Fatores associados a conhecimento, atitude e prática de idosos sobre prevenção do câncer de pele

RESUMO

Objetivos:

identificar fatores associados a conhecimento, atitude e prática de idosos sobre a prevenção do câncer de pele.

Métodos:

estudo transversal, realizado com 120 idosos de uma Unidade Básica de Saúde em Quixadá, Ceará, de setembro a novembro de 2018.

Resultados:

indivíduos na faixa etária de 60 a 69 anos e trabalhando estiveram associados estatisticamente ao conhecimento adequado (p=0,038). O fato de ter pele, olhos e cabelos claros estava associado à atitude adequada (p=0,030). Ter problemas de pele, do tipo ferida sangrante, estava associado à prática adequada (p=0,016). Acerca das condutas inadequadas para a prevenção do câncer de pele, observou-se associação estatisticamente significante entre trabalhar ou já ter trabalhado sob exposição direta ao sol, conhecimento inadequado (p=0,036), atitude inadequada (p=0,010), ter o ensino fundamental incompleto e prática inadequada (p<0,001).

Conclusões:

fatores sociodemográficos e clínicos influenciam no conhecimento, atitude e prática de idosos sobre a prevenção do câncer de pele.

Descritores:
Neoplasias Cutâneas; Idoso; Conhecimento; Atitude; Enfermagem.

ABSTRACT

Objectives:

to identify factors associated with older adults’ knowledge, attitude and practice regarding skin cancer prevention.

Methods:

this is a cross-sectional study, carried out with 120 older adults from a Basic Health Unit in Quixadá, Ceará, from September to November 2018.

Results:

individuals aged 60 to 69 years and working were statistically associated with adequate knowledge (p=0.038). Having light skin, eyes and hair was associated with adequate attitude (p=0.030). Having skin problems, such as bleeding wounds, was associated with adequate practice (p=0.016). With regard to inappropriate behavior for skin cancer prevention, there was a statistically significant association between working or having worked under direct exposure to the sun, inadequate knowledge (p=0.036), inadequate attitude (p=0.010) and having incomplete primary education and inadequate practice (p<0.001).

Conclusions:

sociodemographic and clinical factors influence older adults’ knowledge, attitude and practice regarding skin cancer prevention.

Descriptors:
Skin Neoplasms; Aged; Knowledge; Attitude; Nursing

RESUMEN

Objetivos:

identificar factores asociados al conocimiento, actitud y práctica de los ancianos en relación a la prevención del cáncer de piel.

Métodos:

estudio transversal, realizado con 120 ancianos de una Unidad Básica de Salud de Quixadá, Ceará, de septiembre a noviembre de 2018.

Resultados:

los individuos de 60 a 69 años y que trabajaban se asociaron estadísticamente con conocimientos adecuados (p=0,038). Tener piel, ojos y cabello claros se asoció con una actitud adecuada (p=0,030). Tener problemas en la piel, como heridas sangrantes, se asoció con una práctica adecuada (p=0,016). Sobre conductas inapropiadas para la prevención del cáncer de piel, hubo asociación estadísticamente significativa entre trabajar o haber trabajado bajo exposición directa al sol, conocimientos inadecuados (p=0,036), actitud inadecuada (p=0,010), tener instrucción primaria incompleta y práctica inadecuada (p<0,001).

Conclusiones:

los factores sociodemográficos y clínicos influyen en el conocimiento, la actitud y la práctica de los ancianos respecto a la prevención del cáncer de piel.

Descriptores:
Neoplasias Cutáneas; Anciano; Conocimiento; Actitud; Enfermería

INTRODUÇÃO

O termo “câncer” é abrangente, correspondendo a mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas que têm como característica em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos à distância(¹).

Configura-se um problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento. As estimativas mostram que, no ano de 2020, ocorreram 309.750 casos de câncer em homens e 316.280 casos em mulheres. Dentre os tipos de câncer, destaca-se o de pele. A cada três cânceres diagnosticados, um é de pele(²). No Brasil, o câncer de pele não melanoma é o mais frequente, apresentando altos percentuais de cura, quando detectado e tratado precocemente(³). Observa-se maior prevalência em pessoas idosas(⁴).

