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Prevalência de testagem e coronavírus-19 entre enfermeiros na pandemia

RESUMO

Objetivo:

Determinar a prevalência de testagem e COVID-19 entre enfermeiros, durante a pandemia no estado do Ceará.

Método:

Estudo transversal com 379 enfermeiros, com técnica de amostragem em rede, utilizando-se questionário sociodemográfico, laboral e clínico. Realizou-se estatística descritiva, análise de regressão logística univariada e multivariada.

Resultados:

A prevalência de testagem e COVID-19 foram, respectivamente, 63,3% e 25,0%. Sintomas mais comuns foram anosmia, ageusia e mialgia. Referiu-se uso inadequado de equipamentos de proteção individual por escassez de material. A razão de chances para COVID-19 foi maior naqueles com filhos, diabéticos, da capital, com mais de dois empregos, em hospital e pronto atendimento e da linha de frente. Na regressão logística multivariada, tiveram mais chances para COVID-19, os enfermeiros com filhos (p=0,011), diabéticos (p=0,018) e da linha de frente (p<0,001).

Conclusões:

Ampliação da testagem, educação permanente em serviço e equipamentos de proteção individual adequados são necessários para melhorar o trabalho dos enfermeiros.

ABSTRACT

Objective:

To determine the prevalence of testing and COVID-19 among nurses during the pandemic in the State of Ceará.

Method:

A cross-sectional study with 379 nurses, through a network sampling technique, using a sociodemographic, labor, and clinical questionnaire. The study performed a descriptive statistics, univariate and multivariate logistic regression analysis.

Results:

The prevalence of testing and COVID-19 were, respectively, 63.3% and 25.0%. The most common symptoms were anosmia, ageusia, and myalgia. There was inadequate use of personal protective equipment due to material shortage. The odds ratio for COVID-19 was higher in those with children, people with diabetes, from the capital, with more than two jobs, in hospital and emergency room, and from the frontline. In the multivariate logistic regression, nurses with children (p=0.011), diabetics (p=0.018) and frontline (p<0.001) had more chances for COVID-19.

Conclusion:

Expanded testing, ongoing in-service education, and adequate personal protective equipment are needed to improve nurses’ work.

Descriptors:
Coronavirus Infections; COVID-19; Nursing; Prevalence; Pandemics

RESUMEN

Objetivo:

Determinar prevalencia de testeo y COVID-19 entre enfermeros, durante la pandemia en el estado de Ceará.

Método:

Estudio transversal con 379 enfermeros, con técnica de muestreo por redes, utilizándose encuesta sociodemográfica, laboral y clínica. Realizada estadística descriptiva, análisis de regresión logística simple y múltiple.

Resultados:

La prevalencia de testeo y COVID-19 fueron, respectivamente, 63,3% y 25,0%. Síntomas más comunes fueron anosmia, ageusia y mialgia. Referido uso inadecuado de equipos de protección individual por escasez de material. La razón de probabilidades para COVID-19 fue mayor en aquellos con hijos, diabéticos, de la capital, con más de dos empleos, en hospital y servicios médicos de urgencia y de primera línea. La regresión logística múltiple, tuvieron más probabilidades para COVID-19, enfermeros con hijos (p=0,011), diabéticos (p=0,018) y de primera línea (p<0,001).

Conclusiones:

Ampliación de testeo, educación permanente en servicio y equipos de protección individual adecuados son necesarios para optimización laboral de enfermeros.

Descriptores:
Infecciones por Coronavirus; COVID-19; Enfermería; Prevalencia; Pandemias

INTRODUÇÃO

A pandemia da COVID-19 ocasionou desaceleração econômica mundial, colapso do sistema de saúde em alguns países e interferiu negativamente na saúde física e mental das pessoas(11 Madabhavi I, Sarkar M, Kadakol N. COVID-19: a review. Monaldi Arch Chest Dis. 2020;90(2):248-58. https://doi.org/10.4081/monaldi.2020.1298
https://doi.org/10.4081/monaldi.2020.129...
). Em janeiro de 2021, o Brasil era o terceiro país do mundo em número de casos da COVID-19 (8.075.998), atrás apenas da Índia (10.450.284) e Estados Unidos da América (22.192.842)(22 Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Especial. Doença pelo COVID-19 [Internet]. 2021 [cited 2021 Jan 20]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/janeiro/15/boletim_epidemiologico_covid_45.pdf
https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf...
). No estado do Ceará, até esse período, foram confirmados 345.211 casos e 10.237 óbitos(33 Governo do Estado do Ceará. Boletim Epidemiológico. Doença pelo COVID-19[Internet]. 2021. [cited 2021 Jan 20]. Available from: https://www.saude.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/9/2020/02/boletim_covid_n01_20211501.pdf
https://www.saude.ce.gov.br/wp-content/u...
).

A pandemia reestruturou os serviços de saúde públicos e privados. Consultas eletivas, exames e procedimentos não emergenciais deram lugar ao atendimento de pacientes com COVID-19, alterando o acompanhamento regular em saúde de outros e a rotina de trabalho dos profissionais de saúde(44 Dourado I, Magno L, Soares F, Massa P, Nunn A, Dalal S, et al. Adapting to the COVID-19 pandemic: continuing HIV prevention services for adolescents through telemonitoring, Brazil. AIDS Behav. 2020;24(7):1994-9. https://doi.org/10.1007/s10461-020-02927-w
https://doi.org/10.1007/s10461-020-02927...
). Nessa situação crítica, os profissionais de saúde são os que mais têm contato com pacientes com COVID-19, pois estão envolvidos no diagnóstico, tratamento e reabilitação. Os enfermeiros têm alta exposição ao vírus, pois seu trabalho envolve cuidados diretos aos doentes, sendo necessários protocolos específicos nas instituições de saúde para reduzir o risco de infecção durante as interações com os pacientes(55 Huang L, Lin G, Tang L, Yu L, Zhou Z. Special attention to nurses’ protection during the COVID-19 epidemic. Crit Care. 2020;24(1):120. https://doi.org/10.1186/s13054-020-2841-7
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).

