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Tangenciamento e multifatorialidade da violência contra o docente: nuances vivenciadas na prática pedagógica em saúde

RESUMO

Objetivo:

identificar fatores que levam o professor a experienciar violência na prática pedagógica em saúde.

Método:

pesquisa de abordagem qualitativa ancorada no referencial da Teoria Fundamentada nos Dados com 11 docentes do curso de Enfermagem de uma universidade pública da região central do Brasil em 2020 e 2021. Entrevistas semiestruturadas online foram analisadas parcialmente à luz da Teoria Fundamentada nos Dados Construtivista.

Resultados:

fatores que levam os docentes a experienciar a violência são caracterizados por cultura institucional, gênero, percepção de violência pelo docente e gatilhos que ensejam os estudantes a praticarem violência. Origem social convertida em desigualdades desencadeia posições de dominação e, consequentemente, constitui-se em terreno fértil para a violência.

Considerações finais:

analisando a violência sob os fundamentos de Pierre Bourdieu, percebe-se que a violência de alunos contra professores merece pedagogicamente reflexões sobre os relatos contidos nas entrevistas. Contudo, faz-se necessário perpassar tais discussões como pano de fundo nos palcos de ensino.

Descritores:
Violência; Docentes; Saúde; Universidades; Violência no Trabalho

ABSTRACT

Objective:

to identify factors that lead the teacher to experience violence in their pedagogical practice in health education.

Method:

research with a qualitative approach, based on the Grounded Theory, conducted with 11 professors of the nursing course of a public university in the central region of Brazil in 2020 and 2021. Online semi-structured interviews were analyzed partially in the light of the Constructivist Grounded Theory.

Results:

factors that lead lecturer to experience violence are characterized by institutional culture, gender, professor’s perception of violence, and the triggers that drive students to commit violence. Social status and inequalities lead to positions of domination and, consequently, create a fertile ground for violence.

Final Considerations:

analyzing violence under Bourdieu’s theory, it is clear that student violence towards lecturer and the reports contained in this study deserve pedagogical reflection. However, it is necessary to include these discussions as a background in teaching environments.

Descriptors:
Violence; Faculty; Health; Universities; Workplace Violence

RESUMEN

Objetivo:

identificar los factores que hacen que el profesor experimente violencia en la práctica pedagógica en salud.

Método:

es una investigación de enfoque cualitativo realizada de 2020 a 2021 entre 11 docentes del curso de Enfermería de una universidad pública de la región central de Brasil, mediante entrevistas semiestructuradas en línea que fueron analizadas parcialmente a la luz de la Teoría Fundamentada en Datos Constructivista.

Resultados:

Los factores que llevan a los profesores a sufrir violencia están caracterizados por la cultura institucional, el género, la percepción de la violencia por parte de los profesores y los desencadenantes que incitan a los alumnos a practicar tal violencia. El origen social convertido en desigualdades desencadena posiciones de dominación y, en consecuencia, se constituye en un terreno fértil para la violencia.

Consideraciones finales:

Al analizar la violencia bajo los fundamentos de Pierre Bourdieu, es posible percibir que la violencia de los alumnos contra los profesores merece una reflexión desde el punto de vista pedagógico sobre los informes contenidos en las entrevistas. Sin embargo, es necesario insertar estos debates en las diferentes etapas de la enseñanza.

Descriptores:
Violencia; Docentes; Salud; Universidades; Violencia Laboral

INTRODUÇÃO

A violência possui diferentes categorias, ao mesmo tempo em que sua tipologia, suas causas e características contra o docente ainda não possuem consenso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua violência como o uso intencional de força física real ou em ameaça contra uma pessoa, grupo ou comunidade que provoque lesão física ou psicológica(11 World Health Organization (WHO). Global consultation on violence and health. Violence: a public health priority. Geneva: WHO; 1996.), experiências essas constantemente vivenciadas pelos professores.

A profissão docente se expressa de forma imanente como uma prática complexa por envolver aspectos teóricos e práticos, mas não se limita a eles. Ser docente implica ontologicamente se comprometer com a formação de sujeitos e, criticamente falando, contribuir para a emancipação do pensamento.

Nesse contexto, a organização acadêmica e as atividades que os professores desenvolvem no processo do ensinar denotam aspectos indubitavelmente inerentes ao fazer docente, ao passo que as instituições atualmente revelam um lugar ameaçador para se trabalhar em decorrência do aumento da violência e de suas diversas nuances(22 Menegaz JC, Backes VMS, Medina JL, Prado ML, Canever BP. Pedagogical practices of good nursing, medicine and dentistry professors from the student’s perception. Texto Contexto Enferm. 2015;24(3):629-36. https://doi.org/10.1590/0104-07072015002790014
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).

Ademais, pesquisa que objetivou identificar associações de fatores sociodemográficos, do trabalho e do ambiente escolar com a ocorrência de violência física no espaço escolar contra professores da região Sul do Brasil revelou que, dos 789 professores entrevistados, 7,9% referiram ter sofrido tentativa de violência ou mesmo violência física, 0,8% citou armas brancas e 0,5%, arma de fogo no ambiente escolar(33 Sordi MRL. Docência no ensino superior: interpelando os sentidos e desafios dos espaços institucionais de formação. Educar Rev. 2019;35(75):135-54. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67031
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).

Nessa direção, no contexto do ensino superior, atuar como professor universitário nunca foi tarefa fácil, mas, ultimamente, a complexidade dessa atribuição se potencializa, o que pode gerar sofrimentos(33 Sordi MRL. Docência no ensino superior: interpelando os sentidos e desafios dos espaços institucionais de formação. Educar Rev. 2019;35(75):135-54. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67031
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). A insatisfação, a falta de companheirismo, de colaboração, somada à competição entre os colegas, o desrespeito verbal, as exigências e injustiças são possíveis gatilhos que podem levar ao sofrimento no trabalho, provocados pelas relações de poder que podem repercutir na saúde dos trabalhadores e corroboram o desvanecer da profissão docente(44 Ferreira EM, Fernandes MFP, Prado C, Baptista PCP, Freitas GF, Bonini BB. Pleasure and suffering in the work process of the faculty nursing. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(Spe):1292-6. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600025
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).