O câncer de pele melanoma é menos frequente e tem pior prognóstico, com elevada letalidade. Quando a detecção é precoce, as chances de cura chegam a mais de 90%(²,⁵). Assemelha-se a pintas, eczemas ou outras lesões benignas. Para detecção precoce, recomendam-se o autoexame da pele e a avaliação detalhada por profissional de saúde(⁶). Para esse tipo de câncer, o envelhecimento populacional e a exposição ultravioleta são fatores contribuintes para o aumento de sua incidência(⁷).

Na atualidade, a população mundial passa pela transição demográfica, refletindo o crescimento da população idosa. Define-se como idoso, no Brasil, a pessoa com 60 anos ou mais. Esse é o sexto país com maior número de idosos. Nos últimos 60 anos, houve um aumento de 15 milhões de idosos no país, passando de 4% para 9%, representando um aumento de 33 milhões(⁸-⁹).

A idade avançada aumenta as chances das pessoas desenvolverem neoplasias cutâneas(⁷). Outro fator de risco é a exposição crônica e excessiva à luz solar, que contém quantidade significativa de raios ultravioleta (UV). Esses raios desencadeiam diferentes alterações patológicas na pele. Em virtude disso, é recomendado o uso de protetor solar para evitar os danos à pele e o fotoenvelhecimento induzidos por UV(¹⁰-¹¹).

Analisar os fatores relacionados ao conhecimento, atitude e prática (CAP) de idosos sobre a prevenção do câncer de pele pode se constituir em uma medida oportuna para planejar e avaliar ações voltadas à educação em saúde. O modelo CAP parte do pressuposto de que um comportamento em saúde se prende a um processo sequencial: tem origem na aquisição de um conhecimento cientificamente correto que leva à formação de uma atitude favorável e à adoção de uma prática de saúde(¹²). Portanto, atitudes e práticas adequadas podem atenuar os riscos do aparecimento de lesões cancerígenas, contribuindo para a prevenção das neoplasias cutâneas(¹³).

A enfermagem assume papel relevante na promoção da saúde, na prevenção e no tratamento do câncer de pele nos espaços de cuidado. Para tanto, faz-se necessário que o enfermeiro esteja apto a reconhecer e ensinar à população sobre as manifestações clínicas deste tipo de neoplasia, a fim de favorecer o reconhecimento precoce e a identificação dos casos suspeitos, além de estabelecer metas para minimizar as consequências decorrentes do adoecimento enfrentadas pela pessoa com câncer e sua família, promovendo qualidade de vida e continuidade do cuidado(¹⁴).

Diante das considerações acima, o presente estudo se justifica pela mortalidade e morbidade do câncer de pele. Constataram-se a lacuna do conhecimento sobre estudos que abordem o conhecimento, a atitude e a prática relacionada à prevenção do câncer de pele em idosos. Espera-se que os dados do estudo possam orientar os profissionais e gestores da saúde sobre a importância de promover campanhas educativas para a prevenção do câncer de pele em idosa.

OBJETIVOS

Identificar os fatores associados a CAP de idosos sobre a prevenção do câncer de pele.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi conduzido de acordo com as diretrizes de ética nacionais(¹⁵) e internacionais e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Católica de Quixadá, cujo parecer está anexado à presente submissão.

Desenho, período e local do estudo

Estudo transversal, estruturado na metodologia do inquérito CAP em relação à prevenção do câncer de pele(¹⁴), desenvolvido nos meses de setembro e dezembro de 2018, em uma Unidade Básica de Saúde da cidade de Quixadá, Ceará, Brasil. Para direcionar a apresentação das informações, consideraram-se as diretrizes do STrengthening the Reporting of OBservational studies in Epidemiology (STROBE)(¹⁶).

