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A enfermagem no contexto da pandemia pela COVID-19: que lições aprendemos?11 Barbosa DA, Schirmer J, Balsanelli AP. A Enfermagem no contexto da pandemia pela Covid-19: que lições aprendemos? [Internet]. 11 de março de 2022 [cited 2022 Jun 20]. Available from: https://sp.unifesp.br/comunicasp/noticias/a-enfermagem-no-contexto-da-pandemia-pela-covid-19-que-licoes-aprendemos
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Em comemoração ao Dia Internacional da Enfermagem, celebrado em 12/05, queremos refletir à luz do tema central proposto pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) que lições aprendemos com a COVID-19. A pandemia de COVID-19, como todas as crises vividas pelo ser humano, especialmente as crises mundiais, ensina algo a todos. A enfermagem do planeta se mobilizou no combate à doença, no cuidado aos doentes e nas medidas preventivas, como é parte do mister profissional. Este cenário de crise sanitária nos remetem a algumas reflexões: o que terá ensinado a pandemia à nossa categoria profissional? Que alicerces podemos erguer para um futuro melhor para a profissão, para os profissionais e para todos os grupos sociais de nossa sociedade? Que lições foram aprendidas?

Lição 01: foi possível constatar a enorme lacuna entre grupos sociais, revelando de forma cruel os menos favorecidos, aqueles considerados base da pirâmide socioeconômica, a grande massa de trabalhadores pouco qualificados e, portanto, de trabalhadores sem trabalho digno. Somado a isso, foi possível verificar que o manto do Sistema Único de Saúde (SUS) cobre desigualmente essas populações, ou seja, dá mais cobertor a quem tem mais força para puxar. As conquistas duramente obtidas através de decênios para cumprir o dispositivo legal “saúde como dever do Estado e direito de todos...” foram negligenciadas. O atraso na decisão de vacinar e dispor deste meio, assim como na frouxidão ou leniência no seguimento de normas sanitárias banais, como o uso da máscara e da higienização das mãos (que servem para quaisquer doenças de disseminação pelo ar), colocou milhares de pessoas à mercê da COVID-19. A enfermagem cuidou de todos, sem discriminação, mas era óbvio que iriam faltar leitos e pessoal para dar conta de uma avalanche pandêmica como esta. Também na enfermagem, que, igualmente ao restante da sociedade, existem grupos mais ou menos privilegiados nos processos de trabalho, a pandemia bateu mais forte naqueles com piores condições de trabalho. Resta a lição ainda a ser feita com o aprendizado das desigualdades: um balanço geral das ações da enfermagem e mapeamento epidemiológico para avaliar o impacto da pandemia entre diferentes grupos de nossa profissão. Detectado e avaliado, transformar as necessárias mudanças em direitos aos profissionais da enfermagem como uma política pública de Estado. À categoria, cabe o sistemático e contínuo processo de avaliação das condições de trabalho, seguimento da força de trabalho, dos instrumentos e das condições mais seguras para o exercício da profissão.

Lição 02: um dos fenômenos mais preocupantes detectados durante a pandemia foi o aumento expressivo da violência doméstica, mais propriamente violência contra a mulher e contra as crianças. Este fenômeno se estendeu à enfermagem brasileira, exercida majoritariamente por mulheres, e, em alguma escala, a violência atingiu esses profissionais também. Temos dados? Temos números? Temos formas de combater a violência sofrida pelos profissionais de enfermagem? Na pandemia, aprendemos a lição de que o monitoramento, especialmente o epidemiológico, é importante para poder interferir precocemente no curso dos fenômenos de doenças ou agravos à saúde. Que podemos fazer para transferir este aprendizado em dados sobre a enfermagem brasileira? É preciso novamente reforçar as políticas públicas e transformar em práticas: cada local de trabalho com mais trabalhadoras de enfermagem deve ter um escritório/canal de notificação da violência, assim como apoio e seguimento para a superação.

Lição 03: qualificar, qualificar e qualificar! O exercício da enfermagem, assim como muitas profissões, demanda um contínuo aperfeiçoamento não somente de técnicas e procedimentos mais atuais e de maior impacto, mas um aperfeiçoamento em termos éticos e de compromisso social. Portanto, a qualificação profissional não é somente uma exigência do mercado, é e deve ser uma exigência de cada profissional para combater as iatrogenias e seguir ofertando trabalhos cientificamente embasados; mais que isso, deve ser uma exigência que os lugares de trabalho proporcionem esses processos qualificadores sistemáticos, aprofundados e remunerados, ou seja, dentro do seu período de trabalho. Se as instituições formadoras têm a obrigação de produzir profissionais de qualidade com habilidades e conhecimentos, além de atitudes eticamente comprometidos, as instituições de serviços de saúde devem ter a obrigação de sistemática e continuamente aprimorar os processos qualificadores dos trabalhadores da enfermagem.

Finalmente, nestes anos todos de formação superior universitário que tem a enfermagem brasileira, e com um número elevado de doutores ou cientistas da enfermagem, ainda somos caudatários na definição de políticas cuidativas. O que falta para termos maior autonomia sobre o cuidado de enfermagem, quer para assistir os enfermos quer para prevenir enfermidades, transformando alguns princípios universais do cuidado em política de Estado? A pandemia nos ensinou muito, mas muito mais temos a aprender com a correta avaliação de nossos acertos e erros, pois estes nos ajudarão a melhor pavimentar nossas ações, para futuras demandas tão críticas quanto a pandemia de COVID-19. De início, sobre o período pós-COVID-19, como enfrentar as consequências, sequelas e efeitos colaterais longos provocados pela enfermidade ou pelo tratamento dado na enfermidade? Que tipo de iatrogenia nosso cuidado “urgente sobre o desconhecido” pode ter ocorrido? Que instrumentos temos ou necessitamos criar para cuidar dos que perderam a família toda? Onde os profissionais de enfermagem serão acolhidos e cuidados nas sequelas dos anos estressantes cuidando e amparando os pacientes e familiares? Será necessário elaborar projetos cuidativos pós-pandemia e refazer esta pergunta dentro de um ou dois anos. Temos muita esperança, porque somos resilientes, sempre exerceremos nossa profissão sob o alicerce da ciência, da ética e com muita crítica.

Muita saúde para a Enfermagem e longa vida à profissão!

Disponível em: https://sp.unifesp.br/comunicasp/noticias /a-enfermagem-no-contexto-da-pandemia-pela-covid-19-que -licoes-aprendemos

REFERÊNCIAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022
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