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Ética, COVID-19 e vulnerabilidade da enfermagem: análise de fotografias divulgadas pela mídia

RESUMO

Objetivos:

analisar a vulnerabilidade da enfermagem por meio de fotos divulgadas pela mídia no contexto da pandemia de COVID-19.

Métodos:

estudo documental, com abordagem qualitativa. O objeto de análise foram imagens fotográficas selecionadas entre janeiro de 2020 e março de 2021, veiculadas pelos principais portais de notícia de países, como Brasil, Estados Unidos, França, Espanha, Inglaterra e Alemanha. A análise categorial temática foi o método de análise utilizado.

Resultados:

foram encontradas 74 fotografias que retratavam profissionais de enfermagem em diferentes situações de trabalho. Pôde-se identificar o estigma e a desvalorização social acerca da representação e atribuição profissional desta classe. Além disso, foi constatada uma sub-representação de profissionais negras nos portais brasileiros e o homem como a figura de destaque nos espaços de reivindicações.

Considerações Finais:

as fotografias representaram importante ferramenta para análise social da vulnerabilidade da enfermagem, favorecendo o desvelar de situações que podem passar despercebidas pela profissão e sociedade.

Descritores:
Análise de Vulnerabilidade; COVID-19; Ética em Enfermagem; Fotografias; Enfermagem

ABSTRACT

Objectives:

to analyze nursing vulnerability through photos released by the media amidst the COVID-19 pandemic.

Methods:

a documentary study, with a qualitative approach. The object of analysis were photographic images selected between January 2020 and March 2021, published by the main news portals in countries such as Brazil, the United States, France, Spain, England and Germany. Thematic categorical analysis was the method of analysis used.

Results:

we found 74 photographs that portrayed nursing professionals in different work situations. It was possible to identify stigma and social devaluation about this class’s representation and professional attribution. Moreover, we found an underrepresentation of black professionals in Brazilian portals and the man as the prominent figure in the spaces of claims.

Final Considerations:

the photographs represented an important tool for the social analysis of nursing vulnerability, favoring the unveiling of situations that may go unnoticed by nursing and society.

Descriptors:
Vulnerability Analysis; COVID-19; Ethics, Nursing; Photograph; Nursing

RESUMEN

Objetivos:

analizar la vulnerabilidad de la enfermería a través de fotos difundidas por los medios de comunicación en el contexto de la pandemia de la COVID-19.

Métodos:

estudio documental, con abordaje cualitativo. El objeto de análisis fueron imágenes fotográficas seleccionadas entre enero de 2020 y marzo de 2021, publicadas por los principales portales de noticias de países como Brasil, Estados Unidos, Francia, España, Inglaterra y Alemania. El análisis categórico temático fue el método de análisis utilizado.

Resultados:

se encontraron 74 fotografías que retrataban a profesionales de enfermería en diferentes situaciones de trabajo. Fue posible identificar el estigma y la desvalorización social sobre la representación y atribución profesional de esta clase. Además, se constató una subrepresentación de los profesionales negros en los portales brasileños y del hombre como figura destacada en los espacios de reclamos.

Consideraciones Finales:

las fotografías representaron una importante herramienta para el análisis social de la vulnerabilidad de la enfermería, favoreciendo el develamiento de situaciones que pueden pasar desapercibidas por la enfermería y la sociedad.

Descriptores:
Análisis de Vulnerabilidad; COVID-19; Ética en Enfermería; Fotografía; Enfermería

INTRODUÇÃO

Em meio ao crescimento do mercado da saúde, sua expansão e a presença de inovações tecnológicas, o mundo se deparou com uma nova infecção provocada pelo SARS-CoV-2, que ocasionou a COVID-19. A presença do vírus foi primeiramente relatada em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China e rapidamente se propagou, alcançando situação alarmante em nível global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que se tratava de uma pandemia em março de 2020(11 Dincer B, Inangil D. The effect of Emotional Freedom Techniques on nurses’ stress, anxiety, and burnout levels during the COVID-19 pandemic: a randomized controlled trial. Explore. 2021;17(2):109-14. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.11.012
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).

Os sistemas de saúde entraram em colapso, tornando-se visível a desigualdade de acesso aos leitos de Unidade de Terapia Intensiva, respiradores e cuidados de saúde(22 Shahrour G, Dardas LA. Acute stress disorder, coping self-efficacy and subsequent psychological distress among nurses amid COVID-19. J Nurs Manag. 2020;28(7):1686-95. https://doi.org/10.1111/jonm.13124
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). Paralelamente a isso, a enfermagem e os cuidados prestados pela equipe receberam visibilidade internacional, considerando-se que 60% da equipe de saúde é composta por profissionais de enfermagem(33 Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Relatório da OMS destaca papel da Enfermagem no mundo[Internet]. 2020 [cited 2021 May 9]. Available from: http://www.cofen.gov.br/relatorio-da-oms-destaca-papel-da-enfermagem-no-mundo_78751.html
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). Sua atuação estava direcionada aos cuidados diretos ofertados aos infectados, à promoção da saúde da comunidade e, posteriormente, ao amplo processo de vacinação nos diferentes países(44 World Health Organization (WHO). State of the World’s Nursing Report 2020: investing in education, jobs and leadership [Internet]. 2020 [cited 2021 May 9]. 144 p. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240003279
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). A importância do trabalho desenvolvido trouxe à tona a desvalorização e o estigma sofridos pela enfermagem e que, em meio a pandemia, confrontou-se com a visão social acerca da sua atuação profissional amplamente exposta pela mídia(11 Dincer B, Inangil D. The effect of Emotional Freedom Techniques on nurses’ stress, anxiety, and burnout levels during the COVID-19 pandemic: a randomized controlled trial. Explore. 2021;17(2):109-14. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.11.012
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).