Dessarte, uma revisão de literatura que teve a finalidade de analisar a atividade docente, em seus elementos constitutivos, desempenhada nas universidades públicas brasileiras, e relacioná-la ao adoecimento mental revelou que a precarização e sobrecarga do trabalho, flexibilização das relações trabalhistas, pouco financiamento, excesso de controle institucional, sucateamento da infraestrutura e violência são fatores que trazem prejuízos para a saúde mental desse público, que pode desenvolver Síndrome de Burnout e transtornos mentais comuns(55 Campos TC, Véras RM, Araújo TM. Trabalho docente em universidades públicas brasileiras e adoecimento mental: uma revisão bibliográfica. Rev Doc Ens Sup. 2020;10(e015193):01-19. https://doi.org/10.35699/2237-5864.2020.15193
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).

O aumento da violência despontando na forma de culpabilização do meio em que os alunos vivem e pelos problemas que enfrentam parecem velar as causas e os efeitos devastadores, o que caracteriza o fenômeno como violência simbólica, essa não percebida pelos docentes. O conceito de violência simbólica, proposto por Pierre Bourdieu(66 Bourdieu P. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press; 1977. 248 p.), é definido como uma “violência sutil”, na qual o violentado não percebe a agressão e por vezes age de forma condescendente. Por isso, a literatura(77 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm. 2013;66(2):241-50. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000200014
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) aponta que é premente a necessidade de dar visibilidade ao fenômeno da violência simbólica nas relações pedagógicas no cenário do ensino superior.

Nessa conjuntura, considerando que há uma escassez de pesquisas sobre a temática da violência contra docentes(88 Plassa W, Paschoalino PAT, Bernardelli LV. Violência contra professores nas escolas brasileiras: determinantes e consequências. Nova Econ. 2021;31(1):247-71. https://doi.org/10.1590/0103-6351/5798
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) e da necessidade de elucidar quais são os fatores que estão ligados aos episódios de violência no contexto das universidades, para contribuir com a formulação de ações de prevenção(99 Godinho CCPS, Trajano SS, Souza CV, Medeiros NT, Catrib AMF, Abdon APV. A violência no ambiente universitário. Rev Bras Promoç Saúde. 2018;3(4):01-08. https://doi.org/10.5020/18061230.2018.8768
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) é que o presente estudo visa responder à seguinte pergunta: Quais os fatores que levam o professor a experienciar violência na prática pedagógica em saúde?

OBJETIVO

Identificar fatores que levam o professor a experienciar violência na prática pedagógica em saúde.

MÉTODOS

Aspectos éticos

A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Goiás. Os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de forma eletrônica, de acordo com as recomendações da resolução 466/2012. A identidade dos docentes que participaram do estudo foi preservada por meio de códigos compostos pela inicial “E”, seguida do número referente à ordem de realização das entrevistas.

Tipo de estudo e referencial teórico-metodológico

Pesquisa de abordagem qualitativa ancorada no referencial teórico-metodológico da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), um método que almeja a construção de uma teoria baseada em um fenômeno que emerge da coleta e análise concomitante dos dados para a compreensão das experiências e dos significados(1010 Lacerda MR, Santos JLG. Teoria Fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019.77 p.). Foram seguidos os passos recomendados para a divulgação de estudos qualitativos, pelo guia Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ)(1111 Woolf NH, Silver C. Qualitative analysis using NVivo: the Five-Level QDA Method. New York: Routledge; 2017. 234 p.).

Cenário do estudo

A pesquisa foi realizada em uma Faculdade de Enfermagem de uma universidade pública da região central do Brasil.

Fonte de dados

Participaram do estudo 11 docentes efetivos do curso de Enfermagem de uma universidade pública da região central do Brasil selecionados por amostragem não probabilística, por conveniência. Os critérios de inclusão foram: docentes com idade igual ou superior a 18 anos que tiveram disponibilidade em participar e que possuíam experiência mínima de três meses no cargo/função. Para critérios de exclusão, estar em período de férias, licença e/ou afastamento do serviço na ocasião da coleta de dados(1212 Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7a ed. São Paulo: Atlas; 2019.-1313 Cassell C, Cunliffe A, Grandy G. The SAGE handbook of qualitative business and management research methods: history and traditions. Londres: SAGE; 2019. p. 480-492. https://doi.org/10.4135/9781526430212
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). Quarenta docentes foram convidados pela pesquisadora principal a participar do estudo, por e-mail, ocasião em que foram expostos os objetivos, a metodologia e os aspectos éticos da pesquisa. Posteriormente à ausência de retorno ao convite após três tentativas de contato, 11 aceitaram.

Coleta e organização dos dados

A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro de 2020 a fevereiro de 2021, por meio de entrevista semiestruturada, com perguntas registradas no formulário Google Forms aplicadas e gravadas pela pesquisadora via Google Meet, em data e horário agendado na conveniência do entrevistado, devido à pandemia da Covid-19 declarada em janeiro de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A partir de revisão teórica sobre entrevistas(1414 Manzini EJ. Uso da entrevista em dissertações e teses produzidas em um programa de pós-graduação em educação. Rev Percurso [Internet]. 2012 [cited 2022 May 28];4(2):149-71. Available from: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Percurso/article/view/49548
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/...
-1515 Monteiro GR, Hora HRM. Pesquisa em saúde pública: como desenvolver e validar instrumentos de coleta de dados[Internet]. Curitiba: Appris; 2013[cited 2022 May 28]. Available from: https://www.researchgate.net/profile/Henrique-Da-Hora/publication/261562381_Pesquisa_em_Saude_Publica_Como_Desenvolver_e_Validar_Instrumentos_de_Coleta_de_Dados/links/59f08c06a6fdcc1dc7b5fe1f/Pesquisa-em-Saude-Publica-Como-Desenvolver-e-Validar-Instrumentos-de-Coleta-de-Dados.pdf
https://www.researchgate.net/profile/Hen...
) e aporte teórico sobre as dimensões da violência(22 Menegaz JC, Backes VMS, Medina JL, Prado ML, Canever BP. Pedagogical practices of good nursing, medicine and dentistry professors from the student’s perception. Texto Contexto Enferm. 2015;24(3):629-36. https://doi.org/10.1590/0104-07072015002790014
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-33 Sordi MRL. Docência no ensino superior: interpelando os sentidos e desafios dos espaços institucionais de formação. Educar Rev. 2019;35(75):135-54. https://doi.org/10.1590/0104-4060.67031
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,77 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm. 2013;66(2):241-50. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000200014
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,1616 Zabala IP, Cantero AO. La incidencia del ’mobbing’ o acoso psicológico en el trabajo en España. Resultados del barómetro CISNEROS II® sobre violencia en el entorno laboral. Lan Harremanak - Rev Relac Labor[Internet]. 2002 [cited 2021 Oct 16];(7):35-62. Available from: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/640312.pdf
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-1717 Longobardi C, Badenes-Ribera L, Fabris MA, Martinez A, McMahon SD. Prevalence of student violence against teachers: a meta-analysis. Psychol Violence. 2018;9(6):596-610. https://doi.org/10.1037/vio0000202
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), articulados ao objetivo do estudo, o roteiro da entrevista foi constituído de 16 perguntas abertas e fechadas, abordando dados sociodemográficos e as experiências vivenciadas em violência de cada participante.

