 2020, cujas etapas foram descritas nos resultados.

Optou-se pela oficina lúdica por esta oferecer um espaço de construção do conhecimento com as crianças, tendo o lúdico como recurso metodológico e estratégico de comunicação com essa população. Por meio da brincadeira e da imaginação, a criança tem a possibilidade de pensar em temas específicos de maneira leve e atraumática(1212 Miranda S. Oficina de Ludicidade na Escola. Papirus Editora: Campinas; 2013. 128 p.-1313 Jurdi APS, Silva CCB, Liberman F. Inventários das brincadeiras e do brincar: ativando uma memória dos afetos. Interface (Botucatu). 2018;22(65):603-8. doi: 10.1590/1807-57622016.0978
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).

As oficinas foram realizadas por 15 graduandos da área de saúde (Fisioterapia e Enfermagem), com supervisão das professoras coordenadoras do projeto de Extensão “Atenção à Saúde na Escola”, cujos objetivos são: a) desenvolver ações de prevenção, promoção e acompanhamento à saúde de crianças e adolescentes inscritas na rede pública de ensino; b) disseminar conhecimento científico de saúde entre a população infanto-juvenil; e c) oferecer um espaço de ensino e aprendizado para estudantes de graduação da instituição de ensino à qual são vinculados.

Este projeto é realizado em consonância com questões de saúde pública relevantes à população a que é destinado. O tema da COVID-19 emergiu: a) da demanda espontânea de professores da escola, os quais entraram em contato com a coordenação do projeto para a realização das oficinas, e os coordenadores realizaram as atividades de planejamento e execução junto com os graduandos; e b) do cenário de vulnerabilidade em que a escola se localiza.

Cenário das atividades

As oficinas foram realizadas em um centro de ensino integral de um município no interior de Goiás, que tem 357 crianças matriculadas de 0 a 5 anos de idade, sendo oferecidas turmas desde o Berçário I até o Jardim II.

O projeto pedagógico incorpora atividades lúdicas de ensino que estimulam a musicalidade, a psicomotricidade e o desenvolvimento biopsicossocial, bem como a prática de esportes e recreação aquática em uma estrutura que oferece brinquedoteca e videoteca. O centro educacional opera sob uma perspectiva de valorização da individualidade da criança e de como ela pode contribuir com o grupo no qual se insere; nessa linha, incita-se a descoberta de novos talentos e desenvolvimento de habilidades para inclusão e integração social.

Já o município em que o centro se localiza é constituído por uma população estimada de 168.468 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo a incidência da COVID-19 de 93,2 e a taxa de mortalidade 1,8 a cada 100 mil habitantes. Até o momento, não há notificações de casos em crianças na região.

RESULTADOS

A etapa de planejamento e execução das oficinas ocorreu em um curto período, o que contribuiu para insegurança e ansiedade da coordenação do referido projeto de extensão. A demanda surgiu de professores da escola na manhã do dia 16 de Março de 2020; mas, apesar de ficarmos empolgados com a possibilidade de disseminar conhecimento entre as crianças sobre um tema tão relevante para a saúde pública atual, havia um complicador iminente.

Planejamento das oficinas de Lavagem das Mãos

Naquela manhã, iniciou-se o planejamento emergencial para a realização das oficinas, cujas etapas foram: 1) a identificação da população-alvo em seu quantitativo (número de crianças) e seu qualitativo (idade e estadiamento de desenvolvimento humano); 2) análise dos recursos materiais, estruturais e humanos disponíveis para a atividade; 3) eleição dos conteúdos científicos a serem abordados e da estratégia pedagógica a ser utilizada.

Na primeira e segunda etapas, utilizou-se um aplicativo de troca de mensagens para que a coordenação do projeto coletasse dados acerca da população-alvo e dos recursos materiais e estruturais da instituição de ensino na qual seria desenvolvida a atividade com os professores que identificaram a demanda. E, com o mesmo meio de comunicação, entrou-se em contato com graduandos do 5º ao 7º período do curso de Fisioterapia e do 3º semestre de Enfermagem para comporem os recursos humanos do projeto, pois se compreende que a extensão pode ser forma de crescimento e aprendizagem aos estudantes.

