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Reflexões sobre a ciência em enfermagem gerontológica: possibilidades para o seu caminhar

O conhecimento científico em enfermagem gerontológica brasileiro tem seus primórdios há mais de 50 anos, especificamente em meados de 1970, alinhados ao movimento mundial de reconhecimento da complexidade do envelhecimento populacional e dos seus desafios na esfera social, cultural, política e de saúde pública. Desde então, a produção científica nesse campo guarda relação com a expansão dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu, as legislações nacionais e as diretrizes internacionais, denotando seu crescimento e maturidade científica.

Acompanhando essa tendência, importantes veículos de comunicação científica têm publicado o conhecimento produzido sobre a enfermagem gerontológica no país. Dentre eles, estudo bibliométrico sobre a produção científica acerca do idoso na Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn) identificou, entre os anos de 2000 e 2006, a predominância de investigações qualitativas, conduzidas no cenário hospitalar, destacando a participação dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu. Observou-se, ainda, nesse recorte temporal, a necessidade de investimento em pesquisas relacionadas ao processo de cuidar da enfermagem, na perspectiva da promoção da saúde e da melhoria da qualidade de vida do idoso(11 Rocha FCV, Brito CMS, Luz MHBA, Figueiredo MLF. Análise da produção científica sobre o idoso na REBEn. Rev Bras Enferm. 2007;60(4):449-51. https://doi.org/10.1590/S0034-71672007000400017
https://doi.org/10.1590/S0034-7167200700...
).

Em âmbito mundial, outro estudo bibliométrico, realizado no período de 1900 a 2020, na base de dados da Web of Science, identificou 4.923 artigos na temática da enfermagem gerontológica. Os Estados Unidos foi o país com maior produção científica (37,8%), seguido do Canadá (6,2%) e da Austrália (5,9%). Nesse ranking, o Brasil ocupou a décima posição (3,2%), sendo o primeiro da América Latina. Os temas mais frequentes foram depressão, desnutrição, educação, doença de Alzheimer e outras demências. Observaram-se também tendências de temáticas mais atuais de pesquisa, como a COVID-19, a síndrome locomotora, a prática interprofissional, a enfermagem de emergência e a saúde pública(22 Ghamgosar A, Zarghani M, Nemati-Anaraki L. Bibliometric analysis on Geriatric Nursing Research in Web of Science (1900-2020). BioMed Res Int. 2021;2021(8758161):1-11. https://doi.org/10.1155/2021/8758161
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). Ainda, em relação a essa pesquisa mundial, foi identificado crescimento exponencial do número de publicações a partir de 1990, com pico máximo em 2018. Os pesquisadores compararam os indicadores de citação desses artigos com outros estudos bibliométricos e verificaram que a produção científica na área tem sido considerada de interesse para os leitores, entretanto a taxa de citações diminuiu nos últimos dez anos(22 Ghamgosar A, Zarghani M, Nemati-Anaraki L. Bibliometric analysis on Geriatric Nursing Research in Web of Science (1900-2020). BioMed Res Int. 2021;2021(8758161):1-11. https://doi.org/10.1155/2021/8758161
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).

Assim, quando observamos os indicadores bibliométricos, a produção vigente evidencia o avanço do conhecimento científico na enfermagem gerontológica nas últimas décadas. Contudo, cabe refletirmos sobre a qualidade das abordagens metodológicas das pesquisas produzidas nesse campo e, da mesma maneira, se as temáticas estão alinhadas às necessidades em saúde da população idosa, às práticas de enfermagem e à formação profissional. Partindo dessas reflexões, destacamos dois documentos internacionais que contribuem nesta discussão.

A Organização Pan-Americana da Saúde conduziu um estudo visando definir prioridades de pesquisa em enfermagem para as Regiões das Américas, norteado pelos conceitos do acesso universal à saúde e cobertura universal de saúde. Fruto desse trabalho, foram elencadas seis categorias, a saber: 1) políticas e educação de recursos humanos em enfermagem; 2) estrutura, organização e dinâmica dos sistemas e serviços de saúde; 3) ciência, tecnologia, inovação e sistemas de informação em saúde pública; 4) financiamento de sistemas e serviços de saúde; 5) políticas de saúde, governança e controle social; e 6) estudos sociais em saúde(33 Cassiani SHB, Bassalobre-Garcia A, Reveiz L. Universal Access to Health and Universal Health Coverage: identification of nursing research priorities in Latin America. Rev Latino-Am Enfermagem. 2015;23(6):1195-208. https://doi.org/10.1590/0104-1169.1075.2667
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).

Já a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu, em dezembro de 2020, o plano global para a Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030). Tal iniciativa foi pautada em orientações anteriores, como as metas da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável em 2030, que possuem como objetivo principal alcançar e apoiar ações de construção de uma sociedade para todas as idades. Para tanto, foram definidas quatro áreas de ação: 1) mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento; 2) garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas; 3) entregar serviços de cuidados integrados e de Atenção Primária à Saúde centrados na pessoa e adequados à pessoa idosa; 4) propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem(44 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Década do Envelhecimento Saudável nas Américas (2021-2030) [Internet] 2020[cited 2022 Oct 15]. Available from: https://www.paho.org/pt/decada-do-envelhecimento-saudavel-nas-americas-2021-2030
https://www.paho.org/pt/decada-do-envelh...
).

Considerando os documentos internacionais, as especificidades em saúde da pessoa idosa e a potencialidade da ciência da enfermagem gerontológica no cuidado direto, na gestão, no ensino e na produção científica, destacamos algumas reflexões. As pesquisas pautadas no cuidado de enfermagem gerontológico estão abordando as diversas dimensões do processo de senescência e senilidade? Os estudos têm potencial para responder lacunas que subsidiam a profissão no empoderamento do idoso e do profissional de enfermagem? São pesquisados métodos inovadores para o cuidado gerontológico? Estão sendo utilizados os recursos da tecnologia de informação para o cuidado de enfermagem gerontológico? Como estão sendo preparados os profissionais de enfermagem para o cuidado dessa população? Essas questões e outras, que podem ser agregadas, ajudam-nos a discutir coletivamente os caminhos que devemos trilhar para o cuidado de enfermagem seguro e qualificado ao idoso.

REFERENCES

  • 1
    Rocha FCV, Brito CMS, Luz MHBA, Figueiredo MLF. Análise da produção científica sobre o idoso na REBEn. Rev Bras Enferm. 2007;60(4):449-51. https://doi.org/10.1590/S0034-71672007000400017
    » https://doi.org/10.1590/S0034-71672007000400017
  • 2
    Ghamgosar A, Zarghani M, Nemati-Anaraki L. Bibliometric analysis on Geriatric Nursing Research in Web of Science (1900-2020). BioMed Res Int. 2021;2021(8758161):1-11. https://doi.org/10.1155/2021/8758161
    » https://doi.org/10.1155/2021/8758161
  • 3
    Cassiani SHB, Bassalobre-Garcia A, Reveiz L. Universal Access to Health and Universal Health Coverage: identification of nursing research priorities in Latin America. Rev Latino-Am Enfermagem. 2015;23(6):1195-208. https://doi.org/10.1590/0104-1169.1075.2667
    » https://doi.org/10.1590/0104-1169.1075.2667
  • 4
    Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Década do Envelhecimento Saudável nas Américas (2021-2030) [Internet] 2020[cited 2022 Oct 15]. Available from: https://www.paho.org/pt/decada-do-envelhecimento-saudavel-nas-americas-2021-2030
    » https://www.paho.org/pt/decada-do-envelhecimento-saudavel-nas-americas-2021-2030

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022
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