Essas últimas foram levantadas por questões que versavam sobre o conceito e sobre os fatores desencadeantes de violência; ter sofrido violência na prática pedagógica; abordagem do tema nos projetos pedagógicos da formação do profissional; desenvolver experiências na prática docente que visem ao respeito a toda comunidade acadêmica e opiniões acerca do que mais impressionou sobre violência contra professor, o que considera violência, o que leva o aluno a usar de violência contra o professor e visão sobre as possíveis estratégias de enfrentamento à violência dos alunos contra o professor.

Análise dos dados

Na preparação para a análise dos dados, as entrevistas gravadas foram transcritas, e os dados foram organizados pelo NVivo, software de análise qualitativa que otimiza a interpretação das informações não estruturadas por permitir a análise e apresentação dos resultados com possibilidade de construção de matrizes estruturais, codificação, automodificação, classificação em banco de dados e elaboração de mapas e gráficos(1111 Woolf NH, Silver C. Qualitative analysis using NVivo: the Five-Level QDA Method. New York: Routledge; 2017. 234 p.).

Utilizou-se parcialmente da Teoria Fundamentada nos Dados Construtivista (TFDC)(22 Menegaz JC, Backes VMS, Medina JL, Prado ML, Canever BP. Pedagogical practices of good nursing, medicine and dentistry professors from the student’s perception. Texto Contexto Enferm. 2015;24(3):629-36. https://doi.org/10.1590/0104-07072015002790014
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), até as etapas das codificações inicial e focalizada de Charmaz(1818 Charmaz K. A construção da teoria fundamentada: guia prático para análise qualitativa. Porto Alegre: Artmed; 2009. 272 p.). É relevante destacar que, com o uso desta proposta de análise, a intenção não foi produzir teoria fundamentada nos dados, mas utilizar a ordenação analítica proposta pela autora, a qual aponta que o processo de análise ocorre em dois movimentos - inicial (aberta) e focalizada. Tais momentos têm seus desdobramentos em fases distintas(1010 Lacerda MR, Santos JLG. Teoria Fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019.77 p.).

A codificação inicial deu origem a códigos preliminares para ordenamento do preparo da análise utilizando o software NVivo. Na sequência, tem-se a fase das frases e palavras, na qual são valorizados e considerados todos os achados encontrados nos dados brutos.

A primeira exploração dos dados brutos aparenta um modo simples de análise, porém não simplista, pois nominados de codificação inicial, após a fragmentação e revisitado os códigos empregando o olhar atento na expectativa de que possam reluzir, observam-se destaques durante as comparações, diferenças e similaridades.

Neste estudo, a codificação inicial gerou 502 códigos primários, após exaustiva análise desses por palavras fragmentadas e aglutinadas em propriedades e dimensões(1919 Lima MEAT. Análise do discurso e/ou análise de conteúdo. Psicol Rev[Internet]. 2003 [cited 2021 Oct 16];9(13):76-88. Available from: http://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/166
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), em sete subcategorias. Os códigos foram incorporados a outros por não se tratarem de coisas distintas, mas de propriedades. Esse movimento de buscar mais propriedades auxiliou no desenvolvimento do código focal.

Na fase de codificação focalizada, reluz-se o foco sobre determinados códigos contidos nas palavras dos entrevistados e esses são organizados em categorias geradas na compreensão e nas inferências do pesquisador. A revisão inicial das propriedades e dimensões dos códigos emergentes foi entrelaçada com os conceitos teóricos bourdieusianos e agrupados em três categorias. Os constructos das categorias foram saturados por profundidade e relacionados tangencialmente, originando a categoria central.

RESULTADOS

Caracterização sociodemográfica dos participantes do estudo

Entre os 11 docentes participantes, todos atuam na graduação e na pós-graduação lato e strictu sensu em Enfermagem. Mais especificamente, 5 (45,4%) desses docentes atuam concomitantemente em outras pós-graduações da instituição, como ensino na saúde, saúde coletiva e ciências da saúde. Houve predomínio de mulheres, sendo 8 participantes (72,7%), média de idade de 38,9 anos, 6 (54,5%), com mais de 15 de profissão, todos com título de doutorado (100%) e regime de trabalho de dedicação exclusiva.

Categorização

As palavras que se destacaram durante a primeira utilização do Nvivo na construção dos dados brutos que emergiram para o fenômeno estudado foram as de maior centralidade corroboradas por meio da nuvem de palavras: Violência, professor, alunos, trabalho e agressão estão ligados de maneira direta. Posto isso, as palavras localizadas nas bordas foram: enfermagem, respeito, disciplina, difícil, prática, mulher, contexto. Esses elementos de natureza periférica contextualizam as dimensões da violência contra os professores, resultando na descrição da categoria central, demonstrados na Figura 1.

Figura 1
Nuvem de palavras de contextualização da violência contra os docentes gerada pelo software Nvivo, Goiânia, Goiás, Brasil, 2020-2021

Conceitualmente, tangenciamento é a abordagem geral sobre determinado tema, sem se aprofundar objetivamente na discussão do eixo temático(2020 Rodegher PLB. A semelhança das palavras causando: a irrupção do real: a análise do discurso estudando a psicose. Policromias[Internet]. 2020 [cited 2021 Oct 16];5(2):290-308. Available from: http://seer.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/166/179
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). Neste estudo, após identificação de múltiplos tipos e formas do fenômeno, foi justamente a diferença intuitiva dos vários elementos que suscitou a denominação da categoria central Tangenciamento e multifatorialidade da violência contra o docente e as nuances vivenciadas na prática pedagógica em saúde e três subcategorias dimensionadas com as suas respectivas codificações focalizadas descritas no Quadro 1. As falas de representação são destacadas na descrição das subcategorias.

