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Medo da COVID-19 ao vivenciar a gestação ou parto na pandemia: quais os fatores associados?

RESUMO

Objetivo:

identificar fatores associados ao medo da COVID-19 entre mulheres que vivenciaram a gestação ou parto durante a pandemia.

Métodos:

estudo transversal aninhado à coorte prospectiva, por meio de inquérito online, no período de agosto de 2021 a fevereiro de 2022, a partir de análise descritiva dos dados.

Resultados:

dos 431 participantes, 52,8% eram puérperas e 20,1% gestantes. Com relação ao medo da COVID-19, obteve-se pontuação média de 20,46, (medo moderado). Os maiores escores de medo estiveram presentes em mulheres cujos recém-nascidos estavam internados em unidades críticas neonatais (p = 0,032) e os menores entre cobertos pela saúde suplementar (convênios) (p = 0,016).

Conclusão:

Entre gestantes e puérperas o alto medo da COVID-19 traduziu-se na possibilidade de ter o neonato internado em unidade crítica. Destaca-se a importância de subsidiar ações de suporte à saúde mental de gestantes/puérperas, com relação à COVID-19 ou outras ameaças, que possam influenciar o desfecho neonatal.

Descritores:
COVID-19; Gravidez; Período Pós-Parto; Medo; Pandemias

ABSTRACT

Objective:

to identify factors associated with fear of COVID-19 among women who experienced pregnancy or childbirth during the pandemic.

Methods:

a cross-sectional study, nested within a prospective cohort, using an online survey, from August 2021 to February 2022, based on descriptive data analysis.

Results:

of the 431 participants, 52.8% were postpartum women and 20.1% were pregnant women. With regard to fear of COVID-19, a mean score of 20.46 was obtained (moderate fear). The highest fear scores were present in women whose newborns were admitted to hospital in neonatal critical units (p=0.032), and the lowest among those covered by supplementary health (insurance) (p=0.016).

Conclusion:

among pregnant and postpartum women, high fear of COVID-19 translated into the possibility of having newborns admitted to hospital in a critical unit. The importance of supporting actions to support pregnant/postpartum women’s mental health in relation to COVID-19 or other threats that may influence the neonatal outcome stands out.

Descriptors:
COVID-19; Pregnancy; Postpartum Period; Fear; Pandemics

RESUMEN

Objetivo:

identificar factores asociados al miedo al COVID-19 entre mujeres que vivieron el embarazo o el parto durante la pandemia.

Métodos:

estudio transversal, anidado dentro de una cohorte prospectiva, mediante encuesta en línea, de agosto de 2021 a febrero de 2022, basado en análisis de datos descriptivos.

Resultados:

de los 431 participantes, el 52,8% eran puérperas y el 20,1% eran gestantes. En cuanto al miedo al COVID-19 se obtuvo una puntuación media de 20,46 (miedo moderado). Las puntuaciones de miedo más altas estuvieron presentes en las mujeres cuyos recién nacidos fueron hospitalizados en unidades críticas neonatales (p=0,032), y las más bajas entre las cubiertas por el seguro complementario de salud (p=0,016).

Conclusión:

entre las mujeres embarazadas y puérperas, el alto temor a la COVID-19 se tradujo en la posibilidad de internar al recién nacido en una unidad de críticos. Se destaca la importancia de apoyar acciones para apoyar la salud mental de las mujeres embarazadas/en posparto en relación con el COVID-19 u otras amenazas que puedan influir en el resultado neonatal.

Descriptores:
COVID-19; Embarazo; Periodo Posparto; Miedo; Pandemias

INTRODUÇÃO

Em todo o mundo, foram registrados mais de 750 milhões de casos de infecção pelo SARS-CoV-2 (sigla em inglês para Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), agente causador da COVID-19 (sigla em inglês para Coronavirus Disease 2019). Mais de 6 milhões de óbitos ocorreram pela doença(11 World Health Organization (WHO). WHO coronavirus disease (COVID-19) dashboard [Internet]. 2023[cited 2022 Nov 30]. Available from: https://covid19.who.int/
https://covid19.who.int/...
), que passou a ser declarada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2020. A alta letalidade da COVID-19 exigiu respostas rápidas e importantes adaptações para a sua contenção, sobretudo no que se refere aos campos da pesquisa, do desenvolvimento de imunobiológicos e da assistência à saúde.

No Brasil, as gestantes e puérperas representaram cerca de 1% dos casos de infecção, com 24.280 casos notificados, sendo que, destes, 2.057 (8,5%) evoluíram para óbito(22 Herzog RS, Francisco RPV, Rodrigues AS. Óbitos de gestantes e puérperas. Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr); 2022. https://doi.org/10.7303/syn42902915
https://doi.org/10.7303/syn42902915...
), isto é, um índice considerado muito elevado quando comparado a dados internacionais (1,8%)(33 Oliveira KF, Oliveira JF, Wernet M, Paschoini MC, Ruiz MT. Transmission vertical and COVID-19: scoping review. Rev Bras Enferm. 2021;74 (Suppl1):e20200849. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0849
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0...
). Nesse sentido, os estudos do Observatório Obstétrico apontaram que as mortes maternas no Brasil foram 35% maiores do que as taxas reportadas pela OMS(22 Herzog RS, Francisco RPV, Rodrigues AS. Óbitos de gestantes e puérperas. Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr); 2022. https://doi.org/10.7303/syn42902915
https://doi.org/10.7303/syn42902915...
). Os dados, extraídos de uma plataforma interativa de monitoramento de análise de dados públicos (da saúde, socioeconômicos e ambientais), foram cientificamente embasados no que concerne à disseminação de informações relevantes na área da saúde materno-infantil, com recortes estaduais e municipais(22 Herzog RS, Francisco RPV, Rodrigues AS. Óbitos de gestantes e puérperas. Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr); 2022. https://doi.org/10.7303/syn42902915
https://doi.org/10.7303/syn42902915...
).

