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Implicações familiares durante a privação de liberdade e a Teoria do Apego: uma metassíntese qualitativa

RESUMO

Objetivos:

sintetizar as evidências de estudos qualitativos acerca das implicações que o processo de privação de liberdade apresenta nas relações familiares de adultos apenados.

Métodos:

metassíntese qualitativa, realizada em janeiro de 2021, por meio da busca de publicações indexadas em seis bases de dados. A amostra foi composta por 10 estudos, que foram analisados pelo software MaxQDA®, e realizada a síntese interpretativa com base na Teoria do Apego.

Resultados:

com base nos conceitos de primeira ordem, foi possível sintetizar os conceitos de segunda e terceira ordem e apresentá-los em duas unidades de contexto interpretativo: Estratégias de fortalecimento de vínculos familiares; Relações que contribuem para a ruptura de vínculos familiares. Foi evidenciado que as visitas, telefonemas e cartas favorecem o fortalecimento do apego seguro.

Considerações Finais:

o encarceramento provoca consequências na formação de vínculos, refletindo no processo de apego entre os familiares.

Descritores:
Relações Familiares; Família; Prisioneiros; Afeto; Enfermagem

ABSTRACT

Objectives:

to synthesize evidence from qualitative studies about the implications that the deprivation of liberty process has on incarcerated adults’ family relationships.

Methods:

a qualitative meta-synthesis, carried out in January 2021, by searching for publications indexed in six databases. The sample consisted of 10 studies, which were analyzed by MaxQDA®, and an interpretative synthesis was performed based on Attachment Theory.

Results:

based on first-order concepts, it was possible to synthesize second- and third-order concepts and present them in two interpretive context units: Strategies for strengthening family ties; Relationships that contribute to breaking down family ties. It was evidenced that visits, phone calls and letters favor the strengthening of secure attachment.

Final Considerations:

incarceration causes consequences in tie formation, reflecting on the attachment process between family members.

Descriptors:
Family Relations; Family; Prisoners; Affect; Nursing

RESUMEN

Objetivos:

sintetizar evidencias de estudios cualitativos sobre las implicaciones que tiene el proceso de privación de libertad en las relaciones familiares de los prisioneros.

Métodos:

metasíntesis cualitativa, realizada en enero de 2021, mediante búsqueda de publicaciones indexadas en seis bases de datos. La muestra estuvo compuesta por 10 estudios, los cuales fueron analizados por el software MaxQDA®, y se realizó una síntesis interpretativa basada en la Teoría del Apego.

Resultados:

a partir de los conceptos de primer orden, fue posible sintetizar los conceptos de segundo y tercer orden y presentarlos en dos unidades de contexto interpretativo: Estrategias para el fortalecimiento de los vínculos familiares; Relaciones que contribuyen a la ruptura de los lazos familiares. Se evidenció que las visitas, llamadas telefónicas y cartas favorecen el fortalecimiento del apego seguro.

Consideraciones Finales:

el encarcelamiento provoca consecuencias en la formación de vínculos, reflexionando sobre el proceso de apego entre los miembros de la familia.

Descriptores:
Relaciones Familiares; Familia; Prisioneros; Afecto; Enfermería

INTRODUÇÃO

No decorrer do tempo, o conceito de família foi influenciado por inúmeras mudanças, concomitantes aos acontecimentos históricos, políticos, econômicos e sociais vivenciados no Brasil e no mundo. Apesar das mudanças estruturais observadas, a família segue sendo a instituição que promove e fortalece vínculos e o suporte afetivo necessário para o desenvolvimento humano, fornecendo subsídios indispensáveis ao bem-estar daqueles que a integram(11 Fragoso GL. [When an image does not reveal everything: analysis of the discourse of the Family Health Strategy logo in the light of the concept of the contemporary family]. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25(1):4293-301. https://doi.org/10.1590/1413-812320202511.04032019 Portuguese.
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251...
). Além disso, ela desempenha também um papel decisivo no âmbito da educação e saúde, pois, dentro da sua estrutura, ela transmite os valores culturais, morais e éticos que influenciam o comportamento e a vida em sociedade.

As famílias ocupam diferentes locais na luta pela reprodução da vida e da sobrevivência. Nessas relações de convivência, conflituosas ou não, trocam experiências, acumulam conhecimentos e habilidades, hábitos e costumes que auxiliam na produção e na reprodução de concepções e valores culturais(22 Zhang Y. Family functioning in the context of an adult family member with illness: a concept analysis. J Clin Nurs. 2018;27(15-16):32053224 https://doi.org/10.1111/jocn.14500
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). O encarceramento favorece rupturas no fluxo da vida, pois repercute diretamente no distanciamento do convívio familiar dos filhos, amigos e de todos que integram o ambiente social(33 Diuana V, Corrêa MCDV, Ventura M. [Women in Brazilian prisons: tensions between punitive disciplinary order and maternity prescriptions]. Physis. 2017;27(3):727-47. https://doi.org/10.1590/s0103-73312017000300018 Portuguese.
https://doi.org/10.1590/s0103-7331201700...
).

Segundo o World Prison Brief(44 PrisonStudies. World prison brief, Institute for Crime & Justice Policy Research[Internet]. 2021 [cited 2021 May 27]. Available from: https://www.prisonstudies.org/
https://www.prisonstudies.org/...
), levantamento mundial sobre dados prisionais realizado pelo Institute for Crime & Justice Research (ICPR) e pela Birkbeck University of London, o Brasil ocupa a terceira posição em número de pessoas privadas de liberdade, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e China. Dados do Departamento Penitenciário Nacional mostram que, em dezembro de 2019, a população penitenciária brasileira atingiu o número de 748.009 pessoas, incluindo homens e mulheres de todos os regimes prisionais(55 Ministério da Justiça e Segurança Pública (BR). Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional. Painel Interativo Dezembro [Internet]. 2019[cited 2021 May 25]. Available from: http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen
http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/s...
).

