Ensino em enfermagem sob a perspectiva de egressos

RESUMO

Objetivo:

Correlacionar a satisfação do egresso com sua formação, segundo suas características profissionais e competências gerais.

Método:

Estudo descritivo de delineamento transversal com uma amostra de 192 egressos do curso de Enfermagem de uma instituição de ensino superior privada do município de São Paulo. Os dados foram coletados entre 2016 e 2017.

Resultados:

Os egressos que obtiveram colocação no mercado de trabalho em até um ano (p=0,01) tinham a enfermagem como principal fonte de renda (p=0,011) e ocupação (p=0,014); os que se consideraram bem-sucedidos profissionalmente e os que, se pudessem optar, escolheriam novamente a profissão (p=<0,001), estavam mais satisfeitos com sua formação. A satisfação com a formação foi atrelada às competências adquiridas na formação do egresso como, tomada de decisão (p=0.002), liderança (p=0.004) e educação permanente (p=0.005).

Conclusão:

O estudo mostrou que a maioria dos egressos considera sua formação satisfatória, quando analisada com as variáveis do estudo.

Descritores:
Educação em Enfermagem; Estudantes de Enfermagem; Mercado de Trabalho; Ensino; Competência Profissional

ABSTRACT

Objective:

To correlate the satisfaction of graduates with their training according to their professional characteristics and general competences.

Method:

Descriptive cross-sectional study with a sample of 192 Nursing graduates from a private higher education institution in the city of São Paulo. Data were collected between 2016 and 2017.

Results:

Graduates placed in the job market within one year (p=0.01) had nursing as their main source of income (p=0.011) and occupation (p=0.014); those who considered themselves professionally successful and those who would choose the profession again (p=<0.001), if they could choose, were more satisfied with their training. Satisfaction with training was linked to the competences acquired during graduates’ training, such as decision making (p=0.002), leadership (p=0.004) and continuing education (p=0.005).

Conclusion:

The study shows that most graduates consider their training satisfactory when analyzed with the study variables.

Descriptors:
Education, Nursing; Students, Nursing; Job Market; Teaching; Professional Competence

RESUMEN

Objetivo:

Correlacionar la satisfacción de los graduados con su formación según sus características profesionales y competencias generales.

Método:

Estudio descriptivo transversal con una muestra de 192 graduados de la carrera de Enfermería en una institución privada de educación superior de la ciudad de São Paulo. Los datos se recopilaron entre 2016 y 2017.

Resultados:

Los graduados colocados en el mercado laboral dentro de un año (p=0.01) tenían a la enfermería como su principal fuente de ingresos (p=0.011) y ocupación (p=0.014); los que se consideraban profesionales exitosos y los que, si pudieran elegir, volverían a elegir la profesión (p=<0,001) se mostraron más satisfechos con su formación. La satisfacción con la formación se vinculó con las competencias adquiridas durante la formación de los graduados, como la toma de decisiones (p=0,002), el liderazgo (p=0,004) y la formación continua (p=0,005).

Conclusión:

El estudio muestra que la mayoría de los graduados considera su formación satisfactoria cuando se analiza con las variables de estudio.

Descritores:
Educación en Enfermería; Estudiantes de Enfermería; Mercado de Trabajo; Competencia Profesional

INTRODUÇÃO

Nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) dos cursos de Enfermagem há a descrição do perfil do egresso, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) definidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). As instruções estabelecidas sobre o perfil de egressos indicam as competências e habilidades pautadas na atenção à saúde, tomada de decisão, comunicação, liderança, administração, gerenciamento e educação permanente⁽¹⁾.

Esse perfil do egresso também é analisado pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES), proposta que foi desenvolvida como um avanço para a educação superior e que tem como um dos objetivos, controlar a qualidade do que se faz nas universidades sob três aspectos: instituição, cursos e estudantes⁽²⁾.

