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(Cre)scendo na ausência da mãe: vivências de crianças durante o cárcere materno

RESUMO

Objetivo:

compreender, por meio do brinquedo terapêutico dramático, as vivências de crianças durante o cárcere materno.

Métodos:

trata-se de um estudo fenomenológico à luz do referencial teórico de Winnicott, realizado em um centro assistencial filantrópico da capital paulista, com oito crianças de três a dez anos que participaram de entrevista mediada por sessão de brinquedo terapêutico dramático.

Resultados:

emergiram duas categorias temáticas: A criança sendo sem a mãe: uma tempestade com raios e trovões e A criança crescendo sem a mãe: garoa, chuva forte e alguns raios de sol.

Considerações finais:

as crianças revelaram que, mesmo na ausência da mãe, é possível continuar sendo e crescendo. O brinquedo terapêutico permitiu que as crianças dessem voz às suas vivências, cercada de preocupações e limitações, além de desvelar um contexto social desconhecido.

Descritores:
Criança; Relações Mãe-Filho; Cárcere; Jogos e Brinquedos; Enfermagem Pediátrica

ABSTRACT

Objective:

to understand, through dramatic therapeutic play, children’s experiences during maternal imprisonment.

Methods:

this is a phenomenological study in the light of Winnicott’s theoretical framework carried out in a philanthropic assistance center in the capital of São Paulo, with eight children aged three to ten who participated in an interview mediated by dramatic therapeutic play session.

Results:

two categories emerged: Children being without a mother: a storm with lightning and thunder and Children growing up without a mother: drizzle, heavy rain and some rays of sun.

Final considerations:

children revealed that, even in the absence of their mothers, it is possible to continue being and growing. Therapeutic play allowed children to give voice to their experiences, surrounded by concerns and limitations, in addition to unveiling an unknown social context.

Descriptors:
Child; Mother-Child Relations; Prisons; Play and Playthings; Pediatric Nursing

RESUMEN

Objetivo:

comprender, a través del juguete terapéutico dramático, las vivencias de los niños durante el encarcelamiento materno.

Métodos:

se trata de un estudio fenomenológico a la luz del marco teórico de Winnicott, realizado en un centro asistencial filantrópico de la capital paulista, con ocho niños de tres a diez años que participaron de una entrevista mediada por una sesión de juego terapéutico dramático.

Resultados:

surgieron dos categorías temáticas: El niño sin la madre: una tormenta con relámpagos y truenos y El niño que crece sin la madre: llovizna, lluvia intensa y algunos rayos de sol.

Consideraciones finales:

los niños revelaron que, incluso en ausencia de la madre, es posible seguir siendo y creciendo. El juego terapéutico permitió a los niños dar voz a sus vivencias, rodeados de inquietudes y limitaciones, además de desvelar un contexto social desconocido.

Descriptores:
Niño; Relaciones Madre-Hijo; Prisiones; Juego e Implementos de Juego; Enfermaría Pediátrica

INTRODUÇÃO

O sistema carcerário brasileiro conta com 726.712 indivíduos privados de liberdade, sendo que 42.355 são mulheres(11 Ministério da Justiça (BR), Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias: atualização junho de 2016. Brasília: MJ; 2017 [cited 2019 Apr 19]. 65 p. Available from: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/infopen
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen...
). No período de 1990 a 2016, o aumento da população feminina foi de 567,4%, enquanto a população masculina foi de 220,2%, evidenciando a curva ascendente do encarceramento em massa das mulheres(22 Ministério da Justiça (BR), Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias Infopen Mulheres: junho de 2014. Brasília: MJ; 2014. [cited 2019 Apr 19]. 42 p. Available from: https://www.justica.gov.br/news/estudo-traca-perfil-da-populacao-penitenciaria-feminina-no-brasil/relatorio-infopen-mulheres.pdf
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).

As mulheres brasileiras presas são jovens mães, respondem pelo sustento familiar, possuem baixa escolaridade, são procedentes de extratos sociais desfavorecidos economicamente e exercem atividades de trabalho informal em período anterior ao cárcere. Cerca de 68% possuem vinculação penal por envolvimento com o tráfico de drogas, sendo que, a maioria, ocupa uma posição coadjuvante no crime(22 Ministério da Justiça (BR), Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias Infopen Mulheres: junho de 2014. Brasília: MJ; 2014. [cited 2019 Apr 19]. 42 p. Available from: https://www.justica.gov.br/news/estudo-traca-perfil-da-populacao-penitenciaria-feminina-no-brasil/relatorio-infopen-mulheres.pdf
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).

Em geral, as mulheres encarceradas são solteiras, mães e chefes de família monoparental. Após o encarceramento, os filhos ficam sob a tutela dos avós, principalmente os maternos. Elas buscam manter vínculos familiares, preferindo estar em prisões sem acesso ao estudo e ao trabalho, que auxiliam na remição da pena, desde que próxima aos familiares(33 Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional. Relatório sobre mulheres encarceradas no Brasil. Brasília; 2007[cited 2019 Apr 19]. 61 p. Available from https://carceraria.org.br/wpcontent/uploads/2013/02/Relato%CC%81rio-para-OEA-sobre-Mulheres-Encarceradas-no-Brasil-2007.pdf
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).

A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE) tem como um dos eixos norteadores as modalidades assistenciais, que são ações que devem ser desenvolvidas no cárcere. Dentre essas ações, há referência à atenção à criança/vínculo mãe-filho, que prevê dia de visitação especial para os filhos que se encontram fora da unidade prisional. As visitas devem ser em espaços adequados e planejadas por equipe multidisciplinar(44 Ministério da Justiça (BR). Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil; 2014. Jan 17, Seção 1: p. 75. [cited 2019 Apr 19]. 61 p. Available from: http://www.lex.com.br/legis_25232895_PORTARIA_INTERMINISTERIAL_N_210_DE_16_DE_JANEIRO_DE_2014.aspx
http://www.lex.com.br/legis_25232895_POR...
).