Ao longo dos anos, essa temática foi abordada e discutida, principalmente, sob a perspectiva das ciências humanas e sociais(66 Araújo MM, Moreira AS, Cavalcante EGR, Damasceno SS, Oliveira DR, Cruz RSBLC. [Atención de salud para mujeres encarceladas: análisis basado en la Teoría de las Necesidades Humanas Básicas]. Esc Anna Nery. 2020;24(3):e20190303. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2019-0303. Portuguese.
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), cujos estudos destacaram o perfil epidemiológico dessa população(77 Barbosa ML, Medeiros SG, Chiavone FBT, Atanásio LLM, Costa GMC, Santos VEP. Nursing actions for liberty deprived people: a scoping review. Esc Anna Nery. 2019;23(3):e20190098. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2019-0098
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), a educação no ambiente do cárcere(88 Silva THPB, Moraes BMP, França KS. A educação como refúgio na prisão: um estudo a respeito da educação das pessoas privadas de liberdade. Anais V CONEDU[Internet]. Campina Grande: Realize Editora; 2018[cited 2021 May 25]. Available from: https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/45680
https://www.editorarealize.com.br/index....
), a saúde e as políticas públicas(99 Silva A, Feitosa ANA, Oliveira CKS, Oliveira GS, Moreira RLSF. [Prison health: health analysis of prisoners]. Rev Interdisc Saúde. 2019;6:70-84. https://doi.org/10.35621/23587490.6.1.70-84 Portuguese.
https://doi.org/10.35621/23587490.6.1.70...
,1010 Valim EMA, Daibem AML, Hossne WS. Atenção à saúde de pessoas privadas de liberdade. Rev Bioét. 2018;26(2):282-90. https://doi.org/10.1590/1983-80422018262249
https://doi.org/10.1590/1983-80422018262...
,1111 Barnes J, Theule J. Maternal depression and infant attachment security: a meta-analysis. Infant Mental Health J. 2019;40:817– 34. https://doi.org/10.1002/imhj.21812
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), entre outras. Ressalta-se que os enfermeiros e a equipe de saúde possuem papel relevante no processo de socialização e promoção de saúde à família. Contudo, o conhecimento sobre a privação de liberdade e suas repercussões nas relações familiares ainda apresenta uma lacuna na literatura científica, o que impede que estes profissionais utilizem as melhores evidências para direcionar suas práticas a esta população.

Nessa perspectiva, sintetizar o conhecimento produzido sobre esse fenômeno e interpretar como as questões de apego se estabelecem durante a prisão de um membro familiar fortalecem a busca por estratégias que pretendem mitigar possíveis implicações à saúde mental e física, principalmente para crianças e cuidadores que vivenciam essa realidade.

Diante do exposto e da importância de melhor esclarecer como se operam as relações familiares dos indivíduos apenados, emergiu a necessidade de sintetizar as evidências de estudos qualitativos acerca das implicações que o processo de privação de liberdade apresenta nas relações familiares de adultos apenados.

OBJETIVOS

Sintetizar as evidências de estudos qualitativos acerca das implicações que o processo de privação de liberdade apresenta nas relações familiares de adultos apenados.

MÉTODOS

Metassíntese qualitativa, método utilizado para criar uma síntese interpretativa das evidências primárias qualitativas, a fim de auxiliar na tomada de possíveis decisões clínicas(1212 Drisko JW. Qualitative research synthesis: An appreciative and critical introduction. Qualit Soc Work. 2020;19(4):736-53. https://doi.org/10.1177/1473325019848808
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). Para tanto, foram utilizadas as recomendações descritas no Enhancing Transparency in Reporting the Synthesis of Qualitative Research (ENTREQ), para a condução das cinco etapas(1313 Tong A, Flemming K, McInnes E. Enhancing transparency in reporting the synthesis of qualitative research: ENTREQ. BMC Med Res Methodol. 2012;12:181. https://doi.org/10.1186/1471-2288-12-181
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) de desenvolvimento desta revisão, como mostra a Figura 1.

Figura 1
Fluxograma da operacionalização da metassíntese segundo o Enhancing Transparency in Reporting the Synthesis of Qualitative Research, Chapecó, Santa Catarina, Brasil, 2021

A estratégia SPIDER(1414 Sousa MSA, Soares CB. Síntese de evidências qualitativas: guia introdutório. Bol Instit Saúde – BIS [Internet]. 2019 [cited 2021 May 25];20(2):17-22. Available from: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/41629
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) foi utilizada para conduzir a elaboração da questão investigativa e a busca utilizada, em queo acrônimo das palavras foi estruturado por: amostra (S): adultos apenados; fenômeno de interesse (PI): possíveis implicações estabelecidas nas relações entre os apenados e seus familiares durante o processo de privação de liberdade; desenho (D): etnografia, fenomenologia, teoria fundamentada nos dados, estudos de caso, análise de conversação, narrativa, hermenêutica, histórica, pesquisa-ação, análise temática, de conteúdo ou genérica descritiva; avaliação do grupo amostral sobre o fenômeno de interesse (E): perspectiva ou experiência sobre o fenômeno; tipo de pesquisa (R): qualitativa. Assim, foi elaborada a seguinte pergunta de pesquisa: quais as implicações do processo de privação de liberdade nas relações familiares de adultos apenados?

Para identificar os estudos elegíveis na literatura, foi realizada uma busca sistemática, por dois pesquisadores independentes, em seis bases de dados (nesta ordem de acesso): PubMed, Web of Science, Embase, Science Direct, PsycINFO e LILACS. A estratégia de busca foi desenvolvida combinando-se os termos do MeSH, EMTREE, APA thesaurus e DeCS, como family relations, family, prisons e prisoners, bem como seus sinônimos e palavras-chave, os quais foram combinados com os operadores booleanos OR e AND . Apresenta-se a seguinte estratégia de busca avançada na base de dados MEDLINE: (((((((((((((Family Relations]) OR (Family[Title/Abstract])) AND ((((((Prison [Title/Abstract]) OR (Prisoners Title/Abstract])). A partir desta, adaptaram-se as demais estratégias de acordo com as especificidades de cada base de dados. A busca foi realizada em janeiro de 2021, limitada ao período entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020.

Foram incluídas as referências originais, redigidas nos idiomas português, inglês ou espanhol, que empregaram exclusivamente o método qualitativo e que investigavam as relações familiares vinculadas ao processo de privação de liberdade. A literatura considerada cinzenta (livros, trabalhos de conclusão de curso, teses e dissertações), editoriais, cartas ao editor, estudos reflexivos e de revisão foram excluídos.