Além disso, observa-se uma alta carga de trabalho, falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e medicamentos específicos, além do sentimento de apoio inadequado que pode contribuir para a carga mental dos profissionais de saúde. Esses indivíduos temem a infecção dos familiares, sentem incerteza e sofrem estigmatização, havendo relatos de estresse, ansiedade, depressão, burnout, dependência e transtorno de estresse pós-traumático, que podem ter implicações psicológicas em longo prazo(66 Lai J, Ma S, Wang Y, Cai Z, Hu J, Wei N, et al. Factors associated with mental health outcomes among health care workers exposed to coronavirus disease 2019. JAMA Netw Open 2020;3(3):e203976. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2020.3976
https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen....

7 Shen X, Zou X, Zhong X, Yan J, Li L. Psychological stress of ICU nurses in the time of COVID-19. Crit Care. 2020;24(1):200. https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926-2
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-88 Mo Y, Deng L, Zhang L, Lang Q, Liao C, Wang N, et al. Work stress among Chinese nurses to support Wuhan in fighting against COVID-19 epidemic. J Nurs Manag. 2020;28(5):1002-9. https://doi.org/10.1111/jonm.13014
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).

Para enfermeiros que trabalham em terapia intensiva na pandemia da COVID-19, tem-se como principais estressores a ansiedade em relação a ambientes e processos de trabalho, falta de experiência com doenças infecciosas, preocupação em ser infectado, alta carga de trabalho, fadiga e depressão pela cura malsucedida de pacientes críticos, além da preocupação com seus familiares(77 Shen X, Zou X, Zhong X, Yan J, Li L. Psychological stress of ICU nurses in the time of COVID-19. Crit Care. 2020;24(1):200. https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926-2
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). Os enfermeiros também precisam usar um conjunto de roupas de proteção, ficando sua respiração limitada até certo ponto. Quando paramentados, não bebem água nem vão ao banheiro, dificultando o trabalho. Quanto maior o tempo de trabalho semanal, maior o consumo físico e mental, o que pode interferir no autocuidado(88 Mo Y, Deng L, Zhang L, Lang Q, Liao C, Wang N, et al. Work stress among Chinese nurses to support Wuhan in fighting against COVID-19 epidemic. J Nurs Manag. 2020;28(5):1002-9. https://doi.org/10.1111/jonm.13014
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).

Algumas vacinas contra COVID-19 foram autorizadas em dezembro de 2020, para uso emergencial em muitos países, iniciando-se no Brasil em janeiro de 2021 para profissionais de saúde, e, na sequência, para demais grupos prioritários e população geral. Embora as vacinas possam ajudar a pôr fim à pandemia, elas não resolverão tudo rapidamente, pois, à medida que continua a crise da COVID-19, medidas de proteção ainda são necessárias para evitar a proliferação do vírus e suas variantes(22 Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Especial. Doença pelo COVID-19 [Internet]. 2021 [cited 2021 Jan 20]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/janeiro/15/boletim_epidemiologico_covid_45.pdf
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,44 Dourado I, Magno L, Soares F, Massa P, Nunn A, Dalal S, et al. Adapting to the COVID-19 pandemic: continuing HIV prevention services for adolescents through telemonitoring, Brazil. AIDS Behav. 2020;24(7):1994-9. https://doi.org/10.1007/s10461-020-02927-w
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,88 Mo Y, Deng L, Zhang L, Lang Q, Liao C, Wang N, et al. Work stress among Chinese nurses to support Wuhan in fighting against COVID-19 epidemic. J Nurs Manag. 2020;28(5):1002-9. https://doi.org/10.1111/jonm.13014
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).

Os enfermeiros, por prestarem cuidados diretos e contínuos aos pacientes, possuem grande exposição ao novo coronavírus (SARS-CoV-2) dentro das instituições de saúde. Portanto, o acompanhamento desses profissionais também deve ocorrer em seus locais de trabalho por meio da testagem, uso adequado de EPIs de qualidade, práticas de controle de infecção e de condutas atualizadas e apoio psicológico(55 Huang L, Lin G, Tang L, Yu L, Zhou Z. Special attention to nurses’ protection during the COVID-19 epidemic. Crit Care. 2020;24(1):120. https://doi.org/10.1186/s13054-020-2841-7
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6 Lai J, Ma S, Wang Y, Cai Z, Hu J, Wei N, et al. Factors associated with mental health outcomes among health care workers exposed to coronavirus disease 2019. JAMA Netw Open 2020;3(3):e203976. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2020.3976
https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen....