Quanto aos recursos materiais, identificou-se álcool gel 70%, um pote de tinta do tipo guache, folhas de papel toalha e sabonete líquido. No tocante ao recurso estrutural, a escola dispunha de salas de aula e pia comunitária adaptada para a altura das crianças. Já os recursos humanos foram compostos por 15 graduandos.

Na terceira etapa, determinou-se que os conteúdos a serem abordados seriam: vírus; infecção; prevenção como responsabilidade social com o outro; e higienização das mãos. Também, estabeleceu-se que a abordagem seria problematizadora, centrada no educando – seguindo os preceitos da educação libertadora de Freire(1414 Kohan WO. Paulo Freire: other childhoods for childhood. Educ Rev. 201834:e199059. 2018. doi:10.1590/0102-4698x199059
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) – e adaptada à população infantil e seu estadiamento de desenvolvimento, que exige interação com materiais e acadêmicos, no intuito de fornecer concretude às informações discutidas.

Para dar ludicidade à abordagem, os 15 graduandos foram orientados a vestirem indumentária com motivos infantis tais como super-heróis, personagens de desenhos animados e princesas. Os nomes desses personagens seriam os codinomes na comunicação lúdica com a criança.

Operacionalização das oficinas

As oficinas foram operacionalizadas em cinco etapas.

ETAPA 1) Estabelecendo acordos com os representantes da escola

Primeiramente, houve a recepção da equipe pela coordenadora e diretor da escola, que apresentaram os recursos materiais e estruturais disponíveis para as oficinais. Na sequência, foram feitos acordos que envolviam o horário adequado, turmas disponíveis para a atividade e ordem de execução, para não haver interrupção nas atividades didático-pedagógicas previstas, horários de alimentação e/ou de recreação das crianças. As oficinas foram executadas, primeiro, com turmas compostas por crianças de 2 a 3 anos, seguindo para as turmas com crianças de 4 a 5 anos.

ETAPA 2) Apresentação e criação da saudação do grupo

Caracterizados como personagens de desenhos animados, os graduandos se apresentaram com seus codinomes e convidaram as crianças a criarem uma saudação do grupo, que foi semelhante à dos super-heróis.

ETAPA 3) Identificação do conhecimento do grupo

Nesta etapa, os graduandos conversaram com as crianças, perguntaram sobre a importância da lavagem das mãos e de novas formas de cumprimentar, acordando que a saudação criada no início seria a forma para eles interagirem uns com os outros durante o período da pandemia. As crianças de 4 a 5 anos possuíam uma capacidade linguística e cognitiva mais sofisticada, tornando a abordagem mais dialogada que aquela das crianças de 2 a 3 anos.

ETAPA 4) Técnica de higienização das mãos

Utilizando a tinta guache, sabonete, pia, toalhas e o álcool 70%, os graduandos apresentaram a técnica de higienização das mãos às crianças. Iniciou-se colocando um pouco de tinta guache nas mãos das crianças, pedindo para elas imaginarem que aquilo era um vírus. Na sequência, foi feita demonstração dos movimentos da técnica, orientando-as sobre a importância de remover todo vírus da mão. Por fim, utilizou-se o álcool 70% como recurso de proteção após a limpeza, explicando que este pode ser utilizado quando não há possibilidade de higienização das mãos com água e sabão.

ETAPA 5) Reforço do conhecimento e despedida

Na última etapa, os graduandos ressaltaram a importância de as crianças ensinarem seus colegas e adultos sobre o que aprenderam, incentivando seu papel de multiplicadoras de conhecimento entre pares e sua família. Por fim, a despedida ocorreu com a saudação criada pelas crianças e com o reforço da importância de manter os hábitos de estudo em casa.

DISCUSSÃO

A oficina foi realizada no último dia de atividades escolares presenciais, uma vez que um decreto municipal(1515 Governo Municipal de Valparaíso de Goiás. Decreto 149 de 16 de Março de 2020. Decreta a suspensão das atividades educacionais como medida de combate à pandemia pela infecção pelo novo COVID-19 e dá outras providências [Internet]. 2020 &2020 May 28]. Available from https://acessoainformacao.valparaisodegoias.go.gov.br/legislacao/decretos
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) foi emitido para subscrever às medidas de prevenção da COVID-19 recomendadas pelo Ministério da Saúde do país.