A busca sistemática resultou na identificação de um total de 4.827 registros: 2.769 na base de dados PubMed, 162 na Web of Science, 651 na Embase, 1.165 na Science Direct, 77 na PsycINFO, e três na LILACS. Duas referências foram obtidas por meio de busca assistemática. Portanto, foram capturadas 4.829 publicações. Para otimizar o processo, dois pesquisadores, de forma independente (primeiro e último autor), conduziram a seleção dos estudos por meio da plataforma Rayyan®(1515 Cleo G, Scott AM, Islam F. Usability and acceptability of four systematic review automation software packages: a mixed method design. Syst Rev 2019;8:e145. https://doi.org/10.1186/s13643-019-1069-6
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). O cegamento do processo foi assegurado, e as possíveis discordâncias foram resolvidas por consulta a um terceiro revisor. Inicialmente, os registros identificados foram carregados na plataforma e, após a retirada das duplicatas, 4.770 foram analisados a partir da leitura dos títulos e resumos. Em seguida, foram aplicados os critérios de seleção, e 4.671 registros foram excluídos, por serem estudos com metodologias quantitativas, teórico-reflexivas, mistas (quali-quantitativas), estudos de revisão e por não abordarem o fenômeno de interesse. Nesse processo, foram eleitos 99 registros, os quais foram analisados na íntegra, e, dentre esses, 89 foram excluídos por não responderem à pergunta de pesquisa. Convém salientar que, respeitando a ordem de pesquisa das bases de dados, os registros duplos foram considerados uma única vez. Para a síntese final, foram selecionados 10 estudos. O fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses(PRISMA)(1616 Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ. 2021;372(71):1-9. https://doi.org/10.1136/bmj.n71
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) foi utilizado para relatar o processo de seleção dos estudos incluídos na metassíntese (Figura 2).

Figura 2
Fluxograma da operacionalização da metassíntese segundo o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses, Chapecó, Santa Catarina, Brasil, 2021

Utilizando-se os critérios do checklist do Critical Appraisal Skills Programme (CASP), dois pesquisadores, de forma independente, avaliaram o rigor dos estudos selecionados(1717 Critical Appraisal Skills Programme. CASP Qualitative Checklist[Internet]. 2018[cited 2021 May 27]. Available from:https://casp-uk.net/wp-content/uploads/2018/03/CASP-Systematic-Review-Checklist-2018_fillable-form.pdf
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). Devido à divergência na decisão quanto a um dos registros, um terceiro avaliador foi consultado, obtendo-se consenso. Após o processo analítico, as referências foram categorizadas em duas classes (A e B), sendo a classe A representativa das referências com pequeno viés de risco (atendimento de, pelo menos, nove dos dez itens) e a classe B indicativa das referências com viés de risco moderado (pelo menos 5 dos 10 itens atendidos na análise). Nesse processo, optou-se pela não exclusão de nenhuma referência (Quadro 1).

Quadro 1
Avaliação da qualidade dos estudos incluídos segundo o Critical Appraisal Skills Programme, Chapecó, Santa Catarina, Brasil, 2021

A extração dos dados dos estudos foi realizada com o auxílio do instrumento adaptado do Instituto Joanna Briggs(1818 Goopy S, Suva C, Hayden KA, Silversides H, Palova K. Activities and programmes that support the emotional wellness and well-being of refugees, immigrants and other newcomers within settlement agencies: a scoping review protocol. BMJ Open. 2020;10:e033377. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-033377
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), composto pelas informações: título, autores, país, ano, local de publicação, fenômeno de interesse, objetivos do estudo, população, metodologia, teoria, resultados e conclusões(1919 Siddaway AP, Wood AM, Hedges LV. How to do a systematic review: a best practice guide for conducting and reporting narrative reviews, meta-analyses, and meta-syntheses. Ann Rev Psychol. 2018;70:747-70. https://doi.org/10.1146/annurev-psych-010418-102803
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). De posse dos dados, utilizou-se o software MaxQDA®, versão 2020(2020 Kuckartz U, Rädiker S. Analyzing Qualitative Data with MAXQDA: text, audio, and video. Chamonix: Springer International Publishing; 2019. https://doi.org/10.1007/978-3-030-15671-8
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), para determinar a relação entre as evidências, analisando suas características sob ampla perspectiva.

O software possibilitou aprofundamento, extrapolando os conteúdos extraídos, sob a perspectiva de dois níveis diferentes de análises conectadas: (1) a área temática e os seus possíveis temas relacionados: sua representação em termos quantitativos (frequência de segmentos codificados) e qualitativos (que significado eles transmitiam no contexto estudado); (2) as semelhanças e diferenças presentes nas perspectivas abordadas nas referências. Tais características permitiram resumir os principais achados dos estudos quanto às suas particularidades e, assim, foram identificados os conceitos de primeira ordem (Figura 3). Posteriormente, em um processo interpretativo, foram comparados e agrupados os conceitos de primeira ordem, dos quais foram extraídos os conceitos de segunda ordem(1212 Drisko JW. Qualitative research synthesis: An appreciative and critical introduction. Qualit Soc Work. 2020;19(4):736-53. https://doi.org/10.1177/1473325019848808
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). Para construir a síntese interpretativa e compreender as perspectivas/experiências dos adultos apenados sobre as relações familiares durante o processo de privação de liberdade, os conceitos de segunda ordem foram reinterpretados à luz de um contexto teórico, o que permitiu elaborar sínteses interpretativas (conceitos de terceira ordem) sobre o fenômeno estudado(1212 Drisko JW. Qualitative research synthesis: An appreciative and critical introduction. Qualit Soc Work. 2020;19(4):736-53. https://doi.org/10.1177/1473325019848808
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).

Figura 3
Descrição dos conceitos de primeira ordem, resultante do processo analítico dos estudos selecionados, Chapecó, Santa Catarina, Brasil, 2021

O suporte teórico utilizado para reinterpretar os conceitos foi a Teoria do Apego (TA). O apego é um sentimento biologicamente estimulado pela busca de conforto e segurança, estruturado por meio de modelos operantes internos e representações mentais de si e das figuras de apego. A forma como as famílias fortalecem seus laços, a maneira como a criança se vincula aos pais e/ ou cuidadores, buscando se sentir valorizada e segura, pode ser explicada por meio dessa teoria(2121 Coutinho VM, Queiroga BAM, Souza RC. Attachment style in children with chronic diseases: a comprehensive review. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018308. https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018308 Portuguese. 15
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).