7 Shen X, Zou X, Zhong X, Yan J, Li L. Psychological stress of ICU nurses in the time of COVID-19. Crit Care. 2020;24(1):200. https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926-2
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-88 Mo Y, Deng L, Zhang L, Lang Q, Liao C, Wang N, et al. Work stress among Chinese nurses to support Wuhan in fighting against COVID-19 epidemic. J Nurs Manag. 2020;28(5):1002-9. https://doi.org/10.1111/jonm.13014
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). Diante do exposto, considerando-se as alterações e o impacto negativo da pandemia da COVID-19 no sistema de saúde do Brasil e do mundo, assim como as alterações na dinâmica de trabalho do enfermeiro, que passa por períodos de exposição prolongada ao vírus e sobrecarga de trabalho, propôs-se este estudo.

OBJETIVOS

Determinar a prevalência de testagem para o SARS-CoV-2 e de COVID-19 entre enfermeiros, durante a pandemia no estado do Ceará.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo ocorreu de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Seguiram-se as medidas de preservação, proteção e segurança dos participantes de pesquisas em ambiente virtual, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Todos os enfermeiros assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.

Desenho, local e período

Estudo transversal realizado no estado do Ceará, Brasil, de junho a dezembro de 2020. A pesquisa ocorreu de acordo com as diretrizes para estudos observacionais: Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE)(99 Von Elm E, Altman DG, Egger M, Pocock SJ, Gotzsche PC, Vandenbroucke JP, et al. The strengthening the reporting of observational studies in epidemiology (STROBE) statement: guidelines for reporting observational studies. Int J Surg. 2014;12(12):1495-9. https://doi.org/10.1016/j.ijsu.2014.07.013
https://doi.org/10.1016/j.ijsu.2014.07.0...
).

População, amostra, critérios de inclusão e exclusão

A população do estudo foi de enfermeiros do estado do Ceará, Brasil. Amostra foi dimensionada para estimar a prevalência de enfermeiros com COVID-19, com 95% de confiança de que o erro da estimação não ultrapassasse 5%, considerando-se que tal prevalência era desconhecida na população (sendo estipulada em 50%, por proporcionar maior tamanho de amostra) e que no estado do Ceará havia 22.992 enfermeiros registrados no Conselho Regional de Enfermagem em maio de 2020(1010 Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Enfermagem em Números [Internet]. 2020 [cited 2020 May 10]. Available from: http://www.cofen.gov.br/enfermagem-em-numeros
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). Assim, aplicou-se a expressão:

n = z 2 p ( 1 - p ) N ε 2 ( N - 1 ) + z 2 p ( 1 - p )

Nessa fórmula, z2 é igual ao valor da estatística z (1,96) para o grau de confiança adotado (95%), e p, N e ɛ correspondem à prevalência presumida (0,50), população (22.992) e erro tolerável (0,05), respectivamente. Foi calculada amostra de 379 enfermeiros. Adotou-se a técnica de amostragem em rede, uma técnica não probabilística em que os indivíduos, após selecionados, indicam outros para participarem, sendo utilizada para amostras eventualmente difíceis de serem acessadas de outra maneira, o que veio ao caso haja vista o isolamento social e restrições de acesso aos serviços de saúde na pandemia da COVID-19. Critérios de inclusão: enfermeiros de ambos os sexos, com registro no Conselho Regional de Enfermagem do Ceará e acesso à internet, computador ou smartphone. Critério de exclusão: trabalhar fora do estado do Ceará.

Protocolo de estudo

Os enfermeiros foram convidados a participar do estudo por e-mail e WhatsApp. A mensagem enviada continha link da pesquisa, descrição do estudo, aprovação do comitê de ética, Termo de Consentimento e questionário na plataforma Google.

O questionário sociodemográfico, laboral e clínico continha as variáveis: idade, sexo, estado civil, número de filhos e pessoas no domicílio, doença crônicas, tempo de formação, situação ocupacional, cidade onde trabalha, vínculo empregatício, local e setor de trabalho, uso de EPIs, atendimento a pacientes com COVID-19, teste para SARS-CoV-2, resultado e sintomas. A média de tempo de participação variou de 10 a 20 minutos. Antes do estudo, o link da pesquisa e questionário foram aplicados em 30 enfermeiros que não compuseram a amostra, para teste-piloto e validação.

Análise estatística

Foram calculadas a média, desvio-padrão (DP), frequência absoluta e relativa. A associação entre variáveis e a ocorrência da COVID-19 — conforme resultado dos testes RT-PCR (Reverse-Transcription - Polymerase Chain Reaction) e sorologia para SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) — foi avaliada por análise de regressão logística univariada. A força de associação foi mensurada pela razão de chances, precisão (intervalo de confiança de 95%) e significância da estimativa (teste de Wald). Variáveis explanatórias relacionadas à ocorrência da COVID-19, com nível de significância de 10% (p < 0,10), foram selecionadas para regressão logística multivariada, visando identificar aquelas associadas ao desfecho avaliado.

Foi usado o método passa a passo (stepwise) para trás (backward), sendo critério para remoção das variáveis do modelo definido pelo teste de Wald. Tal análise determinou a razão de chances ajustada, precisão (intervalo de confiança de 95%) e significância da estimativa (teste de Wald). Empregaram-se testes bicaudais, com nível de significância em 0,05 (5%), considerando-se estatisticamente significante p < 0,05. Utilizou-se o software IBM SPSS Statistics v. 23.0.

RESULTADOS

A média de idade dos 379 enfermeiros foi de 36 anos (DP: ± 9,3), e a maioria tinha menos de 45 anos (314; 82,8%). Quanto à atuação, 262 (69,1%) trabalhavam na capital do estado, 103 (27,1%) no interior, 14 (3,6%) estavam desempregados, e 333 (87,8%) tinham pós-graduação. Uso inadequado de EPIs foi referido por 81 enfermeiros (21,4%), o que ocorreu pela oferta insuficiente no serviço ou má qualidade. Ver Tabela 1.