Gestantes e puérperas, devido às próprias alterações fisiológicas da gravidez, têm predisposição à infecção pelo coronavírus, com risco aumentado para o desenvolvimento de formas graves da COVID-19(44 Ministério da Saúde (BR). Fluxo de manejo clínico de gestantes na atenção especializada. Brasília, (DF): Ministério da Saúde; 2020., 55 Poon LC, Yang H, Kapur A, Melamed N, Dao B, Divakar H, et al. Global interim guidance on coronavirus disease 2019 (COVID-19) during pregnancy and puerperium from FIGO and allied partners: information for healthcare professionals. Int J Gynaecol Obstet. 2020;149(3):273-86. https://doi.org/10.1002/ijgo.13156
https://doi.org/10.1002/ijgo.13156...
, 66 Whitehead CL, Walker SP. Consider pregnancy in COVID-19 therapeutic drug and vaccine trials. Lancet. 2020;395:e92. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31029-1
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31...
), aspecto esse que conduziu a considerá-las entre os grupos de risco prioritários para assistência e testagem da COVID-19 no Brasil e no mundo(44 Ministério da Saúde (BR). Fluxo de manejo clínico de gestantes na atenção especializada. Brasília, (DF): Ministério da Saúde; 2020., 55 Poon LC, Yang H, Kapur A, Melamed N, Dao B, Divakar H, et al. Global interim guidance on coronavirus disease 2019 (COVID-19) during pregnancy and puerperium from FIGO and allied partners: information for healthcare professionals. Int J Gynaecol Obstet. 2020;149(3):273-86. https://doi.org/10.1002/ijgo.13156
https://doi.org/10.1002/ijgo.13156...
).

A literatura sobre COVID-19 e gestação assinalou aumento do percentual de cesáreas em decorrência da descompensação respiratória materna e/ou hipoxemia fetal(33 Oliveira KF, Oliveira JF, Wernet M, Paschoini MC, Ruiz MT. Transmission vertical and COVID-19: scoping review. Rev Bras Enferm. 2021;74 (Suppl1):e20200849. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0849
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0...
, 77 Chang TH, Wu JL, Chang LY. Clinical characteristics and diagnostic challenges of pediatric COVID-19: a systematic review and meta-analysis. J Formos Med Assoc. 2020;119(5):982-9. https://doi.org/10.1016/j.jfma.2020.04.007
https://doi.org/10.1016/j.jfma.2020.04.0...
, 88 Cheruiyot I, Henry BM, Lippi G. Is there evidence of intra-uterine vertical transmission potential of COVID-19 infection in samples tested by quantitative RT-PCR? Eur J Obstet Gynecol. 2020;249:100-1. https://doi.org/10.1016/j.ejogrb.2020.04.034
https://doi.org/10.1016/j.ejogrb.2020.04...
, 99 Di Mascio D, Khalil A, Saccone G, Rizzo G, Buca D, Liberati M, et al. Outcome of coronavirus spectrum infections (SARS, MERS, COVID-19) during pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol MFM. 2020;2(2):100107. https://doi.org/10.1016/j.ajogmf.2020.100107
https://doi.org/10.1016/j.ajogmf.2020.10...
, 1010 Panahi L, Amiri M, Pouy S. Risks of novel coronavirus disease (COVID-19) in pregnancy, a narrative review. Arch Acad Emerg Mede [Internet]. 2020 [cited 2020 Oct 8];8(1):e34. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7092922/pdf/aaem-8-e34.pdf
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, 1111 Mullins E, Evans D, Viner RM, O’Brien P, Morris E. Coronavirus in pregnancy and delivery: rapid review. Ultrasound Obstet Gynecol. 2020;55(5):586-92. https://doi.org/10.1002/uog.22014
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, 1212 Zaigham M, Andersson O. Maternal and perinatal outcomes with COVID-19: a systematic review of 108 pregnancies. Acta Obstet Gynecol Scand. 2020;99(7):823-9. https://doi.org/10.1111/aogs.13867
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, 1313 Oliveira KF, Oliveira JF, Wernet M, Paschoini MC, Ruiz MT. COVID-19 and pregnancy: a scoping review on pregnancy characteristics and outcomes. Int J Nurs Pract. 2021b;27:e12956. https://doi.org/10.1111/ijn.12956
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); aumento de nascimentos prematuros(33 Oliveira KF, Oliveira JF, Wernet M, Paschoini MC, Ruiz MT. Transmission vertical and COVID-19: scoping review. Rev Bras Enferm. 2021;74 (Suppl1):e20200849. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0849
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0...
, 77 Chang TH, Wu JL, Chang LY. Clinical characteristics and diagnostic challenges of pediatric COVID-19: a systematic review and meta-analysis. J Formos Med Assoc. 2020;119(5):982-9. https://doi.org/10.1016/j.jfma.2020.04.007
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, 99 Di Mascio D, Khalil A, Saccone G, Rizzo G, Buca D, Liberati M, et al. Outcome of coronavirus spectrum infections (SARS, MERS, COVID-19) during pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol MFM. 2020;2(2):100107. https://doi.org/10.1016/j.ajogmf.2020.100107
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https://doi.org/10.1111/ijn.12956...
, 1414 Stumpfe FM, Titzmann A, Schneider MO, Stelzl P, Kehl S, Fasching PA, et al. SARS-CoV-2 infection in pregnancy: a review of the current literature and possible impact on maternal and neonatal outcome. Ge Fra. 2020;80(4):380-90. https://doi.org/10.1055/a-1134-5951
https://doi.org/10.1055/a-1134-5951...
, 1515 Karimi-Zarchi M, Neamatzadeh H, Datgheib AS, Abbasi H, Mirjalili SR, Behforouz A, et al. Vertical transmission of coronavirus disesase 19 (COVID-19) from infected pregnant mothers to neonates: a review. Fetal Pediatr Pathol. 2020;39(3):246-50. https://doi.org/10.1080/15513815.2020.1747120
https://doi.org/10.1080/15513815.2020.17...
, 1616 Chmielewska B, Barratt I, Townsed R, Kalafat E, Van der Meulen J, Gurol-Urganci I, et al. Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2021;9(6):e759-e772. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(21)00079-6
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); ocorrência de casos de maior gravidade com rápida evolução cursando para pneumonia(99 Di Mascio D, Khalil A, Saccone G, Rizzo G, Buca D, Liberati M, et al. Outcome of coronavirus spectrum infections (SARS, MERS, COVID-19) during pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol MFM. 2020;2(2):100107. https://doi.org/10.1016/j.ajogmf.2020.100107
https://doi.org/10.1016/j.ajogmf.2020.10...
, 1313 Oliveira KF, Oliveira JF, Wernet M, Paschoini MC, Ruiz MT. COVID-19 and pregnancy: a scoping review on pregnancy characteristics and outcomes. Int J Nurs Pract. 2021b;27:e12956. https://doi.org/10.1111/ijn.12956
https://doi.org/10.1111/ijn.12956...
, 1414 Stumpfe FM, Titzmann A, Schneider MO, Stelzl P, Kehl S, Fasching PA, et al. SARS-CoV-2 infection in pregnancy: a review of the current literature and possible impact on maternal and neonatal outcome. Ge Fra. 2020;80(4):380-90. https://doi.org/10.1055/a-1134-5951
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, 1515 Karimi-Zarchi M, Neamatzadeh H, Datgheib AS, Abbasi H, Mirjalili SR, Behforouz A, et al. Vertical transmission of coronavirus disesase 19 (COVID-19) from infected pregnant mothers to neonates: a review. Fetal Pediatr Pathol. 2020;39(3):246-50. https://doi.org/10.1080/15513815.2020.1747120
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); aumento de abortos e natimortos(1616 Chmielewska B, Barratt I, Townsed R, Kalafat E, Van der Meulen J, Gurol-Urganci I, et al. Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2021;9(6):e759-e772. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(21)00079-6
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) e de mortes maternas(1616 Chmielewska B, Barratt I, Townsed R, Kalafat E, Van der Meulen J, Gurol-Urganci I, et al. Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2021;9(6):e759-e772. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(21)00079-6
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) ressaltando-se que especificamente no Brasil, foi notório número de óbitos maternos secundários à COVID-19(1717 Takemoto LS, Menezes MO, Andreucci CB, Nakamura-Pereira M, Amorim MMR, Katz L, et al. The tragedy of COVID-19 in Brazil: 124 maternal deaths and counting. Int J Gynecol Obstet. 2020;151(1):154-56. https://doi.org/10.1002/ijgo.13300
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). Destaca-se que metanálise apontou que os piores resultados maternos e neonatais durante a pandemia ocorreram em países de baixa e média renda(1616 Chmielewska B, Barratt I, Townsed R, Kalafat E, Van der Meulen J, Gurol-Urganci I, et al. Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2021;9(6):e759-e772. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(21)00079-6
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). Além disso, destaca-se que mulheres com comorbidades prévias ou patologias adquiridas na gestação, apresentaram maior risco de desfechos desfavoráveis(1818 Smith ER, Oakley E, Grandner GW, Rukundo G, Farooq F, Fergurson K, et al. Clinical risk factors of adverse outcomes among women with COVID-19 in the pregnancy and postpartum period: a sequential, prospective meta-analysis. Am J Obstet Gynecol. 2023;228(2):161-77. https://doi.org/10.1016/j.ajog.2022.08.038
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).