Quadro 1
Síntese da categorização ampliada, Tangenciamento e multifatorialidade da violência contra o docente: nuances vivenciadas na prática pedagógica em saúde, Goiânia, Goiás, Brasil, 2020-2021

Ação e reação: a violência não acontece sozinha

Embora o recôndito de suas falas gritem por respeito e valorização, “desrespeito” é a palavra verbalizada pelos entrevistados, revelando que cada vez mais a violência se faz presente nas relações entre professores e alunos, por vezes sendo até banalizada, como expressam as falas:

[…] não que o professor seja superior ao aluno, mas há de ter um respeito com o professor […] o conceito de violência ele é muito amplo […] vai desde a violência física, violência emocional […]. (E11)

[…] quando você é questionado o ponto de vista teórico, metodológico, pedagógico de uma forma desrespeitosa […]. (E2)

[…] quando ele tem uma oportunidade de confrontar uma liderança que no caso é a figura do professor ou da gestão da escola, ela age com violência porque ela já sofreu algum tipo de violência antes […]. (E8)

Violência é qualquer agressão externa […] sobre respeito, sobre questão de violência acadêmica, tanto ascendente quanto descendente […]. (E5)

Destaca-se que os docentes associaram as TDIC com uma ferramenta preponderante para violentá-los, as quais são utilizadas por estudantes, colegas de profissão e gestores. Na falta de desenvolvimento de diálogo, as ferramentas digitais foram apontadas como estopim para incitar professores, prejudicando a prática pedagógica e o convívio amistoso no cenário institucional.

[…] as relações mediadas pela informação rápida dos aplicativos, das frases curtas, elas têm gerado alguns problemas de comunicação, então, assim, por vezes eu recebo mensagens de estudantes, e e-mails, que eu me sinto desrespeitada […]. (E8)

[…] então eu vejo manifestações de violência explícita mesmo, sabe, em rede sociais, sejam elas quais forem, grupos de WhatsApp, grupo de WhatsApp então é uma coisa terrível […]. (E10)

[…] acho que essas questões de calúnia e difamação, exposição nas redes sociais, né, essa quebra de confiança, que se a gente combinou que não vai gravar e você está gravando […]. (E11)

É pertinente ressaltar que, independentemente da ferramenta tecnológica utilizada pelos discentes para agredir de forma sinuosa e violenta os docentes, neste estudo, identificou-se que a violência contra os docentes desperta preocupações pela gravidade. As emoções e os sentimentos podem ser expressos de diferentes formas e percebidos pelo outro e pelas nuances da linguagem como expressam os depoimentos:

[…] porque ele fica muito nervoso, não sabe se vai dar conta, então, assim, a gente tem os nossos medos, as nossas dificuldades […]. (E2)

[…] não ir para o embate, eu fico muito reflexivo […] mas eu sei que existem fatores hoje muito mais abrangentes do que apenas só o ato de ferir alguém fisicamente […] falando, mentalmente falando, ou até mesmo a questão do assédio moral, alguma pressão psicológica que a pessoa vive hoje a gente se sente ferido psicologicamente […]. (E4)

[…] com relação ao aluno eu me senti tão intimidada que eu não fiz nada, eu só fiquei realmente com medo […]. (E6)

[…] eu vou te falar a verdade, eu fico o tempo todo com medo porque tudo é como se, tudo que eu falo, tudo que eu faço é como se eu estivesse cometendo algum abuso de todas as razões, infelizmente não falam em violência masculina […] os homens na enfermagem eles buscam apoio psicológico porque a pressão acho que é muito grande, a pressão da sociedade […]. (E11)

[…] o que é mais perceptível é esse adoecimento do professor para dar aula, eu nem sei dizer se é uma Síndrome de Burnout, mas é aquele assim, aquela descrença, aquele desânimo quando você imagina que tem que dar aula para uma turma que é muito agressiva, que tem alunos muito agressivos, impedem de dar prazer em trabalhar […]. (E9)

Cultura institucional e gênero

O universo do discurso dos participantes traz à tona, dentro da cultura institucional, a violência de gênero, que pode ocorrer tanto entre pares quanto de aluno contra professor, como demonstram os relatos:

[…] que é uma violência da gestão […] infelizmente ainda a mulher é submissa em vários aspectos em relação ao homem, né, devido à nossa […] é bem machista, patriarcal, masculina, então isso torna a mulher suscetível a situações de violência […]. (E9)

[…] violência que ela ocorre institucionalmente, e não por parte só das relações professor/aluno […]. (E2)

[…] na universidade eu estou sendo muito mais violentada pelas políticas públicas […]. (E4)

[…] tinha um grupo bastante consolidado […] me senti agredida vários momentos, especificamente por uma colega […]. (E10)

[…] você é homem, não fique no seu gabinete só você e uma mulher […] não abrace as alunas […] a profissão de enfermagem tem que saber que existem homens que ele é uma minoria e como minoria ele sofre violência de todas as naturezas […] extremamente violento é questão de lugar de fala, quando eu ouço isso dentro da enfermagem eu fico em pânico porque nunca eu posso falar nada porque eu não tenho lugar de fala, que eu sou homem e aqui a maioria é mulher. (E11)

Percepção de violência contra o docente

Os participantes verbalizaram que a violência contra o docente está associada a questões culturais, sociais e do momento histórico atual, que se diferencia da época em que foram acadêmicos e que pode se manifestar de forma física, verbal ou emocional. Sendo assim, eles a associaram a aspectos relacionados aos alunos, como terem vivenciado histórico de violência e realização de assédio moral por parte do aluno contra o docente, como revelam as falas:

[…] então eu acho que os fatores de risco para a violência eles têm uma ligação muito forte com a cultura […] eu acho que se você for muito rígido, muito inacessível, muito Deus assim na sua aula, sabe, o que você disse é certo e pronto e acabou, se você não tem essa abertura para aprender, para refazer, para reformular ali, então […], e isso é o que desencadeia essas agressões, né. (E9)