Na estrutura organizacional do SINAES, existem 10 dimensões para avaliação interna e externa das Instituições de Ensino Superior (IES). Dentre essas, destaca-se a Dimensão 1, que avalia a Organização Didático-Pedagógica das IES, que tem como um dos indicadores, avaliar o perfil do egresso, valorizando as competências e os conteúdos curriculares previstos e implantados que propiciem o desenvolvimento do futuro profissional⁽²⁾.

Alguns estudos^(3-6) corroboram esta dimensão, com destaque para: seguimento sistemático dos egressos, com descrição das suas opiniões, atitudes e crenças sobre a universidade e sociedade; identificação e avaliação do benefício adicionado pela IES, referente aos pontos fortes e fragilidades do processo de formação de novos enfermeiros frente às demandas do sistema de saúde; checagem do parecer dos empregadores, além dos setores da sociedade civil organizada sobre os ajustes e pertinência na formação profissional e cidadã dos egressos.

Estas informações possibilitam a compreensão e reflexão acerca dos questionamentos relacionados ao ensino superior de Enfermagem, e possibilitam a efetivação de alterações curriculares e estratégias de ensino que aproximem a formação do profissional às demandas da sociedade e mercado de trabalho, como áreas de atuação mais procuradas, setor que mais emprega e se estes profissionais atuam na área de sua formação^(5-7).

Em pesquisa⁽⁸⁾ realizada com egressos, docentes e empregadores, foi elaborado um plano de ação coletiva que continha recomendações essenciais, como plasticidade curricular, reestruturação dos conteúdos, educação permanente, inserção de metodologias ativas e incentivo às atividades práticas e autonomia discente, fornecendo elementos factíveis para aprimorar o currículo do curso de enfermagem pesquisado.

Um estudo⁽⁹⁾ investigou os egressos de enfermagem de uma IES privada e possibilitou a revisão do PPP, com destaque para a relevância do ensino ser voltado para a aquisição de competências, que incorporam a prática do enfermeiro na gerência, assistência, educação e pesquisa, que são as dimensões do processo de cuidar.

Nos cursos de enfermagem, o indicador de avaliação do perfil do egresso ainda é pouco explorado pela gestão educacional das IES. A análise da percepção dos egressos sobre a contribuição do seu curso é fundamental, pois promove o diálogo entre a formação e a práxis. Essa aproximação entre as estratégias educacionais e a realidade em que se pretende atuar pode subsidiar a reflexão sobre as mudanças para aquisição das competências, habilidades e atitudes esperadas do futuro enfermeiro⁽¹⁰⁾.

Outro aspecto avaliativo a ser explorado é a satisfação do egresso, que é considerada como indicador da qualidade do processo ensino aprendizado e prestação de serviço⁽¹¹⁾, e propiciar a sua reflexão e a inserção na sua prática, do melhor que adquiriu durante a construção do seu conhecimento⁽⁴⁾.

OBJETIVO

Correlacionar a satisfação do egresso com sua formação, segundo suas características profissionais e competências gerais.

MÉTODO

Aspectos éticos

A pesquisa foi pautada nas determinações da Resolução No 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde⁽¹²⁾. O Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) foi assinado pelos participantes e o estudo obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa de referência.

Desenho, local do estudo e período

Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal e abordagem quantitativa, sustentado pela ferramenta STROBE. O cenário da pesquisa contemplou uma IES do município de São Paulo (SP) com enfoque nos cursos da área da saúde. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2016 e janeiro de 2017, por meio eletrônico.

População, amostra e critérios de inclusão e exclusão

A população de estudo foi constituída por 200 egressos do curso de Enfermagem da IES concluintes entre os anos de 2012 e 2016, que representavam em torno de 10% do total de egressos formados no período, durante a vigência do PPP, referente às matrizes com período de quatro anos.