A enfermagem é uma profissão exercida majoritariamente por mulheres e, no caso do Brasil, por mulheres negras, como foi apontado por pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Os dados indicaram que as mulheres representam 86,2% do número de profissionais, sendo que pardos e pretos correspondem a 53%(55 Almeida AH. Mulheres negras e a realidade da enfermagem no Brasil. NASCECME[Internet]. 2020 [cited 2021 Dec 8]. 4 p. Available from: http://nascecme.com.br/2014/wp-content/uploads/2020/07/Artigo-Alva-Helena-de-Almeida.pdf
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-66 Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Fundação Oswaldo Cruz. Relatório final da Pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil. Rio de Janeiro; 2017. 748 p). Esse cenário reflete consigo um histórico de estigma e preconceitos existentes na sociedade. Estigma é um conceito que possui relação direta com temas como raça e gênero, e no âmbito da saúde, pode ser um instrumento passível de disseminação de diferentes formas de discriminação. Além disso, possibilita o fortalecimento das desigualdades sociais, restrição das oportunidades e perpetuação da marginalização social de indivíduos ou grupos(77 Stangl AL, Earnshaw VA, Logie CH, van Brakel W, Simbayi LC, Barré I, et al. The Health Stigma and Discrimination Framework: a global, crosscutting framework to inform research, intervention development, and policy on health-related stigmas. BMC Med. 2019;17(1). https://doi.org/10.1186/s12916-019-1271-3
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).

O estereótipo da enfermagem traz a crença homogênea de uma minoria sub-representada, afetando sua identidade social, como ocorre com negros e mulheres(88 Steele CM, Aronson J. Stereotype threat and the intellectual test performance of African Americans. J Pers Soc Psychol. 2020;69(5):797-811. https://doi.org/10.1037//0022-3514.69.5.797
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). Assim, denota, pela veiculação midiática de uma exacerbada feminilidade, associação à características domésticas, angelicais e misericordiosas(99 Stokes-Parish J, Elliott R, Rolls K, Massey D. Angels and Heroes: the unintended consequence of the hero narrative. J Nurs Scholarship. 2020;52(5):462-6. https://doi.org/10.1111/jnu.12591
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). Apesar do reconhecimento e visibilidade que a categoria recebeu de líderes mundiais no contexto da COVID-19, torna-se necessário direcionar atenção para o novo zeitgeist (termo alemão, significa o espírito da época, propósito), que conecta os enfermeiros à figura do herói(99 Stokes-Parish J, Elliott R, Rolls K, Massey D. Angels and Heroes: the unintended consequence of the hero narrative. J Nurs Scholarship. 2020;52(5):462-6. https://doi.org/10.1111/jnu.12591
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).

Essa analogia pode favorecer a perpetuação das representações vinculadas à enfermagem, em detrimento do reconhecimento enquanto categoria profissional que detém embasamento teórico, científico e dispõe de direitos de melhores condições de trabalho(99 Stokes-Parish J, Elliott R, Rolls K, Massey D. Angels and Heroes: the unintended consequence of the hero narrative. J Nurs Scholarship. 2020;52(5):462-6. https://doi.org/10.1111/jnu.12591
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). Assim, no que tange ao contexto cultural e social, o estigma e o estereótipo podem vir a corroborar com o afastamento, invisibilidade e preconceito social, afetando a autoestima desses profissionais(88 Steele CM, Aronson J. Stereotype threat and the intellectual test performance of African Americans. J Pers Soc Psychol. 2020;69(5):797-811. https://doi.org/10.1037//0022-3514.69.5.797
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).

Ao longo da pandemia, pôde-se constatar que a dedicação incansável cobrou seu preço. Em levantamento realizado, ao longo do primeiro ano de pandemia, pelo International Council of Nurses, o continente americano apareceu como responsável por mais de 60% dos óbitos da enfermagem(1010 International Council of Nurses (ICN). International Council of Nurses Covid-19 Update: mass trauma experienced by the global nursing workforce [Internet]. 2021[cited 2021 Apr 11]. Available from: https://www.icn.ch/sites/default/files/inline-files/ICN%20COVID19%20update%20report%20FINAL.pdf
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). Na Europa, o contexto epidemiológico de infectados, a superlotação de hospitais e a necessidade de tratamento intensivo culminaram no surgimento de conflitos éticos, que afetariam o mundo no que se relacionava à escassez de recursos em saúde e à ausência de diretrizes que norteassem os profissionais da saúde no processo de tomada de decisão(1111 Druml C. COVID-19 and ethical preparedness? Wien Kline Wochenschr. 2020;132:400-2. https://doi.org/10.1007/s00508-020-01709-7
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).