[…] às vezes a gente é violentado diariamente e não sabe que aquilo é uma violência, então é difícil conceituar […] os fatores externos são os maiores fomentadores da violência, principalmente as condições sociais, as desigualdades, a injustiça […]. (E4)

[…] eu acredito que o aluno com qual nós trabalhamos hoje é um aluno muito diferente, muito diferente do aluno que nós fomos em algum lugar do passado, então eu acredito que essa questão geracional […]. (E3)

Violência eu entendo como qualquer tipo de agressão não necessariamente física, mas sendo a física como a maior extrapolação de violência […]. (E7)

Eu entendo violência como qualquer ato seja ele manifestado em palavras, em atitudes […] agredir fisicamente, você pode agredir emocionalmente, e violência para mim é sinônimo de agressão […]. (E10)

Eu acho que tem, a gente não pode desconsiderar a história de vida, o contexto de vida do aluno, né, às vezes ele já tem na sua história uma vivência de uma relação muito violenta, seja com os pais, seja com os colegas, seja nas instituições de ensino por onde ele passou, então eu acho que uma experiência anterior acaba influenciando […]. (E2)

Olha, às vezes acontece assédio moral de aluno para professor com agressividade verbal mesmo, violência contra o professor […]. (E6)

DISCUSSÃO

A violência é multifatorial e, por mais que seja um tema amplo, possui dimensões tangenciadas ao seu conceito(88 Plassa W, Paschoalino PAT, Bernardelli LV. Violência contra professores nas escolas brasileiras: determinantes e consequências. Nova Econ. 2021;31(1):247-71. https://doi.org/10.1590/0103-6351/5798
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,1717 Longobardi C, Badenes-Ribera L, Fabris MA, Martinez A, McMahon SD. Prevalence of student violence against teachers: a meta-analysis. Psychol Violence. 2018;9(6):596-610. https://doi.org/10.1037/vio0000202
https://doi.org/10.1037/vio0000202...
). Durante o processo de análise dos dados, foi possível conhecer os fenômenos que permeiam a violência contra os docentes entrevistados, durante o seu exercício profissional na área da saúde, seja em curso de graduação, seja em pós-graduação lato e strictu sensu, que envolvem aspectos sociais, culturais, institucionais, tecnológicos e relações de gênero, que deu origem à categoria central Tangenciamento e multifatorialidade da violência contra o docente: nuances vivenciadas na prática pedagógica em saúde, com suas respectivas subcategorias dimensionadas que serão discutidas à luz da teoria bourdieusiana(66 Bourdieu P. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press; 1977. 248 p.), subdividida em: Habitus, Campos e Capital, por alcançar a amplitude do tema.

Ante a prática da violência ou ameaças delas, apresentadas até aqui, fatores protetores individuais e/ou coletivos são desenvolvidos, pelo senso nato de autopreservação e até de defesa do patrimônio cultural e social. É o que trata a subcategoria Ação e reação: a violência não acontece sozinha, que está ancorada na perspectiva dos docentes entrevistados, reforçando, em seus discursos, que a tecnologia da informação e o respeito são base da cultura da paz no âmbito universitário.

Bourdieu(2121 Bourdieu P. A economia das trocas simbólicas. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2011a. 424 p.) sugere que as diferenças culturais entre aluno-professor-aluno das diversas classes sociais seriam menos evidentes no ambiente acadêmico porque os alunos das classes médias e populares que chegam a esse nível do sistema de ensino já teriam passado por um processo seletivo natural, no qual teriam sobrevivido àqueles que menos se distanciaram da cultura escolar.

Nesse sentido, os docentes entrevistados consideram o desrespeito como um código seminal para caracterizar a violência sofrida. Embora no recôndito de suas falas gritem por respeito e valorização, desrespeito é a palavra verbalizada por eles, revelando que cada vez mais a violência se faz presente nas relações entre professores e alunos, por vezes sendo até banalizada.

O comportamento de desrespeito entre alunos e professores e entre os próprios discentes, além de prejudicar os relacionamentos interpessoais, também traz consequências para o processo de ensino-aprendizagem, reforçando uma postura de indisciplina dos alunos, sobrecarregando os professores(2222 Paula GCR, Freitas AC, Albuquerque JGM, Sousa LMS, Silva MFR, Silva SMP. Indisciplina Escolar e a Relação Professor Aluno: Práticas a serem construídas significadamente. RACE [Internet]. 2019 [cited 2021 Oct 16];4:81-91. Available from: https://revistas.cesmac.edu.br/administracao/article/view/1042/804
https://revistas.cesmac.edu.br/administr...
).

Por outro lado, embora as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) sejam formas complementares ao processo de ensino e aprendizagem pela possibilidade de oferecerem, em formato digital, atividades de acordo com a necessidade de cada aluno, também podem se configurar como armas utilizadas na prática de violência também contra o docente, segundo os participantes.

Destaca-se que os docentes, em seus depoimentos, associaram a TDIC com uma ferramenta preponderante para os violentar, sendo utilizadas pelos estudantes, colegas de profissão e gestores. Na falta de desenvolvimento de diálogo, as ferramentas digitais foram apontadas como estopim para incitar professores, prejudicando a prática pedagógica e o convívio amistoso no cenário institucional.

Pesquisa realizada com 1.534 alunos de seis escolas situadas em São Paulo, Ceará, Paraná e Minas Gerais apontou que 37% dos participantes tinham envolvimento com cyberbullying, entre eles, 23% se caracterizavam como vítimas, 3% como autores e 11% estavam em ambas as situações, vítimas e autores(2323 Stelko-Pereira AC, Brito RMS, Batista DG, Gondim RS, Bezerra VM. Violência virtual entre alunos do ensino fundamental de diferentes estados do Brasil. Psicol Educ[Internet]. 2018 [cited 2021 Oct 16];(46):21-30. Available from: pepsic.bvsalud.org/pdf/psie/n46/n46a03.pdf
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), confirmando que as ferramentas tecnológicas têm sido utilizadas como um mecanismo de prática de violência em ambiente virtual.

