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Protocolo de organização de serviço para enfrentamento do sofrimento psíquico de universitários: uma construção coletiva

RESUMO

Objetivo:

relatar experiência sobre o processo de elaboração coletiva de protocolo de organização de serviço para enfrentamento do sofrimento psíquico de estudantes de universidade pública do interior paulista.

Método:

relato de experiência da produção do protocolo, produto de pesquisa-ação, realizada conforme modelo de protocolo de cuidado à saúde e de organização de serviço, viabilizada por encontros remotos com 33 profissionais vinculados à gestão e aos serviços dos departamentos de saúde e assistência social da universidade.

Resultados:

a produção coletiva do protocolo oportunizou a pactuação institucional de ações educativas, terapêuticas e de apoio, para serem desenvolvidas em grupo ou individualmente com os estudantes, sendo previstas as de educação permanente com os servidores.

Considerações finais:

esta experiência possibilitou elencar ações específicas para o enfrentamento do sofrimento psíquico de estudantes universitários, aproximando profissionais da assistência aos da gestão, promovendo intercâmbio de concepções e práticas para ressignificar e transformar o trabalho desenvolvido.

Descritores:
Saúde Mental; Estudantes; Protocolo; Universidade; Estratégias de Enfrentamento.

ABSTRACT

Objective:

to report on the experience of the elaboration process of a service organization protocol for coping with public undergraduate students’ psychological distress in the countryside of São Paulo.

Method:

experience report on protocol production, an action research product, carried out according to the health care and service organization protocol model, made possible by remote meetings with 33 professionals linked to the management and services of the university’s health and social assistance departments.

Results:

collective protocol production provided an opportunity for an institutional agreement on educational, therapeutic and support actions, to be developed in groups or individually with students, with provision for permanent education with civil servants.

Final considerations:

this experience made it possible to list specific actions to face undergraduate students’ psychological distress, bringing health professionals closer to those in management, promoting the exchange of concepts and practices to re-signify and transform the work developed.

Descriptors:
Mental Health; Students; Protocol; University; Coping Strategies.

RESUMEN

Objetivo:

relatar la experiencia del proceso de elaboración colectiva de un protocolo de organización de servicios para el enfrentamiento del malestar psicológico de estudiantes de una universidad pública del interior de São Paulo.

Método:

relato de experiencia sobre la elaboración del protocolo, producto de investigación-acción, realizado según el modelo de protocolo de organización asistencial y de servicios de salud, posibilitado por encuentros a distancia con 33 profesionales vinculados a la gestión y servicios de los departamentos de salud y asistencia sociales universitarios.

Resultados:

la producción colectiva del protocolo brindó oportunidad para un acuerdo institucional sobre acciones educativas, terapéuticas y de apoyo, a ser desarrolladas en grupo o individualmente con los estudiantes, con previsión de educación permanente con los servidores públicos.

Consideraciones finales:

esta experiencia permitió enumerar acciones específicas para enfrentar el sufrimiento psíquico de estudiantes universitarios, acercando a los profesionales de la salud a los profesionales de la gestión, promoviendo el intercambio de conceptos y prácticas para resignificar y transformar el trabajo desarrollado.

Descriptores:
Salud Mental; Estudiantes; Protocolo; Universidad; Estrategias de Afrontamiento.

INTRODUÇÃO

O ingresso no ensino superior se associa a uma nova realidade para os estudantes universitários, permeada pela satisfação com a possibilidade da concretização da formação profissional pretendida, mas também marcada por incertezas e desafios frente a um universo repleto de novas demandas, responsabilidades e laços sociais(11 Gomes C, Araújo CL, Comonian JO. Sofrimento psíquico na universidade: uma análise dos sentidos configurados por acadêmicos. Rev Psi Divers Saúde. 2018;7(2):255-66. https://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.v7i2.1909
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).

Esse início da vida acadêmica coincide com período do desenvolvimento humano caracterizado por grandes mudanças físicas, psíquicas e sociais que, não adaptadas ao contexto universitário, podem levar o estudante ao sofrimento psíquico(22 Aquino DR, Cardoso RA, Pinho L. Sintomas de depressão em universitários de medicina. Bol Acad Paul Psicol[Internet]. 2019 [cited 2022 Jul 15];39(96):81-95. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v39n96/v39n96a09.pdf
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).