População ou amostra; critérios de inclusão e exclusão

A amostragem foi aleatória simples, de conveniência. Foram incluídos idosos com idade maior ou igual a 60 anos e que aceitaram participar espontaneamente da pesquisa. Foram excluídos idosos que possuíam limitação de comunicação que impossibilitasse de responder ao formulário de coleta de dados e aqueles que interromperam a entrevista e não responderam a todas as perguntas do formulário adotado. Para obtenção do cálculo amostral, utilizou-se a fórmula para população finita, a partir dos 250 idosos cadastrados na unidade selecionada para o estudo, e consideraram-se o nível de confiança de 95%, a prevalência estimada dos fenômenos investigados de 50% e a margem de erro de 5%, obtendo-se tamanho amostral de 152 participantes. No entanto, devido a questões logísticas referentes ao não comparecimento dos idosos à unidade de saúde no período da coleta dos dados, obteve-se uma amostra de conveniência com 120 participantes.

Protocolo do estudo

O protocolo de pesquisa utilizado compreendeu a aplicação de um instrumento com informações sociodemográficas e clínicas, elaborado pelos pesquisadores, que subsidiou a definição das variáveis: idade; sexo; escolaridade; profissão; estado civil; doenças crônicas relatadas; uso e tipos de medicamentos; ter problema de pele; tipos de problemas de pele relatados; trabalhar ou já ter trabalhado sob exposição solar; ter pele, olhos e cabelos claros. A variável idade foi processada como contínua, e as demais, como categóricas.

O formulário do inquérito CAP, contendo questões que avaliavam o CAP de idosos sobre a prevenção de câncer de pele, foi construído com base nos estudos(¹⁷-¹⁹). Após a elaboração, o instrumento foi submetido à análise por três avaliadores: um médico dermatologista e duas enfermeiras doutoras com experiência na utilização do inquérito CAP. As sugestões elencadas foram incorporadas à versão final do instrumento. O inquérito CAP foi selecionado por identificar dados de uma população específica que esclarecem os conhecimentos, atitudes e práticas biopsicossociais, mostrando caminhos para uma intervenção mais eficaz(²⁰).

As variáveis sobre CAP foram assim definidas: 1) conhecimento adequado: quando o idoso referir já ter ouvido falar sobre câncer de pele, prevenção do câncer de pele e conhecer os métodos para prevenção do câncer de pele; 2) atitude adequada: quando o idoso acreditar que o uso do protetor solar, a consulta dermatológica pelo menos uma vez ao ano, o uso de roupas protetoras e o autoexame da pele são ações que sempre são necessárias para a prevenção do câncer de pele; 3) prática adequada: quando o idoso relatar uso de filtro solar com fator de proteção 15, no mínimo, com reaplicação do protetor a cada duas horas, no mínimo; uso de chapéu de abas largas, óculos, calça e camiseta de mangas longas, observação regular da própria pele e evitar exposição solar entre 10 e 16 horas(⁷,¹⁸,²¹). Foram consideradas condutas inadequadas quando algum dos itens acima não eram citados ou praticados pelo participante.

Para a coleta de dados, realizou o convite aos idosos para participar da pesquisa, sendo explicitados os objetivos do estudo. O Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) foi obtido de todos os indivíduos envolvidos no estudo por meio escrito. Em seguida, foi aplicado o formulário, mediante a técnica de entrevista, a qual teve duração média de 15 minutos.

Análise de resultados e estatística

Os dados foram organizados e tabulados no Microsoft Excel^® e exportados para o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0, para realização das análises estatísticas, adotando nível de significância de 0,05. Foram calculadas as frequências absoluta e percentual de cada variável, e aplicado o Teste Exato de Fisher para verificar associação estatística entre as variáveis.

RESULTADOS

Os dados sociodemográficos evidenciaram que a maioria era do sexo feminino (57%), tinha o ensino fundamental incompleto (54%), era casada (70%) e não trabalhava (55%). A média de idade foi de 69,8 anos (± 4,7 anos). Quanto à prevenção do câncer de pele, verificou-se que 68 (57%) possuíram conhecimento adequado, 52 (43%), conhecimento inadequado, 70 (58%), atitude adequada, 50 (42%), atitude inadequada, 20 (17%), prática adequada e 100 (83%), prática inadequada.

Observou-se que o intervalo de idade de 60 a 69 anos e trabalhar estava associado estatisticamente ao conhecimento adequado (p=0,038). Entre os idosos que trabalhavam, 37 (68%) se declararam como agricultores. Ter o ensino fundamental incompleto esteve associado à prática inadequada (p<0,001), e ter ensino médio completo (p<0,001) e superior completo (p<0,001) foi associado à prática adequada para prevenção do câncer de pele. Não foi identificada associação significante da frequência de CAP com as variáveis sexo e estado civil (Tabela 1).