Além da PNAMPE, o Brasil deve atender às recomendações das Regras de Bangkock(55 Conselho Nacional de Justiça (BR). Regras de Bangkok: regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília; 2016. [cited 2019 Jan 29]. 24 p. Available from: https://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2012/09/Tradu%C3%A7%C3%A3o-n%C3%A3o-oficial-das-Regras-de-Bangkok-em-11-04-2012.pdf
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) e do Estatuto da Criança e do Adolescente(66 Presidência da República (BR). Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília; 1990 [cited 2019 Jan 29]. 207 p. Available from: http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/camara/estatuto_crianca_adolescente_9ed.pdf
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) (ECA), que ressaltam a importância da máxima oportunidade do encontro entre mãe e filho, embora isso não ocorra no cotidiano prisional.

No Brasil, não há dados específicos de como vivem os filhos de mulheres encarceradas. Estudo realizado em uma prisão feminina do estado de São Paulo, com 150 mulheres, evidenciou a existência de 441 filhos, sendo a média de idade 7,5 anos e, em 20% dos casos, o pai também estava encarcerado. Apenas 53,3% das crianças souberam da prisão materna e, dessas, 24% apresentaram-se tristes e inconsoláveis(77 Ormeno GR, Fogo JC, Santini PM, Williams LCA. Children of incarcerated women in Brazil: vulnerability and traumatic experiences in their lives. JOLLAS. 2016;8(2):10-7. doi: 10.18085/1549-9502-8.2.10
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).

Filhos de mães encarceradas estão predispostos a maiores riscos de desajustamento(88 Dallaire DH, Zeman JL, Thrash TM. Children's experiences of maternal incarceration-specific risks: predictions to psychological maladaptation. J Clin Child Adolesc Psychol. 2015;44(1):109-22. doi: 10.1080/15374416.2014.913248
https://doi.org/10.1080/15374416.2014.91...
)-99 Davis L, Shlafer RJ. Mental health of adolescents with currently and formerly incarcerated parents. J Adolesc. 2017;54:120-34. doi: 10.1016/j.adolescence.2016.10.006
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). Diante disso, instituições americanas, inglesas e australianas têm buscado, por meio de programas, fortalecer os laços familiares, reconhecendo as necessidades especiais de mães e filhos. Os objetivos incluem aprimorar habilidades parentais e diminuir conflitos entre os cuidadores e as mães(1010 Tremblay MD, Sutherland JE. The effectiveness of parenting programs for incarcerated mothers: a systematic review. J Child Fam Stud. 2017;26:3247-65. doi: 10.1007/s10826-017-0900-8
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)-1111 Miller AL, Weston LE, Perryman J, Horwitz T, Franzen S, Cochran S. Parenting while incarcerated: tailoring the strengthening families program for use with jailed mothers. Child Youth Serv Rev. 2014;44:163-70. doi: 10.1016/j.childyouth.2014.06.013
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).

O Programa Visita Estendida, implantado em uma penitenciária americana, possibilita visitas prolongadas aos sábados e atividades grupais organizadas pelas mães. Os benefícios apontados foram a oportunidade de construir e manter um relacionamento com os filhos, motivação e crescimento pessoal(1212 Schubert EC, Duininck M, Shlafer RJ. Visiting mom: a pilot evaluation of a prison-based visiting program serving incarcerated mothers and their minor children. J Offender Rehabil. 2016;55(4):213-34. doi: 10.1080/10509674.2016.1159641
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).

Entretanto, programas visando à manutenção do relacionamento de mães encarceradas com seus filhos são inexistentes no Brasil. Além disso, não há produção científica e/ou sites institucionais que descrevam iniciativas com essa finalidade.

Assim, considerando a importância da saúde da criança, acreditamos que compreender as vivências de crianças durante o cárcere materno possibilitará proposições que abarquem filhos e mães no cárcere, nos âmbitos do ensino, da assistência e da pesquisa em enfermagem pediátrica.

OBJETIVO

Compreender, por meio do brinquedo terapêutico dramático, as vivências de crianças durante o cárcere materno.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pela diretoria do centro assistencial onde foi realizado e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo.

Os responsáveis pelas crianças comparecerem à instituição, ocasião em que foram informados sobre o objetivo do estudo. A partir da autorização dos responsáveis, com consequente assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), as crianças foram convidadas a brincar apresentando-se o Termo de Assentimento da Criança, explicando a pesquisa por meio de desenhos elaborados para este fim.

As crianças que concordaram em participar foram convidadas para as sessões de brinquedo terapêutico dramático (BTD), que ocorreram em sala privativa no centro assistencial. Foi assegurado o sigilo e o anonimato, sendo seus nomes substituídos por nomes de personagens de contos de fadas escolhidos por elas próprias.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, foram respeitados os aspectos éticos para pesquisas envolvendo seres humanos preconizados pela Resolução CNS/MS 466/12 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)(1313 Ministério da Saúde (BR). Resolução nº CNS/MS 466/12. Dispõe diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Ministério da Saúde. Brasília: MS. [Internet]. 2012 [cited 2019 Feb 12]. Available from: http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2013/06_jun_14_publicada_resolucao.html
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).