Durante o ciclo gravídico-puerperal fisiológico, as mulheres passam por importantes alterações físicas, hormonais e psicológicas, que podem potencializar sentimentos de ansiedade, insegurança e medo(1919 Grossi VCV, Rocha CR, Vernaglia TVC, Barbosa MN. Educacional care in the puerperal pregnancy cycle in light of Paulo Freire’s theory: contributions for assistance. Res, Soc Develop. 2020;9(11):1-25. https://doi.org/10.33448/rsd-v9i11.9471
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). De modo mais específico, o medo da infecção pelo coronavírus figurou entre as principais causas de hesitação por assistência na população em geral(2020 Ahorsu DK, Lin CY, Imani V, Saffari M, Griffiths MD, Pakpour AH. The Fear of COVID-19 Scale: development and initial validation. Int J Mental Health Add. 2020;20:1537-45. Harper CA, Satchell LP, Fido D, Latzman RD. Functional fear predicts public health compliance in the covid-19 pandemic. Int J Ment Health Addiction. 2021;19:1875-88. https://doi.org/10.1007/s11469-020-00281-5
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), tanto quanto entre gestantes(1717 Takemoto LS, Menezes MO, Andreucci CB, Nakamura-Pereira M, Amorim MMR, Katz L, et al. The tragedy of COVID-19 in Brazil: 124 maternal deaths and counting. Int J Gynecol Obstet. 2020;151(1):154-56. https://doi.org/10.1002/ijgo.13300
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). Um estudo apontou que perceber a COVID-19 como uma grave ameaça e com maiores escores de medo resultou em aumento de adoção de medidas protetivas(2121 Andrade EF, Pereira LJ, Oliveira APL, Orlando DR, Alves DAG, Guilarducci JS, et al. Perceived fear of COVID-19 infection according to sex, age and occupational risk using the Brazilian version of the Fear of COVID-19 Scale. Death Studies. 2020;46(3):533-42. https://doi.org/10.1080/07481187.2020.1809786
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). A hesitação por assistência, principalmente durante a gestação, pode comprometer o desfecho da COVID-19, bem como o prognóstico da gravidez.