Algumas etapas foram realizadas na busca da população do estudo: solicitação da relação dos egressos dos últimos cinco anos na pró-reitoria de graduação; busca do correio eletrônico e telefones dos egressos nos arquivos da coordenação do curso de Enfermagem da IES estudada e consulta em sites de relacionamento e comunidades de enfermagem.

Dos 200 egressos concluintes no período indicado, 197 (98,5%) responderam ao instrumento de coleta de dados. Desses, 192 (96%) responderam todas as questões e fizeram parte da amostra do estudo.

Protocolo do estudo

A coleta de dados foi realizada através de um questionário adaptado e autorizado pela pesquisadora principal do estudo aplicado aos egressos⁽⁴⁾. O referido instrumento sem processo de validação está estruturado em cinco partes, a saber: a primeira com sete itens de caracterização dos egressos; a segunda com 12 itens referentes ao mercado de trabalho como tempo de inserção, vínculo empregatício e carga horária de trabalho; a terceira com um item sobre as competências adquiridas durante a formação, descritas na Resolução CNE/CES 3/2001 do CNE⁽¹⁾; a quarta com cinco itens de processo de formação e satisfação com o curso realizado; e a quinta e última parte com três itens sobre aprimoramento profissional. As questões referentes à satisfação do egresso com o salário e formação constam na segunda e quinta parte do instrumento sob a forma de Escala de Likert⁽¹³⁾.

Nesta pesquisa, foram adaptados os subitens referentes à descrição regional do curso de enfermagem e valor do salário mínimo que constam, respectivamente, na primeira e segunda parte do instrumento. Também foi acrescentado o item sobre as competências adquiridas na formação do egresso.

O instrumento foi inserido no software LimeSurvey 1.9⁽¹⁴⁾ e codificado para sigilo da identidade do participante. Por meio eletrônico (via web), e-mail e rede social, foram enviadas mensagens aos egressos com o convite para participar da pesquisa e o link do software LimeSurvey 1.9 para acesso ao TCLE e ao instrumento.

Análise dos resultados e estatística

Os dados foram analisados com a utilização do software R 3.4.2⁽¹⁵⁾. Para os testes de hipótese, considerou-se o nível de significância de 5%. As tabelas construídas para responder as questões foram descritas por meio de frequências absolutas e relativas. Foi considerada a medida de satisfação de forma contínua (1– Muito insatisfatório à 5– Muito satisfatório) e apresentadas as médias e o desvio padrão para cada categoria. As comparações das médias entre os grupos foram testadas pelos teste não paramétricos de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney⁽¹⁶⁾.

Após a análise dos dados gerados de cada item do questionário, foi realizado o cruzamento das variáveis: satisfação com a formação em enfermagem, com as características profissionais dos egressos; e satisfação com a formação em enfermagem, com a aquisição das competências gerais das DCN, a fim de ampliar a compreensão do escopo deste estudo.

RESULTADOS

A maioria dos egressos participantes desta pesquisa tinha entre 20 e 30 anos (76.6%), eram solteiros (63.5%) e sem filhos (79.2%), com ensino médio em instituição pública (62%), possuíam pós-graduação Lato Sensu (72.1%) ou residência (8,4%). A maioria estava empregada (76.6%), com inserção sem dificuldade no mercado de trabalho nos primeiros 12 meses após conclusão do curso (77.6%), sendo uma quantidade expressiva nos primeiros seis meses (54.7%).

Os egressos indicaram o ganho de até cinco salários mínimos (46.3%) e trabalho de até 40 horas semanais (51.5%), e houve expressivo número de egressos com total de horas trabalhadas acima de 40 horas semanais (46.6%).

A maioria dos egressos atuava no serviço privado (81.1%), estava insatisfeita com o salário (42.2%), e indicou que o trabalho na enfermagem era sua principal receita e ocupação (91.8% e 98.1% respectivamente).

O percentual de enfermeiros exercendo as suas funções na assistência foi bastante elevado (89.2%), e 60,4% se consideravam bem-sucedido na profissão. Apesar de 83.4% dos egressos considerarem a profissão estressante, 63% indicaram que se pudessem escolher novamente sua profissão, escolheriam Enfermagem.