Somando-se a esse contexto, fatores, como as precárias condições de trabalho e insegurança sobre como lidar com uma doença nova e mortal, trouxeram desgastes físico, cognitivo e psíquico impossíveis de serem ignorados por esses profissionais, essenciais para o combate à pandemia(11 Dincer B, Inangil D. The effect of Emotional Freedom Techniques on nurses’ stress, anxiety, and burnout levels during the COVID-19 pandemic: a randomized controlled trial. Explore. 2021;17(2):109-14. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.11.012
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). O isolamento social foi potencializado pelo medo de levar a infecção ao seio familiar, com a imposição de um afastamento ainda mais rigoroso(1212 Bassi M, Negri L, Delle Fave A, Accardi R. The relationship between post-traumatic stress and positive mental health symptoms among health workers during COVID-19 pandemic in Lombardy, Italy. J Affect Disord. 2021;280(Pt B):1-6. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.11.065
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).

Foi trazida à tona a vulnerabilidade da enfermagem enquanto categoria profissional. Sem uma definição homogênea, a vulnerabilidade é vista como relevante para auxiliar na concepção das obrigações éticas e morais diante da (in)capacidade de um indivíduo em resguardar seus próprios interesses(1313 Clark B, Preto N. Exploring the concept of vulnerability in health care. C Can Med Assoc J. 2018;190(11):E308. https://doi.org/10.1503/cmaj.180242
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). Nesse contexto, a pandemia apenas exacerbou as vulnerabilidades da enfermagem, a qual já vinha sofrendo com cortes em investimentos e orçamentos, diminuição no número de contratação de profissionais e desvalorização salarial(1414 Serrano Gallardo P. COVID-19: vulnerability in the eye of the hurricane. Enferm Clin. 2021;31:S2-3. https://doi.org/10.1016/j.enfcli.2020.05.020
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).

Na Alemanha, existem registros de um movimento de migração da enfermagem para países como o Reino Unido, o que se justifica pela menção de péssimas condições de trabalho, baixo reconhecimento, remuneração e autonomia(1515 Zander B, Blümel M, Busse R. Nurse migration in Europe--can expectations really be met? combining qualitative and quantitative data from Germany and eight of its destination and source countries. Int J Nurs Stud. 2013;50(2):210-8. https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2012.11.017
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). No que concerne à autonomia, o Reino Unido foi uma das primeiras nações do mundo a designar aos enfermeiros a prescrição de medicamentos no contexto de sua área de especialidade(1616 Maier CB. Nurse prescribing of medicines in 13 European countries. Hum Resour Health. 2019;17(1). https://doi.org/10.1186/s12960-019-0429-6
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). Nos Estados Unidos, o estado da Califórnia é o único que, desde 1999, possui legislação referente ao número de usuários que devem estar sob a responsabilidade do enfermeiro. Esse posicionamento foi decorrente das elevadas taxas de infecção de COVID-19 da população e ocupação dos leitos em saúde(1717 Lasater KB, Aiken LH, Sloane DM, French R, Martin B, Reneau K, et al. Chronic hospital nurse understaffing meets COVID-19: an observational study. BMJ Qual Saf. 2021;30(8):639. https://doi.org/10.1136/bmjqs-2020-011512
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).

Logo, o SARS-CoV-2 surgiu em meio a um contexto político-social da enfermagem, que já precedia uma vulnerabilidade institucionalizada. Essa categoria tem a promoção da saúde como função característica da profissão e que foi imprescindível para o manejo da pandemia(1818 Smith JA, Judd J. COVID-19: Vulnerability and the power of privilege in a pandemic. Health Promot J Aust. 2020;31(2):158. https://doi.org/10.1002/hpja.333
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). Esse processo teve a mídia como uma das principais ferramentas para promover a comunicação em saúde e alcançar a população com orientações e reforços de medidas contra a COVID-19(1818 Smith JA, Judd J. COVID-19: Vulnerability and the power of privilege in a pandemic. Health Promot J Aust. 2020;31(2):158. https://doi.org/10.1002/hpja.333
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).

Assim, considerando que as mídias são a principal forma de comunicação utilizada pela sociedade, a pergunta de pesquisa deste estudo foi: houve modificação na forma com que a enfermagem é vista pela sociedade?

OBJETIVOS

Analisar a vulnerabilidade da enfermagem por meio de fotos divulgadas pela mídia no contexto da pandemia de COVID-19.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Por se tratar de estudo que busca analisar fotografias de domínio público, não houve necessidade de submetê-lo para revisão de um Comitê de Ética em Pesquisa. No entanto, os créditos de autoria das fotografias selecionadas e as fontes analisadas foram mantidos, sendo citados no decorrer do texto.