Assim, faz-se necessário investigar o medo da doença, os comportamentos e fatores associados. Entre as bibliografias revisitadas, destaca-se um estudo que investigou a aplicabilidade e validade de uma escala que mensura o medo da COVID-19(2020 Ahorsu DK, Lin CY, Imani V, Saffari M, Griffiths MD, Pakpour AH. The Fear of COVID-19 Scale: development and initial validation. Int J Mental Health Add. 2020;20:1537-45. Harper CA, Satchell LP, Fido D, Latzman RD. Functional fear predicts public health compliance in the covid-19 pandemic. Int J Ment Health Addiction. 2021;19:1875-88. https://doi.org/10.1007/s11469-020-00281-5
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), em sua versão para o português brasileiro, incluindo amostragem aleatória de 1734 brasileiros, o qual apontou maiores escores de ansiedade e medo entre mulheres(2222 Metin A, Erbiçer ES, Sem S, Çetinkaya A. Gender and COVID-19 related fear and anxiety: a meta-analysis. J Affect Disord. 2022;310:384-95. https://doi.org/10.1016/j.jad.2022.05.036
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). O mesmo comportamento foi apontado em metanálise que observou maiores escores de medo entre mulheres(2323 Silva MMJ, Nogueira DA, Clapis MJ, Leite EPRC. Ansiedade na gravidez: prevalência e fatores associados. Rev Esc Enferm USP. 2017;51:e03253. https://doi.org/10.1590/s1980-220x2016048003253
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), contudo, ambos estudos não mensuraram esta variável na população obstétrica. Ademais, um outro estudo com 209 gestantes apontou que a ansiedade como uma sensação frequente na gestação, sobretudo no terceiro trimestre gestacional, também está relacionada com presença e/ou o medo de complicações gestacionais e seus desfechos, incluindo o parto(2424 Haynes SN, Richard DCS, Kubany ES. Content validity in psychological assessment: a functional approach to concepts and methods. Psychol Assess.1995;7(3):238-47. https://doi.org/10.1037/1040-3590.7.3.238
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).

Somada a esses aspectos característicos do período gravídico-puerperal, a pandemia pela COVID-19 pode ter potencializado ainda mais o medo nessa população específica, não apenas no que tange à possibilidade de infecção, mas à necessidade de assistência e, nos casos que cursaram com a infecção, às eventuais complicações que podem advir no desfecho da gestação em si. Assim, este estudo se justifica por elucidar os fatores associados ao alto medo da COVID-19 em mulheres que vivenciaram a gestação ou parto no período pandêmico.

Diante do exposto, este estudo propôs um olhar para o medo da COVID-19 na população obstétrica brasileira.

OBJETIVO

Identificar fatores associados ao medo da COVID-19 entre mulheres que vivenciaram a gestação ou parto durante a pandemia.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi conduzido de acordo com as diretrizes de ética nacionais e internacionais, aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, cujo parecer está anexado à presente submissão e todo o seu desenvolvimento foi guiado e pautado pelas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo seres humanos, contidas na Resolução 466/12/CNS/MS.

Desenho, local do estudo e período

Trata-se de um estudo transversal aninhado a uma coorte prospectiva por meio de inquérito online, com dados coletados entre agosto de 2021 a fevereiro de 2022.

População e amostra

Foram convidados para o estudo os seguidores de redes sociais que interagiram com os conteúdos voltados para a temática da pesquisa, em sua maior parte mulheres com experiência de estarem gestantes durante a pandemia e que seguiram os perfis criados nas redes sociais ou, ainda, aquelas convidadas por seguidores (técnica de bola de neve). Dessa forma, o estudo incluiu pessoas que tinham acesso à internet, com idade superior a 18 anos e que, consentindo com a participação na pesquisa, preencheram o formulário online. A amostra é de caráter não probabilístico por conveniência.

Protocolo do estudo

O formulário de coleta de dados foi elaborado pelos próprios pesquisadores, construído em padrão Hyper Text Markup Language (HTML) no Google Formulários® e encaminhado para validação por três expertises na área, respeitando-se todos os critérios éticos. Seguiu-se as recomendações da literatura para validação, cujas prerrogativas indicam de seis a vinte validadores, sendo que o mínimo deve ser de três indivíduos, quando este representar grupo profissional(2525 Faro A, Silva LS, Santos DN, Feitosa ALB. The Fear of COVID-19 Scale adaptation and validation. Health Psychol. 2022;39. https://doi.org/10.1590/1982-0275202239e200121
https://doi.org/10.1590/1982-0275202239e...
), como o caso desta amostra. As três expertises eram especialistas em Enfermagem Obstétrica e Neonatal, sendo que uma atua em hospital de assistência terciária, uma em casa de parto e uma na docência; dessas, duas eram mestres e uma doutora. O formulário foi validado com 100% de concordância, na sua segunda versão, após ajustes na redação, preservando o conteúdo.

Foram elaborados os termos de consentimento tanto para as validadoras, quanto para os participantes do estudo, adequando os objetivos e a linguagem de acordo com cada categoria e, em ambos os casos, o envio foi realizado de forma online. Ao final da página inicial, após a leitura do termo, o participante poderia assinalar as opções: 1 – li e consinto participar; 2 – li e não consinto participar e, neste caso, a pesquisa era encerrada. Caso consentisse, o participante era direcionado para o formulário de coleta de dados.

O ambiente virtual das redes sociais de um projeto extensionista constituiu o cenário deste estudo. Em meados de julho de 2020, um grupo de pesquisadoras parceiras das Universidades Federais do Triângulo Mineiro (UFTM) e de São Carlos (UFSCar) realizou estudos na área temática da COVID-19 na gestação, parto e puerpério, traduzindo e disseminando conhecimentos em redes sociais criadas para este fim. Denominado “@nascer.e. covid”/“Nascer e Covid”, no Instagram® e no Facebook®, o projeto de extensão realizou mais de 200 postagens, de modo que sua página no Instagram® conta, em dezembro de 2022, com mais de 2800 seguidores e, no Facebook®, conta com 225 seguidores.