Tabela 1
Caracterização sociodemográfica, laboral e clínica dos enfermeiros na pandemia da COVID-19, Fortaleza, Ceará, Brasil, 2020 (N = 379)

Dos 379 enfermeiros, 240 fizeram exame para COVID-19, e 95 foram positivos, sendo a prevalência de testagem e de COVID-19 na amostra, respectivamente, 63,3% e 25,0%. A maioria realizou teste sorológico para análise de anticorpos IgM e IgG. Ver Tabela 2.

Tabela 2
Resultados das testagens para SARS-CoV-2 dos enfermeiros na pandemia. Dados expressos como frequência absoluta e relativa, Fortaleza, Ceará, Brasil, 2020 (N = 379)

Dentre os 95 enfermeiros com testagem positiva para SARS-CoV-2, apenas 93 apresentaram sinais e sintomas. Os demais (n = 147) realizaram testagem sem sintomas, por serem contatos de pessoas com COVID-19, ou pela conduta de se testarem profissionais de saúde no trabalho. Os sinais e sintomas dos enfermeiros são mostrados na Tabela 3.

Tabela 3
Sinais e sintomas dos enfermeiros cujos testes para SARS-CoV-2 foram positivos, Fortaleza, Ceará, Brasil, 2020

Na análise de regressão logística univariada, enfermeiros com filhos tiveram 1,9 vez mais chances (p =0,018) para terem COVID-19 do que aqueles sem filhos. Diabéticos tiveram 5,74 vezes mais chances (p = 0,032) que os não diabéticos; trabalhadores da capital, 1,64 vez mais chances (p = 0,098) que os de regiões interioranas; aqueles com dois ou mais empregos, 1,68 vez mais chances (p = 0,053) que os com um emprego. Enfermeiros de hospital ou pronto atendimento apresentaram 1,66 vez mais chances (p = 0,059) que os da Atenção Primária; trabalhadores de enfermaria, terapia intensiva ou emergência, 1,67 vez mais chances (p = 0,058) que os da Atenção Primária. Quem prestava atendimento direto a pacientes com COVID-19 teve 4,52 vezes mais chances (p = 0,001) que os não atuantes na linha de frente do combate à pandemia. Entre os enfermeiros que fizeram teste, quatro estavam desempregados e não participaram da análise univariada (n = 236). Ver Tabela 4.

Tabela 4
Regressão logística univariada para associação entre variáveis sociodemográficas, laborais e clínicas dos enfermeiros e ocorrência da COVID-19, pela detecção de SARS-CoV-2 por RT-PCR ou sorologia, Fortaleza, Ceará, Brasil, 2020

Selecionaram-se para regressão logística multivariada as variáveis cuja significância na análise univariada, conforme teste de Wald, foi menor que 0,10 (p < 0,10). Apenas ter filhos, diabetes mellitus e realizar atendimento direto a pacientes com COVID-19 foram fatores independentes associados à COVID-19 em enfermeiros. Aqueles com filhos tiveram 2,12 vezes mais chances que os sem filhos. Diabéticos apresentaram 8,61 vezes mais chances que os não diabéticos, mas com intervalo de confiança amplo pela baixa frequência dessa afecção na coorte estudada. Enfermeiros da linha de frente demonstraram 5,71 vezes mais chances que os demais (Tabela 5).

Tabela 5
Fatores associados à COVID-19 em enfermeiros, conforme teste para SARS-CoV-2, após controle das variáveis de confusão. Regressão logística multivariada para determinar razão de chances ajustada, precisão e significância da estimativa, Fortaleza, Ceará, Brasil, 2020

DISCUSSÃO

A maioria dos enfermeiros do estudo eram do sexo feminino, menores de 45 anos, sendo 36 anos a média de idade, concordando com outras pesquisas que avaliaram profissionais de saúde na pandemia da COVID-19(1111 Bandyopadhyay S, Baticulon RE, Kadhum M, Alser M, Ojuka DK, Badereddin Y, et al. Infection and mortality of healthcare workers worldwide from COVID-19: a systematic review. BMJ Glob Health. 2020;5(12):e003097. https://doi.org/10.1136/bmjgh-2020-003097
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12 Gómez-Ochoa SA, Franco OH, Rojas LZ, Raguindin PF, Roa-Díaz ZM, Wyssmann BM, et al. COVID-19 in health-care workers: a living systematic review and meta-analysis of prevalence, risk factors, clinical characteristics, and outcomes. Am J Epidemiol. 2021;190(1):161-75. https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191
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-1313 Wong LY, Tan AL, Leo Y, Lee VJM, Toh MPHS. Healthcare workers in Singapore infected with COVID-19: 23 January-17 April 2020. Influenza Other Respir Viruses. 2020;15:218-26. https://doi.org/10.1111/irv.12803
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). Em relação à idade, isso pode ocorrer porque pessoas com comorbidades e idosos possuem mais riscos para complicações e mortalidade pelo novo coronavírus(1111 Bandyopadhyay S, Baticulon RE, Kadhum M, Alser M, Ojuka DK, Badereddin Y, et al. Infection and mortality of healthcare workers worldwide from COVID-19: a systematic review. BMJ Glob Health. 2020;5(12):e003097. https://doi.org/10.1136/bmjgh-2020-003097
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); e, em alguns serviços de saúde, esses indivíduos são afastados das atividades habituais e redirecionados para outras funções(1414 Asfahan S, Deokar K, Dutt N, Niwas R, Jain P, Agarwal M. Extrapolation of mortality in COVID-19: exploring the role of age, sex, co-morbidities and health-care related occupation. Monaldi Arch Chest Dis. 2020;90(2):313-7 https://doi.org/10.4081/monaldi.2020.1325
https://doi.org/10.4081/monaldi.2020.132...
).