Tabela 1
Associação das características sociodemográficas com o conhecimento, a atitude e a prática adequados de idosos sobre a prevenção do câncer de pele, Quixadá, Ceará, Brasil, 2018

Variáveis sociodemográficas		Conhecimento adequado			Atitude adequada			Prática adequada
	Total	Não	Sim	Valor de p	Não	Sim	Valor de p	Não	Sim	Valor de p
Idade
60 a 69	69 (57,5%)	21 (45,7%)	48 (64,9%)*	0,038	16 (48,5%)	53 (60,9%)	0,219	64 (57,1%)	5 (62,5%)	0,767
70+	51 (42,5%)	25 (54,3%)*	26 (35,1%)		17 (51,5%)	34 (39,1%)		48 (42,9%)	3 (37,5%)
Sexo
Masculino	52 (43,3%)	16 (34,8%)	36 (48,6%)	0,136	12 (36,4%)	40 (46,0%)	0,343	50 (44,6%)	2 (25,0%)	0,279
Feminino	68 (56,7%)	30 (65,2%)	38 (51,4%)		21 (63,6%)	47 (54,0%)		62 (55,4%)	6 (75,0%)
Escolaridade
Analfabeto	16 (13,3%)	9 (19,6%)	7 (9,5%)	0,149	7 (21,2%)	9 (10,3%)	0,116	16 (14,3%)	0 (0,0%)	<0,001
Fundamental	19 (15,8%)	4 (8,7%)	15 (20,3%)		6 (18,2%)	13 (14,9%)		17 (15,2%)	2 (25,0%)
Fundamental incompleto	65 (54,2%)	29 (63,0%)	36 (48,6%)		20 (60,6%)	45 (51,7%)		64 (57,1%)*	1 (12,5%)
Médio completo	13 (10,8%)	3 (6,5%)	10 (13,5%)		0 (0,0%)	13 (14,9%)		11 (9,8%)	2 (25,0%)*
Médio incompleto	3 (2,5%)	1 (2,2%)	2 (2,7%)		0 (0,0%)	3 (3,4%)		3 (2,7%)	0 (0,0%)
Superior completo	3 (2,5%)	0 (0,0%)	3 (4,1%)		0 (0,0%)	3 (3,4%)		1 (0,9%)	2 (25,0%)*
Superior incompleto	1 (0,8%)	0 (0,0%)	1 (1,4%)		0 (0,0%)	1 (1,1%)		0 (0,0%)	1 (12,5%)
Ocupação
Trabalha	54 (45,0%)	14 (30,4%)	40 (54,1%)*	0,011	12 (36,4%)	42 (48,3%)	0,242	53 (47,3%)	1 (12,5%)	0,056
Não trabalha	66 (55,0%)	32 (69,6%)*	34 (45,9%)		21 (63,6%)	45 (51,7%)		59 (52,7%)	7 (87,5%)
Estado civil
Casado	84 (70,0%)	33 (71,7%)	51 (68,9%)	0,797	25 (75,8%)	59 (67,8%)	0,313	78 (69,6%)	6(75,0%)	0,452
Solteiro	12 (10,0%)	3 (6,5%)	9 (12,2%)		2 (6,1%)	10 (11,5%)		10 (8,9%)	2 (25,0%)
União estável	4 (3,3%)	1 (2,2%)	3 (4,1%)		0 (0,0%)	4 (4,6%)		4 (3,6%)	0 (0,0%)
Divorciado	4 (3,3%)	2 (4,3%)	2 (2,7%)		0 (0,0%)	4 (4,6%)		4 (3,6%)	0 (0,0%)
Viúvo	16 (13,3%)	7 (15,2%)	9 (12,2%)		6 (18,2%)	10 (11,5%)		16 (14,3%)	0 (0,0%)

• ^*
  p<0,05, teste exato de Fisher (n, %).