O convite ao estudo foi postado nessas redes, com a disponibilização de link com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ao consentirem com a participação no estudo, os respondentes eram direcionados para um questionário com dados sociodemográficos e, posteriormente, ao assinalar a opção de gestantes ou puérperas, eram direcionadas ao questionário específico, o qual preenchiam com informações sobre os dados clínicos e obstétricos, assim como sobre a ocorrência da COVID-19. Caso respondessem afirmativamente para a doença, eram, ainda, direcionadas para um formulário sobre esta. No caso das puérperas, questionou-se, também, informações do nascimento e da criança.

Para mensurar o medo da infecção pela COVID-19, utilizou-se a versão traduzida e validada para o português brasileiro da Fear of COVID-19 Scale – Escala de Medo da COVID-19, gentilmente cedida por Faro e colaboradores(2626 Masjoudi M, Aslanib A, Seific M, Khazaeiand S, Fathnezhad-Kazemie A. Association between perceived stress, fear and anxiety of COVID 19 with self-care in pregnant women: a cross-sectional study. Psychol, Health Med. 2022;27(2):289-300. https://doi.org/10.1080/13548506.2021.1894344
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). A Escala de Medo da COVID-19 deve ser autopreenchida e possui sete afirmativas relacionadas à infecção. São apresentadas cinco alternativas de respostas, tipo likert, variando de 1 a 5, sendo 1 o parâmetro assinalado quando se discorda fortemente com a proposição e 5 quando se concorda fortemente. Ao final, são somados todos os itens assinalados com o seu respectivo peso (1 a 5). Escores entre 7 a 19 pontos classificam como pouco medo; de 20 a 26 pontos indicam medo moderado e participantes que totalizam pontuação acima de 27 apresentam alto escore de medo da COVID-19(2626 Masjoudi M, Aslanib A, Seific M, Khazaeiand S, Fathnezhad-Kazemie A. Association between perceived stress, fear and anxiety of COVID 19 with self-care in pregnant women: a cross-sectional study. Psychol, Health Med. 2022;27(2):289-300. https://doi.org/10.1080/13548506.2021.1894344
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, 2727 Barros AJD, Hirakata V. Alternatives for logistic regression in cross sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol. 2003;3:21. https://doi.org/10.1186/1471-2288-3-21
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).

Análise dos resultados e estatística

A amostragem se deu por conveniência no período de coleta dos dados.

A variável dependente do estudo foi o escore de alto medo da COVID-19 (pontuação acima de 27 pontos). Dados sociodemográficos, clínicos, obstétricos e sobre a COVID-19 foram investigados.

Os dados coletados através do Google Forms® foram importados para planilha do aplicativo Microsoft Excel® e, após, para o aplicativo StatisticalPackage for the Social Sciences versão 23.0.

Inicialmente, realizaram-se análises descritivas (frequência, média, desvio-padrão, mínimo e máximo) das variáveis e os resultados foram apresentados em tabelas; foram aplicados testes Qui-quadrado e exato de Fisher, considerando nível de significância de 5%; razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança de 95% foram estimados.

A regressão de Poisson com variância robusta foi aplicada na análise múltipla, sendo indicada para análise de dados de contagem e para minimizar os efeitos da superestimação da razão de prevalência que ocorrem quando o desfecho é comum ou muito frequente na amostra(2828 Lopes AR, Trelha CS, Robazzi MLCC, Reis RA, Pereira MJB, Santos CB. Factors associated with musculoeskeletal symptons in professionals working sitting position. Rev Saúde Pública. 2021;55:2. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002617
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). Utilizou-se o modelo em que as variáveis independentes foram inseridas em blocos na seguinte ordem: dados sociodemográficos, clínicos e obstétricos. Foram inclusas, no modelo, variáveis com valor de < 0,20 nas análises univariadas. A seleção de variáveis no modelo foi realizada pelo método de backward stepwise. Por este método consideram-se todas as variáveis com valor igual a 0,20 na análise univariada para a estatística Wald na manutenção das variáveis durante a análise ajustada nível a nível, a fim de controlar potenciais fatores de confusão(2828 Lopes AR, Trelha CS, Robazzi MLCC, Reis RA, Pereira MJB, Santos CB. Factors associated with musculoeskeletal symptons in professionals working sitting position. Rev Saúde Pública. 2021;55:2. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002617
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, 2929 Sotomayor-Beltran C, Matta-Solis H, Perez-Siguas R, Matta-Solis E, Matta-Zamudio L. Fear of COVID-19 among Peruvian people living in disadvantaged communities: a cross-sectional study. Clin Pract Epidemiol Ment Health. 2021;17:19-25. https://doi.org/10.2174/1745017902117010019
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) e identificar reais fatores de associação.

RESULTADOS

Ao todo, 431 participantes responderam ao inquérito, sendo 96,7% do sexo feminino. Dentre os respondentes, 52,8% eram puérperas, 20,1% gestantes, 12,7% acadêmicos de cursos de graduação da área da saúde, 10,8% profissionais da saúde e 3,6% referiram ser familiares de gestantes ou puérperas.

A média de idade foi de 30,96 (6,54 anos), variando de 18 a 61 anos. A maioria declarou-se de cor branca (65,1%), ser casada (54,3%), possuía alto grau de escolaridade, com, no mínimo, ensino superior completo (63,3%), exercia atividades remuneradas (76,9%), residia na região Sudeste (68,7%), com predomínio de residentes no estado de Minas Gerais (63,4%). A maioria relatou possuir plano de saúde (74,2%), contudo, faziam uso do Sistema Único de Saúde (56,6%). Na população obstétrica, destaca-se que a média de número de gestações foi de 1,69 (0,93 gestações), variando de zero a cinco.