Tipo de estudo

Trata-se de um estudo documental, com abordagem qualitativa. A análise documental é caracterizada pela identificação, checagem e análise de documentos iconográficos que tenham relação com o objeto em investigação. Tem como benefício a análise de aspectos culturais e sociais, por meio de fontes primárias, as quais não sofreram nenhum tratamento analítico como nas pesquisas bibliográficas(1919 Lima Junior EB, Oliveira D, Saramago G, Santos ACO, Schnekenberg GF. Análise Documental Como Percurso Metodológico na Pesquisa Qualitativa. Cad Fucamp[Internet]. 2021[cited 2022 Apr 17];20(44):36-51. Available from: https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/cadernos/article/view/2356
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).

Fonte de dados

Para realizar o levantamento das fotografias que retratavam a enfermagem, foram eleitos portais de notícias de 6 países distintos, selecionados a partir da diversidade de organização dos sistemas de saúde, sendo eles Brasil, Estados Unidos, França, Espanha, Inglaterra e Alemanha, bem como os idiomas português, inglês, francês, espanhol e alemão. Com a utilização das palavras-chave Enfermagem, Covid, Nursing, Nurse, Krankenschwester, Photograpy e Infirmière, foram selecionadas 115 fotografias veiculadas nos principais portais de notícias, como The New York Times, The Guardian, G1, O Globo, Berliner Morgenpost, Reuters, El País e Le Monde, no período de janeiro de 2020 a março de 2021.

Os portais de notícia possuem alto impacto e circulação, pertencentes a 6 das 20 maiores economias do mundo (G20). Grupo que, desde 2017, propõe debates acerca do seu papel no que tange à saúde pública global, com foco em compartilhar experiências e estratégias com questões de saúde, como doenças não transmissíveis (DNTs), emissão de gases poluentes e refugiados(2020 Akashi H, Ishizuka A, Lee S, Irie M, Oketani H, Akashi R. The role of the G20 economies in global health. Glob Heal Med. 2019;1(1):11-5. https://doi.org/10.35772/ghm.2019.01008
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). São relevantes as análises das vulnerabilidades impostas pela COVID-19 e as que a antecedem, no que se refere aos profissionais da enfermagem.

Coleta e organização dos dados

Para a coleta dos dados, o critério de inclusão foi fotos vinculadas à notícia com título ou legenda que remetesse à enfermagem. O critério de exclusão foi fotos repetidas. Nesse processo, foram excluídas 41 fotografias, em decorrência da ambiguidade das legendas, as quais adotaram o termo “profissional da saúde”, e se incluídas a amostra, poderiam afetar os achados e resultados fruto da análise das imagens.

Assim, a pesquisa contou com uma amostra de 74 fotografias, que foram distribuídas da seguinte maneira: 19 fotografias no The New York Times, 13 fotografias no The Guardian, 12 fotografias no G1, 10 fotografias em O Globo, 09 fotografias no Berliner Morgenpost, 08 fotografias na Reuters, 02 fotografias no El País e 01 fotografia no Le Monde.

No período da coleta, as imagens foram armazenadas no Dropbox, nomeadas por números e distribuídas em quatro pastas, sendo a 1ª responsável por todas as 74 fotografias, a 2ª, para o grupo assistência, a 3ª, para o grupo imaginário e a 4ª, para o grupo manifestação. Paralelamente, as fotografias foram controladas via planilha Excel com as variáveis: número da foto, palavra-chave, portal de notícia, título da matéria, mês da publicação, ano da publicação, link de acesso e legenda da fotografia.

Os períodos correspondem à seleção dos portais de busca, coleta dos dados e análise das fotografias, como a nomeação dos grupos, foram realizados em dupla. No que corresponde à análise das imagens, foi traçado um paralelo entre as fotografias e a suas respectivas legendas, com vistas a garantir a utilização de fotos que retratassem os profissionais da enfermagem, garantissem a localização geográfica da fotografia e o sexo do profissional, variável esta que, a depender do nível de paramentação, teve a utilização da legenda como recurso fidedigno para a resposta.

Análise dos dados

As 74 fotografias analisadas foram alocadas em três grupos diferentes: Grupo 01: assistência; Grupo 2: imaginário; e Grupo 3: manifestação. O nome de cada grupo foi pensado de forma a favorecer a análise das imagens selecionadas, sendo escolhidas as palavras “assistência”, devido à histórica vinculação do exercício da enfermagem apenas no âmbito assistencial(2121 Fell AS, Hallett CE. First World War Nursing: New Perspectives. First World War Nurs New Perspect. 2013;1-216. https://doi.org/10.43249780203448922
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); “imaginário”, por englobar os estereótipos de características conferidas a uma feminilidade atribuída socialmente às enfermeiras(2222 Martín-Moruno D, Edgar BL, Leyder M. Feminist perspectives on the history of humanitarian relief (1870-1945). Med Confl Surviv. 2020;36(1):2-18. https://doi.org/10.1080/13623699.2020.1717720
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); e “manifestação”, pois, apesar da ausência de registros, a enfermagem foi uma figura presente em grandes movimentos humanitários ao longo da história(2323 Hamrouni N, Gilligan C, Hochschild A, Tronto J. Contre l’indifférence des privil. Genre, Sex Soc. 2013;5. https://doi.org/10.4000/gss.2907
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).