Doenças crônicas autorreferidas pelos idosos e medicamentos de uso contínuo não apresentaram associação estatisticamente significante com CAP adequados sobre a prevenção do câncer de pele. Observou-se que a principal doença crônica foi a hipertensão arterial (55,8%) e que 3,3% dos idosos informaram o diagnóstico prévio de câncer de pele (Tabela 2).

Tabela 2
Associação entre a ocorrência de doenças crônicas relatas e o uso de medicamentos de uso contínuo com o conhecimento, a atitude e a prática adequados de idosos sobre a prevenção do câncer de pele, Quixadá, Ceará, Brasil, 2018

Variáveis		Conhecimento adequado			Atitude adequada			Prática adequada
	Total	Não	Sim	Valor de p	Não	Sim	Valor de p	Não	Sim	Valor de p
Doenças crônicas autorreferidas
Não tem doença crônica	15 (12,5%)	5 (10,9%)	10 (13,5%)	0,257	5 (15,2%)	10 (11,5%)	0,421	14 (12,5%)	1 (12,5%)	0,907
Hipertensão	54 (45,0%)	17 (37,0%)	37 (50,0%)		16 (48,5%)	38 (43,7%)		49 (43,8%)	5 (62,5%)
Diabetes	20 (16,7%)	8 (17,4%)	12 (16,2%)		4 (12,1%)	16 (18,4%)		19 (17,0%)	1 (12,5%)
Câncer de pele	4 (3,3%)	3 (6,5%)	1 (1,4%)		2 (6,1%)	2 (2,3%)		4 (3,6%)	0 (0,0%)
Histórico familiar de câncer	8 (6,7%)	2 (4,3%)	6 (8,1%)		0 (0,0%)	8 (9,2%)		7 (6,3%)	1 (12,5%)
Artrite/reumatismo	9 (7,5%)	5 (10,9%)	4 (5,4%)		4 (12,1%)	5 (5,7%)		9 (8,0%)	0 (0,0%)
Dor crônica na coluna	8 (6,7%)	4 (8,7%)	4 (5,4%)		2 (6,1%)	6 (6,9%)		8 (7,1%)	0 (0,0%)
Doença do coração	2 (1,7%)	2 (4,3%)	0 (0,0%)		0 (0,0%)	2 (2,3%)		2 (1,8%)	0 (0,0%)
Medicamento de uso contínuo
Sim	94 (78,3%)	35 (76,1%)	59 (79,7%)	0,430	27 (81,8%)	67 (77,0%)	0,740	88 (78,6%)	6 (75,0%)	0,925
Não	25 (20,8%)	10 (21,7%)	15 (20,3%)		6 (18,2%)	19 (21,8%)		23 (20,5%)	2 (25,0%)
Tipos medicamentos
Não	25 (20,8%)	10 (21,7%)	15 (20,3%)	0,305	6 (18,2%)	19 (21,8%)	0,898	23 (20,5%)	2 (25,0%)	0,693
Anti-hipertensivo	59 (49,2%)	21 (45,7%)	38 (51,4%)		16 (48,5%)	43 (49,4%)		54 (48,2%)	5 (62,5%)
Antidiabético	25 (20,8%)	8 (17,4%)	17 (23,0%)		7 (21,2%)	18 (20,7%)		24 (21,4%)	1 (12,5%)
Analgésicos/anti-inflamatórios	11 (9,2%)	7 (15,2%)	4 (5,4%)		4 (12,1%)	7 (8,0%)		11 (9,8%)	0 (0,0%)

• ^*
  p<0,05, teste exato de Fisher (n, %).

Trabalhar ou já ter trabalhado sob exposição direta ao sol apresentou associação estatística significante com não ter conhecimento adequado (p=0,036) e não ter atitude adequada (p=0,010) para prevenção do câncer de pele. Possuir pele, olhos e cabelos claros esteve associado a ter atitude adequada (p=0,030). Ter o problema de pele, do tipo descamação de pele e manchas avermelhadas com crostas estava associado à prática inadequada (p=0,016). Enquanto isso, ter ferida sangrante apresentou associação significativa com ter prática adequada (p=0,016) (Tabela 3).