A TA destaca a formação dos vínculos durante as fases da vida. Baseia-se na interpretação das ligações afetivas que ocorrem entre adultos, bebês e crianças (membros da família) que se sustentam no desenvolvimento socioemocional humano, o qual pode ser classificado como seguro e inseguro(2222 Rajkumar RP. Attachment theory and psychological responses to the covid-19 pandemic: a narrative review. Psychiatr Danubina. 2020;32(2):256–61. https://doi.org/10.24869/psyd.2020.256
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). O apego seguro pode ser definido como aquele no qual os cuidadores (figuras de apego) proporcionam às crianças uma visão de mundo positiva, possibilitando aos membros familiares um sentimento de liberdade para que possam expressar seus sentimentos, além de possibilitar autonomia para que explorem o ambiente e desenvolvam sua confiança. Já o apego inseguro é uma demonstração de dificuldades e insegurança por parte dos membros familiares, evidenciado por sentimentos de ansiedade, depressão e baixa autoestima, resultado da convivência com uma figura de apego que se apresentou como instável e vulnerável(2121 Coutinho VM, Queiroga BAM, Souza RC. Attachment style in children with chronic diseases: a comprehensive review. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018308. https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018308 Portuguese. 15
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).

RESULTADOS

A construção da presente metassíntese é resultante da reinterpretação dos resultados de dez estudos qualitativos. A amostra final dos estudos foi organizada e classificada por título, país e ano de publicação da investigação, principais objetivos, população e o local de desenvolvimento das pesquisas (Quadro 2).

Quadro 2
Caracterização dos estudos selecionados, Chapecó, Santa Catarina, Brasil, 2021

A organização dos conceitos em primeira ordem é caracterizada pela etapa inicial de análise dos estudos, buscando sintetizar os principais conceitos e ideias encontrados nos artigos originais. Na figura abaixo, apresenta-sea descrição dos conceitos de primeira ordem, contextualizados conforme o sexo da pessoa privada de liberdade.

DISCUSSÃO

Foi evidenciado que tanto no contexto masculino como no feminino a família representa um suporte de apoio emocional e afetivo que interfere diretamente na forma como essas pessoas vivenciam o cárcere. Além disso, a necessidade e o interesse em manter contato com os filhos também foram destacados nos estudos.

Ao longo dos últimos dez anos, as pesquisas sobre encarceramento e relações familiares tiveram seu foco maior na pessoa privada de liberdade e no contexto da prisão em si. Foram evidenciadas a escassez de estudos sobre o processo de privação de liberdade e as relações com os familiares de adultos apenados em países em desenvolvimento, como países da África, América Central e Caribe, Ásia e Oceania, o que ressalta a necessidade de ampliar o foco nessa temática.

Com base nos conceitos de primeira ordem e com o aporte da TA, foi possível sintetizar os conceitos de segunda e terceira ordem e apresentá-los em duas unidades de contexto interpretativo, discutidos a seguir.

Estratégias de fortalecimento de vínculos familiares

Mediadas pelos conceitos de primeira ordem, as evidências destacam o desenvolvimento do sentimento de responsabilidade dos homens e mulheres privados de liberdade em manter um contato assíduo com os filhos e demais familiares, participando ativamente das decisões que envolvem aspectos do desenvolvimento das crianças. Além de acompanhar o progresso escolar, eles se sentem diretamente responsáveis pelo futuro dos filhos nas decisões que tomarão, no incentivo ao estudo e engajamento no trabalho, bem como na responsabilidade de transmitir conhecimentos acerca das práticas culturais da família(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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).

A família é caracterizada como um elo de proteção, constituindo a principal forma de interação social durante o cumprimento da pena, funcionando como suporte na busca por crenças, valores e comportamentos que dão ao indivíduo o senso de identidade e pertencimento ao mundo e para consigo, conduzindo os apenados na forma de agir e de tomar decisões(2525 Ricaldi da Rosa L. La persona presa y (en) su trama social: un análisis pertinente Subj Procesos Cogn. 2015[cited 2020 May 10];19(2):208-26. Available from: https://www.redalyc.org/pdf/3396/339643529011.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3396/3396435...
).

Entre as estratégias utilizadas para fortalecer os laços familiares, destacam-se a comunicação via telefone, cartas e o contato pessoal por meio das visitas às prisões, as quais favorecem a saúde emocional dos presos, das crianças e o estreitamento das relações entre detentos e familiares(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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,2424 Sharratt, Kathryn. Children's experiences of contact with imprisoned parents: A comparison between four European countries. European J Criminol. 2014;11(6):760-75. https://doi.org/10.1177/1477370814525936
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,2525 Ricaldi da Rosa L. La persona presa y (en) su trama social: un análisis pertinente Subj Procesos Cogn. 2015[cited 2020 May 10];19(2):208-26. Available from: https://www.redalyc.org/pdf/3396/339643529011.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3396/3396435...
).As evidências ressaltam que manter a comunicação torna as visitas menos estressantes, porque, especialmente as crianças, sentem-se mais seguras na presença da pessoa que ela vê como referência de cuidado e proteção durante o seu encarceramento(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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,2424 Sharratt, Kathryn. Children's experiences of contact with imprisoned parents: A comparison between four European countries. European J Criminol. 2014;11(6):760-75. https://doi.org/10.1177/1477370814525936
https://doi.org/10.1177/1477370814525936...
,2828 Poehlmann-Tynan J, Burnson C, Runion H, Weymouth LA. Attachment in young children with incarcerated fathers. Dev Psychopathol. 2017;29(2):p.389-404. https://doi.org/10.1017/S0954579417000062
https://doi.org/10.1017/S095457941700006...
,3131 McCarthy D, Adams M. Can family–prisoner relationships ever improve during incarceration? examining the primary caregivers of incarcerated young men, British J Criminol. 2019;59(2):378–95. https://doi.org/10.1093/bjc/azy039
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).

O ato de acompanhar o familiar privado de liberdade representa uma renovação frequente dos laços de sociabilidade que unem esses sujeitos, funcionando como um sistema de retroalimentação das notícias e dos acontecimentos relacionados à vida fora e dentro da prisão(2626 Pereira ÉL. Families of incarcerated women, health promotion and access to social policies in the Federal District, Brazil. Ciên Saúde Coletiva. 2016;21(7):2123-34. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.16792015
https://doi.org/10.1590/1413-81232015217...
). As visitas frequentes foram apontadas como responsáveis por mudanças positivas nas relações, sendo a qualidade da visita e os tipos de visitas (visitas prolongadas, dias com a família, visitas normais) aspectos importantes e que podem impactar as formas como os membros da família interagem entre si e constroem vínculos com os prisioneiros.