A metodologia categorial temática foi utilizada para análise das fotografias, instrumento que permite a obtenção e aprofundamento de informações a respeito de comportamentos sociais sobre aspectos sociais(2424 Grimmond J, Kornhaber R, Visentin D, Cleary M. A qualitative systematic review of experiences and perceptions of youth suicide. PLoS One. 2019;14(6). https://doi.org/10.1371/journal.pone.0217568
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), tendo por foco o assunto e o contexto, permitindo analisar o conteúdo descritivo ou denotativo (manifesto) e o interpretativo ou conotativo (latente)(2525 Graneheim UH, Lindgren BM, Lundman B. Methodological challenges in qualitative content analysis: a discussion paper. Nurs Educ Today. 2017;56:29-34. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.06.002
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).

Em paralelo, foram realizadas interpretações das fotografias, de acordo com a seleção dos temas, passo que possibilitou a indagação sobre a mensagem que estava sendo transmitida pelas fotografias(2525 Graneheim UH, Lindgren BM, Lundman B. Methodological challenges in qualitative content analysis: a discussion paper. Nurs Educ Today. 2017;56:29-34. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.06.002
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). Assim, os temas foram pensados segundo as características atribuídas à figura da enfermagem, com tópicos como sexo, cor, equipamento/instrumento/acessórios, personagens, ambiente e característica associada ao fazer da enfermeira, atividade de rotina/técnica e representação.

RESULTADOS

Por meio do caráter denotativo das fotografias no que se refere à variável sexo, 06 imagens tinham apenas a representação masculina: 04 se encontravam no grupo da assistência, 02, no grupo manifestação, não havendo representação no grupo imaginário. No que se refere ao grupo assistência, as atividades exercidas pelo sexo masculino retratadas pelas 4 fotografias foram transferência de paciente, paramentação, conforto e esterilização da máscara N95, com veiculação nos portais de notícias dos Estados Unidos, Espanha e Inglaterra.

A conjugação entre a representação feminina e a masculina, de forma concomitante, foi encontrada em 07 fotos: 01 no grupo assistência, 02 no imaginário e 04 no grupo manifestação, com ações que envolvem mudança de decúbito (assistência), retrato humanizado dos profissionais, seja com fotografias que desnudam os profissionais com e sem paramentação e o momento da pausa do ambiente de trabalho (imaginário).

Ao se observar a origem dessas 05 imagens alocadas no grupo manifestação, 04 correspondiam a portais de notícia brasileiros, tendo as taxas de óbitos, reivindicações por equipamentos básicos de proteção e a valorização como um dos motivos para o protesto. Contudo, o contexto conotativo das fotografias permitiu perceber o simbolismo direcionado à figura masculina, que detém papel de destaque, assumindo características de liderança nos movimentos.

Apenas houve uma representação massiva da enfermagem, no grupo imaginário, referente ao ambiente de prestação de cuidados e associada à utilização de equipamento de proteção, revelando uma escassez de representação dos profissionais da enfermagem para além do ambiente de trabalho. Essa lacuna se comprova, tendo em vista a expressiva quantidade de imagens que retratam o cansaço, tristeza e o desconforto da enfermagem, mas que, infelizmente, não alcançaram a realidade externa aos centros de saúde.

Na avaliação relativa à categoria cor, apenas 13 fotografias retrataram, exclusivamente, profissionais pardos e pretos, sendo 7 no grupo assistência, 5 no imaginário e 1 no manifestação. Dentre essas fotografias, todas retrataram profissionais do sexo feminino, com 5 fotos veiculadas em portais de notícia no Brasil.

Referindo-se às fotografias que mesclaram profissionais pardos, pretos e brancos, de forma concomitante, foram encontrados 6 exemplares, sendo 1 no grupo assistência, 2 no imaginário e 3 no manifestação. A representação assistencial capturou a ação do profissional auxiliando na mudança de decúbito de um indivíduo; a foto do imaginário contou com a representação de profissionais com e sem paramentação; e 3 do grupo manifestação revelaram aspectos, como a concentração e a motivação dos atos de protestos.

A presença dos equipamentos de proteção individual (EPI) contou com 58 fotografias retratando profissionais com, pelo menos, um EPI, tendo presença considerável nos grupos imaginário e manifestação. Houve destaque para o jaleco em 11 fotografias (9 no grupo manifestação e 2 no imaginário), 30 fotografias com uso de roupa privativa (10 no grupo assistência, 11 no imaginário e 6 no manifestação), 9 fotografias com macacão (6 no grupo assistência e 3 no imaginário) e 28 fotografias com profissionais utilizando capote (24 no grupo assistência, 2 no imaginário e 3 no manifestação).

A máscara, material adotado como obrigatório para a prevenção da infecção contra o SARS-CoV-2, foi analisada de forma separada, considerando-se que foi um equipamento que extrapolou a vinculação dos ambientes de prestação de saúde e se propagou em todos os setores sociais. Contou com a presença de diferentes materiais, sendo 27 fotografias com máscaras cirúrgicas (14 no grupo assistência, 3 no imaginário e 9 no manifestação), 3 fotografias, todas no grupo assistência, com máscara de tecido, 10 fotografias com a N95 (8 no grupo assistência e 2 no imaginário) e 8 fotografias apenas com a Peça Facial Filtrante (PFF2): 5 no grupo assistência, 2 no imaginário e 1 no manifestação. Na ausência da representação dos profissionais da enfermagem com máscara, foram encontradas 17 imagens, sendo 3 no grupo assistência, 12 no imaginário e 1 no manifestação.