Tipo de estudo e referencial teórico

Trata-se de um estudo fenomenológico; como referencial teórico, adotaram-se conceitos essenciais sobre o desenvolvimento emocional do ser humano contidos nas obras de Donald Woods Winnnicott(1414 Winnicott DW. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes; 2011. 304 p.). A psicanálise de Winnicott pode fundamentar uma pesquisa fenomenológica, porque Winnicott, assim como Heidegger, compreendem o cuidado de forma integradora. Winnicott entende o ser humano não como um objeto da natureza, mas como uma pessoa que, para existir, precisa do cuidado e da atenção de outro ser humano(1515 Loparic Z. Origem em Heidegger e Winnicott. Nat Hum[Internet]. 2007 [cited 2019 Oct 10];9(2):243-74. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302007000200002
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)-1616 Santos ES. Winnicott e Heidegger: indicações para um estudo sobre a teoria do amadurecimento pessoal e a acontecência humana. Nat Hum [Internet]. 2007 [cited 2019 Oct 20];9(1):29-49. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302007000100002
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).

O bebê nasce com tendências herdadas que o levam a crescer. Mãe e bebê, paulatinamente, vão se familiarizando um com o outro, e o desenvolvimento vai acontecendo, embora dependa de um ambiente satisfatório. Um ambiente é considerado satisfatório quando se adapta às necessidades individuais da criança. A expressão ‘mãe satisfatória’ ou ‘mãe suficientemente boa’ diz respeito a atender às necessidades que a criança precisa, e a mãe, geralmente, é capaz de fazê-lo(1414 Winnicott DW. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes; 2011. 304 p.).

Assim, entendemos o desenvolvimento como um processo contínuo que se dá em três momentos: dependência absoluta, dependência relativa e autonomia relativa. Portanto, o cuidado que os pais dedicam ao bebê é uma necessidade absoluta, pois um bebê privado de afeto poderá ter problemas emocionais à medida que cresce(1717 Dias EO. A Teoria do Amadurecimento. Rio de Janeiro: Imago; 2017. 328 p.).

Contudo, receber afeto não significa uma vida sem lágrimas. Mesmo o mais carinhoso e compreensivo ambiente familiar não perdura eternamente, o que não significa, necessariamente, problemas. Uma criança saudável pode empregar qualquer recurso que a natureza oferece para defesa contra a angústia e o conflito, sendo que, à medida que cresce, vai encontrando novos recursos. O brincar é um desses recursos(1818 Winnicott DW. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: LTC; 1982. 272 p.).

A criança procura outras crianças, pois a brincadeira possibilita relações emocionais, é prazerosa, mas também colabora no domínio das angústias. O excesso de angústia conduz à brincadeira repetida, podendo ser compulsiva. A criança também brinca para escoar o ódio e a agressividade. Essa é benéfica, quando expressa de forma aceitável. Assim, a criança sente que está sendo honesta, que não precisa esconder o que sente. Dessa forma, brincando, a criança vai adquirindo experiências internas e externas(1818 Winnicott DW. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: LTC; 1982. 272 p.).

Assim, Winnicott vê a brincadeira como universal, como saúde, pois brincar facilita o desenvolvimento, conduz aos relacionamentos grupais e é uma forma de comunicação(1919 Winnicott DW. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: LTC; 1975. 203 p.). Nesse contexto, o brincar foi o modo natural de acessar as vivências das crianças durante o cárcere materno.

Esta investigação foi conduzida e estruturada com referência nos Critérios de Consolidação para Relatórios de Pesquisa Qualitativa (COREQ)(2020 Tong A, Sainsbury P, Craig J. Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ):a 32-item checklist for interviews and focus groups. Int J Qual Health Care. 2007;19(6):349-57. doi: 10.1093/intqhc/mzm042
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).

Procedimentos metodológicos

As entrevistas fenomenológicas foram mediadas por sessões de BTD, técnica estruturada que permite a compreensão dos sentimentos e das reações emocionais da criança(2121 Green CS. Understand children's need through therapeutic play. Nurs. 1974;4(10):31-2.). Por meio do BTD, a criança exterioriza sentimentos e revive situações desagradáveis, na tentativa de dominá-las. Pode ser utilizado para qualquer criança e em qualquer local que seja conveniente, podendo, cada sessão, variar de 15 a 45 minutos(2222 Vessey JA, Mahon MM. Therapeutic play and the hospitalized children. J Pediatr Nurs [Internet]. 1990 [cited 2019 Feb 22];5(5):328-33. Available from: https://www.pediatricnursing.org/article/0882-5963(90)90004-S/pdf
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).

As sessões de BTD duraram 45 minutos e foram realizadas por uma das pesquisadoras, individualmente ou em dupla, quando as crianças eram irmãos, sem a presença das famílias, por opção das mesmas, e se iniciaram, sem pergunta relativa ao cárcere materno ainda por solicitação das famílias, apenas com um convite para brincar, o que não é um empecilho ao método fenomenológico, uma vez que a criança foi lançada no mundo que envolve o cárcere materno(2323 Giorgi A. Phenomenology and psychological research. Pittsburgh: Duchesne University Press; 1985. 226 p.)-2424 Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Moraes; 2004. 110 p.).

O material utilizado para as sessões de BTD foi acondicionado em caixa plástica, contendo bonecos de pano representando a família (avós, pais, filhos), bonecos plásticos, fantoches, animais, utensílios domésticos, carrinhos, material gráfico. Esses brinquedos foram selecionados a partir da recomendação da literatura específica, a fim de proporcionar à criança condições para dramatizar situações significativas(2121 Green CS. Understand children's need through therapeutic play. Nurs. 1974;4(10):31-2.).

Cenário do estudo

O cenário deste estudo foi um centro assistencial filantrópico, localizado na capital paulista. Trata-se de uma entidade que tem por finalidade prestar assistência médico-odontológica e socioeducativa à população.