No decorrer da formação, outros fatores podem elevar à vulnerabilidade dos estudantes universitários ao sofrimento psíquico, como a sobrecarga de tarefas estudantis aliadas a problemas na administração do tempo, na organização da rotina de vida e financeira, no encontro de um local de moradia adequado e no estabelecimento de uma rede de apoio eficiente(33 Muñoz NM, Vilanova A, Tenembaum D, Bastos Velasco L. O manejo da urgência subjetiva na universidade: construindo estratégias de cuidado à saúde mental dos estudantes. Interação Psicol. 2019;23(2):177-83. https://doi.org/10.5380/psi.v23i02.58547
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-44 Fernandes MA, Vieira FER, Silva JS, Avelino FVSD, Santos JDM. Prevalence of anxious and depressive symptoms in college students of a public institution. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 5):2169-75. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0752
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).

O sofrimento psíquico em estudantes universitários, ao redor do mundo e, na realidade brasileira, vem se fazendo cada vez mais presente, especialmente agravado por problemas individuais, familiares e socioeconômicos mais amplos, implicando consequências prejudiciais ao desenvolvimento acadêmico e pessoal, inclusive sendo considerado como emergente problema de saúde pública(55 Graner KM, Ramos-Cerqueira ATA. Integrative review: psychological distress among university students and correlated factors. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(4):1327-46. https://doi.org/10.1590/1413-81232018244.09692017
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).

Para a abordagem efetiva desse agravo de saúde mental, recomenda-se assegurar que os estudantes tenham oportunidades para vivenciar ações de promoção da saúde mental no contexto universitário e, ao buscarem atendimento na possibilidade de sofrimento psíquico, sejam acolhidos em ambiente acessível e confortável com profissionais devidamente capacitados e resolutivos(66 Arnold JL, Baker C. The role of mental health nurses in supporting young people’s mental health: a review of the literature. Ment Health Rev J. 2018;23(3):197-220. https://doi.org/10.1108/MHRJ-09-2017-0039
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).

Tem-se que a formação de redes, com vínculos estabelecidos entre estudantes, professores e técnicos administrativos, possa contribuir para a consolidação de uma cultura solidária e humanizada de apoio, configurando-se estratégia fundamental para promover a saúde e qualidade de vida dessa população(33 Muñoz NM, Vilanova A, Tenembaum D, Bastos Velasco L. O manejo da urgência subjetiva na universidade: construindo estratégias de cuidado à saúde mental dos estudantes. Interação Psicol. 2019;23(2):177-83. https://doi.org/10.5380/psi.v23i02.58547
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). Ao mesmo tempo, acredita-se que estratégias especificamente elaboradas e validadas institucionalmente para o enfrentamento do sofrimento psíquico se mostram pertinentes, devendo ser pautadas pelo trabalho interprofissional e intersetorial(77 Constantinidis TC, Dias LS, Fernandes SK, Taño BL. Trabalho em rede na atenção e cuidado à criança e ao adolescente em sofrimento psíquico. Id Rev Psicol. 2021;15(57):358-75. https://doi.org/10.14295/idonline.v15i57.3201.
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).

OBJETIVO

Relatar experiência sobre o processo de elaboração coletiva de protocolo de organização de serviço para enfrentamento do sofrimento psíquico de estudantes de universidade pública do interior paulista.

MÉTODOS

Tipo de estudo

Relato da experiência de elaboração de um protocolo de organização de serviço para o enfrentamento do sofrimento psíquico de estudantes universitários, proposto como produto de Trabalho de Conclusão de Curso de mestrado profissional em enfermagem, que consistiu em uma pesquisa-ação realizada pela primeira autora deste artigo, sob orientação de dois docentes do referido curso. A pesquisa-ação é definida como pesquisa participante, com centralidade nos pesquisados, planejada visando modificações no interior da situação pesquisada, cujo retorno produzido assume relevância para expandir o conhecimento e fortalecer a convicção no produto em questão(88 Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Editora Cortez; 2011.).