Tabela 3
Associação das características clínicas com o conhecimento, a atitude e a prática adequados de idosos sobre a prevenção do câncer de pele, Quixadá, Ceará, Brasil, 2018

Variáveis		Conhecimento adequado			Atitude adequada			Prática adequada
	Total	Não	Sim	Valor de p	Não	Sim	Valor de p	Não	Sim	Valor de p
Problema de pele autorreferido
Sim	25 (20,8%)	13 (28,3%)	12 (16,2%)	0,114	10 (30,3%)	15 (17,2%)	0,116	23 (20,5%)	2 (25,0%)	0,764
Não	95 (79,2%)	33 (71,7%)	62 (83,8%)		23 (69,7%)	72 (82,8%)		89 (79,5%)	6 (75,0%)
Quais problemas de pele
Não	96 (80,0%)	33 (71,7%)	63 (85,1%)	0,289	23 (69,7%)	73 (83,9%)	0,205	90 (80,4%)	6 (75,0%)	0,016
Descamação de pele	9 (7,5%)	4 (8,7%)	5 (6,8%)		4 (12,1%)	5 (5,7%)		9 (8,0%)*	0 (0,0%)
Manchas/placas pigmentadas com crostas	11 (8,3%)	7 (13,0%)	4 (5,4%)		6 (15,2%)	5 (5,7%)		11 (8,9%)*	0 (0,0%)
Ferida sangrante	5 (4,2%)	3 (6,5%)	2 (2,7%)		1 (3,0%)	4 (4,6%)		3 (2,7%)	2 (25,0%)*
Trabalha ou ter trabalhado sob exposição direta ao sol
Sim	89 (74,2%)	39 (84,8%)*	50 (67,6%)	0,036	30 (90,9%)*	59 (67,8%)	0,010	85 (75,9%)	4 (50,0%)	0,106
Não	31 (25,8%)	7 (15,2%)	24 (32,4%)*		3 (9,1%)	28 (32,2%)*		27 (24,1%)	4 (50,0%)
Tem pele, olhos e cabelos claros
Sim	44 (36,7%)	16 (34,8%)	28 (37,8%)	0,736	7 (21,2%)	37 (42,5%)*	0,030	39 (34,8%)	5 (62,5%)	0,117
Não	76 (63,3%)	30 (65,2%)	46 (62,2%)		26 (78,8%)*	50 (57,5%)		73 (65,2%)	3 (37,5%)

• ^*
  p<0,05, teste exato de Fisher.

DISCUSSÃO

Com o envelhecimento populacional e o aumento das neoplasias(⁷), torna-se fundamental a identificação de fatores que possam contribuir com a prevenção do câncer de pele. Este estudo buscou conhecer os fatores associados a CAP dos idosos sobre a prevenção deste tipo de câncer.

Verificou-se que a faixa etária de 60 a 69 anos esteve associada com o conhecimento adequado para prevenção do câncer de pele, enquanto que, nos idosos mais velhos com idade superior a 70 anos, identificou-se conhecimento inadequado. Isso pode ser explicado pelo fato de que, à medida que a idade avança, ocorre perda progressiva da saúde(²²), com maior risco de comprometimento cognitivo e incidência de condições crônicas(²³-²⁴).

Houve distribuição similar quanto ao sexo (mulheres 57% e homens 43%), e não foi identificada associação significante dessa variável com as demais investigadas. Dados que mostram as diferenças de gênero no acesso aos serviços de saúde já são conhecidos, os quais evidenciam que as mulheres buscam mais os serviços de saúde, enquanto os homens procuram assistência quando há dores ou algum problema de saúde grave(²⁵). Medidas preventivas e de diagnóstico precoce para o câncer de pele são necessárias para ambos os sexos(²⁶).

Identificou-se baixa escolaridade. A maioria dos idosos possuía ensino fundamental incompleto, o qual foi associado à prática inadequada para prevenção do câncer de pele, enquanto que possuir ensino médio ou superior completo foi associado à prática adequada. A escolaridade dos idosos prevalente no Brasil é o ensino fundamental incompleto, principalmente entre mulheres idosas e moradores das zonas rurais(²⁷). Um estudo aponta que, quanto maior a escolaridade, maior é o acesso aos serviços de saúde e melhores são as condições de vida durante o envelhecimento, com menor incidência de doenças(²⁸). Tais desigualdades sociais impactam na saúde e bem-estar dos idosos e, portanto, devem ser combatidas(²⁹).