Fontes de dados

Participaram oito crianças com idades entre três e dez anos, que estavam vivenciando o cárcere materno, indicadas pela assistente social, enfermeira e pedagoga do referido centro assistencial. A seguir, o Quadro 1 apresenta as crianças com seus respectivos nomes fictícios, suas idades, tempo de afastamento das mães e os familiares responsáveis.

Quadro 1
Crianças participantes do estudo, São Paulo, Brasil, 2020

Coleta e organização dos dados

As entrevistas mediadas pelo BTD ocorreram de março de 2015 a dezembro de 2016, foram gravadas em gravador digital e os comportamentos das crianças anotados em diário de campo, uma vez que a filmagem em vídeo pode descaracterizar a forma originária do fenômeno(2323 Giorgi A. Phenomenology and psychological research. Pittsburgh: Duchesne University Press; 1985. 226 p.)-2525 Fonseca MRA, Campos CJG, Ribeiro CA, Toledo VP, Melo LL. Revealing the world of oncological treatment through dramatic therapeutic play. Texto Contexto Enferm. 2015;24(4):1112-20. doi: 10.1590/0104-0707201500003350014
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). As transcrições das sessões de BTD ocorreram logo após seu término.

O número de sessões de BTD variou entre as crianças, de acordo com a disponibilidade da família. Contudo, todas as crianças tiveram uma sessão de encerramento, para compreender o término da atividade.

Referencial metodológico e análise dos dados

As sessões de BTD, juntamente com as descrições do diário de campo de cada criança, foram consideradas o discurso fenomenológico, organizado de acordo com os passos da pesquisa fenomenológica: descrição - é o momento em que o pesquisador, por meio da consciência, interroga e descreve o fenômeno; redução - a partir da reflexão intuitiva, chega-se à essência do fenômeno e compreensão, que é a interpretação do fenômeno, ou seja, quando o pesquisador se apropria do fenômeno e o projeta(2424 Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Moraes; 2004. 110 p.).

Encerrou-se a realização das sessões de BTD, quando os discursos se mostraram consistentes e suficientes, ou seja, quando se atingiu a saturação teórica, o que significa que a partir da descrição e da redução, por meio de um processo analítico constante, os pesquisadores observaram que novos elementos deixaram de surgir na brincadeira. Neste momento, o adensamento teórico é palpável o suficiente para desvelar o fenômeno, na perspectiva do pesquisador(2626 Frank JR. I can't get no saturation: a simulation and guidelines for sample sizes in qualitative research. PLoS One [Internet]. 2017;12(7):e0181689. doi: 10.1371/journal.pone.0181689
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).

Emergiram duas categorias temáticas: A criança sendo sem a mãe: uma tempestade com raios e trovões e A criança crescendo sem a mãe: garoa, chuva e alguns raios de sol.

RESULTADOS

A criança sendo sem a mãe: uma tempestade com raios e trovões

As crianças representam a nova jornada, explicitando, na brincadeira, as mudanças bruscas que ocorreram após o cárcere materno. Mudam-se para outras residências, geralmente dos avós maternos, convivem com outros familiares e/ou agregados que já conheciam, mas não encontravam frequentemente ou até com estranhos, que não participavam de seu cotidiano. Na nova residência, a cama, o quarto, o banheiro, a comida, os brinquedos, as regras, tudo é novo, tudo causa estranhamento.

Criança (C) brinca de casinha, faz comida para os bonecos menino e menina. Dá voz a ambos os bonecos, ora como menino, ora como menina, e diz, como menina: vamos almoçar? O almoço está pronto, mas aqui não tem feijão e não tem tomate. Aqui é a outra casa. O menino responde: que casa é essa? Menina: eu nunca vim nessa casa, é da mãe do seu pai (Maria, 7 anos).

Criança arruma os brinquedos de cozinha: vou fazer leite com chocolate. Ixi, esqueci, aqui só tem café (Chapeuzinho Vermelho, 3 anos).

Branca de Neve arruma todos os brinquedos organizando quarto, sala e cozinha. No quarto, coloca na cama os avós, o menino, o cachorro e o bebê. Pega uma toalha e estica na sala. Olha para a pesquisadora e diz: o quarto está muito cheio. Ela dorme na sala, mas não tem cama, só um ‘endrendon’ e fica muito duro, mas um dia ela vai voltar.

P: voltar?

C: voltar para casa quando a mãe dela cantar a liberdade. A mãe dela está presa, de castigo, brigou com o guarda [...]. Agora não pode sair, desobedeceu (Branca de Neve, 9 anos).

Além da casa, as crianças começam a estudar em novas escolas, onde as outras crianças e os professores são desconhecidos e é preciso adaptar-se. Alguns podem ficar sem estudar por meses, pois não há vagas e/ou os responsáveis não tem condições financeiras de comprar os novos materiais escolares e os uniformes necessários.

Cinderela inicia a sessão de BTD arrumando os brinquedos: vamos brincar de escolinha. Eu sou a professora e você é a menina nova, está bom?

P: o que eu faço?

C: você vai entrar na classe e dizer bom dia para a professora Marta, pode começar.

P: bom dia, professora Marta.

C: bom dia, que roupa é essa? Você não tem uniforme? Não tem? Porque você mudou de escola agora. Mas fala para sua avó comprar logo porque nessa escola tem que usar uniforme e tem que trazer o material completo porque ninguém pode emprestar. Senta aqui perto da minha mesa e faz essa lição.

Sento a boneca e pego o lápis que ela me entrega junto com uma folha.

C: você não sabe? Não te ensinaram nada na outra escola? Eu vou te ensinar, mas você tem que prestar atenção e não conversar (Cinderela, 9 anos).