Como norteador para a elaboração deste relato, foi utilizado o instrumento COnsolidated criteria for REporting Qualitative research (COREQ), da REDEQUATOR.

Cenário do estudo

O contexto institucional da pesquisa foi em uma universidade pública federal, contemplando os departamentos de saúde e de assistência social de seus quatro campi, localizados em diferentes municípios do interior do estado de São Paulo, Brasil. Nesses departamentos, existem recursos físicos, materiais e profissionais voltados ao atendimento da comunidade universitária, por meio da oferta de serviços com foco na promoção à saúde, prevenção e atendimento de agravos e em questões sociais, incluindo ações de saúde mental e oferta de atividades de esporte e lazer, especialmente, visando assegurar equidade nas oportunidades em relação ao exercício das atividades acadêmicas.

Fonte de dados

A pesquisa-ação foi realizada em 2020, pautando-se no modelo de Werneck, Faria, Campos(99 Werneck MAF, Faria HP, Campos KFC. Protocolos de cuidados à saúde e de organização do serviço[Internet]. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed; 2009 [cited 2022 Jul 14]. Available from: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/3201
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), e, de acordo com suas premissas, desenvolveu-se um trabalho coletivo composto por três etapas, com flexibilidade, de modo a assegurar a participação ativa de todos os componentes das equipes envolvidas com o problema de saúde em foco, baseando-se nas especificidades profissionais de cada um e nas interfaces entre eles, com pactuação de responsabilidades na produção e execução do protocolo.

Na etapa 1, com o intuito de contribuir com a “caracterização do problema”, sofrimento psíquico de estudantes universitários dos quatro campi, foi realizado um estudo observacional descritivo e retrospectivo sobre o perfil demográfico, de formação e de atenção à saúde dos estudantes atendidos nas unidades de saúde de cada campus e no total da universidade.

A etapa 2 correspondeu à intervenção propriamente dita, junto a 33 profissionais envolvidos com a gestão e o atendimento de saúde e de assistência social dos estudantes, sendo 8 assistentes sociais, 6 psicólogos, 6 médicos, 5 enfermeiros, 2 técnicos de enfermagem, 1 terapeuta ocupacional, 1 educador físico, 1 administrador e 3 assistentes administrativos. A intervenção teve o propósito de elaborar coletivamente o protocolo, considerando as premissas da pesquisa-ação, os resultados da etapa 1 e os componentes do modelo adotado. Desse modo, foi complementada a “caracterização do problema”, estabelecido o objetivo do protocolo, seu “plano de ação”, respectivos responsáveis e “mecanismos de acompanhamento e avaliação”.

A etapa 3 consistiu na finalização e validação do protocolo elaborado por todos seus autores e encaminhamento de sua versão final para aprovação e adoção institucional.

Coleta e organização dos dados

Para dar início ao trabalho, previamente, foi solicitada a anuência da chefia e dos participantes para a realização da pesquisa, obtendo aprovação. O projeto desta pesquisa foi aprovado de acordo com as diretrizes de ética nacionais e internacionais pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Estadual Paulista (UNESP), cujo parecer está anexado à presente submissão. Todos os trâmites formais foram oficializados, sendo providenciada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de forma online, para a participação dos profissionais na pesquisa, sendo autorizada a dispensa da assinatura de tal termo pelos estudantes, participantes da primeira etapa.

Na etapa 1, o estudo foi realizado considerando amostra probabilística e estratificada dos estudantes com queixas relacionadas ao sofrimento psíquico entre todos estudantes atendidos, em 2019, nas unidades de saúde dos quatro campi da universidade. Para o estabelecimento da amostra, inicialmente, foi levantado o número de estudantes universitários atendidos por enfermeiros, médicos, psicólogos e terapeuta ocupacional em cada campus, no referido ano. Por meio de busca nos prontuários físicos desses estudantes, foram identificados aqueles que passaram por consulta com esses profissionais, devido a problemas relacionados à saúde mental.