Houve associação significante entre trabalhar e ter conhecimento adequado, ao mesmo tempo em que não trabalhar foi associado a conhecimento inadequado. O crescimento da população idosa trabalhadora foi impulsionado pela nova previdência pública, a qual elevou a idade mínima de aposentadoria do trabalhador(³⁰). O envelhecimento é comumente associado ao declínio na capacidade para o trabalho. Contudo, a continuidade de idosos em atividades laborais se relaciona não apenas à melhoria das condições financeiras, mas é considerada algo bom para a saúde. Para tanto, a qualidade do trabalho é um quesito fundamental(³¹-³²).

Constatou-se que 57% dos idosos possuíam conhecimento adequado em relação à prevenção do câncer de pele, 58%, atitude adequada, e 17%, prática adequada. Esses dados são preocupantes e devem ser considerados nas ações de promoção da saúde e preventivas entre idosos. Pela lógica do CAP, os comportamentos em saúde dependem da aquisição de conhecimento correto que leva a uma atitude favorável que, por sua vez, pode conduzir a práticas saudáveis. Contudo, vários fatores podem influenciar a disposição para determinadas práticas de saúde, como as crenças e os fatores culturais, o acesso aos serviços de saúde e os custos(¹²). Diante do exposto, não foi possível determinar o porquê os participantes do estudo tinham bom conhecimento e atitude adequada sobre prevenção do câncer de pele, mas de maneira antagônica, possuíam prática inadequada.

Não foi identificada associação estatística significante do CAP do idosos com a presença de doenças crônicas e o uso de medicamentos, apesar de a hipertensão arterial ter sido autorreferida por 55,8% dos participantes. Sabe-se que, com o aumento da longevidade, dois terços dos idosos têm duas ou mais doenças crônicas(³³). O impacto da hipertensão arterial na vida do indivíduo é apontado por estudos(³⁴-³⁶).

Verificou-se a ocorrência de 3,3% de câncer de pele, por meio de informação autorreferida (sim ou não), não sendo possível identificar o tipo de neoplasia, se melanoma ou não melanoma. Estimativas globais de incidência(³⁷) apontam que o câncer de pele é o mais incidente de todos os tipos de câncer, sendo mais comum em homens do que em mulheres, variando entre as regiões do mundo(³⁸). Contudo, um estudo brasileiro apontou que o câncer de pele autorreferido por idosos no primeiro diagnóstico foi de 13,9% (IC95%:9,1-20,6) entre os homens e de 17,3% (IC95%:14,2-20,8) entre as mulheres(³⁹). Salienta-se que, muitas vezes, as lesões neoplásicas em estágios iniciais podem ser ignoradas pelos indivíduos por assemelhar-se a manchas ou pintas, fazendo com que a avaliação médica das lesões cutâneas seja negligenciada(⁴⁰).

Com relação aos problemas de pele autorreferidos, ter descamação da pele e manchas/placas pigmentadas com crostas foi associado estatisticamente à prática inadequada. Isso pode ser explicado pelo fato de que tais alterações cutâneas podem ser o resultado da exposição solar prolongada, com efeito cumulativo dos raios UV, e da falta de adesão a medidas de fotoproteção(⁶,⁴¹-⁴²).

Destaca-se ainda a ceratose solar ou actínica, caracterizada por manchas ou placas avermelhadas e de textura áspera com crostas frequentes no rosto e nos braços de pessoas com mais de 65 anos(⁴⁰,⁴³-⁴⁴). São lesões com potencial de transformação maligna para câncer de pele não melanoma(⁴³). Os idosos relataram alterações cutâneas que se assemelham à descrição de ceratose actínica: “manchas/placas pigmentadas com crostas”. Ações voltadas ao diagnóstico precoce têm grande importância. Nesse campo, o enfermeiro deve realizar intervenções educativas para o reconhecimento antecipado de lesões sugestivas(⁴⁵-⁴⁶).