Simbad explora os brinquedos e pergunta para a pesquisadora: criança de 10 anos tem que estar em que série?

P: em que série?

C: 5º ano, 4ª série, mas eu atrasei. Mudei de casa e não fui para a escola nova. Não tinha vaga. O bebê conseguiu a minha vaga.

P: bebê?

C: é, o bebê é o dono.

P: dono do que?

C: da favela. Ele deu cesta básica para minha avó. Ele ajuda porque é o dono, onde eu morava não tinha dono (Simbad, 10 anos).

A criança sendo sem a mãe vai conhecendo novas realidades. Branca de Neve relata saber o porquê da ausência da mãe. Já a avó de Peter Pan refere que ele lhe foi entregue com oito dias de vida e que nunca falou sobre a mãe para ele. Contudo, o brincar de Peter Pan evidencia o oposto.

Criança abre a caixa de brinquedos e começa a explorá-los. Ao encontrar as algemas, fica muito empolgado. Pega-as, vai ao meu encontro do outro lado da mesa: coloca as mãos para trás agora [fala gritando]. Coloco minhas mãos nas costas. A criança me algema e diz: você está presa porque você roubou.

P: e agora?

C: você vai ficar sem sua mãe (Peter Pan, 4 anos).

A mãe de Peter Pan foi presa por roubo, o que mostra que mesmo quando a criança não é comunicada sobre o porquê da ausência da mãe, ela vai, paulatinamente, observando os adultos que a cercam e suas conversas. Assim, ela junta as informações, peça a peça, como em um quebra-cabeça, encontrando respostas para a ausência materna. Outra novidade exposta por Simbad é que o ambiente onde ele reside com a avó tem “dono”. Trata-se do “chefe” do tráfico de drogas do local onde sua avó reside.

Assim, além das mudanças impostas pelo encarceramento da mãe, algumas crianças estão expostas a outras vulnerabilidades, como residir em um ambiente controlado por indivíduos responsáveis pelo comércio de drogas.

O brincar das crianças mais velhas, por compreenderem a nova realidade e o que a causou, traz símbolos assustadores, como tempestades, raios e trovões, o que nos permite apreender o tamanho do impacto do encarceramento materno.

Maria organiza os brinquedos em uma festa no quintal: vamos fazer um churrasco, uma festa para comemorar. Comemorar a família. Todos juntos, comendo, rindo, as crianças brincando, um montão de gente, irmãos [...]. Eles estavam muito felizes, mas de repente o sol foi embora e a tempestade começou, tinha raio e trovão, inundou tudo e levou toda a felicidade. Foi tanta mudança que teve até incêndio. Agora eles moram de favor e sem mãe (Maria, 7 anos).

Branca de Neve desenha um jardim em uma folha e depois coloca o desenho como cenário: olha que casa linda, tem até jardim! As crianças estão brincando de bola. A família está dentro da casa [...] pega as massas de modelar nas cores verde, amarela e vermelha e faz bolinhas para as crianças brincarem. Pega a massa de modelar na cor preta e faz ‘cobrinhas’ em volta das crianças. Corre, corre, leva as crianças para dentro. São raios e trovões. A mãe foi presa. A casa caiu. Sem a mãe, a casa cai (Branca de Neve, 9 anos).

É possível perceber o papel que a mãe desempenha no cotidiano doméstico, mesmo que, por vezes, esse seja permeado por atividades ilícitas, como o tráfico de drogas.

Peter Pan ‘constrói’ dois prédios com os blocos de montar com uma estrada entre eles. Dois carrinhos vão e voltam nessa estrada: os carrinhos vão lá.

P: onde?

C: no prédio do delegado, mas ele não deixa entrar, então o carrinho azul volta para casa. O carrinho vermelho vai lá no prédio do delegado, mas ele não deixa entrar de novo, então volta para casa. Não dá para entrar nunca (Peter Pan, 4 anos).

Aladin organiza os brinquedos em uma casa e uma floresta com animais. Coloca o boneco em cima do caminhão e vai da casa até a floresta. Quanto chega lá, o boneco desce, mas quando o leão ruge, o boneco corre, sobe no caminhão e volta para casa. O boneco faz esse caminho diversas vezes e Aladin permanece em silêncio. Após, aproximadamente, 20 minutos Aladin está com a região frontal da cabeça com diversas gotículas de suor. Ele suspira alto e fala: não dá, o leão não deixa o menino chegar perto, ele é perigoso e a floresta é perigosa também. Ninguém pode chegar perto, que nem no prédio que a minha mãe está, é perigoso também. Faz o boneco voltar para casa, deita-o na cama, em decúbito ventral, com a cabeça escondida pelos braços.

P: o que aconteceu com ele?

C: exausto [suspira novamente] (Aladin, 9 anos).

Na ausência da mãe, os outros membros da família são acionados, porém a participação desses membros deve ser temporária. Cinderela, em uma de suas brincadeiras de escola, dramatiza uma conversa entre a professora e sua tia.

C: eu vou ser a professora Marta no dia da reunião e você a tia.

P: e o que eu falo para a professora Marta?

C: você fala que quer saber da Vanessa, se ela está aprendendo e se tirou nota boa. Vamos começar. Criança pega as duas bonecas mulheres, fica com uma e entrega a outra para a pesquisadora e diz: bom dia a todos, vou conversar com todas as mães e as tias e contar sobre as notas. Você veio saber da Vanessa?

P: sim, a Vanessa tirou notas boas?

C: você é a mãe dela?

P: não, sou a tia.

C: ela mora com você enquanto a mãe está presa? [sussurra]

P: sim.