A coleta dos dados nos prontuários físicos dos estudantes incluídos na amostra ocorreu após sorteio e foi norteada por um instrumento previamente delineado constituído de 12 itens distribuídos em: identificação; idade; naturalidade; data de nascimento; sexo; curso; ano do curso; cor/raça; queixa relacionada ao sofrimento psíquico; diagnóstico(s) de enfermagem e/ou dos outros profissionais da saúde e profissional que prestou o atendimento; CID-10 e profissional que realizou o atendimento.

A análise desses dados foi realizada com base na estatística descritiva, sendo apresentados segundo a frequência relativa e absoluta das variáveis estudadas (n e %), com apoio dos programas Excel e SPSS 13.0 (Statistical Package for the Social Sciences), versão 2019.

A intervenção realizada na etapa 2 consistiu em sete encontros síncronos de aproximadamente duas horas cada e vários momentos assíncronos. Durante os encontros síncronos, inicialmente, buscou-se o aprofundamento e discussão sobre aspectos teóricos e práticos da abordagem do sofrimento psíquico em estudantes universitários, suas causas e seu impacto para o estudante e a universidade. Também, promoveu-se o alinhamento conceitual entre os participantes sobre protocolos de cuidado à saúde, especialmente o de organização de serviço(99 Werneck MAF, Faria HP, Campos KFC. Protocolos de cuidados à saúde e de organização do serviço[Internet]. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed; 2009 [cited 2022 Jul 14]. Available from: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/3201
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). Na sequência, foram apresentados os resultados do estudo observacional realizado na etapa 1.

Concomitantemente, para a complementação da “caracterização do problema”, realizou-se um levantamento por meio de formulário eletrônico sobre os determinantes e efeitos do sofrimento psíquico em estudantes universitários, bem como sobre facilidades e dificuldades enfrentadas para a abordagem desse agravo, na perspectiva dos profissionais. Os resultados também foram apresentados em encontro síncrono com os mesmos, com a obtenção de consenso sobre a definição do objetivo do protocolo de padronizar ações para o enfrentamento do sofrimento psíquico.

Em encontros síncronos e de atividades assíncronas subsequentes, houve a elaboração do “plano de ação” correspondente ao alcance do objetivo delineado, que incluiu a sistematização das atividades viáveis e pertinentes ao enfrentamento do problema em pauta a serem complementadas e/ou implementadas na universidade e quais as categorias profissionais envolvidas nessa implementação, com a descrição dos principais aspectos para viabilizá-las e dos seus “mecanismos de acompanhamento e avaliação”.

Dessa forma, o protocolo foi constituído e pactuado, com a proposta de reorganização do processo de trabalho dos profissionais da saúde e da assistência social, por representantes da gestão e daqueles que prestam atendimento aos estudantes na instituição universitária sob estudo. Após cada encontro síncrono, houve a avaliação do mesmo pelos participantes e consequente adaptação e ajustes dos próximos.

Na etapa 3, em dois encontros síncronos por campi, o protocolo elaborado nas etapas anteriores foi apresentado, readequado e validado pelos profissionais envolvidos com sua elaboração para, na sequência, seguir os trâmites institucionais de sua aprovação.

Resultados das etapas do trabalho

O estudo realizado na etapa 1 identificou que, em 2019, foram realizadas 8.267 consultas clínicas, por profissionais de diferentes categorias, nas unidades de saúde da universidade, para 4.812 estudantes: 552 no campus A; 253 no campus B; 445 no campus C; e 3.562 no campus D. Nesse mesmo ano, foi computado o total de 610 estudantes, que apresentaram sintomas/queixas relacionados a sofrimento psíquico: no campus A, do total de estudantes atendidos, 142 (25,7%) apresentaram esses sintomas/queixas; no campus B, 39 (15,4%); no campus C, 164 (36,8%), constando dados detalhados sobre os atendimentos a partir de março de 2019; e, no campus D, os dados dos que apresentaram sintomas/queixas relacionados a sofrimento psíquico foram referentes ao serviço de acolhimento em saúde mental, realizados a partir de maio de 2019, perfazendo 265 (7,4%) estudantes que apresentaram esses sintomas/queixas.