Dentre os participantes, 45,1% (188) referiram o medo da COVID-19, cerca de 35,3% (147) apontaram medo moderado e 19,7% (82) alto medo. A pontuação média foi de 20,46 ± 6,30, indicando medo moderado. Ressalta-se que dos 431 participantes, 417 (96,8%) responderam o formulário de medo da infecção. A pontuação total teve variação de sete a 35 pontos (pontuação máxima).

Na análise bivariada, a associação de variáveis sociodemográficas e de condições clínicas com o alto medo da COVID-19 (escores acima de 27 pontos) na população geral são apresentados na Tabela 1. Observou-se associação estatisticamente significante entre a variável “possuir o plano de saúde” e o alto medo da COVID-19 (p=0,016), em que participantes cobertos pela saúde suplementar possuíam menores escores de medo. Outras variáveis na população em geral não foram estatisticamente significantes na relação com o alto medo da COVID-19, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1
Associação entre variáveis sociodemográficas e de condições clínicas com o alto medo da COVID-19 na população geral, Brasil, 2022

A análise bivariada entre o alto medo de COVID-19 e variáveis da população obstétrica apontou relação estatisticamente significante entre a variável recém-nascido (RN) encaminhado para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou de Cuidados Intensivos (UCI) com o alto medo da COVID-19, indicando que mulheres/mães que tiveram os filhos internados nestas unidades apresentaram alto medo da COVID-19 (p= 0,032). As demais variáveis associadas à população obstétrica e desfechos neonatais são apresentadas na Tabela 2, porém não foi constatada significância estatística.

Tabela 2
Associação entre variáveis obstétricas, do RN e de condições clínicas com o alto medo da COVID-19 na população obstétrica, Brasil, 2022

Foram colocados no modelo de Regressão Robusta de Poisson, todas varáveis com valores de p<0,20 na análise bivariada (possuir plano de saúde/convênio – p= 0,016; cor de pele branca – p = 0,091; gestante com doença crônica – p = 0,104; gestantes asmáticas p = 0,187; hipotireoidismo gestacional – p = 0,183). A variável ter sido infectada pela COVID-19 foi inserida no modelo por se tratar de variável de interesse do estudo. Na tabela 3, são apresentados o Erro Padrão, Intervalos de Confiança (95%) e os valores de p. Nota-se que participantes que se declararam brancos apresentaram quase significância, no entanto, o fato de ter o seu RN encaminhado para unidade crítica justificou o alto medo pela COVID-19 na população obstétrica.

Tabela 3
Modelo de Regressão de Poisson com variância robusta entre alto medo da COVID-19 e variáveis sociodemográficas e de saúde. Brasil, 2022

DISCUSSÃO

Gestantes e puérperas apresentaram escores que indicaram medo moderado da COVID-19 (20,46).

Comparado a estudo que utilizou a mesma escala para avaliar o medo da COVID-19 junto a 215 gestantes iranianas, identificou-se valores semelhantes no escore total (20,85)(2727 Barros AJD, Hirakata V. Alternatives for logistic regression in cross sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol. 2003;3:21. https://doi.org/10.1186/1471-2288-3-21
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). Porém, estudo transversal realizado no Peru, com 449 participantes, apontou maiores médias no score da população geral (24,04), com diferença significativa entre mulheres (25,90)(3030 Dymecka J, Gerymski R, Iszczuk A, Bidzan M. Fear of coronavirus, stress and fear of childbirth in Polish pregnant women during the COVID-19 pandemic. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(24),13111. https://doi.org/10.3390/ijerph182413111
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). Esse mesmo estudo mostrou elevado medo da COVID-19 na maior parte dos participantes (59,24%)(3030 Dymecka J, Gerymski R, Iszczuk A, Bidzan M. Fear of coronavirus, stress and fear of childbirth in Polish pregnant women during the COVID-19 pandemic. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(24),13111. https://doi.org/10.3390/ijerph182413111
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), diferentemente dos resultados apresentados. Mas, há que se destacar que esse estudo foi realizado com uma população que vivia em condições de desvantagens sociais, além do fato de a coleta ter sido realizada entre agosto e setembro de 2020, período de grande pico pandêmico.

Um outro estudo conduzido na Polônia com 262 gestantes também revelou maiores escores de medo da COVID-19, independentemente da paridade (22,33 a 23,66). Os autores identificaram associação significativa entre o estresse, o medo da COVID-19 e o medo do desfecho (parto). O medo da infecção foi o mediador do estresse e do aumento do medo do parto. De acordo com os mesmos, a vivência da gestação na pandemia foi acompanhada de um impacto emocional negativo, pois aumentou não somente o medo da infecção, mas o estresse e o medo do parto, sendo o parto visto como uma ameaça para própria saúde da mãe e de seu filho(3131 Orsolini L, Pompili S, Mauro A, Salvi V, Volpe U. Fear and anxiety related to COVID-19 pandemic may predispose to perinatal depression in Italy. Front Psychiatry. 2022;13:977681. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.977681
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). Ressalta-se que estes escores aumentados também podem ser atribuídos ao período de coleta de dados, que se deu no início da pandemia, entre os meses de março a abril de 2020.

Ainda sobre o medo da COVID-19, entre gestantes e puérperas, um estudo com 184 participantes italianas apontou baixo medo (15,0) na população obstétrica, contrapondo os resultados apresentados. No entanto, embora os escores sejam menores, o estudo observou que 27% tinham alto medo da infecção, índice superior ao encontrado neste e em outros estudos. Assim, os autores pontuaram que, durante a pandemia, as mulheres no período perinatal, independentemente da história de saúde mental prévia, experienciaram níveis aumentados de ansiedade, medo e sofrimento psicológico, os quais foram atribuídos ao isolamento, à quarentena, ao bloqueio e privação da sua rede de apoio e contatos sociais e não somente à infecção em si(3232 Fan HSL, Choi EPH, Ko RWT, Kwok JYY, Wong JYH, Fong DYT, et al. COVID‐19 related fear and depression of pregnant women and new mothers. Public Health Nurs. 2022;39(3):562-71. https://doi.org/10.1111/phn.13035
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).