Durante as entrevistas, os docentes do presente estudo exteriorizam que o medo é um sentimento constante que permeia a sua prática pedagógica. O mesmo ocorreu em outro estudo(2424 Wilson CM, Douglas KS, Lyon DR. Violence Against teachers: prevalence and consequences. J Interpers Violence. 2011;26(12):2353-2371. https://doi.org/10.1177/0886260510383027
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), em que ao menos um terço dos professores já sentiu medo no ambiente de trabalho. Aqueles que já sofreram violência uma vez têm maiores chances de sentir medo na escola, realidade compartilhada em outro estudo realizado com 25 professores da região Norte do Brasil, apontando que os docentes atuam em um ambiente repleto de medo e insegurança desencadeado pela violência escolar(2525 Pereira AIB, Zuin AAS. Autoridade enfraquecida, violência contra professores e trabalho pedagógico. Educ Rev. 2019;35(76):1-21. https://doi.org/10.1590/0104-4060.64821
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).

Segundo AL-Omari; Choo(2626 Al-Omari M, Johari H, Choo LS. Workplace violence: a case in Malaysian higher education institute. Business Strategy Series. 2012;13(6):274-83. https://doi.org/10.1108/17515631211286119
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), ambiente de trabalho é qualquer local onde o indivíduo atua de forma efetiva ou temporária, desempenhando uma tarefa, e onde gerenciamento e relacionamento interpessoal têm impacto direto na violência, além de influenciar na produtividade e no emocional dos funcionários.

Portanto, Cultura institucional e gênero é a subcategoria que focaliza a violência a partir da cultura institucional que, pública ou privada, possui características que se relacionam ao comportamento dos colaboradores e às estratégias com que os clientes internos (trabalhadores) e externos são tratados. Abrangem um conjunto complexo de valores, crenças, hábitos, princípios e ações dentro da instituição ou empresa e fazem parte da cultura da sociedade, moldada pela história e por tudo que aprendemos ao longo da convivência social com determinados grupos(2727 Souza IM, Bâchtold C. A cultura organizacional e sua influência no desempenho e motivação no trabalho do servidor público: estudo de caso na prefeitura de Colombo - PR. Rev Mundi Eng, Tecnol Gestão. 2020;5(4):1-26. https://doi.org/10.21575/25254782rmetg2020vol5n41094
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).

Um ambiente de trabalho violento apresenta disputas entre pares e agressão psicológica, que se tornam fatores influenciadores dos tipos de violência a serem sofridos, especialmente quando há permanência em ambiente estressor e horas excessivas de trabalho(2626 Al-Omari M, Johari H, Choo LS. Workplace violence: a case in Malaysian higher education institute. Business Strategy Series. 2012;13(6):274-83. https://doi.org/10.1108/17515631211286119
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). Neste estudo, são abordadas as características da cultura institucional do serviço público, por ser o cenário de prática profissional do grupo de docentes participantes da pesquisa.

A subcategoria Cultura institucional e gênero revela que a Violência institucional foi evidenciada pelos docentes por estarem sintetizadas, em muitos casos, do lado de dentro dos muros da instituição de ensino, por vezes naturalizada, simbólica ou invisível. Revela-se numa variedade de comportamentos no local de trabalho sob a forma de violências por discriminação, indiferença, criminalidade, social, assédio moral e até na desistência em ensinar e aprender. Esses comportamentos violentos, de longa data, podem ser genericamente descritos pelo termo técnico, Mobbing, um tipo de bullying cometido nas relações entre adultos no ambiente de trabalho(1616 Zabala IP, Cantero AO. La incidencia del ’mobbing’ o acoso psicológico en el trabajo en España. Resultados del barómetro CISNEROS II® sobre violencia en el entorno laboral. Lan Harremanak - Rev Relac Labor[Internet]. 2002 [cited 2021 Oct 16];(7):35-62. Available from: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/640312.pdf
https://dialnet.unirioja.es/descarga/art...
,2828 Leymann, H. Mobbing and psychological terror at workplaces. Violence Victims.1990;5(2):119-26. https://doi.org/10.1891/0886-6708.5.2.119
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).

Embora esse formato seja mais visível e discutido atualmente, ao se debruçar sobre o tema, observa-se que a violência institucional não é um problema contemporâneo, tendo características historicamente constituídas a partir das relações e práticas sociais.

Exercida também pelo poder sobre o outro, como parte do exercício da autoridade institucional, a violência pode ser originária no processo de conquista desse poder. Nesse sentido, Bourdieu(66 Bourdieu P. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press; 1977. 248 p.) traz à tona a submissão do humano ao processo de socialização que o torna ser social, transformado ao longo do tempo e constituído por elementos de aprendizagens que transformam sua percepção e maneira de agir a depender de sua vivência.

A violência praticada vertical ou horizontalmente, nos discursos dos docentes entrevistados, foi exposta por relatos que inferem dominação de uma classe, por exemplo, os gestores, sobre a outra, os professores ou vice-versa, conforme nos ensina a teoria bourdieusiana(2121 Bourdieu P. A economia das trocas simbólicas. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2011a. 424 p.). O estudo de Abramovay(2929 Abramovay M. Programa de prevenção à violência nas escolas: violências nas escolas [Internet]. 2. Ed. FLACSO; 2015. [cited 2021 Oct 16]. 21 p. Available from: https://flacso.org.br/files/2015/08/Violencias-nas-Escolas_edicao2.pdf
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) corrobora esses achados ao descrever sobre o poder vertical fortalecer a violência entre pares e/ou entre grupos, ao restringir a autonomia individual ao ser exercido na busca de padronização de condutas, chegando a ignorar ou silenciar alguns sujeitos coletivos da comunidade acadêmica.

Unanimemente, alguns pesquisadores concordam que o processo ensino-aprendizagem se permeia por afetividade, envolvendo sentimentos indissociáveis de satisfação da relação ensino-aprendizagem, bem como de frustração, autoestima rebaixada e até tristeza. São sentimentos próprios do ser e do pensar humano(3030 Silva SG. Travessias entre a sala de aula e o consultório: trajetórias docentes, adoecimento e narrativas de sofrimento psíquico de professores[Tese] [Internet]. Fortaleza. Universidade Federal do Ceará; 2017[cited 2021 Oct 16]. Available from: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/22463
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-3131 Facci MGD. O adoecimento do professor frente à violência na escola. Fractal Rev Psicol. 2019;31(2):130-42. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i2/5647
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).