No que concerne às atividades representadas no grupo assistência, as principais ações capturadas foram paramentação, vacinação, preparação do leito, testagem para COVID-19 e preparo e aplicação de medicação. No contexto do grupo imaginário, as principais ações retratadas foram o cansaço, a representação da figura do herói, o desgaste emocional e físico. No grupo manifestação, 5 das 18 fotografias mostraram os ambientes de prestação de saúde, com 3 fotografias homenageando os profissionais com aplausos ou flores e 2 retratando o protesto dos profissionais em relação aos óbitos ocasionados pela da COVID-19.

Figura 1
Combinação de imagens mostra os auxiliares de enfermagem antes e depois de colocarem as máscaras, 12/05/2020

Figura 2
Enfermeiros fazem homenagem em Brasília a colegas mortos pela COVID-19

Figura 3
A enfermeira do hospital rural Nasrec, em Joanesburgo (África do Sul), protegida com seu equipamento de proteção individual para cuidar de pacientes com COVID-19

Figura 4
Um técnico pendura máscaras N95 para serem esterilizadas com luz UVC em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos

Figura 5
Mesmo na Zona Rural, grupos prioritários receberam a vacina

DISCUSSÃO

Considerando-se o contexto histórico da enfermagem, os achados referentes ao destaque do sexo masculino suscitam o seguinte questionamento: por que o homem assumiu um caráter reivindicatório de posicionamento e maior visibilidade em uma profissão com expressiva presença do sexo feminino?(44 World Health Organization (WHO). State of the World’s Nursing Report 2020: investing in education, jobs and leadership [Internet]. 2020 [cited 2021 May 9]. 144 p. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240003279
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). O que leva a esse tipo de postura masculina em uma profissão predominantemente feminina?

No que se refere ao processo de institucionalização, a enfermagem adotou estereótipos de “auxiliar” da categoria médica, bem como uma veiculação a atribuições domésticas, com vistas ao reconhecimento social como área de atuação propícia ao gênero feminino(2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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), tendo forte vinculação com a caridade, cuidado, amor e raízes do trabalho humanitário atribuídas à profissão(2222 Martín-Moruno D, Edgar BL, Leyder M. Feminist perspectives on the history of humanitarian relief (1870-1945). Med Confl Surviv. 2020;36(1):2-18. https://doi.org/10.1080/13623699.2020.1717720
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,2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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). A enfermagem possuiu, no século XIX, por exemplo, a figura de Arenal como modelo de feminilidade espanhola na prestação de cuidados ternos em situações humanitárias(2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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).

Essa construção do perfil profissional, que se iniciou no final do século XIX e se consolidou no transcurso do século XX, surgiu em um contexto histórico de conflitos e tornou oportuna a inserção de mulheres, como Florence Nightingale, Mary Seacole e Anna Nery(2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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-2727 Padilha MI. From Florence Nightingale to the COVID-19 pandemic: the legacy we want. Texto Contexto Enferm. 2020;29:1-13. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2020-0327
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). Tais figuras e seus trabalhos proporcionaram visibilidade à representação feminina, imprimindo uma nova forma de cuidar e o significativo papel para a enfermagem como profissão. Contudo, a bioética feminista faz uma reflexão ampliada sobre a indiferença/escassez de registros sobre essas mulheres que delimitaram seu espaço, especialmente em períodos de dificuldade decorrentes de crises humanitárias(2222 Martín-Moruno D, Edgar BL, Leyder M. Feminist perspectives on the history of humanitarian relief (1870-1945). Med Confl Surviv. 2020;36(1):2-18. https://doi.org/10.1080/13623699.2020.1717720
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).

Nesse processo de compreensão do silenciamento feminino, documentos, como cartas, diários, álbuns de fotos e autobiografias, apesar de terem caráter subjetivo, tornaram-se instrumentos utilizados para se investigar e de análise do real papel feminino na história(2828 Summerfield P. Subjectivity, the self and historical practice. New Dir Soc Cult Hist. 2018;21-44. https://doi.org/10.5040/9781474204835.ch-001
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). Entretanto, esse protagonismo dos homens nos portais de notícia brasileiros, seja por estarem em maior número ou em primeiro plano nas fotografias alocados no grupo manifestação, alerta para uma invisibilidade feminina que ultrapassou o campo teórico e se propaga também nos meios midiáticos de reprodução.

Considerando-se os aspectos que envolveram a organização e concepção da enfermagem como categoria profissional, a hierarquização e a divisão do processo de trabalho das “nurses” e “lady nurses” mostraram-se como ferramentas imprescindíveis para a subjugação das mulheres pardas e pretas atuantes na área(2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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). Elas foram renegadas no processo de institucionalização da profissão, em decorrência de uma tentativa de vincular o perfil da enfermagem a um maior nível socioeconômico e à população branca(2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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). Esses denominadores foram elencados para elitização da profissão, chegando a ser considerados requisitos informais para a seleção de vagas nas primeiras escolas de enfermagem, com a titulação sendo usada para a aplicação da divisão técnica da categoria(55 Almeida AH. Mulheres negras e a realidade da enfermagem no Brasil. NASCECME[Internet]. 2020 [cited 2021 Dec 8]. 4 p. Available from: http://nascecme.com.br/2014/wp-content/uploads/2020/07/Artigo-Alva-Helena-de-Almeida.pdf
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).

