INTRODUÇÃO
A pandemia pelo SARS-CoV-2 lançou desafios complexos aos investigadores, não só pela emergência de uma nova doença, com um comportamento epidemiológico atípico, mas também pelo repto implícito de capacitar a população para as medidas de prevenção e mitigação.
Vale ressaltar que alguns aspectos relativos à investigação também têm sido notados neste período pandêmico, principalmente em estudos epidemiológicos e experimentais, que se apresentam profícuos. Da mesma forma, sucede com pesquisas sobre a experiência das pessoas, nos seus diferentes contextos de vida, que induz, além de a transformações em áreas como o (tele)trabalho, à educação online, ao isolamento social, entre outras.
Nesse sentido, notamos como um ponto positivo a crescente valorização de estudos qualitativos que permitem aos investigadores, com uma práxis mais voltada a esta, uma compreensão da experiência da pessoa e da singularidade das suas necessidades(11 Oliveira ESF, Baixinho CL, Presado MHCV. Qualitative research in health: a reflexive approach. Rev Bras Enferm. 2019;72(4):830-31. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2019-720401
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-22 Presado MH, Baixinho CL, Oliveira ESF. Qualitative research in pandemic times. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e74Suppl101. https://doi.org/10.1590/0034-7167.202174Suppl101
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). Essa mudança foi possível, porque os pesquisadores conseguiram adaptar a sua pesquisa qualitativa, desde o desenho do estudo à introdução dos resultados na clínica(22 Presado MH, Baixinho CL, Oliveira ESF. Qualitative research in pandemic times. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e74Suppl101. https://doi.org/10.1590/0034-7167.202174Suppl101
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), a esta ‘nova realidade’.
Por outro lado, assinalamos como menos positivo a transferência do conhecimento que foi amplamente influenciada pelo mundo virtual. Embora a facilidade de acesso a sites, quase sempre analisados superficialmente, a informação online, a partilha de experiências e ‘saberes’ nas redes sociais sejam uma grande conquista da sociedade atual, essas, porém, refletem sobre o conteúdo, o acesso a estas funcionalidades e a informação por uma população com baixa literacia. Percebe-se que profissionais de saúde, em geral, e pesquisadores, em particular, precisam olhar para esta nova realidade como um repto para novos modos de fazer e divulgar pesquisa, com estratégias de comunicação de ciência centradas no público-alvo, controlando as denominadas ‘fake news’ com a utilização da inovação e criatividade, para promover a comunicação entre academia e prática, agilizando a transferência segura do conhecimento para os cidadãos.
Ao nível dos contextos clínicos, a nossa experiência revela algumas adversidades em transferir o conhecimento para os profissionais de saúde, pela opção no uso de modelos lineares, como normas de orientação clínica e guidelines para transferir o conhecimento para a clínica ao invés de modelos mais colaborativos. Mesmo as experiências internacionais com métodos de trabalho mais interativos se tornam condicionadas ao trabalho multiprofissional e interinstitucional, com afastamento dos pesquisadores dos ambientes de prática clínica. Nesse sentido, não podemos deixar de atentar que, se a opção tivesse sido outra, ou seja, a de conjugar esforços no sentido de responder às necessidades emergentes da clinica, dos profissionais, das pessoas em processos de saúde-doença, famílias e comunidade, talvez a informação tivesse chegado aos seus adquirente de modo mais célere e segura.
Não obstante, concordamos que estes tempos introduziram limitações aos estudos que utilizam técnicas que usam a palavra, o olhar e a empatia(33 Minayo MCS, Costa AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: pesquisa qualitativa em ação. Aveiro: Ludomedia; 2019.), lançando um repto à reflexão e à criatividade dos investigadores para responder a novos desafios(22 Presado MH, Baixinho CL, Oliveira ESF. Qualitative research in pandemic times. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e74Suppl101. https://doi.org/10.1590/0034-7167.202174Suppl101
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), olhando para as novas tecnologias como um instrumento e um recurso para a pesquisa, tanto do ponto de vista do processo (transferência) quanto do conteúdo (conhecimento)(44 Baixinho CL, Presado MH, Ribeiro J. Qualitative research and the transformation of public health. Cien Saude Colet. 2019;24(5):1583-1583. https://doi.org/10.1590/1413-81232018245.05962019
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).
Nesta reflexão, destacamos como positivo todo um novo mundo - o virtual - como campo, estratégia e recurso para a pesquisa qualitativa. Também içamos novas e velhas questões sobre o que fazer com o conhecimento e como permitir que a evidência, sobretudo a evidência qualitativa, pode chegar aos contextos e produzir melhores resultados em saúde e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa, justa e valorativa da diferença individual, mesmo em tempos de pandemia.
REFERENCES
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1Oliveira ESF, Baixinho CL, Presado MHCV. Qualitative research in health: a reflexive approach. Rev Bras Enferm. 2019;72(4):830-31. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2019-720401
» https://doi.org/10.1590/0034-7167.2019-720401 -
2Presado MH, Baixinho CL, Oliveira ESF. Qualitative research in pandemic times. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e74Suppl101. https://doi.org/10.1590/0034-7167.202174Suppl101
» https://doi.org/10.1590/0034-7167.202174Suppl101 -
3Minayo MCS, Costa AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: pesquisa qualitativa em ação. Aveiro: Ludomedia; 2019.
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4Baixinho CL, Presado MH, Ribeiro J. Qualitative research and the transformation of public health. Cien Saude Colet. 2019;24(5):1583-1583. https://doi.org/10.1590/1413-81232018245.05962019
» https://doi.org/10.1590/1413-81232018245.05962019
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Maio 2022 -
Data do Fascículo
2022