Quanto à situação ocupacional, a maioria estava empregada, trabalhando na Atenção Primária, Secundária e Terciária — os trabalhadores de saúde atuantes no atendimento direto aos pacientes com COVID-19 são denominados “profissionais da linha de frente” e estão mais expostos à infecção(1313 Wong LY, Tan AL, Leo Y, Lee VJM, Toh MPHS. Healthcare workers in Singapore infected with COVID-19: 23 January-17 April 2020. Influenza Other Respir Viruses. 2020;15:218-26. https://doi.org/10.1111/irv.12803
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). A maioria possuía alguma pós-graduação, ressaltando a importância do aprimoramento para o mercado de trabalho. Todavia, no contexto da COVID-19, pesquisa mostrou que, apesar de grande parte dos profissionais ter conhecimento sobre a transmissão de doenças infecciosas e práticas laborais seguras, ainda há déficits na temática, sobretudo por ser uma doença nova, com descobertas científicas diárias(1515 Zhang M, Zhou M, Tang F, Wang Y, Nie H, Zhang L, et al. Knowledge, attitude, and practice regarding COVID-19 among healthcare workers in Henan, China. J Hosp Infect. 2020;105(2):183-7. https://doi.org/10.1016/j.jhin.2020.04.012
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).

Em pandemias, são necessários protocolos e atualizações constantes nas instituições de saúde, para reduzir o risco de infecção entre trabalhadores(55 Huang L, Lin G, Tang L, Yu L, Zhou Z. Special attention to nurses’ protection during the COVID-19 epidemic. Crit Care. 2020;24(1):120. https://doi.org/10.1186/s13054-020-2841-7
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). Em outro estudo, que avaliou o conhecimento, atitude e prática de profissionais de saúde, 89% tinham conhecimento suficiente sobre COVID-19, mais de 85% temiam a infecção, e 89,7% seguiam práticas de biossegurança. Esses quesitos eram influenciados pelo tempo de experiência, categoria profissional, horas de trabalho, nível educacional e estar na linha de frente(1515 Zhang M, Zhou M, Tang F, Wang Y, Nie H, Zhang L, et al. Knowledge, attitude, and practice regarding COVID-19 among healthcare workers in Henan, China. J Hosp Infect. 2020;105(2):183-7. https://doi.org/10.1016/j.jhin.2020.04.012
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).

A maioria dos enfermeiros atuava no atendimento direto a pacientes com COVID-19, mas alguns não utilizavam EPIs de forma adequada, pela oferta insuficiente no serviço ou má qualidade. Na fase inicial da pandemia, o número de profissionais de saúde e EPIs era insuficiente, e as horas de trabalho, longas, deixando os profissionais exaustos física e mentalmente — cenário que pode se repetir com segunda onda da COVID-19 e novas cepas. Recomenda-se o uso de EPIs de qualidade, descanso suficiente para sono adequado, evitar trabalho excessivo, ter dieta e suplementos para nutrição adequada e aumento da imunidade, visando reduzir as chances de infecção(1616 Zheng L, Wang X, Zhou C, Liu Q, Li S, Sun Q, et al. Analysis of the infection status of healthcare workers in Wuhan during the COVID-19 outbreak: a cross-sectional study. Clin Infect Dis. 2020;71(16):2109-13. https://doi.org/10.1093/cid/ciaa588
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).

Estudo também mostra que os enfermeiros precisam de resiliência, apoio do empregador, da equipe e do público, por meio de ações e recursos. Ações de reconhecimento realizadas na Europa objetivam manter o ânimo, e os enfermeiros se comovem pelo reconhecimento coletivo de gratidão e doações, para que seu trabalho seja realizado com segurança. Enfermeiros precisam sentir que suas necessidades são atendidas, que utilizam EPIs adequados, que seus líderes e instituições cuidam deles, uma vez que a pandemia se estende. A resiliência não deve ser vista como responsabilidade apenas individual, mas também coletiva e organizacional(1717 Maben J, Bridges J. Covid-19: supporting nurses' psychological and mental health. J Clin Nurs. 2020;29(15-16):2742-50. https://doi.org/10.1111/jocn.15307
https://doi.org/10.1111/jocn.15307...
).

No entanto, medidas de biossegurança estritas podem ser estressantes para profissionais de saúde(1818 Said RM, El-Shafei DA. Occupational stress, job satisfaction, and intent to leave: nurses working on front lines during COVID-19 pandemic in Zagazig City, Egypt. Environ Sci Pollut Res Int. 2021;28(7):8791-8801. https://doi.org/10.1007/s11356-020-11235-8
https://doi.org/10.1007/s11356-020-11235...
). Pesquisa apontou os desconfortos mais comuns entre enfermeiros que usam EPIs: sudorese ao usar máscara cirúrgica (50,9%) ou N95 (64,2%), mãos ressecadas pela constante lavagem e uso de luvas (73,9%), transpiração ao usar macacões/aventais (84,1%), problemas de visão e cefaleia ao usar óculos de proteção/protetores faciais (47,9%). Houve relação entre mais de quatro horas de uso de EPIs e ocorrência de vermelhidão na face, ponte nasal e orelhas, boca seca, mãos ressecadas, cefaleia e sudorese. A disponibilidade e segurança dos EPIs são cruciais para proteção dos enfermeiros, por isso são necessárias pesquisas que examinem a qualidade e eficácia desses materiais, com intuito de manter a força de trabalho saudável na pandemia(1919 Atay S, Cura SÜ. Problems encountered by nurses due to the use of personal protective equipment during the coronavirus pandemic: results of a survey. Wound Manag Prev. 2020;66(10):12-6. https://doi.org/10.25270/wmp.2020.10.1216
https://doi.org/10.25270/wmp.2020.10.121...
).