Esse contexto e forma de pensamento ainda se refletem na sociedade atual, o que pode ser verificado na análise dos grupos imaginários e manifestação, os quais não contaram com retratos significativos de profissionais pardos e pretos nas fotografias veiculadas nos portais de notícia no Brasil, ainda que a primeira enfermeira vacinada e retratada fosse uma mulher negra. Essa situação reforça a ausência de representação, que silencia a maior parte da categoria profissional. Ao se analisar o apontamento de Oliveira, em que a enfermagem é composta por 53% de pessoas pardas e pretas no Brasil, fica evidente que essa invisibilidade transcende a enfermagem para ser vista como um reflexo da ausência representatividade social(2222 Martín-Moruno D, Edgar BL, Leyder M. Feminist perspectives on the history of humanitarian relief (1870-1945). Med Confl Surviv. 2020;36(1):2-18. https://doi.org/10.1080/13623699.2020.1717720
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).

Analisando-se as mesmas fotografias, mas utilizando-se o caráter conotativo para ampliar a percepção, verificou-se grande vinculação da enfermagem aos ambientes de prestação de cuidados, especialmente na categoria assistência, com 26 fotografias. Ao analisar as fotografias alocadas no grupo manifestação, observou-se que, apesar de terem sido registradas, em sua maioria, em ambientes fora do hospital, houve a utilização simbólica dos EPIs durante a realização dos atos. Essa foi a forma encontrada pela enfermagem para potencializar e chamar atenção às suas reivindicações, buscar por direitos, reconhecimento e manifestações de luta, seja nas ruas ou em frente a espaços de órgãos públicos(2929 Catton H. Nursing in the COVID-19 pandemic and beyond: protecting, saving, supporting and honouring nurses. Int Nurs Rev. 2020;67(2):157-9. https://doi.org/10.1111/inr.12593
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-3030 Matuschek C, Moll F, Fangerau H, Fischer JC, Zänker K, Van Griensven M, et al. The history and value of face masks. Eur J Med Res. 2020;25(1). https://doi.org/10.1186/s40001-020-00423-4
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).

Tendo seus primeiros registros no período da peste bubônica, a máscara foi o EPI com destaque social na pandemia do coronavírus. Em meio à sua obrigatoriedade mundial, foi retratada como objeto símbolo da atual sociedade já em março de 2020 pelo The New York Times(3030 Matuschek C, Moll F, Fangerau H, Fischer JC, Zänker K, Van Griensven M, et al. The history and value of face masks. Eur J Med Res. 2020;25(1). https://doi.org/10.1186/s40001-020-00423-4
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). Adquiriu conotações e vieses culturais, éticos e políticos, ao serem usadas pela população como demonstração de apoio à ciência e forma de proteção coletiva. Como prerrogativa contrária, foi utilizada com analogia da obrigatoriedade do objeto como forma de coerção. A adesão ao seu uso adquiriu caráter ideológico e político em todo o mundo(3131 Martinelli L, Kopilaš V, Vidmar M, Heavin C, Machado H, Todorović Z, et al. Face masks during the COVID-19 Pandemic: a simple protection tool with many meanings. Front Public Health. 2020;8:606635. https://doi.org/10.3389/fpubh.2020.606635
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).

Nesta pesquisa, a ausência de máscara nas fotografias foi encontrada no grupo imaginário, com 12 fotografias, no grupo assistência, com 3 e no grupo manifestação, com apenas 1. Essas representações fotográficas no âmbito da saúde demonstraram a escassez de recursos para proteção individual, cristalizando a vulnerabilidade desses profissionais e a escassez de recursos para sua proteção, o que ocorreu globalmente no início da pandemia(22 Shahrour G, Dardas LA. Acute stress disorder, coping self-efficacy and subsequent psychological distress among nurses amid COVID-19. J Nurs Manag. 2020;28(7):1686-95. https://doi.org/10.1111/jonm.13124
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,1414 Serrano Gallardo P. COVID-19: vulnerability in the eye of the hurricane. Enferm Clin. 2021;31:S2-3. https://doi.org/10.1016/j.enfcli.2020.05.020
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).