Possuir ferida sangrante foi associado à prática adequada. A ocorrência de sangramento é comum em diversas alterações cutâneas, entre elas, as feridas tumorais. A infiltração das células neoplásicas torna as lesões friáveis, facilitando o sangramento(⁴⁶). O fato de possuir uma ferida sangrante pode afetar o indivíduo, fazendo-o lembrar constantemente da lesão, e ainda a revela para outras pessoas(⁴⁷-⁴⁸). Pode-se inferir que isso contribuiu para que os idosos adotassem práticas adequadas para a prevenção do câncer de pele.

Verificou-se que 74,3% dos idosos trabalham ou já haviam trabalhado sob a exposição direta do sol, o que pode ser justificado pela ocupação de agricultor, apontada pela maioria dos idosos que exerciam atividade laboral. Essa variável apresentou associação significante com não ter conhecimento adequado. Um estudo evidenciou que o número de horas de exposição solar ocupacional está relacionado ao câncer de pele(⁴⁹).

A educação em saúde é uma estratégia para aumentar o conhecimento da população e promover mudança de comportamento relacionado com o câncer de pele, principalmente entre idosos. Tal atuação mostra-se promissora para a enfermagem nos diversos cenários de cuidado(⁴⁶), e deve se pautar em orientações, como evitar a exposição ao sol sem proteção, especialmente entre 10 e 15 horas, utilizar filtro solar nas áreas expostas, roupas e acessórios como óculos de sol, chapéu, boné, viseiras e guarda-sol ou sombrinhas, visando à fotoproteção. Outra medida é o autoexame frequente da pele de todo o corpo, à procura de alterações cutâneas(⁴⁰).

Observou-se que ter pele, olhos e cabelos claros apresentou associação significante com ter atitude adequada para o câncer de pele, ao passo que não ter pele e olhos claros foi associado à atitude inadequada. Esse achado pode ser explicado pelo fato de pessoas com tais características possuírem a pele mais vulnerável à ação dos raios solares. Um estudo(⁵⁰) evidenciou que a cor mais clara dos olhos e cabelos foi associada ao risco aumentado de melanoma, carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular.

Limitações do estudo

Apesar dos resultados significativos, o estudo apresentou como limitação a ausência de outras investigações que utilizassem o inquérito CAP relacionado à prevenção do câncer de pele, especificamente em idosos. Outra limitação foi o fato de a prevalência do câncer de pele ter sido autorreferida pelos pesquisados, pois muitas lesões em estágios iniciais não são vistas como câncer de pele, o que pode favorecer a não procura pelos serviços de saúde.

Contribuições para as áreas da enfermagem, saúde ou políticas públicas

Com os resultados do presente estudo, fica evidente a necessidade de proporcionar campanhas educativas voltadas à população idosa sobre as medidas de prevenção do câncer de pele, pois se trata de um público vulnerável a essa patologia.

Acredita-se que o monitoramento dos fatores associados poderá subsidiar mudanças políticas e assistenciais na atenção à saúde do idoso no cenário brasileiro, com o intuito de favorecer ações que respaldam a qualidade de vida deste público.

CONCLUSÕES

Conclui-se que o CAP dos idosos sobre prevenção do câncer de pele foram influenciados por diversos fatores, tais como estar na faixa etária de 60 a 69 anos, ter ensino fundamental incompleto, trabalhar ou já ter trabalho sob exposição direto ao sol, ter problemas de manchas/placas pigmentadas com crostas e ferida sangrante, bem como ter pele, olhos e cabelos claros.

A pesquisa identificou a necessidade de ações educativas voltadas à prevenção e ao reconhecimento precoce de alterações cutâneas sugestivas de neoplasia em idosos, tendo em vista a suscetibilidade à doença em função do processo de envelhecimento. A educação em saúde sobre a temática pode ser realizada nos diversos cenários de cuidado, envolvendo o idoso e a família. Nesse contexto, novos estudos são imprescindíveis para direcionar campanhas e ações, objetivando a melhoria no conhecimento, na atitude e na prática, bem como a mudança de comportamento dos idosos.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Hugo Fernandes

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  09 Out 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  30 Out 2022
• Aceito
  12 Fev 2023