Diante disso, a coordenação do referido projeto se reuniu para deliberar sobre a decisão de atender à demanda da escola. Considerando a responsabilidade ético-profissional(1616 Carnevale F. Ethical Considerations in Pediatric Nursing. Rev Soc Bras Enferm Pediatra [Internet]. 2012 &. [2020 May 28];12(1):37-47. Available from https://sobep.org.br/revista/images/stories/pdf-revista/vol12-n1/v.12_n.1-art4.pesq-consideracoes-eticas-enfermagem.pdf
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) dos profissionais de saúde e professores da área da saúde com o contexto de pandemia, o compromisso social da extensão na contribuição para transformação da realidade local(1717 Teixeira CM, Carvalho AS, Martins PS. Responsibility: From its conceptual foundations to its practical application in intensive care units. Acta Bioeth. 2018;24(1):47-56. doi: 10.4067/S1726-569X2018000100047
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) e os valores institucionais que prezam pela formação de estudantes críticos e reflexivos capazes de atuar em diversos cenários, optou-se por encarar o desafio.

Estudos apontam que a participação de estudantes em atividades de extensão universitária promovem o desenvolvimento de habilidades de comunicação e diálogo com a população, sendo uma importante ferramenta na mediação de informações científicas em diversos contextos, incluindo a escola(1818 Castillo J, Paleo C, Rivero Borges A. Curricularización de la extensión en la FCEA 2012-2017. InterCambios. 2019;6(2):79-91. doi: 10.29156/inter.6.2.9
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-1919 Gomes AM, Santos MS, Finger D, Zanittini A, Franceschi EV, Souza JB, et al. Refletindo sobre as práticas de educação em saúde com crianças e adolescentes no espaço escolar. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas) [Internet]. 2018 [2020 Sep 1];11(3):332-41. Available from: https://revistas2.uepg.br/index.php/conexao/article/view/7592
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).

Além disso, a inclusão de graduandos em uma demanda emergente da comunidade os expõem a uma situação próxima do cotidiano da prática profissional, pois o planejamento antecipado não é possível em todas situações. Contudo, eles, enquanto profissionais de saúde em formação, puderam compreender sua responsabilidade ética com a população, que busca pelo conhecimento e informação nos espaços de educação e promoção de saúde.

Nesse sentido, destaca-se o quanto a extensão universitária é importante para que o estudante construa sua identidade profissional em espaços não formais, ampliando sua visão de saúde, refletindo sobre as áreas de atuação disponíveis na sociedade e identificando a importância do posicionamento ético diante das demandas que não foram planejadas, porém importantes para o usuário do sistema único de saúde (SUS).

Para a realização das oficinas, os acadêmicos foram orientados a usarem vestimenta colorida com personagens de desenhos e quadrinhos, a fim de adicionar ludicidade à abordagem. Estudos revelam que, em pediatria, o uso de roupas coloridas em vez do jaleco branco favorece o vínculo das crianças com os profissionais de saúde, pois transmite uma informação de diversão e não de seriedade durante as ações de saúde(2020 Oliveira CT, Santos AS, Dias ACG. Percepções de Estudantes Universitários sobre a Realização de Atividades Extracurriculares na Graduação. Psicol Ciên Prof. 2016;36(4):864-76. doi: 10.1590/1982-3703003052015
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).

É importante ressaltar que, embora as etapas das oficinas sejam semelhantes, a linguagem e informações variaram de acordo com o estágio de desenvolvimento em que as crianças se encontravam. Estudos mostram que a capacidade física, social, motora, linguística e cognitiva de crianças entre 2 e 5 anos varia expressivamente(2121 Jurko Jr A, Minarik M, Jurko T, Tonhajzerova I. White coat hypertension in pediatrics. Ital J Pediatr. 2016 [2020 May 28];42:4. doi: 10.1186/s13052-016-0213-3
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).