Para o cálculo amostral, foram consideradas as prevalências de estudantes com sintomas/queixas relacionados a sofrimento psíquico encontradas em cada campi da universidade. Seguindo orientação de apoio estatístico, estabeleceu-se a taxa de prevalência de 35%, possibilitando delimitar o tamanho amostral de 214 (100%) estudantes a serem estudados, estratificados em: 50 (23,4%) estudantes do campus A; 14 (6,5%) estudantes do campus B; 57 (26,6%) estudantes do campus C; e 93 (43,5%) estudantes do campus D.

Sobre a categoria dos profissionais que atenderam individualmente os estudantes com sintomas/queixas de sofrimento psíquico, verificou-se que a de psicologia foi a mais frequente, com psicólogos atendendo 143 (66,8%) estudantes no ano de 2019, seguida pela categoria médica e de enfermagem, que juntos somaram 98 (45,8%) dos estudantes atendidos nesse mesmo ano.

Em relação aos aspectos demográficos, foi encontrada maior frequência do sexo feminino (135; 63,1%) e da cor branca (115; 53,7%) entre o total dos estudantes atendidos com sintomas/queixas de sofrimento psíquico. Observou-se maior frequência daqueles que se encontravam na faixa etária de 21 a 24 anos (89, 41,5%), seguida de 17 a 20 anos (85, 39,7%).

Quanto aos cursos de graduação, dos 45 (100%) existentes na universidade, em 40 (89%) deles, os estudantes atendidos com sintomas/queixas de sofrimento psíquico estavam matriculados, com maior frequência, no Curso de Ciências Biológicas, 32 (15%), seguido pelos Cursos de Engenharia Agronômica, Engenharia Ambiental e Administração, com 13 (6,1%) em cada. Sobre o ano do curso no qual os estudantes estavam matriculados, sobressaiu-se o primeiro ano, com 66 (30,8%). Foram 57 (26,6%) no segundo ano, 37 (17,3%), no terceiro ano, e 38 (17,8%), no quarto ano.

Os sintomas/queixas dos estudantes relacionados ao sofrimento psíquico se mostraram diversos, com variação de 70 identificados. A ansiedade se mostrou como o mais frequente sintoma (43,9%), seguido por dificuldade em lidar com problemas familiares (26,6%), dificuldade de relacionamento (21,5%), insônia (19,6%) e dificuldade/excesso com atividades acadêmicas (16,4%).

Na etapa 2, os participantes da intervenção apontaram como determinantes do sofrimento psíquico dos universitários: dificuldades com adaptação à vida universitária, no desempenho acadêmico, em lidar com a própria autonomia e com as relações e em aceitar negativas; excesso de tarefas acadêmicas/pressão acadêmica; ausência de rotina; bullying; assédio moral; afastamento da família ou excesso de proteção familiar; mudança de papéis; mudanças/diferenças culturais; cobrança da sociedade; isolamento/distanciamento social; imaturidade psíquica; frustração de expectativas; imediatismo; perfeccionismo extremo; ansiedade elevada; doenças preexistentes; transtornos mentais; uso de medicação e acompanhamento psicoterápico antes do ingresso; uso de substâncias ilícitas; vulnerabilidades diversas; e baixas condições socioeconômicas.

Como efeitos desse agravo para os estudantes, os profissionais indicaram: adoecimento; sofrimento agudo; maior agressividade; insegurança; depressão; solidão; frustração aumentada; sentimento de incapacidade; baixa autoestima; dificuldade de auto aceitação; prejuízo funcional e nas relações interpessoais; isolamento; distanciamento familiar; dificuldade com exigências acadêmicas; desistência do curso; evasão escolar; vulnerabilidade às doenças mentais; comportamentos nocivos; tentativas elevadas de controle; uso abusivo e nocivo de álcool e outras drogas; dificuldade de socializar; e comportamento suicida. E como efeitos do sofrimento psíquico dos estudantes para a universidade, os profissionais indicaram: alto índice de reprovação; retenção no curso; perda de vaga; evasão; necessidade de cuidados voltados à equipe; sobrecarga de trabalho; necessidade de atualização para atender as necessidades; e adequação de serviços.