A partir dos dados coletados, foi possível analisar o predomínio dos fatores agregados à satisfação do egresso com sua formação profissional, profissão, renda e emprego relacionados ao mercado de trabalho na enfermagem.

Na Tabela 1, foram identificadas as diferenças nas escalas de distribuição da variável de interesse satisfação com a formação, com valores de p inferiores a 5% (0,05). Os egressos que obtiveram colocação no mercado de trabalho em até um ano, em geral estavam mais satisfeitos com a sua formação (p=0,01). Resultado também refletido na questão sobre dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Os egressos que indicaram essa dificuldade, tiveram satisfação média de 3,79 pontos, contra 4,43 dos que não indicaram (p=<0,001). A satisfação com a formação também foi verificada com relação à situação formal de trabalho (p=0,001), ou seja, mesmo os egressos que estavam desempregados e atuavam em outras áreas, consideraram a sua formação satisfatória.

Tabela 1
Avaliação da satisfação com a formação em enfermagem segundo características profissionais dos egressos do Curso de Graduação em Enfermagem da IES (n=192) formados entre 2012 e 2016. São Paulo, São Paulo, Brasil, 2020.

Variáveis	Muito insatisfatório (%)	Insatisfatório (%)	Neutro (%)	Satisfatório (%)	Muito satisfatório (%)	Média ± dp (n)	p 1
Intervalo até inserção no mercado de trabalho							0.01
1 a 6 meses	2,9	1	2,9	52,4	41	4,28 ± 0,81 (105)
6 a 12 meses	0	2,3	9,1	61,4	27,3	4,14 ± 0,67 (44)
12 a 24 meses	4,2	12,5	16,7	50	16,7	3,62 ± 1,06 (24)
24 a 36 meses	0	25	25	25	25	3,5 ± 1,29 (4)
36 a 48 meses	0	0	20	40	40	4,2 ± 0,84 (5)
Mais de 48 meses	0	30	0	50	20	3,6 ± 1,17 (10)
Situação atual de trabalho							0.001
Desempregado	0	12,9	19,4	48,4	19,4	3,74 ± 0,93 (31)
Ativo, exercendo outro tipo de atividade não relacionada com a Enfermagem	14,3	14,3	7,1	42,9	21,4	3,43 ± 1,4 (n=14)
Ativo, exercendo papel de enfermeiro	1,4	2	4,1	55,1	37,4	4,25 ± 0,75 (147)
Teve/tem dificuldade para encontrar emprego na Enfermagem?							<0,001
Não	0	0	4,1	49	46,9	4,43 ± 0,58 (49)
Sim	1,8	12,5	10,7	55,4	19,6	3,79 ± 0,97 (56)
Salário							0,047
Até 2 sm*	16,7	16,7	0	50	16,7	3,33 ± 1,51 (6)
Até 3 sm*	3,6	0	3,6	57,1	35,7	4,21 ± 0,83 (28)
Até 5 sm*	2,6	5,3	6,6	53,9	31,6	4,07 ± 0,91 (76)
Até 7 sm*	0	0	2,6	48,7	48,7	4,46 ± 0,55 (39)
Até 9 sm*	0	0	10	80	10	4 ± 0,47 (10)
Acima de 9 sm*	0	0	0	40	60	4,6 ± 0,55 (5)
Enfermagem é sua principal fonte de renda?							0,011
Não	14,3	21,4	7,1	35,7	21,4	3,29 ± 1,44 (14)
Sim	1,3	2,6	5,1	54,5	36,5	4,22 ± 0,77 (156)
Enfermagem é a principal ocupação?							0,014
Não	33,3	33,3	0	33,3	0	2,33 ± 1,53 (3)
Sim	0,7	3,3	5,3	53,3	37,5	4,24 ± 0,75 (152)
Considera-se bem-sucedido profissionalmente?							<0,001
Com certeza não	12,5	25	12,5	31,2	18,8	3,19 ± 1,38 (16)
Provavelmente não	0	13,6	31,8	45,5	9,1	3,5 ± 0,86 (22)
Neutro	2,6	2,6	5,3	68,4	21,1	4,03 ± 0,79 (38)
Provavelmente sim	1,4	0	2,8	66,2	29,6	4,23 ± 0,64 (71)
Com certeza sim	0	2,2	0	31,1	66,7	4,62 ± 0,61 (45)
Se pudesse optar, escolheria essa profissão?							<0,001
Com certeza não	13,3	20	0	46,7	20	3,4 ± 1,4 (15)
Provavelmente não	2,9	8,8	14,7	55,9	17,6	3,76 ± 0,96 (34)
Neutro	4,5	4,5	13,6	59,1	18,2	3,82 ± 0,96 (22)
Provavelmente sim	0	1,9	7,7	65,4	25	4,13 ± 0,63 (52)
Com certeza sim	0	1,4	1,4	42	55,1	4,51 ± 0,61 (69)