C: ela tirou umas vermelha e umas azul, mas agora ela está melhor, porque ela estava muito triste, não prestava atenção, mas eu coloquei ela sentada perto de mim para ela não repetir de ano. Mas, quando a mãe dela voltar, ela vai melhorar mais ainda. Fala para ela fazer toda a lição, que eu dou estrela. [fala gritando]

P: vou falar.

Cinderela desfaz a escola e organiza outra brincadeira. Enquanto arruma os brinquedos para outra brincadeira, há lágrimas nos seus olhos e ela as enxuga.

P: você quer parar de brincar?

C: não, quero continuar, quero te contar mais [...] (Cinderela, 9 anos).

João e Maria explicitam preocupação com as questões financeiras.

Maria organiza os brinquedos: vamos brincar de mercado. Pega as notas de dinheiro e organiza por valores iguais. Tia, se esse dinheiro fosse de verdade, dava para comprar uma casa? [...] nós estamos sem casa, morando de favor; nosso barraco pegou fogo, queimou tudo, meus cadernos, minha mochila, o uniforme do João, as roupas da minha avó. Se eu tivesse dinheiro, eu comprava uma casa.

João: nem com essas moedas dava para comprar uma casa [mostra as moedas de plástico]. Queimou meu tênis também, meu avô está erguendo outro barraco, mas vai demorar um pouco porque o material é caro.

Maria pega o dinheiro de papel, coloca ao seu lado com a arma em cima.

P: o que é isso?

Maria: proteção para o dinheiro e para mim. Na vida, é preciso proteger o dinheiro e se proteger (João, 5 anos e Maria, 7 anos).

Nesse novo contexto, exposta a vulnerabilidades sociais, Maria verbaliza que ter uma arma de fogo é necessário, não só para proteger o patrimônio, mas também a própria pessoa, o que evidencia sentimento de insegurança. Assim, na ausência mãe, diante dessa nova realidade, por vezes, com fatores limitantes, as crianças vão crescendo.

A criança crescendo sem a mãe: garoa, chuva e alguns raios de sol

Após as diversas experiências que a criança vivencia em função do cárcere materno, é necessário se reorganizar internamente para continuar a viver. Afinal, não há outro caminho senão crescer, mesmo sem a mãe.

Nesse caminho, além dos familiares, há vizinhos, amigos, padrinhos, professores. Embora nem sempre eles saibam o que fazer, buscam ajudar, o que já é um consolo para as crianças, pois o sofrimento é latente, emergindo nas mais diferentes situações de vulnerabilidade a que são expostas.

Simbad organiza os brinquedos: vamos brincar de comércio. Aqui vão ser as ruas e aqui as lojas. Você trabalha nessa loja, vai ser a loja de livros e de cadernos, papel, lápis e caneta. Eu vou ser a polícia. Vou ficar andando pelas lojas para ver se não tem ninguém roubando. Simbad coloca o boneco cliente na loja de livros. Fica olhando para o boneco e o aborda: deixa eu ver o seu bolso? [Simbad fala como policial e como cliente].

C como cliente: eu não fiz nada, senhor.

C como policial: então, me mostra o seu bolso.

Simbad faz o boneco cliente correr e corre atrás com a arma nas mãos.

C como policial: polícia, para ou eu atiro. O boneco continua a correr e Simbad faz o som de tiros, o boneco cai. Ele olha para mim e diz: ele estava roubando a sua loja. Ele fugiu, mas agora está morto. Era bandido, ladrão. Eu vi um ladrão morto de verdade perto do metrô. A polícia estava lá. Tinha dois ladrões, um morto no chão e o outro com algema, não sei se era ladrão ou se era traficante [...] (Simbad, 10 anos).

Maria e João brincam de polícia e ladrão. Ela é a polícia e ele o ladrão por decisão dela. Embora ele não goste, aceita a brincadeira. Ela o algema: você vai contar o que você fez [fala gritando].

João: eu não fiz nada [fala choroso]. Não quero brincar disso, tira isso de mim [refere-se às algemas].

Maria se mostra muito irritada, retira as algemas e diz, aos gritos: você não vem brincar no outro dia, entendeu?

João não responde, fica cabisbaixo. Maria começa a contar o dinheiro de papel com agressividade. Fala sozinha: se eu tivesse esse dinheiro, eu ia mandar em todo mundo. Não me obedeceu, eu mando matar. Pega o revólver e aponta para a janela.

João: a avó não gosta que você fala assim.

Maria: cala a sua boca, você não é minha mãe para mandar em mim e a avó também não é minha mãe para mandar em mim. Quem tinha que mandar não está aqui (João, 5 anos e Maria, 7 anos).

As crianças dramatizam situações violentas, sendo que Maria, desde a primeira sessão de BTD, demonstrou momentos de agressividade. Em uma das sessões, a avó pediu para trazê-la sozinha, devido ao comportamento agressivo durante a semana.

Maria chega à sessão de BTD, não me cumprimenta, entra na sala, abre a caixa de brinquedos e começa a explorar. Pega o dinheiro, o revólver, a tesoura, a seringa, coloca esses objetos em cima do dinheiro, pega uma folha de papel e risca com força, usa lápis preto e depois guache preto. Pinta com o dedo, pinta quatro folhas com tinta guache preta. Essa atividade dura, aproximadamente, 20 minutos. Ela está suando, suspira alto e as pernas balançam na cadeira.

P: Maria, você quer me contar o que são esses desenhos?