A prevalência de testagem para SARS-CoV-2 e de COVID-19 em enfermeiros foram, respectivamente, 63,3% e 25%, utilizando-se principalmente a sorologia. Diante disso, revisão sistemática com metanálise identificou que os testes mais realizados entre profissionais de saúde foram a sorologia e RT-PCR, mas a taxa de rastreamento e de infecção por SARS-CoV-2 foram mais baixas que as do presente estudo, sendo, respectivamente, de 11% e 7%(1212 Gómez-Ochoa SA, Franco OH, Rojas LZ, Raguindin PF, Roa-Díaz ZM, Wyssmann BM, et al. COVID-19 in health-care workers: a living systematic review and meta-analysis of prevalence, risk factors, clinical characteristics, and outcomes. Am J Epidemiol. 2021;190(1):161-75. https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191
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). Outros estudos com profissionais de saúde identificaram prevalências de COVID-19 de 4,04%(2020 Iversen K, Bundgaard H, Hasselbalch RB, Kristensen JH, Nielsen PB, Pries-Heje M, et al. Risk of COVID-19 in health-care workers in Denmark: an observational cohort study. Lancet Infect Dis. 2020;20(12):1401-8. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30589-2
https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30...
) e 6%(2121 Self WH, Tenforde MW, Stubblefield WB, Feldstein LR, Steingrub JS, Shapiro NI, et al. Seroprevalence of SARS-CoV-2 among frontline health care personnel in a multistate hospital network - 13 academic medical centers, April-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(35):1221-6. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6935e2
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).

Quanto maior a exposição ao vírus, maior a probabilidade de infecção, e as consequências são alterações de escala e sobrecarga de trabalho(2020 Iversen K, Bundgaard H, Hasselbalch RB, Kristensen JH, Nielsen PB, Pries-Heje M, et al. Risk of COVID-19 in health-care workers in Denmark: an observational cohort study. Lancet Infect Dis. 2020;20(12):1401-8. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30589-2
https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30...
). Pesquisas mostram que esses profissionais têm mais estresse, sobrecarga de trabalho, fadiga e medo(77 Shen X, Zou X, Zhong X, Yan J, Li L. Psychological stress of ICU nurses in the time of COVID-19. Crit Care. 2020;24(1):200. https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926-2
https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926...
,1818 Said RM, El-Shafei DA. Occupational stress, job satisfaction, and intent to leave: nurses working on front lines during COVID-19 pandemic in Zagazig City, Egypt. Environ Sci Pollut Res Int. 2021;28(7):8791-8801. https://doi.org/10.1007/s11356-020-11235-8
https://doi.org/10.1007/s11356-020-11235...
). Os EPIs são essenciais para esses profissionais. Outro estudo mostrou que a detecção de anticorpos para SARS-CoV-2 foi menor nos profissionais de saúde que utilizavam cobertura facial nos atendimentos, em comparação aos que não a utilizavam. Porém a escassez de EPIs é um relato comum, sobretudo de máscaras N95(2121 Self WH, Tenforde MW, Stubblefield WB, Feldstein LR, Steingrub JS, Shapiro NI, et al. Seroprevalence of SARS-CoV-2 among frontline health care personnel in a multistate hospital network - 13 academic medical centers, April-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(35):1221-6. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6935e2
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). Poucos estudos incluem apenas enfermeiros, mas a maioria das pesquisas com profissionais de saúde mostra que os mais acometidos pela COVID-19 são enfermeiros(1212 Gómez-Ochoa SA, Franco OH, Rojas LZ, Raguindin PF, Roa-Díaz ZM, Wyssmann BM, et al. COVID-19 in health-care workers: a living systematic review and meta-analysis of prevalence, risk factors, clinical characteristics, and outcomes. Am J Epidemiol. 2021;190(1):161-75. https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191
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). Quanto ao setor de trabalho, a maioria dos acometidos trabalhava em enfermarias, tendo estes uma soroprevalência significativamente maior que os profissionais da linha de frente, talvez por utilizarem menos EPIs no trabalho(1212 Gómez-Ochoa SA, Franco OH, Rojas LZ, Raguindin PF, Roa-Díaz ZM, Wyssmann BM, et al. COVID-19 in health-care workers: a living systematic review and meta-analysis of prevalence, risk factors, clinical characteristics, and outcomes. Am J Epidemiol. 2021;190(1):161-75. https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191
https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191...
,2020 Iversen K, Bundgaard H, Hasselbalch RB, Kristensen JH, Nielsen PB, Pries-Heje M, et al. Risk of COVID-19 in health-care workers in Denmark: an observational cohort study. Lancet Infect Dis. 2020;20(12):1401-8. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30589-2
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).