No contexto vivenciado pelas mulheres presas, foi evidenciado que elas acham indispensável sua presença no cotidiano da família e dos filhos, para que se mantenham ativas como um membro da família. Assim, estratégias, como a solidariedade e o auxílio, cuidado com os filhos e com o lar que ficou fora da prisão, auxiliam a fortalecer relações saudáveis com seus familiares(2626 Pereira ÉL. Families of incarcerated women, health promotion and access to social policies in the Federal District, Brazil. Ciên Saúde Coletiva. 2016;21(7):2123-34. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.16792015
https://doi.org/10.1590/1413-81232015217...
). Outro fator que contribuiu para fortalecer as relações foi a participação nos grupos de apoio. Os grupos de apoio às gestantes auxiliaram-nas a aumentar a confiança nos aspectos que envolvem a maternidade, confiança por parte dos familiares, suporte emocional e físico por parte de outras integrantes do grupo e pelas doulas(2727 Shlafer RJ, Gerrity E, Duwe G. Pregnancy and parenting support for incarcerated women: lessons learned. Prog Community Health Partnersh. 2015;9(3):371-8. https://doi.org/10.1353/cpr.2015.0061
https://doi.org/10.1353/cpr.2015.0061...
).

O apego é definido como uma relação que se estabelece entre uma pessoa e outra em especial, denominada figura de apego, à qual se recorre ao enfrentar uma situação de estresse, sofrimento, ou uma demanda de afeto em particular. Já o sistema de apego configura-se pela identificação de situações de risco, disponibilidade da figura de apego, com expressão de comportamentos emocionais, como chorar, sorrir, gritar, destinados a gerar respostas afetivas que fortaleçam amparos, vínculos e afetos. O sistema tem a função de fazer as pessoas se sentirem seguras, classificando as relações pessoais e o ambiente como não perigoso e passível de exploração; todavia, caso se identifique alguma ameaça, esta volta a procurar a segurança na figura de apego, utilizada como um suporte afetivo para enfrentar momentos de dificuldade(2121 Coutinho VM, Queiroga BAM, Souza RC. Attachment style in children with chronic diseases: a comprehensive review. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018308. https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018308 Portuguese. 15
https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/3...
).

Pesquisadores(3333 Saur B, Bruck I, Antoniuk SA, Riechi TIJS. Relationship between attachment bond and cognitive, language and motor development. Psicol. 2018;49(3):257-65. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.3.27248
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018....
) advogam que a relação entre mãe (figura de apego) e criança pode se refletir em aspectos do desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança. Esse desenvolvimento se manifesta em indicadores, como valor nutricional, escolaridade, fatores socioeconômicos, participação do pai no vínculo e outros. Assim, é possível observar o comportamento de apego ao longo da vida da criança, buscando-se padrões que possam vir a interferir no crescimento e futuramente na vida adulta, trazendo transtornos ocasionados por um vínculo inseguro com a figura de apego.

Entre as evidências analisadas, a família foi reconhecida como uma base para relações de apego seguro. Aprivação de liberdade, dependendo do contexto em que é vivenciada, configurou-se como ameaça a tal apego, pois muitos apenados são reconhecidos como figuras de apego por seus familiares, os quais, durante as situações de risco, veem-se privados de acessar o seu sistema de apego, fomentando sentimentos não saudáveis, como insegurança, fobia e solidão. Também foi destacado(2222 Rajkumar RP. Attachment theory and psychological responses to the covid-19 pandemic: a narrative review. Psychiatr Danubina. 2020;32(2):256–61. https://doi.org/10.24869/psyd.2020.256
https://doi.org/10.24869/psyd.2020.256...
) que os sistemas de apego com outros membros da família, colegas, amigos e cônjuges desempenham importante papel na saúde mental e no bem-estar, desde a infância até a fase adulta.

O apego seguro favorece a construção de um modelo mental positivo que conduz a um desenvolvimento social harmônico e confiável, promotor de relações valiosas, como o fortalecimento entre as relações de amizade, desenvolvimento de um comportamento moral afetivo, afinidade e estabilidade nas relações conjugais, desenvolvimento de habilidades sociais, mediação de conflitos do dia a dia e regulação de comportamentos adaptativos em situações adversas(3333 Saur B, Bruck I, Antoniuk SA, Riechi TIJS. Relationship between attachment bond and cognitive, language and motor development. Psicol. 2018;49(3):257-65. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.3.27248
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018....
,3434 Shaver PR, Mikulincer M, Cassidy J. Attachment, caregiving in couple relationships, and prosocial behavior in the wider world. Curr Op Psychol. 2019;25:16-20. https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2018.02.009
https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2018.02...
,3535 Juang LP, Simpson JA, Lee RM, Rothman AJ, Titzmann PF, Schachner MK, et al. Using attachment and relational perspectives to understand adaptation and resilience among immigrant and refugee youth. Am Psychol. 2018;73(6):797–811. https://doi.org/10.1037/amp0000286
https://doi.org/10.1037/amp0000286...
).

Como destacado entre os conceitos analisados, as relações de apego no contexto prisional são fortalecidas por estratégias, como ligações telefônicas, cartas, visitas presenciais e com a possibilidade de o familiar participar efetivamente das decisões que envolvem a vida e o futuro das crianças. O sistema e as figuras de apego nutrem o desenvolvimento do apego seguro, também, por meio da demonstração de sentimentos, do contato físico e visual, provendo afeto e carinho às relações familiares(3636 Richins ML, Chaplin LN. Object attachment, transitory attachment, and materialism in childhood. Curr Op Psychol. 2020;39:20-5. https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2020.07.020
https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2020.07...
).

Conforme os conceitos de segunda ordem descritos, a família constitui a principal interação social do indivíduo e funciona como base para formar um senso de identidade(2525 Ricaldi da Rosa L. La persona presa y (en) su trama social: un análisis pertinente Subj Procesos Cogn. 2015[cited 2020 May 10];19(2):208-26. Available from: https://www.redalyc.org/pdf/3396/339643529011.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3396/3396435...
). Alguns aspectos são fundamentais para que o apego seguro seja construído nesse contexto, como a necessidade de assegurar à família um contato próximo e seguro com a figura de apego, o ensino da confiança e da reciprocidade pensando nas vivências futuras desses membros, e estimulo de sentimentos confortantes com vistas à autoconfiança e à resiliência, com o objetivo de reduzir traumas ao longo da vida(3636 Richins ML, Chaplin LN. Object attachment, transitory attachment, and materialism in childhood. Curr Op Psychol. 2020;39:20-5. https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2020.07.020
https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2020.07...
).