Os profissionais elencaram como facilidades para a abordagem do sofrimento psíquico dos estudantes universitários as ações afirmativas e de permanência estudantil já realizadas dentro da universidade. Entre as dificuldades, apontaram a falta de articulação entre setores e departamentos, sistemas de informação que precisam ser atualizados, problemas de estrutura física que promova saúde, insuficiência na contratação de recursos humanos e carência de direcionamento técnico-organizacional para a abordagem do sofrimento psíquico dos estudantes no contexto escolar, com falta de entendimento e colaboração de outros setores da universidade. Consideraram também que muitos problemas se encontram na esfera acadêmica, como relação estudante professor, sobrecarga de tarefas estudantis e, também, a falta de adesão dos estudantes em atividades coletivas, limitando a possibilidade de ação dos profissionais. Ressalta-se que, no levantamento das facilidades e dificuldades para o enfrentamento do sofrimento psíquico dos estudantes, houve convergência entre os participantes da pesquisa em reconhecer a necessidade de se assegurar, de forma protocolar e pactuada, intra e interinstitucionalmente, o devido acolhimento, o atendimento adequado e o encaminhamento, com possibilidade de resolução do problema em questão.

Ainda na etapa 2, quanto ao “plano de ação”, estabeleceu-se o elenco das ações possíveis no enfrentamento desse agravo em foco, as quais foram classificadas em atividades coletivas por meio da realização de grupos de discussão, oficinas de trabalho e rodas de conversa, que foram subdivididas em três frentes, sendo essas de cunho educativo com os estudantes, terapêuticas e de apoio com os estudantes e de educação permanente em saúde para os profissionais dos quatro campi da universidade. As atividades individuais foram classificadas em terapêuticas e de apoio com os estudantes, sendo incluídas também as atividades de cultura e lazer, bem como as atividades físicas e esportivas.

Na etapa 3, foi conferido o possível alcance do objetivo do protocolo, que tem como principal eixo a diminuição do sofrimento psíquico de estudantes universitários, mediante às ações propostas e demais componentes do mesmo, bem como procedeu-se à validação por seus autores, tanto da forma de publicação quanto de seu conteúdo.

DISCUSSÃO

Considera-se que o processo para a produção do protocolo foi cientificamente respaldado e metodologicamente guiado pelos princípios da pesquisa-ação(88 Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Editora Cortez; 2011.) e pelo modelo proposto de Werneck, Faria, Campos(99 Werneck MAF, Faria HP, Campos KFC. Protocolos de cuidados à saúde e de organização do serviço[Internet]. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed; 2009 [cited 2022 Jul 14]. Available from: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/3201
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), contando com a participação ampla e ativa dos profissionais envolvidos, desde o início até seu término, em coerência com as premissas dos Sistema Único de Saúde (SUS), Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e políticas institucionais, especialmente visando à promoção da saúde mental dos estudantes e à abordagem adequada do sofrimento psíquico dos universitários.

Para a “caracterização do problema: sofrimento psíquico do estudante universitário”, durante a realização da intervenção em conjunto com profissionais dos quatro campi da referida universidade, foi possível dar visibilidade aos perfis demográfico, de formação e de atenção à saúde dos estudantes atendidos nas unidades dessa instituição, especialmente aos perfis daqueles com sintomas/queixas relacionados ao sofrimento psíquico.

No decorrer desses encontros, também foi possível elencar aspectos considerados pelos participantes como determinantes e implicações para os estudantes e a universidade em relação ao sofrimento psíquico, além das facilidades e dificuldades relacionadas ao cotidiano do trabalho de atenção à saúde dos estudantes.