Os sintomas de COVID-19 mais comuns foram anosmia, ageusia e mialgia, concordando com outros estudos(1212 Gómez-Ochoa SA, Franco OH, Rojas LZ, Raguindin PF, Roa-Díaz ZM, Wyssmann BM, et al. COVID-19 in health-care workers: a living systematic review and meta-analysis of prevalence, risk factors, clinical characteristics, and outcomes. Am J Epidemiol. 2021;190(1):161-75. https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191
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,2121 Self WH, Tenforde MW, Stubblefield WB, Feldstein LR, Steingrub JS, Shapiro NI, et al. Seroprevalence of SARS-CoV-2 among frontline health care personnel in a multistate hospital network - 13 academic medical centers, April-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(35):1221-6. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6935e2
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). Observa-se que a infecção é mais frequente nos que trabalham em cidades com alta incidência da COVID-19 na população geral(2121 Self WH, Tenforde MW, Stubblefield WB, Feldstein LR, Steingrub JS, Shapiro NI, et al. Seroprevalence of SARS-CoV-2 among frontline health care personnel in a multistate hospital network - 13 academic medical centers, April-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(35):1221-6. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6935e2
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). Ressalta-se a importância da ampliação da testagem para profissionais de saúde, a fim de manter recursos humanos adequados e reduzir risco de transmissão aos pacientes vulneráveis(2222 Keeley AJ, Evans C, Colton H, Ankcorn M, Cope A, State A, et al. Roll-out of SARS-CoV-2 testing for healthcare workers at a large NHS foundation trust in the United Kingdom, March 2020. Euro Surveill. 2020;25(14):2000433. https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2020.25.14.2000433
https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.202...
). Na regressão logística univariada, enfermeiros com filhos, diabéticos, trabalhadores da capital, com dois ou mais empregos, em hospital ou pronto atendimento, em enfermaria, terapia intensiva ou emergência e que atendiam a pacientes com COVID-19 tiveram mais chances de infecção. Na análise multivariada, apenas ter filhos, ser diabético e prestar cuidados diretos a pacientes com COVID-19 foram fatores associados à infecção.

Não foram identificados estudos sobre o fato de ter filhos ser um fator de risco para COVID19. No entanto, pressupõe-se que esses enfermeiros, além do contato viral no trabalho, tenham maior rede de contato comunitário ou mais empregos e, portanto, mais exposição ao vírus. Para outras doenças, como infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, estudos mostram que os casados podem ter melhor cuidado de saúde, devido ao apoio do companheiro e filhos, quando auxiliam no tratamento terapêutico; mas, se houver filhos ou familiares dependentes, ocorrerá divisão do tempo disponível para cuidar de si e dos outros(2323 Lenzi L, Tonin FS, Souza VR, Pontarolo R. Social support and HIV: Relationship between clinical and sociodemographic characteristics and treatment adherence. Psicol: Teor Pesqui. 2018;34:e34422. https://doi.org/10.1590/0102.3772e34422
https://doi.org/10.1590/0102.3772e34422...
-2424 Hipólito RL, Oliveira DC, Costa TLD, Marques SC, Pereira ER, Gomes AMT. Quality of life of people living with HIV/AIDS: temporal, socio-demographic and perceived health relationship. Rev Latino-Am Enfermagem. 2017;25:e2874. https://doi.org/10.1590/1518-8345.1258.2874
https://doi.org/10.1590/1518-8345.1258.2...
).

Todos os enfermeiros moravam com outras pessoas, e a maioria tinha filhos. Esses profissionais temem transmitir a infecção aos familiares(77 Shen X, Zou X, Zhong X, Yan J, Li L. Psychological stress of ICU nurses in the time of COVID-19. Crit Care. 2020;24(1):200. https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926-2
https://doi.org/10.1186/s13054-020-02926...
). Revisão sistemática com metanálise sugeriu a possibilidade de transmissão do novo coronavírus mesmo por indivíduos assintomáticos(1212 Gómez-Ochoa SA, Franco OH, Rojas LZ, Raguindin PF, Roa-Díaz ZM, Wyssmann BM, et al. COVID-19 in health-care workers: a living systematic review and meta-analysis of prevalence, risk factors, clinical characteristics, and outcomes. Am J Epidemiol. 2021;190(1):161-75. https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191
https://doi.org/10.1093/aje/kwaa191...
,2525 Asselah T, Durantel D, Pasmant E, Lau G, Schinazi RF. COVID-19: discovery, diagnostics and drug development. J Hepatol. 2021;74(1):168-84. https://doi.org/10.1016/j.jhep.2020.09.031
https://doi.org/10.1016/j.jhep.2020.09.0...
), e os profissionais de saúde são de grande risco de infecção pelo amplo contato com pacientes. Pesquisa apontou que o principal modo de transmissão percebido pelos profissionais de saúde foi não usar EPIs de forma consistente no atendimento de pacientes com COVID-19, além do contato com infectados no domicílio e comunidade(2626 Jin YH, Huang Q, Wang YY, Zeng XT, Luo LS, Pan ZY, et al. Perceived infection transmission routes, infection control practices, psychosocial changes, and management of COVID-19 infected healthcare workers in a tertiary acute care hospital in Wuhan: a cross-sectional survey. Mil Med Res. 2020;7(1):24. https://doi.org/10.1186/s40779-020-00254-8
https://doi.org/10.1186/s40779-020-00254...
).