Há que se ressaltar também o estudo populacional chinês, que apontou altos índices de indicativos de depressão entre os participantes e associação dos sintomas com o medo moderado relacionado à COVID-19. Observou-se também que mulheres que pariram na pandemia eram mais propensas a ter depressão e que, durante a pandemia, houve incremento nos índices de depressão pós-parto. Os autores alertam que as mulheres com alto medo da infecção foram as mais vulneráveis a apresentarem sintomatologia depressiva no puerpério(3333 Kabat-Zinn J. Viver a catástrofe total. 2ª.Ed. São Paulo: Palas Athena; 2019.).

Além disso, um estudo canadense com mais de 9.500 gestantes apontaram escores moderados a altos de medo da infecção. O medo da COVID-19 foi associado a fatores sociodemográficos como: estar em situação de insegurança alimentar, fazer parte de determinados grupos étnicos e a depender da localização geográfica em que residiam. Fatores clínicos como: já ter apresentado algum quadro de ansiedade antes do diagnóstico gestacional, possuir condição crônica de saúde e obesidade pré-gestacional; além dos fatores relacionados à gestação como paridade e, ainda, o estágio da gestação no momento da entrevista (terceiro trimestre). Maiores escores de medo foram associados à ansiedade e depressão(3434 Giesbrecht GF, Rojas L, Patel S, Kuret V, MacKinnon AL, Tomfohr-Madsen L, et al. Fear of COVID-19, mental health, and pregnancy outcomes in the pregnancy during the COVID-19 pandemic study: fear of COVID-19 and pregnancy outcomes. J Affect Disorders. 2022;299:483-91. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.12.057
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). No entanto, os autores apontaram, que semelhantemente ao estudo realizado, as mulheres possuíam elevada escolaridade, o que limita a generalização dos resultados. Vale destacar que, semelhantemente, foram encontrados menores escores de medo em participantes que declararam ser usuários do serviço suplementar, mostrando a relevância dos aspectos sociais na experiência do medo.

O alto medo associado à COVID-19 resultou no aumento da adesão às medidas protetivas da infecção(2121 Andrade EF, Pereira LJ, Oliveira APL, Orlando DR, Alves DAG, Guilarducci JS, et al. Perceived fear of COVID-19 infection according to sex, age and occupational risk using the Brazilian version of the Fear of COVID-19 Scale. Death Studies. 2020;46(3):533-42. https://doi.org/10.1080/07481187.2020.1809786
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). No entanto, a resposta ao medo e, consequentemente, ao estresse gerado, é uma característica individual e multifatorial. A experiência pode desencadear estratégias de enfrentamento, contudo, também pode haver negação, naturalização ou má adaptação, podendo resultar em comportamentos nocivos à saúde (hiperatividade, consumo de drogas lícitas e ilícitas, alterações na saúde mental)(3434 Giesbrecht GF, Rojas L, Patel S, Kuret V, MacKinnon AL, Tomfohr-Madsen L, et al. Fear of COVID-19, mental health, and pregnancy outcomes in the pregnancy during the COVID-19 pandemic study: fear of COVID-19 and pregnancy outcomes. J Affect Disorders. 2022;299:483-91. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.12.057
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).

Participantes que se autodeclararam brancos apresentaram quase significância, no entanto, o fato de ter o seu recém-nascido (RN) encaminhado para unidade crítica justificou o medo pela COVID-19 na população obstétrica. Contrapondo os resultados, um estudo realizado na Turquia com 906 puérperas evidenciou que o medo da COVID-19 esteve associado a variáveis socioeco-nômicas como alto nível de escolaridade, alta renda e exercício de atividade remunerada(3535 Uzun A, Öztürk GD, Bozkurt Z, Çavuşoğlu M. Investigating of fear of COVID-19 after pregnancy and association with breastfeeding. JID Health. 2021;4(1):327-33. https://doi.org/10.47108/jidhealth.Vol4.Iss1.98
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). No entanto, neste mesmo estudo, constatou-se que mulheres submetidas à cesárea relataram alto medo da COVID-19, indicando que a hospitalização e as intervenções podem influenciar e aumentar a sensação de medo(3636 Montanhaur CD, Rodrigues OMPR, Arenales NG. Bebês internados em unidades neonatais: caracterização e percepção materna da situação. Bol Acad Paul Psicol [Internet]. 2020 [cited 2022 Dec 04];40(99):241-51. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2020000200008&lng=pt&nrm=isso
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), semelhantemente ao resultado que apontou a associação entre o alto medo e a hospitalização do RN.

Destarte, o medo associado a ter seu RN internado em uma unidade crítica pode ser justificado pelo fato de o RN estar em uma unidade hospitalar, mas não somente por este motivo. Dentre os diversos motivos, podem ser aventados: o medo de contaminar o filho que apresenta fragilidade imunológica; o medo de se infectar durante as visitas; assim como pode ser causado pela própria experiência e momento crítico emocional vivenciado. Nesse sentido, um estudo qualitativo com mães de bebês encaminhados à UTI apontou que, no momento da notícia, em sua maioria, as puérperas vivenciam sentimentos negativos como preocupação e medo, agravados quando esta internação foi inesperada e não prevista. Sentimentos positivos surgem com a convivência ao longo dos dias e evolução favorável do neonato, após o estado de conformidade(3737 Dulfe PAM, Alves VH, Pereira AV, Vieira BDG, Rodrigues D P, Marchiori GRS, et al. Nurse-midwives reconfiguring care in the scope of labor and births in COVID-19 times. Rev Bras Enferm. 2021;74(Suppl 1):e20200863. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0863
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).