Os marcos de crescimento e desenvolvimento são alcançados de maneira exponencial. Fisicamente, a estrutura óssea, articular e muscular de uma criança de 2 anos oferece menos equilíbrio e sofisticação que de uma criança de 5 anos, o que reflete em sua habilidade motora. O desenvolvimento social acompanha o emocional, cuja aptidão adquirida ao longo dos anos de reconhecimento e controle de suas emoções modula seus relacionamentos entre pares. Já a diferença na capacidade linguística e cognitiva apresenta-se no número de palavras que cada uma dessas faixas etárias armazena e verbaliza em diálogos. O repertório vocabular da criança com 2 anos é de, em média, 50 palavras, enquanto o da criança com 5 anos é de milhares, repercutindo na habilidade de contar histórias(2222 Syadar SF, Zarifian T, Modarresi Y, Zahedi MS, Ebrahimipour M, Biglarian A. Kurdish Speech Test: A validation study for children aged 3-5 years. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2019;117:61‐66. doi: 10.1016/j.ijporl.2018.10.009
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).

A primeira etapa correspondeu à apresentação individual e sensibilização das crianças para a atividade. Com as crianças de 2 a 3 anos, o concreto das ações predominou na segunda etapa, quando os acadêmicos as convidaram para brincar com tinta e pintar as mãos um pouquinho. Na sequência, as crianças foram direcionadas à pia para aprender a técnica de lavagem das mãos e sua importância. Nessa faixa etária, o concreto proporcionado pelo fazer lúdico contribui para que a criança materialize suas ações para a abstração do pensamento, capaz de reproduzir ações(2323 Ahun MN, Aboud FE, Aryeetey R, Colecraft E, Marquis GS. Child development in rural Ghana: Associations between cognitive/language milestones and indicators of nutrition and stimulation of children under two years of age. Can J Public Health. 2018;108(5-6):e578‐e585. doi: 10.17269/cjph.108.5875
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-2424 Sarmento MJ. Uma agenda crítica para os estudos da criança. Curr Sem Front [Internet]. 2015 [2020 May 28]:15(1):31-49. Available from http://www.curriculosemfronteiras.org/vol15iss1articles/sarmento.pdf
http://www.curriculosemfronteiras.org/vo...
).

Limitações do Estudo e Contribuições para a Área

Uma limitação do relato foi a unilateralidade das informações, visto que foram apresentadas as experiências de professoras coordenadoras e graduandos oficineiros, e não das crianças que participaram das oficinas. Ademais, não foram avaliados os impactos da atividade na vida da criança e na prevenção da COVID-19.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação em saúde por meio da oficina de técnica de higienização das mãos foi uma estratégia de baixo custo, cujas implicações podem ter impactos sanitários significativos na prevenção da COVID-19 diante do contexto emergencial de pandemia.

As atividades de extensão podem contribuir para o desenvolvimento de graduandos de Fisioterapia e Enfermagem na aquisição de habilidades e ferramentas para executar ações de prevenção da COVID-19 com crianças. O trabalho em equipe pode auxiliar na implementação de ações que valorizem e reconheçam o potencial infantil de multiplicar informações para adultos e entre seus pares. Explorar o lúdico e a abordagem de oficina auxilia a criança a criar um elo entre o saber e o fazer, levando a que ela dê concretude a conceitos referentes à prevenção e cuidado.

Os profissionais de saúde, entre os quais se incluem os enfermeiros pediátricos, têm responsabilidade ético-profissional com as ações de saúde pública em todas faixas etárias. Sendo assim, a atividade foi uma oportunidade de aprendizagem e troca para graduandos, professores e crianças mediante a situação que se apresentou.

Portanto, reconhecer as crianças como pessoas relevantes nas ações sanitárias pode ampliar a efetividade estratégica da saúde pública no enfrentamento de epidemias, incorporando a escola como um espaço de promoção à saúde.

AGRADECIMENTO

Agradecemos às crianças e professores da instituição participante pela construção do conhecimento.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Priscilla Broca

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    16 Jun 2020
  • Aceito
    13 Set 2020
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