Revisão sistemática mostrou que, entre profissionais de saúde que enfrentam pandemias, o medo de se infectar ou infectar os familiares estava na vanguarda dos desafios mentais enfrentados, e ser enfermeira e mulher conferia maior risco. A estigmatização pelos membros da família/sociedade pode ter implicações negativas, gerar estresse e isolamento. Por tudo isso, são necessárias estratégias de enfrentamento e apoio psicossocial de acordo com os ambientes socioculturais, que, dependendo da localização geográfica e incidência da COVID-19, podem ser contrastantes(2727 Stuijfzand S, Deforges C, Sandoz V, Sajin CT, Jaques C, Elmers J, et al. Psychological impact of an epidemic/pandemic on the mental health of healthcare professionals: a rapid review. BMC Public Health. 2020;20(1):1230. https://doi.org/10.1186/s12889-020-09322-z
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).

Pesquisas evidenciam que as comorbidades mais prevalentes em pacientes com COVID-19 são hipertensão, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e doença pulmonar obstrutiva crônica, sendo estes os fatores de risco para progressão da doença e desfecho desfavorável(2828 Abdi A, Jalilian M, Sarbarzeh PA, Vlaisavljevic, Z. Diabetes and COVID-19: a systematic review on the current evidences. Diabetes Res Clin Pract. 2020;166:108347. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2020.108347
https://doi.org/10.1016/j.diabres.2020.1...
-2929 Tadic M, Cuspidi C, Sala C. COVID-19 and diabetes: is there enough evidence? J Clin Hypertens (Greenwich). 2020;22(6):943-8. https://doi.org/10.1111/jch.13912
https://doi.org/10.1111/jch.13912...
). Até o momento, não há estudos que demonstrem o valor preditivo independente do diabetes na mortalidade por COVID-19, mas especula-se associação com maior suscetibilidade ao vírus e progressão da doença(2929 Tadic M, Cuspidi C, Sala C. COVID-19 and diabetes: is there enough evidence? J Clin Hypertens (Greenwich). 2020;22(6):943-8. https://doi.org/10.1111/jch.13912
https://doi.org/10.1111/jch.13912...
). Parece haver um tropismo do vírus pelas células beta pancreáticas, o que pode contribuir para um pior controle glicêmico, com impacto negativo para os diabéticos e para aqueles que não apresentam essa comorbidade antes do diagnóstico da COVID-19(3030 Apicella M, Campopiano MC, Mantuano M, Mazoni L, Coppelli A, Del Prato S. COVID-19 in people with diabetes: understanding the reasons for worse outcomes. Lancet Diabetes Endocrinol. 2020;8(9):782-92. https://doi.org/10.1016/S2213-8587(20)30238-2
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).

Diante do exposto, considerando-se que a vacinação e as novas cepas circulantes ainda são incipientes no Brasil, ressalta-se a necessidade de seguimento das medidas de biossegurança por enfermeiros e demais profissionais de saúde, assim como uso de máscara, lavagem de mãos, álcool em gel e distanciamento social para a população geral e profissionais de saúde quando não estiverem em serviço(2121 Self WH, Tenforde MW, Stubblefield WB, Feldstein LR, Steingrub JS, Shapiro NI, et al. Seroprevalence of SARS-CoV-2 among frontline health care personnel in a multistate hospital network - 13 academic medical centers, April-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(35):1221-6. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6935e2
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,2626 Jin YH, Huang Q, Wang YY, Zeng XT, Luo LS, Pan ZY, et al. Perceived infection transmission routes, infection control practices, psychosocial changes, and management of COVID-19 infected healthcare workers in a tertiary acute care hospital in Wuhan: a cross-sectional survey. Mil Med Res. 2020;7(1):24. https://doi.org/10.1186/s40779-020-00254-8
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).

Limitações do estudo

Uma limitação do estudo consistiu no fato de não acessarmos de forma presencial os enfermeiros, devido às medidas de controle da transmissão da COVID-19 nas instituições de saúde. Ademais, a natureza da técnica de coleta dos dados leva ao desconhecimento das circunstâncias em que o questionário foi respondido, em meio à intensa rotina dos enfermeiros na pandemia.

Contribuições para a área da Enfermagem, Saúde e Política Pública

Os achados do estudo apontam a necessidade de medidas de apoio aos enfermeiros durante a pandemia, tanto no âmbito das instituições quanto das políticas públicas e trabalhistas. Aspectos que podem ser considerados são: testagem ampliada para SARS-CoV-2, fornecimento de EPIs em quantidade e qualidade adequadas, educação permanente em serviço e melhores condições de trabalho. Para tanto, este estudo será divulgado no meio acadêmico e demais órgãos competentes. Ressaltamos a importância de pesquisas futuras para avaliar medidas que possam melhorar e facilitar o trabalho dos enfermeiros no contexto de pandemias.

CONCLUSÃO

A prevalência de testagem para SARS-CoV-2 foi de 63,3%, e da COVID-19, de 25,0%, destacando-se os sintomas de anosmia, ageusia e mialgia. Na regressão logística univariada, tiveram mais chances para COVID-19, os enfermeiros com filhos, diabéticos, trabalhadores da capital, com dois ou mais empregos, em hospital ou pronto atendimento, enfermaria, UTI ou emergência e atuantes na linha de frente do combate à pandemia. A análise de regressão logística multivariada confirmou que apenas enfermeiros com filhos, diabéticos e da linha de frente tiveram mais chances para COVID-19.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Mitzy Danski

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    25 Maio 2021
  • Aceito
    07 Dez 2021
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