Com relação à assistência de enfermagem à população obstétrica durante a pandemia, estudo apontou que enfermeiras obstetras lideraram movimento para atender às especificidades da mulher e, ao mesmo tempo, reorientar as práticas para garantir a segurança durante a pandemia, tendo como foco o cuidado humanizado, porém, baseado nas evidências científicas(38).

Neste sentido, coube às enfermeiras obstetras participar de várias etapas do processo como: reorientar fluxos, reelaborar protocolos, organizar espaços para isolamento, participar de reuniões com a direção da unidade e capacitar trabalhadores, entre outras, a fim de garantir proteção à saúde das mulheres, recém-nascidos, familiares e da própria equipe(38).

Entretanto, permeando as questões referentes à contenção da infecção, as enfermeiras tiveram que vivenciar preocupações adicionais para oferecer uma assistência segura, mas, ao mesmo tempo, uma experiência de nascimento positiva para as mulheres e suas famílias, primando pela qualidade, humanização e embasamento científico. Com rápidas e constantes mudanças assistenciais para atender às demandas impostas pela doença, o processo foi atravessado por adaptações, medos e angústias, que também comprometeu a saúde mental dessas profissionais(38). Dessa forma, observa-se que o medo da COVID-19 perpassou não apenas as gestantes, mas também as puérperas, seus familiares, assim como os profissionais de saúde e, mais especificamente, a equipe de enfermagem, cujo papel foi imprescindível na assistência durante a pandemia.

Por fim, cabe atenção especial às puérperas, a fim de garantir recursos necessários para o enfrentamento da situação, que consiste em uma ameaça real à sua saúde mental. Diante do exposto, abrir espaço para tematizar medos e preocupações nas práticas perinatais é premente, com destaque para os cenários de pandemias ou situações similares. Dialogar é uma estratégia de cuidado com desdobramento terapêutico e educativo, com especial atenção para oferta da escuta sensível e acolhimento das manifestações de medo. Isso implica em reconhecer e valorizar a mulher e os espaços interacionais na atenção ao pré-natal, parto e pós-parto.

Limitações do Estudo

Como limitações do estudo, pode-se citar o desenho do estudo, cujo momento atual de crise sanitária pode não condizer com o sentimento vivenciado durante toda a gestação, além do fato de que gestantes/puérperas falecidas pela doença (casos de maior gravidade), não compuseram a casuística dos casos. Ressalta-se, ainda, a possibilidade de viés recordatório, uma vez que os dados foram baseados nas respostas das participantes.

Outra limitação consiste no período de coleta do estudo, que coincidiu com a introdução da imunização contra COVID-19 para gestantes, o que, também, pode ter influenciado nos resultados e consequentemente ter reduzido os escores de medo nesta população. Outra importante limitação consiste no perfil das participantes, que foram mulheres com acesso à internet, em sua maioria, com alta escolaridade, com emprego formal remunerado, brancas, residentes na região Sudeste e usuárias da saúde suplementar (plano de saúde/convênio). Portanto, este perfil pode não refletir a realidade de outras mulheres brasileiras. O fato pode ser justificado por ser um estudo com coleta online, que limita a participação universal. Além disso, o fato de ser um inquérito online não permitiu a classificação de gravidade dos casos. Outro ponto que cabe a discussão é que o estudo se deu em uma população com alto poder aquisitivo, com acesso à alimentação adequada, medicamentos, serviços de saúde diferenciados, informação, o que pode ter contribuído para melhores resultados em relação à infecção e à própria gestação.

Apesar desses limites apresentados, a coleta online, devido às condições sanitárias, possibilitou apresentar o perfil da doença em uma amostra nacional e com desenho transversal, o que consistiu em uma inovação para o momento vivenciado. Deste modo, este estudo surge como potencial para novas pesquisas, com outros desenhos, que busquem elucidar fatores que podem comprometer o desfecho das gestações, como novas infecções e as alterações de saúde mental em decorrência do medo de possíveis situações ameaçadoras, como a experiência de ter seu filho internado em uma unidade crítica.

Contribuições para a Área

Esta pesquisa pode contribuir com outros estudos, enriquecendo novas discussões acerca do tema. Além disso, aponta a necessidade de ações de suporte à saúde mental de gestantes e/ou puérperas, quer seja diante da COVID-19 ou diante de qualquer ameaça ao ciclo gravídico-puerperal. Ressalta-se a importância do suporte/apoio às mulheres que têm a possibilidade ou que de fato tem seus filhos admitidos em unidades de cuidado crítico e o papel primordial do enfermeiro neste suporte. Essas necessidades devem ser contempladas através de recursos e investimentos em políticas públicas assim como comprometimento da equipe assistencial em prestar assistência humanizada e de qualidade.

CONCLUSÕES

Nosso estudo apontou que ter cobertura pela saúde suplementar, através de convênios ou atendimento particular, diminuiu o medo da COVID-19. Já entre gestantes e puérperas, o alto medo foi traduzido na possibilidade ou na experiência de separar-se do seu filho devido a internação do mesmo em uma unidade crítica (UTI/CTI). Não identificou-se outros fatores associados ao medo da infecção, tanto entre gestantes e puérperas, quanto na população em geral, no entanto, a amostra pode ter sido insuficiente para encontrar diferenças estatísticas entre os grupos comparados. Com isso, nosso estudo aponta para a necessidade de realização de novas investigações sobre o tema, assim como diante de novas infecções ou possíveis situações ameaçadoras e que causem medo, como a experiência de ter o filho internado em uma unidade crítica. Reforça-se ainda a importância do suporte/apoio às mulheres que vivenciam situações de medo ou angústia no ciclo-gravídico puerperal e dos investimentos em políticas públicas para saúde mental das mulheres.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Hugo Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    19 Dez 2022
  • Aceito
    14 Ago 2023
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