Maria não responde, continua a pintar a folha com tinta guache preta e, em determinado momento, a folha rasga. Ela fica observando, estática e começa a chorar. Primeiro, em silêncio, depois, em prantos, com as mãos no rosto. Coloco a minha cadeira ao lado da dela e coloco a mão no seu ombro. Ao sentir a minha mão, ela se retrai e eu retiro a mão, permanece chorando. Tento novamente colocar a mão em seu ombro e, dessa vez, Maria permite. Após alguns minutos, ela se vira e me abraça. Chora convulsivamente, mas, aos poucos, vai se acalmando até parar de chorar.

P: o que você está sentindo?

Maria: muita saudade dela, da minha mãe, meu pulmão está doendo.

P: e quando você sente isso, o que você faz?

Maria: bato no João, bato em qualquer um.

P: e depois?

Maria: fico triste, porque não gosto de bater (Maria, 7 anos).

É possível perceber o sofrimento de Maria, pois, com sete anos, é muito difícil vivenciar essas experiências e sair ilesa. Mesmo que a família os acolha, nem sempre se sentirão à vontade, pois algo estará faltando e viver com essa lacuna não é fácil para ninguém, principalmente para crianças. Portanto, nenhum dia é igual ao outro. Para alguns, há só garoa, já em outros, há chuva forte, como exemplifica Cinderela.

Cinderela está animada, começa a desenhar, dividindo a folha em duas partes. Em uma das partes, faz bandeirinhas com várias cores e uma barraca de doces. Faz pequenos pontinhos pela folha. Na outra parte, faz uma árvore preta, pinta o céu de cinza e faz chuva, e desenha por 15 minutos: o que você acha do meu desenho, tia?

P: bonito.

C: você acha bonito as duas partes?

P: você acha?

C: gosto mais dessa parte [mostra a parte colorida]. Sabe o que é isso? [refere-se ao desenho]. Minha vida, aqui chove forte e aqui chuva fininha, garoa. Cinderela desenha um sol no lado colorido: e, às vezes, tem um pouco de sol. O bebê é o sol agora e você também é o sol (Cinderela, 9 anos).

As brincadeiras não deixam dúvidas do sofrimento que permeia a vida dos filhos de mães encarceradas. São crianças tentando crescer, tentando entender, tentando ser em um mundo nem sempre seguro, diante das mais diversas ameaças, ora explícitas, ora nem tanto. Sem a mãe, abre-se uma lacuna em suas histórias que, aos poucos, vai sendo preenchida com as novas descobertas intrínsecas ao desenvolvimento infantil, porém, esses momentos, tão iluminados para algumas crianças, não têm a mesma luminosidade para essas. Mas, a vida segue seu rumo, ainda que, por vezes, essas crianças necessitem de lanternas para continuarem seus caminhos.

DISCUSSÃO

Emergiu, no brincar das crianças, o caminho tortuoso percorrido após a prisão da mãe. Ser sem a mãe e crescer sem a mãe são partes desse caminho, vivenciados, por vezes, com tristeza e sofrimento. Para percorrê-lo, a criança se utiliza da tendência ao amadurecimento.

Contudo, para Winnicott, a idade da criança no momento em que é separada da mãe é um fator importante para as consequências que virão, pois é apenas a partir dos dois anos que a compreensão se amplia e a criança passa a interagir com as situações que a cercam(1414 Winnicott DW. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes; 2011. 304 p.).

Algumas crianças não viveram com as mães toda a fase de dependência absoluta, como Peter Pan, que foi entregue à avó paterna na primeira semana de vida e Chapeuzinho Vermelho, que estava com um ano de idade à época da separação.

Todavia, as tarefas de integração no tempo e no espaço prosseguem mesmo sem a mãe, com a ajuda de uma substituta. Seguir amadurecendo coloca a criança diante de desafios, como os processos de desadaptação e de desilusão, que são benéficos, porque a impulsionam a compreender que o mundo já existia antes dela e continuará existindo depois de sua morte(1919 Winnicott DW. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: LTC; 1975. 203 p.).

O brincar, para Winnicott, acontece em uma terceira área, intermediária à realidade interna e à realidade externa, embora essas duas realidades participem. É o espaço potencial, em que, pela sobreposição das realidades, a criança traz objetos da realidade externa revestidos com significados simbólicos vinculados ao sentimento de existência(1919 Winnicott DW. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: LTC; 1975. 203 p.), o que foi possível apreender no brincar de todas as crianças desse estudo.

A realidade externa também foi exposta pelas crianças durante o brincar. Diz respeito à nova escola, que vem acompanhada pelos novos professores e amigos e a relação desses com as crianças. Trata-se de um espaço desconhecido, é apenas com o tempo que a criança se sentirá familiarizada, à medida que haja repetição da experiência(2727 Oliveira CL. Brincar para ser: um ensaio sobre a importância do direito fundamental de brincar na construção da subjetividade. Rev Bras Dir Gar Fundam [Internet]. 2015 [cited 2019 Apr 20];1(2):120-42. Available from: https://www.indexlaw.org/index.php/garantiasfundamentais/article/view/744/0
https://www.indexlaw.org/index.php/garan...
). Outra situação foi a dramatização de Peter Pan, ao prender a pesquisadora por roubo e afirmar que, quando ocorre a prisão, alguém fica sem a mãe, o que expôs sua compreensão a respeito do cárcere materno.

Como a ausência da mãe se deu de forma repentina, algumas crianças dramatizaram histórias que explicitam o antes e o depois, com e sem a mãe, como Maria, que retrata uma festa de família que termina com uma tempestade, raios e trovões, e Branca de Neve, que inicia a dramatização com crianças brincando e, posteriormente, afirma, sem a mãe, “a casa cai”.