• Nota:
• ^*
  Salário Mínimo.

Foi identificada significância (p=0,047) entre correlação do salário dos egressos e a satisfação com a formação. Os egressos que ganhavam até nove salários mínimos ou acima disso, apresentaram maior satisfação com sua formação, tinham a enfermagem como principal fonte de renda (p=0,011) e ocupação (p=0,014) e também foram mais satisfeitos com sua formação. Os egressos que se consideraram bem-sucedidos profissionalmente e os que se pudessem optar, escolheriam novamente a profissão, foram os mais satisfeitos com sua formação (p=<0,001).

Na Tabela 2, foi apresentada a satisfação com a formação atrelada às competências gerais descritas nas DCNs que foram adquiridas na formação do egresso, tais como: tomada de decisão (p=0.002), liderança (p=0.004) e educação permanente (p=0.005).

Tabela 2
Avaliação da satisfação com a formação em enfermagem segundo as competências gerais das Diretrizes Curriculares Nacionais dos egressos do Curso de Graduação em Enfermagem da Instituições de Ensino Superior (n=192) formados entre 2012 e 2016, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2020

Variáveis	Muito insatisfatório (%)	Insatisfatório (%)	Neutro (%)	Satisfatório (%)	Muito satisfatório (%)	Média ± dp (n)	p 1
Qual (is) competências gerais das DCNs foram adquiridas durante sua formação?
Atenção à saúde							0,847
Não	3,3	1,6	9,8	52,5	32,8	4,1 ± 0,89 (61)
Sim	1,5	6,1	5,3	53,4	33,6	4,11 ± 0,87 (131)
Tomada de decisão							0,002
Não	3,1	7,7	12,3	55,4	21,5	3,85 ± 0,96 (65)
Sim	1,6	3,1	3,9	52	39,4	4,24 ± 0,8 (127)
Liderança							0,004
Não	1,5	10,3	8,8	57,4	22,1	3,88 ± 0,92 (68)
Sim	2,4	1,6	5,6	50,8	39,5	4,23 ± 0,83 (124)
Comunicação							0,201
Não	1,5	6,1	6,1	60,6	25,8	4,03 ± 0,84 (66)
Sim	2,4	4	7,1	49,2	37,3	4,15 ± 0,9 (126)
Educação Permanente							0,005
Não	2,2	7,5	10,8	53,8	25,8	3,94 ± 0,93 (93)
Sim	2	2	3	52,5	40,4	4,27 ± 0,79 (99)
Administração e Gerenciamento							0,073
Não	1,4	6,8	11	53,4	27,4	3,99 ± 0,89 (73)
Sim	2,5	3,4	4,2	52,9	37	4,18 ± 0,86 (119)

• DCNs: Diretrizes Curriculares Nacionais.