Mas, a violência cometida institucionalmente pode dilacerar sonhos dos que buscam no ofício de ensinar o caminho para a ascensão social, trabalho digno que proporcione vida tranquila e confortável. A ausência dessa perspectiva pode levar ao adoecimento e à morte(66 Bourdieu P. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press; 1977. 248 p.,1919 Lima MEAT. Análise do discurso e/ou análise de conteúdo. Psicol Rev[Internet]. 2003 [cited 2021 Oct 16];9(13):76-88. Available from: http://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/166
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,2121 Bourdieu P. A economia das trocas simbólicas. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2011a. 424 p.,3131 Facci MGD. O adoecimento do professor frente à violência na escola. Fractal Rev Psicol. 2019;31(2):130-42. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i2/5647
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32 Bourdieu P. O poder Simbólico. Rio de Janeiro: edições 70, 2011b. 460 p.

33 Oliveira ASD, Pereira MS, Lima LM. Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Rev Psicol Esc Educ. 2018;21(3):609-19. https://doi.org/10.1590/2175-353920170213111132
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-3434 Santana FA, Neves IR. Saúde do trabalhador em educação: a gestão da saúde de professores de escolas públicas brasileiras. Saúde Soc. 2017;26(3):786-797. https://doi.org/10.1590/S0104-12902017167259
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). Portanto, a violência no ambiente de trabalho não deve ser aceita. É necessário que gestores formulem estratégias de prevenção e promovam bom relacionamento organizacional(2626 Al-Omari M, Johari H, Choo LS. Workplace violence: a case in Malaysian higher education institute. Business Strategy Series. 2012;13(6):274-83. https://doi.org/10.1108/17515631211286119
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,3535 Andrade DCT. Engajamento no Trabalho no Serviço Público: Um Modelo Multicultural. RAC, Maringá. 2020;24(1):49-76. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2020190148
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).

Nesse contexto, o universo do discurso dos participantes traz à tona, dentro da cultura institucional, a Violência de gênero, que pode ocorrer tanto entre pares quanto de aluno contra professor, apesar de os professores do sexo biológico feminino sentirem mais medo de sofrer violência(2424 Wilson CM, Douglas KS, Lyon DR. Violence Against teachers: prevalence and consequences. J Interpers Violence. 2011;26(12):2353-2371. https://doi.org/10.1177/0886260510383027
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). Nessa direção, professores do sexo biológico masculino são mais alvos de comentários e gestos obscenos, ameaças com e/ou sem arma, quando comparados às mulheres, e são menos propensos a denunciar quando os atos ocorrem(3636 Moon B, McCluskey J. An exploratory study of violence and aggression Against teachers in Middle and high schools: prevalence, predictors, and negative consequences. J Sch Violence. 2018:01-16. https://doi.org/10.1080/15388220.2018.1540010
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).

Quando os entrevistados foram questionados sobre a relação gênero e o ambiente de trabalho, emergiram falas de percepção de desrespeito contra os professores do sexo masculino em uma profissão predominantemente feminina. A subcategoria Percepção de violência contra o docente se desenvolve sobre a percepção de violência contra o docente. Pesquisa realizada com o objetivo de mostrar a relação entre as condições negativas de trabalho de origem psicossocial, as situações e os comportamentos de violência e assédio moral no trabalho e autopercepções sobre o estado de saúde mental de docentes de Medicina e Enfermagem revelou que os docentes de Enfermagem estão mais expostos a sofrer qualquer tipo de violência e assédio psicológico se comparados aos docentes do curso de Medicina(3737 Acosta-Fernández M, Parra-Osorio L, Restrepo-García JI, Pozos-Radillo BE, Aguilera-Velasco MA, Torres-López TM. Condiciones psicosociales, violencia y salud mental en docentes de medicina y enfermería. Salud Uninorte. 2017;33(3):344-54. https://doi.org/10.14482/sun.33.3.10893
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).

Agressão: gatilhos para a violência é uma categoria focalizada por falas que remetem as razões que impulsionam os alunos a cometerem violência contra o professor. Ser professor hoje é estressante, desgastante e posiciona esse profissional como alvo de violência(3838 Bounds C, Jenkins LN. Teacher-Directed Violence and Stress: the Role of School Setting. Contemp Sch Psychol. 2018;22(4):435-44. https://doi.org/10.1007/s40688-018-0180-3
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), dado que 80% desses profissionais já experienciaram uma situação violenta no ambiente de ensino(3939 Mcmahon SD, Martinez A, Espelage D, Rose C, Reddy LA, Lane K, et al. Violence directed Against teachers: results from a national survey. Psychol Sch. 2014;51(7):753-66. https://doi.org/10.1002/pits.21777
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).

O perfil de aluno de hoje é diferente das gerações passadas. Os jovens estão mais intolerantes e a violência contra o professor tem se tornado um fenômeno global, sendo nociva ao bem-estar físico e psicológico do profissional(3636 Moon B, McCluskey J. An exploratory study of violence and aggression Against teachers in Middle and high schools: prevalence, predictors, and negative consequences. J Sch Violence. 2018:01-16. https://doi.org/10.1080/15388220.2018.1540010
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). O comportamento violento do aluno contra a figura do professor está relacionada ao seu ambiente de convívio, comunidade externa e vida doméstica(3838 Bounds C, Jenkins LN. Teacher-Directed Violence and Stress: the Role of School Setting. Contemp Sch Psychol. 2018;22(4):435-44. https://doi.org/10.1007/s40688-018-0180-3
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), percepção essa também evidenciada nos participantes do estudo.

O professor nem sempre é vítima somente do aluno, há casos em que os pais e colegas de trabalho se mostram tão ou mais agressivos, sendo essa violência recorrente e com histórico anterior como fator preditor para vivenciar novamente a experiência negativa, chegando a ocorrer a cada quatro e seis meses(3838 Bounds C, Jenkins LN. Teacher-Directed Violence and Stress: the Role of School Setting. Contemp Sch Psychol. 2018;22(4):435-44. https://doi.org/10.1007/s40688-018-0180-3
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39 Mcmahon SD, Martinez A, Espelage D, Rose C, Reddy LA, Lane K, et al. Violence directed Against teachers: results from a national survey. Psychol Sch. 2014;51(7):753-66. https://doi.org/10.1002/pits.21777
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40 Melanda FN, Santos HG, Salvagioni DAJ, Mesas AE, González AD, Andrade SM. Physical violence against school teachers: an analysis using structural equation models. Cad Saúde Pública. 2018;34(5):e00079017. https://doi.org/10.1590/0102-311X00079017
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-4141 Melanda FN, Salvagioni DAJ, Mesas AE, González AD, Andrade SM. Recurrence of violence Against teachers: two-year follow-up study. J Interpers Violence. 2019;36(17-18):NP9757-NP9776. https://doi.org/10.1177/0886260519861659
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).