O que as crianças querem representar, diz Winnicott, é o verdadeiro, o assustador e o inaceitável de uma realidade(2828 Winnicott DW. Conversando com os pais. São Paulo: Martins Fontes; 2003. 170 p.). Ter a mãe encarcerada e não conseguir acessá-la é incabível, como mostram Peter Pan e Aladin, que após várias tentativas de aproximação, sem sucesso, se dizem exaustos.

Na ausência da mãe, por necessidades intrínsecas à infância, outros familiares são acionados. Duas “mães” podem representar, para a criança, amor e ódio, direcionado ora a uma, ora a outra(2828 Winnicott DW. Conversando com os pais. São Paulo: Martins Fontes; 2003. 170 p.). O ódio pode trazer a culpa e, com ela, a agressividade. Entretanto, Winnicott não acredita que o ódio e a agressividade sejam emoções ruins. Ambientes satisfatórios devem tolerar a expressão desses sentimentos de modo aceitável(1818 Winnicott DW. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: LTC; 1982. 272 p.).

A ausência da mãe também criou dificuldades financeiras. João e Maria, insistentemente, brincam com dinheiro, sempre trazendo à tona a questão de estarem sem lugar próprio para morar, além da necessidade do uso de armas para se sentirem seguros. Essas situações evidenciaram que, nem sempre, a criança sabe diferenciar o certo e o errado.

Winnicott considera que o ideal é adquirir esse conceito naturalmente, desde que haja condições para tal. A base da moralidade é a experiência do eu verdadeiro e da possibilidade de continuar sendo. Se ao ser ele mesmo, a mãe o ajuda com sua confiança, a afastar os medos, a criança poderá desenvolver seu próprio senso de certo e errado, e a mãe apenas reforçará e enriquecerá as ideias do filho(2828 Winnicott DW. Conversando com os pais. São Paulo: Martins Fontes; 2003. 170 p.).

Assim, de forma mais ou menos explícita, as crianças buscam se apropriar do seu ser, lançando-se na vida apenas com o fundamento do estar vivo e a sua tendência ao amadurecimento, o que para Winnicott é saúde(1717 Dias EO. A Teoria do Amadurecimento. Rio de Janeiro: Imago; 2017. 328 p.). A vida de um indivíduo saudável é caracterizada por medos, conflitos, dúvidas, frustrações, tanto quanto por características positivas. O primordial é que a criança sinta que está vivendo a sua vida(1414 Winnicott DW. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes; 2011. 304 p.).

Para adquirir esse senso de existir, as crianças brincaram mostrando um mundo permeado por violência urbana. Para algumas crianças, a agressividade foi o modo de transitar entre o não poder ser e o poder ser, como Maria, que se mostrou agressiva com o irmão e com a própria brincadeira, necessitando de várias sessões de BTD para se sentir segura e perceber o ambiente como satisfatório.

Embora observar a agressividade de uma criança possa causar temor, a agressividade é inata a todo ser humano, no sentido psíquico, pois é ela que mostra ao indivíduo que ele está vivo. Mais preocupante que a própria agressividade é a sua repressão. Para Maria, o ambiente foi satisfatório, para que ela mostrasse, aceitasse e integrasse a agressividade no seu poder ser. Sem isso, a agressividade teria que ser escondida, podendo resultar em violência ou compulsão à destruição(2929 Dias EO. Winnicott: agressividade e teoria do amadurecimento. In: Sobre a confiabilidade e outros estudos. São Paulo: DWW Editorial; 2011. p. 89-123.).

Para Winnicott, o ser humano é aquilo que suas experiências proporcionam, originado do seu ser em busca de interação com o mundo(2929 Dias EO. Winnicott: agressividade e teoria do amadurecimento. In: Sobre a confiabilidade e outros estudos. São Paulo: DWW Editorial; 2011. p. 89-123.), e as crianças, ao brincarem, revelaram suas ricas experiências ao viver sem as mães, sendo que o próprio brincar colaborou nessa interação com o mundo.

Limitações do estudo

As limitações deste estudo estão relacionadas à dificuldade em acessar as crianças e conciliar os afazeres dos responsáveis com a coleta de dados da pesquisa, o que, para algumas crianças, limitou o número de sessões de BTD.

Contribuições para a área de enfermagem

A utilização do BTD possibilitou revelar as vivências das crianças durante o cárcere materno. Considerando que o brinquedo terapêutico tem marco regulador no exercício profissional do enfermeiro, é necessário, de fato, inseri-lo como tema teórico e prático nos cursos de graduação em enfermagem. Instrumentalizar o enfermeiro a utilizar essa estratégia lúdica implica não apenas mudança na assistência, mas também na pesquisa com crianças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou compreender as vivências de crianças durante o cárcere materno, e o que foi revelado, por meio do BTD, foi um mundo cercado de preocupações e limitações, além de uma realidade pouco conhecida e reconhecida como importante para o cuidado à criança.

Há evidências que as dificuldades que as crianças vivenciam durante o cárcere materno podem predispor inúmeros problemas emocionais potencializados pelas vulnerabilidades já existentes. Sem acompanhamento sistemático de saúde, os problemas emergem na escola, o que consome, ainda mais, as famílias.

Criar programas que preconizem a manutenção do vínculo mãe em situação de cárcere e filho é um grande desafio para o contexto penitenciário brasileiro, que não compreende os indivíduos encarcerados como sujeito de direitos. Mas, é preciso pensar além do crime, cuja pena já está em cumprimento, deve-se pensar nas crianças, que precisam ser e crescer como pessoas, com dignidade e cuidado integral.

  • FOMENTO
    O presente estudo recebeu Bolsa Quota Programa Nacional de Pós-Doutorado - PNPD/CAPES.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José De Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Fátima Helena Espírito Santo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    29 Abr 2020
  • Aceito
    15 Jul 2020
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