Na universidade estudada, várias frentes de apoio aos estudantes vêm sendo desenvolvidas, que deverão se somar às atividades a serem implementadas, conforme a proposta do protocolo elaborado. Dentre as atividades já existentes, os profissionais destacaram a frente da permanência estudantil para estudantes bolsistas através do Programa de Acompanhamento Estudantil, que se configura processo sistematizado de ações diversas, organizadas em rede referente às questões que impactam as trajetórias acadêmicas, oferecendo recursos e suporte para a formação universitária(1010 Universidade Federal de São Carlos. Minuta de acompanhamento dos bolsistas. São Carlos: UFSCar; 2020.), bem como possibilitando encontros periódicos de profissionais de cada campi e multicampi, para a avaliação das ações realizadas e reflexão sobre as que deveriam ser implementadas, discussão de casos e possibilidades de encaminhamentos intra e extra institucional. Salienta-se que, para os estudantes que não são bolsistas, os mesmos serviços de atenção à saúde e suporte são oferecidos.

Constatou-se, entretanto, que os profissionais encontram empecilhos para realizar um serviço efetivo, especialmente em relação à equipe reduzida e ao não envolvimento do conjunto de profissionais da universidade para reconhecer e enfrentar efetivamente o sofrimento psíquico. Postula-se que a gestão universitária deva ter um olhar atento em pontos-chave que precisam ser repensados e discutidos, tanto sobre a infraestrutura física quanto sobre aspectos organizacionais e de quantidade e qualificação de recursos humanos(33 Muñoz NM, Vilanova A, Tenembaum D, Bastos Velasco L. O manejo da urgência subjetiva na universidade: construindo estratégias de cuidado à saúde mental dos estudantes. Interação Psicol. 2019;23(2):177-83. https://doi.org/10.5380/psi.v23i02.58547
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,66 Arnold JL, Baker C. The role of mental health nurses in supporting young people’s mental health: a review of the literature. Ment Health Rev J. 2018;23(3):197-220. https://doi.org/10.1108/MHRJ-09-2017-0039
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).

Embora reconhecendo a grande potencialidade do trabalho realizado nas unidades de saúde dos quatro campi da universidade para a abordagem da saúde mental dos seus estudantes, compondo a rede de atenção à saúde psicossocial dos diferentes municípios sede, os profissionais participantes desta pesquisa-ação expressaram muitas fragilidades na estrutura das referidas redes e falta de legitimidade para os profissionais de outras áreas que não sejam exclusivas da saúde metal. Evidenciou-se, através das discussões realizadas nos encontros síncronos, que é preciso estreitar as relações com as redes, a fim de favorecer o serviço de referência e contra-referência, buscando a integralidade da atenção à saúde dos estudantes.

A partir desses dados, elaborados e discutidos pelos próprios participantes da intervenção, foi possível dimensionar a magnitude, a transcendência, a vulnerabilidade e os determinantes do sofrimento psíquico para os estudantes, relacionando-os com suas implicações para eles e para a universidade, trazendo subsídios para a discussão e proposição do “plano de ação”.

Neste sentido, o protocolo elaborado compôs-se por uma ampla gama de atividades propostas com base em conhecimentos científicos e interdisciplinares e em condições institucionais concretas de serem implementadas com sucesso nos quatro campi, desde que haja respaldo da gestão e corresponsabilização dos profissionais para tal. Acrescenta-se que o protocolo, somado com as demais ações, foi indicado por todos os participantes como recurso fundamental para promover/fortalecer as ações de saúde voltadas ao enfrentamento do sofrimento psíquico.

Considera-se que a realização da pesquisa-ação e de seu produto configurou-se estratégia apropriada para a promoção de ações de saúde mental que permitam o desenvolvimento cognitivo, social, cultural e emocional dos estudantes, possibilitando espaços abertos de diálogo e escuta em local que tenham oportunidade de falar e se expressar, para que possam realizar movimentos de ressignificação de si, do outro e seu contexto(11 Gomes C, Araújo CL, Comonian JO. Sofrimento psíquico na universidade: uma análise dos sentidos configurados por acadêmicos. Rev Psi Divers Saúde. 2018;7(2):255-66. https://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.v7i2.1909
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). Além disso, reafirmou-se que a universidade deve promover ações de prevenção e tratamento de agravos à saúde mental, como o sofrimento psíquico, com intuito de possibilitar adaptações às reais necessidades da formação, sem o comprometimento das habilidades cognitivas e sócioemocionais dos universitários(22 Aquino DR, Cardoso RA, Pinho L. Sintomas de depressão em universitários de medicina. Bol Acad Paul Psicol[Internet]. 2019 [cited 2022 Jul 15];39(96):81-95. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v39n96/v39n96a09.pdf
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-33 Muñoz NM, Vilanova A, Tenembaum D, Bastos Velasco L. O manejo da urgência subjetiva na universidade: construindo estratégias de cuidado à saúde mental dos estudantes. Interação Psicol. 2019;23(2):177-83. https://doi.org/10.5380/psi.v23i02.58547
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). Como outro aspecto positivo desta experiência, teve-se o fortalecimento do protagonismo dos profissionais na condução do planejamento das mesmas, aproveitando a produção de informações e aplicação de conhecimentos e estreitando as relações existentes entre a organização e sua base por meio de métodos participativos(88 Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Editora Cortez; 2011.).