Quanto às relações familiares desenvolvidas entre pais e filhos, a compreensão do significado dos sentimentos e dos comportamentos precisa ser um processo construído, aprendido e compartilhado, por meio da interação entre membros, para que a criança desenvolva, nas vivências com as figuras e os sistemas de apego, seus modelos próprios de mundo e de relacionamentos(3737 Bärtschi GRI, Eda S, Marten MV, Wander CHC, Celmira L, Soares MC. Formation and disruption of bonds between caregivers and institutionalized children. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 6):2650-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0844
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
). Observando a importância do apego seguro e a forma como esse se desenvolve nas relações, evidencia-se a necessidade de laços familiares fortalecidos e de qualidade entre pais e filhos durante o encarceramento. Pesquisadores(3737 Bärtschi GRI, Eda S, Marten MV, Wander CHC, Celmira L, Soares MC. Formation and disruption of bonds between caregivers and institutionalized children. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 6):2650-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0844
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) argumentam que a vinculação afetiva segura é essencial para o desenvolvimento humano (emocional, cognitivo e social), permitindo a formação de futuros cidadãos justos, solidários e que busquem interromper o ciclo de cultura da violência.

Relações que contribuem para a ruptura de vínculos familiares

A existência de relações tóxicas foi observada, principalmente, nos conflitos pré-existentes, ou seja, acontecidos antes da prisão e intensificados naquele contexto. Isso evidencia como a prisão pode ser compreendida como um fator de risco ou de proteção, dependendo da forma como os presos interpretam e lidam com a situação vivenciada. A percepção da prisão como risco pode acontecer com o afastamento e/ou a fragilidade das redes de apoio socioafetivo e os efeitos do encarceramento no indivíduo(2525 Ricaldi da Rosa L. La persona presa y (en) su trama social: un análisis pertinente Subj Procesos Cogn. 2015[cited 2020 May 10];19(2):208-26. Available from: https://www.redalyc.org/pdf/3396/339643529011.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3396/3396435...
).

Entre os fatores de risco evidenciados, destacam-se as relações interpessoais patológicas, a violência familiar, os problemas de comunicação, a falta de integração e controle parental, a doença mental e/ou dependência de drogas. A esses fatores, somam-se também as vulnerabilidades sociais, como não conseguir prover o próprio suporte financeiro e para a família, preconceitos que colocam o apenado e a família em situação de inferioridade, demérito relacionado à classe socioeconômica, status, etnia e gênero(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
https://doi.org/10.1093/bjc/azu072...
,2424 Sharratt, Kathryn. Children's experiences of contact with imprisoned parents: A comparison between four European countries. European J Criminol. 2014;11(6):760-75. https://doi.org/10.1177/1477370814525936
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,2525 Ricaldi da Rosa L. La persona presa y (en) su trama social: un análisis pertinente Subj Procesos Cogn. 2015[cited 2020 May 10];19(2):208-26. Available from: https://www.redalyc.org/pdf/3396/339643529011.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3396/3396435...
).

Quanto às visitas, alguns participantes descrevem-nas como uma experiência emocionalmente intensa para os filhos, muitas vezes, como restritivas e em condições que acabam por expor a criança a procedimentos de segurança que geram constrangimento, ansiedade e resistência a repetir a visitação(2424 Sharratt, Kathryn. Children's experiences of contact with imprisoned parents: A comparison between four European countries. European J Criminol. 2014;11(6):760-75. https://doi.org/10.1177/1477370814525936
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). A distância entre a casa da família e a prisão, além das questões financeiras para o deslocamento e a hospedagem, também são fatores que restringem a frequência do contato presencial entre os presos e seus familiares(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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,2424 Sharratt, Kathryn. Children's experiences of contact with imprisoned parents: A comparison between four European countries. European J Criminol. 2014;11(6):760-75. https://doi.org/10.1177/1477370814525936
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).

Alguns homens consideram que o encarceramento construiu uma barreira entre eles e seus filhos, enquanto que, para outros, essa relação entre pai-filho já era esporádica antes mesmo da prisão e, portanto, a ausência na vida dos filhos é menos significativa(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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). Fica evidente que esse acontecimento provoca ruptura nas relações entre pai e filhos por meio da separação forçada e súbita que ocorre no momento da prisão e na ausência vivenciada a partir daí(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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,2828 Poehlmann-Tynan J, Burnson C, Runion H, Weymouth LA. Attachment in young children with incarcerated fathers. Dev Psychopathol. 2017;29(2):p.389-404. https://doi.org/10.1017/S0954579417000062
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).

No contexto feminino, as batalhas diárias em busca de direitos, serviços e reconhecimentos sociais contribuem para conflitos e fragilidades nas relações. Nesse contexto, a prisão da mulher é compreendida sob duas perspectivas: por um lado, existem aquelas que consideram a prisão um ato individual que produz uma narrativa de sofrimento pessoal; por outro lado, há aquelas que interpretam a prisão como mais um evento em uma vida marcada por incertezas e dificuldades(2626 Pereira ÉL. Families of incarcerated women, health promotion and access to social policies in the Federal District, Brazil. Ciên Saúde Coletiva. 2016;21(7):2123-34. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.16792015
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).

A vulnerabilidade reprodutiva e a maternidade também são experiências que influenciam as relações e provocam inúmeros problemas na vida das mulheres. O encarceramento atrapalha os modos convencionais de reprodução, pois invalida a liberdade de escolha reprodutiva e também interfere na forma como as mulheres podem participar da dinâmica familiar, separando algumas famílias em tal contexto e, em casos extremos, encaminhando as crianças para orfanatos como forma de contornar as vulnerabilidades geradas pela ausência dos pais que se encontram encarcerados(2929 Sufrin S. Making mothers in jail: carceral reproduction of normative motherhood. Reprod Biomed Soc Online [Internet]. 2018[cited 2021 May 12];7:55-65. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30740546/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30740546...
).