Cada professor experiencia a violência de uma forma diferente, entretanto uma investigação científica(3838 Bounds C, Jenkins LN. Teacher-Directed Violence and Stress: the Role of School Setting. Contemp Sch Psychol. 2018;22(4):435-44. https://doi.org/10.1007/s40688-018-0180-3
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) evidenciou comentários obscenos como o tipo mais comum, representando 34,36% das violências identificadas a esse público.

Importante ressaltar que nem sempre o professor tem percepção de que a forma como é tratado pelo aluno é considerada uma violência, categorizada por Bourdieu como violência simbólica, isto é, um acontecimento que se faz presente em várias instituições sociais, muitas vezes como um fenômeno sutil e recorrentemente utilizado pela classe dominante a fim de legitimar crenças, comportamentos ou mesmo tradições(3232 Bourdieu P. O poder Simbólico. Rio de Janeiro: edições 70, 2011b. 460 p.). Talvez, por isso, alguns dos professores entrevistados acreditam que os gatilhos que impulsionam a violência do aluno sejam ações do próprio professor.

Estudo proposto por Moon e McClusey(3636 Moon B, McCluskey J. An exploratory study of violence and aggression Against teachers in Middle and high schools: prevalence, predictors, and negative consequences. J Sch Violence. 2018:01-16. https://doi.org/10.1080/15388220.2018.1540010
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) identificou que os professores que não estabelecem uma relação de amizade com os alunos possuem maiores chances de sofrer violência. Para um bom sistema educacional, é necessário que os professores sejam protegidos pela instituição onde trabalham(3838 Bounds C, Jenkins LN. Teacher-Directed Violence and Stress: the Role of School Setting. Contemp Sch Psychol. 2018;22(4):435-44. https://doi.org/10.1007/s40688-018-0180-3
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), pois quanto mais violência ele vivencia, maiores são as chances de sofrimento emocional no futuro(4040 Melanda FN, Santos HG, Salvagioni DAJ, Mesas AE, González AD, Andrade SM. Physical violence against school teachers: an analysis using structural equation models. Cad Saúde Pública. 2018;34(5):e00079017. https://doi.org/10.1590/0102-311X00079017
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-4141 Melanda FN, Salvagioni DAJ, Mesas AE, González AD, Andrade SM. Recurrence of violence Against teachers: two-year follow-up study. J Interpers Violence. 2019;36(17-18):NP9757-NP9776. https://doi.org/10.1177/0886260519861659
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).

Limitações do estudo

Destaca-se como limitação do estudo a baixa adesão dos docentes a participarem e compartilharem as suas vivências em relação à violência sofrida, possivelmente por ser um tema sensível. Foram convidados 40 profissionais, mas participaram apenas 11. Além disso, a inclusão de demais atores sociais importantes nesse contexto, como alunos e gestores da faculdade, proporcionaria o aprofundamento da temática, o que sugere a realização de pesquisas futuras.

Contribuições para a área da saúde e enfermagem

Ao revelar os fenômenos que envolvem e desencadeiam a violência contra docentes durante o seu exercício profissional, o estudo traz contribuições que podem subsidiar estratégias de prevenção e/ou enfrentamento dessa problemática tanto em âmbito individual, para a mudança de comportamentos dos docentes e discentes, quanto na esfera da gestão das instituições de ensino e até nas políticas públicas para melhor acolherem essas demandas que precisam ser debatidas e solucionadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fatores que levam os professores que atuam na graduação em Enfermagem e pós-graduação lato e strictu sensu em Ciências da Saúde, Saúde Coletiva e Ensino na Saúde a experienciarem a violência no Ensino Superior no Brasil são caracterizados por cultura institucional, gênero, a percepção de violência por docente e os gatilhos que ensejam estudantes a praticarem violência.

Analisando a violência sob os fundamentos de Bourdieu, percebe-se que a violência de alunos contra professores merece pedagogicamente reflexões sobre os relatos contidos nesse relatório, entendendo-se que a origem social convertida em desigualdades desencadeia posições de dominação e, consequentemente, torna-se terreno fértil para a violência. Contudo, além das múltiplas formas de violências experienciadas e relatadas, faz-se necessário perpassar tais discussões como pano de fundo nos palcos de ensino, apesar de não se garantir a ausência de violência.

Promover momentos de reflexão e problematização do tema juntamente com os gestores das instituições formadoras é uma estratégia que pode auxiliar os professores dos cursos da saúde e das demais áreas a desenvolverem ações que afloram a construção das habilidades e atitudes no enfrentamento da violência, reconhecê-la e intervir de modo a evitar que o comportamento agressivo se propague, causando adoecimento mútuo e fragilizando as relações interpessoais no ambiente acadêmico.

Além disso, o estudo evidenciou que a violência contra os docentes no contexto do ensino superior está relacionada diretamente a diversos aspectos ligados aos acadêmicos. Nesta direção, sugere-se a realização de novos estudos para a investigação dessa temática na perspectiva dos alunos, para a compreensão desse fenômeno de modo a elucidar os significados e sentidos da prática de violência contra a figura do professor universitário.

Recomenda-se a realização de pesquisas futuras com um público que vai além dos docentes do curso de Enfermagem, como acadêmicos, profissionais técnicos-administrativos, serviços gerais, coordenação e gestão das universidades, para investigar o tema da violência na perspectiva dessas outras personalidades importantes no cenário acadêmico, contribuindo-se com uma discussão e compreensão mais rica e detalhada sobre esse fenômeno de acordo com diferentes perspectivas. Também a exploração do tema em outros cursos na área de ciências da saúde, ciências humanas, ciências sociais aplicadas, exatas e biológicas se faz importante para a análise da manifestação da violência em diversos contextos.

MATERIAL SUPLEMENTAR

https://doi.org/10.48331/scielodata.VDMIT6

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Maria Itayra Padilha

Disponibilidade de dados

MATERIAL SUPLEMENTAR

https://doi.org/10.48331/scielodata.VDMIT6

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Nov 2021
  • Aceito
    08 Ago 2022
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