O egresso que possuía estas competências estava mais satisfeito com sua formação, mas mesmo os egressos que declararam não as terem adquirido, se consideraram satisfeitos ou muito satisfeitos com a sua formação.

DISCUSSÃO

A maioria dos egressos pesquisados indicou inserção precoce no mercado de trabalho, atuando como enfermeiros. Esse dado encontra consonância com o estudo realizado na IES privada⁽¹⁷⁾, em que 93,3% dos egressos estavam empregados até o 3º mês após a graduação, e pesquisa⁽¹⁸⁾ em que 48% dos egressos iniciaram as atividades em até seis meses após a conclusão do curso, e a maioria (67%) conseguiu o primeiro emprego em até um ano após a formatura. Assim, pode-se inferir que apesar da crise econômica vivenciada recentemente no Brasil, com alto índice de desemprego e as limitações encontradas pelos egressos na procura da entrada no mercado de trabalho⁽⁸⁾, os egressos pesquisados conseguiram manter a empregabilidade. Isto indica que, apesar das dificuldades econômicas e financeiras, o enfermeiro vem conquistando respeito e credibilidade, revelando a enfermagem como uma profissão promissora, com garantia de prestígio e sucesso social⁽¹⁹⁾.

Com relação ao salário, estudo realizado no Ceará⁽²⁰⁾ indicou que a maioria dos egressos atuando no serviço público ganha de três a quatro salários mínimos e 44,4% realizam mais de 40h semanais. Nesta pesquisa, a maioria indicou ter uma carga horária de trabalho entre 30 e 40h semanais.

A satisfação com a formação dos egressos desta pesquisa está atrelada ao seu status social e renda, que tem como fonte de aquisição o emprego, carreira e salário.

Durante a fase de obtenção do conhecimento, na formação em enfermagem, quando ocorre a identificação do estudante com a atuação profissional, há uma estruturação do processo de aprendizado, acompanhado de um grau adequado de satisfação do egresso⁽⁴⁾. Foi evidenciada a probabilidade de que os egressos satisfeitos com sua formação, também apresentaram satisfação com a sua renda e, portanto, se consideram profissionais de sucesso.

Sobre a satisfação com a formação em enfermagem, considerando a descrição nas competências gerais das DCNs e a identificação do perfil do egresso descrito no Projeto Político Pedagógico da instituição pesquisada, este estudo mostrou que foram evidenciadas as competências, habilidades e atitudes relacionadas com: coordenação do planejamento do cuidado em enfermagem; motivação e atualização técnico-científica da sua equipe; realização do raciocínio clínico e avaliação da atuação da enfermagem em diferentes cenários, com embasamento científico para suas intervenções, possibilitando a autonomia na tomada de decisão da assistência; atuação como promotor da saúde, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania; atenção às necessidades sociais de saúde pautadas no Sistema Único de Saúde (SUS), no perfil epidemiológico da população e na legislação profissional, assegurando a integralidade e humanização do atendimento; gerenciamento através do planejamento, organização e direção e avaliação da assistência e serviços de enfermagem.

Em estudo realizado na IES pública de Minas Gerais⁽¹⁸⁾, foram elencadas as competências recomendadas para uma formação integral do profissional enfermeiro, com ênfase no que está descrito nas DCNs e nos princípios do SUS e destaque para a atuação nos programas de assistência integral; acerca das questões éticas, técnicas e científicas para o exercício da Enfermagem; planejamento e produção do conhecimento científico; educação em saúde; trabalho em equipe e administração de conflitos; papel social em atividades políticas e de planejamento em saúde; coordenação de atividades de equipe de Enfermagem e gestão em saúde.