As evidências demonstraram que a vulnerabilidade social e a falta de suporte são barreiras enfrentadas que também provocam ruptura nas relações. O encarceramento contribui para a instabilidade financeira, gerando insegurança alimentar e déficits de capital humano e social, impossibilitando que uma família tenha acesso consistente a alimentos apropriados(3232 Davison KM, D’Andreamatteo C, Markham S, Holloway C, Marshall G, Smye VL. Food security in the context of paternal incarceration: family impact perspectives. Int J Environ Res Public Health. 2019;16:776. https://doi.org/10.3390/ijerph16050776
https://doi.org/10.3390/ijerph16050776...
). Outro aspecto evidenciado diz respeito à oferta de suporte, redes ambíguas ou tensas de apoio como: restrições a contar à família e aos amigos sobre o crime; sigilo, devido ao estigma do ato criminoso; mães que tiveram discussões com a família e amigos desde que o crime ocorreu, ou geralmente já mantinham laços tênues antes do ocorrido. Essas situações podem refletir na vida dos familiares, provocando instabilidade e conflitos que abalam o contato dos apenados com aqueles que se encontram fora da prisão(2626 Pereira ÉL. Families of incarcerated women, health promotion and access to social policies in the Federal District, Brazil. Ciên Saúde Coletiva. 2016;21(7):2123-34. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.16792015
https://doi.org/10.1590/1413-81232015217...
,2727 Shlafer RJ, Gerrity E, Duwe G. Pregnancy and parenting support for incarcerated women: lessons learned. Prog Community Health Partnersh. 2015;9(3):371-8. https://doi.org/10.1353/cpr.2015.0061
https://doi.org/10.1353/cpr.2015.0061...
,2828 Poehlmann-Tynan J, Burnson C, Runion H, Weymouth LA. Attachment in young children with incarcerated fathers. Dev Psychopathol. 2017;29(2):p.389-404. https://doi.org/10.1017/S0954579417000062
https://doi.org/10.1017/S095457941700006...
,2929 Sufrin S. Making mothers in jail: carceral reproduction of normative motherhood. Reprod Biomed Soc Online [Internet]. 2018[cited 2021 May 12];7:55-65. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30740546/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30740546...
,3030 McCarthy D, Adams M. Assessing the deployment of informal support networks for mothers of incarcerated young men. European J Criminol. 2019;18(6):799-816 https://doi.org/10.1177/1477370819884253
https://doi.org/10.1177/1477370819884253...
).

Pesquisadores(3737 Bärtschi GRI, Eda S, Marten MV, Wander CHC, Celmira L, Soares MC. Formation and disruption of bonds between caregivers and institutionalized children. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 6):2650-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0844
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) afirmam que a privação afetiva e a exposição a cuidados instáveis e impessoais, somadas à quebra de vínculos, podem ser prejudiciais ao desenvolvimento da criança, resultando na formação do apego inseguro. Uma síntese(2121 Coutinho VM, Queiroga BAM, Souza RC. Attachment style in children with chronic diseases: a comprehensive review. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018308. https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018308 Portuguese. 15
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) do conhecimento, publicado na literatura científica brasileira e internacional de pesquisas sobre como o estilo de apego tem sido estudado entre crianças com doenças crônicas no período de 2007 a 2018, destacou que as relações iniciais de apego estão relacionadas a consequências de longo prazo na vida de uma criança, influenciando no desenvolvimento cognitivo e de linguagem, autoestima, independência e desempenho escolar.

O apego inseguro, somado a um ambiente físico e social desfavorável, pode evoluir como resposta a um cuidado não responsivo, insensível e com características de certo distanciamento afetivo dos pais. Características como essas pioram o sentimento de insegurança, conflitos e desconfiança sobre as relações de afeto(3838 Becker APS, Crepaldi MA. The attachment developed in childhood and the conjugal and parental relationship: a review of the literature. Estud Pesqui Psicol. 2019;19(1):238-60. Available from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/43016/29665#n*
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index....
). Corroborando esse pensamento, como descrito entre as evidências investigadas, os membros familiares apenados que não estão inseridos em ambiente favorável a um comportamento sensível, mediado pelo afeto, estarão mais predispostos a provocar o apego inseguro e expor os filhos e outros membros familiares a futuros vínculos parentais não saudáveis, geradores de sentimentos como medo, ansiedade, distanciamento e sofrimento(2323 Dennison S, Smallbone H, Stewart A, Freiberg K, Teague R. ‘My Life Is Separated’: an examination of the challenges and barriers to parenting for indigenous fathers in prison. Brit J Criminol. 2014;54:1089–108. https://doi.org/10.1093/bjc/azu072
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,2525 Ricaldi da Rosa L. La persona presa y (en) su trama social: un análisis pertinente Subj Procesos Cogn. 2015[cited 2020 May 10];19(2):208-26. Available from: https://www.redalyc.org/pdf/3396/339643529011.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3396/3396435...
,2828 Poehlmann-Tynan J, Burnson C, Runion H, Weymouth LA. Attachment in young children with incarcerated fathers. Dev Psychopathol. 2017;29(2):p.389-404. https://doi.org/10.1017/S0954579417000062
https://doi.org/10.1017/S095457941700006...
).

Pesquisadores(3939 Campo-Arias A, Suárez-Colorado Y. Association between attachment and suicidal risk in college students. Adolesc Saude. 2020;17(3):71-8. https://doi.org/10.32641/rchped.v90i4.985
https://doi.org/10.32641/rchped.v90i4.98...
,4040 Souza MR, Hintz HC. [Inconsistent childhood care and adolescent attachment relationships: a case study]. Pensando Famílias[Internet]. 2019[cited 30 May 2021];23(2):3-14. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v23n2/v23n2a02.pdf Portuguese.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v23n2...
) evidenciaram que o vínculo parental inadequado e o apego inseguro potencializam o desenvolvimento de depressão na adolescência, aumentando o risco de suicídio nessa faixa etária. Ainda entre as consequências do apego inseguro refletidos ao longo da vida, evidenciam-se a existência de uma relação entre os estilos de apego e o contexto de conjugalidade e parentalidade na vida adulta. Crianças que se tornam adultos com comportamentos de apego inseguro apresentam maior probabilidade de se envolverem em conflitos conjugais e relacionamentos amorosos problemáticos(3838 Becker APS, Crepaldi MA. The attachment developed in childhood and the conjugal and parental relationship: a review of the literature. Estud Pesqui Psicol. 2019;19(1):238-60. Available from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/43016/29665#n*
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index....
).