No grupo imaginário, a ausência de máscara é um denominador que pode ser justificado como uma tentativa em retratar o profissional da saúde em suas múltiplas faces e vivências. O impacto para a saúde mental dos profissionais, agravado pelo medo de infecção, isolamento e a ausência de referências teóricas que nortearam o cuidado no contexto pandêmico, foi expressivo(11 Dincer B, Inangil D. The effect of Emotional Freedom Techniques on nurses’ stress, anxiety, and burnout levels during the COVID-19 pandemic: a randomized controlled trial. Explore. 2021;17(2):109-14. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.11.012
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,1212 Bassi M, Negri L, Delle Fave A, Accardi R. The relationship between post-traumatic stress and positive mental health symptoms among health workers during COVID-19 pandemic in Lombardy, Italy. J Affect Disord. 2021;280(Pt B):1-6. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.11.065
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). Esse fato, acrescido à necessidade da utilização constante dos equipamentos de proteção individual na assistência, em especial para aqueles positivos para SARS-CoV-2(11 Dincer B, Inangil D. The effect of Emotional Freedom Techniques on nurses’ stress, anxiety, and burnout levels during the COVID-19 pandemic: a randomized controlled trial. Explore. 2021;17(2):109-14. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.11.012
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) e alta demanda de pacientes, pode ser considerado elemento decisivo para o desgaste físico e emocional dos servidores da saúde(11 Dincer B, Inangil D. The effect of Emotional Freedom Techniques on nurses’ stress, anxiety, and burnout levels during the COVID-19 pandemic: a randomized controlled trial. Explore. 2021;17(2):109-14. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.11.012
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,1212 Bassi M, Negri L, Delle Fave A, Accardi R. The relationship between post-traumatic stress and positive mental health symptoms among health workers during COVID-19 pandemic in Lombardy, Italy. J Affect Disord. 2021;280(Pt B):1-6. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.11.065
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).

Nas atribuições da enfermagem, principalmente no grupo imaginário, ficou evidente a ausência de representações voltadas à maior complexidade das atribuições da enfermagem. As atividades representadas eram vacinação, cuidado beira leito e testagem da população. Logo, existe desconhecimento sobre a amplitude do trabalho dos enfermeiros, que inclui ações técnicas, gerenciais, de supervisão e administração, ensino e pesquisa. Deve-se buscar o uso midiático da prática baseada em evidências como instrumento para promover visibilidade social e política das dimensões da profissão(3232 Pierrotti VW, Guirardello EB, Toledo VP. Nursing knowledge patterns: nurses’ image and role in society perceived by students. Rev Bras Enferm. 2020;73(4):e20180959. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0959
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). Esse fator pode contribuir para a formação de estereótipos, favorecendo a desvalorização da profissão, ao descaracterizar, estigmatizar e sub-representar os profissionais no seu exercício profissional(88 Steele CM, Aronson J. Stereotype threat and the intellectual test performance of African Americans. J Pers Soc Psychol. 2020;69(5):797-811. https://doi.org/10.1037//0022-3514.69.5.797
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).

Assim, compreende-se que as vulnerabilidades que envolvem a enfermagem estão conectadas à sua concepção histórica, principalmente no Brasil. Onde, apesar da consolidação enquanto categoria profissional, ainda existe uma visão destes como auxiliar de profissionais da área médica, sendo refletida na hierarquização, baixo reconhecimento social e salarial presentes na sociedade(2626 Lombardi MR, Campos VP. A enfermagem no Brasil e os contornos de gênero, raça/cor e classe social na formação do campo profissional. Rev ABET. 2018;17(1):28-46. https://doi.org/10.22478/ufpb.1676-4439.2018v17n1.41162
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).

Limitações do estudo

Como lacuna deste estudo, tem-se o fato de as fotografias analisadas serem veiculadas a países do grupo dos 20 (G20), sendo uma análise dos principais portais de notícia nos 6 continentes (África, Ásia, Europa, Oceania, América e Antártida). Ademais, não foi possível realizar uma discussão ampliada sobre as distintas vulnerabilidades subjacentes às práticas da enfermagem. Isso se deve ao fato de que as fotos não especificavam a categoria dos profissionais retratados nas imagens.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Faz-se necessário a criação e implementação de estratégias, como o uso das fotografias, para promover a compreensão da sociedade à enfermagem enquanto categoria profissional, que busca adoção de conhecimentos e práticas científicas para o exercício da profissão. É preciso iniciar e/ou consolidar iniciativas para promover um reconhecimento social da profissão, favorecendo a exigência de um ambiente de trabalho digno e adequado, apesar da extrema vulnerabilidade no cenário das práticas de saúde agravadas pelo SARS-CoV-2.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização das fotografias como instrumento desta pesquisa revelou uma associação arcaica entre gênero e atribuições da enfermagem que remetem ao período de institucionalização da profissão. Nas 22 fotografias veiculadas pelos portais de notícias brasileiros, foi observada sub-representação das mulheres negras e dos homens como figuras de destaque nos espaços de reivindicação política e social. No contexto mundial, evidenciaram-se vulnerabilidades relacionadas às condições de trabalho, que tiveram consequências nas dimensões psicológicas, físicas, taxa de infecção e óbitos desses profissionais ao longo da pandemia.

Assim, apesar de o grupo de países analisados comporem as maiores economias mundiais, pôde-se observar uma vulnerabilidade da enfermagem anterior à pandemia, em que o estereótipo cultural e de gênero interferem na concepção social referente às atribuições e reconhecimento da profissão, tendo a COVID-19 como um palco para reivindicação e oportunidade de visibilidade mundial.

  • FOMENTO
    O presente trabalho foi publicado com apoio da fundação de apoio à pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Maria Itayra Padilha

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Out 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2022
  • Aceito
    12 Jun 2022
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