As competências indicadas acima são evidenciadas nos resultados desta pesquisa e coadunam com o estudo⁽¹⁸⁾, já que os egressos expressaram seu preparo para atuar como agentes sociais nas atividades políticas e de planejamento de saúde e Enfermagem. Em pesquisa realizada no curso de Enfermagem da FAMEMA⁽⁹⁾, os egressos sinalizaram que as mudanças realizadas na instituição contribuíram de forma expressiva, para a prática do cuidado humanizado e fundamentado cientificamente, conferindo-lhes a competência profissional requerida no mundo trabalho, de maior autonomia.

Estudo realizado com egressos de enfermagem de uma IES pública⁽²¹⁾ demonstrou que o exercício da autonomia deve ser fomentado na formação do enfermeiro, para mobilizar sua habilidade de adaptação e criação para decidir o melhor cuidado a ser prestado, bem como a aprovação social do seu desempenho, pois a competência de tomar decisões assertivas e custo-efetivas, com base em evidências científicas, que propiciam a avaliação, sistematização e decisão das condutas relacionadas aos recursos humanos, tecnológicos e assistência qualificada são outros aspectos que fundamentam a atuação dos profissionais de saúde⁽¹⁾.

Estes dados sobre a autonomia e tomada de decisão corroboram o que foi evidenciado neste estudo sobre a satisfação do egresso com sua formação, atrelada à aquisição das competências de tomada de decisão e liderança.

Em estudo⁽²²⁾ realizado com recém-formados do curso de enfermagem, a liderança foi identificada como um desafio para o enfermeiro. Os autores buscaram discorrer sobre o perfil esperado do líder, porém pelas alterações observadas no mundo do trabalho, há a instabilidade e dinamismo dessas características.

Estudo⁽²³⁾ que investigou a visão docente sobre a formação de enfermeiros líderes apontou a responsabilidade, o comprometimento, motivação e o bom humor como características pessoais do líder. É importante que as estratégias de liderança sejam identificadas no contexto atual da enfermagem, cabendo aos docentes atuarem como facilitadores no desenvolvimento desta competência profissional, com valorização do ensino transversal da liderança⁽²⁴⁾.

Sobre as competências de educação permanente e tomada de decisão, a qualificação profissional dos egressos que decidiram investir na sua capacitação foi identificada como um diferencial para o profissional enfermeiro. Neste estudo, a maioria buscou aprimoramento em especializações (72.1%), residência (8,4%) e mestrado (1.6%). Corroborando os resultados dessa pesquisa, estudo realizado com egressos da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo identificou que 63,7% tinham cursado especialização e/ou residência⁽²⁵⁾.

Neste estudo, na análise da satisfação dos egressos com a formação em enfermagem atrelada à competência de educação permanente, observou-se que esta foi caracterizada pela participação em eventos científicos ou cursos de aprimoramento. A maioria dos egressos realizou educação permanente que, apesar de ser em quantidade indesejada (51,9%), não impactou negativamente na sua satisfação com a formação.

Nesta pesquisa, a satisfação com a formação em enfermagem atrelada à educação permanente foi identificada por meio da participação dos egressos em eventos científicos ou cursos de aprimoramento. A maioria dos egressos que realizou esta educação permanente, mas não na medida que gostaria (51,9%), apresentou satisfação com sua formação, porém sem significância estatística.

Os motivos que dificultaram a participação em atividades científicas foram o alto custo dos eventos científicos (p=0.014) e dos livros e periódicos (p=0.046), mas não impactaram negativamente na satisfação com a formação. Estes dados apontam que mesmo o egresso tendo dificuldade para realizar a educação permanente, isso não interferiu no seu conceito de satisfação e muita satisfação com sua formação.

A educação permanente deve ser considerada na formação do futuro enfermeiro. Ela é oportunizada na interação ensino-serviço e possibilita a adequação do ensino às condições reais encontradas no mundo do trabalho. O investimento e comprometimento dos dois setores, ensino e serviço, propicia a efetividade da educação permanente ao estabelecer interações intersubjetivas nas quais os atores envolvidos consideram o ser humano na sua integralidade^(23,26).