Além do sistema de apego prejudicial, como destacado entre as evidências analisadas, o encarceramento ocasiona uma separação forçada entre pais e filhos, desestabilizando o relacionamento entre eles e influenciando as relações de apego, especialmente entre crianças que viviam com os pais e tinham com eles significativa proximidade. Concomitantemente a essa separação abrupta, em alguns casos, o filho presenciou o crime cometido ou o momento da prisão do pai, situação que pode ocasionar sentimentos de ansiedade e até mesmo um trauma para a criança envolvida, podendo ser mais um risco para desenvolver o apego inseguro(2828 Poehlmann-Tynan J, Burnson C, Runion H, Weymouth LA. Attachment in young children with incarcerated fathers. Dev Psychopathol. 2017;29(2):p.389-404. https://doi.org/10.1017/S0954579417000062
https://doi.org/10.1017/S095457941700006...
).

Pesquisadores(2121 Coutinho VM, Queiroga BAM, Souza RC. Attachment style in children with chronic diseases: a comprehensive review. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018308. https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018308 Portuguese. 15
https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/3...
) advogam que, caso a figura de apego não esteja presente ou rejeite satisfazer as necessidades de proteção e autonomia dos seus familiares, esses poderão desenvolver uma reação sentimental de auto-insuficiência e incapacidade de gerenciar momentos conflitantes da vida, devido à não vivência de experiências fraternais de afeto, implicando apego inseguro de relações interpessoais futuras. Foi evidenciado, entre os conceitos de primeira e segunda ordem, que o contexto de privação de liberdade pode fortalecer experiências de apego inseguro. Por isso, pesquisadores(2828 Poehlmann-Tynan J, Burnson C, Runion H, Weymouth LA. Attachment in young children with incarcerated fathers. Dev Psychopathol. 2017;29(2):p.389-404. https://doi.org/10.1017/S0954579417000062
https://doi.org/10.1017/S095457941700006...
) enfatizam a necessidade de evitar expor os filhos desnecessariamente à prisão dos pais, devendo os familiares buscar reduzir os traumas associados a esse encarceramento.

Cabe destacar que algumas das instituições do sistema prisional brasileiro apresentam particularidades que o diferenciam de outros países do mundo, como superpopulação carcerária, infraestrutura sucateada ou condições insalubres, racismo, assistência médica precária, falta de comida, trafico de drogas, entre outras(33 Diuana V, Corrêa MCDV, Ventura M. [Women in Brazilian prisons: tensions between punitive disciplinary order and maternity prescriptions]. Physis. 2017;27(3):727-47. https://doi.org/10.1590/s0103-73312017000300018 Portuguese.
https://doi.org/10.1590/s0103-7331201700...
,44 PrisonStudies. World prison brief, Institute for Crime & Justice Policy Research[Internet]. 2021 [cited 2021 May 27]. Available from: https://www.prisonstudies.org/
https://www.prisonstudies.org/...
). Por mais que uma ou outra destas características sejam comuns para apenados residentes em pais como Estados Unidos, Tailândia, China e Rússia, diversos fatores sociais, como política, educação, distribuição de renda e segurança(33 Diuana V, Corrêa MCDV, Ventura M. [Women in Brazilian prisons: tensions between punitive disciplinary order and maternity prescriptions]. Physis. 2017;27(3):727-47. https://doi.org/10.1590/s0103-73312017000300018 Portuguese.
https://doi.org/10.1590/s0103-7331201700...
,55 Ministério da Justiça e Segurança Pública (BR). Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional. Painel Interativo Dezembro [Internet]. 2019[cited 2021 May 25]. Available from: http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen
http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/s...
), influenciam diretamente na forma como as relações de apego seguro são construídas, mantidas e desconstruídas entre membros da família que encontram-se encarcerados.

Limitações do estudo

Diante do exposto, esta metassíntese apresenta como fatores limitantes a análise apenas de referências nos idiomas inglês, português e espanhol, a busca sistemática realizada em bases de dados específicas e o fato de serem eleitos apenas artigos disponíveis na íntegra. Tais características podem ter conduzido à exclusão de algumas referências que, em seu conjunto, poderiam contribuir para ampliar o presente trabalho. Ademais, estudar na íntegra as diferenças entre os sistemas prisionais presentes no estudo, bem como a ausência de estudos empíricos com famílias de outras partes do mundo, como África, Ásia e outros países da América Latina e Central, também se apresentam como fatores limitantes que impedem a ampliação da discussão em outros contextos prisionais.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde e políticas públicas

Esta pesquisa contribui para a atuação de enfermeiros e outros profissionais de saúde, suscitando reflexões acerca do apego familiar, que, quando fortalecido em ambientes privados de liberdade, pode contribuir para formular estratégias com o intuito de implantar programas de intervenção e políticas públicas para combater as consequências nefastas do processo de privação de liberdade nas relações familiares, possibilitando a tomada da decisão centrada na prática baseada em evidências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de privação de liberdade afeta as relações familiares de adultos apenados, refletindo diretamente no tipo de apego desenvolvido, uma vez que a prisão ocasiona uma separação abrupta entre os indivíduos que formam esse sistema de apego. Contudo, estratégias de enfrentamento, como as visitas, telefonemas e cartas, são destacadas como estratégias que favorecem o fortalecimento do apego seguro em ambientes privados de liberdade.Cabe ressaltar a importância do fortalecimento de estratégias formadoras de vínculo familiares como fator de proteção à saúde física e prevenção de agravos relacionados à saúde emocional de país e filhos.

Para ampliar as discussões sobre a temática, ressalta-se a necessidade de investir em novas pesquisas que objetivem explorar contextos de encarceramentos que envolvam os sentimentos familiares, relações afetivas, de poder, de cuidado, de paternidade/ maternidade, educação e saúde.

Os resultados desta metassíntese contribuem para a prática baseada em evidências, o que influencia a implementação de políticas protetivas para a família. Convém salientar o papel profissional do enfermeiro como referência na saúde da família, integrando a equipe multiprofissional. Por fim, cumpre lembrar a necessidade de ampliar as pesquisas que abordem a assistência em saúde e o papel da enfermagem no âmbito prisional, permitindo ampliar e aprofundar reflexões acerca do cuidado prestado a crianças e famílias que vivenciam o contexto do cárcere e os reflexos desse processo nos comportamentos de apego.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Álvaro Sousa
EDITOR ASSOCIADO: Ana Cristina Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    21 Set 2021
  • Aceito
    10 Mar 2022
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