Contudo, verificou-se que em momento algum foi considerada pelos participantes da pesquisa a inclusão dos próprios estudantes e/ou de sua representação na elaboração/revisão do protocolo em construção, de modo a ampliar as possibilidades de qualificação do mesmo. Ao mesmo tempo, notou-se a pouca valorização de proposições de ações que incluíssem as famílias como foco das ações, mesmo tendo por base os problemas familiares serem a segunda causa mais prevalente de sintomas/queixas relacionados à ocorrência de sofrimento psíquico entre os universitários da instituição, aspectos que necessitam ser retomados em próximas oportunidades de revisão deste protocolo.

Limitações do estudo

A realização desta pesquisa em meio à pandemia de COVID-19 impediu a participação presencial dos profissionais na intervenção proposta, com muitas ausências nos encontros virtuais síncronos justificadas devido a essa doença ou a sobrecarga que ela trouxe. Pelo mesmo motivo, admite-se como limitação a inviabilidade da participação de estudantes ou de seus representantes, por estarem em distanciamento social, com atividades acadêmicas suspensas durante todo o trabalho de campo.

Contribuições para a área da saúde

Acredita-se que, com a padronização das atividades a partir do protocolo elaborado, torna-se-á possível a reorientação do processo de trabalho nos departamentos de saúde e de assistência social da instituição universitária estudada, possibilitando, após sua concretude, a produção de impactos positivos sobre a qualidade de vida e de saúde dos estudantes, seu principal foco, com possíveis resultados que favorecerão, em última instância, os profissionais de saúde, da educação e da gestão universitária envolvidos. De forma mais ampla, espera-se que a experiência aqui relatada possa contribuir para estimular e subsidiar demais instituições universitárias a implementarem ações para o enfrentamento do sofrimento psíquico de seus estudantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O protocolo de organização de serviços configurou-se instrumento de gestão imprescindível tanto para qualificar as ações já desenvolvidas visando à promoção da saúde mental, à prevenção do sofrimento psíquico e ao atendimento dos estudantes universitários frente a esse agravo quanto para a implementação de novas ações com os mesmos propósitos. Ademais, no decorrer deste percurso, houve a oportunidade de se estabelecer aproximação de profissionais da gestão e da assistência social e da saúde intra e inter campus, facilitando o intercâmbio de suas concepções, visões e experiências na área, e fortalecendo as chances de sucesso no enfrentamento do problema em foco.

Por fim, reconhecendo que um protocolo de cuidado após elaborado e implementado tem validade transitória, recomendam-se sua avaliação periódica e consequente modificação, considerando as circunstâncias envolvidas, a capacidade operacional e o perfil epidemiológico vigente, bem como a condição imprescindível de que essas atividades sejam feitas coletivamente por seus autores e outros profissionais que possam estar futuramente envolvidos com sua aplicação, além de incluir a participação ativa de estudantes nesse processo.

  • FINACIAMENTO
    Universidade Estadual Paulista “Prof. Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) - Botucatu. Processo FAPESP nº 2020/10784-2.

AGRADECIMENTO

A equipe de servidores da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE) - UFSCar.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Alexandre Balsanelli

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    14 Set 2022
  • Aceito
    10 Mar 2023
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