O profissional, ciente da sua responsabilidade como enfermeiro, deve reconhecer a importância de construir e aprimorar o seu conhecimento e a partir disso, considerar a educação permanente no contexto diário da atuação profissional e assumir atitude de criticidade e reflexão diante do seu aprendizado^(27-28). Estudo⁽¹⁸⁾ também realizado com egressos, mostrou que a maioria reconhece que foi instrumentalizada para o planejamento, implementação e participação de ações de educação continuada no serviço.

Pesquisa⁽⁹⁾ sobre a inserção do enfermeiro no mercado de trabalho mostrou que as competências descritas no perfil do egressos e adquiridas durante a graduação os prepararam parcialmente para exercer a profissão e não garantiram experiências suficientes dentro dos setores da saúde e entendimento das diferentes funções que o enfermeiro pode assumir no campo da saúde. Esta ausência do desenvolvimento pleno das competências do futuro enfermeiro está de acordo com a análise realizada no estudo⁽²⁹⁾ sobre a influência da formação docente no perfil e competências do egresso de enfermagem. Constatou-se que o processo ensino-aprendizagem do futuro enfermeiro precisa ser ressignificado constantemente pelos docentes e pela IES para alcançar o perfil de competências estabelecidas pelas DCNs.

No sentido de colaborar com pesquisas que venham a ser realizadas com egressos, foi desenvolvido e já está validado, um instrumento para avaliação de egressos da graduação em enfermagem⁽³⁰⁾. Por ter sido baseado nas diretrizes curriculares, ele pode ser utilizado em todo território nacional e contribuir com o processo de regulação da qualidade dos cursos de graduação em enfermagem.

O profissional enfermeiro tem diversas competências que são esperadas e as que são efetivamente executadas no dia a dia do trabalho, que levam a questionar sobre quais são as exatas competências desse profissional, sua adaptação e atuação em cenários laborais, e a responsabilidade da educação na integração de ensinos teóricos e práticos de forma mais precoce na busca da formação de um profissional capaz de agir e transformar sua prática^(31-33).

Limitação do estudo

Nesta pesquisa a limitação identificada foi a realização do estudo somente em uma instituição de ensino privada e ausência da análise qualitativa para identificação dos sentidos e significados sobre o desenvolvimento das competências, bem como a entrada do profissional no mercado de trabalho.

Contribuições para a área da enfermagem

Estudos com egressos são de grande valia para instituições formativas, especialmente porque revelam uma “fotografia” da formação dos estudantes.

A contribuição deste estudo está diretamente relacionada com a compreensão do processo de formação do enfermeiro, a aquisição das competências propostas para este profissional e a discussão sobre sua inserção no mercado de trabalho. Ele também possibilitou, a partir das DCNs, a reflexão dos PPPs que norteiam os cursos de graduação em Enfermagem.

CONCLUSÃO

A maioria dos egressos avaliou sua formação como satisfatória, quando analisada com as variáveis do estudo. Houve destaque da satisfação com a formação em enfermagem com as variáveis: intervalo entre a finalização do curso e a inserção no mercado de trabalho, situação formal de trabalho, dificuldade para encontrar emprego na enfermagem, salário, enfermagem como principal fonte de renda e ocupação, considerar-se bem-sucedido profissionalmente e escolheria novamente essa profissão.

Com relação às competências descritas nas DCNs, o egresso de enfermagem apresenta maior satisfação com sua formação na aquisição das competências de tomada de decisão, liderança e educação permanente.

A satisfação com a formação do egresso relacionada com a educação permanente apresentou significância nos motivos que dificultam a participação em atividades científicas, como o alto custo dos eventos científicos, dos livros e periódicos. Entretanto, isso não impactou na satisfação dos egressos com a formação recebida.

AGRADECIMENTO

Centro Universitário São Camilo.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Margarida Vieira

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  24 Maio 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  22 Jul 2020
• Aceito
  09 Jan 2021